Você está na página 1de 49

1

CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU


BACHARELADO EM DIREITO

RAÍSSA PFEIFFER GUEIROS DE ALMEIDA

TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS VERSUS TRÁFICO DE ÓRGÃOS:


ONDE FICA A DIGNIDADE HUMANA FRENTE À OBTENÇÃO DOS
ÓRGÃOS?

RECIFE
2020
2

RAÍSSA PFEIFFER GUEIROS DE ALMEIDA

TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS VERSUS TRÁFICO DE ÓRGÃOS:


ONDE FICA A DIGNIDADE HUMANA FRENTE À OBTENÇÃO DOS
ÓRGÃOS?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para conclusão do curso
de Bacharelado em Direito do Centro
Universitário Maurício de Nassau.

Orientador: Me. Arthur Albuquerque de


Andrade.

RECIFE
2020
3

CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU


BACHARELADO EM DIREITO

RAÍSSA PFEIFFER GUEIROS DE ALMEIDA

TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS VERSUS TRÁFICO DE ÓRGÃOS:


ONDE FICA A DIGNIDADE HUMANA FRENTE À OBTENÇÃO DOS ÓRGÃOS?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para conclusão do curso
de Bacharelado em Direito do Centro
Universitário Maurício de Nassau.

Aprovada em: __/__/____.

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________________
Prof Me. Arthur Albuquerque de Andrade (Orientador)
Centro Universitário Maurício de Nassau - UNINASSAU

________________________________________________
Prof ... (Examinador Interno)
Instituição de origem

________________________________________________
Prof ... (Examinador Externo)
Instituição de origem
4

Dedico esse trabalho a todas aquelas famílias que foram


lesadas pela falta de fiscalização perante os transplante de
órgãos. Onde o tráfico ainda é tomado como mito...
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter concluído esse trabalho bendito!


A minha mãe e à pirralha, por estarem sempre comigo.
Ao meu orientador maravilhoso e sempre solícito.
A Bahia por ter me aturado todo esse tempo, e ouvir meus resmungos.
A Beca, pelos rolês furados em prol desde abençoado.
A Kinha por sempre ter as melhores respostas afiadas, doa a quem doer.
A galera do Fundão, que fez essa trajetória ser menos árdua.
A alguns professores maravilhosos, que não serão citados, mas que levarei sempre os
ensinamentos pra vida.
Ao meu vô, que com toda certeza, está vibrando por mim.
E principalmente aos meus parentes que torciam pra ver o nosso fracasso! Sinto muito
queridos, são será nessa encarnação :)
6

“O melhor que se pode fazer ao próximo é


doar um órgão... a fila de pessoas aguardando
um transplante é muito grande!”

Genival Miranda
7

RESUMO

Intitulado “Transplantes de órgãos versus Tráfico de órgãos: Onde fica a dignidade humana
frente à obtenção dos órgãos?”, este trabalho teve como objetivo principal analisar a situação
atual do Brasil em relação ao tráfico de órgãos, pois este crime refletiria diretamente na
garantia dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal (1988), tal qual da
dignidade humana dos pacientes enfermos que esperam na fila por um transplante, pois estes
necessitam de proteção para viverem uma vida saudável. Desta forma, como objetivos
específicos buscou-se entender toda a dinâmica do transporte de órgãos seja esta feita pelos
critérios oficiais, seja esta feita por meio da dark web, bem como procurou-se, também,
associar o crescimento tecnológico como uma via de mão dupla entre a informação e o crime.
Por meio da interação de informações trazidas por doutrinadores constitucionalistas e as
legislações vigentes na sociedade brasileira, a pesquisa teve como base metodológica um
estudo bibliográfico do transplante de órgãos em contrapartida com a lógica do tráfico destes
na ideia de se promover a dignidade humana assim como o direito a saúde aos enfermos que
necessitam de órgãos. Para desempenhar a análise destes dados foi de fundamental
importância explicar as formas de transplantações autorizadas no país, buscando formular
respostas para proporcionar o aumento de doações e consequentemente diminuição da lista de
espera. Mediante a este estudo bibliográfico dos doutrinadores e das legislações brasileiras foi
possível entender que o tráfico de órgãos interfere no fluir da garantia de dignidade aos
pacientes que precisam da transplantação de órgãos para viverem uma vida digna, para tal,
necessita-se de intervenção estatal tanto na formulação de políticas públicas que versem a
criação de programas educativos e informativos a serem vinculados na sociedade com o
intuito de promover a doação de órgãos, quanto na adoção de medidas punitivas para o
mercado negro.

