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ÉTICA E LEGISLAÇÃO NA SAÚDE

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................................... 1

1.O CONTEXTO HISTÓRICO E FILOSÓFICO DA ÉTICA ....................................... 4

1.1 – ÉTICA ........................................................................................................... 8


1.2– MORAL ........................................................................................................ 10
1.3 A ÉTICA NA PRÁTICA COTIDIANA DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE ........ 11
2. – CÓDIGOS DE ÉTICA ....................................................................................... 14

2.1 – ÉTICA PROFISSIONAL .............................................................................. 15


3. LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL DOS TÉCNICOS EM ENFERMAGEM ............. 16

3.1 CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS TÉCNICOS EM ENFERMAGEM


CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM PREÂMBULO .......... 17
 3.1.1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ......................................................... 19

 3.1.2 CAPÍTULO I DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS ............................. 19

 DIREITOS ................................................................................................... 19

 RESPONSABILIDADES E DEVERES ........................................................ 20

 PROIBIÇÕES.............................................................................................. 20

 3.1.3 SEÇÃO I DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMILIA E


COLETIVIDADE ......................................................................................................... 20

 DIREITOS ................................................................................................... 20

 RESPONSABILIDADES E DEVERES ........................................................ 20

 PROIBIÇÕES.............................................................................................. 21

 3.1.4 SEÇÃO II DAS RELAÇÕES COM OS TRABALHADORES DE


ENFERMAGEM, SAÚDE E OUTROS ........................................................................ 22

 DIREITOS ................................................................................................... 22

 RESPONSABILIDADES E DEVERES ........................................................ 22

 PROIBIÇÕES.............................................................................................. 23

 3.1.5 SEÇÃO III DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES DA


CATEGORIA .............................................................................................................. 23

 DIREITOS ................................................................................................... 23

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 RESPONSABILIDADES E DEVERES ........................................................ 23

 PROIBIÇÕES.............................................................................................. 24

 3.1.6 SEÇÃO IV DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES


EMPREGADORAS ..................................................................................................... 24

 DIREITOS ................................................................................................... 24

 PROIBIÇÕES.............................................................................................. 25

 3.1.7 CAPÍTULO II DO SIGILO PROFISSIONAL ....................................... 26

 DIREITOS ................................................................................................... 26

 RESPONSABILIDADES E DEVERES ........................................................ 26

 PROIBIÇÕES.............................................................................................. 27

 RESPONSABILIDADES E DEVERES ........................................................ 27

 PROIBIÇÕES.............................................................................................. 27

 3.1.8 CAPÍTULO IV DA PUBLICIDADE DIREITOS .................................... 28

 RESPONSABILIDADES E DEVERES ........................................................ 28

 PROIBIÇÕES.............................................................................................. 28

 3.1.9 CAPÍTULO V DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES .......................... 29

3.1.10 CAPÍTULO VI DA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES .............................. 31


 CAPITULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS ............................................ 32

4. O HOSPITAL COMO LOCUS DE EXPRESSÃO DA ÉTICA ............................... 32

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 37

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em


atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em
nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável


e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética.
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do
serviço oferecido.

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1.O CONTEXTO HISTÓRICO E FILOSÓFICO DA ÉTICA

O conceito de ética tem sido discutido ao longo dos tempos, existindo vários
entendimentos sobre o seu significado. A polissemia de conceitos e referências sobre a
ética nos permite analisá-la sob diferentes perspectivas históricas e filosóficas. Antes de
adentrar no contexto histórico da ética faz-se necessário justificar a aproximação dos
conceitos de ética e moral, uma vez que estas definições são apresentadas frequentemente
na literatura. Etimologicamente a palavra ética origina-se do grego “Ethos” que significa
costumes, já a palavra moral precede do latim “Mores” cujo significado hábito confirma as
acepções muito próximas uma da outra (NALINI, 2009). Alguns autores apresentam certa
dificuldade em diferenciar ética de moral adotando-as como expressões sinônimas
(CAMARGO, 2011). Outros acreditam que a distinção mais compreensível seria a de que
a ética aprimora e desenvolve o sentido moral do comportamento e nfluencia a conduta
humana (NALINI, 2009). Neste caso, os conceitos de ética e moral articulam-se
intrinsecamente. No entanto, a tendência mais frequente na bibliografia especializada e
também no uso corrente destes vocábulos é uma distinção semântica entre moral e ética.
O termo “ética” se reserva para a disciplina filosófica (ou teológica) que estuda
racionalmente a conduta humana, do ponto de vista dos deveres e das virtudes morais. A
ética é saber racional, como reflexão crítica sobre a ação da vida moral (FERRER e
ÁLVAREZ, 2005; VÁZQUEZ, 2008; MALIANDRI, 2006). A ética designa um ponto de vista
supra ou meta-individual, enquanto a moral situa-nos no nível da decisão da ação dos
indivíduos (MORIN, 2007). Neste sentido, a moral individual depende implicitamente ou
explicitamente de uma ética, pois esta se esvazia sem as morais individuais. Assim,
observa-se que os dois termos recobrem-se e, portanto, são inseparáveis (MORIN, 2007).
Historicamente, o surgimento da enunciação da ética se equipara ao da filosofia. Pode-se
inferir, segundo os textos dos filósofos Platão e Aristóteles, que a ética ocidental se inicia
com Sócrates (CHAUÍ, 2009). Para Sócrates o conceito de ética iria para além do senso
comum de sua época, pois seu significado encontrava-se atrelado aos aspectos de ligação
com o corpo e a alma, ambos em uma perspectiva imutável e eterna. Neste sentido,
segundo Sócrates existiria um “bom em si” próprio da sabedoria da alma e podendo ser
rememorados pelo aprendizado. Esta bondade absoluta do homem tem relação com uma

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ética apriorística, pertencente à alma e que o corpo para reconhecê-la tem que ser
purificado (ARICÓ, 2001). A ética em Platão menciona os conhecimentos de Sócrates e
reafirma que pela razão a alma se eleva ao mundo das ideias e seu fim último é purificar-
se ou libertar-se da matéria para contemplar o que realmente é e, sobretudo a ideia do bem.
Segundo Vásquez (2008), Platão afirmava que para alcançar esta purificação seria preciso
praticar várias virtudes que correspondem a cada uma das partes da alma e consistem no
seu funcionamento perfeito. Dessa maneira, as virtudes apontadas por Platão faziam
referência à prudência; à vontade ou ânimo, a fortaleza; ao apetite, a temperança, e a
harmonia entre as diversas partes constitui a virtude da justiça. O discurso apontado pela
teoria ética de Platão desemboca, necessariamente, em uma preocupação de ordem
política, pois na sua visão o ser humano é, por natureza, um animal político, ou seja, social.
O Ser humano, entretanto, deve necessariamente viver em sociedade (VÁSQUEZ, 2008).
O indivíduo, segundo Platão, por si só não pode aproximar-se da perfeição, pois a ideia de
Ser humano se realiza somente na comunidade. Dessa maneira a ética em Platão
esclarece que o Ser humano é bom como bom cidadão. Com relação à ética Aristotélica,
esta merece destaque uma vez que no clássico tratado de filosofia moral, A Ética a
Nicômaco, Aristóteles testemunha a ética com sua concepção metafísica do mundo e do
Ser humano. Segundo o filósofo grego nada está na razão se ainda não passou pelos
sentidos. Dessa forma, para ser ético o homem deveria entrar em contato com a própria
essência, a fim de encontrar a perfeição. Aristóteles esclarece, ainda, que a finalidade
suprema que governa e justifica a maneira pela qual o ser humano conduz seus atos e sua
vida é a felicidade, que não está correlatada com os prazeres, nem implicita nas honrarias
recebidas pelo ente agraciado, mas numa vida repleta de posturas e comportamentos
virtuosos. Para Aristóteles, o homem, dotado de prudência e habituado ao exercício de tal,
encontra no justo meio entre os extremos de seus atos e decisões a virtude. “(...) a virtude
está em nosso poder, do mesmo modo que o vício, pois quando depende de nós o agir,
também depende o não agir, e vice-versa. de modo que quando temos o poder de agir
quando isso é nobre, também temos o de não agir quando é vil; e se está em nosso poder
o não agir quando isso é nobre, também está o agir quando isso é vil. logo, depende de nós
praticar atos nobres ou vis, e se é isso que se entende por ser bom ou mau, então depende
de nós sermos virtuosos ou viciosos". (ARISTÓTELES, 2001 p.III) Em suma, para
Aristóteles a ética é tratada como a ciência das condutas humanas, objetivando
comprometer-se em possibilitar ao homem a garantia da felicidade por meio de uma vida
regida por virtudes morais e éticas. A Ética em Aristóteles aponta para uma mudança

