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O CICLO DO SANGUE

da captação de
doadores à transfusão
de hemocomponentes

UNIDADE 2
A trajetória das
doações de sangue

Leilanne Kelly Borges de Albuquerque Santos


Manuela Pinto Tibúrcio
Caro aluno, você já conhece a evolução histórica e o perfil das doações
de sangue no Brasil. Agora, vamos estudar mais detalhadamente cada
etapa do ciclo do sangue. Iniciemos nosso estudo com os seguintes
questionamentos: por que a doação de sangue ainda é um problema
mundial? Você já ouviu falar de alguém que foi à farmácia comprar
sangue? Será que no futuro isso será possível?

A doação de sangue é, ainda hoje, um problema de interesse mundial,


pois, apesar dos altos investimentos na busca de um substituto para o
sangue, não existe uma substância que possa substituir o tecido sanguí-
neo em sua totalidade. Não podemos simplesmente ir à farmácia para
comprar sangue! O sangue é produto humano insubstituível, por isso
que é necessário o engajamento de toda a sociedade durante todo o
processo de doação de sangue.

De um lado, o Estado se comprometendo em viabilizar as


Políticas de Sangue nos diferentes níveis: nacional, estadual
e municipal; do outro, a comunidade amplamente represen-
tada, com responsabilidade e cidadania, ajudando a manter
os estoques de sangue por meio das doações voluntárias.

As transfusões de hemocomponentes podem salvar vidas e melhorar a


saúde dos pacientes, mas assim como outras intervenções terapêuticas,
podem levar a complicações agudas ou tardias, como o risco de trans-
missão de doenças infecciosas e outras complicações clínicas. Mas não
vamos ter pressa! As reações adversas relacionadas ao uso do sangue
serão vistas na unidade 4 do nosso módulo.

Agora vamos compreender melhor o ciclo do sangue. Você sabe qual a


importância dessa compreensão?

O ciclo do sangue compreende várias etapas, que vão desde a captação


de doadores até a administração dos hemocomponentes ao paciente,
com o propósito de aumentar a segurança transfusional por meio do uso
mais qualificado dos hemocomponentes. Todo o processo é mediado
por tecnologia de ponta e recursos humanos altamente especializados,
o que acaba se tornando uma prática cara para o SUS. Tais particularida-
des tornam indispensável a racionalização na utilização dos hemocom-
ponentes, considerando sempre a segurança do doador, do receptor e a
disponibilidade de acesso.

Ao final desta unidade você será capaz de descrever todas as etapas


do processo de doação de sangue, desde a captação de doadores até o
processamento, armazenamento e distribuição de hemocomponentes;

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definir os cuidados que devem ser desempenhados em cada etapa do
ciclo do sangue.

Quer saber mais sobre as especificidades de cada etapa do ciclo do


sangue? Como cada uma delas contribui para garantir a qualidade e
a segurança do sangue? Acompanhe a trajetória de Luís Eduardo no
Hemocentro explorando nosso fluxograma.

1 - CAPTAÇÃO DE DOADORES
Vocês viram na unidade 1 do nosso módulo que as estatísticas nacionais
não acompanham o aumento das transfusões. O Brasil tem dificuldades
em manter o estoque de sangue para atender as necessidades específi-
cas e emergenciais da população.

Por esse motivo, os hemocentros brasileiros possuem um setor de


captação de doadores, onde são elaboradas estratégias educativas, de
marketing e campanhas para conquistar doadores de sangue. Os pro-
fissionais envolvidos na captação planejam, executam, monitoram e
avaliam estratégias a fim de sensibilizar, conscientizar e educar a popu-
lação para a doação voluntária, responsável e habitual.

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Você saberia citar algumas estratégias que esses profissionais
utilizam na captação de doadores? Você já foi alvo de alguma
estratégia de captação de doadores? Se a resposta foi sim,
essa estratégia influenciou de forma positiva a sua decisão
de doar sangue?

As ferramentas utilizadas pelos serviços de hemoterapia são muitas,


desde campanhas em escolas, ambientes de trabalho e outros locais, até
o uso de ferramentas de mídia escrita e falada. Estratégias individuais
também fazem parte da captação de doadores, por meio de convites e
convocações de doadores específicos, contato com familiares de pacien-
tes transfundidos ou que serão submetidos a cirurgias e procedimentos
com alta demanda de hemocomponentes.

Lembram do Luís Eduardo? Ele algumas vezes cogitou doar sangue de


forma voluntária, mas isso nunca se concretizou. Foi preciso que o seu
primo necessitasse de uma alta demanda de hemocomponentes para
que ele criasse coragem de ir ao Hemocentro. Para a captação de doado-
res, a equipe do hospital entrou em contato com a família de Carlinhos e
logo criou-se uma corrente de familiares e amigos em prol das doações
de sangue. Esses são os chamados doadores por reposição.

Agora vamos compreender quem são os profissionais envolvidos na


captação de doadores de sangue?

A captação pode ser desenvolvida por profissionais do serviço social,


pedagogia, enfermagem e comunicação social, mas na maioria dos
hemocentros brasileiros esse processo é comandado por assisten-
tes sociais. Na busca por doadores, devem ser abordadas pessoas
sadias e que atendam aos requisitos básicos para a doação. Quais são
esses requisitos?

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Conheça os requisitos básicos para a doação de sangue:
• estar em boas condições de saúde;
• ter entre 16 e 69 anos, 11 meses e 29 dias, desde que a pri-
meira doação tenha sido feita até 60 anos (menores de 18
anos devem ter autorização do responsável legal);
• pesar no mínimo 50kg;
• estar descansado (ter dormido pelo menos 6 horas nas últi-
mas 24 horas);
• estar alimentado (evitar alimentação gordurosa nas 4 horas
que antecedem a doação);
• apresentar documento original com foto recente, que permita
a identificação do candidato, emitido por órgão oficial.

