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Projeto desenvolvido pela Clínica de Direitos Humanos do Campus Zona Sul – UniRitter,
em parceria com o Núcleo de Defesa em Execução Penal
da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul.
1
Especialista em Direito Público. Mestrando de Direitos Humanos pela UniRitter com bolsa institucional.
E-mail: leandromateussouza@gmail.com.
2
Doutora em Ciências Criminais pela PUCRS, professora no curso de Graduação em Direito e no
Programa de Mestrado em Direitos Humanos – UniRitter, pesquisadora em gênero e teorias feministas. E-
mail: fernanda.ma@gmail.com
O projeto foi dividido em três etapas. A primeira etapa consistiu na formação
teórica do corpo discente sobre encarceramento em massa, encarceramento de mulheres,
Regras de Bangkok, Estado de Coisa Inconstitucional e do próprio HC Coletivo, objeto
central de análise. A segunda etapa versou sobre a pesquisa e análise dos acórdãos
proferidos desde 2018, cuja discussão estivesse vinculada à substituição da prisão
preventiva pela prisão domiciliar – metodologia realizada por pesquisa de
jurisprudência no site do TJ/RS através de palavras-chave pré-estabelecidas. Para tanto,
foram objetos de verificação as oito câmaras criminais do TJ/RS. Já a terceira etapa
consistiu na checagem dos dados apresentados pelo corpo discente e escrita final do
presente relatório.
3
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA; DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL. Levantamento
Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN Mulheres. 2ª edição. Brasília, 2018.
4
SIMÕES, Heloisa Vieira; BARTOLOMEU, Priscilla Conti; SÁ, Priscilla Placha. VALE QUANTO
PESA: o que leva(m) mulheres grávidas à prisão? Revista de Estudos Empíricos em Direito, vol. 4, n.
3, out 2017. p. 145-161; BOITEUX, Luciana; FERNANDES, Maíra. (Coord.) Mulheres e crianças
encarceradas: um estudo jurídico-social sobre a experiência da maternidade no sistema prisional
do Rio de Janeiro, 2015; DINIZ, Débora. Cadeia: relatos sobre mulheres. Rio de Janeiro: Civilização
brasileira, 2015; e QUEIROZ, Nana. Presos que menstruam. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
5
BORGES, Juliana. O que é encarceramento em massa? São Paulo: Letramento, 2017.
de mulheres exigiram certa intensidade de novas ações através de respostas estatais
operacionalizadas pelos poderes executivo, legislativo e judiciário.
Aponta-se também que “mais de um terço das mulheres presas grávidas relataram
o uso de algemas na internação para o parto, 83% têm pelo menos um filho, 55%
tiveram menos consultas de pré-natal que o recomendado, 32% não foram testadas para
sífilis e 4,6% das crianças nasceram com sífilis congênita.” Esses dados foram
apresentados a partir da análise realizada em uma série de casos provenientes de um
censo nacional em que “241 mães e 200 grávidas” foram ouvidas, diagnosticando que,
entre elas, 45% têm menos de 25 anos, 57% eram de cor parda, 53% com menos de oito
anos de estudo e 83% com mais de um filho8.
6
BRASIL. Lei nº 11.942, de 27 de maio de 2009. Disponível em: http://www.justica.gov.br/seus-
direitos/politica-penal/politicas-2/mulheres-1/anexos-projeto-mulheres/lei-no-11-942-2009.pdf
7
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2018.
8
FIOCRUZ. LEAL, Maria do Carmo; AYRES, Barbara Vasques da Silva; ESTEVES-PEREIRA, Ana
Paula; SÁNCHEZ, Alexandra Roma LAROUZÉ, Bernard. Nascer na prisão: gestação e parto atrás
das grades no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 21(7), 2016. p. 2061-2070.
9
QUEIROZ, Nana. Presos que menstruam. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. p. 76.
até 12 anos de idade e, mesmo homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do
filho de até 12 anos de idade incompletos10. Nesse sentido, a prisão preventiva de todas
as mulheres gestantes deveria ser convertida em prisão domiciliar, isso quando não
houver outras medidas que sejam mais favoráveis à acusada.