Palavras-Chave: Transplantação. Tráfico. Dignidade.


8

ABSTRACT

Entitled “Organ transplants versus organ trafficking: Where is human dignity in terms of
obtaining organs?”, The main objective of this paper was to analyze the current situation in
Brazil in relation to organ trafficking, as this crime would directly reflect on the guarantee of
fundamental rights provided for in the Federal Constitution (1988), as well as the human
dignity of sick patients who wait in line for a transplant, as they need protection to live a
healthy life. Thus, as specific objectives, we sought to understand the whole dynamics of
organ transport, whether made by official criteria, or made through the dark web, as well as
seeking to associate technological growth as a way of hand between information and crime.
Through the interaction of information brought by constitutionalist indoctrinators and the
laws in force in Brazilian society, the research had as methodological basis a bibliographic
study of organ transplantation in contrast to the logic of trafficking in the idea of promoting
human dignity as well as the right to health for the sick who need organs. In order to carry out
the analysis of these data, it was of fundamental importance to explain the forms of
transplantation authorized in the country, seeking to formulate responses to provide an
increase in donations and consequently a reduction in the waiting list. Through this
bibliographic study of Brazilian legal scholars and legislators, it was possible to understand
that organ trafficking interferes with the flow of guarantee of dignity to patients who need
organ transplantation to live a dignified life. in the formulation of public policies that deal
with the creation of educational and informational programs to be linked in society in order to
promote organ donation, as well as in the adoption of punitive measures for the black market.

Keywords: Transplantation. Traffic. Dignity.


9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 100


1 ASPECTOS TÉCNICOS E GERAIS DA TRANSPLANTAÇÃO DE ÓRGÃOS........... 13
1.1 Introdução conceitual de transplante de órgãos............................................................13
1.2 Análise dos transplantes de órgãos e tecidos inter vivos e post
mortem......................................................................................................................................16
1.2.1 Transplante inter vivos....................................................................................................16
1.2.2 Transplantes post mortem................................................................................................18
1.3 O tráfico de órgãos pelo mundo..........................................................................................20
2 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E SEUS DIREITOS
FUNDAMENTAIS...................................................................................................................22
2.1 Legislações sobre transplantes de órgãos.........................................................................25
2.2 Penalidades previstas ao tráfico ilegal de órgãos ............................................................. 28
3 O ROMPIMENTO DAS NORMAS DE DIREITOS HUMANOS ANTE AO
TRANSPLANTE ILEGAL .................................................................................................. 30
3.1 Os Direitos Humanos na Internet......................................................................................31
3.2 A ONU e normas específicas sobre transplante de órgãos...............................................34
3.3 Dark Web e a facilidade dos meios alternativos.................................................................36
3.4 Direitos Humanos violados no tráfico ilegal de órgãos......................................................38
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 40
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 43
10