Para a prática atual de captar doadores recomenda-se a conscientização


dos potenciais candidatos sobre a importância da doação de sangue
e o fornecimento de informações básicas sobre critérios para doação.
Neste trabalho é importante explicar o processo de doação de sangue,
esclarecendo os mitos e tabus que o acompanham há décadas. Além
disso, é imprescindível tranquilizar os candidatos de que se trata de um
procedimento realizado sob supervisão médica, utilizando materiais
descartáveis que diminuem os riscos infecciosos aos doadores. Assim
fica mais fácil doar, não é mesmo?

Com a finalidade de proteger os doadores, a Portaria nº 158, de 04


de fevereiro de 2016, adota alguns critérios e medidas relacionados à
frequência anual máxima de doações e o intervalo mínimo entre elas.
Você saberia dizer qual o intervalo de tempo em que as pessoas podem
doar sangue? Será que existem diferenças para homens e mulheres?

Para homens, a frequência máxima de doações permitidas


é de quatro doações anuais, com o intervalo mínimo de dois
meses entre elas. Para as mulheres, a frequência máxima é
de três por ano, com o intervalo mínimo de três meses entre
as doações.

Lembre-se! Nesta etapa, a informação deve ser a base da decisão de


doar ou não doar sangue!

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2 - RECEPÇÃO E CADASTRAMENTO
Quando Luís Eduardo chegou ao serviço para doar sangue, ele foi
encaminhado para a recepção, onde foi feito um cadastro com dados
que permitem a sua identificação clara e inequívoca e possibilitem a sua
localização futura.

Figura 1 - Luís Eduardo apresenta sua documentação no momento do cadastro.

Para esse cadastro, o serviço poderá utilizar e armazenar fotografias


digitais, registros biométricos, entre outros mecanismos, a fim de garan-
tir uma identificação segura.

É obrigatório que o candidato esteja portando um documento de


identificação com fotografia, emitido por órgão oficial, sendo aceito
pelas normas brasileiras: Carteira de Identidade, Carteira Nacional de
Habilitação, Carteira de Trabalho, Passaporte, Certificado de Reservista
e Carteira Profissional emitida por classe.

E se, por acaso, Luís Eduardo só tivesse em posse da cópia de


sua carteira de identidade e do crachá com foto da instituição
em que trabalha? Nesse caso, ele poderia doar sangue? Ele
simplesmente não poderia doar sangue até levar a carteira
original ou qualquer outro documento acima listado. Xerox só é
aceita se autenticada, conforme determinação da Portaria 158.

Nesse cadastro devem constar as seguintes informações relativas ao


candidato: nome completo, sexo, data de nascimento, número e órgão
expedidor do documento de identificação, nacionalidade e naturalidade,

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filiação, ocupação habitual, endereço e telefone para contato, número
de registro do candidato no serviço ou no programa de doação de san-
gue e a data do comparecimento.

Uma vez cadastrado, o candidato recebe e é estimulado a ler material


informativo sobre as etapas e os critérios básicos para doação de
sangue, além de orientações relativas a comportamentos e situações
que contraindicam a doação, e também sobre o que acontece com seu
sangue após a doação.

Curioso para saber tudo o que acontece nesse processo? Acompanhe a


partir de agora a trajetória de Luís Eduardo no hemocentro para doar
sangue. Veja Vídeo 1, que está no AVASUS.

Vídeo 1 - Recepção e cadastramento

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3 - TRIAGEM
Os candidatos à doação devem passar por uma “seleção” antes de doa-
rem sangue. Essa seleção é de responsabilidade do serviço de hemote-
rapia que realiza a coleta do sangue e deve ser feita por profissional de
saúde de nível superior habilitado, sob supervisão médica, no mesmo
dia da doação/coleta. É realizada com o intuito de selecionar, dentre os
candidatos apresentados, somente aqueles que preencham os critérios
desejáveis para um doador de sangue.

PRÉ-TRIAGEM
Após realizar o cadastro, Luís Eduardo foi encaminhado para a pré-tria-
gem, onde serão aferidos e registrados os seus dados antropométricos
e os sinais vitais. A pré-triagem pode ser realizada por um profissional
de nível médio, no entanto, a avaliação desses dados e as orientações
devem ser feitas pelo triador, que é um profissional de nível superior.

Você conhece os critérios utilizados na pré-triagem para a doação de


sangue? Saiba os valores dos dados antropométricos e sinais vitais con-
siderados normais para doação:

•  Peso: no mínimo 50 kg. Não serão selecionados candidatos à doação que


apresentarem perda de peso corporal inexplicável superior a 10% da massa
corporal nos três meses que antecederam a doação.

•  Pressão arterial (PA): a pressão sistólica não deve ser maior de 180mmHg e
a pressão diastólica não deve ser maior que 100mmHg.

•  Pulso: deverá apresentar características normais, ser regular e sua frequên-


cia não deve ser menor que 50 nem maior que 100 batimentos por minuto.

•  Temperatura corpórea: é um importante indicador de infecção e não pode


estar superior a 37 °C.

•  Dosagem de hemoglobina (Hb) ou determinação de hematócrito (Ht) em


amostra de sangue do candidato à doação obtida por punção digital ou
venopunção: devem estar em níveis compatíveis para doação de sangue,
sendo que os valores mínimos aceitáveis são:

• Mulheres: Hb = 12,5 g/dL ou Ht = 38%; e

• Homens: Hb = 13,0 g/dL ou Ht = 39%.

O candidato que apresentar níveis de Hb igual ou maior que 18,0 g/dL ou


Ht igual ou maior que 54% será impedido de doar e encaminhado para
avaliação clínica.

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Figura 2 - Luís Eduardo verificando sinais vitais e realizando o microhematócrito.

A pré-triagem pode ser realizada em qualquer local? O espaço reservado


para a pré-triagem deve ser arejado, climatizado e contar com lavatório
com sabão líquido e toalha de papel, recipientes específicos para descarte
dos resíduos comuns, biológicos e perfurocortantes produzidos, além
de esfigmomanômetro, estetoscópio, termômetro clínico, balança
antropométrica, caneta e computador para que dados possam ser
inseridos no sistema.