10
BRASIL. Lei nº 13.257/2016, 8 de março de 2016. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm
11
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Habeas Corpus nº 143.641/SP, 2018.
12
Endereço de busca do TJ/RS utilizado: https://www.tjrs.jus.br/novo/buscas-
solr/?aba=jurisprudencia&q=&conteudo_busca=ementa_completa.
qualitativa das decisões proferidas, dessa forma, gerando dados sobre o cumprimento do
HC coletivo pela corte gaúcha.
Analisando os dados brutos das decisões encontradas, temos como extrair ainda
resultados relacionados a concessão ou denegação, tipo de crime, tipo de processo, e
qualificação da requerente (mãe, gestante etc.) conforme gráficos abaixo:
42%
58%
Denegou Concedeu
Gráfico 1
13
Cabe registrar que há discrepância no número de acórdãos entre as câmaras em razão de suas
competências previstas no Regimento Interno do TJ/RS (art. 29). Assim, por exemplo, crimes que
envolvam entorpecentes (Lei nº 11.343/06) são de competência das três primeiras câmaras, as quais, por
consequência disso, possuem um número maior de decisões selecionadas, uma vez que se tratam de
crimes mais comuns, como veremos adiante nos gráficos.
14
Em uma filtragem mais detalhada acerca dos objetos das decisões, um acórdão da Quinta Câmara foi
excluído do resultado das buscas uma vez que se tratava de ação coletiva relacionada a um conjunto fático
que não está no escopo deste relatório. O acórdão excluído foi o de nº 0135356-30.2018.8.21.7000.
15
Em uma filtragem mais detalhada acerca dos objetos das decisões, três acórdãos da Sexta Câmara
foram excluídos dos resultados das buscas uma vez que se tratavam de habeas corpus coletivos
relacionados a um conjunto fático que não está no escopo deste relatório. Os acórdãos excluídos foram os
de nº 0117149-46.2019.8.21.7000, 0247190-04.2019.8.21.7000 e 0123837-24.2019.8.21.7000.
Tipo de crime
7%
6%
8%
17%
62%
Outros Crimes
Gráfico 2
Gráfico 2
Tipo processual
4% 1%
5%
90%
Gráfico 3
Qualificação da requerente
1%
1%
2% 2%
94%
Gráfico 4
A seguir, na fase qualitativa deste relatório se fará uma análise mais detida sobre
os argumentos utilizados pelos desembargadores para conceder ou denegar a aplicação
do HC nº143.641/SP.
II.2 – ANÁLISE QUALITATIVA DOS ACÓRDÃOS
Para melhor divisão e análise dos casos, optou-se por apresentar as avaliações
seguindo o critério da quantidade de acórdãos encontrados em cada câmara criminal.
Assim, serão analisadas individualmente a primeira, segunda, terceira e quinta câmaras
(todas com mais de 20 acórdãos cada) e em conjunto a quarta, sexta, sétima e oitava
câmaras (com poucos acórdãos cada uma).
31%
69%
Denegou Concedeu
Gráfico 5
Tipo de crime - 1ª Câmara Criminal TJ/RS
2%
20%
78%
Gráfico 6
No que diz respeito aos acórdãos cujos crimes de fundo sejam relacionados à lei
de drogas (nº 11.343/06), que totalizam 78% do total deste colegiado (35 decisões), há
pontos que merecem reflexão acerca da efetivação do HC coletivo em solo gaúcho.
Inicialmente, cumpre observar os dados abaixo:
Percentual de DENEGAÇÕES ou concessões de prisão
domiciliar em casos que envolvam crimes da Lei de Drogas -
1ª Câmara Criminal TJ/RS
43%
57%
Denegou Concedeu
Gráfico 7
5% 5%
5%
5%
40%
40%
Gráfico 8
Expressões indicativas de violência nas ementas das decisões
DENEGATÓRIAS em casos que envolvam crimes da Lei de Drogas -
1ª Câmara Criminal TJ/RS
Gráfico 9 – Observação: a expressão “violência” foi encontrada em algumas occorências, todavia, todas
relacionadas a menções a trechos da decisão do STF.
