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FACULDADE UNOPAR ANHANGUERA

Sistema de Ensino Presencial Conectado

CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM

FABIANE DE SOUZA BALDUTTI

CUIDADOS PALIATIVOS NA ATUAÇÃO DOS


PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Barbacena
2023
FABIANE DE SOUZA BALDUTTI

CUIDADOS PALIATIVOS NA ATUAÇÃO DOS


PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Monografia apresentada ao curso de


Enfermagem da Faculdade Unopar
Anhanguera, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Enfermagem.

Orientador (a): Prof.ª ...

Barbacena
2023
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso investiga a relevância e as adversidades


enfrentadas pelo profissional de saúde ao implementar cuidados paliativos em
pacientes em estado terminal. O estudo se propõe a entender a resistência e a
ambiguidade na decisão de quando e como iniciar esses cuidados, um método que
visa aprimorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares, conforme
definido por Salgado Yvanna Carla de Souza (2019). Destaca-se a necessidade de
capacitação contínua para os profissionais da saúde, permitindo-lhes gerenciar
efetivamente esses cuidados e evitar equívocos no tratamento dos pacientes. Na
perspectiva de Rossi; Lima (2005), o desafio reside em empregar as relações como
tecnologia para a construção mútua entre os indivíduos envolvidos no cuidado. A
pesquisa enfatiza também o papel vital da enfermagem, conforme explanado por
Souza (2011), que tem a oportunidade de prestar cuidados e assistir ao paciente de
maneira mais próxima. A justificativa do estudo reside na importância de discutir a
dificuldade enfrentada pelos profissionais da saúde ao lidar com pacientes em
estado terminal e a necessidade de ampliar o entendimento e a aplicação dos
cuidados paliativos. A metodologia adotada é a revisão de literatura, com enfoque
em trabalhos publicados nos últimos dez anos e obtidos de diversas fontes, como
livros e bancos de dados online. Os resultados esperados envolvem o entendimento
da abordagem e aplicação dos cuidados paliativos de forma empática e coesa, a
análise da iniciação desta abordagem e sua implementação na vida do paciente e da
família, e o entendimento das divergências e dificuldades entre os profissionais da
saúde sobre a aplicação dos cuidados paliativos.

Palavras-Chave: Aplicação de Cuidados Paliativos; Capacitação; Dificuldades


Estruturais.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................7

2 ANÁLISE HISTÓRICA DOS CUIDADOS PALIATIVOS NO BRASIL.....................................9

3 A CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE..........................................................11

4 A NECESSIDADE DE UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E ABRANGENTE.......................15

5 ASPECTOS DOS CUIDADOS PALIATIVOS............................................................................17

6 DESAFIOS E BARREIRAS: A IMPLEMENTAÇÃO DESSA METODOLOGIA...................19

7 POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO.................................................................................21

8 CONCLUSÃO.................................................................................................................................27

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................29
7

1 INTRODUÇÃO

A prestação de cuidados paliativos no Brasil, e os desafios enfrentados pelos


profissionais de saúde nesse âmbito, constituem a principal temática deste trabalho.
Com foco na qualidade de vida de pacientes e seus familiares frente a doenças que
ameaçam a vida, a pesquisa busca uma análise crítica sobre a efetiva
implementação desses cuidados no cenário brasileiro.
A escolha deste tema foi motivada pela relevância da questão em nossa
sociedade, dado o impacto direto na vida de milhares de brasileiros que enfrentam
doenças terminais e a necessidade de um tratamento digno e humanizado nesses
momentos. A relevância desta pesquisa para o meio científico e para a sociedade se
pauta em trazer à luz a complexidade dos cuidados paliativos e as dificuldades
enfrentadas por profissionais de saúde, contribuindo para uma reflexão sobre
possíveis caminhos de melhoria.
O objetivo geral desta pesquisa é compreender a amplitude dos desafios
enfrentados pelos profissionais de saúde na implementação de cuidados paliativos
no Brasil, e como esses desafios impactam na qualidade do tratamento oferecido a
pacientes em estado terminal. Para atingir este objetivo, definimos alguns objetivos
específicos.
Entendendo a necessidade de abordar a temática sob múltiplos ângulos, este
trabalho se desenvolve com base em quatro eixos principais.
Inicialmente, será realizada uma análise histórica dos cuidados paliativos.
Com o propósito de compreender a evolução e as mudanças ocorridas ao longo do
tempo, pretendemos entender como as transformações sociais e médicas
impactaram as práticas e a percepção dos cuidados paliativos.
Em seguida, buscaremos identificar as barreiras estruturais que dificultam a
provisão de cuidados paliativos. Dentro deste escopo, discutiremos questões como a
falta de recursos adequados e a insuficiência de apoio institucional, elementos que,
muitas vezes, limitam a capacidade de atuação dos profissionais de saúde e
prejudicam a qualidade do atendimento ao paciente.
Dando continuidade, exploraremos a questão da falta de capacitação dos
profissionais de saúde em cuidados paliativos. Esta etapa da pesquisa visa destacar
a necessidade de formação e educação contínua neste campo, entendendo que a
8

preparação adequada é fundamental para a prestação de um serviço eficaz e


humanizado.
Por último, mas não menos importante, discutiremos a necessidade de uma
abordagem holística e abrangente para lidar com os cuidados paliativos. Neste
sentido, a ideia é trazer à tona a importância de envolver uma rede mais ampla de
atores, como a família do paciente, a instituição de saúde e a sociedade em geral.
Entendemos que o desafio dos cuidados paliativos não se restringe à relação entre o
paciente e o profissional de saúde, mas engloba um conjunto mais vasto de
elementos que precisam ser considerados para uma atuação efetiva e integral.
A metodologia adotada para a consecução dos objetivos propostos
baseia-se em pesquisa bibliográfica e análise documental, proporcionando um
aprofundamento teórico sobre o tema e contextualizando as dificuldades atuais
enfrentadas pelos profissionais de saúde. Esta abordagem permitirá um olhar
abrangente sobre os cuidados paliativos, possibilitando uma compreensão
aprofundada do problema e apontando possíveis caminhos para a melhoria da
provisão destes cuidados no contexto brasileiro.
9