TRIAGEM CLÍNICA
Após sair da pré-triagem, Luís Eduardo é dirigido para a sala de triagem
clínica. Como parte essencial do processo de doação de sangue, o can-
didato deve ser submetido a uma entrevista individual, confidencial e
sigilosa com a finalidade de avaliar suas condições de saúde e hábitos

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de vida a fim de assegurar tanto a sua segurança durante a doação,
como a segurança dos pacientes que receberão o seu sangue.

Você consegue compreender a importância dessa etapa? A triagem clí-


nica é parte crucial no processo de doação de sangue, pois durante a
entrevista o triador pode identificar situações de risco para a janela imu-
nológica, uma vez que a transmissão de doenças pelo sangue não pode
ser totalmente evitada com a realização dos testes sorológicos.

Esta etapa deve ser realizada por um profissional da área da saúde de


nível superior, devidamente capacitado e sob supervisão médica.

Mas será que apenas o conhecimento em legislação hemote-


rápica é suficiente para que um profissional de nível superior
possa realizar triagem clínica? Na verdade, além de conheci-
mento em hemoterapia, o profissional deve ter habilidade e,
principalmente, sensibilidade para analisar as informações e
as expressões do candidato à doação.

Também é importante que ele mantenha uma postura ética, o sigilo de


todas as informações e saiba se comunicar adequadamente. Tudo isso
é importante porque o profissional deve passar segurança ao doador,
devendo estabelecer com ele uma relação de confiança, que favoreça
um ambiente de credibilidade, sem preconceitos ou julgamentos.

Figura 3 - Luís Eduardo na triagem clínica para doação.

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Como já falamos, além do triador avaliar os parâmetros obtidos na
pré-triagem, durante a entrevista ele também avalia diversos critérios
relacionados a condições de saúde e hábitos de vida do doador. Você
saberia dizer quais são esses critérios? Pois bem, são muitos! Por isso
que, durante a condução da entrevista, o triador utiliza um roteiro estru-
turado de acordo com os critérios definidos na Portaria de nº 158/2016
(BRASIL, 2016). Vamos conhecê-los?

•  Aspectos gerais do candidato, que deve ter aspecto saudável à ectoscopia e


declarar bem-estar geral;

•  condição de imunizações e vacinações do candidato;

•  local da punção venosa em relação à presença de lesões de pele e caracte-


rísticas que permitam a punção adequada;

•  histórico de transfusões recebidas pelo doador. Candidatos que tenham


recebido hemocomponentes ou hemoderivados nos últimos 12 (doze)
meses devem ser excluídos da doação;

•  histórico de doenças infecciosas;

•  histórico de enfermidades virais;

•  histórico de doenças parasitárias;

•  histórico de enfermidades bacterianas;

•  estilo de vida do candidato a doação;

•  situações de risco vivenciadas pelo candidato;

•  histórico de cirurgias e procedimentos invasivos.

Após a entrevista, de acordo com os critérios estabelecidos na Portaria, o


candidato deve ser classificado como apto à doação, inapto temporá-
rio (impedido de doar sangue por um período determinado de tempo),
inapto por tempo indeterminado (impedido de doar sangue por um
período indefinido de tempo) e inapto definitivo (nunca poderá doar
sangue para outra pessoa).

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Aposto que neste momento milhares de questionamentos
estão passando pela sua cabeça. “Quem tem diabetes pode
doar sangue?”, “Com quanto tempo após a minha cirurgia
posso ser um doador?”, “Quem possui piercing e tatuagem
pode doar sangue?”, “Grávidas podem doar?”. Todas essas
questões e tantas outras sobre os critérios de doação você
pode sanar lendo os anexos I, II, III e IV da portaria nº 158/2016,
que você pode consultar na biblioteca do curso.

Vamos revisar essa etapa acompanhando o Vídeo 2, que você pode


acessar no AVASUS.

Vídeo 2 - Pré-triagem e triagem clínica

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4 - COLETA DE SANGUE DO DOADOR

COLETA DE SANGUE CONVENCIONAL


Após ser submetido aos procedimentos de triagem clínica e ter sido con-
siderado apto para doação, Luís Eduardo é conduzido para a sala de
coleta. A coleta é um processo minucioso e deve ser realizado com rigor
por um profissional de enfermagem devidamente treinado para esta ati-
vidade, sob a supervisão de um médico ou enfermeiro, a fim de prestar
uma assistência de qualidade para conquistar definitivamente o doador
do sangue, tanto no aspecto técnico como no acolhimento.

O doador precisa ir em jejum para poder doar sangue?


Definitivamente não! Ao contrário, ele precisa estar muito
bem alimentado. Assim como muitos doadores, Luís Eduardo
chegou ao Hemocentro em jejum, utilizando a mesma lógica
de quem vai fazer exames laboratoriais. Ele foi encaminhado
para fazer um lanche antes da doação.

Alguns minutos após o lanche, inicia a coleta de sangue total. Vamos


compreender como acontece esse procedimento?

A coleta de sangue total deve ser realizada em bolsas plásticas com


sistema fechado, estéril e apirogênico destinado especificamente para
esse fim. O sistema é formado pela bolsa coletora, contendo solução
conservante e anticoagulante, que é ligada por meio do tubo de coleta
à agulha usada para a venopunção; essa bolsa coletora é interligada
a bolsas satélites, que podem ser em número de 1 a 3, formando um
sistema de bolsas duplas, triplas ou quádruplas, o que possibilita o
posterior fracionamento do sangue.