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universal do seu conceito baseada na elucidação do ser humano como responsável pelo
ato, o qual não se realiza acidental e esporadicamente, mas mediante a aquisição de certos
modos constantes de hábitos que são as virtudes. Estas não são atitudes inatas, mas
modos de ser que se adquirem ou conquistam pelo exercício. O Ser Humano para
Aristóteles é, portanto, a atividade, passagem da potência ao ato (VASQUEZ, 2008). As
concepções de ética esclarecidas pelos filósofos gregos fundamentam-se numa
consciência coletiva mais ou menos implícita no comportamento humano socialmente
aceito por todos. Porém, com as influencias do cristianismo na Idade Média, tais
concepções passaram a focalizar o individuo, vinculando a moralidade a um ideal de
pessoa humana, isto é, o homem virtuoso (PAIM, 2003). Na Idade Média o poder exercido
pela Igreja monopolizou a vida intelectual e, neste contexto, a ética é impregnada de
conteúdo religioso. A ética, portanto, partiu de verdades reveladas a respeito de Deus, de
suas relações com o homem e da obediência e sujeição aos seus mandamentos
(VÁSQUEZ, 2008). Tendo Santo Agostinho e São Tomás de Aquino como os principais
filósofos desta época, a ética é sublinhada de valores da vontade na vida humana e,
consequentemente, do valor do amor, da experiência pessoal e da interioridade. A ética,
neste sentido, se contrapõe ao racionalismo da ética grega e torna-se fonte de inspiração
da ética existencialista e personalista. Nesta perspectiva para que o ser humano pudesse
alcançar o fim supremo (Deus) e ser feliz, seriam necessárias não somente as virtudes
intelectuais e morais ou cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança), mas também
e, sobretudo as virtudes teologias (fé, esperança e caridade), ou, m outras palavras, a graça
divina à qual o Ser humano deve corresponder com o reto uso de seu livre arbítrio (que
também é um dom de Deus) e com a sua boa vontade (VÁSQUEZ, 2008). Para que possa
ser considerada boa, a vontade deve conformar-se à norma moral que se encontra nos
seres humanos como reflexo da lei eterna da vontade divina. Na Idade média, portanto, a
lei de Deus não podia ser conhecida pelo Ser humano, de tal forma que ele deveria limitar-
se a obedecer aos seus ditames. A ética, neste sentido, passa ser entendida como a lei da
consciência humana na sua relação com Deus. Vários fatores contraditórios coincidem na
passagem da Idade Média para a Idade Moderna, inclusive a dificuldade de se encontrar
um denominador comum para as doutrinas éticas nessa época. Assim, destaca-se o fim do
pensamento medieval com a separação da filosofia da teologia por meio do esvaziamento
dos conceitos. Portanto, a sociedade moderna é alimentada por uma nova visão com
destaque para a tendência antropocêntrica em contraste com a teocêntrica da Idade Média
(VÁSQUEZ, 2008). A Ética moderna é a ética fundada numa compreensão antropocêntrica

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e racional do Ser humano e do seu comportamento. A expressão mais perfeita da ética
moderna está traduzida nos pensamentos de Kant que compreende o homem como um
Ser responsável por seus atos e que tem consciência de seu dever, fato que o obriga a
obedecer a sua consciência moral. Para Kant, “somos egoístas, ambiciosos, destrutivos,
agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos,
mentimos, roubamos. É justamente por isso que precisamos do dever para nos tornarmos
seres morais” (CHAUÍ, 2009 p.170). Segundo a teoria kantiana o sujeito não é como
pensara Hume, o sujeito psicológico individual, mas uma estrutura universal, idêntica para
todos os seres humanos em todos os tempos e lugares, se resumindo em uma ética da
razão. Neste sentido o homem age por respeito ao dever e não obedece a outra lei a não
ser a que lhe dita sua consciência moral. Ao contrário de Rousseau e Hume, Kant afirmou
que a consciência moral não é inata, na verdade, nascemos egoístas, agressivos e
buscamos na razão o que é ético e moral (CHAUI, 2009). Portanto, a Ética de Kant é uma
ética formal e autônoma. “Por ser puramente formal, tem de postular um dever para todos
os Seres humanos, independentemente da sua situação social e do seu conteúdo concreto”
(VASQUEZ, 2008, p.205). Por ser autônoma aparece como a culminação da tendência
antropocêntrica. Dessa maneira a Ética de Kant é o ponto de partida de uma Ética que
define o Ser humano como ser ativo e criador. A valorização da autonomia do sujeito moral
leva à busca de valores subjetivos e ao reconhecimento do valor das paixões, o que
acarreta o individualismo exacerbado e a anarquia dos valores. Resulta, ainda, na
descoberta de várias situações particulares com suas respectivas morais: dos jovens, de
grupos religiosos, de movimentos ecológicos, de homossexuais, de feministas, e assim por
diante. Essa divisão leva ao relativismo moral, que, sem fundamentos mais profundos e
universais, A expressão da ética nas práticas de profissionais de saúde no contexto de
unidades de internação hospitalar 30 baseia a ação sobre o interesse imediato. Nessa
perspectiva, a ética se apresenta como uma reação contra o formalismo e o universalismo
kantiano em favor de um homem concreto; contra o racionalismo absoluto e em favor do
reconhecimento do irracional no comportamento humano; contra a fundamentação
transcendente da ética e em favor da procura da sua origem no próprio homem (VÁSQUEZ,
2008). No mundo contemporâneo, a agenda moral dos dias atuais está cheia de itens em
que filósofos do passado nem se quer abordaram porque na sua época esses problemas
não eram articulados como parte da experiência humana (BAUMAN, 2003, p. 5). Basta
mencionar os problemas em nível de vida diária, tais como as relações entre os casais, a
parceria sexual e familiar, o aborto, a pobreza no mundo, a tecnologia genética, direitos

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humanos, justiça social, sincronização entre a conduta individual e o bem-estar coletivo
precisa ser vistos e tratados de maneira nova (BAUMAN, 2003, p.5). Com o gradual
afrouxamento da força da tradição e a crescente pluralidade de contextos mutuamente
autônomos nos quais se conduzem a vida dos sujeitos na contemporaneidade, faz–se
necessário compreender a ética na sua complexidade, isto é, na realidade multidimensional
simultaneamente econômica, psicológica, mitológica, sociológica que vivemos (MORIN,
2011).

1.1 – ÉTICA
A palavra ética é de origem grega, derivada de ethos, que por sua vez diz respeito
ao costume ou mesmo aos hábitos dos homens. Os estudos sobre o tema lidam com a
compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e
da vida individual além de tratar-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais
consideradas tanto no âmbito coletivo quanto no âmbito individual. Diversos são os autores
que conceituam a Ética. Ela é denominada, por exemplo, como “um conjunto de valores
morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade” ou então, conforme
outra definição, uma parte da filosofia (e também pertinente às ciências sociais) que lida
com a compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade
social e da vida individual. Em outras palavras, trata-se de uma reflexão sobre o valor das
ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual.

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Segundo Marilena Chauí a ética nasce quando se passa a indagar o que são, de
onde vêm e o que valem os costumes. Ou seja, nasce quando também se busca
compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e consciência moral e
individual. Por sua vez, Rosana Soibelmann Glock e José Roberto Goldim conceituam ética
como o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado
ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é a busca de justificativas para as regras
propostas pela Moral e pelo Direito. O Filósofo Leonard Boff define a ética como “um
conjunto de valores e princípios, de inspirações e indicações que valem para todos, pois
estão ancorados na nossa própria humanidade”.

Assim podemos dizer ainda que a ética é construída por uma sociedade com base
nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que
estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. Além do mais, ela
“serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém
saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está
relacionada com o sentimento de justiça social”. Importante destacar o que muitos dizem
que a Ética não serve de base somente às relações humanas mais próximas. Ela trata de
relações sociais dos homens, pois alguns filósofos consideram a ética como a base do

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direito ou da justiça, isto é, das leis que regulam a convivência entre todos os membros de
uma sociedade.

1.2– MORAL

A palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo aos
costumes”. A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma
de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras geográficas e garante uma
identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo referencial
moral comum. Para Marilena Chauí a Moral tem por objeto o comportamento humano
regido por regras e valores morais, que se encontram gravados em nossas consciências, e
em nenhum código, comportamento resultante de decisão da vontade, que torna o homem,
por ser livre, responsável por sua culpa quando agir contra as regras morais, tem relações
muito próximas com o Direito.

