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10.29327/254681.2.1-4
RESUMO
A violência vista online contra a mulher é uma extensão da violência que a mulher sofre todos os dias na
sociedade (Nogueira, 2019). A violência no contexto virtual conta com pouca produção de dados. Nos
últimos anos vem ocorrendo um aumento de ataques através de grupos conservadores, proferindo discurso
de ódio em redes sociais, ataques a blogs e a perfis individuais, tendo como foco os assuntos de raça,
gênero e sexualidade (Coding Rights Internetlab, 2017). Há pouco tempo atrás, surgiu um movimento
chamado incel trata-se de uma comunidade online onde se discutem as dificuldades da procura e sucesso
nas relações sexuais (O’Malley, Holt & Holt, 2020). Esse movimento não existia como um grupo organizado
antes do surgimento das redes sociais (Young, 2019). Visto essa problemática e essa demanda para
pesquisas, o presente artigo busca mensurar o nível de naturalização na sociedade atual do uso de
discursos preconceituosos incels. Trata-se de uma pesquisa de campo de natureza quantitativa e
exploratória. Realizado via internet com indivíduos do sexo masculino entre 18 a 35 anos aplicando um
questionário criado pelas autoras a fim de investigar a naturalização do discurso incel. Esta pesquisa
apresentou algumas limitações, tais como a quantidade de dados coletados, o que trouxe limitações para
corroborar a hipótese levantada. Afirmações claras de violência tiveram uma porcentagem alta de
discordância, porém quando a violência era velada a porcentagem diminuía e os resultados se dividiam. Em
consonância com os resultados obtidos fica o levantamento de novas hipóteses para futuras pesquisas na
área.
Palavras-chave: Incels, redes de ódio e violência contra mulher.
ABSTRACT
The violence against women seen online is an extension of the violence that women suffer every day in
society (Nogueira, 2019). Violence in the virtual context has little data production. In recent years, there has
been an increase in attacks by conservative groups, uttering hate speech on social networks, attacks on
blogs and individual profiles, focusing on issues of race, gender and sexuality (Coding Rights Internetlab,
2017). Not long ago, a movement called incel emerged. It is an online community where the difficulties of
seeking and achieving sexual relationships are discussed (O'Malley, Holt, Holt, 2020). This movement did
not exist as an organized group before the emergence of social networks (Young, 2019). Given this issue
and this demand for research, this article seeks to measure the level of naturalization in today's society of
the use of prejudiced discourses incels. It is a field research of a quantitative and exploratory nature. Carried
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out via the internet with male individuals aged between 18 and 35 years old, applying a questionnaire
created by the authors in order to investigate the naturalization of the incel speech. This research had some
limitations, such as the amount of data collected, which brought limitations to corroborate the raised
hypothesis. Clear statements of violence had a high percentage of disagreement, but when violence was
veiled, the percentage decreased and the results were divided. In line with the results obtained, new
hypotheses are raised for future research in the area.
keywords: Incels, hate networks and violence against women.
1 INTRODUÇÃO 49
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desta pesquisa, juntamente com a misoginia os recordistas de crescimento em 2020,
segundo dados da Safernet (2020) o crescimento de denúncias foi de 1.639,54%.
O discurso de ódio sempre existiu na sociedade, normalmente ofensas
direcionadas aos grupos considerados minoritários na sociedade. Entre eles, estão as
mulheres. Esta violência está ligada diretamente pelas práticas do machismo estrutural na
sociedade que se faz presente até os dias atuais (Bertagnolli, et al., 2020). Assim como a
maneira de se relacionar com as pessoas e com o mundo vem mudando de uma maneira
rápida e moderna com esse avanço tecnológico, mas também abre um novo lugar para a
ocorrência de diversas violência contra as mulheres, sendo um local fácil e rápido para a
propagação de informações (Nogueira, 2019). 51
Embora hoje tenhamos leis que criminalizam esses atos na internet, como a Lei
12.965 de 2014, conhecida como marco civil da internet, estipula princípios, garantias,
direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Conhecida como Lei Carolina
Dieckmann, 12.737/2012 criminaliza a invasão de qualquer dispositivo informático
(hacking). Por fim podemos citar a Lei Lola, 13.642/2018 que concede a Polícia Federal a
possibilidade de investigar os crimes cometidos online que propagam conteúdo misógino.
