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A importância do profissional da enfermagem no sistema prisional

Neide Janete Gonçalves Ropelato1


Franciely Midori Bueno de Freitas Carvalho2

RESUMO

O presente trabalho visa elucidar os desafios enfrentados por profissionais de


enfermagem no sistema prisional, com foco especial nas gestantes privadas de
liberdade no Complexo Médico Penal de Pinhais/PR. A pesquisa destaca a
importância de um atendimento qualificado e humanizado, considerando as
condições precárias e o ambiente insalubre frequentemente presentes nas prisões.
Estas condições aumentam os riscos tanto para a saúde física quanto mental dos
detentos e dos profissionais envolvidos. Os enfermeiros, ao atuarem nesses
contextos, encontram-se diante de obstáculos significativos, como a falta de
infraestrutura adequada e a carência de treinamento específico para lidar com
situações de crise, como fugas e rebeliões. Isso evidencia a necessidade de
preparação e apoio contínuo para esses profissionais, garantindo que possam
fornecer cuidados efetivos e seguros. Este estudo também ressalta a relevante
função social da enfermagem prisional, que vai além do cuidado à saúde,
contribuindo para a ressocialização e a promoção da dignidade humana dentro do
sistema prisional. Dessa forma, profissionais de enfermagem são vistos como
agentes de mudança, capazes de impactar positivamente na qualidade de vida e
bem-estar das gestantes encarceradas, apesar das adversidades do ambiente
prisional. Portanto, o trabalho busca não apenas compreender esses desafios, mas
também propor caminhos para o fortalecimento da atuação da enfermagem no
contexto prisional, visando uma abordagem mais efetiva e humanizada para o
cuidado das gestantes PPL.

Palavras-chave: Prisional. Gestantes. Desafios. Enfermagem.

1 INTRODUÇÃO

A enfermagem no sistema prisional enfrenta desafios significativos,


especialmente no atendimento a públicos vulneráveis, como as gestantes privadas
de liberdade. Este artigo discute a importância de ações de saúde direcionadas a
este grupo dentro do contexto prisional, enfocando os aspectos técnicos e
humanizados que os profissionais de enfermagem devem incorporar em sua prática
diária. As unidades prisionais, embora destinadas à ressocialização, frequentemente
1
Acadêmica do curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Unopar Pitágoras.
2
Orientadora Docente do curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Unopar Pitágoras.
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não oferecem condições adequadas para a promoção da saúde, expondo tanto os


internos quanto os profissionais a riscos consideráveis.
A justificativa para tal estudo reside na observação das condições insalubres
e da estrutura muitas vezes precária dos estabelecimentos prisionais, que
comprometem a qualidade do cuidado de saúde prestado. Essa realidade se agrava
no caso de gestantes, onde o risco se estende também ao desenvolvimento fetal. O
profissional de enfermagem, por estar em contato direto com esta população,
desempenha um papel crucial não apenas na assistência à saúde, mas também
como agente de transformação social e de promoção da dignidade humana.
O objetivo geral deste estudo é mapear os problemas de saúde relacionados
às gestantes em condição de pessoas privadas de liberdade, identificados no
cotidiano do profissional de enfermagem no sistema prisional estadual. Um dos
objetivos específicos é identificar os principais desafios enfrentados pelos
enfermeiros ao prestar atendimento a esse grupo específico, propondo soluções que
melhorem as condições de trabalho e o cuidado oferecido.
Portanto, esta pesquisa busca não só entender os desafios inerentes ao
atendimento de saúde prisional, mas também fornecer dados que possam embasar
políticas públicas e práticas de enfermagem mais eficazes e humanizadas para as
gestantes privadas de liberdade.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Metodologia

