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RIBPSI - Revista Iberoamericana de Psicologia, Curitiba, PR, Brasil, v. 02, n. 01, p.

48-68, 2021 - ISSN 2763-7883

10.29327/254681.2.1-4

“A culpa é toda delas”: analisando a naturalização do discurso


dos celibatários involuntários (incels) no Brasil
48
“The guilt is all of them”: analyzing the naturalization of the speech of
involuntary bachelors (incels) in Brazil

Bruna Letycia Ribeiro Andrade1I


I. Centro Universitário Autônomo do Brasil - UniBrasil, Curitiba, PR,
Brasil.

RESUMO

A violência vista online contra a mulher é uma extensão da violência que a mulher sofre todos os dias na
sociedade (Nogueira, 2019). A violência no contexto virtual conta com pouca produção de dados. Nos
últimos anos vem ocorrendo um aumento de ataques através de grupos conservadores, proferindo discurso
de ódio em redes sociais, ataques a blogs e a perfis individuais, tendo como foco os assuntos de raça,
gênero e sexualidade (Coding Rights Internetlab, 2017). Há pouco tempo atrás, surgiu um movimento
chamado incel trata-se de uma comunidade online onde se discutem as dificuldades da procura e sucesso
nas relações sexuais (O’Malley, Holt & Holt, 2020). Esse movimento não existia como um grupo organizado
antes do surgimento das redes sociais (Young, 2019). Visto essa problemática e essa demanda para
pesquisas, o presente artigo busca mensurar o nível de naturalização na sociedade atual do uso de
discursos preconceituosos incels. Trata-se de uma pesquisa de campo de natureza quantitativa e
exploratória. Realizado via internet com indivíduos do sexo masculino entre 18 a 35 anos aplicando um
questionário criado pelas autoras a fim de investigar a naturalização do discurso incel. Esta pesquisa
apresentou algumas limitações, tais como a quantidade de dados coletados, o que trouxe limitações para
corroborar a hipótese levantada. Afirmações claras de violência tiveram uma porcentagem alta de
discordância, porém quando a violência era velada a porcentagem diminuía e os resultados se dividiam. Em
consonância com os resultados obtidos fica o levantamento de novas hipóteses para futuras pesquisas na
área.
Palavras-chave: Incels, redes de ódio e violência contra mulher.

ABSTRACT

The violence against women seen online is an extension of the violence that women suffer every day in
society (Nogueira, 2019). Violence in the virtual context has little data production. In recent years, there has
been an increase in attacks by conservative groups, uttering hate speech on social networks, attacks on
blogs and individual profiles, focusing on issues of race, gender and sexuality (Coding Rights Internetlab,
2017). Not long ago, a movement called incel emerged. It is an online community where the difficulties of
seeking and achieving sexual relationships are discussed (O'Malley, Holt, Holt, 2020). This movement did
not exist as an organized group before the emergence of social networks (Young, 2019). Given this issue
and this demand for research, this article seeks to measure the level of naturalization in today's society of
the use of prejudiced discourses incels. It is a field research of a quantitative and exploratory nature. Carried

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out via the internet with male individuals aged between 18 and 35 years old, applying a questionnaire
created by the authors in order to investigate the naturalization of the incel speech. This research had some
limitations, such as the amount of data collected, which brought limitations to corroborate the raised
hypothesis. Clear statements of violence had a high percentage of disagreement, but when violence was
veiled, the percentage decreased and the results were divided. In line with the results obtained, new
hypotheses are raised for future research in the area.
keywords: Incels, hate networks and violence against women.

1 INTRODUÇÃO 49

No Brasil no ano de 2020, cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) sofreram