Ainda existe uma lacuna na legislação para punir efetivamente as infrações
ocorridas no âmbito online, isso gera uma sensação de impunidade e humilhação para as
vítimas, tornando mais difícil lidar com os acontecimentos. Sua intimidade é
completamente exposta a seus familiares, amigos e sociedade e as consequências são
direcionadas apenas para a vítima e muitas vezes o desfecho da situação é o suicídio
(Nogueira, 2019).
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podem inserir comentários em textos e imagens e encontram-se publicações agressivas,
racistas, pornografia (Garcia, 2012). Esses fóruns contam com publicações extremamente
ofensivas, os usuários criam seu próprio jargão dentro desses fóruns que contribuem para
a criação da subcultura online (Baele, Brace & Coan, 2021). O Dogolachan, considerado
o maior fórum de extrema direita brasileiro, é recheado de publicações homofóbicas,
misóginas dentre outras. Em 2012 ocorreu a primeira prisão de seus fundadores em uma
operação da polícia federal de intolerância, sendo Marcelo Valle Silveira Mello a primeira
pessoa a ser condenada por discurso de ódio na internet no Brasil (Santos, 2019).
Um estudo realizado com estudantes em duas escolas de Massachusetts traz os
resultados que 57% dos alunos encontraram mensagens de ódio nas redes sociais ou em 52
sites enquanto 12% relatam ter encontrado alguém online que tentou convencê-los de
opiniões racistas (Harriman et al., 2020). Outro estudo realizado na Alemanha mostrou
que 53,7% observaram pelo menos um incidente de ódio online, 11,3% relataram ter
cometido pelo menos um incidente de ódio online e 16,9% relataram ter sido vítimas pelo
menos uma vez de ódio online (Wachs & Wright 2018).
Esse tipo de discurso provoca prejuízos à saúde, à segurança e ao bem-estar e em
ampla escala cria condições hostis às atividades sociais e econômicas da população.
Provoca e incita diversas condutas discriminatórias, racistas e preconceituosas,
promovendo atitudes de violência moral que geram danos à saúde psicológica como
rebaixamento da autoestima. (Varalli & Santos, 2016).
Esta pesquisa tem o foco em grupos de ódio contra as mulheres, neste âmbito
existe a manosfera que é conhecida como um apanhado de grupos online ligados por
interesses em comum, os direitos masculinos e antifeminismo (O’Malley et al., 2020). A
manosfera pode ser considerada uma coleção de sites fundamentado em ideologias de
supremacia masculina, sendo impulsionada pelo medo e raiva da perda de status (Young,
2019). Os assuntos discutidos pelos grupos na manosfera vão de dificuldades com
mulheres, pornografia de vingança, direitos dos homens, direitos dos pais até incentivo de
violência contra as mulheres (O’Malley et al., 2020). Inclui uma grande variedade de
grupos e todos eles dividem a crença de que os valores femininos prevalecem na
sociedade e os homens devem proteger sua existência (Marwick & Caplan, 2018).
O termo incel significa "celibato involuntário" e foi criado em 1993 por uma
estudante - Alana - que, em seu site, descreveu incel como "qualquer pessoa de qualquer
gênero que fosse solitária, nunca tivesse feito sexo ou que não tivesse tido um
relacionamento há muito tempo” (Taylor, 2018). É um grupo online onde se discutem as
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dificuldades da busca e sucesso nas relações sexuais (O’Malley et al., 2020). Com a
reputação relacionada a situações de violência e misoginia, incels são pessoas com
pouco sucesso em ter relações sexuais ou românticas, apesar de quererem. Eles sentem
que essa intimidade sexual é algo de direito deles e negado pelas mulheres. Dentro do
modelo social criado por essa comunidade, as mulheres apenas se relacionam com os
homens mais atraentes que estão disponíveis, levando a uma desigualdade sexual onde
somente os homens dominantes têm sucesso. Como consequência isso gera um
ressentimento e ódio pelas mulheres, que se estende também aos homens ativos
sexualmente. Frequentemente sugerem que os corpos femininos deveriam ser recursos
públicos de livre acesso e direito (Witt, 2020). 53
Segundo Young (2019) Eles se baseiam no conceito de “hipergamia” onde
acreditam que a mulher tem uma inclinação natural para a troca de parceiros sexuais.