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Figura 4 - Bolsa de coleta de sangue

Antes da coleta, as bolsas e os tubos de coleta para exames laboratoriais


passam por um processo de rotulagem a fim de garantir a consistên-
cia do conjunto, ou seja, que todas as bolsas, tubos e o respectivo doa-
dor tenham recebido o mesmo número de identificação. Eles recebem
rótulos de identificação apropriados, por código de barra ou etiqueta
impressa, que permitem a rastreabilidade dos produtos obtidos e dos
profissionais que realizam o procedimento. Trata-se de um momento
crucial do fluxo de atendimento do doador, exigindo muita atenção por
parte do profissional que faz o atendimento, tanto em relação a checa-
gem dos rótulos, para se evitar enganos e trocas nessa fase, quanto em
relação a criação de vínculo com o doador.

Após a rotulagem da bolsa, o processo de coleta está pronto para ser ini-
ciado. Uma dúvida muito frequente é: qual a quantidade de sangue que
é retirada do doador? Será que essa quantidade é a mesma para todas
as pessoas? Essa quantidade difere entre homens e mulheres?

O tipo da bolsa e o volume a ser coletado são determinados pelo triador.


Esse volume deve ser no máximo 8ml/kg de peso para mulheres e 9ml/
kg de peso para homens, que corresponde a 450ml ± 45ml por doação,
aos quais podem ser acrescidos até 30ml para a coleta de amostras para
testes laboratoriais.

E se as bolsas coletadas tiverem uma quantidade de sangue total menor


do que a preconizada? Coletas de bolsas com volume de 300 a 404ml

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de sangue poderão ser utilizadas apenas para a produção de concentra-
dos de hemácias de baixo volume; se a bolsa tiver menos de 300ml, ela
não poderá ser utilizada e terá que ser desprezada.

Assim como Luís Eduardo, muitas pessoas tem o mesmo ques-


tionamento: doar sangue dói? Lógico que o momento da pun-
ção pode ser doloroso, mas, para minimizar o desconforto e
a dor, recomenda-se que a agulha seja da melhor qualidade,
que tenha bisel com muito bom corte e que seja siliconizada.

É importante que o doador esteja muito à vontade, seguro e relaxado


para que a doação prossiga sem problemas. Ele deve sentar-se conforta-
velmente na cadeira de doação para que o profissional possa inspecio-
nar e palpar a fossa antecubital do seu braço para a escolha da veia a ser
puncionada. Como deve ser a escolha do acesso para a punção? Quais
os cuidados que o profissional deve ter neste momento?

O profissional deve escolher uma veia proeminente, calibrosa e firme,


dando preferência à veia cubital mediana. É importante evitar punção em
locais com lesões dermatológicas ou cicatriciais, inclusive as relacionadas
a punções anteriores, pois eles costumam ser colonizados por bactérias
que podem favorecer a contaminação do produto a ser coletado.

Embora seja impossível garantir a esterilidade da superfície da pele do


doador, a antissepsia no local da flebotomia deve ser muito bem realiza-
da, em duas etapas, para prevenir a contaminação do sangue coletado.
O produto escolhido para a antissepsia deve ser registrado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e ser próprio para uso em ser-
viços em saúde, sendo recomendado a sua secagem completa antes da
realização da punção venosa. Normalmente são recomendados antis-
sépticos à base de clorexidina a 2% como primeira escolha e aqueles à
base de iodo como de segunda escolha.

Deve-se tentar conseguir o acesso venoso em uma única punção, mas,


se for necessária uma segunda tentativa, é mandatório utilizar uma nova
bolsa e repetir todo o processo de antissepsia. O profissional deve ter
cuidado para não atingir artérias e nervos, evitando a excessiva manipu-
lação da agulha após a sua inserção na pele.

Durante a coleta, as bolsas deverão ser continuamente homogeneiza-


das, de preferência com o auxílio de um homogeneizador. Outra dúvida
bastante frequente é: quanto tempo demora a coleta de sangue total?
Existe um tempo ideal? Sim, existe!

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O tempo ideal de coleta é de 12 minutos, não podendo ultrapassar 15
minutos, porque isso interfere na qualidade dos hemocomponentes que
serão produzidos. E se por acaso esse prazo for extrapolado? Passados
os 15 minutos máximos de doação, as bolsas devem ser descartadas.
Isso mesmo! A segurança do doador e do receptor está sempre em
primeiro lugar!

Ao término da coleta, o doador deve ser orientado a pressionar o local


da punção até cessar o sangramento e, em seguida, o local deve ser pro-
tegido com um curativo adesivo.

Figura 5 - Momento da coleta de sangue de Luís Eduardo.

Terminado o processo de coleta, o que o doador deve fazer?


Antes de voltar para a casa com a sensação de dever cumprido,
ele vai receber um lanche para repor as energias e tem que
permanecer no serviço de hemoterapia por, no mínimo, 15
minutos até ser liberado. Se o doador referir que, após a coleta,
irá se deslocar dirigindo um carro, moto ou outro veículo, deve
ser alertado quanto aos riscos, e que se apresentar tontura
deve parar o veículo imediatamente. Se o mesmo referir que
quer fazer exercício logo após a doação, deve ser orientado a
esperar doze horas antes de realizar qualquer esforço físico.

Vamos revisar a coleta de sangue tradicional? Acesse o AVASUS e assista


ao Vídeo 3.

Vídeo 3 - Coleta de sangue convencional

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Coleta de sangue por aférese
Enquanto Luís Eduardo estava na fila para realizar a triagem clínica, ele
encontrou com um colega que iria realizar uma doação de sangue por
aférese. Ele até então nunca havia ouvido falar dessa modalidade de
doação de sangue e ficou muito curioso. Você também? Então vamos
compreender como acontece esse processo!

Você sabe o que significa o termo aférese? Aférese é um termo derivado


de uma palavra grega que significa “separar ou retirar”. É o processo
pelo qual o sangue é retirado do doador/paciente com a separação de
seus componentes por uma máquina coletora, que retém a porção do
sangue que se deseja retirar e devolve os demais componentes ao doa-
dor/paciente.

Vamos aprofundar um pouco mais! Existem diferenças entre a aférese


não terapêutica e a aférese terapêutica. Você saberia dizer quais?

