a ética, ao contrário, busca analisar crítica e conscientemente surgirá somente com a ética cristã.
Assim, para a ética grega,
.Escola Nossa Senhora do Rosário quais os critérios legítimos de valor que devem fundamentar cada indivíduo tinha por finalidade atualizar ao máximo suas .Diretora: Conceição Lourenço o agir do sujeito em relação consigo mesmo e com o mundo. potencialidades naturais a fim de realizar com excelência o .Prof.: Wilton Sampaio Dito de outro modo, a moral é o conjunto de normas que a sentido para o qual veio à existência. Cada indivíduo, portanto, 3º Bimestre de 2023. (1ª Etapa) sociedade tradicionalmente elabora para regulamentar o tinha uma finalidade própria a cumprir na vida, conforme seu comportamento dos indivíduos que compartilham a vida talento natural. O sentido de sua existência consistia em cumprir Filosofia Moral social, enquanto que a ética é o conjunto de reflexões críticas tal finalidade com excelência. No exercício natural de seus Os termos “ética” e “moral” ocupam um mesmo campo semântico e sistemáticas que avalia a legitimidade dos princípios morais talentos encontraria sua felicidade (eudaimonia). e muitas vezes são usados como sinônimos, por isso é elaborados no curso da história. Devemos aos filósofos gregos, portanto, esta interpretação importante entender a origem de ambos. “Ética” vem de duas O agir ético, portanto, não é o mero cumprimento ou naturalista da realidade, isto é, esta noção de lei natural, lei que palavras gregas: éthos, que significa “o caráter de alguém”, e realização da moral vigente e sim um agir que supera a governa o Cosmos, define a natureza dos homens e seu lugar na êthos, que significa “o conjunto de costumes instituídos por uma heteronomia e baseia-se na autonomia do agente, cuja hierarquia social, entendida como espelhamento da hierarquia sociedade para formar, regular e controlar a conduta de seus deliberação e decisão deve ser livre, responsável e cósmica. membros” (Chauí, M. 2004. Introdução à filosofia, p.3307). consciente. A FILOSOFIA MORAL DE SÓCRATES (470 -399 a.C.) O termo “moral” (mos, moris) é uma palavra latina que quer dizer Os pensadores que elaboram teorias éticas não criam novos “o costume”, e no plural, mores, significa os hábitos de conduta Como Sócrates é reconhecido como o códigos morais. Procuram fundamentar racionalmente as ou de comportamento instituídos por uma sociedade em fundador da ciência teórica, mediante a normas morais concretas, isto é, tentam descobrir ou mesmo condições históricas determinadas. Atualmente, como conceitos, criação do conceito universal, é também propor um princípio supremo da moralidade a partir do qual ética e moral se diferenciam; porém, no contexto da filosofia o fundador, em particular, da ciência possam deduzir o que é moralmente correto ou incorreto em antiga, os dois podem ser intercambiáveis. Usa-se também o prática ou moral, mediante a concepção cada ação concreta. termo “filosofia moral” como sinônimo de ética. de que eticidade é sinônimo de Em cada cultura há uma grande diversidade de normas racionalidade, de ação racional. Em MORAL E ÉTICA morais e cada teoria ética procura reduzir essa variedade a outras palavras, para Sócrates, a virtude um só princípio geral. A validade ou não validade moral das ética é resultante da aquisição de Definindo os conceitos de Moral e Ética, Marilena Chauí ações humanas foi avaliada diferentemente ao longo dos conhecimento intelectivo; não tem por escreve o seguinte: tempos por vários pensadores. A diferença das abordagens fundamento o sentimento, o costume, a “Podemos entender por Moral o conjunto de regras, reside no critério ou princípio supremo de avaliação moral tradição. O agir ético exige uma reflexão consciente acerca da princípios e valores aceitos pelo indivíduo ou por uma que escolheram. legitimidade dos princípios de conduta humanos. comunidade e que determinam o certo e o errado, o A fim de provocar a reflexão em seus interlocutores, Sócrates permitido e o proibido, o bem e o mal. A palavra é derivada A ÉTICA GREGA pelas ruas de Atenas indagava: o que é a coragem, a justiça, a do latim morus – costume, ou seja, a moral é aquilo que é amizade, etc. Respondiam-lhe que eram virtudes. Continuava a A ética grega era naturalista, subordinava o homem ao costumeiro em um tempo e lugar, aceito e considerado perguntar-lhes: “E o que é virtude?”