A metodologia adotada neste estudo consistiu em uma revisão bibliográfica


qualitativa e descritiva, focada na análise de literatura científica sobre o papel do
profissional de enfermagem no atendimento a gestantes no sistema prisional. A
pesquisa foi restrita a fontes publicadas nos últimos vinte anos, visando capturar as
tendências contemporâneas e as práticas recomendadas mais recentes dentro do
contexto da saúde prisional.
Foram consultadas diversas bases de dados, incluindo PubMed, Scopus, e
Web of Science, além de acesso a livros e artigos científicos disponíveis em
bibliotecas universitárias e em sites especializados na área de saúde. As palavras-
chave utilizadas nas buscas incluíram "enfermagem prisional", "saúde de gestantes
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em prisões" e "desafios da enfermagem no sistema prisional", que foram escolhidas


para direcionar a busca de informações pertinentes ao tema central da pesquisa.
A seleção dos materiais envolveu uma análise crítica das fontes, priorizando
estudos que apresentaram dados relevantes sobre as condições de saúde das
gestantes encarceradas e as práticas de enfermagem aplicadas neste contexto. O
processo de revisão bibliográfica foi realizado de maneira sistemática, com o
objetivo de compilar um panorama abrangente das condições enfrentadas por essas
profissionais, bem como as estratégias adotadas para enfrentar os desafios
encontrados.
Dessa forma, a metodologia empregada permitiu não apenas a identificação
dos principais problemas e desafios da enfermagem prisional, mas também
proporcionou uma compreensão aprofundada das necessidades específicas de
saúde das gestantes privadas de liberdade e das possíveis intervenções para
melhorar a qualidade do atendimento prestado.

2.1 Resultados e Discussão

Conforme observado em estudos recentes, as condições de saúde nas


prisões brasileiras são precárias, impactando significativamente o bem-estar dos
detentos. A superlotação e a falta de recursos básicos contribuem para a
deterioração rápida da saúde física e mental dos internos, incluindo as gestantes
(SILVA, 2014). Com frequência, a assistência médica é insuficiente, e os
procedimentos de triagem de saúde ao ingressar no sistema são muitas vezes
inadequados para atender às necessidades específicas das gestantes.
Outro aspecto relevante é a qualificação dos profissionais de saúde que
atuam nesses ambientes. A formação específica para lidar com as condições do
sistema prisional é raramente oferecida, aumentando o risco de uma assistência
inadequada. Isso está diretamente relacionado à falta de segurança tanto para os
profissionais quanto para os detentos, como apontam Souza e Passos (2008), que
criticam a ausência de treinamento para situações de crise.
A saúde das gestantes nas prisões necessita de uma atenção particular, visto
que a gravidez em tais condições pode acarretar riscos aumentados tanto para a
mãe quanto para o bebê. A escassez de acompanhamento pré-natal e de
infraestrutura adequada para o parto são desafios constantes que exigem respostas
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imediatas das autoridades de saúde (COSTA, 2016). Esses problemas são


exacerbados pela falta de políticas públicas eficazes que garantam o acesso
contínuo a serviços de saúde qualificados dentro do sistema prisional.
Ademais, a interação entre as condições de encarceramento e o estado
psicológico das gestantes demanda uma abordagem mais humanizada e centrada
na pessoa. A ansiedade e o estresse vivenciados por mulheres grávidas em prisões
podem levar a complicações gestacionais sérias, o que ressalta a necessidade de
cuidados especializados e contínuos durante toda a gestação (TEIXEIRA, 2019). A
prática da enfermagem nesse contexto deve, portanto, ser adaptada para enfrentar
essas complexidades, promovendo um ambiente mais seguro e propício à saúde.
A conscientização sobre os direitos das gestantes encarceradas é crucial para
a melhoria das condições de saúde no sistema prisional. Muitas vezes, esses
direitos são ignorados ou negligenciados, resultando em tratamentos inadequados e
violações das normas de saúde. A educação continuada dos profissionais de saúde
e a implementação de diretrizes claras são essenciais para garantir que o cuidado
adequado seja prestado (GOMES, 2018).
Diante das dificuldades já expostas, ressalta-se a urgência de um
acompanhamento pré-natal efetivo dentro dos estabelecimentos prisionais. A
ausência de um monitoramento regular da saúde das gestantes pode levar a
desfechos negativos para a saúde tanto materna quanto neonatal. A implementação
de programas específicos para esse seguimento é uma necessidade não apenas
clínica, mas também humanitária (OLIVEIRA, 2012). O pré-natal no ambiente
prisional deve ser adaptado às restrições do local, mas sem comprometer a
qualidade do cuidado recebido.
Além disso, as condições insalubres frequentemente encontradas nessas
instalações são um obstáculo adicional ao bem-estar das gestantes. Infecções e
doenças são mais prevalentes devido à superlotação e à falta de higiene básica, o
que torna o acompanhamento de saúde ainda mais crítico (SILVA, 2010). Os
esforços para melhorar essas condições devem ser priorizados para garantir que as
gestantes recebam o mínimo necessário para uma gravidez saudável.
Outro ponto a ser considerado é a necessidade de treinamento específico
para os profissionais de enfermagem que atendem essa população. Sem o
conhecimento adequado das particularidades do cuidado pré-natal no sistema
prisional, os profissionais podem se sentir incapazes de prover o cuidado
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necessário, afetando a qualidade do serviço prestado (TEIXEIRA, 2019). A formação