A aférese pode ser realizada tendo em vista dois objetivos: para proce-
dimentos terapêuticos, a máquina coletora remove células ou plasma
relacionados ao desenvolvimento de doenças no paciente e os substitui
por líquidos de reposição ou células sadias; a aférese não terapêutica
consiste na produção de hemocomponentes específicos a partir de doa-
dores selecionados. Podem ser coletados, de forma individual, glóbulos
vermelhos (eritraférese), plasma (plasmaférese) e plaquetas (plaqueta-
férese). Vamos manter o nosso foco na utilização da aférese para a pro-
dução de hemocomponentes, pois é o que vamos estudar nesta aula!

Esse processo é realizado por um equipamento automatizado e contro-


lado por um sistema de software, que permite a grande flexibilidade e
qualidade na separação do sangue por meio da centrifugação. Só pode
ser operado por profissionais habilitados, normalmente enfermeiros,
sob a supervisão de um médico hemoterapeuta.

Vamos compreender como ocorre esse procedimento? Acesse no


AVASUS a animação Coleta de Sangue por Aférese

Animação - Coleta de sangue por aférese

Quais são os efeitos adversos que podem ocorrer no doador no


momento da coleta? Complicações são menos frequentes na doação
por aférese e as reações adversas são, em sua maioria, de natureza leve.
Tais efeitos adversos associam-se, principalmente, ao acesso venoso,
podendo ocasionar hematomas, esclerose, trombose ou infecções;
ao anticoagulante infundido, que pode gerar hipocalcemia transitória
provocando tremores, hipotensão, náuseas, vômitos e dormência nos

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lábios e extremidades; e a fatores ligados ao ambiente, como calafrios,
sensação de frio, piloereção e hipotermia.

O cuidado com a seleção dos doadores e o acompanhamento do proce-


dimento são fundamentais para que o risco de complicações seja mini-
mizado. Mas se mesmo assim algum efeito adverso ainda ocorrer, o rápi-
do diagnóstico e a pronta intervenção por parte da equipe são essenciais
para a reversão dos sintomas, a fim de evitar a perda do procedimento e
o afastamento do doador da coleta por aférese.

Dentre os tipos de doação por aférese, a plaquetaférese é mais


comumente realizada no Brasil. A inexistência da perda de ferro, pela
ausência da retirada de hemácias durante a coleta, permite que as
doações sejam feitas em intervalos menores que a doação de sangue
total, resultando em um maior número de doações de um único doador
ao longo do tempo. O intervalo mínimo entre duas plaquetaféreses em
um doador é de 48 horas, podendo um mesmo doador realizar doações,
no máximo, quatro vezes por mês e 24 vezes por ano. Isso acarreta
melhora no estoque do Serviço de Hemoterapia e permite atender
pacientes que necessitam de múltiplas transfusões de plaquetas
(BIANCHINI et al, 2014).

Outro detalhe importante da plaquetaférese é que cada unidade de


plaqueta colhida por aférese corresponde de 6 a 8 unidades randômicas,
colhidas de forma convencional. Dessa forma, a partir de uma única
doação de plaquetas por aférese é possível proporcionar uma dose
terapêutica para transfusão de um paciente adulto, enquanto que na
doação convencional seriam necessários 6 a 8 doadores para contemplar
a dose terapêutica.

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Figura 6 - Obtenção de dose terapêutica a partir de um único doador.

Vamos retornar a nossa situação problema? Carlinhos, o primo


de Luís Eduardo, está internado para realizar tratamento para
Leucemia Aguda. Seu hemograma mais recente evidenciou
baixo nível de plaquetas, o que levou ao hematologista a
prescrever um concentrado de plaquetas por aférese (CPA).
Lembre-se que um CPA corresponde de seis a oito concentrados
de plaquetas colhidas de maneira convencional. Se Carlinhos
fosse receber transfusão de concentrados de plaquetas con-
vencionais, ele teria contato com no mínimo seis doadores
diferentes, enquanto que recebendo um CPA, ele terá contato
com apenas um doador. O que é mais seguro? Claro que para
a segurança transfusional de Carlinhos, é muito melhor ele
receber sangue de um único doador do que de diferentes
doadores, com diferentes origens e hábitos de vida.

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Você percebeu que a doação por aférese traz benefícios tanto para o
doador, mas principalmente para o paciente que irá receber a trans-
fusão? Você saberia dizer quais são esses benefícios? Para o doador, o
maior benefício é a quantidade a ser coletada, pois é selecionado apenas
o que se deseja coletar, sem necessidade de se extrair aproximadamen-
te 450ml de sangue total como acontece na doação convencional. Para
o paciente, os benefícios são ainda maiores porque aumenta a seguran-
ça transfusional pela menor exposição a diferentes doadores e maior
qualidade do hemocomponente transfundido. Nesse momento você se
pergunta: então porque os serviços de hemoterapia não passam a rea-
lizar apenas a doação de hemocomponentes por aférese? A resposta é
simples: custos! Esse procedimento exige maior investimento e melhor
estruturação do serviço, que necessita de área física, equipamentos e
manutenção adequados, além de recursos humanos altamente qualifi-
cados.

Quer ser você também um doador por aférese? Para realizar doação por
aférese, você já deve ser doador no formato convencional, obedecer aos
critérios exigidos para a doação comum e ter um bom calibre de veia.
Também são exigidos pelo menos 60 quilos para quem vai doar plaque-
tas e 70 quilos para doação de hemácias.

5 - PROCESSAMENTO, ARMAZENAMENTO E
DISTRIBUIÇÃO DOS HEMOCOMPONENTES
Nessa fase, as bolsas de sangue total que foram doadas pelo processo
de coleta convencional devem ser processadas para obtenção dos
componentes do sangue. No Brasil, 100% dessas bolsas devem ser
processadas de acordo com a legislação vigente, dando origem aos
componentes eritrocitários, plasmáticos e plaquetários.

As técnicas de processamento atuais permitem o armazenamento de dife-


rentes hemocomponentes em condições adequadas para preservação de
suas características terapêuticas, possibilitando a transfusão seletiva.