. “É agir em conformidade válido por aqueles que a ela aderem. Devemos considerar cosmos. O sentido da existência humana tinha que ser pensado no quadro hierárquico da ordem que reinava no com o bem, respondiam os atenienses. O que é o bem? As que a moral é construída e dada a cada um de nós pelo Cosmos. Por isso o princípio ordenador da conduta moral de indagações socráticas mostravam ao interlocutor que aquilo que processo de socialização. Entretanto, a simples existência de princípios de conduta morais não significa necessariamente cada indivíduo era identificado com o talento natural de cada ele imaginava saber era o que lhe havia sido ensinado quando a presença explícita de uma ética, entendida como filosofia pessoa, que deveria ser plenamente desenvolvido como fim criança, não um saber consciente, crítico, fundamentado. moral, isto é, como uma reflexão que discuta, problematize último ao qual a pessoa fora destinada pela sabedoria As perguntas socráticas visavam buscar o sentido e a razão de e interprete o significado dos valores morais.” (Chauí, M. 2001. cósmica a realizar. É relevante que se diga que a ser dos costumes estabelecidos (valores transmitidos de geração Convite à filosofia, p.339) antropologia grega concebia o ser humano como em geração); visavam saber as disposições de caráter que Assim sendo, ética é o ramo da filosofia que busca compreender naturalmente desigual em talentos: os talentos característicos levavam alguém a transgredir ou a respeitar os valores de forma crítica e consciente qual o melhor modo de viver e de da classe dos senhores eram naturalmente superiores aos estabelecidos. agir no cotidiano e na sociedade. Diferencia-se da moral, pois talentos inferiores da classe dos servos. Não poderia haver, portanto, a ideia de um único princípio universal de conduta "As questões socráticas inauguram a ética ou filosofia moral enquanto esta se fundamenta na obediência a normas, tabus, por inexistir a concepção de igualdade entre os homens, que porque definem o campo no qual valores e obrigações morais costumes ou mandamentos culturais tradicionalmente recebidos, 1 podem ser estabelecidos pela determinação de seu ponto de meios necessários para realizar a virtude, mas também Nas práxis éticas, o agente, a ação e a finalidade do agir se partida: a consciência do agente moral. É sujeito ético ou moral decide ou não assim fazê-lo. completam, são interdependentes. Pois o agente, o que ele faz e somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins a finalidade de sua ação são inseparáveis e idênticos. Assim, por de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e DOUTRINA DA VIRTUDE exemplo, dizer a verdade é uma virtude do agente, inseparável de a essência dos valores morais. Sócrates afirma que apenas o sua fala verdadeira e de sua finalidade, que é proferir a verdade. A virtude é, para Aristóteles, aquela conduta da ignorante é vicioso ou incapaz de virtude, pois quem sabe o que é Não podemos separar o falante, a fala e o conteúdo falado. Pois nossa vontade que acolhe o justo meio, e determina essa o bem não poderá deixar de agir virtuosamente." (Chauí, M. nas práxis éticas somos aquilo que fazemos e dizemos. mediania pela razão prática, como costuma determiná-la um 2005. Convite à filosofia, p.311) homem prudente. Ε como a natureza específica do homem A razão prática visa às virtudes éticas pelo domínio dos apetites Princípio de Liberdade está em sua racionalidade, que se efetiva em atividade de do corpo e de suas paixões. Aristóteles aqui segue na pegada da pensamento e de ação, consequentemente resultam daí os psicologia de Platão, que já admitia no homem uma parte da alma Consciência de Moralidade três grandes e principais grupos de virtudes: as dianoéticas, dominante e outra dominada, e rejeitava a redução socrática de Sócrates traz para a discussão do agir ético a noção de as técnicas e as éticas. todas as virtudes à ciência. consciência moral, o que implica na nossa capacidade de As virtudes dianoéticas. Distinção Entre o Reino da Necessidade e o Reino da deliberar e escolher entre ações possíveis. Essa noção de Liberdade Estas dizem respeito à perfeição do puro intelecto, como o consciência moral é importante porque manifesta a liberdade vemos na sabedoria (Sofia), na razão (Nous) e na ciência Devemos também a Aristóteles a distinção entre o reino do agente humano. Só é ética a ação que for consciente e (episteme). Estas virtudes visam o conhecimento do Ser, a do determinismo ou necessidade (mundo natural) e o reino da livremente deliberada. Agir virtuosamente coagido por pura contemplação da verdade, característica da razão liberdade (mundo cultural). Quando o curso de uma realidade pressões e costumes culturais não faz do agente um ser ético. especulativa ou teórica. O saber teórico ou contemplativo é o segue leis necessárias e universais, não há como nem por que A liberdade é a condição necessária para a ação ética e, em conhecimento de seres e fatos que existem e agem deliberar e escolher sobre o que nele deva acontecer, pois as decorrência disso, o agente deve responder por suas ações, independentes de nós e sem nossa intervenção ou coisas acontecerão necessariamente tais como as leis que as ou seja, ser responsável por