2 ANÁLISE HISTÓRICA DOS CUIDADOS PALIATIVOS NO BRASIL

Este capítulo se dedica à análise da evolução histórica dos cuidados


paliativos no Brasil, com o intuito de compreender as transformações que ocorreram
ao longo do tempo e como essas mudanças têm impactado as práticas e
percepções atuais acerca desse tema.
O estudo dos métodos atenuantes no Brasil começa com uma visão global da
evolução desse tipo de cuidado no mundo. A partir daí, pode-se analisar quando e
como esses cuidados foram introduzidos no Brasil, quais foram as principais
influências e desafios enfrentados em cada período, e como as políticas públicas e a
sociedade reagiram a essas necessidades.
O surgimento do “movimento dos cuidados paliativos”, na década de 1960,
liderado por Dame Cicely Saunders no Reino Unido, foi um marco importante para a
medicina moderna. A criação do conceito de "morte digna" e a abordagem
interdisciplinar para o tratamento de pacientes com doenças graves e terminais
revolucionaram a maneira como a medicina lida com o final da vida.
Ao analisar a evolução dos cuidados paliativos em nosso país, é importante
entender como esses conceitos foram recebidos e adaptados à realidade brasileira.
Além disso, explorar os diferentes contextos sociais, políticos e econômicos que
afetaram a adoção e implementação desses cuidados.
Além disso, a análise considera como as mudanças na estrutura demográfica
e nas principais causas de morte no Brasil afetaram a demanda por cuidados
paliativos. Por exemplo, o envelhecimento da população e o aumento das doenças
crônicas não transmissíveis criaram novos desafios e oportunidades para os
cuidados paliativos.
O estudo da evolução dos cuidados paliativos no Brasil, como em qualquer
outro país, deve ser contextualizado dentro de um panorama global. O surgimento
dessa “técnica” no século XX foi em resposta à necessidade de uma abordagem
mais humana e abrangente para o cuidado de pacientes com doenças graves e
terminais. No Reino Unido, foi fundado o primeiro hospício moderno, o St.
Christopher's Hospice, em 1967. Saunders introduziu o conceito de "morte digna" e
promoveu uma abordagem interdisciplinar para o tratamento de pacientes no final da
vida.
10

O conceito de cuidados paliativos chegou ao Brasil décadas depois, com a


introdução de hospícios e programas de cuidados paliativos em algumas das
principais cidades do país. No entanto, a adoção desses cuidados foi limitada
inicialmente, em parte devido a barreiras culturais, religiosas e estruturais.
Na década de 1980, o Brasil estava passando por uma série de
transformações sociais e políticas, incluindo a redemocratização do país e a
implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste contexto, os cuidados
paliativos começaram a ganhar reconhecimento como uma parte importante do
sistema de saúde. No entanto, a falta de recursos, a formação insuficiente dos
profissionais de saúde e a falta de políticas públicas específicas para os cuidados
paliativos limitaram a expansão desses cuidados.
A década de 1990 foi marcada por avanços significativos no campo dessa
sistemática no Brasil. Durante este período, foram criados os primeiros programas
de treinamento em cuidados paliativos e a primeira Associação Brasileira de
Cuidados Paliativos. Além disso, houve um aumento na pesquisa e publicação sobre
o tema, contribuindo para o desenvolvimento e a disseminação do conhecimento
nesta área.
No século XXI, os cuidados paliativos no Brasil têm enfrentado novos desafios
e oportunidades. O envelhecimento da população e o aumento das doenças
crônicas não transmissíveis têm aumentado a demanda pelos métodos atenuantes.
Além disso, a crescente conscientização sobre os direitos dos pacientes e a
qualidade de vida no final da vida tem levado a uma maior demanda por cuidados
paliativos de alta qualidade.
11

3 A CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

A falta de capacitação nessa área é uma das principais barreiras à


implementação efetiva desses cuidados, e sua superação é vital para a melhoria da
qualidade da assistência a pacientes com doenças graves e terminais.
O primeiro é a necessidade de incorporar a formação em cuidados paliativos
na educação médica e de enfermagem. Embora a importância dessas medidas
sejam amplamente reconhecida, ora, é medida extrema em casos extremos, muitas
instituições de ensino ainda não incluem este tema de forma significativa em seus
currículos. Além disso, muitos profissionais de saúde que já estão atuando não
receberam treinamento adequado em cuidados paliativos durante sua formação.
Nesse sentido, deve-se analisar os atuais currículos de formação em saúde e
identificar oportunidades para a integração da matéria, também sendo necessário
discutir as estratégias para o desenvolvimento de programas de treinamento em
serviço e de educação continuada em cuidados paliativos, que são essenciais para
garantir que os profissionais de saúde em atividade adquiram as habilidades
necessárias para prestar esses cuidados.
Em seguida, necessário o treinamento interprofissional em cuidados
paliativos, pois, são por natureza, interdisciplinares e requerem a colaboração de
médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e outros profissionais de
saúde. Portanto, é essencial que esses profissionais sejam treinados para trabalhar
juntos de forma eficaz, pois, cada membro da equipe traz uma perspectiva única e
complementa as habilidades dos outros, criando um ambiente de cuidado integral
que aborda todas as facetas da experiência do paciente.
Deve-se abordar a necessidade de desenvolver competências específicas
nessas medidas, como a comunicação de más notícias, a avaliação e manejo da dor
e outros sintomas, e o apoio ao luto, por parte não só da família, mas também de
todos ao redor daquele que ora fora paciente no recinto hospitalar. Estas são
habilidades essenciais para a prestação de cuidados paliativos de alta qualidade e
requerem treinamento e prática específicos.
Ao abordarmos a importância da capacitação profissional e a influência do
contexto social no âmbito dos cuidados paliativos, é essencial entender que esses
dois elementos estão profundamente interligados e são vitais para o bom
12