violência física, psicológica ou sexual no último ano, ou seja, 1 em cada 4 mulheres acima
de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência no ano de 2020. O tipo de violência
mais frequentemente relatado foi à ofensa verbal, como insultos e xingamentos. Cerca de
13 milhões de brasileiras (18,6%) sofreram este tipo de violência. (Datafolha, 2020) A
violência não é algo necessariamente consumado de forma física, podendo também se
manifestar por meio do discurso de ódio essa violência está presente nas plataformas
digitais como, redes sociais, e-mails, aplicativos e jogos eletrônicos. A ONU (2019) define
discurso de ódio: Qualquer tipo de comunicação por discurso, texto ou comportamento
que ataque ou use linguagem pejorativa ou discriminatória referente a uma pessoa ou
grupo baseado em quem eles são ou, em outras palavras, baseado na sua religião, etnia,
nacionalidade, raça, cor, descendência, gênero ou outro fator identitário. Em 15 anos, a
SaferNet Brasil em sua Central de Denúncias recebeu e processou 37.488 denúncias
anônimas de Violência ou Discriminação contra Mulheres envolvendo 13.404 páginas
(URLs) distintas. Somente em 2020 os dados da Ong mostram que as denúncias de
violência e discriminação contra mulheres dentro do ambiente virtual cresceram 21,27%
em abril de 2020, em relação ao mesmo período de 2019, com 667 registros. (Safernet,
2020).
Para a disseminação de ataques e violência os agressores muitas vezes se
organizam em grupos. No caso da violência contra as mulheres, há pouco tempo atrás,
surgiu um grupo chamado incels, uma abreviação do termo celibatário involuntário, uma
comunidade online onde se discutem as dificuldades da procura e sucesso nas relações
sexuais (O’Malley, Holt & Holt, 2020). Esse movimento não existia como um grupo
organizado antes do surgimento das redes sociais (Young, 2019). De acordo com a
análise linguística realizada sobre o discurso incel demonstra que discurso de ódio deles
é direcionado a mulheres. Onde 30% dos tópicos são misóginos, 15% racistas e 3%
homofóbicos. O estudo afirma que cerca de 5% de todas as mensagens contêm uma ou
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mais das palavras agressivas listadas, por exemplo o título de um dos fóruns é “peguei
essa cadela gorda passando para a esquerda no tinder” (Jaki et al., 2019).
O que torna essa violência mais grave é que o discurso de ódio online anda de
mãos dadas com o discurso de ódio off-line (Miller, 2019). Como o exemplo do assassino
em massa Elliot Rodger, considerado um herói incel, matou seis pessoas em Isla Vista,
Califórnia, em 2014, gravou vídeos no Youtube repleto de ofensas contra mulheres e
deixando um manifesto misógino de 140 páginas. Esta violência está ligada diretamente
pelas práticas do machismo estrutural na sociedade que se faz presente até os dias
atuais (Bertagnolli, Silva, Taschetto & Torman, 2020).
Ainda há uma carência de pesquisas tendo em mente as crenças ideológicas dos 50
incels ou a maneira como expressam seus sentimentos online. Sendo necessário ampliar
a compreensão desse fenômeno e suas semelhanças com outros grupos extremistas, a
fim de identificar estratégias para diminuir a violência perpetuada pelos mesmos (O’Malley
et al., 2020). Em consonância com o fato de ser um movimento recente, as pesquisas
acadêmicas sobre eles ainda são mínimas (Young, 2019). O discurso intolerante e
preconceituoso contra a mulher na internet é um fato que requer muita atenção por parte
de todos. As mensagens de cunho machistas somente reforçam que precisamos
percorrer um longo caminho para conquistar a igualdade de gênero (Martins, 2019).
Vista a forte relação entre o discurso incel e machismo estrutural, o presente artigo
buscou investigar a naturalização do discurso desse grupo de ódio na sociedade atual,
com o intuito de entender mais profundamente como esses grupos se organizam e
funcionam para desenvolvimento de estratégias de prevenção, mitigação e intervenção.

2 VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NA INTERNET

Atualmente no Brasil estima-se que 122 milhões de pessoas estão conectadas e


com acesso à internet, desses usuários da internet, as mulheres representam 53%,
enquanto os homens 47% (PGB, 2019). As mulheres não são somente maioria na
internet, mas o 2º grupo que mais sofre com discurso de ódio na Internet, nos últimos
anos foram registradas 4,2 milhões de denúncias anônimas que reportam discurso de
ódio na internet. Desse total, 37 mil denúncias são relacionadas a postagens que incitam
preconceito e violência contra mulheres. (Safernet, 2021).
É proposto uma tipologia de violência de gênero online dividido nas seguintes
categorias: censura, ofensas, discurso de ódio, ameaça de violência física, stalking,
exposição de dados pessoais, utilização não consentida de fotos, exposição de
intimidade, sextorsão, roubo de identidade, invasão/ ataques à segurança de sistemas e
ataque coordenado (Coding Rights & Internetlab, 2017). Sendo o discurso de ódio, foco

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desta pesquisa, juntamente com a misoginia os recordistas de crescimento em 2020,
segundo dados da Safernet (2020) o crescimento de denúncias foi de 1.639,54%.
O discurso de ódio sempre existiu na sociedade, normalmente ofensas
direcionadas aos grupos considerados minoritários na sociedade. Entre eles, estão as
mulheres. Esta violência está ligada diretamente pelas práticas do machismo estrutural na
sociedade que se faz presente até os dias atuais (Bertagnolli, et al., 2020). Assim como a
maneira de se relacionar com as pessoas e com o mundo vem mudando de uma maneira
rápida e moderna com esse avanço tecnológico, mas também abre um novo lugar para a
ocorrência de diversas violência contra as mulheres, sendo um local fácil e rápido para a
propagação de informações (Nogueira, 2019). 51
Embora hoje tenhamos leis que criminalizam esses atos na internet, como a Lei
12.965 de 2014, conhecida como marco civil da internet, estipula princípios, garantias,
direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Conhecida como Lei Carolina
Dieckmann, 12.737/2012 criminaliza a invasão de qualquer dispositivo informático
(hacking). Por fim podemos citar a Lei Lola, 13.642/2018 que concede a Polícia Federal a
possibilidade de investigar os crimes cometidos online que propagam conteúdo misógino.
Ainda existe uma lacuna na legislação para punir efetivamente as infrações
ocorridas no âmbito online, isso gera uma sensação de impunidade e humilhação para as
vítimas, tornando mais difícil lidar com os acontecimentos. Sua intimidade é
completamente exposta a seus familiares, amigos e sociedade e as consequências são
direcionadas apenas para a vítima e muitas vezes o desfecho da situação é o suicídio
(Nogueira, 2019).