suas escolhas. interferência, isto é, de seres e fatos naturais e divinos. regem determinam que aconteçam. Ou seja, no tocante ao reino Intelectualismo Moral Socrático Mas temos, igualmente, a capacidade de poder agir da necessidade (o mundo natural), a vontade humana ou razão livremente no mundo, aplicando de forma prática o saber ao prática não tem o que deliberar ou decidir. Não deliberamos sobre Sócrates parte do princípio de que quem tem o as estações do ano, o movimento dos astros, a forma dos fazer. O saber prático é o conhecimento daquilo que só verdadeiro conhecimento do Bem, certamente só fará o Bem. minerais e dos vegetais. Não deliberamos nem decidimos sobre existe como consequência de nossa ação e, portanto, A virtude identifica-se com o conhecimento intelectivo. Dito de aquilo que é regido pelas leis da natureza, isto é, pela depende de nós. Mas o saber prático pode ser de dois tipos: outro modo, saber agir consciente e moralidade são o mesmo, necessidade. Mas deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo técnico e ético. estão indissociavelmente ligados. Somente o ignorante que, para ser e acontecer, depende de nossa vontade e de nossa cometerá o mal, aquele que conhece o bem só praticará o As virtudes técnicas. ação. Não deliberamos nem decidimos sobre o necessário, pois o bem. necessário é o que é e será sempre tal como é, independente de Nas práxis técnicas, diz Aristóteles, o agente, a ação e a nós. Deliberamos e decidimos sobre o possível, isto é, sobre A FILOSOFIA MORAL DE ARISTÓTELES (384 – 322 A.c.) finalidade da ação são diferentes e estão separados, sendo aquilo que pode ser ou deixar de ser, porque para ser e acontecer independentes uns dos outros. Um carpinteiro, por exemplo, depende de nós, de nossa vontade e de nossa ação. À moral como dimensão do campo ético, ao fabricar uma mesa, realiza uma ação técnica, mas esta Aristóteles acrescenta o conceito de ação não faz dele uma mesa, nem a mesa é idêntica ou Assim, devemos a Aristóteles esta distinção que vontade ou razão prática. A vontade, inseparável da ação. A ação técnica tem por finalidade a será central em todas as formulações ocidentais da ética, enquanto decisão livre e consciente do fabricação de alguma coisa diferente do agente (a mesa não qual seja, a diferença entre “ o que é por natureza” (ou agente moral passa a ser identificada como é o carpinteiro, enquanto uma fala verdadeira faz do falante conforme à physis) e “o que é por vontade” (ou conforme princípio de liberdade. Ao deliberar sobre a um ser verdadeiro). Dessa maneira, Aristóteles distingue as à liberdade). O necessário é por natureza; o possível, melhor ação para um agir virtuoso, o práxis éticas das práxis técnicas, como práticas que diferem por vontade. agente moral deve ser orientado pelo modo de relação do agente com a ação e com a prudentemente pela razão prática, a qual não só conhece os finalidade da ação. A Ética a Nicômaco As virtudes éticas. 2 A Ética a Nicômaco é a principal obra de Aristóteles sobre Ética. 1- O racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade caridade são as virtudes mais excelentes, por definir Nela se expõe sua concepção teleológica e eudaimonista de com a sábia razão, que é capaz de conhece o bem, almejá-lo respectivamente as relações com Deus (fé) e com os outros racionalidade prática, sua concepção da virtude como mediania e e guiar nossa vontade para ele; (caridade). As virtudes não são assim fins em si mesmas, mas suas considerações acerca do papel do hábito e da prudência na meios para nos conduzir a Deus e a salvação da alma. 2- O naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com vida prática. as leis naturais que governam o Cosmos e determinam os Na perspectiva do pensamento filosófico grego, o pressuposto talentos naturais de cada indivíduo, que é parte integrante do básico da problematicidade heterônoma da ética cristã está em Em Aristóteles, toda racionalidade prática é teleológica, quer todo natural da realidade cósmica; seu pressuposto teológico em conceber a vontade humana como dizer, orientada para um fim. À Ética cabe determinar a finalidade moralmente impotente em virtude do pecado original adâmico. suprema da existência (o summum bonum), que preside e 3- A inseparabilidade entre ética e política, isto é, entre a Daí sua incapacidade, sem o auxílio da graça divina, de poder justifica todas as demais, e qual a maneira de alcançá-la. Essa conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois agir eticamente. Enquanto para os filósofos gregos antigos a finalidade suprema da vida é a felicidade (eudaimonia), que não somente na existência social hierarquicamente ordenada vontade humana é autônoma e auto-suficiente, capaz de dominar consiste somente de prazeres moderados, de riquezas, de encontraremos a