Você sabe em que consiste a transfusão seletiva? A transfusão seletiva


possibilita ao paciente/receptor receber apenas o hemocomponente que
ele necessita, ao invés de receber o sangue total. Quais são os benefícios
da transfusão seletiva? Os benefícios da transfusão seletiva são muitos:
preserva os estoques sanguíneos; permite que sejam transfundidas
grandes quantidades de um determinado hemocomponente do qual o
paciente necessite; evita sobrecarga volêmica por um hemocomponente
desnecessário à terapêutica; melhora a resposta à terapia transfusional;
minimiza os riscos; e, principalmente, permite que, a partir de uma única
doação vários pacientes possam ser beneficiados.

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SIM! Uma única doação realizada pode salvar até quatro vidas!
O sangue total será fracionado em até 04 tipos de hecompo-
nentes (concentrado de hemácias, plaquetas, plasma fresco
congelado e crioprecipitado), cada unidade dessa pode ser
transfundida para uma pessoa diferente.

Figura 7 - Uma doação pode salvar até quatro vidas.

HEMOCOMPONENTE OU HEMODERIVADO?
Existe diferença entre eles? Muitos profissionais de saúde utilizam
essas duas terminologias como sinônimo. Errado! Hemocomponentes
e hemoderivados são produtos distintos: os hemocomponentes são
produzidos em serviços de hemoterapia a partir da coleta de sangue
total, por meio de processos físicos (centrifugação e congelamento).

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São eles: concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, plasma
fresco congelado e crioprecipitado; enquanto que os hemoderivados são
obtidos na indústria, a partir do fracionamento do plasma por processos
físico-químicos. São eles albumina, gamaglobulinas, concentrados de
fatores de coagulação.

Figura 8 - Fracionamento do sangue total.

O processamento do sangue é realizado por meio de centrifugação


refrigerada no intuito de minimizar a contaminação e a proliferação

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microbiana, já que o sangue é um importante meio de cultura. Como
ocorre a centrifugação do sangue?

Em função das diferentes densidades e tamanhos das células


sanguíneas, é possível definir e programar as centrífugas de acordo
com suas velocidades de sedimentação e, com isso, estabelecer a
ordem de separação do sangue total em camadas. Por serem mais
densas, as hemácias se localizam no fundo da bolsa, acima delas forma-
se a camada leucoplaquetária (buffy coat) e, mais acima, a camada de
plasma que contém plaquetas dispersas.

Figura 9 - Centrifugação e separação dos hemocomponentes.

O processamento e a separação dos hemocomponentes são realizados


em sistema fechado, mantendo-se a esterilidade mediante uso de méto-
dos assépticos e soluções estéreis e apirogênicas. Soluções anticoagu-
lantes e soluções aditivas podem ser utilizadas para a conservação dos
produtos sanguíneos, pois impedem a coagulação e mantém a viabilida-
de dos hemocomponentes durante o armazenamento.

A definição de quais os hemocomponentes que serão produzidos a partir


da coleta de sangue total depende de algumas variáveis como: o volume
de sangue total coletado; o tempo de duração da coleta; a temperatura
em que a unidade de sangue total é mantida antes de ser processada; e o
tempo transcorrido entre a coleta e a preparação dos hemocomponentes.
Conheça a seguir os principais hemocomponentes oriundos do processa-
mento do sangue total, suas características e formas de conservação.

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Principais hemocomponentes oriundos
do processamento do sangue

Concentrado de Hemácias (CH)


Composto fundamentalmente por hemácias, contendo
plasma, leucócitos e plaquetas em pequena intensidade.

Validade: entre 35 e 42 dias


Volume: de 220 a 300ml
Conservação: refrigeração entre 2°C e 6°C

Plasma fresco congelado (PFC)


Corresponde ao plasma com todos os fatores de coagulação
preservados.

Validade: até um ano congelado; até 6 horas após descongelado


Volume: igual ou superior a 150ml
Conservação: temperatura controlada entre 18°C e 30°C negativos

Concentrados de plaquetas (CP)


Composto por plaquetas e um pouco de plasma e leucócitos.

Validade: 24h ou 5 dias (no agitador de plaquetas)


Volume: de 50ml a 70ml (sangue total) ou de 200ml a 400ml (aférese)
Conservação: sala com ar condicionado com temperatura controlada
(22°C), sob agitação contínua

Crioprecipitado (CRIO)
Composto por fibrinogênio, fatores de coagulação VIII e
XIII, plasma e fator de Von Willebrand.

Validade: até um ano congelado; até 6 horas após descongelado


Volume: de 10ml a 20ml

Entre os componentes plasmáticos, além do PFC, pode-se obter também


o plasma fresco congelado em 24h (PFC24) e o plasma comum (PC). O
que os diferencia é o tempo entre a coleta e o congelamento. O PFC
deve ser congelado em até 8 horas, enquanto que o PFC24 tem entre 8 a
24h para ser congelado e o PC é congelado após 24h. Consequentemen-
te, esses produtos apresentam propriedades diferentes: enquanto o
PFC contém níveis normais dos fatores estáveis de coagulação, o PFC24
contém quantidade normal de fator V e quantidade um pouco reduzida
de fator VIII e o PC não possui os fatores V e VIII.

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Após a separação, os hemocomponentes podem passar por outras etapas,
como desleucocitação, irradiação e lavagem. Você já tinha ouvido falar nes-
ses processos especiais? Conheça um pouco de cada uma dessas etapas e
a sua importância para atender as necessidades de alguns pacientes:

•  Desleucocitação: é um processo realizado por meio de filtros específicos


para a remoção de leucócitos de um componente sanguíneo celular
(hemácias e plaquetas). Após esse procedimento, ocorre redução de 99%
dos leucócitos do produto inicial. Você sabia que os leucócitos são os
principais vilões que envolvem as reações transfusionais? Por isso, o uso
de hemocomponentes desleucocitados está indicado para pacientes que
apresentam reações transfusionais febris não hemolíticas, para aqueles
com o sistema imunológico deprimido e para os candidatos a múltiplas
transfusões (politransfundidos) para evitar que sejam sensibilizados aos
antígenos leucocitários humanos e suas transfusões se tornem ineficazes.