INTRODUÇÃO

Ao ser humano, desde que nascido com vida, é destinado diversos direitos, estes, que
podem ser individuais ou coletivos, são uma forma efetiva de se garantir uma vida digna,
logo, versam sobre os direitos fundamentais, sociais e políticos que em seu cerne se propõe
sempre a promover a eficácia dos princípios constitucionais. Neste sentido, quando se fala em
promoção da dignidade da pessoa humana tem-se que observar que esta é fruto de uma junção
de diversos direitos, a saber, direito à vida, a saúde, a alimentação, a moradia, ou seja, só se
pode garantir uma vida digna se todos os direitos forem exercidos por meio do mínimo
existencial.
Por intermédio dessa construção ideológica, observa-se que todos os direitos que hoje
o ser humano tem garantido, fazem parte de uma evolução histórica que organiza cada qual
em seus respectivos lugares. Porquanto, deste emaranhado de direitos pode se extrair um
estudo sobre o direito a saúde, que embora seja uma norma de eficácia limitada, é considerado
de extrema importância para a garantia de uma vida digna.
Quando se fala em direito a saúde, é sabido que como este é uma norma de eficácia
limitada ele necessita que o Estado complemente-o normativamente em sua aplicabilidade, e
no caso brasileiro, este o faz por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e pela Saúde
Suplementar. Infelizmente como todos os brasileiros necessitam de acesso à saúde, alguns
ramos, ou procedimentos não possui tanta assistência quanto outros, pois a prioridade é
sempre quem mais precisa no momento.
Partindo deste entendimento, a assistência à saúde é vista como um sistema a ser
moldado, pois precisa de incentivos governamentais e populacionais em diversas áreas de
atuação, como por exemplo, as doações de sangue, órgãos e medula. No tocante, aos
incentivos governamentais, estes podem ser vistos nas inúmeras políticas públicas que já
foram criadas e estão em atuação e nas demais que ainda estão por vir, além do mais o
incentivo governamental necessita promover uma conscientização sobre a importância que se
tem as doações para quem precisa, vez que no bojo de todas as situações políticas, a
população começa a desacreditar na integridade do sistema.
Já quando se trata dos incentivos populacionais, eles podem ser vislumbrados quando
há uma ação, ou seja, quando o cidadão cumpre seu papel na sociedade quanto à saúde.
Contudo, nem sempre os cidadãos se sentem seguros em ter uma atitude proativa, se for
especificado o caso da doação de órgãos, boa parte população apresenta receio em autorizar a
doação dos órgãos de seu ente falecido, devido aos inúmeros casos de desvios monetários
11

existentes no mundo político, desta forma a população acaba por interligar estes desvios ao
mercado negro de órgãos.
Destrinchando um pouco mais este debate, o presente trabalho se propôs a executar
uma análise sobre a dinâmica da transplantação de órgãos no Brasil, mas antes de adentrar no
cerne da questão é importante explicar que há uma relação íntima entre a realização dos
transplantes de órgãos com os diversos incentivos que a saúde possui, podendo ser esta vista
positiva ou negativamente.
Quando há o lado positivo, não importa se seja legal ou ilegal o transplante é
realizado, pois a população consegue doar e o governo consegue investir. Já quando se
enfatiza o lado negativo, há um dilema moral, as filas para o recebimento do órgão são
enormes e a população tem receio em autorizar a retirada do órgão de seu ente querido
falecido e como consequência lógica há mortes dos que esperam na fila por um órgão ou há a
abertura para o aumento do tráfico ao comprar um órgão clandestino.
Neste sentido convém, portanto, entender que quando há uma deficiência no
funcionamento de um órgão ou tecido, o paciente, bem como sua família, fará tudo o que
estiver a seu alcance para sanar a dor; os que não possuem condições monetárias esperam na
fila por sua vez, e aqueles que possuem, aguardam na fila, mas investem em outras formas
para um alívio rápido de seus sintomas. É importante pontuar, que a lista de espera, a
depender do órgão em questão, não é diferente em relação aos que recorrem a saúde pública
ou a privada.
Pensando por intermédio deste raciocínio é que o presente trabalho intitulado
“Transplantes de órgãos versus Tráfico de órgãos: Onde fica a dignidade humana frente à
obtenção dos órgãos?”, se propõe a analisar como é resguardada a dignidade humana quando
se pretende garantir um mínimo existencial para aqueles pacientes que necessitam realizar um
transplante órgãos ou tecidos para continuarem vivendo.
Fazendo uso, quanto à metodologia, de um levantamento bibliográfico, a pesquisa
qualitativa será exploratória aplicada a um resultado, logo para cumprir tal tarefa o trabalho é
dividido em três capítulos lineares que facilitarão a articulação das informações trazidas pelos
constitucionalistas e pelas legislações específicas com a realidade brasileira a fim de
possibilitar a concretização de formas que levem a uma maior eficácia do sistema de doação
de órgãos e consequentemente sua transplantação no país.
Neste sentido, o primeiro capítulo trará ao debate uma introdução sobre o tema, ou
seja, explicará tecnicamente o que é o transplante de órgãos, situará ele dentro de uma
legislação específica bem como dentro do debate conceitual na qual ele está inserido, para
12