A Justiça, valor jurídico fundamental é valor moral. O estudo da Moral, de suas


regras e dos costumes é, pois, relevante principalmente para humanizar as relações
econômicas e o mundo materializado de nossos dias. O dicionário Aurélio define moral
como sendo “de acordo com os bons costumes. Que é próprio para favorecer os bons
costumes. Relativo ao espírito; intelectual (por oposição ao físico, ao material)”. No que
tange ao significado de moral Leonardo Boff traz uma série de exemplos e afirmações para
conceituar o termo. A forma concreta como a ética é vivida, depende de cada cultura que é

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sempre diferente da outra. Um indígena, um chinês, um africano vivem do seu jeito o amor,
o cuidado, a solidariedade e o perdão. Esse jeito diferente chamamos de moral. Etica existe
uma só para todos. Moral existem muitas, consoante as maneiras diferentes como os seres
humanos organizam a vida. Vamos dar um exemplo. Importante é ter uma casa(ética). O
estilo e a maneira de construi-la pode variar(moral). Pode ser simples, rústica, moderna,
colonial, gótica, contanto que seja casa habitável. Assim é com a ética e a moral.
(LEONARDO BOFF) O ilustre professor Edgar Larry diz que A Moral, que tem por objeto o
comportamento humano regido por regras e valores morais, que se encontram gravados
em nossas consciências, e em nenhum código, comportamento resultante de decisão da
vontade, que torna o homem, por ser livre, responsável por sua culpa quando agir contra
as regras morais, tem relações muito próximas com o Direito. A Justiça, valor jurídico
fundamental é valor moral. O estudo da Moral, de suas regras e dos costumes é, pois,
relevante para o jurista, principalmente para humanizar as relações econômicas e o mundo
materializado de nossos dias.

1.3 A ÉTICA NA PRÁTICA COTIDIANA DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE


A prática cotidiana de profissionais de saúde é permeada por um processo de
trabalho complexo e interdependente que exige a integração das ações dos vários
profissionais, sendo, portanto, o trabalho em saúde, um trabalho coletivo. O caráter coletivo
do trabalho em saúde requer uma complementaridade de ações de diferentes profissionais,
nas quais estão incluídas a dimensão técnica, referida às atividades, aos procedimentos e
a todos os instrumentos necessários para atingir a finalidade de prestação de cuidados, e
a dimensão ética, que não se reduz ao relacionamento interpessoal entre os profissionais,
que se espera ser respeitoso como cabe ser nas relações humanas, mas estende-se à
preocupação em reconhecer e considerar o trabalho dos demais, sejam da mesma área de
atuação, sejam de outras (PEDUZZI, 2002, p.86). A complexidade do trabalho na saúde se
dá, primeiramente, por se tratar de uma atividade essencial para a vida humana, cujas
práticas têm uma obrigação ética e de responsabilidade para com a humanidade. Além
disso, o caráter multiprofissional da prática em saúde requer a articulação das intervenções
realizadas pelos profissionais, os quais em suas determinadas áreas de conhecimento têm
liberdade de decisão e conduta em prol de uma mesma finalidade. Os profissionais que
optaram por esta área de atuação devem dominar conhecimentos e técnicas especiais para
assistir ao indivíduo ou grupos com problemas de saúde ou com risco de adoecer, em

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atividades de cunho investigativo, preventivo, curativo, com o objetivo de reabilitação
(PIRES, 1999, p.30). Estes conhecimento e técnicas quando aplicados não se restringem
a consolidação de um bem material, mas sim de um trabalho vivo em ato, em um processo
de relações entre profissionais e usuários dos serviços de saúde (PIRES, 1999, p. 29).
Segundo Merhy, o trabalho em saúde é considerado vivo em ato, por se constituir: Um
encontro entre dois seres humanos, profissionais e usuários, que atuam um sobre o outro
e no qual se opera um jogo de expectativas e produções, criando-se intersubjetivamente
alguns momentos interessantes, como os seguintes: momentos de falas, escutas e
interpretações, nos quais há a produção de uma acolhida ou não das intenções que essas
pessoas colocam nesses encontros; momentos de cumplicidade, nos quais há a produção
de uma responsabilização em torno do problema que vai ser enfrentado; momentos de
confiabilidade e esperança, nos quais se produzem relações de vínculo e aceitação
(MERHY, 1998, p. 13). Considerando o exposto, o trabalho em saúde ultrapassa o foco da
subjetividade alcançando a intersubjetividade no qual é afetado pela alteridade, pelo
discurso e saber vindo do outro. Além disso, é um trabalho que envolve operações
intelectuais, que vão além de saber manusear uma técnica ou um aparelho, e exige um
pensar sobre o que se faz com responsabilidade, eficiência, eficácia e efetividade. Segundo,
Carvalho e Ceccim (2009, p. 157) para ser um profissional de saúde há necessidade do
conhecimento científico e tecnológico, mas também de conhecimento de natureza
humanística e social relativo ao processo de cuidar, de desenvolver projetos terapêuticos
singulares, de formular e avaliar políticas e de coordenar e conduzir sistemas e serviços de
saúde. Para Peduzzi (2002, p.83), o trabalho em saúde configura-se como um trabalho
reflexivo, destinado à prevenção, manutenção e restauração de “algo” (a saúde)
imprescindível ao conjunto da sociedade. O caráter social do trabalho em saúde requer que
as atividades neste setor compreendam mais que um momento de atenção, zelo e desvelo,
representa uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e envolvimento
afetivo com outro, o que caracteriza uma atitude de cuidado (BOFF, 2011). É neste contexto
que a ação é tomada como essência das atividades de saúde, pois não basta que os
profissionais da saúde utilizem elementos que estão fora da pessoa para sua prática
(microscópio, luvas), é imprescindível realizar uma ação sobre o outro e para o outro. A
ação, segundo Fernandes (2010), decorre da vontade do próprio sujeito e é formada
internamente, podendo, contudo receber influência de diversos fatores externos. A ação
consiste numa manifestação exterior do sujeito, na qual o seu corpo provoca uma alteração
que afeta a realidade física. Ou seja, a ação como um fazer ou não fazer, repercute no

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outro. O fazer resulta do poder para fazer, da capacidade para decidir e para concretizar
uma intenção tendo em vista um resultado pretendido (FERNANDES, 2010, p. 38). É este
fazer ou não fazer que orienta as práticas cotidianas dos profissionais de saúde e se
manifesta no modo como o profissional age e interage com outro. A prática é, portanto, a
própria ação, por meio da qual exercemos nossa moralidade e nos deparamos com a
finalidade e o sentido da vida humana, obrigações e deveres, e nos posicionamos acerca
do bem e do mal (BUB, 2005). Com essa compreensão, nos apropriamos dos estudos de
Dubar e Tripier (1998, p. 13) para entender que as ações de grupos profissionais,
independentemente da área do conhecimento, são influenciadas por três perspectivas: as
formas históricas de organização social das atividades de trabalho, as formas históricas de
identificação e expressão de valores éticos e as formas históricas de estruturação dos
mercados de trabalho. Especialmente na área da saúde, os grupos profissionais devem
seguir uma ordem de conduta que permita a evolução harmônica do trabalho de todos, por
meio da conduta de cada um, e de uma tutela no trabalho que conduza a regulação do
individualismo perante o coletivo (SÁ, 1996, p.92). Tal regulação consiste em interpretar e
concretizar princípios, à luz do ideário vigente, em cada época histórica, nas diferentes
culturas ou civilizações (COMPARATO, 2006, p. 510) e são materializadas na forma de
códigos de conduta, códigos deontológicos ou códigos de ética. Os códigos de ética para
as profissões da saúde remotam da Grécia antiga, que influenciados pela Filosofia, e de
forma mais enfática por Hipócrates, obedeciam a um código de etiqueta e comportamento
para o médico, o qual descrevia condutas de aparência saudável, voltadas a promover a
serenidade, autocontrole, compaixão e dedicação, objetividade, responsabilidade e
compromisso com o bem-estar do doente (LOCH, 2003, p. 12). A medicina grega clássica
teve considerável influência para o desenvolvimento da ética das profissões da área da
saúde. Na atualidade, os profissionais de todas as áreas do conhecimento, em especial os
da saúde, porque lidam obrigatoriamente com o outro, têm seus comportamentos
amparados e vigiados por uma quantidade considerável de normas e regras. Além dos
códigos de ética próprios de cada profissão, existem princípios, normas e leis regidas pela
sociedade, pela instituição onde trabalham, pelo Sistema Único de Saúde, pela família entre
outros, todos influenciando seu modo de ser. O quantitativo de sistemas regulatórios tem
levado os sujeitos a apresentar um aspecto cada vez mais exterior de si como forma de ser
aceito em inúmeros universos sem nem mesmo desejar tal comportamento. A esfera da
conduta ética vai além destes parâmetros, encontra-se na essência do ser. Afinal, a conduta
ética não pode ser delineada de maneira precisa (NALINI, 2009). O ser ético não decorre

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apenas de seguir o código de ética, pois os códigos não esgotam o conteúdo e as
exigências de uma conduta ética de vida e nem sempre expressam a forma mais adequada
de agir em uma circunstância particular (CAMARGO, 2011, p. 34).