continuada deve abordar tanto as competências clínicas quanto as habilidades para
lidar com as complexidades psicossociais envolvidas.
Além disso, é imperativo abordar as questões psicológicas que acompanham
a gravidez em um contexto de encarceramento. O estresse e a ansiedade podem
afetar adversamente a saúde da gestante e do desenvolvimento fetal. Programas de
apoio psicológico e atividades que promovam o bem-estar mental devem ser parte
integrante do cuidado pré-natal oferecido (COSTA, 2016). Isso pode ajudar a mitigar
os impactos negativos do ambiente prisional sobre a gestante e seu bebê.
A implementação efetiva dessas ações requer cooperação entre gestores
prisionais, profissionais de saúde e autoridades governamentais. A integração de
serviços e a colaboração interdisciplinar são essenciais para criar um sistema de
saúde prisional que respeite e promova os direitos das gestantes. A fiscalização e o
cumprimento das normativas legais vigentes são fundamentais para garantir que os
padrões mínimos de saúde sejam atendidos (GOMES, 2018).
Para enfrentar os desafios associados ao cuidado de saúde no sistema
prisional, especialmente para gestantes, é fundamental desenvolver estratégias
eficazes que promovam uma abordagem integral e contínua. Um dos primeiros
passos envolve a reestruturação das instalações de saúde dentro das prisões para
garantir que sejam adequadas e seguras para o atendimento. Isto inclui a
disponibilização de equipamentos essenciais e a manutenção de um ambiente limpo
e organizado, o que pode significativamente reduzir o risco de infecções (SILVA,
2014).
Ademais, a implementação de protocolos de saúde específicos para o
contexto prisional é crucial. Esses protocolos devem incluir diretrizes claras sobre o
manejo de gravidez, parto e pós-parto, adaptando as práticas recomendadas às
limitações do ambiente prisional. A padronização do atendimento é uma medida que
pode melhorar significativamente a qualidade do cuidado prestado às gestantes
(TEIXEIRA, 2019). Esta abordagem também facilita o treinamento dos profissionais
de saúde, assegurando que todos sigam os mesmos procedimentos e práticas.
Outra estratégia essencial é o fortalecimento da equipe de saúde através da
contratação de mais profissionais especializados e do aumento das horas de
treinamento. Capacitar os profissionais para lidar com as particularidades do sistema
prisional não apenas melhora a qualidade do atendimento, mas também aumenta a
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segurança dos próprios profissionais e dos internos (COSTA, 2016). Profissionais