logo após, fornecer uma explicação sobre as formas de transplantes existentes no país, a saber,
o transplante inter vivos e post mortem. Fazendo uso dos ensinamentos de Maria Helena Diniz
(2014) e de Marconi Catão (2004) o capítulo utilizará a compreensão dos artigos da Lei nº
9.434, 1997 para fornecer bases analíticas que possibilitarão a distinção entre as formas de
transplantação.
Continuando o debate, o capítulo se propõe, também, de forma exemplificativa, tratar
sobre o transplante ilegal de órgãos no país, para tal utiliza-se de autores como Michael
Sandel (2015) e Moises Naim (2006) para que por intermédio de seus entendimentos
possibilitar demonstrar que a prática do tráfico de órgãos, burla a lista de espera dos pacientes
e coloca em risco de vida dos doadores desse fluxo.
Nesta desenvoltura, o segundo capítulo se propõe a analisar a dignidade da pessoa
humana interligada fundamentalmente aos direitos da pessoa. Esta dignidade, que será base
para o entendimento de todo o trabalho, é retratada pelos ensinamentos dos teóricos
constitucionalistas, entre eles José Afonso da Silva (2013) e Daniel Sarmento (2016)
interligada no direito a vida e a saúde do paciente que precisa de um órgão para sobreviver. O
capítulo se desenvolverá, portanto, trazendo as formalizações legislativas do transplante de
órgãos e por meio de Giovani Berlinguer (2004), todas as penalidades previstas para quem
executa o tráfico de órgãos no país.
Por fim, o terceiro e último capítulo tem como missão principal demonstrar o quanto a
lista de espera por um transplante, bem como a ilegalidade pode destruir a imagem de
dignidade humana a qual a Constituição pretende zelar. Para corroborar com tal pensamento o
capítulo fará uma análise sobre os direitos humanos tanto físicos quanto virtuais utilizando
para tal das teorias de José Alcebíades de Oliveira Júnior (2000) e Cássio Augusto Barros
Brant (2014), para que dentro das normas internacionais, a saber, o Protocolo de Palermo e a
Declaração de Istambul, entenda como ocorre a violação dos direitos humanos dentro da
chamada Dark Web e o que pode ser feito para coibir.
A pesquisa, portanto, que tem como principal motor a promoção do respeito aos
direitos humanos dos pacientes, com isso, objetiva principalmente analisar se ocorre ou não o
rompimento destes quando o paciente é exposto a rede de tráfico de órgãos com toda a sua
desenvoltura.
13

1 ASPECTOS TÉCNICOS E GERAIS DA TRANSPLANTAÇÃO DE ÓRGÃOS

Com todo o avanço tecnológico e científico ocorrido nas últimas décadas tanto no
mundo quanto na sociedade brasileira, observa-se que doenças que ora eram tidas como
sentenciadas a morte hoje em dia podem ser tratadas com uma maior facilidade. Os novos
procedimentos médicos e cirúrgicos apareceram nesse cenário com o intuito de promover o
aumento da expectativa de vida humana, fruto de todo esse avanço surge o transplante de
órgãos, tema de extrema delicadeza e importância que requer um olhar mais aprofundado que
será trazido a seguir.