Outro aspecto a considerar é a reflexão de que um código não pode ser aplicado de maneira
impensada e tratado simplesmente como um conjunto de regras préexistentes. Há
necessidade de analisar a ética em uma dimensão genealógica, de se pensar sobre a
constituição histórica dos sujeitos para entender como ele conduz sua prática (FOUCAULT,
2004, p. 275).

O código deve, pois, ser utilizado como uma ajuda ao pensamento moral. A ética
para os profissionais de saúde busca um equilíbrio entre o ser sujeito e o dever ser. Ao se
reconhecer como parte do trabalho em saúde o profissional utiliza os códigos e outras
regras para a promoção da sua prática. É condição fundamental de uma profissão dispor
de obrigações e responsabilidades com consciência de grupo (CAMARGO, 2011, p.33).
Em face da área da saúde ser um trabalho coletivo que anseia o mesmo fim, as obrigações
e responsabilidades devem perpassar todas as profissões. A ética dos profissionais de
saúde e seus fundamentos são, portanto, produtos de uma prática consciente, coletiva e
organizada, por meio das quais é possível promover valores morais comuns às pessoas
que compartilham uma mesma realidade.

2. – CÓDIGOS DE ÉTICA
Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país,
por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta
atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos de não utilização de animais
para estes fins. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é
denominada bioética. Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social,
existe também a ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido,

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podemos citar: ética médica, ética profissional (trabalho), ética empresarial, ética
educacional, ética nos esportes, ética jornalística, ética na política, etc.
Num contexto geral, podem ser citados aqui alguns pontos importantes para o dia
a dia da organização e ao ambiente do trabalho no sentido ético que buscam melhor e
maior aproveitamento do profissional:
- Maior nível de produção na empresa;
- Favorecimento para a criação de um ambiente de trabalho harmonioso, respeitoso e
agradável;
- Aumento no índice de confiança entre os funcionários.
Importante destacar ainda alguns exemplos de atitudes éticas que todo o trabalhador deve
ter o cuidado e praticar o ambiente de trabalho, mais especificamente:
- Educação e respeito entre os funcionários;
- Cooperação e atitudes que visam à ajuda aos colegas de trabalho;
- Divulgação de conhecimentos que possam melhorar o desempenho das atividades
realizadas na empresa;
- Respeito à hierarquia dentro da empresa;
- Busca de crescimento profissional sem prejudicar outros colegas de trabalho;
- Ações e comportamentos que visam criar um clima agradável e positivo dentro da empresa
como, por exemplo, manter o bom humor;
- Realização, em ambiente de trabalho, apenas de tarefas relacionadas ao trabalho; -
Respeito às regras e normas da empresa.

2.1 – ÉTICA PROFISSIONAL

A atuação profissional deve ser lembrada de maneira pessoal, mas ressaltando-se o


trabalho em equipe, haja vista que muito dificilmente a coletividade não influencia na
relação laboral. Nesse sentido, devemos lembrar que a forma de atuar profissionalmente
requer princípios gerais que norteiam não apenas uma pessoa mas sim um grupos de
pessoas que atuam no âmbito profissional. Assim pode-se definir ética profissional como
“conjunto de atitudes e valores positivos aplicados no ambiente de trabalho. A ética no
ambiente de trabalho é de fundamental importância para o bom funcionamento das
atividades da empresa e das relações de trabalho entre os funcionários”.

15
3. LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL DOS TÉCNICOS EM
ENFERMAGEM

Como falamos anteriormente, as diversas profissões possuem seus códigos específicos.


Não porque uma área de atuação é melhor do que a outra, mas sim pelo fato de que as
peculiaridades de cada profissão exigem normas e legislações direcionadas. Além do
Código de Ética, que veremos a seguir, temos também outras legislações que falam sobre
a profissão do Técnico de Enfermagem, como por exemplo a LEI Nº 5.905, DE 12 DE
JULHO DE 1973 que “Dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e Regionais de
Enfermagem e dá outras providências”. A LEI Nº 7.498, DE 25 DE JUNHO DE 1986 que
“Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências”.
Vale destacar nessa legislação alguns artigos que tratam especificamente dos profissionais
técnicos em enfermagem:
Art. 2º A enfermagem e suas atividades auxiliares somente podem ser exercidas
por pessoas legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de
Enfermagem com jurisdição na área onde ocorre o exercício. Parágrafo único. A
enfermagem é exercida privativamente pelo Enfermeiro, pelo Técnico Técnico de
Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, respeitados os
respectivos graus de habilitação. (...) Art. 7º São Técnicos de Enfermagem: I o titular
do diploma ou do certificado de Técnico de Enfermagem, expedido de acordo com
a legislação e registrado pelo órgão competente; II o titular do diploma ou do
certificado legalmente conferido por escola ou curso estrangeiro, registrado em
virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de
Técnico de Enfermagem.
(...) Art. 12 O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo
orientação e acompanhamento do trabalho de enfermagem em grau auxiliar, e
participação no planejamento da assistência de enfermagem, cabendo-lhe
especialmente: a) participar da programação da assistência de enfermagem; b)
executar ações assistenciais de enfermagem, exceto as privativas do Enfermeiro,
observado o disposto no parágrafo único do art. 11 desta lei; c) participar da
orientação e supervisão do trabalho de enfermagem em grau auxiliar; d) participar
da equipe de saúde.
(...) Art. 15 As atividades referidas nos arts. 12 e 13 desta lei, quando exercidas em
instituições de saúde, públicas e privadas, e em programas de saúde, somente
podem ser desempenhadas sob orientação e supervisão de Enfermeiro. Já o
Decreto nº 94.406, de 08 de junho de 1987 trata sobre a regulamentação da Lei
7.498/1986 “que dispõe sobre o exercício da Enfermagem e dá outras providências”.

16
Entre os diversos artigos, destacaremos apenas o que nos interessa nesse
momento: Art. 1º O exercício da atividade de Enfermagem, observadas as
disposições da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, e respeitados os graus de
habilitação, é privativo de Enfermeiro, Técnico de Enfermagem, Auxiliar de
Enfermagem e Parteiro e só será permitido ao profissional inscrito no Conselho
Regional de Enfermagem da respectiva região.
(...) Art. 5º São técnicos de Enfermagem: I o titular do diploma ou do certificado de
técnico de Enfermagem, expedido de acordo com a legislação e Registrado no
órgão competente; II o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por
escola ou curso estrangeiro, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural
ou revalidado no Brasil como diploma de técnico de Enfermagem.
Art. 10 O Técnico de Enfermagem exerce as atividades auxiliares, de nível médio
técnico, atribuídas à equipe de Enfermagem, cabendo-lhe: I assistir o Enfermeiro: a)
no planejamento, programação, orientação e supervisão das atividades de
assistência de Enfermagem; b) na prestação de cuidados diretos de Enfermagem a
pacientes em estado grave; c) na prevenção e controle das doenças transmissíveis
em geral em programas de vigilância epidemiológica; d) na prevenção e controle
sistemático da infecção hospitalar; e) na prevenção e controle sistemático de danos
físicos que possam ser causados a pacientes durante a assistência de saúde; f) na
execução dos programas referidos nas letras "i" e "o" do item II do Art. 8º. II executar
atividades de assistência de Enfermagem, excetuadas as privativas do Enfermeiro
e as referidas no Art. 9º deste Decreto: III integrar a equipe de saúde.
(...) Art. 14 Incumbe a todo o pessoal de Enfermagem: I cumprir e fazer cumprir o
Código de Deontologia da Enfermagem; II quando for o caso, anotar no prontuário
do paciente as atividades da assistência de Enfermagem, para fins estatísticos; Art.
15 Na administração pública direta e indireta, federal, estadual, municipal, do Distrito
Federal e dos Territórios será exigida como condição essencial para provimento de
cargos e funções e contratação de pessoal de Enfermagem, de todos os graus, a
prova de inscrição no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva região.
Parágrafo único. Os órgãos e entidades compreendidos neste artigo promoverão,
em articulação com o Conselho Federal de Enfermagem, as medidas necessárias
à adaptação das situações já existentes com as disposições deste Decreto,
respeitados os direitos adquiridos quanto a vencimentos e salários.

3.1 CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS TÉCNICOS EM


ENFERMAGEM CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM PREÂMBULO

17
A enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos
e técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas
que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência. Realiza-se na prestação de serviços
à pessoa, família e coletividade, no seu contexto e circunstâncias de vida. O aprimoramento
do comportamento ético do profissional passa pelo processo de construção de uma
consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional configurado pela
responsabilidade no plano das relações de trabalho com reflexos no campo científico e
político.