liberdade, a justiça e a felicidade. e controlar a desmedida de nossas paixões, apetites e desejos, honras, mas de toda prática das virtudes. A virtude, por sua vez, ÉTICA MEDIEVAL em contrapartida, para o cristianismo a própria vontade está se encontra no justo meio entre os extremos, e será encontrada enfraquecida e impotente (em razão da queda original), inclinada por aquele dotado de prudência (phronesis) e educado pelo O que diferencia radicalmente a ética cristã medieval da viciosamente a cumprir os desejos e apetites do corpo, em hábito no seu exercício. É no equilíbrio dos sentimentos e da ética grega antiga são dois pontos fundamentais: detrimento dos valores do espírito. Em razão disto tudo, para a conduta que se realizará a virtude. No quadro abaixo estão ética cristã e medieval, a vontade ou razão prática humana é a) O abandono do racionalismo: A ética cristã deixou de expostas as virtudes, suas deficiências e excessos, conforme ele incapaz de deliberar-se, decidir-se pelo agir virtuoso e excelente. lado a ideia de que é pela razão prática que se alcança a propõe: Para tanto, faz-se necessário o auxílio da graça divina, sem a perfeição moral e defendeu que a busca dessa perfeição é alcançada mediante a obediência aos mandamentos qual está fadada ao fracasso moral. Deficiência Virtude Excesso Covardia Coragem Temeridade divinos e o relacionamento com Deus. ÉTICA MODERNA Insensibilidade Temperança Libertinagem Como já foi dito, para o pensamento helênico ocidental a ética b) A emergência da subjetividade: Até o cristianismo, o Avareza Liberalidade Prodigalidade cristã medieval criou uma problemática que se fazia necessário caráter moral do sujeito era avaliado observando sua Vileza Magnificência Vulgaridade resolver, qual seja, como conciliar a ideia de autonomia ou de conduta ética a partir de suas atitudes visíveis. Sua livre-arbítrio com a exigência de obediência às leis divinas? Ou Modéstia Respeito Próprio Vaidade conduta externa é que era julgada virtuosa ou viciosa. O Moleza Prudência Ambição seja, se o agir ético exige a autonomia do agente moral, o dever cristianismo, porém, é uma religião que visa a de obedecer às leis divinas não instauraria uma heteronomia, isto Indiferença Gentileza Irascibilidade interioridade ou subjetividade do sujeito, pois as leis Descrédito Veracidade Orgulho é, uma submissão do sujeito à lei de um outro que lhe impõe divinas devem ser escritas não em tábuas de pedra ou em externamente suas normas e seu querer? Grosseria Amizade Zombaria pergaminhos, mas no coração dos homens. O dever Desavergonhado Modéstia Timidez Foi visto que, na ética cristã e medieval, a ideia de o sujeito obediência às leis divinas não se referem apenas às Malevolência Justa Indignação Inveja necessitar obedecer às leis de Deus têm como justificativa o ações externas visíveis do sujeito, mas também às suas intenções invisíveis. problema trazido pela queda adâmica original, a qual tornou a Concordâncias Entre o Pensamento vontade humana impotente e enfraquecida. As leis divinas têm de Aristóteles e de Sócrates O Problema da Alegada Heteronomia da por objetivo oferecer um caminho seguro para a vontade, que, A despeito dos pontos divergentes sobre a fundamentação da Moral Cristã sendo livre, mas fraca, sente-se dividida entre o bem e o mal. Daí ética, há elos em comum entre os conceitos de ética defendidos Com o advento do cristianismo, um Ser externo ao indivíduo a necessidade do auxílio divino e de suas leis. por Sócrates (para quem basta saber o que é o Bem para praticá- surge como fonte e fundamento do agir ético humano: Deus. Mas como conciliar a ideia do dever com a de autonomia? Se o lo) e por Aristóteles (para quem o Bem equivale à moderação das É na relação com Ele que a virtude se realiza e não na sujeito moral é aquele que encontra em sua própria consciência paixões e apetites). Os dois estabelecem uma ética teleológica, relação do sujeito consigo mesmo e com os outros, como era (vontade, razão, coração) as normas para a conduta virtuosa, tendo a felicidade humana (entendida no sentido mais amplo de na filosofia moral grega antiga. A excelência do agir humano, jamais se submetendo a poderes externos à sua própria eudaimonia) como o fim a ser alcançado pelos virtuosos. conforme a concepção da ética cristã, é obtido através do consciência, como falar em comportamento ético por dever? Isto De acordo com a Marilena Chauí, a ética grega tem três aspectos cumprimento dos mandamentos divinos, expressos na não seria reduzir a ética em uma moral heterônoma? A principais, que são os seguintes: palavra revelada, e no relacionamento íntimo com Deus. Fé e submissão humana às leis divinas não se configuraria em uma 3 submissão à vontade externa e caprichosa de um outro (Deus), A FILOSOFIA MORAL DE IMMANUEL KANT (1724-1804) e a