“Stacy” ou “Becky” são como as mulheres são chamadas dentro da comunidade. Sendo
classificadas como mulheres estereotipadas, que conseguem tudo devido a sua
aparência. Refletindo como os incels as vêem como objetos de desejo e desprezo que
não podem ter. O correspondente para os homens é o Chad, sendo o estereótipo de
desejo para as Stacys.
Este grupo se enquadra dentro da manosfera, onde as manifestações têm sido
associadas a promessas de crimes violentos que emergem para o mundo real através de
indivíduos membros dessas comunidades (Farrell, Fernandez, Novotny, Alani, 2019).
Como pode-se citar o caso de Roger Elliot, considerado o criador dos incels, onde deixou
6 mortos, incluindo ele mesmo, e 14 feridos. Esse foi o primeiro assassinado em massa a
estar conectado a um fórum online. Rodger deixou um manifesto autobiográfico intitulado
de My Twisted World: The Story of Elliot Rodger. Para os incels ele serve como um
exemplo de comportamento e de como praticar a violência de gênero (Witt, 2020).
No Brasil, temos Dolores Aronovich Aguero como vítima dos fóruns anônimos.
Criadora do blog “Escreva, Lola, Escreva”, essa blogueira feminista começou a receber
diversos ataques de ódio através das redes sociais, blog e afins de integrantes de grupos
misóginos. Lola chegou a prestar onze boletins de ocorrência e mesmo assim não houve
movimentação da polícia e os ataques continuaram até que saíram do virtual. A polícia
começou a investigar o caso, quando o reitor da universidade onde a mesma trabalhava
recebeu uma ameaça de massacre caso não demitisse Lola. Por fim o líder do “chan” que
a perseguia foi condenado e o caso resultou na criação da Lei 13.642/2018, a Lei Lola
(Escobar, 2019).
Na praça de alimentação de um shopping no Rio de Janeiro, uma jovem foi morta
esfaqueada em 02 de junho de 2021. Vitórya Melissa Mota de 22 anos e Matheus dos
Santos da Silva de 21 anos eram colegas na turma do curso técnico de enfermagem,
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amigos da vítima relataram à polícia que o “autor nutria um amor não correspondido,
revelado recentemente após ele se declarar” (Folha de São Paulo, 2021).
Esses grupos criam seu próprio dialeto, integrando ainda mais seus usuários.
Dessa maneira, as mulheres são chamadas de “foids” ou “femoids” para sugerir que não
são completamente humanas; “pílula vermelha” que é uma analogia ao filme Matrix
(Young, 2019 & O’Malley et al., 2020).
Segundo O’Malley et al (2020) as mídias sociais têm sido muito importantes para o
crescimento da comunidade incel. Em uma análise realizada por esses autores a
comunidade incel é constituída em torno de um conjunto de cinco práticas principais,
sendo elas: mercado sexual feminino, mulheres como más naturalmente, legitimação da 54
masculinidade, opressão masculina e legitimação da violência e vingança. Para os
membros dessas comunidades, de acordo com a seleção natural as mulheres têm
privilégios no mercado sexual e com extrema predominância feminina, por exemplo uma
das postagens diz “é uma programação social, mulheres gostam de caras bonitos".
Os usuários desses fóruns pedem pela abolição dos direitos femininos,
reconsiderando até o direito de voto e tornando a mulher propriedade de seu marido.
Criando uma extrema desumanização das mulheres, retratam as mulheres como
superficiais, imorais, promíscuas e as culpam de seu isolamento (Jaki et al., 2019).
Grande maioria dos tópicos de conversas são relacionados na construção da imagem da
mulher como manipuladoras, desonestas, narcisistas e vilãs. Declaram que “Mulheres
não merecem o direito de votar, elas não pensam logicamente ou podem ter conclusões,
tudo o que fazem é por causa de algum chad” e justificam as relações de gênero
desiguais devido à dinâmica de poder na atração sexual a fim de reconhecer as normas
masculinas na sociedade. Buscam normalizar a agressão masculina e a sexualização das
femininas (O’Malley et al., 2020).
5 MÉTODO
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Local: Internet. Participantes: Indivíduos do sexo masculino entre 18 a 35 anos.