desempenho da função de prover cuidados abrangentes e individualizados a


pacientes com doenças graves e terminais.
A capacitação dos profissionais que atuam na área é uma das chaves para a
eficácia da assistência paliativa. Isso envolve não apenas a formação médica, que
inclui a compreensão das condições clínicas dos pacientes e as habilidades para
manejar sintomas físicos, mas também a aquisição de habilidades interpessoais,
que são cruciais para o estabelecimento de uma relação de confiança com o
paciente e sua família, e para o manejo de questões emocionais e psicossociais que
surgem em situações de fim de vida.
Em paralelo à capacitação, o contexto social desempenha um papel
fundamental no desempenho dos cuidados paliativos. As normas e valores culturais
influenciam a maneira como os pacientes, as famílias e a sociedade em geral veem
a doença, a morte e o processo de morrer. Esses fatores podem afetar a aceitação
dos cuidados paliativos, as decisões sobre o tratamento e até mesmo a interação
com a equipe de cuidados.
Por exemplo, em algumas culturas, falar abertamente sobre a morte é
considerado tabu, o que pode dificultar as discussões necessárias sobre prognóstico
e planos de cuidados. Além disso, a dinâmica familiar e as redes de apoio social
disponíveis podem influenciar a capacidade da família de participar ativamente dos
cuidados do paciente, o que pode afetar o bem-estar do paciente e a qualidade dos
cuidados prestados.
Ao buscar inspiração para políticas públicas e capacitação de profissionais
em cuidados paliativos, é interessante olhar para o Reino Unido, que é amplamente
reconhecido como um líder global nesta área, uma vez que a trajetória britânica nos
fornece lições valiosas que podem ser adaptadas e aplicadas ao contexto brasileiro.
No Reino Unido, a importância dos cuidados paliativos foi reconhecida em
2008, quando o governo publicou a “Estratégia de Fim de Vida”, um documento
orientador que estabelecia a visão do país para melhorar os cuidados no fim da vida.
A estratégia enfatizou a necessidade de uma abordagem abrangente e
individualizada para cuidados paliativos, incluindo a capacitação adequada dos
profissionais de saúde.
O NHS, o sistema público de saúde britânico, estabeleceu programas de
treinamento e desenvolvimento profissional em cuidados paliativos para médicos,
enfermeiros e outros profissionais de saúde. Esses programas têm um foco
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multidisciplinar, abordando aspectos clínicos, psicossociais, espirituais e de


comunicação dos cuidados no fim da vida.
Um elemento chave da abordagem britânica à capacitação em cuidados
paliativos é a ênfase na aprendizagem contínua. Os profissionais são incentivados a
desenvolver e atualizar regularmente suas habilidades e conhecimentos através de
cursos de reciclagem, workshops e conferências. Além disso, são incentivados a
participar de redes profissionais, que fornecem oportunidades para
compartilhamento de experiências, colaboração e suporte mútuo.
Outro aspecto notável das políticas públicas britânicas é o reconhecimento da
importância do apoio à família e à comunidade na prestação de cuidados paliativos.
Isso se reflete na inclusão de assistentes sociais e capelães nas equipes de
cuidados paliativos, bem como na existência de programas de apoio para
cuidadores e famílias.
Trazendo essa experiência para o contexto brasileiro, é importante considerar
tanto as semelhanças quanto as diferenças entre os dois países. Assim como no
Reino Unido, no Brasil existe uma necessidade de capacitação nessa área que
aborde uma ampla gama de competências e que incentive a aprendizagem
contínua. No entanto, nosso país também enfrenta desafios únicos, como a
diversidade cultural e regional, que requerem uma abordagem adaptada às suas
próprias necessidades e circunstâncias.
A experiência britânica sugere que políticas públicas bem-sucedidas em
cuidados paliativos requerem uma combinação de estratégias de capacitação,
pesquisa e apoio à comunidade. Essas estratégias devem ser complementadas por
um compromisso político e social de longo prazo com a melhoria dos cuidados no
fim da vida.
Ampliando a discussão sobre a formação dos profissionais de saúde, é
inegável que a inclusão de uma abordagem de atenção integral à vida em estágio
final nos currículos de formação é um passo crucial. Essa formação precisa ser
substancial, abrangendo tanto a teoria quanto a prática, e deve se estender por todo
o período de formação do profissional.
Além disso, é crucial a criação de programas de educação contínua que
estejam em constante revisão e atualização. Esse tipo de formação, que deve ser
acessível a todos os profissionais de saúde, não apenas aos que trabalham
diretamente na linha de frente, permitirá que se mantenham atualizados sobre as
14