1.1 Introdução conceitual de transplante de órgãos

Ao iniciar o debate sobre o transplante de órgãos é importante delimitar o espaço


temporal da análise, ou seja, quando se fala em transplantação de órgãos no Brasil, deve se
destacar que dentro do cenário internacional, o Brasil disputa o ranking mundial dos países
que mais realizam transplantes renais e hepáticos, a saber, o país ocupa o segundo lugar
(SAPIENZA, 2019).
Embora o número seja bastante promissor, há alguns problemas que merecer atenção,
como por exemplo, há escassez de órgãos, falta de logística e de infraestrutura hospitalar, o
que ocasiona o surgimento de enormes filas de espera. Essa morosidade torna-se o cenário
propício para a aparição de pessoas que fazem uso da situação para conquistar possíveis
clientes para o tráfico de órgãos.
O termo transplante é contextualizado no Dicionário de Termos de Saúde por
Guimarães (2014) como:

Método de tratamento por meio da transferência cirúrgica de órgãos sólidos,


como o coração, ou transfusão de componentes, como stem-cells1, de um
doador saudável, compatível, vivo ou morto (a depender do órgão a ser
transplantado), para um indivíduo doente, buscando a cura de determinadas
doenças (GUIMARÃES, 2014, p. 425).

É importante ter cuidado para não confundir enxerto com transplantes, vez que o
transplante nada mais é que um procedimento necessário para a sobrevivência de um paciente,
levando em consideração a perda da função específica daquele órgão; diferente do
14

procedimento de enxerto e implante, que são procedimentos estéticos ou terapêuticos


(GUIMARÃES, 2014).
Ainda no mesmo compasso, é importante distinguir o que é tido como órgão e como
tecido, logo, entende-se, conforme o Dicionário de Termos de Saúde, que órgão é “uma parte
estruturada de um organismo que exerce uma funçaõ especial” (GUIMARÃES, 2014, p. 316).
Já os tecidos, são “um agregado de células similares que desempenham a mesma função”
(GUIMARÃES, 2014, p. 409).
Essa diferenciação torna-se importante, pois a Lei nº 9.434/97 é bem clara ao delimitar
quais órgãos e quais tecidos podem ser utilizados na transplantação, mas embora exista essa
diferenciação prévia, não há no decorrer do procedimento qualquer outro tipo de delimitação
(CATÃO, 2004).
Propondo um estudo mais profundo do tema proposto, é necessário compreender quais
as modalidades de transplantações existentes, a saber, são elas, o autotransplante,
isotransplante, alotransplante e xenotransplante (MATTE, 2017). Neste sentido, convém
apontar que essa classificação assume um caráter mais amplo, portanto, abrange tanto
transplante como enxerto e implantes.
Iniciando com o conceito de autotransplante, é o conceito trazido por Diniz (2014) que
merece um maior destaque já que para a autora, este é um procedimento “no qual há
transferência de órgão de uma parte do organismo para outra, sendo doador e receptor a
mesma pessoa” (DINIZ, 2014, p. 419). Este procedimento também foi classificado por Catão
(2004) como autoplástico ou autógeno.
Um dos exemplos mais vislumbrado desse tipo de transplante resume-se as operações
para realizações de “ponte de safena”, mas também pode identificá-lo nas transferências de
pele, bem como nas de ossos e de veias (DINIZ, 2014, s/p). Logo, para fundamentar o caso, é
necessário apontar que este tipo de transplante é regulamentado na Lei nº 9.434, datada de 4
de fevereiro de 1997:

art. 9º - É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de


tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para
transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau,
inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa,
mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea
(BRASIL, 1997).