ação imoral é o agir que se opõe a esses mandamentos. Ora, que pretende impor ao sujeito suas leis, forçando-o a agir em tanto Deus quanto seus mandamentos são fundamentos morais Segundo o filósofo Ernst Cassirer (1874-1945), é inegável a conformidade com sua soberana vontade? Em outras palavras, metafísicos, transcendentes ao agente moral. A moral cristã e influência de Rousseau sobre o pensamento Filosófico de se a ética exige um sujeito autônomo, a ideia de obediência às medieval, portanto, submete a vontade humana a determinação Kant. A estratégia rousseauniana de fundamentação da leis divinas não introduziria uma moral heterônoma, isto é, o de princípios de conduta cuja base é exterior ao indivíduo. O que moralidade recorrendo a um instinto afetivo natural, base domínio de nossa vontade e de nossa consciência por um poder caracteriza uma heteronomia, e não uma autonomia. É exigido ao originária do sentimento do dever moral, concebido como um estranho a nós? sujeito moral agir de acordo com uma lei que não provém dele princípio inato e natural constitutivo do senso de moralidade mesmo, isto é, de sua racionalidade pura prática. É por isso que Os filósofos da Idade Moderna tentaram responder a esta humana, deu a Kant a possibilidade de pressupor a Kant critica o fundamento religioso da moral, pois este impede questão de diversas maneiras. A reflexão que eles existência de uma “consciência moral universal” constituída, uma ação moral autônoma. empreenderam influência as discussões éticas até hoje. Vejamos não por um senso de moralidade afetiva, mas sim por uma dois desses autores. racionalidade prática, a qual seria a base fundamental do agir A Fundamentação Naturalista A FILOSOFIA MORAL DE J. J. ROUSSEAU (11712-1778) ético. Ao transferir a base afetiva do senso de moralidade rousseauniana e fundamentá-la na racionalidade prática, Na filosofia naturalista e empirista, o homem é um ser natural e Kant estaria, possivelmente, “corrigindo” Rousseau no empírico como qualquer outro ser vivo. Dessa forma, a vontade Um dos filósofos que procurou resolver sentido de conferir à lei da moralidade os elementos de humana é governada por princípios empíricos naturais: busca do essa dificuldade foi Rousseau, no universalidade e necessidade que somente a razão pura, por prazer, fuga da dor ou desprazer, inclinações e satisfações de século XVIII. Para ele, a consciência ser a priori, poderia possuir (bem ao contrário dos apetites naturais. Kant não contesta que o homem seja um ser moral e o sentimento do dever são sentimentos, que, ligados à nossa natureza sensível, natural e sensível, não contesta que a ação humana seja princípios inatos à subjetividade afetiva estariam sujeitos à contingência da empiria). condicionada por paixões, inclinações, satisfação de interesses e do sujeito, concebidos como sendo “a A concepção de Rousseau acerca do conceito de liberdade, busca do prazer. Todavia, Kant contesta que o homem seja voz da natureza” e o “dedo de Deus” entendido como princípio natural e universal, bem como a apenas um ser natural, ou seja, inteiramente determinado pelas presentes na interioridade do coração ideia de que todo ser humano é capaz de distinguir o bem do condições naturais e sensíveis e que a ação moral tenha de ter humano. mal, por se tratar de um senso instintivo de moralidade por fundamento a sensibilidade, ou seja, as inclinações e apetites prática, foram indispensáveis ao pensamento filosófico de naturais. Segundo Rousseau, nascemos puros e bons, dotados de generosidade e de benevolência para com os Kant. Ao opor-se a concepção rousseauniana acerca da base Uma moral fundada na natureza tem por pressuposto que nossa outros. Se o dever dos princípios morais parece ser uma afetiva da moralidade, a denominada moral do coração, Kant vontade deva ser determinada por um princípio exterior a nós e imposição e uma obrigação externa ao sujeito, imposta por Deus pôde voltar a afirmar o papel da razão na Ética. Pois, para com isso a moral se caracterizaria como uma heteronomia, aos seres humanos, é porque nossa bondade natural foi Kant, não existe bondade natural. Por natureza, somos quando deve ser necessariamente ser uma autonomia. Do pervertida pela vida em sociedade, criada a partir do advento da egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos contrário, agiríamos segundo uma lei que não proviria de nós propriedade privada e dos interesses privados, tornando-nos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mesmos e, consequentemente, não poderíamos ser sujeitos egoístas, mentirosos e destrutivos. mentimos, roubamos. livres. Daí a crítica kantiana ao fundamento natural e empírico da A originalidade da filosofia moral kantiana está justamente moral, por ele anular toda possibilidade a uma ação moralmente O dever, enquanto