mais recentes melhores práticas e avanços na área. Isso é particularmente


importante em um campo que está sempre evoluindo, como a medicina.
Outro aspecto que precisa ser levado em consideração é a formação
interprofissional. A atenção integral à vida em estágio final é, por definição, um
trabalho de equipe, que envolve profissionais de várias disciplinas trabalhando em
conjunto para atender às necessidades físicas, emocionais, espirituais e sociais do
paciente. Portanto, os profissionais de saúde devem ser treinados para trabalhar de
forma colaborativa, com uma compreensão clara de seus papéis individuais e de
como eles se encaixam na equipe como um todo.
O treinamento em habilidades de comunicação também é fundamental. A
habilidade de comunicar más notícias de maneira sensível e eficaz, por exemplo, é
um componente essencial da atenção integral à vida em estágio final. Isso pode ser
particularmente desafiador em um ambiente multicultural, onde os profissionais de
saúde podem ter que se comunicar com pacientes e famílias de diferentes origens
culturais e religiosas.
Quanto ao contexto social, é importante que os profissionais de saúde sejam
treinados para entender e respeitar as diferenças culturais e sociais que podem
afetar a percepção e a aceitação da atenção integral à vida em estágio final. Isso
pode envolver uma compreensão das crenças e práticas culturais relacionadas à
doença, à morte e ao luto, bem como uma sensibilidade às necessidades
específicas de grupos vulneráveis ou marginalizados.
É interessante notar que, no Reino Unido, as políticas públicas reconhecem a
importância do apoio à família e à comunidade na atenção integral à vida em estágio
final. No Brasil, esse reconhecimento pode levar à inclusão de assistentes sociais e
outros profissionais de apoio na equipe de cuidados, bem como à implementação de
programas de suporte à família e aos cuidadores.
No entanto, para que tais medidas sejam eficazes, é essencial que haja um
compromisso político e social de longo prazo com a melhoria da atenção integral à
vida em estágio final. Isso envolve não apenas o desenvolvimento e a
implementação de políticas públicas eficazes, mas também a promoção de uma
mudança cultural que valorize e respeite a vida em todas as suas fases, inclusive no
fim.
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4 A NECESSIDADE DE UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E ABRANGENTE

Neste capítulo, discutiremos a importância de uma abordagem holística e


abrangente no contexto dos cuidados paliativos. A ideia é destacar a necessidade
de envolver uma rede mais ampla de atores, como a família do paciente, a
instituição de saúde e a sociedade em geral, para garantir uma atuação efetiva e
integral no cuidado a pacientes em estado terminal.
Aqui abordo a importância do envolvimento da família no processo desses
cuidados. A família desempenha um papel crucial no apoio emocional, espiritual e
prático ao paciente e deve ser incluída na tomada de decisões e no planejamento do
tratamento. Os profissionais de saúde precisam estar preparados para orientar e
apoiar as famílias durante este período desafiador.
Em seguida, será necessário discutir o papel das instituições de saúde na
promoção e implementação do tema. Isso inclui a criação de políticas e diretrizes, a
alocação de recursos e a promoção da pesquisa e desenvolvimento em cuidados
paliativos. As instituições de saúde também são responsáveis pela criação de
ambientes propícios à colaboração interprofissional e ao tratamento humanizado.
Outro aspecto importante é a conscientização e educação da sociedade em
relação aos meio mitigadores. A sociedade precisa entender a importância desses
cuidados e como eles podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes e suas
famílias. Isso pode ser alcançado por meio de campanhas de conscientização,
programas educacionais e ações comunitárias.
Além disso, é essencial abordar o papel das políticas públicas e do governo
na promoção, isso inclui a criação de políticas nacionais e locais, o financiamento
adequado e a promoção da pesquisa e do desenvolvimento de melhores práticas na
área.
Um estudo publicado no Journal of Palliative Medicine, em 2014, realçou a
importância da cultura organizacional nos cuidados paliativos. Os autores
argumentam que um ambiente de cuidado verdadeiramente centrado no paciente
requer uma cultura de "abertura, respeito e empatia", que seja "refletida em todas as
ações e interações" (Gallagher et al., 2014).
A equipe de limpeza, por exemplo, desempenha um papel crucial no bem-
estar do paciente, mantendo um ambiente limpo e confortável. Eles também podem
16

interagir com os pacientes e suas famílias, proporcionando um senso de


normalidade e humanidade em um contexto de saúde muitas vezes
despersonalizado. Os médicos e enfermeiros, por sua vez, devem estar bem
treinados não apenas em aspectos técnicos, mas também em habilidades de
comunicação e empatia. Eles são os principais pontos de contato para os pacientes
e suas famílias, e sua capacidade de fornecer informações claras e apoio emocional
pode ter um grande impacto na experiência do paciente.
A família também desempenha um papel fundamental na abordagem holística
dos cuidados paliativos. A European Journal of Palliative Care publicou um estudo
em 2012 que ressaltou a importância do envolvimento da família nesse tema,
destacando que eles podem fornecer um apoio emocional inestimável e contribuir
para a qualidade de vida do paciente (Hudson et al., 2012).
Além disso, outros profissionais, como assistentes sociais, capelães,
terapeutas ocupacionais e voluntários, também são elementos essenciais nessa
rede de cuidado. Cada um, a partir de sua área de especialidade, contribui para um
cuidado mais completo e integrado.
No entanto, para que essa abordagem holística seja efetivamente
implementada, é crucial que exista um compromisso institucional , isso requer
políticas e práticas que incentivem a colaboração, a comunicação e o respeito mútuo
entre todos os membros da equipe de saúde. Além disso, a formação e a educação
contínua em cuidados paliativos devem ser uma prioridade para todos os
profissionais de saúde, independentemente de seu papel específico.
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5 ASPECTOS DOS CUIDADOS PALIATIVOS