A enfermagem brasileira, face às transformações socioculturais, científicas e legais,


entendeu ter chegado o momento de reformular o Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem (CEPE). A trajetória da reformulação, coordenada pelo Conselho Federal de
Enfermagem com a participação dos Conselhos Regionais de Enfermagem, incluiu
discussões com a categoria de enfermagem. O Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem está organizado por assunto e inclui princípios, direitos, responsabilidades,
deveres e proibições pertinentes à conduta ética dos profissionais de enfermagem. O
Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração a necessidade e
o direito de assistência em enfermagem da população, os interesses do profissional e de
sua organização. Está centrado na pessoa, família e coletividade e pressupõe que os
trabalhadores de enfermagem estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência
sem riscos e danos e acessível a toda população. O presente Código teve como referência
os postulados da Declaração Universal dos Direitos do Homem, promulgada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas (1948) e adotada pela Convenção de Genebra da
Cruz Vermelha (1949), contidos no Código de Ética do Conselho Internacional de
Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação Brasileira de Enfermagem (1975).
Teve como referência, ainda, o Código de Deontologia de Enfermagem do Conselho
Federal de Enfermagem (1976), o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (1993)
e as Normas Internacionais e Nacionais sobre Pesquisa em Seres Humanos [Declaração

18
Helsinque (1964), revista em Tóquio (1975), em Veneza (1983), em Hong Kong (1989) e
em Sommerset West (1996) e a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério
da Saúde (1996)].

 3.1.1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e a qualidade de vida


da pessoa, família e coletividade. O profissional de enfermagem atua na promoção,
prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com
os preceitos éticos e legais. O profissional de enfermagem participa, como integrante da
equipe de saúde, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população
e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a
universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência,
resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participação da comunidade,
hierarquização e descentralização político-administrativa dos serviços de saúde. O
profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos, em todas
as suas dimensões. O profissional de enfermagem exerce suas atividades com
competência para a promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os
princípios da ética e da bioética.

 3.1.2 CAPÍTULO I DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

 DIREITOS

Art. 1º - Exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os


pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos.
Art. 2º - Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão
sustentação a sua prática profissional.
Art. 3º - Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profissional e à defesa
dos direitos e interesses da categoria e da sociedade.
Art. 4º - Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio do
Conselho Regional de Enfermagem.

19
 RESPONSABILIDADES E DEVERES
Art. 5º - Exercer a profissão com justiça, compromisso, eqüidade, resolutividade,
dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e lealdade.
Art. 6º - Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no respeito, na
solidariedade e na diversidade de opinião e posição ideológica.
Art. 7º - Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes, fatos que infrinjam
dispositivos legais e que possam prejudicar o exercício profissional.

 PROIBIÇÕES
Art. 8º - Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação de membro da
equipe de enfermagem, equipe de saúde e de trabalhadores de outras áreas, de
organizações da categoria ou instituições.
Art. 9º - Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qualquer
outro ato, que infrinja postulados éticos e legais.

 3.1.3 SEÇÃO I DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMILIA E


COLETIVIDADE

 DIREITOS
Art. 10 - Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência
técnica, científica, ética e leal ou que não ofereçam segurança ao profissional, à
pessoa, família e coletividade.
Art. 11 - Ter acesso às informações, relacionadas à pessoa, família e coletividade,
necessárias ao exercício profissional.

 RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de enfermagem livre


de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.
Art. 13 - Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal e
somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro
para si e para outrem.
Art. 14 - Aprimorar os conhecimentos técnicos, científicos, éticos e culturais, em
benefício da pessoa, família e coletividade e do desenvolvimento da profissão.
Art. 15 - Prestar assistência de enfermagem sem discriminação de qualquer
natureza.
Art. 16 - Garantir a continuidade da assistência de enfermagem em condições que
ofereçam segurança, mesmo em caso de suspensão das atividades profissionais
decorrentes de movimentos reivindicatórios da categoria.

20
Art. 17 - Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a respeito
dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assistência de
enfermagem.
Art. 18 - Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da pessoa
ou de seu representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, tratamento,
conforto e bem estar.
Art. 19 - Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo
seu ciclo vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte.
Art. 20 - Colaborar com a equipe de saúde no esclarecimento da pessoa, família e
coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca de
seu estado de saúde e tratamento.
Art. 21 - Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes de
imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da equipe de
saúde.
Art. 22 - Disponibilizar seus serviços profissionais à comunidade em casos de
emergência, epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais.
Art. 23 - Encaminhar a pessoa, família e coletividade aos serviços de defesa do
cidadão, nos termos da lei.
Art. 24 - Respeitar, no exercício da profissão, as normas relativas à preservação
do meio ambiente e denunciar aos órgãos competentes as formas de poluição e
deterioração que comprometam a saúde e a vida.
Art. 25 - Registrar no prontuário do paciente as informações inerentes e
indispensáveis ao processo de cuidar.

 PROIBIÇÕES

Art. 26 - Negar assistência de enfermagem em qualquer situação que se caracterize


como urgência ou emergência.
Art. 27 - Executar ou participar da assistência à saúde sem o consentimento da
pessoa ou de seu representante legal, exceto em iminente risco de morte.
Art. 28 - Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a
gestação. Parágrafo único - Nos casos previstos em lei, o profissional deverá decidir,
de acordo com a sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo.
Art. 29 - Promover a eutanásia ou participar em prática destinada a antecipar a
morte do cliente.
Art. 30 - Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem certificar-
se da possibilidade de riscos.
Art. 31 - Prescrever medicamentos e praticar ato cirúrgico, exceto nos casos
previstos na legislação vigente e em situação de emergência.

21
Art. 32 - Executar prescrições de qualquer natureza, que comprometam a
segurança da pessoa.
Art. 33 - Prestar serviços que por sua natureza competem a outro profissional,
exceto em caso de emergência.
Art. 34 - Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso com qualquer forma de
violência.
Art. 35 - Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada.

 3.1.4 SEÇÃO II DAS RELAÇÕES COM OS TRABALHADORES DE


ENFERMAGEM, SAÚDE E OUTROS

 DIREITOS

Art. 36 - Participar da prática multiprofissional e interdisciplinar com


responsabilidade, autonomia e liberdade.
Art. 37 - Recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica, onde não
conste a assinatura e o número de registro do profissional, exceto em situações de
urgência e emergência.
Parágrafo único - O profissional de enfermagem poderá recusar-se a executar
prescrição medicamentosa e terapêutica em caso de identificação de erro ou
ilegibilidade.

 RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais,


independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe.
Art. 39 - Participar da orientação sobre benefícios, riscos e conseqüências
decorrentes de exames e de outros procedimentos, na condição de membro da
equipe de saúde.
Art. 40 - Posicionar-se contra falta cometida durante o exercício profissional seja
por imperícia, imprudência ou negligência.
Art. 41 - Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas
necessárias para assegurar a continuidade da assistência.

22
 PROIBIÇÕES

Art. 42 - Assinar as ações de enfermagem que não executou, bem como permitir
que suas ações sejam assinadas por outro profissional.
Art. 43 - Colaborar, direta ou indiretamente com outros profissionais de saúde, no
descumprimento da legislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos,
esterilização humana, fecundação artificial e manipulação genética.

 3.1.5 SEÇÃO III DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES DA


CATEGORIA

 DIREITOS
Art. 44 - Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando impedido de
cumprir o presente Código, a legislação do exercício profissional e as resoluções e
decisões emanadas do Sistema COFEN/COREN.
Art. 45 - Associar-se, exercer cargos e participar de entidades de classe e órgãos
de fiscalização do exercício profissional.
Art. 46 - Requerer em tempo hábil, informações acerca de normas e convocações.
Art. 47 - Requerer, ao Conselho Regional de Enfermagem, medidas cabíveis para
obtenção de desagravo público em decorrência de ofensa sofrida no exercício
profissional.

 RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 48 - Cumprir e fazer os preceitos éticos e legais da profissão. Art. 49 -


Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que firam preceitos do
presente Código e da legislação do exercício profissional.
Art. 50 - Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que
envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego, motivado pela
necessidade do profissional em cumprir o presente Código e a legislação do
exercício profissional.
Art. 51 - Cumprir, no prazo estabelecido, as determinações e convocações do
Conselho Federal e Conselho Regional de Enfermagem.
Art. 52 - Colaborar com a fiscalização de exercício profissional.
Art. 53 - Manter seus dados cadastrais atualizados, e regularizadas as suas
obrigações financeiras com o Conselho Regional de Enfermagem.