instinto inato afetivo, caracteriza-se como um em fundar a moralidade unicamente na razão pura, autônoma. princípio natural e subjetivo de orientação moral que visa recordar ao sujeito sua natureza original. Assim sendo, só em aparência o introduzindo uma compreensão inovadora de moralidade em Assim, embora sendo distintas, a moral fundada seja na princípio do dever pode ser concebido como uma imposição de relação a toda a tradição filosófica anterior. De um lado, Kant religião seja na natureza têm um ponto em comum: ambas uma lei moral exterior ao sujeito, que se configuraria numa moral rompe com a fundamentação religiosa e transcendente da concebem a ação moral fundada em um princípio exterior heterônoma. Dado que, obedecendo ao princípio instintivo e inato moral; de outro lado, rompe igualmente com a ao sujeito moral. Por isso são exemplos distintos de do dever (lei divina inscrita no coração humano), o sujeito não fundamentação naturalista e empirista da moral. heteronomia. De um lado, a lei de Deus; de outro, a lei da está se submetendo a nenhum outro A Fundamentação Religiosa natureza. poder externo a si, mas sim à lei de seu Os gregos fundaram a ética na ordem natural, cósmica e próprio instinto afetivo de moralidade, A fundamentação religiosa da moral, tal como se dá, por humana. Sem o conceito de natureza em geral e de natureza constituinte e constitutivo de sua exemplo, na religião cristã, tem como base da moral o próprio Deus e seus mandamentos revelados ao homem. A ação humana em particular não existiriam os tratados da Ética e da subjetividade prática. Política de Aristóteles. Assim também a ética cristã e medieval moralmente correta é o agir conforme a esses mandamentos 4 seria impensável sem as noções de natureza humana corrompida dividido entre a sua inclinação para o prazer e a necessidade independentemente da utilidade ou das consequências que e de queda adâmica original, que torna o sujeito moralmente de cumprir o dever. Tanto pode se deixar arrastar pelos seus possam advir das ações. Estamos perante uma ética impotente carente da graça fortalecedora de Deus para a prática instintos, paixões e apetites naturais, como determinar-se intencionalista, e não consequencialista. Ter saciado a fome a da virtude. Por isso a moral cristã e medieval é heterônoma e tem pela razão. Ao contrário do animal, que está determinado a trinta pessoas ou apenas a uma é irrelevante para aferir a por fundamento um ser metafísico transcendente: Deus. agir desta ou daquela maneira, o ser humano possui uma moralidade do ato em si. Tudo depende da intenção com que a margem de liberdade, podendo agir de acordo com princípios ação em causa foi realizada. Ora, a intenção é o que caracteriza A Autonomia da Vontade que impõe a si mesmo. Só podemos, portanto, falar em a vontade. A uma boa vontade corresponde uma boa intenção. Kant rompe exatamente com esses fundamentos e defende a moralidade se admitirmos que o ser humano é um ser livre. É A vontade é boa quando age por dever . O conceito de dever autonomia da vontade como base inabalável da moralidade. Pela essa liberdade que lhe confere dignidade e eleva seu valor contém em si o de boa vontade, como diz Kant. O dever será razão prática, a vontade autônoma é autossuficiente e confere a ao descobri-lo independente da animalidade e mesmo de uma necessidade de agir por respeito à lei que a razão dá a si si mesma a norma do agir moral. O objetivo central da ética todo o mundo sensível. mesma. Mas, antes de nos referirmos a essa lei, é preciso ter em kantiana é mostrar que existe uma razão pura prática capaz, por Podemos então afirmar que a moral kantiana está na conta o seguinte: uma ação pode ser conforme ao dever e, no si só, de determinar a vontade sem recorrer às leis naturais ou passagem do ser humano biológico, natural e sensível para o entanto, não ser moralmente boa. A pessoa pode agir de acordo divinas. ser humano racional e cultural, onde vigora o primado da com o dever, mas movida por interesses egoístas. O valor moral Logo, para entendermos a filosofia moral kantiana é preciso que razão prática e da liberdade, e não o reino do determinismo de uma ação reside na intenção. Daí faz-se necessário distinguir tenhamos bem claro, desde o início, a distinção que ele faz entre natural. a esfera da moralidade e a esfera da legalidade. Se a moralidade mundo sensível e mundo inteligível. O primeiro é o mundo das caracteriza as ações realizadas por dever, a legalidade Por isso já foi dito que a ética kantiana é tão dualista como a coisas naturais, dos fenômenos da experiência e da sensibilidade caracteriza as ações que estão em conformidade com o dever, de Platão e a do cristianismo. O homem é, ao mesmo tempo, humana. Este mundo é regido e determinado pela causalidade mas que podem muito bem ter sido realizadas