Os cuidados paliativos são uma abordagem de cuidados de saúde que se


concentram em melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças graves e
incuráveis. Esses cuidados visam aliviar a dor e outros sintomas desconfortáveis,
como náusea e falta de ar, para que o paciente possa se sentir mais confortável e
com menos sofrimento.
A qualidade de vida também é melhorada através do apoio psicológico e
emocional fornecido pelos profissionais de cuidados paliativos, que ajudam os
pacientes a lidar com as dificuldades associadas à doença grave. Essa assistência
inclui a escuta ativa, o aconselhamento, o suporte emocional, o encorajamento da
expressão dos sentimentos e o apoio à tomada de decisões importantes. Segundo
Bickel-Swenson e Casarett (2018), a comunicação efetiva é um elemento crucial dos
cuidados paliativos e deve ser uma prioridade para os profissionais de saúde, para
que o paciente possa se sentir respeitado e compreendido.
O suporte espiritual é outro aspecto fundamental desses cuidados. Os
profissionais de saúde devem respeitar as crenças e práticas religiosas individuais
do paciente e proporcionar-lhes conforto e esperança. Eles podem fazer isso
fornecendo aconselhamento espiritual, encorajando a expressão de sentimentos
religiosos ou oferecendo assistência na organização de práticas religiosas ou rituais.
Além disso, o cuidado no final da vida envolve a preparação para a morte de
maneira digna e sem sofrimento. Tais medidas devem incluir discussões sobre o que
é importante para o paciente em seus últimos dias e como a morte pode ser
enfrentada com dignidade.
Finalmente, o luto é um processo necessário após a morte e deve ser
reconhecido e apoiado pelos profissionais, que devem estar disponíveis para ajudar
os familiares e amigos a lidar com a perda, através de aconselhamento e apoio
emocional. Em suma, os cuidados paliativos têm como objetivo aliviar o sofrimento
dos pacientes com doenças graves, proporcionando-lhes conforto e melhorando a
qualidade de vida. Os cuidados paliativos devem incluir a comunicação efetiva, o
apoio psicológico e emocional, o suporte espiritual, o cuidado no final da vida e o
apoio ao luto. Como dito anteriormente, também é essencial que os profissionais de
saúde envolvidos nesses cuidados sejam bem treinados e capacitados, e que
18

trabalhem em equipe, para garantir que os pacientes recebam a melhor assistência


possível. Outro aspecto importante desses cuidados é o gerenciamento dos
sintomas, que pode incluir o uso de medicamentos e terapias complementares,
como acupuntura e massagem.
É importante destacar que o manejo compreensivo do tratamento de
pacientes em estágios avançados de suas doenças não se limita ao físico ou ao
emocional, mas permeia também questões sociais. A atenção paliativa, nesse
sentido, envolve a consideração do contexto social do indivíduo, incluindo sua rede
de suporte, família, e possíveis carências socioeconômicas.
Profissionais envolvidos nessa atenção integral precisam estar aptos a
identificar e mitigar eventuais obstáculos socioeconômicos que possam interferir na
qualidade de vida do paciente. Isso pode envolver o auxílio na obtenção de
recursos, como cuidadores em casa, ou a orientação em questões legais e
burocráticas relacionadas ao estado de saúde do paciente.
No que tange ao acompanhamento de sintomas, é essencial considerar
estratégias integrativas, que vão além da medicina convencional. Práticas como a
meditação, o yoga ou a musicoterapia podem ter um impacto substancial na
qualidade de vida do paciente, reduzindo o estresse e a ansiedade e promovendo o
bem-estar. Essas terapias complementares, quando aliadas ao tratamento médico
convencional, formam um conjunto de ferramentas terapêuticas que podem oferecer
um alívio significativo dos sintomas.
No processo final da vida, a atenção paliativa enfatiza a manutenção da
dignidade e da autodeterminação do paciente. Profissionais devem estar prontos
para oferecer orientação e suporte nessa fase, abordando questões que vão desde
o planejamento avançado de cuidados até as preferências do paciente para o
tratamento de sintomas.
No pós-morte, a atenção não cessa. Profissionais precisam estar disponíveis
para prover apoio e orientação aos enlutados, um momento que pode ser
particularmente desafiador e doloroso. Esse suporte no processo de luto é uma
extensão natural do trabalho realizado na atenção paliativa, promovendo a
resiliência e ajudando os indivíduos a se adaptarem a essa nova realidade.
19

