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GÊNESE, FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DA ÉTICA

AULA 3
Introdução
Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos conceitos de ética e moral,
da diferença entre ética e moral, e do carácter normativo da ética, vamos de seguida
contextualizar o ambiente do surgimento de uma teoria ética.
A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral é relativamente
recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria
ética no seu sentido mais restrito, surge no séc. V a C, com Sócrates.
Sócrates fez uma viragem na abordagem da moral da sua sociedade ao propor como primordiais
os valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, para Sócrates, a moral não lida com um
problema sem importância, mas ela tem a ver com o como deveríamos viver e porquê?

Objectivos

No final o estudante deverá ser capaz de:

 Conhecer a história da ética e deontologia profissional;

Objectivos Específicos
 Acompanhar a evolução da história da ética com o contexto, histórico, geográfico,
sociocultural, politico e religioso.

1.1 A GÊNESE DA ETICA


O estudo da ética surge num contexto filosófico ou histórico-filosófico e social.
ÉTICA era educar a paixão e orientar a vontade e a finalidade da Ética era observar a relação e
harmonia entre o caráter do sujeito e os valores da sociedade.
O Objetivo da ética consiste em observar o comportamento humano, apontando os erros e
desvios e formular os princípios básicos para definir a conduta do indivíduo na sociedade, ou
seja, no meio em que ele vive. Realizar os valores e princípios que devem nortear a existência
das pessoas.
Kant (2001), entendia que a existência de ideias morais não implica a existência de uma
disciplina particular, uma vez que podem estudar-se as atitudes e ideias morais de diversos
povos, orientais, judeus, etc. Ou seja, só existe história da Ética no âmbito da história da
filosofia. Sendo assim, podemos entender que as doutrinas éticas fundamentais nascem do
pensamento filosófico e desenvolvem-se em diferentes épocas e sociedades através dos
historiadores da ética, na busca de respostas aos problemas nas relações interpessoais,
especificamente pelo valor moral e efectivo. Aristóteles e suas ideias sobre a Ética e as virtudes

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(justiça, caridade e generosidade) éticas. Aristóteles defendia que os princípios éticos estão
determinados pelo caracter virtuoso de uma pessoa.
Elaborou uma diferenciação entre virtudes intelectuais e virtudes éticas (ou morais), definindo
que o estado ideal seria a moderação. Para Aristóteles, Virtude Intelectual é aquela que “nasce
e progride graças aos resultados da aprendizagem e da educação”. A Virtude Moral seria aquela
que “não é gerada em nós por natureza, é o resultado do hábito que nos torna capazes de praticar
atos justos”.
Entende-se então que, na visão de Aristóteles, não existem virtudes inatas, todas se adquirem
pela repetição dos atos, que gera o costume, e esses atos, para gerarem as virtudes, não devem
desviar-se nem por falta, nem por excesso, pois a virtude consiste na justa medida, longe dos
dois extremos. Na visão de Platão, a ação do homem é determinada pela virtude.
Resumindo, as virtudes intelectuais, são ligadas à inteligência e as virtudes morais, que são
relacionadas com o bem. A virtude intelectual consiste na capacidade de aprender com o
diálogo e a reflexão em busca do verdadeiro conhecimento e a virtude moral, por sua vez, é a
ação ou comportamento moral, é o hábito que é considerado bom de acordo com a ética.
Foi possível encontrar na Grécia fragmentos de uma abordagem com base filosófica para os
problemas morais e até entre os filósofos – pré-socráticos encontram-se reflexões de carácter
ético, por exemplo, quando pretendiam saber as razões do comportamento moral. Aristóteles
organizou a Ética como disciplina filosófica e formulou a maior parte dos problemas que os
filósofos morais se ocuparam: relação entre as normas e os bens entre a Ética individual e
social; relação entre a vida prática e teórica, classificação das virtudes, tidas como propensas
aos sentimentos de realização pessoal, aquele que age quanto simultaneamente beneficiar a
sociedade em que vive.
Com a decadência do velho mundo greco-romano, surge o estoicismo e o epicurismo.
Fundamenta-se na consciência colectiva, implícita no comportamento humano e social aceite
por todos.

Sócrates (470-399 a. C) considerou a questão da ética individual como problema filosófico


central e a Ética como disciplina em torno da qual deveriam girar as reflexões filosóficas. Para
Sócrates ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso. Só age
mal quem desconhece o bem porque todo o homem quando fica sabendo o que é o bem,
reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente passa a praticá-lo, e ao praticar o bem,
o homem sente-se dono de si e consequentemente é feliz.

Platão (427-347 a C) ao examinar a ideia do bem à luz da sua teoria das ideias subordinou a
sua Ética a metafísica. A sua Ética está relacionada com sua filosofia política, porque para

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Platão a polis (cidade-estado) é o terreno propício para a vida moral. A sua Ética exerceu grande
influência no pensamento religioso e moral do ocidente.

Para Epicuro (341-270 a C), o prazer é um bem e, como tal, o objectivo de uma vida feliz. Dai
o surgimento da ideia do hedonismo que assume o prazer como princípio e fundamento da vida
moral. Uma vez que existem muitos prazeres, nem todos são iguais e bons. É preciso escolher
entre eles os mais duradouros e estáveis, para isso é necessário à posse de uma virtude sem a
qual é impossível escolher. Essa virtude é a prudência que permite seleccionar aqueles
prazeres que não nos trazem a dor ou perturbações.

Para os estóicos (Zenão, Séneca e Marco Aurélio), o homem é feliz quando aceita o seu
destino com imperturbabilidade e resignação. O universo é um todo ordenado e harmonioso
onde os sucessos resultam do cumprimento da lei natural, racional e perfeita. O bem supremo
é viver de acordo com a natureza, aceitar a ordem universal compreendida pela razão, sem se
deixar levar pelas paixões, afectos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é
aquele que enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu destino. O estóico deixa de ser
um cidadão da polis e passa a ser do cosmo. O ser humano é um cidadão do cosmo e o seu
destino já está predeterminado.