Instrumentos: Com o intuito de investigar a naturalização do discurso incel, foi criado um
questionário pelas autoras. Questionário de Percepção Sobre a Mulher: Questionário
contendo vinte questões separadas em três secções. Sendo 1) Secção Dados
Sociodemográficos: com quatro perguntas relacionadas a dados sociodemográfico dos
participantes; 2) Secção Percepção sobre as Mulheres: Dez assertivas relacionadas a
percepção dos participantes em relação às mulheres, contendo assim uma escala Likert
iniciando em “Discordo Totalmente, Discordo, Concordo e Concordo Totalmente”. Essas
assertivas foram criadas a partir dos artigos O’Malley et al., (2020), Jaki et al., (2019) e
Ging (2019); 3) Secção de esclarecimento: são seis perguntas relacionadas a subcultura 55
dos incels, assim como um esclarecimento minucioso explicando o motivo do engodo ter
sido necessário.
Procedimento: após o aceite do comitê de ética (CAAE: 46088721.4.0000.5218) foi
disponibilizado nas redes sociais Facebook e Instagram no mês de maio o link do Google
Docs com a pesquisa para que os usuários dentre a faixa etária estabelecida
respondessem. Em um primeiro momento foi informado que a pesquisa se trata da
percepção dos participantes sobre as mulheres, não informando o objetivo real da
pesquisa, esse engodo foi necessário para preservar a integridade científica da pesquisa
assim como proporcionar maior fidedignidade das respostas. Na seção 3 foi explicado
todos os objetivos reais da pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para que os usuários pudessem decidir se ainda queriam participar ou não, estando
cientes da possibilidade de desistirem da pesquisa a qualquer momento (ressaltando o
anonimato das respostas). O responsável pela pesquisa se colocou à disposição aos
participantes para qualquer explicação em relação à pesquisa e também por eventuais
motivos que se sentissem de alguma maneira abalados após a participação da pesquisa,
garantindo total apoio a fim de auxiliar no quadro existente durante o período que se
fizesse necessário.
Após a coleta de dados, os resultados foram analisados, interpretados e
relacionados com as informações obtidas na pesquisa bibliográfica utilizando artigos entre
os anos de 2016 a 2021, a fim de explorar os resultados obtidos com a naturalização da
violência contra a mulher. Permitindo assim uma melhor visualização do contexto
abordado.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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desconsideradas respostas por não estarem dentro dos critérios de inclusão; 75 por
serem do sexo feminino, 7 serem menores de 18 anos. Três foram excluídos da amostra,
pois apresentaram respostas que não condizem com a verdade: ter 18-20 anos e terem
terminado o doutorado. Total de 65 participantes.
Na seção dados sociodemográficos dos participantes foram questionados sobre
idade, escolaridade e estado de origem. Obtivemos 32,33% das respostas de indivíduos
com o ensino superior incompleto e 29,2% do ensino médio completo. Sobre a faixa etária
tivemos 53,8% respostas dentro dos 21-30 anos e 33,8% de 18-20 anos, tendo uma
média de idade de 27,5. Recebemos respostas de 8 estados diferentes, sendo a grande
maioria de São Paulo 21,5% e Paraná 36,9%. 56
Tabela 1 – Respostas
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As mulheres usam da sensualidade
16.9% 44.6% 38.5% 0%
para manipular o sexo oposto.
57
Os incels vê a falta de acesso ao corpo das mulheres como uma negação do
direito básico, sendo que para eles “as mulheres sempre dão sexo aos homens”
(Tranchese & Sugiura, 2021).
Das respostas obtidas 1,5% concordam totalmente e 13,8% concordam com essa
assertiva. O conceito de uma ‘Stacy’ é uma maneira que incels conceituam a colocação
das mulheres na hierarquia de gênero. Stacy não usa masculinidade para dominar incels,
mas ela os desvaloriza ao restringir seu acesso sexual (Jones, 2020).
DeKeseredy & Corsianos (2016) apontam que é comum entre os indivíduos do
sexo masculino uma grande expectativa de se envolver em uma grande quantidade de
relações sexuais, principalmente na época da faculdade algo que é incentivado por seus
pares. Dizimam o ódio para com as mulheres por não lhes permitir acesso sexual ou por
lhes proporcionar companhia (Myketiak, 2016).