3 GRUPOS DE ÓDIOS NA INTERNET

A internet facilita a transmissão do discurso de ódio, conectando rapidamente um


grande número de pessoas que concordam com os mesmos ideais, fortalecendo assim o
grupo (Varalli & Santos, 2016). Além do anonimato, a capacidade de se esconder,
questões temporais e textuais, falta de contato pessoal e a repercussão que acontece no
mundo online são fatores instigantes que não existem no mundo off-line (Wachs & Wright
2018).
Os fóruns de discussão online, popularmente conhecidos como "chans", têm o
grande atrativo do anonimato proporcionado pela criação de contas sem precisar inserir
informações reais e pessoais. Esse fato dificulta as investigações relacionadas às
publicações dos usuários. Esses tipos de fóruns já foram alvos de investigações
relacionadas a discurso de ódio, ataques online, ciberterrorismo e até assassinatos (Valle-
Nunes, 2021). É dividido em vários tópicos que são publicados pelos usuários, onde se

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podem inserir comentários em textos e imagens e encontram-se publicações agressivas,
racistas, pornografia (Garcia, 2012). Esses fóruns contam com publicações extremamente
ofensivas, os usuários criam seu próprio jargão dentro desses fóruns que contribuem para
a criação da subcultura online (Baele, Brace & Coan, 2021). O Dogolachan, considerado
o maior fórum de extrema direita brasileiro, é recheado de publicações homofóbicas,
misóginas dentre outras. Em 2012 ocorreu a primeira prisão de seus fundadores em uma
operação da polícia federal de intolerância, sendo Marcelo Valle Silveira Mello a primeira
pessoa a ser condenada por discurso de ódio na internet no Brasil (Santos, 2019).
Um estudo realizado com estudantes em duas escolas de Massachusetts traz os
resultados que 57% dos alunos encontraram mensagens de ódio nas redes sociais ou em 52
sites enquanto 12% relatam ter encontrado alguém online que tentou convencê-los de
opiniões racistas (Harriman et al., 2020). Outro estudo realizado na Alemanha mostrou
que 53,7% observaram pelo menos um incidente de ódio online, 11,3% relataram ter
cometido pelo menos um incidente de ódio online e 16,9% relataram ter sido vítimas pelo
menos uma vez de ódio online (Wachs & Wright 2018).
Esse tipo de discurso provoca prejuízos à saúde, à segurança e ao bem-estar e em
ampla escala cria condições hostis às atividades sociais e econômicas da população.
Provoca e incita diversas condutas discriminatórias, racistas e preconceituosas,
promovendo atitudes de violência moral que geram danos à saúde psicológica como
rebaixamento da autoestima. (Varalli & Santos, 2016).
Esta pesquisa tem o foco em grupos de ódio contra as mulheres, neste âmbito
existe a manosfera que é conhecida como um apanhado de grupos online ligados por
interesses em comum, os direitos masculinos e antifeminismo (O’Malley et al., 2020). A
manosfera pode ser considerada uma coleção de sites fundamentado em ideologias de
supremacia masculina, sendo impulsionada pelo medo e raiva da perda de status (Young,
2019). Os assuntos discutidos pelos grupos na manosfera vão de dificuldades com
mulheres, pornografia de vingança, direitos dos homens, direitos dos pais até incentivo de
violência contra as mulheres (O’Malley et al., 2020). Inclui uma grande variedade de
grupos e todos eles dividem a crença de que os valores femininos prevalecem na
sociedade e os homens devem proteger sua existência (Marwick & Caplan, 2018).

4 CELIBATÁRIOS INVOLUNTÁRIOS – INCELS

O termo incel significa "celibato involuntário" e foi criado em 1993 por uma
estudante - Alana - que, em seu site, descreveu incel como "qualquer pessoa de qualquer
gênero que fosse solitária, nunca tivesse feito sexo ou que não tivesse tido um
relacionamento há muito tempo” (Taylor, 2018). É um grupo online onde se discutem as

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dificuldades da busca e sucesso nas relações sexuais (O’Malley et al., 2020). Com a
reputação relacionada a situações de violência e misoginia, incels são pessoas com
pouco sucesso em ter relações sexuais ou românticas, apesar de quererem. Eles sentem
que essa intimidade sexual é algo de direito deles e negado pelas mulheres. Dentro do
modelo social criado por essa comunidade, as mulheres apenas se relacionam com os
homens mais atraentes que estão disponíveis, levando a uma desigualdade sexual onde
somente os homens dominantes têm sucesso. Como consequência isso gera um
ressentimento e ódio pelas mulheres, que se estende também aos homens ativos
sexualmente. Frequentemente sugerem que os corpos femininos deveriam ser recursos
públicos de livre acesso e direito (Witt, 2020). 53
Segundo Young (2019) Eles se baseiam no conceito de “hipergamia” onde
acreditam que a mulher tem uma inclinação natural para a troca de parceiros sexuais.
“Stacy” ou “Becky” são como as mulheres são chamadas dentro da comunidade. Sendo
classificadas como mulheres estereotipadas, que conseguem tudo devido a sua
aparência. Refletindo como os incels as vêem como objetos de desejo e desprezo que
não podem ter. O correspondente para os homens é o Chad, sendo o estereótipo de
desejo para as Stacys.
Este grupo se enquadra dentro da manosfera, onde as manifestações têm sido
associadas a promessas de crimes violentos que emergem para o mundo real através de
indivíduos membros dessas comunidades (Farrell, Fernandez, Novotny, Alani, 2019).
Como pode-se citar o caso de Roger Elliot, considerado o criador dos incels, onde deixou
6 mortos, incluindo ele mesmo, e 14 feridos. Esse foi o primeiro assassinado em massa a
estar conectado a um fórum online. Rodger deixou um manifesto autobiográfico intitulado
de My Twisted World: The Story of Elliot Rodger. Para os incels ele serve como um
exemplo de comportamento e de como praticar a violência de gênero (Witt, 2020).
No Brasil, temos Dolores Aronovich Aguero como vítima dos fóruns anônimos.
Criadora do blog “Escreva, Lola, Escreva”, essa blogueira feminista começou a receber
diversos ataques de ódio através das redes sociais, blog e afins de integrantes de grupos
misóginos. Lola chegou a prestar onze boletins de ocorrência e mesmo assim não houve
movimentação da polícia e os ataques continuaram até que saíram do virtual. A polícia
começou a investigar o caso, quando o reitor da universidade onde a mesma trabalhava
recebeu uma ameaça de massacre caso não demitisse Lola. Por fim o líder do “chan” que
a perseguia foi condenado e o caso resultou na criação da Lei 13.642/2018, a Lei Lola
(Escobar, 2019).
Na praça de alimentação de um shopping no Rio de Janeiro, uma jovem foi morta
esfaqueada em 02 de junho de 2021. Vitórya Melissa Mota de 22 anos e Matheus dos
Santos da Silva de 21 anos eram colegas na turma do curso técnico de enfermagem,