VIRTUDES E VÍCIOS

Virtude
A Palavra virtude A palavra “virtude” é um a palavra originada do latim “vis”, que significa
força, energia, Lopes de Sá (1988:65).
Barbosa e Ribeiro (2008:20), apresentam o seguinte quadro de virtudes básicas, adaptado de
Camargo (2001):
A reta noção daquilo que se deve fazer ou evitar, exigindo o
PRUDÊNCIA
conhecimento dos princípios gerais da moralidade e das continências
particulares da ação.
É o ato de respeitar os direitos e os deveres; é a disposição de dar a cada
um o que é seu de acordo com a natureza, a igualdade ou a necessidade;
é a base da vida em sociedade e da participação na existência comum; a
JUSTIÇA
justiça implica a combinação de diversas atividades, com a
imparcialidade, a piedade, a veracidade, a fidelidade, a gratidão, a
liberdade e a equidade.

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Firmeza interior contra tudo o que molesta a pessoa neste mundo,
FORTALEZA
fazendo vencer as dificuldades e os perigos que exercem a medida
comum.
Regra, medida e a condição de toda virtude; é o meio justo entre o
TEMPERANÇA excesso e a falta; Exige sensatez baseada num pensamento flexível e
forme. Encontra-se atrelada à continência, a sobriedade, a humildade, a
mansidão e a modéstia
Fonte: Adaptado de Camargo, 2001:35 apud Barbosa e Ribeiro, 2008:20.

Coelho (2014), apresentou um quadro de definição das virtudes básicas bem mais completo,
em que identifica as exigências e os inimigos de cada uma das virtudes básicas:
Definição: Prudência É o hábito de decidir bem. É a busca sistemática
da objetividade, do realismo, do conhecimento de todas as
circunstâncias dentro das quais devemos agir.
Exige: Percepção das situações concretas; considerar as circunstâncias
todas; perspicácia para perceber os meios oportunos a pôr em prática;
PRUDÊNCIA
estabelecer conexões entre os dados; ordenar os meios; prever o futuro;
lembrar-se das experiências próprias e alheias; evitar inconvenientes etc
Inimigos da Prudência: Desatenção (viver desligado); a precipitação;
a negligência; a desconsideração (não dar importância); a inconstância;
a astúcia (que leva à fraude).

Definição: Dar a cada um o que é seu. Justiça consiste em tratar


igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida em que
são desiguais. A justiça busca uma harmonia entre as pessoas, uma
JUSTIÇA distribuição, um equilíbrio.
Exige: Considerar fundamentalmente as igualdades e as diferenças entre
as pessoas, tais como idade, capacidade, esforço etc.
Inimigos da Justiça: Abuso, açambarcamento, imposição pela força,
injustiça.
Definição: É uma disposição da vontade que leva a não desistir do
esforço necessário para fazer o bem ou para resistir ao mal.
FORTALEZA
É a virtude que leva a combater o medo, o encolhimento perante as
dificuldades da vida, a evitar a omissão Inimigos da Fortaleza:
Covardia, temeridade (expor-se ao perigo sem necessidade)

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Definição: É a virtude que nos dispõe a moderar a procura do prazer.
Visa em manter o equilíbrio, evitando que o ser humano busque o prazer
TEMPERANÇA
pelo prazer.
Inimigos da Temperança: Excesso.

Fonte: Adaptado de Coelho, 2014

Vícios
Aristóteles, afirma que nosso caráter é formado a partir da repetição e do aperfeiçoamento dos
atos que já fizemos antes (para melhor ou para pior) e que, com esse hábito, adquirimos as
virtudes morais ou os vícios e nos tornamos virtuosos ou viciosos pelo exercício, assim como
os homens tornam-se justos ou injustos praticando a justiça ou a injustiça. São as disposições
viciosas ou virtuosas que constituem um caráter. Somos todos responsáveis por nossos atos,
assim como também pelos nossos vícios. Somente aqueles indivíduos que têm suas atividades
conforme a virtude se tornará virtuoso e, assim, atingem sua finalidade humana, sendo que o
fim humano consiste, portanto, na busca da sabedoria” SAMANTA (2016).
Principais Vícios
Procura desordenada de excelência; o orgulhoso se valoriza demais e,
ORGULHO
normalmente, diminui e menospreza o outro.
Procura desordenada de bens materiais; o avarento acumula riquezas,
AVAREZA fazendo usos de meios nem sempre lícitos e, principalmente, centralizando
todo o ser neste esforço.
Procura desordenada dos prazeres de comer e beber; causa o estrago da
GULA própria saúde, prejudicando muitas vezes, atividades profissionais e
familiares.
LUXÚRIA Procura desordenada dos prazeres sexuais; vive com fixação e obsessão,
procurando satisfações que até implicam desrespeito a si mesmo e a outros.
Tristeza pelo bem alheio como um obstáculo a próprio bem, como se isso
INVEJA impedisse de ele também crescer e aparecer; ele sofre e até gostaria que
ninguém fosse superior a ele.
Recuo diante do trabalho e do esforço; falta-lhe aquela energia para assumir
PREGUIÇA atividades dentro de métodos adequados que lhe assegurem a construção de
valores.
Violência contra aquilo que resiste à sua vontade, procurando vingança; a
IRA pessoa irada não raciocina, mas age tempestivamente.

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2. ÉTICA CRISTÃ E MEDIEVAL
Com o fim do mundo antigo (Grécia e Roma Antiga), o regime servil substituiu a escravidão.
Assim o regime servil deu bases para a construção da sociedade feudal. A sociedade feudal era
extremamente estratifica e hierarquizada. No entanto era uma sociedade fragmentada
economicamente e politicamente na medida em que as estruturas deixadas pelo mundo antigo
foram desfeitas e a igreja continuou sendo a única instituição organizada. É por este motivo
que a religião se tornou o garante da unidade social do povo na época. Assim a igreja passou,
além do poder espiritual e temporal, a monopolizar a vida intelectual. Evidentemente a Ética,
neste período medieval, foi sujeita a conteúdos religiosos. Os filósofos cristãos, da época,
tiveram uma dupla atitude diante da Ética:
Uma atitude Ecónoma que fundamenta-se em Deus e nos princípios morais. Deus criador,
omnisciente e todo-poderoso. O homem como criatura de Deus tem seu fim último Nele que é
o seu bem mais alto e o valor supremo. Deus exige a sua obediência e a sujeição a seus
mandamentos – com carácter de imperativo supremo. Esta atitude aproveitou as ideias da ética
grega platónica e estóicas inserindo-as na ética cristã.
A Ética Cristã Filosófica, era definida por nossa relação com Deus e não por outros homens,
uma vez que entendia que nós, por sermos dotados de vontade livre, somos fracos e tentados
ao pecado, por esse motivo, devemos nos guiar por Deus. Após a revelação da Lei Divina temos
a obrigação de obedecer, daí a ideia do DEVER. O cristianismo trouxe a relação desvinculada
da política e ligada ao homem crente. A Ética se torna um ATO DE DEVER. A Ética Cristã
julga as ações, atitudes e intenções e define 3 tipos de condutas morais:
1. Conduta Moral – Agir de acordo com as regras
2. Conduta Imoral – Agir Contrariando as regras
3. Conduta Indiferente à Moral – Quando agimos em situações não claramente definidas
pela moral vigente