com fins egoístas. sensibilidade e razão e pode seguir seus impulsos naturais das leis físicas, químicas e biológicas. Portanto, um mundo sem Por isso, segundo Kant, o respeito pelo lei moral é o respeito ou os apelos da racionalidade. Nesta possibilidade de liberdade. Em contrapartida, o mundo inteligível é o da liberdade. pelos valores humanos, pela dignidade humana que deve nos escolha consiste a sua liberdade, que faz dele um ser moral A razão pura prática tem a propriedade de determinar-se a agir determinar nosso agir. quando se submete à causalidade da liberdade. De fato, a independente das causas empíricas, isto é, o homem toma ética kantiana gira em torno da vontade que submete sua A Lei da Moralidade: consciência de outra causalidade que é a causalidade por liberdade ao império da razão. É por isso que ele começa o liberdade. livro da Fundamentação da metafísica dos costumes com um Agir por dever exige um conhecimento das regras, das normas, a O homem, na condição de ser natural e cultural, pertence a estes belíssimo elogio à boa vontade: que se tem de obedecer. Que regras são essas? Ora, Kant não dois mundos: pela sua parte biológica está sujeito à variedade de se preocupa em inventariar um conjunto de regras concretas. suas inclinações; pela razão, vontade e liberdade, insere-se no “Neste mundo, e até fora dele, nada é possível pensar que Pelo contrário, procura o fundamento de todas as regras, ou seja, mundo inteligível, onde ele é causa de sua própria lei moral. possa ser considerado como bom sem limitação a não ser usando um exemplo, não se trata de saber se devo mentir ou não uma só coisa: a boa vontade. Discernimento, argúcia de devo; trata-se de encontrar o que está na base da minha opção Este duplo pertencimento gera um conflito que Kant chama de espírito, capacidade de julgar e como que possam chamar-se mal radical: o conflito entre a lei do dever moral e a lei do prazer e pela mentira ou pela honestidade. É por isso que Kant distingue os demais talentos do espírito, ou ainda coragem, decisão, da satisfação sensível; entre a lei moral universal do dever e a lei constância de propósito, como qualidades do temperamento, máximas de leis morais. As máximas são os princípios subjetivos particular do prazer dos sentidos. Enfim, o conflito entre razão e são sem dúvida a muitos respeitos coisas boas e desejáveis; individuais da ação, princípios concretos segundo os quais sensibilidade, entre causalidade física e causalidade livre. mas também podem tornar-se extremamente más e agimos. As máximas são consideradas pelo sujeito como válidas Marcado por esta dualidade, o ser humano, por um lado, é um ser prejudiciais se a vontade, que haja de fazer uso destes dons apenas para a sua vontade. As leis morais, por sua vez, são sensível, isto é, um ser da Natureza, condicionado pelas suas naturais e cuja constituição particular por isso se chama princípios objetivos universais, isto é, princípios de conduta disposições naturais, que o levam à procura do prazer e à fuga da caráter, não for boa”. (Kant, i. F.M.C.) dor. Este aspecto primário define o egoísmo que preside à normativos válidos para a vontade de todo o ser racional, vertente animal humana. Por outro lado, é um ser racional, isto é, enunciando a forma como se deve agir. alguém capaz de se regular por leis que impõe a si mesmo. Tais O Conceito de Boa Vontade Neste sentido, podemos afirmar que só a máxima que se possa leis revelam a sua autonomia, tendo a sua sede na razão. São Kant faz da boa vontade a condição de toda a moralidade. tornar uma lei universal é que possui valor moral, isto é, se a leis morais que o levam a praticar o bem, em detrimento dos seus Sendo governada pela razão, a boa vontade é boa pelo seu máxima se puder universalizar, se puder ser válida para todos, caprichos e interesses individuais. Assim, o ser humano é um ser próprio querer. A moralidade é concebida ela converte-se em lei moral. Kant, pois, formula a lei da 5 moralidade do seguinte modo: "Age apenas segundo uma pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como Então, para que cumpra integralmente a lei moral, é preciso que o máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne fim e nunca como meio”. domínio da vontade livre sobre a vontade psicológica lei universal de conduta”. determinada seja cada vez mais íntegro e completo. Kant chama Além das duas formulações descritas, Kant ainda formula santo a um homem que dominou por completo toda determinação A fórmula moral kantiana não nos diz para agirmos desta ou uma terceira para exprimir a incondicionalidade dos atos moral oriunda dos fenômenos concretos, físicos, fisiológicos, daquela maneira, não nos dá o conteúdo da lei moral, apenas nos realizados por dever: psicológicos, para sujeitá-la à lei moral. indica a forma como devemos