O artigo da referida lei traz perfeitamente a permissão para o autotransplante,


delimitando os critérios que devem surgir para que tal situação esteja acobertada. É nesse
15

sentido que a exemplificação dos procedimentos de ponte de safena podem ser enquadrados
como exemplo desse tipo de transplante, pois este procedimento “consiste na colocação de
pontes (bypass) feitas de enxertos de artéria ou veia. Esses enxertos são suturados na aorta e
nas coronárias, ultrapassando as lesões” (ALMEIDA, 2018, s/p).
Continuando a classificação dos transplantes, tem-se o isotransplante, é o
procedimento que ocorre “em caso de transplante de tecidos ou órgão em gêmeos
univitelinos, ou seja, em pessoas que possuem os mesmos caracteres genéticos” (DINIZ,
2014, p. 420). Nesta circunstância, como as características genéticas da bipolaridade presente
no transplante são semelhantes, elas permitem que o desempenho do procedimento de
transplantação seja positivo.
Diniz também traz ao debate o alotransplante, que em suas palavras seria aquele
processo medicamental “em que o doador, vivo ou morto, e receptor de órgão ou tecido não
possui características genéticas idênticas” (DINIZ, 2014, p. 420). A autora destaca que este é
um dos métodos mais comuns quando se fala em realização de transplantes. Se o debate sobre
a existência deste tipo de transplante for aberto a novos horizontes, para outro doutrinador
para elucidar a veraicade da existência deste, vez que para Catão (2004) este transplante pode
ser chamado de homotransplantes que seria “transplante de tecido ou órgão entre indivíduos
da mesma ‘espécie’, porém com diferentes caracteres hereditários” (CATÃO, 2004, p. 202).
Por fim,o último tipo de classificação é mais anômala, desta forma é a mais
incansavelmente estudada pelos cientistas, por se referir a transplantação entre espécies
distintas (humano e não-humano). Sendo conhecida assim por xenotransplante, que se define
pela “transferência de órgãos ou tecidos de um ser vivo de um gênero para outro gênero
diferente. É o caso da utilização de órgãos e tecidos de animais com fins de transplantes”
(CATÃO, 2004, p. 202).
Entretanto, apesar de ser uma oportunidade de acabar com as enormes filas de esperas,
o xenotransplante ainda não pode ser conceituado como uma possível forma para a
transplantação, contudo, os cientistas já iniciaram os estudos no intuito de utilizar os órgãos
de animais quando ocorrer a falta de doadores humanos. Todavia, na sociedade brasileira,
sempre há questões éticas e morais que devem ser levadas em consideração quando se quer
sanar os questionamentos de experimentos e tentativas fracassadas.
As formas de transplantes citados anteriormente, só poderão ser realizadas em casos
nos quais os pacientes encontrem-se acometidos de graves doenças, que por ventura, lhes
tenham causado mal funcionamento de algum órgão ou que possuam a necessidade de
comutação de tecido, não existindo nenhuma outra forma apta para a resolução da situação
16

(DINIZ, 2014). Vale ressaltar que não importando qual tipo de transplante seja realizado, ele
pode ser inter vivos ou post mortem.

1.2 Transplantes de órgãos e tecidos inter vivos e post mortem

É sabido que o transplante de órgãos pode acontecer de duas formas, ou seja, ele pode
advir de vivos ou de mortos, a saber, é dito inter vivos o transplante em que o órgão ou tecido
é doado por uma pessoa viva de maneira altruísta, na qual o doador ou possui ou um órgão
duplo, ou a retirada não prejudicará a função vital do mesmo, conforme autorizado pelo
Código Civil Brasileiro (2002) em artigo 13, parágrafo único e pelo artigo 9° da Lei n°
9.434/97. O transplante também pode ocorrer post mortem, só que o diferencial deste, é que
só pode ser realizado quando o doador tiver falecido por morte encefálica, além do mais,
necessita de autorização do cônjuge ou parente mais próximo, conforme consta o artigo 4° da
Lei nº 9.434/97.
Neste sentido, é válido explicar que o transplante de órgãos pode ocorrer tanto de
forma gratuita, quanto onerosamente. Quando o transplante é realizado de forma gratuita, ele
está totalmente regulamentado pelo Ministério da Saúde, logo precisa ser enquadrado no rol
de possibilidades, dentro de instituições medicinais legais. Já quando para realizar o
transplante tiver que pagar, este é realizado clandestinamente por intermédio do tráfico de
órgãos.
Tendo ciência dos tipos de transplantes possíveis e de como eles são realizados, é
importante ressaltar que o ser humano não pode dispor de seu corpo a seu bel prazer, neste
caso em quase toda parte do mundo, a comercialização dos órgãos é vedada, principalmente
no Brasil. Esta situação é esquematizada pelos direitos humanos da seguinte forma, “a
disposição do corpo mediante pagamento fere a dignidade da pessoa humana, princípio
fundamental de todo ser humano e constante na Constituição Federal Brasileira de 1998 como
um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito” (BERLINGUER; GARRAFA, 2001,
s/p).