Ao pretender elevar o homem da ordem natural para a ordem transcendental ou sobrenatural,


onde possa viver uma vida feliz e plena, livre de desigualdades e injustiças do mundo terreno
o cristianismo introduz uma ideia inovadora: a igualdade dos homens diante de Deus. Assim o
homem é chamado a alcançar a perfeição e a justiça num mundo sobrenatural, o reino dos céus.
Esta teoria absorve bastante o que Platão e Aristóteles postularam.

Os filósofos cristãos mais marcantes na ética cristã são Santo Agostinho (354-430) e São
Tomas de Aquino (1226-1274). Estes reflectem respectivamente as ideias de Platão e
Aristóteles.

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A história da ética é complexa a partir do renascimento europeu onde prevaleceram diversas
doutrinas. Contudo, todas elas surgem como reacção a Ética Cristã que era excêntrica e
teológica. A ética do renascimento é antropocêntrica. Isto é, o ser humano no centro das
atenções. Portanto, ela procura reflectir o homem. Portanto, o renascimento faz uma viragem
significativa na história da ética.

Kant (2001) defende que esta viragem deveu-se as mudanças que o mundo sofreu nas esferas
económicas, políticas e científicas. Na esfera económica, por exemplo, viu-se crescer de forma
muito intensa o relacionamento de forças produtivas com o desenvolvimento científico. A
relação entre a produção e a ciência propiciou o desenvolvimento da ciência. Este tema não
será desenvolvido nesta unidade porque não faz parte desta disciplina. No entanto, esta relação
fortaleceu a nova classe social – a burguesia – que lutava para se impor politicamente e
economicamente. Este foi um período de grandes revoluções políticas (na Holanda, França e
Inglaterra). O renascimento trouxe as seguintes consequências:
• A razão se separa da fé (filosofia separa-se da religião);
• As ciências naturais separam-se dos pressupostos teológicos;
• O estado separa-se da igreja;
• Começam a surgir indícios da separação do homem de Deus.
Esta rotura foi evidente entre a idade Media e a Moderna. Ora vejamos:

Nicolau Maquiavel (1469-1527) provocou uma revolução Ética ao romper com a moral cristã
que impõe valores espirituais como superiores aos valores políticos. Isto é, o caracter normativo
da ética, na qual a ética preocupa-se com o fim da conduta humana e com os meios para alcançar
este fim. Para Maquiavel a adopção de uma moral própria em relação ao estado era
fundamental. Para este, o que importa são os resultados e não a acção política em si mesma,
adicionalmente, Maquiavel sugeriu sendo legítimo o uso da violência contra o que se opõe aos
interesses estatais. Maquiavel pretende a aplicação de novos valores, onde o homem é centro
de busca dos seus próprios valores e princípio. As ideias de Maquiavel tiveram bastante
influência em Thomas Hobbes, Baruch de Espinosa no que se refere à Ética realista.

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4. ÉTICA MODERNA, CONTEPIRANEA E ETICA COMO CIÊNCIA.

AULA 4

INTRODUÇÃO
A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral é relativamente
recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria
ética no seu sentido mais restrito, surge no séc. V a C, com Sócrates.
Sócrates fez uma viragem na abordagem da moral da sua sociedade ao propor como primordiais
os valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, para Sócrates, a moral não lida com um
problema sem importância, mas ela tem a ver com o como deveríamos viver e porquê?

Objectivos gerais

No final desta aula o aluno será capaz de:


Acompanhar o desenvolvimento da ética moderna na visão de vários autores.

Objectivo específico.
Compreender a relação da ética moderna com o relativismo cultural.

Reme Descartes (1596-1650) procurou basear as suas reflexões na filosofia e no homem que
passaram a ser o centro de tudo, da política, da arte e da moral. Surgindo, desse modo, a Ética
antropocêntrica.

Thomas Hobbes (1588-1679) sistematiza a Ética do desejo que esta em cada ser, de própria
conservação como sendo o fundamento da moral e do direito. Para Hobbes, a vida do homem
no estado de natureza - sem leis nem governo – era solitária, pobre, sórdida, embrutecida e
curta, uma vez que os homens são por índole agressivos, autocentrados, insociáveis e obcecados
por um desejo de ganho imediato.
Para Hobbes, os indivíduos que decidem viver em sociedade não são melhores ou egoístas do
que os selvagens: são apenas clarividentes se cooperarem, podem ser mais ricos e mais felizes.
Segundo Hobbes o bom comportamento do homem deriva do seu egoísmo. Por exemplo, para
Hobbes a explicação é simples: dois homens juntos têm mais facilidade de matar uma fera sem
se ferirem. Esta é uma razão que explica a necessidade do homem de se auto conservar.