23
Art. 54 - Apor o número e categoria de inscrição no Conselho Regional de
Enfermagem em assinatura, quando no exercício profissional.
Art. 55 - Facilitar e incentivar a participação dos profissionais de enfermagem no
desempenho de atividades nas organizações da categoria.

 PROIBIÇÕES
Art. 56 - Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e
às demais normas que regulam o exercício da Enfermagem.
Art. 57 - Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência de fatos que
envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pela
necessidade do profissional em cumprir o presente código e a legislação do
exercício profissional.
Art. 58 - Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patrimônio ou
comprometam a finalidade para a qual foram instituídas as organizações da
categoria.
Art. 59 - Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações sobre o exercício
profissional quando solicitado pelo Conselho Regional de Enfermagem.

 3.1.6 SEÇÃO IV DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES


EMPREGADORAS

 DIREITOS
Art. 60 - Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, do
aprimoramento técnicocientífico, do exercício da cidadania e das reivindicações por
melhores condições de assistência, trabalho e remuneração.
Art. 61 - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a
instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições dignas
para o exercício profissional ou que desrespeite a legislação do setor saúde,
ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar
imediatamente por escrito sua decisão ao Conselho Regional de Enfermagem.
Art. 62 - Receber salários ou honorários compatíveis com o nível de formação, a
jornada de trabalho, a complexidade das ações e a responsabilidade pelo exercício
profissional.
Art. 63 - Desenvolver suas atividades profissionais em condições de trabalho que
promovam a própria segurança e a da pessoa, família e coletividade sob seus
cuidados, e dispor de material e equipamentos de proteção individual e coletiva,
segundo as normas vigentes.
Art. 64 - Recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de material ou
equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na legislação específica.

24
Art. 65 - Formar e participar da comissão de ética da instituição pública ou privada
onde trabalha, bem como de comissões interdisciplinares.
Art. 66 - Exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu exercício
profissional e do setor saúde.
Art. 67 - Ser informado sobre as políticas da instituição e do serviço de enfermagem,
bem como participar de sua elaboração.
Art. 68 - Registrar no prontuário, e em outros documentos próprios da enfermagem,
informações referentes ao processo de cuidar da pessoa.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 69 - Estimular, promover e criar condições para o aperfeiçoamento técnico,


científico e cultural dos profissionais de Enfermagem sob sua orientação e
supervisão.
Art. 70 - Estimular, facilitar e promover o desenvolvimento das atividades de ensino,
pesquisa e extensão, devidamente aprovadas nas instâncias deliberativas da
instituição.
Art. 71 - Incentivar e criar condições para registrar as informações inerentes e
indispensáveis ao processo de cuidar.
Art. 72 - Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar
de forma clara, objetiva e completa.

 PROIBIÇÕES
Art. 73 - Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou jurídicas
que desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício profissional de
enfermagem.
Art. 74 - Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega, utilizando-se de
concorrência desleal.
Art. 75 - Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital, casa de
saúde, unidade sanitária, clínica, ambulatório, escola, curso, empresa ou
estabelecimento congênere sem nele exercer as funções de enfermagem
pressupostas.
Art. 76 - Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, família e coletividade,
além do que lhe é devido, como forma de garantir Assistência de Enfermagem
diferenciada ou benefícios de qualquer natureza para si ou para outrem.
Art. 77 - Usar de qualquer mecanismo de pressão ou suborno com pessoas físicas
ou jurídicas para conseguir qualquer tipo de vantagem.

25
Art. 78 - Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou cargo,
para impor ordens, opiniões, atentar contra o pudor, assediar sexual ou moralmente,
inferiorizar pessoas ou dificultar o exercício profissional.
Art. 79 - Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, público ou particular
de que tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou de
outrem.
Art. 80 - Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de
enfermagem ou de saúde, que não seja enfermeiro.

 3.1.7 CAPÍTULO II DO SIGILO PROFISSIONAL

 DIREITOS

Art. 81 – Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha


conhecimento em razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que
não estejam obrigadas ao sigilo.

 RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 82 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão
de sua atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judicial, ou com
o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal.

§ 1º - Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conhecimento público e em


caso de falecimento da pessoa envolvida.

§ 2º - Em atividade multiprofissional, o fato sigiloso poderá ser revelado quando


necessário à prestação da assistência.

§ 3º - O profissional de enfermagem, intimado como testemunha, deverá


comparecer perante a autoridade e, se for o caso, declarar seu impedimento de
revelar o segredo.

§ 4º - O segredo profissional referente ao menor de idade deverá ser mantido,


mesmo quando a revelação seja solicitada por pais ou responsáveis, desde que o
menor tenha capacidade de discernimento, exceto nos casos em que possa
acarretar danos ou riscos ao mesmo.

Art. 83 - Orientar, na condição de enfermeiro, a equipe sob sua responsabilidade,


sobre o dever do sigilo profissional.

26
 PROIBIÇÕES
Art. 84 - Franquear o acesso a informações e documentos para pessoas que não
estão diretamente envolvidas na prestação da assistência, exceto nos casos
previstos na legislação vigente ou por ordem judicial.

Art. 85 - Divulgar ou fazer referência a casos, situações ou fatos de forma que os


envolvidos possam ser identificados.

3.1.8 CAPÍTULO III DO ENSINO, DA PESQUISA, E DA PRODUÇÃO TÉCNICO-


CIENTÍFICA DIREITOS

Art. 86 - Realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, respeitadas as


normas éticolegais.

Art. 87 - Ter conhecimento acerca do ensino e da pesquisa a serem desenvolvidos


com as pessoas sob sua responsabilidade profissional ou em seu local de trabalho.

Art. 88 - Ter reconhecida sua autoria ou participação em produção técnico-


científica.

 RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 89 - Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres humanos,


segundo a especificidade da investigação.

Art. 90 - Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à


integridade da pessoa.

Art. 91 - Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os


direitos autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos seus
resultados.

Art. 92 - Disponibilizar os resultados de pesquisa à comunidade científica e


sociedade em geral.

Art. 93 - Promover a defesa e o respeito aos princípios éticos e legais da profissão


no ensino, na pesquisa e produções técnico-científicas.

 PROIBIÇÕES

Art. 94 - Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que o direito


inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou ofereça
qualquer tipo de risco ou dano aos envolvidos.

27
Art. 95 - Eximir-se da responsabilidade por atividades executadas por alunos ou
estagiários, na condição de docente, enfermeiro responsável ou supervisor.

Art. 96 - Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa,


família ou coletividade.

Art. 97 - Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem como, usá-los para


fins diferentes dos pré-determinados.

Art. 98 - Publicar trabalho com elementos que identifiquem o sujeito participante do


estudo sem sua autorização.

Art. 99 - Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico-científica ou


instrumento de organização formal do qual não tenha participado ou omitir nomes
de co-autores e colaboradores.

Art. 100 - Utilizar sem referência ao autor ou sem a sua autorização expressa, dados,
informações, ou opiniões ainda não publicados.

Art. 101 - Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas, das quais tenha


participado como autor ou não, implantadas em serviços ou instituições sem
concordância ou concessão do autor.

Art. 102 - Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer constar seu nome como
autor ou coautor em obra técnico-científica.

 3.1.8 CAPÍTULO IV DA PUBLICIDADE DIREITOS


Art. 103 - Utilizar-se de veículo de comunicação para conceder entrevistas ou
divulgar eventos e assuntos de sua competência, com finalidade educativa e de
interesse social.

Art. 104 - Anunciar a prestação de serviços para os quais está habilitado.

 RESPONSABILIDADES E DEVERES
Art. 105 - Resguardar os princípios da honestidade, veracidade e fidedignidade no
conteúdo e na forma publicitária.

Art. 106 - Zelar pelos preceitos éticos e legais da profissão nas diferentes formas
de divulgação.

 PROIBIÇÕES
Art. 107 - Divulgar informação inverídica sobre assunto de sua área profissional.

28
Art. 108 - Inserir imagens ou informações que possam identificar pessoas e
instituições sem sua prévia autorização.

Art. 109 - Anunciar título ou qualificação que não possa comprovar.

Art. 110 - Omitir em proveito próprio, referência a pessoas ou instituições.

Art. 111 - Anunciar a prestação de serviços gratuitos ou propor honorários que


caracterizem concorrência desleal.

 3.1.9 CAPÍTULO V DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES


Art. 112 - A caracterização das infrações éticas e disciplinares e a aplicação das
respectivas penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções
previstas em outros dispositivos legais.

Art. 113 - Considera-se infração ética a ação, omissão ou conivência que implique
em desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos
Profissionais de 14.

Art. 114 - Considera-se infração disciplinar a inobservância das normas dos


Conselhos Federal e Regional de Enfermagem.

Art. 115 - Responde pela infração quem a cometer ou concorrer para a sua prática,
ou dela obtiver benefício, quando cometida por outrem.