45%
55%
Gráfico 10
Inicialmente, os dados do gráfico nº 07 indicam um percentual maior de
indeferimentos dos pedidos de concessão de prisão domiciliar em situações em que o
tráfico de drogas está como elemento fundante da prisão (20 indeferimentos contra 15
deferimentos).
Contudo, o que mais chama a atenção são os fundamentos centrais para as não
concessões das benesses às mães encarceradas provisoriamente por crimes de
entorpecentes. Conforme os dados do gráfico nº 08, 90% dos acórdãos analisados
tiveram como argumento central “associação para o tráfico/periculosidade/ordem
pública/reincidência”, “traficância na residência”, “instrução deficiente do pedido (falta
de documentos)” ou “infante sob cuidados do genitor/parentes”. Ao se analisar com
mais detalhamento referidas decisões (18 acórdãos), observa-se que em nenhuma delas
há menção, por exemplo, a confecção de laudo social ou credibilidade dada a palavra da
mãe guardiã para ponderação do caso e, por conseguinte, tomada de decisão. Tais
medidas são expressamente consignadas no corpo da decisão do STF como formas de
aferir as peculiaridades do caso concreto:
16
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus Coletivo 143.641/SP. Relator: Min. Ricardo
Lewandowski. Brasília, DF, 20 de fevereiro de 2018. Diário Oficial da União. Brasília, 01 mar. 2018.
Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5183497. Acesso em: 08 jul.
2022.
17
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Informe sobre o Cumprimento das ordens concedidas nos
Habeas Corpus nº 143.641/SP e Habeas Corpus nº 165.704/DF e o estado de coisas inconstitucional.
Brasília, junho de 2021. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2021/06/Relato%CC%81rio-HCs-e-o-Estado-de-Coisas-Inconstitucional-DMF.pdf.
Acesso em 28/03/2022.
Ementa: TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA
SUBSTITUÍDA POR PRISÃO DOMICILIAR. RISCO CONCRETO À
ORDEM PÚBLICA. Cuidando-se o tráfico de drogas de crime grave, a
repercussão social dele decorrente, quer no âmbito da saúde pública,
quer na esfera da criminalidade – potencializada pelo uso e pelo
comércio de substâncias entorpecentes – está a evidenciar concreto risco
à ordem pública a tornar necessária a prisão preventiva e obstar a
aplicação das medidas cautelares a que alude o art. 319 do Código de
Processo Penal. A alteração legislativa aventada, com o acréscimo, pelo
Estatuto da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) do inciso V ao artigo 318
do Código de Processo Penal, contemplando a possibilidade da concessão de
prisão domiciliar à mulher com filho de até 12 anos de idade incompletos,
não tem a consequência de, diante da existência de prole até tal idade, ser
obrigatória a adoção de tal providência. Não fosse assim e teria o legislador
tornado imperativo o deferimento do benefício, o que não fez. Por isso que,
não vindo aos autos dado algum que evidencie ser necessária a colocação da
recorrida em prisão domiciliar, não se está diante de hipótese que autorize a
providência lá contemplada. Decisão proferida no bojo do HC coletivo n.
143641/SP que, emanada de órgão fracionário da Suprema Corte, não
dotada de efeito vinculante, ressalva situações “excepcionalíssimas” como a
presente, em que a recorrida foi presa em flagrante, juntamente com o corréu,
na posse de vultosa quantidade de drogas diversas (oitenta e quatro porções
de maconha, com peso aproximado de 456,7 gramas, e sessenta e duas pedras
de crack, pesando aproximadamente 806 gramas), esta de especial
nocividade, além de numerário e balança de precisão, quando abordada, à
noite, na via pública, em zona onde corrente a mercancia; mais, há fortes
indícios de que a recorrida e o corréu pertencem à facção criminosa “Os
Manos”, atuante nesse Estado. Intento jurisprudencial em colocar pessoas
do sexo feminino em prisão domiciliar que se amolda a pretensões
político-criminais outras que não o melhor interesse da criança e do
adolescente. Condições pessoais favoráveis não têm o condão de,
isoladamente, afastarem a prisão cautelar, com o que o fato de ser a
recorrida primária em nada obsta sua segregação cautelar. RECURSO
PROVIDO, POR MAIORIA. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA.