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Baruch de Espinosa (1632-1677), diz que: . As pessoas sempre são conduzidas por suas
paixões, as quais nunca tem em conta o futuro ou outras pessoas. Esta é uma acção necessitante
da substância divina baseada na tendência de conservação e consecução de tudo o que é útil.
Espinosa é essencialmente panteísta: entre Deus e o mundo se não há uma diferença de pontos
de vista, Deus é a única substância necessária, una, infinita, independente, simples e indivisível.
Tem uma identidade, de atributos dos quais conhecemos apenas dois: a extensão e o
pensamento. O mundo é o conjunto dos modos desses dois atributos. O homem é uma colecção
de modos da extensão e do pensamento. A substância divina desenvolve-se segundo as leis
necessárias da sua natureza. Deus é determinado por si mesmo, mas é determinado num sentido
único e irrevogável. O livre arbítrio do homem reduz-se à ignorância das causas que
determinam as suas acções. A verdadeira liberdade cria-se na medida em que o homem se
liberta das suas paixões e, pela contemplação intelectual, identifica-se com Deus. Portanto, o
princípio da moral identifica-se com Deus.
Nesta época vigora o panteísmo, que se caracteriza na crença de que a natureza e Deus são
idênticos, não acreditando num Deus criador.
Para Kant (2001), a virtude não é algo diferente da natureza e, ainda menos, oposto a ela. A
virtude é a própria tendência natural para o auto conservação. O homem actua melhor e mais
eficazmente quando se vale da razão, que é a busca útil e, por isso, a virtude humana está
essencialmente ligada ao uso da razão.
Segundo Espinosa, o bem e o mal são aquilo que permitem ou impedem o entender. “A razão
nada exige contra a natureza, mas ela mesma exige que cada um se ame a si próprio e procure
o bem próprio, e deseje tudo o que verdadeiramente conduz o homem a uma maior perfeição
e, de modo absoluto que cada um se esforce no que lhe diz respeito por conservar o seu próprio
ser” (Ética, IV, 18).
Em relação aos juízos morais, Donald (1999), refere que os padrões humanos de julgamento
moral, na sua prática, são arbitrários e caprichosos. Quando se critica ou se avalia no homem,
em qualquer aspecto procede-se a um julgamento tomando por comparação a uma figura
pessoalmente pré-concebida ou um ideal de homem, individualmente construída. Contudo,
quando se julga um homem e se diz que ele poderia fazer isto ou aquilo, isto implica uma
ilusória noção de liberdade, não poderá ser ou fazer nada diferente do predestinado e daquilo
que é. O estado ordinário da mente quando se procede a julgamentos morais é sempre de
confusões e de ilusões. Então, como proceder? Espinosa refere que o modo de proceder
ultrapassa os usos e a linguagem que condicionam o julgamento, que deverá ser através da
experiência.

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John Locai (1632-1704) toma a posição da conservação e satisfação a uma concepção de
felicidade pública, uma vez que estabeleceu um liame indissolúvel entre a virtude e a felicidade
pública, e tornou a prática da virtude necessária a conservação da sociedade humana e
visivelmente vantajosa por todos os que precisam tratar com as pessoas de bem. Isto é, agir
para o bem comum.

David Nume (1711-1776) nessa mesma linha de pensamento, Nume afirma que o fundamento
da moral é a utilidade, isto é, a boa acção, aquela que proporciona felicidade e satisfação à
sociedade. A utilidade responde a uma necessidade que leva o homem a promover a felicidade
dos seus semelhantes. Ao invés de limitar os desejos humanos determinados pelo interesse
pessoal (comida, dinheiro, glória, etc.).
Nume acha que as paixões do homem estão baseadas na simpatia – a capacidade de sentir em
si mesmo os sofrimentos e até as alegrias do outro. O que impossibilita traçar uma linha
divisória nítida entre o interesse pessoal e o interesse alheio, uma vez que agora é possível
encarar o interesse como se fosse um interesse pessoal.

Emanuel Kant (1724-1804) está preocupado em estabelecer a regra da conduta na substância


racional do homem. Nele, o conceito de dever é o ponto central da moralidade – hoje conhecido
por deontologia.
Para Kant, uma coisa que seja boa em si mesma é a boa vontade ou boa intenção, aquilo que se
põe livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever é a consequência da
percepção pelo homem de que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer – o
imperativo categórico: a necessidade de respeitar todos os seres racionais na qualidade de fins
em si mesmo. E o reconhecimento da existência de outros homens (seres racionais) e a
exigência de comportar-se diante deles a partir desse reconhecimento. Trata portanto da
existência de outros e das consequências dos seus actos.
A humanidade deve ser tratada na própria pessoa como na do próximo sempre como um fim e
nunca como um meio.
A Ética kantiana busca sempre na razão, formas de procedimentos práticos que possam ser
universalizáveis, de tal maneira que os princípios que eu sigo possam valer para todos. “Age
apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei
universal”. Analisando a questão da corrupção, por exemplo, podemos questionar se tal
procedimento deveria ser universalizado ou não. Se não podemos querer a universalização da
corrupção, também não posso aceitá-la no aqui e agora.
Em Kant, o bem se identifica com a necessidade moral, não interessando para nada um
conhecimento racional da moral. A moralidade está tão afastada da pura sensibilidade como da

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racionalidade absoluta. Se o homem fosse apenas sensibilidade, as suas acções seriam
determinadas pelos impulsos sensíveis. Se fosse só racionalidade seriam determinadas pela
razão. Mas sendo o homem ao mesmo tempo sensibilidade e razão, tanto pode seguir o impulso
como a razão. É nesta possibilidade de escolha que consiste a liberdade que o faz um ser moral.
Kant vê o ser humano como um ser dotado de razão e de impulso e é nata. É nessa perspectiva
onde surge a possibilidade de escolha (liberdade), que o faz o ser moral.
Para viver moralmente, o homem deve transcender a moralidade, submetendo-se aos impulsos
sensíveis e evitando assumir qualquer desejo. Como ser racional, o homem deseja a felicidade,
mas enquanto desejo, a felicidade não pode ser o fundamento de um imperativo moral. A
resolução deste dilema está na acção da vontade: age de modo que a máxima da tua vontade
possa sempre ser valor, como princípio da legislação universal. Esta fórmula constitui a Lei
moral, valendo para todos os seres racionais. A relação de uma vontade com esta Lei é uma
relação de dependência que se exprime numa obrigação – em obrigar a uma acção conforme
com a Lei. Esta acção chama-se dever. A Lei moral é origem e fundamento do dever no homem.
A acção moral do ser humano tem como objectivo final o bem supremo, então a virtude é o
bem supremo e a condição de tudo que é desejável.
Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a conformidade com a Lei, efectuada
com um motivo natural sensível. Por exemplo: obter qualquer vantagem ou evitar qualquer
dano.
A moralidade é a conformidade imediata da vontade com a Lei sem o recurso dos impulsos
sensíveis.
O amor de si é o conjunto de impulsos cuja satisfação constitui a felicidade e acção que realiza
a moralidade é a eliminação do egoísmo, isto é, contrapõe o eu e os seus impulsos a Lei moral.
“Nós somos de certos membros legisladores de um reino moral tornado possível pela liberdade
e representado pela razão prática como objecto de respeito: mas somos súbditos, não o soberano
desse reino, e assim o desconhecer a nossa condição inferior de criaturas, o recusar
presunçosamente a autoridade da Lei, é já uma infidelidade ao espírito da Lei, mesmo quando
se lhe observe a letra”.
A acção moral do homem tem como objectivo final o bem supremo. Este bem supremo consiste,
para o homem, que é um ser finito, na virtude e na união da virtude com a felicidade. A virtude
é o bem supremo, a condição de tudo o que é desejável.
A afirmação de que o “homem é mau” significa apenas que o homem tem consciência da lei
moral e que por vezes se pode afastar dela. A afirmação de que o “homem é mau por natureza”
significa que o que se disse vale para toda a espécie humana, o que não quer dizer que se trate
de uma qualidade, mas de uma tendência para o mal em todos os homens, isto é, dos homens.
Tal tendência para o mal é moralmente negativa - mal radical e inato na natureza humana. O