•  Irradiação: o concentrado de hemácias e o de plaquetas podem ser


submetidos a radiação gama na dose de, pelo menos, 25Gy, impossibilitando
a proliferação dos linfócitos. Esse processo evita que o enxerto
(hemocomponente) rejeite o hospedeiro (receptor da transfusão), sendo
muito utilizado para pacientes transplantados e recém-nascidos prematuros.

•  Lavagem: é obtida por meio da lavagem dos concentrados de hemácias com


solução isotônica de cloreto de sódio estéril (de 1 a 3 litros) com a finalidade
de remover a maior quantidade de plasma possível para evitar reações
alérgicas nos pacientes.

A próxima etapa é a liberação e a rotulagem dos hemocomponentes.


Enquanto aguardam os resultados dos testes imuno-hematológicos,
dos testes sorológicos e de biologia molecular para agentes infecciosos,
os hemocomponentes devem ser segregados em local específico,
devidamente identificados e sob a temperatura que seja adequada para
a conservação de suas propriedades.

As amostras de sangue que foram coletadas no momento da doação,


são enviadas para o laboratório para a realização de exames de qualifi-
cação do sangue do doador. Vamos conhecer quais são esses exames?

•  Exames imuno-hematológicos e pesquisa de hemoglobina S: tipagem ABO


e Rh do doador e pesquisa de anticorpos irregulares (PAI).

•  Exames para triagem de agentes transmissíveis pelo sangue: sífilis; doença


de chagas; hepatite B; hepatite C; HIV; HTLV I/II.

Após a rotulagem, todas as bolsas são liberadas? Somente podem ser


liberadas as bolsas com resultados não reagentes/negativos para testes

25
sorológicos e para os testes de detecção do Ácido Nucléico Viral (NAT).
Mas se as bolsas apresentarem resultados reagentes/positivos?

As bolsas que apresentarem resultados positivos/reagentes serão des-


cartadas e os doadores correspondentes serão convocados para compa-
recer ao serviço a fim de receberem orientações, realizar nova coleta de
sangue para repetir exames e, se necessário, devem ser encaminhados
para atendimento especializados. Eles também são bloqueados para a
doação de sangue no serviço de hemoterapia.

Na biblioteca do curso, acesse o artigo A importância do teste


NAT para os serviços de hemoterapia.

Após a obtenção dos resultados dos exames, os hemocomponentes são


liberados no sistema informatizado e são emitidos os rótulos dos produ-
tos, que devem ficar firmemente aderidos à bolsa plástica, respeitando a
identificação numérica ou alfanumérica que a bolsa traz desde a coleta e
completando o rótulo com as informações referentes à liberação.

Vamos compreender melhor a importância do processo de rotulagem


das bolsas e como ele deve acontecer? Essa etapa de rotulagem é consi-
derada crítica, devendo envolver duas pessoas diferentes, a menos que
seja utilizada a tecnologia de código de barras ou alguma outra forma
eletrônica de verificação devidamente validada. Todo cuidado é pouco,
pois a identificação das bolsas é o que permitirá a sua rastreabilida-
de, permitindo a investigação de eventos adversos que eventualmente
podem ocorrer durante ou após o ato transfusional.

Agora vamos listar as informações que, obrigatoriamente, devem conter


nos rótulos:

•  Nome e endereço do serviço coletor

•  Data da coleta

•  Nome e volume dos hemocomponentes

•  Identificação numérica/alfanumérica da unidade

•  Nome da solução anticoagulante/preservante

•  Temperatura de conservação

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•  Data/hora da validade

•  ABO/Rh da unidade

•  Resultado do PAI e especificidade do anticorpo, se PAI positiva

•  Resultados não reagentes dos testes para doenças infecciosas

•  Número do pool/número das unidades que compõem o pool (para plaquetas)

•  Modificação realizada (leucorredução/irradiação/lavagem)

Finalizada a liberação e a rotulagem, os hemocomponentes deverão


ser armazenados até a sua distribuição para os serviços. Para efetuar
o armazenamento, é necessário avaliar as especificidades de cada pro-
duto para que ele seja mantido em condições de uso durante todo o
período de estocagem.

Quer conhecer melhor as características e o manejo de cada


hemocomponente? Avante!

•  Concentrado de hemácias (CH): o volume de cada unidade varia, aproxi-


madamente, de 220 a 300ml e hematócrito de 65 a 80% nas unidades sem
solução aditiva. No caso de bolsas com solução aditiva, o hematócrito pode
variar de 50% a 70%.

Deve ser mantido a uma temperatura entre 2 e 6°C e sua validade, sob
refrigeração, varia entre 35 e 42 dias, a depender da solução conser-
vadora utilizada na bolsa. Sem a refrigeração, o CH tem validade de
apenas 4 horas.

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Figura 10 - Concentrado de hemácias.

28
Atenção! Ao manusear a bolsa, ter cuidado para não danificar sua
integridade e causar hemólise das hemácias. Portanto, não bater,
não pressionar, não expor a luz solar.

Uma dúvida frequente nos serviços de saúde é: O CH neces-


sita ser aquecido ou pode ser administrado gelado/frio? Ele
pode sim ser instalado frio, como sai da geladeira, pois sua
temperatura rapidamente vai se ajustando durante a infusão.
O sangue só deverá ser aquecido em casos de troca de volemia,
para evitar a hipotermia, e na anemia hemolítica autoimune a
frio para evitar a ativação da doença. Mas, para isso, é neces-
sário utilizar equipamentos especiais e protocolos validados.