bem preparados estão mais aptos a lidar com emergências e a fornecer um cuidado
mais compassivo e efetivo.
Por outro lado, é importante estabelecer parcerias com organizações não
governamentais e instituições de saúde pública para desenvolver programas de
atendimento e suporte às gestantes prisioneiras. Essas parcerias podem trazer
novos recursos e perspectivas para o contexto prisional, ampliando as possibilidades
de atendimento e o acesso a serviços especializados (OLIVEIRA, 2012). A
colaboração externa pode também facilitar a implementação de projetos de pesquisa
que ajudem a identificar as melhores práticas e a promover reformas baseadas em
evidências.
É imperativo que haja um monitoramento e avaliação contínuos dos serviços
de saúde prestados nas prisões. Esta avaliação deve ser conduzida regularmente
para garantir que as necessidades de saúde das gestantes estejam sendo atendidas
e para ajustar as estratégias conforme necessário. A transparência e a
responsabilidade são fundamentais para assegurar que os direitos das gestantes
encarceradas sejam respeitados e que recebam o cuidado adequado, conforme
ressaltado nos estudos de Gomes (2018).
A formação contínua dos profissionais de saúde que atuam no sistema
prisional é fundamental para assegurar a qualidade e a eficácia do atendimento. O
foco deve estar não apenas no desenvolvimento de habilidades clínicas, mas
também na compreensão das complexidades psicossociais que influenciam a saúde
das gestantes em ambiente de cárcere (SILVA, 2010). O treinamento deve abordar
temas específicos como a gestão de stress e agressividade, a comunicação eficaz
com a população carcerária e as técnicas para lidar com emergências obstétricas
em condições restritivas.
Além disso, a criação de uma cultura de aprendizado contínuo dentro das
instituições prisionais pode incentivar os profissionais a buscar atualizações
constantes e aprimoramento profissional. Programas de mentorias e parcerias com
universidades podem ser estratégias valiosas para manter os profissionais
engajados e informados sobre as últimas práticas e pesquisas na área da saúde
prisional (COSTA, 2016). A integração da teoria com a prática é crucial para que os
conhecimentos adquiridos sejam efetivamente aplicados no ambiente prisional.
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Outro aspecto relevante é o apoio emocional aos profissionais de saúde.


Trabalhar em um sistema prisional pode ser extremamente desgastante, e o suporte
psicológico para esses trabalhadores é essencial para prevenir a síndrome de
burnout e garantir a continuidade do cuidado aos internos. Estratégias de wellness e
programas de apoio psicológico devem ser implementados para ajudar os
profissionais a gerenciar o stress e as emoções decorrentes do seu ambiente de
trabalho (TEIXEIRA, 2019).
Além disso, é necessário fortalecer os canais de comunicação entre os
profissionais de saúde e a administração prisional. Uma comunicação eficaz pode
ajudar a superar muitos dos desafios operacionais e logísticos que afetam a entrega
de serviços de saúde dentro das prisões. Melhorar o diálogo e a colaboração entre
diferentes departamentos pode levar a uma compreensão mais profunda das
necessidades específicas das gestantes e à implementação de políticas de saúde
mais eficazes (GOMES, 2018).
É vital que se promova a sensibilização e o respeito pelos direitos humanos
dentro do ambiente prisional, especialmente no que se refere ao acesso à saúde. Os
profissionais de saúde têm um papel crucial não apenas como prestadores de
cuidados, mas também como defensores dos direitos das gestantes encarceradas.
Educar a equipe sobre a importância do tratamento humano e digno pode
transformar significativamente a qualidade do cuidado prestado e promover uma
cultura de respeito e empatia dentro do sistema prisional (OLIVEIRA, 2012).
Os aspectos psicossociais da gravidez no cárcere apresentam desafios
únicos, tanto para as gestantes quanto para os profissionais de saúde que as
atendem. O isolamento, a ansiedade e o estresse associados ao ambiente prisional
podem exacerbar as dificuldades psicológicas já enfrentadas durante a gravidez
(COSTA, 2016). É essencial que a assistência prestada aborde essas questões,
promovendo estratégias que aliviem o impacto psicológico do encarceramento nas
gestantes.
Neste contexto, programas de apoio emocional e atividades que fomentem o
bem-estar mental são cruciais. A implementação de grupos de apoio liderados por
psicólogos e enfermeiros treinados pode proporcionar um espaço seguro para que
as gestantes expressem suas preocupações e aprendam estratégias de coping para
lidar com o ambiente prisional (SILVA, 2014). Essas iniciativas podem fortalecer o
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suporte emocional necessário, mitigando os efeitos do stress e promovendo uma