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mal radical não pode ser destruído pelas forças humanas, mas pode ser vencido, a fim de que o
homem seja verdadeiramente livre nas suas acções.

4. ÉTICA CONTEMPORÂNEA
Semelhantes a ética moderna, alguns autores contribuíram para o desenvolvimento da teoria da
ética contemporânea. Em seguida descrevemos as contribuições desses autores.

Triedros Hegel (1770-1831) é o filósofo mais importante do idealismo pós-kantiano. A


doutrina de Hegel tem uma tendência panteísta e é conhecida como idealismo absoluto porque
o absoluto é a ideia, o pensamento puro, a abstracção lógica.
Hegel compreende que a moral não é uma questão perene, mas complexa e dinâmica. Hegel
trata de uma moral que muda algo que se mantém independentemente e acima dos conceitos
que mudam, evoluem e se transformam enquanto ela se matem una, universal e intemporal.
Para Hegel, a ética e a moral das pessoas enquanto seres culturais, determina-se pelas relações
sociais que mediatizam as relações pessoais.
O que é comum a todas as perspectivas e conceitos da moral é que o indivíduo providencia a
sua própria moralidade e ao mesmo tempo clama por uma genuína universalidade. O que
permite a sanção das nossas escolhas morais é em parte o facto de que o critério que governa
as nossas escolhas, não é escolhido. É no contexto da ordem moral estabelecida numa
comunidade bem ordenada que se podem encontrar os critérios éticos gerais e concordâncias
com os seus. A autoridade Ética da sociedade não advém, porém do seu poder real, mas dos
seus conceitos que são encarados como normativos.
Para Hegel, a vida pode ser vivida dentro de um certo tipo de comunidade que em cada
comunidade certos valores se provarão indispensáveis, adaptando uma posição diferente da
linha sobre a objectividade da moral do séc. XVIII e dos seus herdeiros posteriores.
Do ponto de vista do indivíduo isolado, a escolha entre os valores está aberta, mas para o
indivíduo integrado numa sociedade não está. Cada sociedade impõe certos valores a si próprio
e ao indivíduo, só havendo verdadeira possibilidade de escolha arbitrária ao indivíduo que não
esteja integrado numa sociedade.
Platão e Aristóteles encaram a objectividade e a autoridade ética, porque a descrevem dentro
de uma sociedade de polis. Os individualistas do séc. XVIII vem o bem como a expressão dos
seus sentimentos ou o mandato da sua razão individual porque se situam como se estivessem
fora da sociedade em que vivem. A sociedade é por eles considerada apenas como um mero
agregado de indivíduos. Mas Hegel levanta uma questão: o que é que, para o homem moderno,
toma lugar da polis grega?

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Para Hegel a vida Ética ou moral dos indivíduos enquanto ser cultural e histórico é determinada
pelas relações sociais que mediatizam as relações pessoais intersubjectivas. Assim, Hegel
transforma a Ética numa filosofia de direito e divide-a em Ética subjectiva (pessoal) e Ética
objectiva (social).
A Ética subjectiva é uma consciência de dever enquanto a ética objectiva é formada pelos
costumes, pelas leis e normas de uma sociedade. Entretanto, Hegel dividiu a sua obra de 1821,
Filosofia do Direito, em três áreas: direito abstracto, a moral e a etnicidade.

• Direito abstracto – é da pessoa individualmente considerada e exprime-se na propriedade,


que é a esfera exterior da sua liberdade;
• A moralidade – é a esfera da vontade subjectiva que se manifesta na acção;
• A etnicidade – é a esfera da necessidade e das regras sociais que regem a vida dos indivíduos
e constituem os seus deveres.
O domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta entre a subjectividade
que deve realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. Esta separação é resolvida pela ética,
onde o bem se realiza de forma concreta e se torna existente.
Donald, (1999) Os deveres éticos são obrigatórios e surgem como uma limitação a
subjectividade ou a liberdade abstracta do indivíduo, sendo, no entanto, a redenção do próprio
indivíduo, dos seus impulsos e da sua subjectividade individual.
No mundo Ético (família, sociedade civil, Estado) a liberdade torna-se realidade: “o sistema de
direito é o reino da liberdade realizada, o mundo do espírito expresso por si mesmo, como uma
segunda natureza.” Para que o direito - ética se realize e subsista é necessário que à vontade do
indivíduo se reverta numa vontade mais vasta, universal, a qual se submeta por livre vontade.
O homem é um indivíduo ético, integrado num sistema social ético que é constituído pelo
sistema de necessidades da sociedade civil. Para o Kant, o indivíduo está submetido a
imperativos categóricos enquanto o indivíduo Emiliano procura os seus critérios morais nas
normas da sociedade. Para Hegel, o estado reúne esses dois aspectos numa totalidade Ética.