(Recurso em Sentido Estrito, Nº 70079520433, Primeira Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Honório Gonçalves da Silva Neto,
Julgado em: 14-11-2018). Grifo nosso.
47%
53%
Denegou Concedeu
Gráfico 9
90%
Gráfico 10
No que diz respeito aos acórdãos cujos crimes de fundo sejam relacionados à lei
de drogas (nº 11.343/06), que totalizam 90% do total deste colegiado (36 decisões), há
pontos que merecem reflexão acerca da efetivação do HC coletivo em solo gaúcho.
Inicialmente, cumpre observar os dados abaixo:
Percentual de DENEGAÇÕES ou concessões de prisão
domiciliar em casos que envolvam crimes da Lei de Drogas - 2ª
Câmara Criminal TJ/RS
44%
56%
Denegou Concedeu
Gráfico 11
6% 13%
6%
31%
44%
Gráfico 12
Expressões indicativas de violência nas ementas das decisões
DENEGATÓRIAS em casos que envolvam crimes da Lei de Drogas -
2ª Câmara Criminal TJ/RS
1
Expressões "violência" ou "agressão" ou "homicídio"
Gráfico 15 – Observação: a expressão “violência” foi encontrada em algumas occorências, todavia, todas
relacionadas a menções a trechos da decisão do STF ou citações gerais, nada relacionado ao contexto fático.
6%
94%
Gráfico 13
Diferentemente da Primeira Câmara Criminal, os dados do gráfico nº 13 indicam
um percentual maior de deferimentos dos pedidos de concessão de prisão domiciliar em
situações em que o tráfico de drogas está como elemento fundante da prisão (16
indeferimentos contra 20 deferimentos).
Em relação aos processos que deferiram a prisão domiciliar (20), em todos eles
um dos fundamentos principais foi de que as pacientes não se enquadravam nas
exceções que, em tese, impediriam a concessão da prisão domiciliar. Nesse aspecto,
apesar de louváveis as concessões, cabe registrar que algumas das exceções citadas nas
decisões não se coadunam perfeitamente com os pressupostos fixados no HC nº
143.641. Por exemplo, há indicação que um dos requisitos para concessão seria a não
traficância na residência ou a comprovação da indispensabilidade da genitora –
condições que, com a devida vênia, não constam de forma expressa no writ coletivo.
Nesse sentido, citamos ementas que podem ser tomadas como exemplo de
decisões médias/padrões que deferiram o benefício da prisão domiciliar proferidas pela
segunda câmara criminal:
Todavia, o que mais chama a atenção são os fundamentos centrais para as não
concessões das benesses às mães encarceradas provisoriamente por crimes de
entorpecentes. Conforme os dados do gráfico nº 14, todos os acórdãos analisados
tiveram como argumento central “associação para o tráfico/periculosidade/ordem
pública/reincidência”, “traficância na residência”, “infante sob cuidados do
genitor/parentes”, “instrução deficiente do pedido” ou “imprescindibilidade da genitora
não comprovada”. Ao se analisar com mais detalhamento referidas decisões, observa-se
que em nenhuma delas há menção, por exemplo, a confecção de laudo social ou
credibilidade dada a palavra da mãe guardiã para ponderação do caso e, por
conseguinte, tomada de decisão. Tais medidas são expressamente consignadas no corpo
da decisão do STF como formas de aferir as peculiaridades dos casos concretos –
conforme já citamos anteriormente trecho da decisão do Pretório Excelso.
30%
70%
Denegou Concedeu
Gráfico 17
30%
70%
Gráfico 18
Na análise de pleitos que envolviam crimes de violência contra pessoa (homicídio
qualificado ou simples) 50% (quatro julgados) das decisões foram pela concessão da
prisão domiciliar, em tendência diferente do já apresentado nas câmaras criminais
anteriores. Dentre os fundamentos encontrados, destacamos a preocupação do colegiado
com situações de infantes que demandam cuidados especiais:
No que diz respeito aos acórdãos cujos crimes de fundo sejam relacionados à lei
de drogas (nº 11.343/06), que totalizam 70% do total deste colegiado (19 decisões), há
pontos que merecem reflexão acerca da efetivação do HC coletivo em solo gaúcho.