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amigos da vítima relataram à polícia que o “autor nutria um amor não correspondido,
revelado recentemente após ele se declarar” (Folha de São Paulo, 2021).
Esses grupos criam seu próprio dialeto, integrando ainda mais seus usuários.
Dessa maneira, as mulheres são chamadas de “foids” ou “femoids” para sugerir que não
são completamente humanas; “pílula vermelha” que é uma analogia ao filme Matrix
(Young, 2019 & O’Malley et al., 2020).
Segundo O’Malley et al (2020) as mídias sociais têm sido muito importantes para o
crescimento da comunidade incel. Em uma análise realizada por esses autores a
comunidade incel é constituída em torno de um conjunto de cinco práticas principais,
sendo elas: mercado sexual feminino, mulheres como más naturalmente, legitimação da 54
masculinidade, opressão masculina e legitimação da violência e vingança. Para os
membros dessas comunidades, de acordo com a seleção natural as mulheres têm
privilégios no mercado sexual e com extrema predominância feminina, por exemplo uma
das postagens diz “é uma programação social, mulheres gostam de caras bonitos".
Os usuários desses fóruns pedem pela abolição dos direitos femininos,
reconsiderando até o direito de voto e tornando a mulher propriedade de seu marido.
Criando uma extrema desumanização das mulheres, retratam as mulheres como
superficiais, imorais, promíscuas e as culpam de seu isolamento (Jaki et al., 2019).
Grande maioria dos tópicos de conversas são relacionados na construção da imagem da
mulher como manipuladoras, desonestas, narcisistas e vilãs. Declaram que “Mulheres
não merecem o direito de votar, elas não pensam logicamente ou podem ter conclusões,
tudo o que fazem é por causa de algum chad” e justificam as relações de gênero
desiguais devido à dinâmica de poder na atração sexual a fim de reconhecer as normas
masculinas na sociedade. Buscam normalizar a agressão masculina e a sexualização das
femininas (O’Malley et al., 2020).

5 MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa de campo de natureza qualitativa e exploratória. Os


dados obtidos por meio dos testes serão organizados em gráficos e corroborados com
artigos selecionados nas bases de dados Scielo e Google Scholar, com os descritores
"incels'‘, discurso de ódio, hate speech, celibatários involuntários, sendo considerados os
artigos produzidos entre os anos de 2016 e 2021. Foram excluídos demais materiais que
não são artigos científicos, como vídeo aulas, folhetos e gibis, assim como os
participantes que não atendessem os critérios de inclusão, sendo eles, ser menor de 18
anos e não do sexo masculino.

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Local: Internet. Participantes: Indivíduos do sexo masculino entre 18 a 35 anos.
Instrumentos: Com o intuito de investigar a naturalização do discurso incel, foi criado um
questionário pelas autoras. Questionário de Percepção Sobre a Mulher: Questionário
contendo vinte questões separadas em três secções. Sendo 1) Secção Dados
Sociodemográficos: com quatro perguntas relacionadas a dados sociodemográfico dos
participantes; 2) Secção Percepção sobre as Mulheres: Dez assertivas relacionadas a
percepção dos participantes em relação às mulheres, contendo assim uma escala Likert
iniciando em “Discordo Totalmente, Discordo, Concordo e Concordo Totalmente”. Essas
assertivas foram criadas a partir dos artigos O’Malley et al., (2020), Jaki et al., (2019) e
Ging (2019); 3) Secção de esclarecimento: são seis perguntas relacionadas a subcultura 55
dos incels, assim como um esclarecimento minucioso explicando o motivo do engodo ter
sido necessário.
Procedimento: após o aceite do comitê de ética (CAAE: 46088721.4.0000.5218) foi
disponibilizado nas redes sociais Facebook e Instagram no mês de maio o link do Google
Docs com a pesquisa para que os usuários dentre a faixa etária estabelecida
respondessem. Em um primeiro momento foi informado que a pesquisa se trata da
percepção dos participantes sobre as mulheres, não informando o objetivo real da
pesquisa, esse engodo foi necessário para preservar a integridade científica da pesquisa
assim como proporcionar maior fidedignidade das respostas. Na seção 3 foi explicado
todos os objetivos reais da pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para que os usuários pudessem decidir se ainda queriam participar ou não, estando
cientes da possibilidade de desistirem da pesquisa a qualquer momento (ressaltando o
anonimato das respostas). O responsável pela pesquisa se colocou à disposição aos
participantes para qualquer explicação em relação à pesquisa e também por eventuais
motivos que se sentissem de alguma maneira abalados após a participação da pesquisa,
garantindo total apoio a fim de auxiliar no quadro existente durante o período que se
fizesse necessário.
Após a coleta de dados, os resultados foram analisados, interpretados e
relacionados com as informações obtidas na pesquisa bibliográfica utilizando artigos entre
os anos de 2016 a 2021, a fim de explorar os resultados obtidos com a naturalização da
violência contra a mulher. Permitindo assim uma melhor visualização do contexto
abordado.