Donald, (1999) A vontade individual subjectiva é determinada por uma vontade objectiva,
impessoal, colectiva, social e pública que cria as diversas instituições sociais. Essa vontade
regula e normaliza as condutas individuais através de um conjunto de valores e costumes
vigentes numa determinada sociedade e numa determinada época.
O ideal ético está numa vida livre dentro de um estado livre, um estado de direito que preserve
os direitos dos homens e lhes cobre seus deveres onde a consciência moral e as leis do direito
não estão separadas e nem em contradição. Assim, a vida Ética é a interiorização dos valores,
normas e leis de uma sociedade, condensadas na vontade objectiva, cultural por um sujeito

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moral que as aceite livre e espontaneamente através de uma vontade subjectiva individual. A
vontade pessoal resulta da aceitação harmoniosa da vontade colectiva de uma cultura.
Kart Marx (1818-1883) a moral é uma superstrutura ideológica, com função social que
permite sacramentar as relações e condições de existência de acordo com os interesses da classe
dominante. Numa sociedade dividida em classes antagónicas, a moral sempre terá um carácter
de classe. Enquanto não se verificarem as condições reais para uma moral universal, válida para
toda a sociedade não pode existir um sistema moral válido para todos os tempos e todas as
sociedades.
Para Marx, ao se tentar construir tal sistema no passado estava-se a imprimir um carácter
universal a interesses particulares.
Se a moral proletária é a moral de uma classe que esta destinada historicamente a abolir a si
mesmo como classe para ceder lugar a uma sociedade verdadeiramente humana, serve como
passagem a uma moral universalmente humana. Os homens necessitam da moral assim como
necessitam da produção, e cada moral cumpre sua função social de acordo com a estrutura
social vigente.
Entretanto torna-se necessária uma moral que não seja o reflexo de relações sociais alienadas
para regular as relações entre os indivíduos tanto em vista das transformações da velha
sociedade como para garantir a harmonia da emergente classe socialista.
A transformação da antiga classe e a construção da nova moral exige a participação consciente
dos homens. Porque, a nova moral com suas novas virtudes transforma-se numa nova
necessidade. Assim, o homem deve interferir sempre na transformação da sociedade.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um crítico mordaz de toda a moral, seja a socrática,


judaico-cristão ou moral burguesa.
Para Nietzsche, a vida é à vontade de poder, princípio último de todos os valores. O bom é o
que favorece a força vital do homem, e tudo o que intensifica e exalta no homem o sentimento
de poder, à vontade de poder e o próprio poder. O mal é tudo o que vem da fraqueza ou o bom
fornece a força e o mal a fraqueza.
Nietzsche vê no super-homem, alguém capaz de quebrar a tábua dos valores, transmutando-os
a todos.
O pragmatismo afasta-se de questões teóricas de fundo, dos problemas abstractos da velha
metafísica e dedicam-se as questões práticas sob o ponto de vista utilitarista. A verdade é o útil
que ajuda a viver e a conviver. O bem é algo que conduz a obtenção eficaz de uma finalidade,
que nos conduz a um êxito. Os valores, princípios e normas perdem seu conteúdo objectivo e
o bem passa a ser aquilo que ajuda o homem nas suas actividades práticas, variando de acordo
com as circunstâncias. O perigo apresentado pelo pragmatismo é que ele tenta reduzir o

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comportamento moral a actos que conduzem apenas aos êxitos pessoais transformando-os
numa variante utilitarista marcada apenas pelo egoísmo, rejeitando a existência de valores ou
normas objectivas, criando uma distorção baseada na busca da vantagem particular onde o bom
é o que ajuda o meu progresso e o meu sucesso particular.

INRI Berços (1859-1941) distingue a moral: moral fechada e moral aberta. A moral fechada
é o conjunto do que é permitido e do que é proibido para os indivíduos de uma sociedade tendo
em vista o auto conservação da mesma. É imposta aos indivíduos e tem como finalidade tornar
a vida em comum possível e útil a todos. Ela corresponde no mundo humano ao que é instinto
em certas sociedades animais, isto é, tende ao fim de conservar as próprias sociedades.
Donald, (1999) A moral aberta nasce do impulso criador supra-racional. É a moral do amor,
de liberdade e da humanidade universal que resulta de uma emoção criadora. Ela torna possível
a criação de novos valores e de novas condutas em substituição daquelas vigentes segundo a
moral fechada. É a moral dos profetas, sábios, místicos inovadores e dos santos que inspiram a
instauração de uma nova ética face a moral vigente.
Na filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciaram o conceito de ética,
adquirindo fortes traços de moral utilitarista. Os indivíduos devem buscar a felicidade e fazerem
melhores escolhas entre as alternativas existentes.

Bertrand Russell (1872-1970) afirma que a ética é subjectiva. Não contem afirmações
verdadeiras ou falsas. É a expressão dos desejos de um grupo. Mas o homem deve reprimir
certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou equilíbrio.

Jurem Abertas (1924) faz uma revisão e actualização do marxismo capaz de dar conta das
características do capitalismo avançadas na sociedade industrial contemporânea. Faz uma
crítica a racionalidade dessa sociedade caracterizando-a de uma razão instrumental que visa
apenas estabelecer os meios para se alcançar um fim determinado. O desenvolvimento técnico
e a ciência voltada apenas à aplicação técnica acarretam a perda do próprio bem que estaria
submetido às regras de dominação técnica do mundo actual. E necessário então a recuperação
da dimensão humana de uma racionalidade instrumental baseada no agir comunicativo entre
sujeitos livres, de carácter emancipador em relação à dominação técnica que distorce a
possibilidade da acção comunicativa e produz relações assimétricas e impede uma interacção
plena entre as pessoas.
Abertas pretende fundar uma nova racionalidade, e recomenda a filosofia analítica da
linguagem para sistematizar as condições do uso da linguagem livre em torno da teoria da
acção comunicativa.

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Habermas busca uma teoria geral da verdade segundo a qual o critério da verdade é o consenso
dos que argumentam e defende a ideia de que argumentar é uma tarefa eminentemente
comunicativa porque o discurso intersubjectivo é o lugar próprio para a argumentação. O
critério de verdade aceite por consenso e somente aquele que se estabelece sob condições ideais
situação ideal de fala. O consenso é racional quando estabelecido numa condição de fala. Para
tal estabeleceram-se regras cuja observação e condição para que se possa falar de um discurso
verdadeiro, que são:
• Todos os participantes tenham as mesmas chances de participar do diálogo;
• Todos os participantes tenham as mesmas chances para a crítica. Estas são formas de
eliminação dos factores de poder que poderiam perturbar a argumentação;
• Todos os falantes deveriam ter chances iguais para expressar suas atitudes, sentimentos e
intenções.
• Serão admitidos ao discurso falantes que tenham as mesmas chances enquanto agentes para
dar ordens e se opor, permitir e proibir, etc.
Donald (1999) defende que, um diálogo sobre questões morais entre senhores e escravos,
patrões e empregados, pais e filhos, violariam as condições da situação ideal da fala. Isto porque
o discurso autêntico é aquele que ocorre com pessoas em situação igual, sob condições
igualitárias do ponto de vista de participação no discurso.