Inicialmente, cumpre observar os dados abaixo:
16%
84%
Denegou Concedeu
Gráfico 19
33%
67%
Gráfico 20
Expressões indicativas de violência nas ementas das decisões
DENEGATÓRIAS em casos que envolvam crimes da Lei de Drogas -
3ª Câmara Criminal TJ/RS
0
Expressões "violência" ou "agressão" ou "homicídio"
Gráfico 21
33%
67%
Gráfico 22
Diferentemente das primeiras duas câmaras criminais, os dados do gráfico nº 19
indicam um percentual maior de deferimentos dos pedidos de concessão de prisão
domiciliar em situações em que o tráfico de drogas está como elemento fundante da
prisão (16 deferimentos contra três indeferimentos).
O voto de divergência da decisão acima traz um outro olhar possível para o caso,
em perfeita sintonia com o comando do writ do STF:
25%
75%
Denegou Concedeu
Gráfico 23
15%
30%
5%
45%
A partir desse recorte, depreende-se que a Quinta Câmara Criminal do TJ/RS vem
observando a aplicação das exceções mencionadas nas tipificações penais que envolvem
crimes mediante violência ou grave ameaça. No que diz respeito ao caso julgado
indeferido por reincidência da paciente, a ementa aponta para existência de considerável
ficha de antecedentes e condenações já transitadas em julgado. Todavia, inexiste
qualquer menção a laudo social na decisão para esclarecer a real condição dos infantes e
a necessidade da presença de sua genitora. Vejamos:
No que diz respeito aos acórdãos cujos crimes de fundo sejam furto (em todos os
tipos), que totalizam sozinhos 45% do total deste colegiado (nove decisões), há pontos
que merecem reflexão acerca da efetivação do HC coletivo em solo gaúcho.
44%
56%
Denegou Concedeu
Gráfico 25
25%
75%
Gráfico 26
Expressões indicativas de violência nas ementas das 4 decisões
DENEGATÓRIAS em casos que envolvam crime da furto - 5ª Câmara
Criminal TJ/RS
Gráfico 27
Em relação aos processos que deferiram a prisão domiciliar (cinco), em todos eles
um dos fundamentos principais foi de que as pacientes não cometeram crimes com
violência ou grave ameaça. Além isso, a presunção da necessidade da mãe para os
infantes também apareceu em algumas decisões. Nesse sentido, citamos ementas que
podem ser tomadas como exemplo de decisões médias/padrões que deferiram o
benefício pela Quinta Câmara Criminal:
Inicialmente serão apresentados gráficos que traçam um perfil das decisões dos
referidos colegiados:
Denegou ou concedeu prisão domiciliar? - 4ª,
6ª, 7ª e 8ª Câmara Criminal TJ/RS
17%
83%
Denegou Concedeu
Gráfico 28
25%
42%
8%
8%
17%
Roubo (todos)
Latrocínio
Estupro de vulnerável
Coação no curso do processo
Crimes contra o sistema nacional de armas
Gráfico 29
Inicialmente, cumpre observar que os crimes da lei de drogas (Lei nº 11.343/06)
não apareceram nas pesquisas destes colegiados em razão das competências
estabelecidas pelo Regimento Interno do TJ/RS (art. 29), o qual atribui somente às três
primeiras câmaras criminais a competência para julgar referidos crimes.
20%
20% 60%
Gráfico 30
Em apenas dois casos (ambos da Quarta Câmara Criminal), nos quais os crimes
praticados foram contra o sistema de armas nacional, há argumentos mais genéricos
para as denegações (Periculosidade/Garantia da ordem pública/Reincidência):
Assim, numa análise global dos julgados dos colegiados em questão, mesmo com
um alto índice de indeferimentos, há uma tendência em seguir os pressupostos do HC nº
143.641/SP, especialmente para aplicação das exceções de concessão da prisão
domiciliar para crimes violentos ou contra descendentes. A competência regimental
imputa aos colegiados julgamentos de crimes mais violentos (extorsão, roubo majorado,
estupro de vulnerável, latrocínio etc.), ou seja, qualquer análise do conjunto de decisões
deve levar isso em consideração, sob pena de distorção quando comparado a outros
colegiados do TJ/RS.