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados demonstrados a seguir foram coletados e analisados com a aplicação do


questionário online, tendo sido respondido por 150 pessoas, das quais foram

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desconsideradas respostas por não estarem dentro dos critérios de inclusão; 75 por
serem do sexo feminino, 7 serem menores de 18 anos. Três foram excluídos da amostra,
pois apresentaram respostas que não condizem com a verdade: ter 18-20 anos e terem
terminado o doutorado. Total de 65 participantes.
Na seção dados sociodemográficos dos participantes foram questionados sobre
idade, escolaridade e estado de origem. Obtivemos 32,33% das respostas de indivíduos
com o ensino superior incompleto e 29,2% do ensino médio completo. Sobre a faixa etária
tivemos 53,8% respostas dentro dos 21-30 anos e 33,8% de 18-20 anos, tendo uma
média de idade de 27,5. Recebemos respostas de 8 estados diferentes, sendo a grande
maioria de São Paulo 21,5% e Paraná 36,9%. 56

Tabela 1 – Respostas

Questões Discordo Discordo Concordo Concordo


Totalmente Totalmente
As mulheres controlam as relações,
pois são elas que controlam o sexo. 24.60% 60% 13.80% 1.5%

As mulheres preferem sempre


cafajestes. Pessoas corretas, 44.6% 40% 10.8% 4.6%
inteligentes e amáveis, nunca são as
primeiras opções.
Várias das minhas mágoas e tristezas
da vida foram causadas por mulheres 55.4% 30.8% 12.3% 1.5%
que passaram pela minha vida.

Acredito que o feminismo atrapalhou


46.2% 40% 6.2% 7.7%
as relações amorosas entre homens e
mulheres.

Quando se nasce homem, você


50.8% 36.9% 9.2% 3.1%
precisa ser diferente, forte, bem-
sucedido e até bonito. Quando se
nasce mulher, você não precisa
ser nada, só bonita que farão tudo por
você.

É mais fácil para as mulheres


26.2% 26.1% 40.0% 7.7%
conseguirem relacionamentos, pois
elas têm muito mais escolhas que
homens.

A sociedade gira em torno das


64.4% 27.7% 4.6% 3.1%
mulheres (elas têm mais regalias,
direitos e proteção), elas nunca
sofreram tanto quanto um homem.

Conforme as mulheres envelhecem


38.5% 44.6% 13.8% 3.1%
elas perdem seu poder de sedução.

Mulheres são classificadas pela sua


78.5% 18.5% 1.5% 1.5%
aparência, pois além disso elas não
têm mais nada para oferecer.

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As mulheres usam da sensualidade
16.9% 44.6% 38.5% 0%
para manipular o sexo oposto.

Fonte: autora (2021).

As questões relacionadas ao discurso incel, serão divididas em subcategorias


abaixo e discutidas individualmente relacionadas com a literatura atual.

Questão 1: As mulheres controlam as relações, pois são elas que controlam o


sexo.

57
Os incels vê a falta de acesso ao corpo das mulheres como uma negação do
direito básico, sendo que para eles “as mulheres sempre dão sexo aos homens”
(Tranchese & Sugiura, 2021).
Das respostas obtidas 1,5% concordam totalmente e 13,8% concordam com essa
assertiva. O conceito de uma ‘Stacy’ é uma maneira que incels conceituam a colocação
das mulheres na hierarquia de gênero. Stacy não usa masculinidade para dominar incels,
mas ela os desvaloriza ao restringir seu acesso sexual (Jones, 2020).
DeKeseredy & Corsianos (2016) apontam que é comum entre os indivíduos do
sexo masculino uma grande expectativa de se envolver em uma grande quantidade de
relações sexuais, principalmente na época da faculdade algo que é incentivado por seus
pares. Dizimam o ódio para com as mulheres por não lhes permitir acesso sexual ou por
lhes proporcionar companhia (Myketiak, 2016).

Questão 2: As mulheres preferem sempre cafajestes. Pessoas corretas,


inteligentes e amáveis, nunca são as primeiras opções.

Os resultados nos mostram que a grande maioria discorda desta afirmação, mas
3,1% concordam totalmente e 9,2% concordam. De acordo com Incel Wiki (2021) essa
comunidade online tem uma hierarquia social baseada na aparência e riqueza, estando
os incels na base e no topo os Chads e Stacies. Essa é uma ideia que não foi criada com
os incels em 2017 a Veja publicou um texto com o título: “Por que algumas mulheres
preferem os cafajestes?”. Segundo Ging (2017) a manosfera é um campo limitado à
interpretação superficial e reciclagem de teorias para apoiar um catálogo recorrente de
afirmações: que as mulheres são irracionais, hipergamia, programado para parear com
machos alfa e precisa ser dominado. Incels desenvolveram muitas explicações inter-
relacionadas de porque as condições sociais o tornam impossível para eles atrair um
parceiro romântico (Nagle, 2016; Jaki et a.l, 2018).