5 ÉTICA COMO CIÊNCIA


Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos conceitos de ética e moral,
da diferença entre ética e moral, e do carácter normativo da ética, vamos de seguida
contextualizar o ambiente do surgimento das teorias da ética. A ética como um saber teórico
que justifica ou legitima a conduta moral é relativamente recente. Aparece com o advento da
filosofia no séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido mais restrito,
surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na abordagem da moral da sua
sociedade ao propor como primordiais os valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo,
para Sócrates, a moral não lida com um problema sem importância, mas ela tem a ver com o
como deveríamos viver e porquê?
Nesta cessão vamos demonstrar como a ética surgiu como uma ciência. Note que a ética como
uma disciplina está dividida. No entanto, não devemos nos esquecer que a Ética é uma só. Estas
classificações que descrevemos abaixo têm fins meramente didácticos.
A ética como uma reflexão normativa sobre os actos humanos segundo princípios racionais faz
parte da Ética Geral que tenta explicar questões como a liberdade, a natureza do bem e do mal,
a virtude e a felicidade, entre outros aspectos. Por outro lado, existe a Ética Especial ou a Ética

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Aplicada que pretende levar à prática os fundamentos gerais da ética. Por isso, a ética pode
ser: Ética Geral e Ética Especial ou Aplicada.
De acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Ética Geral é aquela, que procura explicar
questões relacionadas com a liberdade, a natureza do bem e do mal, a felicidade, etc. Ela estuda
todos esses aspectos no seu plano mais geral. A Ética Aplicada ou especial pode ser enquadrada
em três planos: individual, familiar e social. A nível social a ética pode se subdividir em
diversos ramos: ética internacional, económica, profissional, entre outros. No caso da ética
profissional pode se falar da ética para ciências de saúde, ética para a comunicação; ética para
a educação, ética para os psicólogos, ética para o jurista, ética na administração, etc.
Na ética especial aplicamos os conteúdos da ética geral a uma realidade específica, isto é
concreta. A ética especial pode ser: ética médica, ética do psicólogo, ética dos enfermeiros,
ética dos professores, ética dos economistas, ética ambiental, ética dos auditores, etc. Portanto,
a ética especial é a aplicação dos princípios gerais da ética a uma realidade ou tema específico.

6. META - ÉTICA
De acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Meta - ética é o estudo filosófico da natureza do
julgamento moral. Ela busca o sentido pelo qual se denomina algo como certo ou errado (bom
ou mau), incluindo o significado dos termos morais e a discussão de quando um julgamento
moral é objectivo ou subjectivo. Também a Meta - ética é uma reflexão sobre a natureza dos
próprios juízos éticos como: o que quer dizer bem moral?
A Meta - ética estuda, ainda, outros temas como:
• Objectividade da Moralidade;
• A natureza da moralidade;
• A natureza da responsabilidade e sua conexão com o livre arbítrio (a liberdade).
O estudo da natureza do julgamento moral pode ser enquadrado nas seguintes disciplinas: a
psicologia moral e epistemologia moral.
De acordo com Kant, (2001), a Psicologia Moral interessa-se pelo estudo da motivação, da
teoria das decisões e da ética descritiva. Por sua vez, a Epistemologia Moral estuda a natureza
do conhecimento moral e a natureza dos argumentos morais. O estudo da natureza do
argumento moral também é enquadrado na disciplina chamada Lógica Deôntica. A lógica
deôntica estuda os princípios do raciocínio referente às obrigações, permissões, proibições,
compromisso moral, etc.

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7. SISTEMAS CONCEITUAIS FUNDAMENTAIS DA ÉTICA
Egoísmo – é uma das tarefas da ética responder sobre as questões do egoísmo, que é a
preocupação com os interesses de caráter individual ou corporativo, cujo conceito não inclui a
avaliação moral, pois não nos diz se a preocupação com esses interesses é boa ou má.

Altruísmo – a ética responde a esse conceito que deve significar a preocupação com os
interesses do outro, porém, não inclui a avaliação moral, pois não significa que uma ação
altruística é boa ou má.

Moralidade – é um código de valores capaz de guiar a conduta do homem e suas respectivas


escolhas e decisões, permitindo julgamento do certo ou do errado, do bem ou mal.

Bem objetivo – existem teorias sobre o bem subjetivo que dizem ser ele derivado de uma
avaliação dos fatos da realidade em relação ao homem, segundo um padrão racional de valor,
ou seja, validados por um processo de razão. Outras teorias vêm de escolas do pensamento, que
olham o bem como produto da consciência do homem, independentemente da realidade e outro
independentemente da consciência do homem.

Virtude – na época contemporânea a virtude é vista com certo moralismo antiquado. Na época
clássica, como conceito central. Com base em vários autores poderíamos traduzir por
“excelência”. “O que faz com que um ser humano seja de tal modo pleno ou autêntico é a
virtude”.

Solidariedade – são princípios que se aplicam às instituições sociais, a cada pessoa e a toda
organização, onde os homens devem aprender a viver para os demais e não somente com os
demais. São obras concretas de serviços aos outros.

Subsidiariedade – é um princípio que volta-se ao respeito às relações entre os níveis de


concentração de poder e os respectivos interesses sociais a serem satisfeitos. Nem o Estado ou
a sociedade jamais deverão substituir a iniciativa e a responsabilidade das pessoas nos níveis
em que eles podem atuar e também destruir o espaço para a sua liberdade. Cada ser humano
deve ser o autor de seu próprio desenvolvimento. A iniciativa é ponto de partida para qualquer
ação humana sob sua responsabilidade individual de edificar a sociedade em que vive. Para
isso, é preciso maior liberdade possível e menor controle.