Os resultados nos mostram que a grande maioria discorda desta afirmação, mas
3,1% concordam totalmente e 9,2% concordam. De acordo com Incel Wiki (2021) essa
comunidade online tem uma hierarquia social baseada na aparência e riqueza, estando
os incels na base e no topo os Chads e Stacies. Essa é uma ideia que não foi criada com
os incels em 2017 a Veja publicou um texto com o título: “Por que algumas mulheres
preferem os cafajestes?”. Segundo Ging (2017) a manosfera é um campo limitado à
interpretação superficial e reciclagem de teorias para apoiar um catálogo recorrente de
afirmações: que as mulheres são irracionais, hipergamia, programado para parear com
machos alfa e precisa ser dominado. Incels desenvolveram muitas explicações inter-
relacionadas de porque as condições sociais o tornam impossível para eles atrair um
parceiro romântico (Nagle, 2016; Jaki et a.l, 2018).
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Isso pode ser conceituado como um misógino dentro do grupo amplamente aceito
femmefobia, em que a construção particular de gênero realizada por incels afirma um
universal o não cumprimento por parte das mulheres das condições da feminilidade
heteropatriarcal (Hoskin, 2017; 2019).
Questão 3: Várias das minhas mágoas e tristezas da vida foram causadas por
mulheres que passaram pela minha vida.
A maioria dos ideais dessa comunidade ecoa de Elliot Rodger, que afirma que
suas expectativas não são atendidas, alguns homens sentem decepção, frustração e/ou 58
raiva e em alguns casos acabam se envolvendo em comportamentos violentos
(DeKeseredy & Corsianos, 2016). A maioria da amostra discorda da afirmação (86,2%),
porém 1,5% concordam totalmente e 12,3% concordam, sabendo que incels são homens
que já se sentem desvalorizados, são vulneráveis a sofrer de depressão e culpabilizam
por sua desvalorização as mulheres e a sociedade (Jones, 2020).
Os incels costumam descrever as mulheres e Stacys como más e convenientes
(Maxwell, Robinson, Williams & Keaton, 2020). O mal feminino é visto como uma
combinação da evolução, biologia e cultura, seguindo esse raciocínio uma postagem fala
“o que torna a maldade feminina tão natural... biologia e cultura... a combinação biológica
já é horrível sozinha e com a cultura de poder, as mulheres são corrompidas essa é a
razão pela qual a maioria dos líderes são homens” (O’Malley et al., 2020). A vida de um
solteiro incel está associada a níveis elevados de ansiedade, insônia, depressão e solidão
romântica quando comparada a vida do solteiro voluntário (Adamczyk, 2017). A grande
maioria desse grupo acha as mulheres manipuladoras e tóxicas para os homens,
comentam que a maldade feminina contra os homens é apoiada pela sociedade de uma
maneira que permite que elas saiam impunes de todo o mal causado a eles (Maxwell et
al., 2020). Os membros da comunidade incel vivem sob a lógica de que são
ridicularizados pelos outros, principalmente pelas mulheres ou homens alfas (Menzie
2020).
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seriam organizadas em torno de heterossexuais e acoplamentos monogâmicos
(Zimmerman, Ryan & Duriesmith, 2018). Esses homens acreditam que a sociedade os
prejudicou, negando-lhes o acesso ao sexo, ou que o feminismo arruinou suas chances
de encontrar uma mulher (Reichert, 2020), assim como culpam as mulheres e o
feminismo pela perda de seu poder masculino (Jones, 2020).
Fundamentalmente os incels odeiam feministas, para eles o feminismo está
diretamente ligado com a liberdade sexual. Sendo essa a razão pela qual as mulheres
são livres para ter escolhas sobre seus parceiros sexuais, também seu desejo de
controlá-las é frustrado devido a essa liberdade por isso eles desejam o retorno dos
valores tradicionais para exercerem controle sobre as mulheres pelas quais se sentem no 59
direito (Tranchese & Sugiura, 2021). Os defensores dos direitos dos homens expressam
suas queixas com a esfera jurídica e, em última análise, culpar o feminismo e a
discriminação dos homens por sua castração (Rafail & Freitas 2019).