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Isso pode ser conceituado como um misógino dentro do grupo amplamente aceito
femmefobia, em que a construção particular de gênero realizada por incels afirma um
universal o não cumprimento por parte das mulheres das condições da feminilidade
heteropatriarcal (Hoskin, 2017; 2019).

Questão 3: Várias das minhas mágoas e tristezas da vida foram causadas por
mulheres que passaram pela minha vida.

A maioria dos ideais dessa comunidade ecoa de Elliot Rodger, que afirma que
suas expectativas não são atendidas, alguns homens sentem decepção, frustração e/ou 58
raiva e em alguns casos acabam se envolvendo em comportamentos violentos
(DeKeseredy & Corsianos, 2016). A maioria da amostra discorda da afirmação (86,2%),
porém 1,5% concordam totalmente e 12,3% concordam, sabendo que incels são homens
que já se sentem desvalorizados, são vulneráveis a sofrer de depressão e culpabilizam
por sua desvalorização as mulheres e a sociedade (Jones, 2020).
Os incels costumam descrever as mulheres e Stacys como más e convenientes
(Maxwell, Robinson, Williams & Keaton, 2020). O mal feminino é visto como uma
combinação da evolução, biologia e cultura, seguindo esse raciocínio uma postagem fala
“o que torna a maldade feminina tão natural... biologia e cultura... a combinação biológica
já é horrível sozinha e com a cultura de poder, as mulheres são corrompidas essa é a
razão pela qual a maioria dos líderes são homens” (O’Malley et al., 2020). A vida de um
solteiro incel está associada a níveis elevados de ansiedade, insônia, depressão e solidão
romântica quando comparada a vida do solteiro voluntário (Adamczyk, 2017). A grande
maioria desse grupo acha as mulheres manipuladoras e tóxicas para os homens,
comentam que a maldade feminina contra os homens é apoiada pela sociedade de uma
maneira que permite que elas saiam impunes de todo o mal causado a eles (Maxwell et
al., 2020). Os membros da comunidade incel vivem sob a lógica de que são
ridicularizados pelos outros, principalmente pelas mulheres ou homens alfas (Menzie
2020).

Questão 4: Acredito que o feminismo atrapalhou as relações amorosas entre


homens e mulheres.

Dentre os dados obtidos 86,1% discorda dessa afirmação, 7,7% concordam


totalmente e 6,2% concordam. As pesquisas mostram que as explicações para o pouco
sucesso em relacionamentos dos incels culpam o feminismo por perturbar o que eles
vêem como uma ordem natural pela qual mulheres e estruturas sociais mais amplas

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seriam organizadas em torno de heterossexuais e acoplamentos monogâmicos
(Zimmerman, Ryan & Duriesmith, 2018). Esses homens acreditam que a sociedade os
prejudicou, negando-lhes o acesso ao sexo, ou que o feminismo arruinou suas chances
de encontrar uma mulher (Reichert, 2020), assim como culpam as mulheres e o
feminismo pela perda de seu poder masculino (Jones, 2020).
Fundamentalmente os incels odeiam feministas, para eles o feminismo está
diretamente ligado com a liberdade sexual. Sendo essa a razão pela qual as mulheres
são livres para ter escolhas sobre seus parceiros sexuais, também seu desejo de
controlá-las é frustrado devido a essa liberdade por isso eles desejam o retorno dos
valores tradicionais para exercerem controle sobre as mulheres pelas quais se sentem no 59
direito (Tranchese & Sugiura, 2021). Os defensores dos direitos dos homens expressam
suas queixas com a esfera jurídica e, em última análise, culpar o feminismo e a
discriminação dos homens por sua castração (Rafail & Freitas 2019).
Segundo Fagundes e Dinarte (2017) a sociedade, de certa forma ainda machista,
tem dificuldades em acompanhar e aceitar a ascensão feminina, que tende a ocupar os
mesmos espaços que outrora eram ocupados apenas por homens, seja no meio
profissional, social, etc. Ocorre que, por mais visíveis que sejam as mudanças, a
sociedade ainda é influenciada pelo modelo patriarcal de organização social.

Questão 5: Quando se nasce homem, você precisa ser diferente, forte, bem-
sucedido e até bonito. Quando se nasce mulher, você não precisa ser nada, só bonita que
farão tudo por você.

O livro de Jack Donovan, "The Way of Men", é uma abordagem interessante sobre
o que significa exatamente ser um homem e como alguém pode se tornar o homem mais
viril. Suas crenças estão centradas em torno dos homens tentando aperfeiçoar as quatro
virtudes que eles devem ter, força, coragem, maestria e honra. Dentre os participantes
desta pesquisa 12,3% concordam com essa afirmação enquanto 87,7% discordam.
Segundo Maxwell et al (2020) encontrou diversas publicações incels onde dizem que as
mulheres somente se interessam por homens que tenham recursos materiais. Um
comentário diz: “ela irá abrir as pernas e pegar em troca seus recursos materiais… até
que comece a ter dor de cabeça todas as noites.”
Os incels argumentam que as mulheres que escolhem homens mais desejáveis
são as culpadas por sua posição social. Levando esse conceito para o mundo do namoro,
argumentam que as mulheres tratam mal os incels devido a sua aparência (Jones, 2020).
Segundo a mesma autora, alguns incels descrevem que a biologia e a genética são as
culpadas por sua posição sobre a hierarquia social. Nesta posição, os indivíduos com

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baixo desenvolvimento físico também lidam com problemas emocionais, como baixa
autoestima ou depressão, que é exacerbada pela aparência.