6 DESAFIOS E BARREIRAS: A IMPLEMENTAÇÃO DESSA METODOLOGIA

Os cuidados paliativos são um desafio para a implementação em muitos


países, especialmente em regiões remotas ou em países com recursos limitados. A
falta de acesso aos serviços de saúde pode ser um obstáculo significativo para a
entrega de cuidados paliativos de qualidade. É fundamental que os governos
invistam em infraestrutura e recursos para garantir que os pacientes em todo o país
tenham acesso a essa sistemática.
A comunicação efetiva entre profissionais de saúde e pacientes é outro
desafio importante na implementação, a complexidade das informações médicas e a
dificuldade em lidar com questões emocionais e existenciais podem dificultar a
comunicação entre os profissionais de saúde e os pacientes. É essencial que os
profissionais de saúde sejam treinados em comunicação efetiva e que sejam
capazes de fornecer informações claras e precisas sobre a condição do paciente e
os tratamentos disponíveis.
Além disso, o estigma cultural associado aos cuidados paliativos pode ser um
desafio significativo para a implementação desses serviços. Muitas vezes, os
cuidados paliativos são vistos como sinônimo de desistência ou fracasso, o que
pode impedir que os pacientes e suas famílias busquem esses cuidados quando
mais precisam. É essencial que haja esforços para educar o público sobre os
benefícios e para reduzir o estigma associado a esses serviços.
O financiamento e a gestão dos serviços de cuidados paliativos são desafios
importantes que requerem políticas públicas adequadas e um compromisso contínuo
dos gestores de saúde. A implementação de serviços de cuidados paliativos pode
ser cara e requer um investimento significativo em infraestrutura, recursos humanos
e treinamento. É fundamental que os governos e os gestores de saúde reconheçam
a importância dos cuidados paliativos e que sejam comprometidos em fornecer os
recursos necessários para implementar esses serviços.
Em nosso país, a implementação dessas medidas enfrenta também barreiras
que não podemos ver, como a falta de conscientização sobre a importância desses
serviços. Muitas vezes, os cuidados paliativos são vistos como uma opção
secundária ou reservada apenas para pacientes terminais, em vez de uma
abordagem abrangente e centrada no paciente para cuidados de saúde.
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A falta de acesso aos serviços de cuidados amenizantes é um problema


significativo no Brasil, especialmente em áreas rurais e remotas. A falta de recursos
financeiros e a falta de pessoal treinado nessa área limitam o acesso dos pacientes
a esses serviços. Além disso, a burocracia e a falta de coordenação entre os
serviços de saúde podem impedir que os pacientes recebam a assistência de que
precisam.
O estigma cultural também pode ser um obstáculo para a implementação dos
cuidados paliativos no Brasil. Algumas pessoas ainda veem tais medidas como uma
forma de "abandonar" o paciente ou como um sinal de fracasso médico. É
importante que haja esforços para educar o público sobre os benefícios dos
cuidados paliativos e reduzir o estigma associado a esses serviços.
Em resumo, a implementação dos cuidados paliativos enfrenta diversos
desafios, incluindo limitações no acesso aos serviços de saúde, comunicação
efetiva, estigma cultural e financiamento e gestão dos serviços. É importante que os
governos e os gestores de saúde reconheçam sua importância e trabalhem
internamente, ou seja, dentro das instituições, para superar esses desafios,
garantindo que os pacientes tenham acesso e saibam como prosseguir, diante da
possibilidade inevitável do fim.
21

7 POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO

O Projeto de Lei 2460/22 representa um avanço significativo na estruturação


do cuidado paliativo no Brasil, estabelecendo o Programa Nacional de Cuidados
Paliativos. Este programa tem como objetivo garantir a qualidade de vida aos
pacientes que enfrentam doenças ameaçadoras da vida, bem como apoiar suas
famílias durante este processo.
A criação de um programa nacional reconhece a importância desse tema na
saúde pública, e propõe uma série de medidas que visam melhorar a oferta desses
serviços em todo o país. O projeto busca garantir a universalidade, a integralidade e
a equidade no acesso, princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS).
O projeto contempla ações em diferentes níveis de cuidado. No nível primário,
prevê a capacitação de profissionais de saúde para identificar precocemente
pacientes que necessitam de tais medidas e para prestar um cuidado básico e
adequado. No nível secundário, propõe a criação de equipes multidisciplinares de
cuidados paliativos nos hospitais, para fornecer um cuidado especializado. No nível
terciário, sugere a implementação de serviços de referência para o cuidado de
pacientes com necessidades complexas.
Um ponto importante do projeto é a inclusão dos cuidados paliativos na
formação de todos os profissionais de saúde, e não apenas daqueles diretamente
envolvidos no cuidado de pacientes em fim de vida. Isso mostra um entendimento de
que eles são uma responsabilidade de todos os profissionais de saúde, e não
apenas de uma unidade específica.
Há também a previsão da criação de uma rede de apoio para as famílias dos
pacientes, reconhecendo que elas também são afetadas pela doença (de forma
indireta) e necessitam de suporte. Isso inclui a oferta de serviços de apoio
psicológico e social, bem como a inclusão das famílias na tomada de decisões sobre
o cuidado.
Ainda, o projeto estabelece que o cuidado paliativo deve ser baseado em
evidências científicas, e propõe a criação de uma linha de pesquisa para o
desenvolvimento de novas intervenções e a avaliação da efetividade das práticas
existentes.
22