Art. 116 - A gravidade da infração é caracterizada por meio da análise dos fatos do
dano e de suas consequências.

Art. 117 - A infração é apurada em processo instaurado e conduzido nos termos


do Código de Processo Ético das Autarquias Profissionais de Enfermagem.

Art. 118 - As penalidades a serem impostas pelos Conselhos Federal e Regional


de Enfermagem, conforme o que determina o art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho
de 1973, são as seguintes:

I - Advertência verbal;

II – Multa;

III – Censura;

IV - Suspensão do exercício profissional;

V - Cassação do direito ao exercício profissional.

§ 1º - A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, de forma reservada,


que será registrada no prontuário do mesmo, na presença de duas testemunhas.

29
§ 2º - A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 (uma) a 10 (dez)
vezes o valor da anuidade da categoria profissional à qual pertence o infrator, em
vigor no ato do pagamento.

§3º - A censura consiste em repreensão que será divulgada nas publicações oficiais
dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande
circulação.

§ 4º - A suspensão consiste na proibição do exercício profissional da enfermagem


por um período não superior a 29 (vinte e nove) dias e será divulgada nas
publicações oficiais dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, jornais de
grande circulação e comunicada aos órgãos empregadores.

§ 5º - A cassação consiste na perda do direito ao exercício da enfermagem e será


divulgada nas publicações dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em
jornais de grande circulação.

Art.119 - As penalidades, referentes à advertência verbal, multa, censura e


suspensão do exercício profissional, são da alçada do Conselho Regional de
Enfermagem, serão registradas no prontuário do profissional de enfermagem; a
pena de cassação do direito ao exercício profissional é de competência do Conselho
Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art. 18, parágrafo primeiro, da Lei
n° 5.905/73.

Parágrafo único - Na situação em que o processo tiver origem no Conselho Federal


de Enfermagem, terá como instância superior a Assembleia dos Delegados
Regionais.

Art. 120 - Para a graduação da penalidade e respectiva imposição consideram-se:

I - A maior ou menor gravidade da infração;

II - As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração;

III - O dano causado e suas consequências;

IV - Os antecedentes do infrator.

Art. 121 - As infrações serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, segundo


a natureza do ato e a circunstância de cada caso.

§ 1º - São consideradas infrações leves as que ofendam a integridade física, mental


ou moral de qualquer pessoa, sem causar debilidade ou aquelas que venham a
difamar organizações da categoria ou instituições.

30
§ 2º - São consideradas infrações graves as que provoquem perigo de vida,
debilidade temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa ou as que
causem danos patrimoniais ou financeiros.

§ 3º - São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem morte,


deformidade permanente, perda ou inutilização de membro, sentido, função ou
ainda, dano moral irremediável em qualquer pessoa. Art. 122 - São consideradas
circunstâncias atenuantes:

I - Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea vontade e
com eficiência, evitar ou minorar as consequências do seu ato;

II - Ter bons antecedentes profissionais;

III - Realizar atos sob coação e/ou intimidação;

IV - Realizar ato sob emprego real de força física;

V - Ter confessado espontaneamente a autoria da infração.

Art. 123 - São consideradas circunstâncias agravantes:

I - Ser reincidente; II - Causar danos irreparáveis;

III - Cometer infração dolosamente;

IV - Cometer a infração por motivo fútil ou torpe;

V - Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de


outra infração; VI - Aproveitar-se da fragilidade da vítima;

VII - Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao


cargo ou função;

VIII - Ter maus antecedentes profissionais.

3.1.10 CAPÍTULO VI DA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES


Art. 124 - As penalidades previstas neste Código somente poderão ser aplicadas,
cumulativamente, quando houver infração a mais de um artigo.

Art. 125 - A pena de advertência verbal é aplicável nos casos de infrações ao que
está estabelecido nos artigos: 5º a 7º; 12 a 14; 16 a 24; 27; 30; 32; 34; 35; 38 a 40;
49 a 55; 57; 69 a 71; 74; 78; 82 a 85; 89 a 95; 98 a 102; 105; 106; 108 a 111 deste
Código.

Art. 126 - A pena de multa é aplicável nos casos de infrações ao que está
estabelecido nos artigos: 5º a 9º; 12; 13; 15; 16; 19; 24; 25; 26; 28 a 35; 38 a 43; 48

31
a 51; 53; 56 a 59; 72 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96; 97 a 102; 105; 107; 108; 110; e
111 deste Código.

Art. 127 - A pena de censura é aplicável nos casos de infrações ao que está
estabelecido nos artigos: 8º; 12; 13; 15; 16; 25; 30 a 35; 41 a 43; 48; 51; 54; 56 a
59; 71 a 80; 82; 84; 85; 90; 91; 94 a 102; 105; 107 a 111 deste Código.

Art. 128 - A pena de suspensão do exercício profissional é aplicável nos casos de


infrações ao que está estabelecido nos artigos: 8º; 9º; 12; 15; 16; 25; 26; 28; 29; 31;
33 a 35; 41 a 43; 48; 56; 58; 59; 72; 73; 75 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96 a 102; 105;
107 e 108 deste Código.

Art.129 - A pena de cassação do direito ao exercício profissional é aplicável nos


casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 9º; 12; 26; 28; 29; 78 e 79
deste Código.

 CAPITULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS


Art. 130 - Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Federal de
Enfermagem.

Art. 131- Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Enfermagem,
por iniciativa própria ou mediante proposta de Conselhos Regionais. Parágrafo
único - A alteração referida deve ser precedida de ampla discussão com a categoria,
coordenada pelos Conselhos Regionais.

Art. 132 - O presente Código entrará em vigor 90 dias após sua publicação,
revogadas as disposições em contrário. ( 08 Janeiro 2007)

4. O HOSPITAL COMO LOCUS DE EXPRESSÃO DA ÉTICA

32
O hospital tem sua origem em época muito anterior à era cristã. No ano 3000 a.C.
as práticas assistenciais eram realizadas em mercados por meio da exposição dos doentes
que ficavam esperando a interpelação de outros na tentativa de um diagnóstico. Em 1500
a.C. se iniciaram os processos de dissecção e notáveis verificações como dos nervos,
cérebro e medula. Nesta época os doentes não mais ficavam expostos em mercados e
eram encaminhados para um local denominado pelos egípcios de templos de Saturno
considerados como primórdios da escola médica. Tais templos caracterizavam os hospitais
egípcios. O elemento característico da arte médica nesta época foi mesmo a cirurgia, como,
entre os israelitas, a higiene (BRASIL, 1965). Em meados de 500 a.C. há um destaque da
medicina budista que tinha como característica a organização de hospitais como anexo de
mosteiros. Neste cenário o enfoque do tratamento baseavase nas plantas e medicamentos
naturais. Na Grécia, cerca de 50 a.C. Hipócrates revolucionou a medicina com a inserção
do método indutivo de inspeção e observação. Tal revolução desencadeou um sentimento
de proteção coletiva entre os homens que propiciou a sociedade da época, o interesse pela
saúde dos seus semelhantes, aumento da população e intensificação do trafego. Segundo
Brasil (1965) foi com Hipócrates que a medicina grega passou a tomar orientação científica
e ética. Com o advento do Cristianismo as práticas cirúrgicas foram consideradas um
sacrilégio ao corpo humano feito a imagem e semelhança de Deus. Portanto, todo e
qualquer tratamento focalizava os problemas da alma. Assim, Um concílio traçou as regras
para construção do hospital. O edifício devia ser colocado na vizinhança da catedral e dos
conventos. Cada sala teria um altar. As camas dos enfermos seriam dispostas segundo
uma posição capaz de permitir a observação dos ofícios divinos. Exigia-se uma grande
importância para a capela e reserva de espaço para enterramento dos benfeitores e
administradores da obra. Dispensários e enfermarias foram se multiplicando nos califados,
principalmente na idade média, período aterrorizado por grandes epidemias, durante as
quais, os lazaretos deveriam ser organizados e enviados para quarentenas (BRASIL, 1965).
O progresso da ciência foi, naturalmente, aperfeiçoando as casas de assistência. Na
renascença as organizações hospitalares foram, cada vez mais, adquirindo o caráter
municipal. Como conseqüência do movimento que a partir do século XIII começou a subtrair
as políticas sociais e conseqüentemente os hospitais da influência monástica medieval,
Henrique VIII ordenou que os hospitais católicos fossem secularizados ou destruídos
(BRASIL, 1965). Dessa maneira, os doentes foram lançados às ruas. Em Londres, a
população solicitou ao rei a entrega de um ou dois edifícios e suficiente auxílio financeiro,
para manutenção dos doentes. O rei, acendendo ao pedido, restaurou o hospital de São