gravidez mais saudável.
Adicionalmente, a integração de serviços de saúde mental com os cuidados
obstétricos regulares é uma prática recomendada. Avaliações psicológicas regulares
devem ser parte do acompanhamento pré-natal, permitindo que problemas sejam
identificados e tratados precocemente. A colaboração entre os profissionais de
saúde mental e de enfermagem é fundamental para o desenvolvimento de um plano
de cuidado integrado e eficaz (TEIXEIRA, 2019).
Por outro lado, é imperativo que as gestantes recebam informações
adequadas sobre os cuidados com a saúde e o desenvolvimento fetal. Educação em
saúde pode empoderar as mulheres, permitindo-lhes tomar decisões informadas
sobre seus cuidados e o bem-estar de seus filhos. Este conhecimento também pode
reduzir a ansiedade relacionada à incerteza do parto e do cuidado neonatal dentro
do sistema prisional (GOMES, 2018).
É crucial que haja esforços contínuos para melhorar as condições físicas das
instalações prisionais onde as gestantes são mantidas. Ambientes saudáveis e
seguros são essenciais para o bem-estar psicológico e físico das internas. Investir
em melhorias estruturais e garantir a adequação das instalações não só melhora a
qualidade de vida das gestantes, mas também demonstra um compromisso com a
dignidade e os direitos humanos dentro do sistema prisional (OLIVEIRA, 2012).
O acesso a serviços de saúde de qualidade é uma preocupação central para
as gestantes no sistema prisional. Frequentemente, as barreiras ao acesso
apropriado e tempestivo a serviços de saúde comprometem significativamente a
qualidade do cuidado recebido por essas mulheres (TEIXEIRA, 2019). Essa situação
é exacerbada pela escassez de recursos e pela falta de profissionais de saúde
especializados disponíveis dentro das instalações prisionais.
Uma estratégia eficaz para melhorar o acesso é a implementação de
programas de telemedicina, que podem conectar as gestantes a especialistas
externos sem a necessidade de transporte para fora do estabelecimento prisional.
Essa abordagem não só otimiza o uso dos recursos disponíveis, mas também reduz
o risco de complicações ao evitar o deslocamento das gestantes (COSTA, 2016).
Além disso, a telemedicina pode facilitar consultas regulares e acompanhamento
contínuo, garantindo que as gestantes recebam orientações e cuidados consistentes
ao longo de toda a gravidez.
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Adicionalmente, é essencial melhorar a capacitação dos profissionais de


saúde que atuam nas prisões para identificar e gerenciar condições específicas da
gravidez. Treinamentos focados em obstetrícia e emergências neonatais podem
equipar os enfermeiros e médicos com as habilidades necessárias para oferecer um
cuidado mais eficiente e seguro (SILVA, 2014). Este investimento no
desenvolvimento profissional ajuda a elevar o padrão de cuidado e a garantir que as
práticas médicas dentro das prisões estejam alinhadas com as diretrizes nacionais e
internacionais de saúde.
Além disso, a criação de linhas diretas de comunicação entre as instalações
prisionais e os hospitais locais é fundamental. Essa integração pode facilitar
transferências rápidas em casos de emergência, garantindo que as gestantes
recebam atendimento especializado quando necessário (GOMES, 2018). A
cooperação entre as instituições prisionais e o sistema de saúde pública é crucial
para criar uma rede de suporte abrangente e responsiva às necessidades das
gestantes encarceradas.
Cabe garantir que as gestantes tenham voz ativa no planejamento e na
execução de seus cuidados de saúde. Permitir que participem das decisões
relacionadas ao seu tratamento promove o respeito à autonomia e dignidade das
mulheres. Educar as gestantes sobre seus direitos e os serviços disponíveis é um
passo importante para empoderá-las e assegurar que recebam o cuidado adequado
durante a gravidez (OLIVEIRA, 2012).
Promover a saúde materna e infantil dentro do sistema prisional requer uma
abordagem multifacetada que envolva educação, prevenção e tratamento eficaz.
Uma das prioridades deve ser a implementação de programas educacionais
destinados a gestantes, que abordem temas como nutrição adequada, práticas de
higiene, e preparação para o parto e cuidados pós-natais (GOMES, 2018). Essa
educação pode empoderar as mulheres a tomar decisões informadas sobre sua
saúde e a de seus bebês, além de prepará-las para os desafios do parto e
maternidade no contexto prisional.
Adicionalmente, é crucial estabelecer protocolos de prevenção de doenças
transmissíveis e não transmissíveis dentro das prisões. Campanhas de vacinação,
programas de nutrição adequada e monitoramento regular da saúde podem reduzir
significativamente os riscos para a saúde das gestantes e de seus filhos (TEIXEIRA,
2019). Essas iniciativas não só melhoram os resultados de saúde para mãe e bebê,
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mas também contribuem para a redução da transmissão de doenças dentro da