Apesar de representar um importante passo na direção certa, a


implementação do Programa Nacional de Cuidados Paliativos também enfrenta
desafios. Isso inclui a necessidade de garantir recursos financeiros adequados, a
resistência cultural à ideia de “cuidar de alguém que já é fadado a morte” e a
necessidade de adaptar o modelo de cuidado a diferentes contextos regionais e
culturais.
Em suma, o Projeto de Lei 2460/22 é uma iniciativa fundamental para garantir
a dignidade e a qualidade de vida dos pacientes em fim de vida e suas famílias. A
sua implementação exigirá um compromisso contínuo dos gestores de saúde,
profissionais e da sociedade como um todo.
As políticas públicas para cuidados paliativos são vitais para assegurar a
qualidade e a acessibilidade desses serviços, que são essenciais para melhorar a
qualidade de vida de pacientes com doenças graves e suas famílias. No Brasil,
apesar dos avanços recentes, como a proposição do Projeto de Lei 2460/22 que cria
o Programa Nacional de Cuidados Paliativos, a implementação de políticas eficazes
para cuidados paliativos ainda enfrenta desafios.
Existem lacunas na formação dos profissionais de saúde, o que pode levar a
uma identificação tardia das necessidades individuais dos pacientes, além de
dificuldades na comunicação com as famílias. A acessibilidade aos serviços de
cuidados paliativos também é uma questão crucial, com grandes disparidades
regionais. Embora alguns hospitais e instituições de referência ofereçam serviços de
alta qualidade, muitos pacientes ainda não têm acesso a esses serviços,
especialmente em comunidades mais pobres.
Para superar esses desafios, as políticas públicas para cuidados paliativos no
Brasil precisam focar na capacitação dos profissionais de saúde, na integração dos
cuidados paliativos em todos os níveis de atenção à saúde e na ampliação do
acesso a esses serviços. Além disso, é importante garantir o financiamento
adequado dos serviços de cuidados paliativos e incentivar a pesquisa e a geração
de evidências nesta área.
Em um contexto internacional, vários países têm políticas bem-sucedidas de
cuidados paliativos. Por exemplo, no Reino Unido, esses cuidados são integrados
em todos os níveis do sistema de saúde, e existe um forte foco na capacitação dos
profissionais de saúde e na pesquisa adaptável de se criar novos mecanismos para
otimizar o tratamento. Além disso, os serviços de cuidados paliativos são financiados
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pelo Sistema Nacional de Saúde (NHS), garantindo a acessibilidade desses serviços


a todos os pacientes que necessitam deles.

Na Austrália, existe um Plano Nacional de Cuidados Paliativos que estabelece


uma estrutura para a prestação desses serviços em alta qualidade por todo o país.
Este plano aborda questões como a formação de profissionais de saúde, o apoio às
famílias, a pesquisa em cuidados paliativos e a avaliação e melhoria contínua dos
serviços.
Na Suíça, os cuidados paliativos são reconhecidos como uma parte integral
do sistema de saúde e são financiados pelo sistema de seguro de saúde obrigatório.
O país também tem um forte foco na pesquisa sobre o assunto, com vários centros
de pesquisa dedicados a esta área. Essas experiências internacionais podem
oferecer lições valiosas para o Brasil e outros países que buscam melhorar suas
políticas de saúde.
Em termos constitucionais, em um viés de direitos da pessoa humana, a
garantia do direito à vida é estabelecida no artigo 5º da Constituição Federal
brasileira, afirmando, claramente, que

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


assegurando-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País o
direito inalienável à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade [...]”.

Essencialmente, isso implica que a vida é intocável e inalienável. De acordo


com Roberto Dias (2010, 189), a inviolabilidade deste direito implica que ninguém
pode ser dele privado de forma arbitrária. Portanto, é visto como inalienável:
ninguém tem o direito de dispor da vida de outra pessoa.
O princípio constitucional de inalienabilidade da vida se aplica a terceiros,
proibindo qualquer ação que possa tirar a vida de outra pessoa. Portanto, é a
prerrogativa de cada indivíduo decidir sobre a extensão de sua própria vida,
especialmente quando enfrenta grande sofrimento (DIAS, 2010, p. 190), pois não
existe uma obrigação constitucional de viver.
O direito de morrer com dignidade, embora não seja explicitamente protegido
na Constituição Federal de 1988, é elucidado por Santoro (2012, p.87) como sendo
24

intrinsecamente relacionado ao fim natural da vida humana, ao processo de


humanização e ao entendimento de que o momento da morte deve ser breve e livre
de sofrimento, rodeado por entes queridos, e, acima de tudo, baseado na dignidade
humana. Portanto, mesmo que a morte não seja explicitamente mencionada na
Constituição, argumenta-se que está implicitamente incluída no princípio da
dignidade humana.
Neste contexto, é crucial fornecer qualidade de vida ao indivíduo, prevenindo
qualquer degradação no fim de sua vida, como a manutenção artificial, degradante
ou desumana da vida (SANTORO, 2012, p.86). Os Cuidados Paliativos, neste
sentido, são considerados uma medida terapêutica que não visa curar, mas sim
melhorar o bem-estar do paciente (ANCP, 2006, p.11). A Organização Mundial da
Saúde (OMS) adotou o termo Cuidados Paliativos devido à dificuldade em traduzir
corretamente o termo original, Hospice (MACIEL,2008, p.18). A OMS (2002) define
Cuidados Paliativos como:

"Uma assistência prestada por uma equipe multidisciplinar que visa


melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares, frente a uma
doença que ameaça a vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, da
identificação precoce, avaliação impecável e tratamento da dor e outros
sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais."

A análise de opiniões médicas do Conselho Federal de Medicina (CFM) e de


documentos de Associações Internacionais de Cuidados Paliativos revelou três tipos
distintos de cuidados paliativos: cuidados básicos (como alimentação e hidratação),
cuidados de conforto e higiene.
Aqui indicamos que os cuidados paliativos sempre visam aliviar a dor do
paciente e de sua família. A falta de higiene (do corpo e do ambiente) ou a má
gestão do controle da dor pode resultar em sofrimento e angústia para os familiares,
o que contradiz a finalidade dos dessa metodologia.
Como os cuidados paliativos têm como objetivo aliviar o sofrimento do
paciente, descobriu-se que os cuidados mencionados, identificados
metodologicamente, estão alinhados com a Bioética. Quando implementados,
garantem beneficência, autonomia, proporcionalidade, não abandono, entre outros.
Portanto, a base dos cuidados paliativos reside na melhoria da qualidade de
vida do paciente e de seus familiares, tentando proporcionar-lhes uma morte digna.
25