Questão 6: É mais fácil para as mulheres conseguirem relacionamentos, pois elas


têm muito mais escolhas que homens.

Nesta assertiva os resultados mostraram que 47,7% concordam enquanto 52,3%


discordam. Pela primeira vez percebe-se um aumento das respostas de concordo. Esta
concepção é enraizada em nossa sociedade, uma pequena busca pelo google com essa
frase surgirão várias notícias e matérias abordando o assunto. Inclusive Posts como “as 60
mulheres têm tantas opções ... é muito desanimador...Eu não estou falando sobre
aquelas garotas gostosas ou muito bonitas...Eu sinto que não importa o quanto eu
trabalhe duro para me aprimorar, há competição demais lá fora”.
Os comentários encontrados em publicações de fóruns incels trazem a frustração e
raiva que essa comunidade dirige para as mulheres ou “Stacy”, pois acreditam que a
preferência feminina os impede de obter uma parceira (Maxwell et al., 2020). Menzie
(2020) afirma que os incels não se veem com poder ou influência para competir dentro do
mercado sexual, afirmando que os fatores que estão em jogo são muitos e
predeterminados. A privação de atividades sexuais é um fator em comum para os incels,
que consideram fixo e naturalizado por culpa da decisão das mulheres.

Questão 7: A sociedade gira em torno das mulheres (elas têm mais regalias,
direitos e proteção), elas nunca sofreram tanto quanto um homem.

Colocar as mulheres em uma categoria, não nega somente as experiências


individuais, mas facilita a visão delas como objetos, desprovidas de humanidade e alvo de
ódio consequentemente facilita a criação e aceitação dos clichês criados sobre a boa e
má natureza feminina (Tranchese & Sugiura, 2021). Incels reforçam que são injustamente
considerados indesejáveis perante aos padrões de beleza e expressam frustração contra
aqueles que estão restritos ao privilégio de acesso (Jones, 2020).
No momento que as mulheres deixam de ser vistas como humanas, os atos
violentos contra elas deixam de ser prejudiciais, afinal objetos não podem ser feridos
(Tranchese & Sugiura, 2021). Comentários encontrados mostram que incels acreditam
que a vida favorece as mulheres e o mundo é dominado por elas, as mulheres são (ou
deveriam ser) devedoras aos homens, mas elas não gostam de homens; que as mulheres
devem ser punidas por negar sexo aos homens. Eles chamam as mulheres de “stacys" e
acreditam que nunca trabalharam, apenas vivem uma vida de luxo.

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Homens que se relacionam com mulheres são chamados de "machos beta" e
alegam ser subserviente às mulheres. Algumas histórias notaram que os incels são
especificamente antifeminista, tornando-se "venenoso com a palavra feminista". Os
resultados desta pesquisa apontaram que somente 7,7% da amostra concorda, sendo
4,6% concorda e 3,1% da amostra concorda.

Questão 8: Conforme as mulheres envelhecem elas perdem seu poder de


sedução.

A preferência por jovens vem acompanhada por uma aversão a mulheres mais 61
velhas, normalmente definidas como na faixa de 20 anos ou mais, pois são menos férteis.
Essas normas e distorções dos incels são criadas com base em uma evolução biológica,
onde defendem que a idade de consentimento é uma construção social irracional, outra
forma pela qual as mulheres os oprimem (O’Malley et al., 2020). Esse grupo afirma que
mulheres idosas são inferiores às mulheres jovens, glorificando o amor jovem. Os
participantes dos fóruns incels encorajam e justificam a violência contra as mulheres.
“Mulheres foram construídas como alvos, merecedoras de retribuição por meio de
violência física e/ou sexual” (O’Malley et al., 2020).
A misoginia desse grupo é um ato de fala com efeito persuasivo a fim de silenciar
as mulheres, policiar seu comportamento e por fim prejudicá-las (Tranchese & Sugiura,
2021). Em relação aos participantes da pesquisa, 16,3% concordam com essa assertiva
apresentada, enquanto 83,1% discordam.

Questão 9: Mulheres são classificadas pela sua aparência, pois além disso elas
não têm mais nada para oferecer.

Conforme os dados coletados, somente 1,5% concordam e concordam totalmente


com a afirmativa acima. Dentro da comunidade incel eles sugerem que as mulheres têm
padrões de beleza irreais e todas desejam machos alfas, deixados de fora no mercado
sexual. Incels veem a feminilidade como uma maneira das mulheres competirem entre si
pelo acesso sexual de um macho alfa (Menzie, 2020). O pressuposto que a aparência e
a desvantagem no mercado sexual existe e leva esses homens a uma defesa da reversão
dos direitos das mulheres. Englobado nessa narrativa está o direito masculino pelos
corpos femininos, recurso considerado para o prazer masculino (Jones, 2020).
Diálogos sobre atratividade física reafirma a crença compartilhada de um mercado
sexual superficial e estimula o desprezo por homens atraentes (Chads) e mulheres
(Stacys). A auto-aversão e o desdém pelos terceiros pode ser resultado da adesão de um