43%
57%
Denegou Concedeu
Fundamentos centrais mais comuns para as DENEGAÇÕES em
casos que envolvam crimes da Lei de Drogas - Compilado das oito
câmaras criminais do TJ/RS
8% 2%
3%
8%
5% 36%
38%
Até mesmo em situações cujo crime seja de furto – em regra sem prática de
violência ou grave ameaça – tem-se observado que há dificuldade no deferimento da
medida de prisão domiciliar, conforme exposto nos dados da Quinta Câmara Criminal,
na qual 44% dos casos deste tipo foram indeferidos sob fundamentos bastantes
genéricos (reincidência e imprescindibilidade da genitora não comprovada).
Por fim, cumpre destacar questão que demanda maior estudo e pesquisa, qual seja:
a incidência do uso de tornozeleiras eletrônicas para os casos de mães beneficiadas com
a prisão domiciliar pelo HC coletivo. Referido ponto está ausente no presente relatório
por dificuldades encontradas no levantamento dos dados, todavia, é um importante fator
que merece atenção em futuras pesquisas sobre o tema.
IV. REFERÊNCIAS
18
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2021.
BRASIL. Lei nº 13.257/2016, 8 de março de 2016. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm
DINIZ, Débora. Cadeia: relatos sobre mulheres. Rio de Janeiro: Civilização brasileira,
2015.
QUEIROZ, Nana. Presos que menstruam. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
SIMÕES, Heloisa Vieira; BARTOLOMEU, Priscilla Conti; SÁ, Priscilla Placha. VALE
QUANTO PESA: o que leva(m) mulheres grávidas à prisão? Revista de Estudos
Empíricos em Direito, vol. 4, n. 3, out 2017. p. 145-161.
Turno Matutino
Alexandre Pinto Monteiro Karen Elizabeth de Araujo
Amanda Pereira Campos Lauro Varella Neto
Andria Gesir Coffy Nitschke Leonardo Barcos Teles Alves
Camila de Araujo Pinto Nicole Roldao Franco
Caroline Barbieri Helm Ranah Julia Antunes Cardoso
Diocler Antonio Goncalves Stefani Saballa dos Santos
Fernanda Kestering Serqueira Thuany Noal Inacio
Jaderson Pinheiro Nunes
Turno Noturno
Adela Maria Gasparetto Matheus Alves Schanes
Amanda Cristina Sangalli Sobral Matheus de Paula Campos
Caroline Flores La Falce Matheus Villar Bopp
Claudinei da Costa Pereira Mirian Weinheimer
Daiana Luz dos Santos Nataly Flores Medeiros
Daiane da Silveira Carvalho Nathalia Fernanda Silva Ribeiro
Eduardo Sartori Insaurriaga Pamela de Campos Bandeira
Eurico de Oliveira Santos Pamella Rigoli
Flavia Cellyanne Martinez da Silva Raquel Oliveira Moreira
Guilherme Acosta Ferreira da Silva Rogerio da Rocha Silva
Helena Panzenhagen de Almeida Stefani Oliveira Ferreira
Isadora Bragati Castiglioni Carrabba Vanessa Alves Guimaraes Ramos
Jeffrey Medeiros e Silva Vanessa Vieira de Lemos
Jonathan Rodrigues da Luz Guimaraes Vinicius Foss de Siqueira
Ketelin Eduarda Oliveira Duarte Vinicius Klein Silva
Leonardo Talavites Rodrigues Vitoria Nascimento Cardoso
Leticia Kaiane de Paula Klipel Vitoria Souza da Rosa
Lissara Fernandes Santos Wanderson Mariano Rosa De Barros
Liz Fermino Cademartori Ilha Willian da Costa da Silva
Louise Borges Bitencourt Couto Yuri Estigarribia Loss