33
Bartolomeu, entregando sua direção ao cirurgião Tomás Vicary, seu médico pessoal. No
século XVIII desde o início da Revolução francesa muito médicos partiram com o exercito,
como voluntários ou chamados, deixando a população vulnerável às ações de charlatães
que distribuíam remédios e comprometiam a existência de muitos milhares de cidadão
(FOUCAULT, 2001). Com a nacionalização dos bens, durante a guerra, a economia dos
hospitais foi confiscada rejeitando sem pudor aqueles doentes que não podia financiar sua
hospitalização. Segundo Foucault (2001) estava cada vez mais difícil à hospitalização de
doentes pobres. Como resultado da guerra, os hospitais se apresentavam lotados por
militares feridos, beneficiando os recursos hospitalares a ponto de em 1793 o Hotel-Dieu
despedir 200 doentes para dar lugar a militares enfermos pelos quais o exercito pagava a
internação. Até meados do século XVIII, o hospital se configurava como um lugar de
internamento que reunia indivíduos reconhecidos e nomeados como doentes, loucos,
criminosos, devassos e prostitutas e funcionava como uma espécie de instrumento de
exclusão, assistência e transformação espiritual na qual a função médico terapêutica pouco
aparecia (FOUCAULT, 1979). Segundo o autor, dois movimentos concomitantes e inter-
relacionados vão possibilitar a transformação dos hospitais em instituições médico -
terapêuticas: introdução de mecanismos de disciplinamento (do espaço, das relações e das
formas de organização) da instituição que foram demandadas por questões econômicas; o
preço atribuído ao indivíduo e à vida humana, bem como a necessidade de evitar epidemias
e sua propagação; e a transformação do saber e da prática médicas (FOUCAULT, 1979;
MEYER, 2006). Nesse contexto, o hospital passou a funcionar não só como uma instituição
de disciplinamento, controle e/ou cura de certos tipos de desordens reconhecidas e
nomeadas como patológicas, mas, também, como uma instância de acúmulo, registro,
produção e veiculação de um tipo específico de saber – a medicina clínica. Esse saber
clínico que emerge se exercita, se amplia em um espaço organizado e estruturado
orientado para a intervenção sobre o corpo doente individual e funcional. O hospital se
configura como um lócus disciplinar onde a produção de saber e intervenção sobre o corpo
e a doença dos indivíduos estão intrinsecamente ligadas (MEYER, 2006). A preocupação
com o cuidado dos doentes e proteção dos sãos aliado ao pensamento militar e
disciplinador que fundamentava as ações de saúde hospitalares, propiciou reformas nas
estruturas dessas instituições. A disposição de uma grande cubagem de ar foi adotada por
muitos hospitais, resultando em instituições em forma da letra C, formato este muito
utilizado em hospitais militares. Porém em 1900 os índices de contaminação demonstraram
que os pavilhões neste formato não reduziam o contagio hospitalar (BRASIL, 1965). Com

34
os avanços da arquitetura, novas regras para o modelo de construção hospitalar foram
ditadas em busca de espaços mais adequados para doentes, funcionários e administração.
Neste sentido, prevaleceu o modelo de construção vertical, em monobloco, o qual se
vislumbrava maior facilidade dos transportes e, portanto no movimento do hospital, tanto
do pessoal como do material e melhor disciplina interna e de vigilância. A instituição do
hospital como lócus para uma assistência médico sanitária completa, tanto curativa como
preventiva (OMS, 2000) só ocorreu após o ano 1900. Desde então a gama de serviços
oferecidos pelos hospitais torna a sua administração complexa e cara e a sua supervisão e
controle extremamente desafiadores. Em meados do século XIX, o desenvolvimento da
medicina, o uso de métodos assépticos e antissépticos que diminuíram drasticamente o
número de mortes por infecção, a introdução da anestesia, permitindo a realização de
cirurgias sem dor e com mais possibilidades de êxito, contribuíram muito para alterar a
imagem do hospital, que, consequentemente, deixou de ser um lugar aonde os pobres iam
para morrer, transformando-se em local onde os enfermos podiam curar-se. Como
resultado, os ricos passaram a, aconselhados por seus médicos, solicitar serviços
hospitalares. Consequentemente, os hospitais modificaram seu objetivo, e, por conseguinte,
sua clientela. Assim, passaram de abrigos a centros onde se dispensavam cuidados de
nível científico da medicina, em detrimento ao atendimento daqueles que dependiam da
caridade pública (MOSIMANN e LUSTOSA 2011). É na Idade Moderna que surge a
descentralização, a segregação de atividades complementares e a coexistência de pessoal
administrativo, médico e auxiliar dentro das instituições hospitalares. Na Idade
Contemporânea cresce a descentralização, aumenta a complexidade das estruturas
organizacionais e a diversidade de funções (MOSIMANN e LUSTOSA 2011). Os Hospitais
passam a fazer parte de uma organização médica e social cuja missão consiste em
proporcionar à população uma assistência médico-sanitária completa, tanto curativa como
preventiva e cujos serviços externos irradiam até o âmbito familiar. O hospital é considerado
também um centro de formação de pessoal da saúde e de investigação biológica e
psicossocial (OMS). Na contemporaneidade os serviços hospitalares envolvem alta
tecnologia e alto custo objetivando proporcionar à população o acesso a serviços
qualificados integrando-os aos demais níveis de atenção saúde. Diversos autores apontam
que no cenário atual o hospital incorpora em sua estruturação traços do modelo
organizacional e burocrático comuns às empresas congregando os princípios e noções da
eficácia, produtividade, competência, qualidade total, cliente, produto, desempenho e
excelência (MENDES, 2009; FORGIA e COUTTOLEN, 2009; BRITO, 2010; ANUNCIAÇÃO

35
e ZOBOLI, 2008). Para a manutenção dessa estrutura, as atividades desenvolvidas no
hospital dependem de um trabalho coletivo, realizado por diversos profissionais de saúde
e outros grupos de trabalhadores com desenvolvimento de competências diferenciadas,
novos requisitos de qualificação, novos perfis, comportamentos e habilidades. Embora o
atual contexto de transformações exija uma preocupação mais enfática sobre os processos
tecnológicos do hospital, uma pesquisa de opinião realizada por Louzada, Stang e Calabrez
(2008) revelou que as pessoas esperam de um atendimento hospitalar o respeito,
cordialidade, carinho, rapidez, preço baixo e competência profissional. Ou seja, razão de
ser dos hospitais se encontra nos espaços de intercessão entre trabalhador de saúde e
usuário que é o foco primordial da formação da cadeia de significados sociais que formam
a base das ações em saúde (GUEDES e CASTRO e CASTRO, 2009). Nesta direção
percebe-se que há preferência por aspectos que envolvem as relações humanas. As
relações humanas favorecem a confiança para o paciente deixar ser cuidado, representa a
vitalidade no sentido do ser humano existir por meio de relações (BOFF, 2009). Dessa
maneira, o hospital independente das pressões do setor econômico não pode deixar ocultos
seus valores humanísticos. As tecnologias e os dispositivos organizacionais, sobretudo
numa área como a da saúde, não funcionam sozinhos, sua eficácia é fortemente
influenciada pela qualidade do fator humano e do relacionamento que se estabelece entre
profissionais e usuários (BRASIL, 2001a). A eficiência técnicocientífica e a racionalidade
administrativa nos serviços de saúde, quando desacompanhadas de princípios e valores
como a solidariedade, o respeito e a ética na relação entre profissionais e usuários, não
são suficientes para a conquista da qualidade no atendimento à saúde. É imprescindível
colocar em primeiro plano na gestão do trabalho e no cuidado em saúde as pessoas com
seus diferentes interesses, desejos e necessidades. No cenário de práticas hospitalares a
dimensão humana é base de qualquer processo de intervenção na saúde. O hospital é,
pois, uma entidade ética vivente e deve atuar como agente moral consciente, explícito,
sensível, presente na sociedade com uma atitude de zelo pela saúde e bem-estar das
pessoas (ANUNCIAÇÃO e ZOBOLI, 2008). Quando se define o hospital como lócus de
expressão da ética implica dizer que as relações e ação de cada profissional prevêem uma
ética intrínseca e complementar a de seu colega, equipe e paciente o que implica,
logicamente, em responsabilidade ética compartida. Toda ação realizada no hospital tem
implicações e repercussão sobre o outro (profissional, paciente) demonstrando que a ética
se expressa nos processos pessoais, interpessoais e institucionais do hospital. É, portanto,
neste cenário que a ética se expressa ininterruptamente.

36
REFERÊNCIAS

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http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/etica-e-moral.htm Filosofia. Disponível em
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ÉTICA NO CUIDAR EM ENFERMAGEM Autor(es) SILVANA CAMPITELLI Orientador(es)
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