Além disso, estão em harmonia com os direitos fundamentais, pois sua


intenção não é acelerar a morte do paciente, mas sim garantir a dignidade humana,
de acordo com o artigo 1º, III, da Constituição Federal de 1988. Isso preserva o
paciente de qualquer tratamento desumano ou degradante, conforme estipulado no
artigo 5º, III, também da Constituição.
Nessa linha de pensamento, a análise de algumas recomendações
internacionais mostrou que existe um apelo para proteger o acesso aos cuidados
paliativos como um Direito Humano. A Carta de Praga, redigida pela Associação
Europeia em Cuidados Paliativos (EAPC), em colaboração com o Observatório de
Direitos Humanos, defende esse direito fundamental.
Adicionalmente, a Associação Latino-Americana em Cuidados Paliativos
(ALPC) também recomenda que o acesso aos cuidados paliativos seja considerado
um direito humano, já que esse direito é frequentemente negligenciado (ALCP,
2008, p.39).
A partir dessas considerações e legislações existentes, os resultados estão
diretamente apontados e alinhados com os direitos fundamentais, até mesmo de
acordo com recomendações internacionais.
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27

8 CONCLUSÃO

O estudo realizado oferece um retrato complexo e diversificado dos cuidados


paliativos no Brasil, elucidando tanto os desafios quanto as potenciais oportunidades
de progresso neste campo. No entanto, a análise histórica revela uma imagem
nuançada da evolução dos cuidados paliativos desde a década de 1980. Apesar dos
avanços notáveis, barreiras consideráveis permanecem, incluindo a insuficiência de
recursos, a formação deficiente dos profissionais de saúde e a falta de políticas
públicas direcionadas.
A qualificação dos profissionais de saúde emerge como um aspecto crítico. O
aprimoramento dos currículos dos cursos de saúde com a inclusão de treinamentos
e educação continuada em cuidados paliativos poderia impulsionar a qualidade do
atendimento. Paralelamente, o desenvolvimento de programas de treinamento para
profissionais já em exercício é fundamental para a aquisição e o aperfeiçoamento de
habilidades específicas. A natureza holística dos cuidados paliativos, que engloba a
família do paciente e a sociedade em geral, é outro ponto crucial. É imprescindível
entender os cuidados paliativos não meramente como uma série de práticas
médicas, mas como um sistema de cuidado integrado que abarca dimensões
emocionais, espirituais e práticas. Nesse contexto, se torna evidente a necessidade
de oferecer orientação e apoio apropriados às famílias durante este período
desafiador.
Uma questão adicional a ser abordada é o estigma cultural que rodeia os
cuidados paliativos. É imprescindível empreender esforços para educar a população
sobre a essência e a importância desse tema, rompendo a falsa associação destes
com a ideia de resignação ou fracasso.
Adicionalmente, a implementação de políticas públicas e legislações
específicas é uma demanda urgente. A formulação de um programa nacional que
assegure universalidade, integralidade e equidade no acesso a tais serviços seria
um avanço significativo.
Para resumir, o estudo ilustra que os cuidados paliativos são uma questão
multifatorial que demanda uma abordagem integrada e holística para ser
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implementada efetivamente. Ainda que persistam desafios, é possível identificar


trajetórias e estratégias viáveis para superá-los e, assim, aprimorar a qualidade de
vida de pacientes em condições graves e incuráveis e de suas famílias. A evolução
deste campo da saúde é, portanto, não só desejável, mas absolutamente
necessária.

Para lidar com a falta de recursos, a busca por financiamento público e


privado para os cuidados paliativos deve ser intensificada. Além disso, parcerias
com organizações não-governamentais e instituições de caridade podem ser
estabelecidas para complementar os recursos existentes. O uso eficiente dos
recursos também deve ser promovido, por meio da integração com outros serviços
de saúde.
Na formação dos profissionais de saúde, propomos a inclusão obrigatória de
módulos sobre cuidados paliativos nos currículos de graduação e pós-graduação em
saúde. Além disso, a criação de programas de treinamento em serviço pode ajudar a
atualizar as competências dos profissionais já em atividade. O envolvimento de
profissionais experientes no desenvolvimento e implementação desses programas
de treinamento também é recomendado.
A implementação de políticas públicas voltadas para os cuidados paliativos é
crucial. Sugerimos a criação de um programa nacional de cuidados paliativos, que
garanta o acesso universal e equitativo a esses serviços. Além disso, a legislação
deve ser atualizada para refletir a importância do tema na garantia dos direitos dos
pacientes.
Para superar o estigma cultural, campanhas de conscientização pública
devem ser realizadas para educar a população sobre o valor e o propósito desses
cuidados. Essas campanhas podem incluir depoimentos de pacientes e familiares
que beneficiaram da situação, como por exemplo, a forma que o luto é mais
confortante, bem como também de profissionais de saúde envolvidos nesse campo.
E em reforço a abordagem holística dos cuidados paliativos, é importante
promover a colaboração entre médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos
e outros profissionais envolvidos na assistência ao paciente. Isso pode ser feito
através da criação de equipes multidisciplinares de cuidados paliativos. Além disso,
a família do paciente deve ser envolvida no processo de cuidado, sendo oferecido a
eles o suporte emocional e prático necessário.
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REFERÊNCIAS

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cancer. The Lancet Oncology, v. 8, n. 5, p. 430, 2007.

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