Segundo Fagundes e Dinarte (2017) a sociedade, de certa forma ainda machista,
tem dificuldades em acompanhar e aceitar a ascensão feminina, que tende a ocupar os
mesmos espaços que outrora eram ocupados apenas por homens, seja no meio
profissional, social, etc. Ocorre que, por mais visíveis que sejam as mudanças, a
sociedade ainda é influenciada pelo modelo patriarcal de organização social.
Questão 5: Quando se nasce homem, você precisa ser diferente, forte, bem-
sucedido e até bonito. Quando se nasce mulher, você não precisa ser nada, só bonita que
farão tudo por você.
O livro de Jack Donovan, "The Way of Men", é uma abordagem interessante sobre
o que significa exatamente ser um homem e como alguém pode se tornar o homem mais
viril. Suas crenças estão centradas em torno dos homens tentando aperfeiçoar as quatro
virtudes que eles devem ter, força, coragem, maestria e honra. Dentre os participantes
desta pesquisa 12,3% concordam com essa afirmação enquanto 87,7% discordam.
Segundo Maxwell et al (2020) encontrou diversas publicações incels onde dizem que as
mulheres somente se interessam por homens que tenham recursos materiais. Um
comentário diz: “ela irá abrir as pernas e pegar em troca seus recursos materiais… até
que comece a ter dor de cabeça todas as noites.”
Os incels argumentam que as mulheres que escolhem homens mais desejáveis
são as culpadas por sua posição social. Levando esse conceito para o mundo do namoro,
argumentam que as mulheres tratam mal os incels devido a sua aparência (Jones, 2020).
Segundo a mesma autora, alguns incels descrevem que a biologia e a genética são as
culpadas por sua posição sobre a hierarquia social. Nesta posição, os indivíduos com
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baixo desenvolvimento físico também lidam com problemas emocionais, como baixa
autoestima ou depressão, que é exacerbada pela aparência.
Questão 7: A sociedade gira em torno das mulheres (elas têm mais regalias,
direitos e proteção), elas nunca sofreram tanto quanto um homem.
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Homens que se relacionam com mulheres são chamados de "machos beta" e
alegam ser subserviente às mulheres. Algumas histórias notaram que os incels são
especificamente antifeminista, tornando-se "venenoso com a palavra feminista". Os
resultados desta pesquisa apontaram que somente 7,7% da amostra concorda, sendo
4,6% concorda e 3,1% da amostra concorda.
A preferência por jovens vem acompanhada por uma aversão a mulheres mais 61
velhas, normalmente definidas como na faixa de 20 anos ou mais, pois são menos férteis.
Essas normas e distorções dos incels são criadas com base em uma evolução biológica,
onde defendem que a idade de consentimento é uma construção social irracional, outra
forma pela qual as mulheres os oprimem (O’Malley et al., 2020). Esse grupo afirma que
mulheres idosas são inferiores às mulheres jovens, glorificando o amor jovem. Os
participantes dos fóruns incels encorajam e justificam a violência contra as mulheres.
“Mulheres foram construídas como alvos, merecedoras de retribuição por meio de
violência física e/ou sexual” (O’Malley et al., 2020).
A misoginia desse grupo é um ato de fala com efeito persuasivo a fim de silenciar
as mulheres, policiar seu comportamento e por fim prejudicá-las (Tranchese & Sugiura,
2021). Em relação aos participantes da pesquisa, 16,3% concordam com essa assertiva
apresentada, enquanto 83,1% discordam.
Questão 9: Mulheres são classificadas pela sua aparência, pois além disso elas
não têm mais nada para oferecer.
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valor da atratividade física, um conceito genético, consequentemente imutável, sendo
fundamental para o alcance de um relacionamento romântico (O’Malley et al., 2020).
Questão 10: As mulheres usam da sensualidade para manipular o sexo oposto.
Dentro da crença dos incels, as mulheres têm controle exclusivo do mercado
sexual e negam o acesso para aqueles que consideram indignos (Menzie 2020). As
mulheres são colocadas em uma posição de guardiãs do sexo e de felicidade para os
incels, no oposto eles têm a imagem de vítimas, sempre procurando por sexo e brigando
com outros homens para ter acesso as mulheres indisponíveis a eles (Tranchese &
Sugiura, 2021).