população carcerária.
Além disso, a colaboração entre as instituições prisionais e os serviços de
saúde locais deve ser fortalecida para assegurar a continuidade do cuidado.
Estabelecer parcerias com hospitais e clínicas externas pode garantir que as
gestantes recebam cuidados especializados quando necessário e que possam
seguir com tratamentos e acompanhamentos após o parto (COSTA, 2016). A
integração dos serviços de saúde favorece uma abordagem mais holística e
centrada na paciente, essencial para resultados de saúde positivos.
Por outro lado, a saúde mental continua sendo uma área que necessita de
atenção especializada. O apoio psicológico deve ser uma componente regular do
cuidado de saúde para gestantes prisioneiras, visando mitigar o impacto do estresse
e do isolamento característicos do ambiente prisional (SILVA, 2014). Programas de
apoio emocional e a disponibilidade de profissionais de saúde mental são
fundamentais para o bem-estar das gestantes, influenciando positivamente sua
experiência de maternidade.
Por fim, é imprescindível monitorar e avaliar continuamente os programas de
saúde materna e infantil implementados nas prisões. A avaliação constante permite
identificar áreas que precisam de melhorias e ajustar as estratégias conforme
necessário para atender às necessidades específicas das gestantes encarceradas
(OLIVEIRA, 2012). A promoção de práticas baseadas em evidências é crucial para
garantir que a abordagem adotada seja a mais eficaz possível, maximizando os
benefícios para a saúde das mães e seus bebês dentro do sistema prisional.

3 CONCLUSÃO

Este trabalho propôs-se a analisar os desafios enfrentados pelos profissionais


de enfermagem no atendimento a gestantes no sistema prisional, com foco na
identificação de problemas de saúde prevalentes e na melhoria das condições de
atendimento. Os objetivos estabelecidos foram amplamente alcançados, permitindo
uma compreensão aprofundada das complexidades associadas à saúde materna em
ambientes prisionais e das estratégias necessárias para melhorar a qualidade e a
eficácia do cuidado prestado.
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A revisão da literatura e a discussão ao longo dos capítulos demonstraram


que, apesar dos esforços contínuos, ainda existem significativas lacunas no
atendimento às gestantes encarceradas. As limitações infraestruturais, a falta de
recursos médicos especializados e as carências na formação dos profissionais de
saúde são desafios persistentes que comprometem a saúde e o bem-estar das
gestantes no sistema prisional. Foi possível concluir que a melhoria das condições
de saúde dessas mulheres requer uma abordagem integrada que envolva educação,
treinamento adequado dos profissionais e melhorias estruturais nas instalações
prisionais.
Uma das principais limitações identificadas no estudo é a escassez de dados
empíricos específicos sobre a situação das gestantes em diversas localidades, o que
dificulta uma análise comparativa e a formulação de políticas públicas mais eficazes.
Além disso, a resistência institucional e a falta de priorização das questões de saúde
no contexto prisional muitas vezes impedem a implementação de melhorias
necessárias.
Com base nas conclusões deste estudo, recomenda-se a realização de
pesquisas adicionais que possam fornecer dados quantitativos detalhados sobre as
condições de saúde das gestantes encarceradas. Estudos futuros deveriam também
explorar a eficácia de diferentes modelos de intervenção e programas de
treinamento específicos para profissionais de saúde que atuam nesses ambientes. A
promoção de políticas que garantam o acesso contínuo e qualificado à saúde para
gestantes no sistema prisional é essencial e deve ser vista como uma prioridade nas
agendas de saúde pública e de direitos humanos.
Este trabalho destacou a importância crítica de abordagens multidisciplinares
e de colaborações interinstitucionais para enfrentar os desafios encontrados,
visando a melhoria substancial das condições de saúde e bem-estar das gestantes
em situação de encarceramento.

REFERÊNCIAS

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