•  Concentrado de plaquetas (CP): o volume de cada unidade varia de 50 a


70ml, quando obtida a partir de sangue total, ou de 200 a 400ml se obtida
por aférese. Deve ser armazenado em temperatura de 22°C (sala com ar
condicionado com temperatura controlada), sob agitação contínua.
Uma vez retirada do agitador de plaquetas, deve ser transfundida o mais
rápido possível para evitar a agregação plaquetária.

A validade do CP é de cinco dias, se mantido no agitador de plaquetas e,


fora do agitador, é válido por 24h.

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Figura 11 - Concentrado de plaquetas (CP) e agitador de plaquetas.

•  Plasma Fresco Congelado (PFC): o volume de cada unidade pode ser igual
ou superior a 150ml. Deve ser armazenado em freezer com temperatura
controlada entre 18 e 30°C negativos, com validade de um ano se mantido
nessas condições. A partir do momento em que o plasma é descongelado
para ser transfundido, a sua validade é de apenas 6h. Portanto, caso uma
bolsa descongelada ou semidescongelada não seja utilizada, ela não pode
ser congelada novamente. Deverá ser expurgada após esse período de 6h.

Figura 12 - Plasma Fresco Congelado (PFC).

30
Atenção! O PFC não pode ser descongelado de qualquer
maneira. Deve ser descongelado a temperatura controlada,
idealmente em descongelador a seco, próprio para plasma.
Quando isso não for possível poderá ser utilizado o banho
maria, com temperatura controlada por termômetro a 37°C,
e a bolsa deve ser envolvida em um envoltório plástico para
não permitir a entrada da água já que ela é porosa.

Figura 14 - Plasma em processo de descongelamento.

Caso você perceba que uma bolsa está furada após o des-
congelamento do plasma, o que fazer? Você deverá informar
imediatamente ao Serviço de Hemoterapia para que possa
retornar o produto ao estoque e expurgar como perda.

•  Crioprecipitado (CRIO): o volume da bolsa é de 10 a 20ml, por isso, para


facilitar a infusão, é administrado em pools de até 10 unidades. Assim como
o PFC, o CRIO deve ser mantido congelado a uma temperatura de 18 a 30°
C negativos por um ano. Para transfusão, deve ser descongelado em banho
maria, com todos os cuidados necessários, podendo ser usado posterior-
mente em até 6horas.

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Figura 15 - Crioprecipitado (CRIO).

Após todo esse processo que estudamos nesta unidade, como deve ser
a distribuição dos hemocomponentes para o serviço? A distribuição dos
hemocomponentes para os serviços de saúde ocorre mediante a exis-
tência de um convênio, contrato ou termo de compromisso formaliza-
do entre os serviços envolvidos, com a definição das responsabilidades
entre as partes. Sendo assim, o serviço de hemoterapia fornecedor deve
dar orientações técnicas e supervisionar o transporte e acondiciona-
mento dos hemocomponentes.

O transporte é feito em temperatura que mantenha as propriedades dos


hemocomponentes, utilizando recipientes resistentes, protegidos contra
vazamentos e passíveis de lavagem e desinfecção regular. Os profissio-
nais que transportam hemocomponentes devem ser orientados sobre
as condições de transporte e quais atitudes devem ser tomadas em caso
de intercorrências.

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Figura 16 - Transporte de hemocomponentes, com controle de temperatura.

Acesse o AVASUS e assista ao Vídeo 4 para revisar as etapas do ciclo do


sangue que estudamos neste tópico.

Vídeo 4 – Processamento, armazenamento


e distribuição de hemocomponentes

O que acontece quando os hemocomponentes chegam aos serviços de


saúde para serem transfundidos nos receptores? Vamos estudar todo o
processo transfusional na próxima unidade!

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RESUMINDO
A segurança e a qualidade do sangue e hemocomponentes
devem ser assegurados em todo o processo, por isso a impor-
tância de se cumprir com eficiência e rigor todas as etapas do
ciclo de sangue. Nesta unidade, foram apresentados os critérios,
de acordo com a Portaria n° 158/2016 e os cuidados que devem
ser seguidos nas etapas de captação de doadores – cadastro,
triagem (pré-triagem e triagem clínica), coleta de sangue, proces-
samento, armazenamento e distribuição de hemocomponentes.
A enfermagem, inserida no âmbito da hemoterapia, presta
assistência, orienta e supervisiona o doador de sangue durante
o processo hemoterápico e nas possíveis intercorrências. Para
alcançar significativa qualidade nas ações que desenvolve,
é preciso que os profissionais participem de capacitações
constantemente e que detenham conhecimentos e habilidade
técnica de forma a garantir a segurança durante todo o ciclo
do sangue, reduzindo o risco de causar prejuízos importantes
tanto para doador, quanto para o receptor que, mais tarde, irá
receber o sangue doado.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Hemovigilância:
manual técnico para investigação das reações transfusionais imediatas
e tardias não infecciosas. Brasília: Anvisa, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 158, de 04 de fevereiro de


2016. Redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos.
Brasília: Ministério da Saúde, 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da


Educação na Saúde. Departamento de Gestão do Trabalho na Saúde.
Técnico em hemoterapia: livro texto. Brasília: Ministério da Saúde,
2013. 292 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Atenção Hospitalar e de Urgência. Caderno de informação: sangue
e hemoderivados. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 158 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Departamento de Atenção Especializada e Temática. Guia para uso de
hemocomponentes. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Atenção Especializada e Temática. Manual de orientações para
promoção da doação voluntária de sangue. Brasília: Ministério da
Saúde, 2015. 152 p.

SAKUMA, Alice; OTTOBONI, Maria Ângela Pignata; SIERRA, Patrícia


Cressoni (Coord.). Rede de Serviços Tecnológicos para Sangue e
Hemoderivados. Manual para controle da qualidade do sangue total
e hemocomponentes. São Paulo: RedSang-SIBRATEC, 2011.

BIANCHINI, E. et al. Informativo do Serviço de Hemoterapia e


Assessoria de Comunicação Social do HSVP. Passo Fundo - Rio Grande
do Sul. Ano II - Nº 07 - Dezembro - 2014

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