Participação – é a garantia de liberdade para se constituírem associações honradas que


contribuem com o bem comum, capazes de reconstituir qualquer esfacelamento social e
deficiências produzidas nas relações sociais.

Finalidade – este conceito está ligado à prática da moral vivida e à teoria da moral. “A
finalidade significa aqui que o ser humano age para atingir um determinado objetivo ou fim”.
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Diferentemente do instinto e do comportamento predeterminado do animal, o homem tem a
capacidade de introduzir uma indeterminação.

Consciência – é entendida como “capacidade de projetar, diante de si próprio, a representação


do fim proposto e de escolher em função deste fim um meio, ou uma sucessão de meios”.

Consenso – na época contemporânea, muitos filósofos contestam a problemática do


fundamento da moral. Essa situação depende da recusa da metafísica e da impossibilidade de
impor ao outro ser humano a sua norma de comportamento.

Responsabilidade da ética – a consequência de procurar o consenso é: insistência sobre a


responsabilidade pessoal e coletiva. Se o conflito entre morais reenvia cada um para a sua
liberdade, a responsabilidade torna-se o fundamento da ética contemporânea. No entanto, o
sentido comum de responsabilidade é o de assumir as consequências do ato praticado.

Sabedoria/Prudência – é a prudência que permite articular o que caracterizaríamos como


ligação do real com o ideal. A prudência encarna uma proposta de universalidade ou uma
excelência abstrata nas circunstâncias sempre individualizadas da ação.

Norma – Kant trouxe-nos a questão do dever e da obrigação. O que se impõe como força
normativa à consciência moral é a realização do bem. A norma jurídica é a célula do
ordenamento jurídico (corpo sistematizado de regras de conduta, caracterizadas pela
coercitividade e imperatividade).

É um imperativo de conduta, que coage os sujeitos a se comportarem da forma por ela esperada
e desejada.

Moralismo – faz referência mais a determinados campos da conduta humana onde a visão
estreita de moralidade deriva para moralismo – equivale a uma espécie de loucura da ética,
quando se perde o sentido geral das coisas para se apegar a certos pontos ou normas, que são
tomados de forma absoluta, sem levar em conta a amplitude, o conjunto. Moralismo é a doença
da ética.

Eticidade – segundo Hegel, na sua filosofia do direito, a eticidade torna-se diferente da


moralidade em face apenas de uma concepção institucional, mesmo que continue sendo a
realização de atos humanos, oriundos de sua vontade.

Dever prima facie – o dever prima facie é uma obrigação que se deve cumprir, a menos que
ela entre em conflito, numa situação particular, com um outro dever de igual ou maior porte.

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Meta-ética – é o estudo dos aspectos lógicos de um discurso ou tratado moral. É o estudo do
significado dos termos usados no discurso ético. É o tipo de reflexão que analisa o discurso
moral, constituindo uma metalinguagem de caráter pretendida mente neutro ou não normativo.

8. SISTEMAS RACIONAIS DA ÉTICA

Na eticidade, como identidade da vontade universal e particular, há uma coincidência entre


deveres e direitos. “Por meio do ético, o homem tem direitos, na medida em que tem deveres,
e deveres, na medida em que tem direitos”. Só pode ter deveres quem tem, ao mesmo tempo,
direitos. Um escravo, portanto não pode ter deveres.

O Imperativo Categórico é uma das ideias centrais para a adequada compreensão da moralidade
e da eticidade. Nesta proposta Kant sintetizou o seu pensamento sobre as questões da
moralidade. Kant valorizava esta ideia de lei moral. Ele cunhou uma das mais célebres frases a
esse respeito:

Imperativo categórico – “Age somente, segundo uma máxima tal, que possas querer ao
mesmo tempo em que se torne lei universal.” É um dos principais paradigmas da filosofia de
Kant. Sua ética vem a ser o dever de agir na conformidade dos princípios que se quer devendo
ser aplicados por todos os seres humanos.

Imperativo universal – “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, por tua
vontade, lei universal da natureza.”

Imperativo prático – “Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa
como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim ao mesmo tempo e nunca apenas como
um meio.”

A justiça não é o direito objetivo nem tampouco o direito ideal. Na melhor das hipóteses, esse
último é o objeto das intenções do homem justo. Mas o uso da linguagem favorece o equívoco.
Em sentido amplo, “justa” pode ser uma lei, uma disposição, uma determinada ordem, na
medida em que correspondem à ideia do direito.

Nesse sentido, a palavra “justa” não significa o valor moral da pessoa. A pessoa aqui não é de
modo algum o portador do valor; o valor, muito embora a ação humana possa inicialmente tê-
lo realizado, é unicamente valor de um objeto, valor de uma situação, valor para alguém. Todo
direito existente ou ideal é valioso.

Em outro sentido, porém justo é o indivíduo que faz o certo ou tem a intenção de fazê-lo e que
trata os semelhantes – seja em disposição ou em conduta efetiva – à luz da igualdade requerida.
Aqui a justiça é um valor de ação da pessoa, é um valor moral.

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O Direito Civil é inspirado no Direito Romano. A primeira fonte do direito é a lei. O Código
Civil constitui a base de todas as outras leis, que completam seus artigos ou definem as suas
exceções. Os códigos civis caracterizam-se essencialmente por um alto nível de abstração que
permite aos juízes interpretar e analisar todas as situações concretas, seja aplicando a lei, seja
preenchendo suas lacunas por extrapolação.

“Não se esqueça de que o que é justo do ponto de vista legal pode não sê-lo do ponto de vista
moral.”

SUMÁRIO
Emotivismo ou não cognitivistas: Defendem que, são efectivas expressões das emoções. A
razão é inerente e somente a emoção é capaz de promover a rectidão para iniciar a acção moral;
Racionalismo: a teoria de racionalismo dá mais importância a razão. Ela enfatiza o papel ou a
importância da razão frente a experiência sensorial e do apelo a autoridade, como fundamento;
Teorias Absolutistas: Estas teorias têm enfoque sobre as acções que podem ser consideradas
erradas ou às vezes obrigatórias;
Teorias do Comando Divino esta teoria afirma que todo axioma moral deriva do comando
divino;
Prescritivos: Defende que, os actos morais são empregados para guiar a acção e para dizer as
pessoas o que deveriam fazer. É uma teoria sobre o significado de termos morais como: bom,
certo ou dever.

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