agir. Este é o princípio moral “Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por fundamental, um mandamento incondicional, assumindo a forma As respostas de Rousseau e de Kant, embora diferentes, tua vontade em lei universal da Natureza;” de um imperativo categórico. procuram resolver a mesma dificuldade, qual seja, explicar por Kant utiliza-se de vários exemplos para confirmar e ilustrar a que o dever e a liberdade da consciência moral são inseparáveis Imperativos: Hipotético e Categórico teoria do imperativo categórico. O fundo da argumentação é e compatíveis. A solução de ambos consiste em colocar o dever O que é um imperativo categórico? Kant distingue imperativos o mesmo em todos os casos: não podemos elevar ao nível em nosso interior, desfazendo a impressão de que nos seria hipotéticos e categóricos. Os imperativos hipotéticos estão de lei universal uma máxima individual que destrua o senso imposto de fora por uma vontade estranha à nossa. subordinados a uma condição. Exemplos: "estuda, se queres tirar de humanidade, de dignidade e de moralidade humanas, boas notas"; “se queres ser médico, deves começar por estudar como, por exemplo, a falsa promessa e o suicídio. Referências Bibliográficas anatomia humana”; “se queres sarar, deves tomar o remédio”. Os Kant analisa o exemplo do empréstimo financeiro com a CHAUÍ, Marilena. Iniciação à filosofia. São Paulo. Ed. Ática, 2017. imperativos hipotéticos enunciam um mandamento subordinado a intenção de não o restituir. Um indivíduo que tivesse por COTRIM, Gilberto e FERNANDES, Mirna. Fundamentos da filosofia. determinadas condições. São Paulo. Ed. Saraiva, 2016. máxima de conduta pessoal comprometer-se moralmente Os imperativos categóricos não visam obter finalidades práticas, ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. com uma promessa falsa nunca poderá erigi-la em norma resultados objetivos, mas simplesmente determinam a vontade a Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo. Ed. Moderna, 2017. universal, válida para todos os seres humanos. Seria a cumprir a lei moral, cumprir o dever pelo dever. Só eles são leis CHAUÍ, Marilena. Introdução à Filosofia. São Paulo. Ed. Ática, 2003. perversão das relações sociais e do valor das pessoas. práticas válidas incondicionalmente para todos; são imperativos REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo. Portanto, estamos em face de uma contradição que repugna Ed. Paulus, 2014. absolutos e universais. Enquanto o imperativo hipotético à natureza humana; ou melhor, seria usar as pessoas como apresenta uma ação como meio para alcançar determinado fim, o meios para preservar meus interesses. imperativo categórico indica que a ação é necessária e boa em si mesma, independentemente dos fins que se possam alcançar Com respeito aos juízos morais, as coisas não são nem boas com ela. nem más, são indiferentes ao bem e ao mal. Os qualificativos morais não correspondem, igualmente, àquilo que o homem Os imperativos categóricos são necessários, mas não como as faz efetivamente, mas sim, estritamente, àquilo que ele quer leis físicas, químicas e biológicas. Estas são determinadas pela fazer. Esta postulação com respeito aos juízos morais natureza e não podem ser transgredidas. Os imperativos conduz à conclusão de que a única coisa que categóricos, sendo morais, podem ser desobedecidos por uma verdadeiramente pode ser boa ou má é a vontade humana. má vontade, pois a vontade pode se subordinar à razão ou às inclinações da sensibilidade. Em outras palavras, as leis físicas, É importante aqui a noção de uma vontade santa a que se químicas e biológicas se realizam inevitavelmente, enquanto que refere Kant. Para uma vontade desse tipo não haveria as leis morais são necessárias, mas não anulam a liberdade da distinção entre razão e inclinação. Um ser possuído de uma vontade que pode, caso queira, transgredi-las. vontade santa sempre agiria da forma que devia agir. Não Os imperativos categóricos pressupõem que existem fins teria, no entanto, o conceito de dever e de obrigação moral, absolutos. Um fim absoluto é representado pela pessoa humana. os quais somente entram quando a razão e a vontade se Ao contrário das coisas que têm um preço, a pessoa possui valor encontram em oposição. Então a vida moral é uma luta único absoluto, possui dignidade. Por conseguinte, não deve ser contínua na qual a moralidade aparece para o delinquente tratada como uma coisa, o que lhe retiraria a dignidade. Nesse potencial na forma de uma lei que exige ser obedecida por si caso, o imperativo categórico adquire outra formulação: “ Age de mesma, uma lei cujos comandos não são lançados por uma tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na autoridade alheia, mas representa a voz da razão, que o sujeito moral pode reconhecer como sua própria.