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valor da atratividade física, um conceito genético, consequentemente imutável, sendo
fundamental para o alcance de um relacionamento romântico (O’Malley et al., 2020).
Questão 10: As mulheres usam da sensualidade para manipular o sexo oposto.
Dentro da crença dos incels, as mulheres têm controle exclusivo do mercado
sexual e negam o acesso para aqueles que consideram indignos (Menzie 2020). As
mulheres são colocadas em uma posição de guardiãs do sexo e de felicidade para os
incels, no oposto eles têm a imagem de vítimas, sempre procurando por sexo e brigando
com outros homens para ter acesso as mulheres indisponíveis a eles (Tranchese &
Sugiura, 2021).
Em relação a esta assertiva apresentada para os participantes desta pesquisa 62
38,5% concordam enquanto 61,5% discordam. Dentro da estrutura desse grupo, as
mulheres são coagidas evolutivamente a manipular os homens para obter recursos
importantes para sua sobrevivência. As mulheres são consideradas menos evoluídas do
que os homens nos impulsos animais para a reprodução e segurança (O’Malley et al.,
2020). A criação dessa subcultura com normas adotadas pelos incels para justificar a
visão das mulheres como merecedoras de qualquer tipo de violência que experienciam.
Nessa perspectiva, tanto os hábitos formais e informais, reforçam os principais valores e
crenças relacionados à injustiça do mercado sexual, ao mal natural feminino, a
legitimidade e opressão masculina (O’Malley et al., 2020). Sendo assim, condenam a
promiscuidade das mulheres, como eles as consideram, é abominável à ideia de ter uma
parceira sexual que já teve uma quantidade maior de outros parceiros sexuais (Tranchese
& Sugiura, 2021).
A pesquisa contava com uma terceira seção de perguntas, estas relacionadas ao
conhecimento em relação aos incels. Dentro os resultados obtidos que serão rapidamente
demonstrados, somente 56,90% da amostra sabiam o que incels significa. Em relação a
perguntas específicas sobre as gírias, chans e Elliot Rodgers, a amostra mostrou
desconhecimento somando no máximo 33,80% de acerto nas perguntas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A internet e as tecnologias digitais e consequentemente as práticas que ocorrem


online são moldadas pela misoginia estrutural, pois essa tecnologia foi criada por pessoas
com estruturas patriarcais enraizadas, essa não é a causa da violência online contra as
mulheres, o ódio já existia previamente. Porém, as novas tecnologias criaram um novo
universo para o ódio ser propagado sem limites (Tranchese & Sugiura, 2021). Com a
tecnologia surgiu à esfera do anonimato, sem rosto, muitas vezes sem impunidade e
trazendo um ambiente cruel e sem regras, mas nada disso é realmente novo, pois os

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indivíduos que fazem uso da internet são as pessoas da nossa sociedade. Essa era
revelou a essência do ser humano (Nogueira, 2019).
Os grupos incels se formaram e cresceram em espaços online, tendo uma maior
expansão de comunidades durante os anos 2000, com a principal característica de uma
postura antifeminista (O’Malley et al., 2020). O presente artigo buscou investigar a
naturalização do discurso do grupo de ódio incel na sociedade atual. Sendo esse um
grupo de ódio contra as mulheres, que participam de comportamentos de cyberbullying e
assediam mulheres online (Young, 2019).
O questionário criado aborda questões a respeito das atitudes, crenças e
experiências pessoais, e contém questões consideradas preconceituosas em relação às 63
mulheres. O instrumento utilizado pode oferecer aos participantes uma oportunidade de
autoconhecimento sobre o seu comportamento em relação às mulheres. Assim como
proporcionar uma maior consciência sobre discursos violentos que são naturalizados na
sociedade e a possibilidade de refletir sobre seus próprios comportamentos em relação às
mulheres, podendo ajudá-los a identificar em si discursos violentos e naturalizados e nas
pessoas em sua volta.
Esta pesquisa apresentou algumas limitações, tais como os dados coletados, a
amostra pequena de 65 indivíduos que cumpriam os critérios de inclusão, o que trouxe
limitações para corroborar a hipótese da naturalização do discurso incel. Além disso, o
recorte etário feito dos 21 aos 30 foi muito longo, abordando duas gerações diferentes.
Com os resultados adquiridos podemos levantar novas hipóteses, como a maioria das
perguntas do questionário eram diretas, não dando margem para outras respostas.
Afirmações claras de violência tiveram uma porcentagem alta de discordância, porém
quando a violência era velada à porcentagem diminuía e ficava dividido os resultados.
Estima-se que os participantes não saibam identificar a violência velada e seus prejuízos
sociais.
A violência vista online contra a mulher é uma extensão da violência que a mulher
sofre todos os dias na sociedade (Nogueira, 2019). Levando em consideração o papel da
Psicologia nessa área, ela atua nos dois lados, seja ela vítima ou agressor, pode ser
desenvolvido Políticas Públicas para a proteção das mulheres online e ensinar maneiras
de identificação e como se defender desses ataques. Também se pode trabalhar com o
agressor, com treino de habilidades sociais, terapia, diversas queixas desses grupos são
relacionadas à aparência e uma visão distorcida da sociedade. Segundo Coding Rights
Internetlab (2017) a violência no contexto virtual conta com pouca produção de dados.
Acreditar que essa violência começa e termina no âmbito digital é banalizar a gravidade,
pois as reações vão da autocensura até ao suicídio. Em consonância com os resultados
obtidos fica o levantamento de novas hipóteses para futuras pesquisas na área.

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RIBPSI – Revista Iberoamericana de Psicologia, Curitiba, PR, Brasil – v.01, n. 02, 2021 - ISSN 2763-7883

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