Em relação a esta assertiva apresentada para os participantes desta pesquisa 62
38,5% concordam enquanto 61,5% discordam. Dentro da estrutura desse grupo, as
mulheres são coagidas evolutivamente a manipular os homens para obter recursos
importantes para sua sobrevivência. As mulheres são consideradas menos evoluídas do
que os homens nos impulsos animais para a reprodução e segurança (O’Malley et al.,
2020). A criação dessa subcultura com normas adotadas pelos incels para justificar a
visão das mulheres como merecedoras de qualquer tipo de violência que experienciam.
Nessa perspectiva, tanto os hábitos formais e informais, reforçam os principais valores e
crenças relacionados à injustiça do mercado sexual, ao mal natural feminino, a
legitimidade e opressão masculina (O’Malley et al., 2020). Sendo assim, condenam a
promiscuidade das mulheres, como eles as consideram, é abominável à ideia de ter uma
parceira sexual que já teve uma quantidade maior de outros parceiros sexuais (Tranchese
& Sugiura, 2021).
A pesquisa contava com uma terceira seção de perguntas, estas relacionadas ao
conhecimento em relação aos incels. Dentro os resultados obtidos que serão rapidamente
demonstrados, somente 56,90% da amostra sabiam o que incels significa. Em relação a
perguntas específicas sobre as gírias, chans e Elliot Rodgers, a amostra mostrou
desconhecimento somando no máximo 33,80% de acerto nas perguntas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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indivíduos que fazem uso da internet são as pessoas da nossa sociedade. Essa era
revelou a essência do ser humano (Nogueira, 2019).
Os grupos incels se formaram e cresceram em espaços online, tendo uma maior
expansão de comunidades durante os anos 2000, com a principal característica de uma
postura antifeminista (O’Malley et al., 2020). O presente artigo buscou investigar a
naturalização do discurso do grupo de ódio incel na sociedade atual. Sendo esse um
grupo de ódio contra as mulheres, que participam de comportamentos de cyberbullying e
assediam mulheres online (Young, 2019).
O questionário criado aborda questões a respeito das atitudes, crenças e
experiências pessoais, e contém questões consideradas preconceituosas em relação às 63
mulheres. O instrumento utilizado pode oferecer aos participantes uma oportunidade de
autoconhecimento sobre o seu comportamento em relação às mulheres. Assim como
proporcionar uma maior consciência sobre discursos violentos que são naturalizados na
sociedade e a possibilidade de refletir sobre seus próprios comportamentos em relação às
mulheres, podendo ajudá-los a identificar em si discursos violentos e naturalizados e nas
pessoas em sua volta.
Esta pesquisa apresentou algumas limitações, tais como os dados coletados, a
amostra pequena de 65 indivíduos que cumpriam os critérios de inclusão, o que trouxe
limitações para corroborar a hipótese da naturalização do discurso incel. Além disso, o
recorte etário feito dos 21 aos 30 foi muito longo, abordando duas gerações diferentes.
Com os resultados adquiridos podemos levantar novas hipóteses, como a maioria das
perguntas do questionário eram diretas, não dando margem para outras respostas.
Afirmações claras de violência tiveram uma porcentagem alta de discordância, porém
quando a violência era velada à porcentagem diminuía e ficava dividido os resultados.
Estima-se que os participantes não saibam identificar a violência velada e seus prejuízos
sociais.
A violência vista online contra a mulher é uma extensão da violência que a mulher
sofre todos os dias na sociedade (Nogueira, 2019). Levando em consideração o papel da
Psicologia nessa área, ela atua nos dois lados, seja ela vítima ou agressor, pode ser
desenvolvido Políticas Públicas para a proteção das mulheres online e ensinar maneiras
de identificação e como se defender desses ataques. Também se pode trabalhar com o
agressor, com treino de habilidades sociais, terapia, diversas queixas desses grupos são
relacionadas à aparência e uma visão distorcida da sociedade. Segundo Coding Rights
Internetlab (2017) a violência no contexto virtual conta com pouca produção de dados.
Acreditar que essa violência começa e termina no âmbito digital é banalizar a gravidade,
pois as reações vão da autocensura até ao suicídio. Em consonância com os resultados
obtidos fica o levantamento de novas hipóteses para futuras pesquisas na área.
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