1.2.1 Transplante inter vivos

Excepcionalmente, a legislação permite ao ser humano dispor de órgãos e tecidos


ainda em vida, mas essa situação só é legalizada quando esta disposição não implicar na perda
17

da capacidade física ou não atentar contra a dignidade da pessoa humana. Esta situação é
perfeitamente explicada pelo Código Civil em seus artigos 13 e 14 (BRASIL, 2002).
Conforme disposto acima, a doação inter vivos é vedada quando de alguma forma
acarreta diminuição da capacidade física daquele que expresse o desejo de doar, esta doação
também será vetada quando atentar contra os bons costumes. Os artigos ainda determinam
que ninguém pode ser submetido ou sofrer coação à realização de procedimentos cirúrgicos
que sua execução oferte risco à vida do doador (CATÃO, 2004).
A lei que regulamenta a doação de órgãos, expressa em 1997, consagra em seu artigo
nono todas as circunstâncias que autorizam a doação inter vivos, ou seja, no decorrer do
capítulo, resta claro que a doação feita por uma pessoa em vida só pode ocorrer em alguns
casos, a saber, se o doador tiver órgãos duplos, se a retirada não impeça o funcionamento
normal do organismo nem comprometa suas apitidões vitais. Desta forma, a realização do
procedimento deve conter a autorização do doador por escrito, que pode ser revogada a
qualquer tempo, deve feita mediante testemunhas, especificando qual parte do corpo será
objeto de retirada (BRASIL, 1997).
Dessarte, é importante destacar que fica impedido de doar tecidos, órgãos ou qualquer
outra parte do corpo as gestantes, exceto quando esta doação for destinada a situações que
envolva a medula óssea e este ato não oferecer risco a sáude do embrião. Em conformidade
com a mesma lógica, tem-se que os menores poderão doar desde que ambos os pais ou
responsáveis autorizem tal procedimento (Idem).
Para desenvolver o artigo supracitado, Maria Helena Diniz (2014), demonstra que para
a doação ser realizada, o doador precisa demonstrar uma livre iniciativa consciente dos riscos
e consequência dos procedimentos do transplante, logo a autora dispõe da seguinte maneira:

a Lei 9.434/97, art. 9° §§3° a 8°, admitem a doação voluntária, feita


preferencialmente, por escrito e na presença de suas testemunhas, por pessoa
juridicamente capaz, especificando o órgão, tecido ou parte do próprio corpo
a que será retirado para a efetivação de transplante ou enxerto, ou de
tratamento de pessoa que identificará desde que haja comprovação da
necessidade terapêutica do receptor. Esse documento deverá ser expedido
melo Ministério Público em atuação no local do domicilio do doador, com
protocolo de recebimento na outra, como condição para concretizar a
doação. Dispensa-se essa formalidade documental em casos de doação de
medula óssea (DINIZ, 2014, s/p).

Toda essa burocracia explicada pela doutrinadora acima, mostra que a lei surge com o
intuito de ofertar repressão a possíveis violações feitas no transplante de órgãos,vez que
haveria uma maior facilidade de coação dos possíveis doadores compatíveis, o que poderia
18

colocar sua dignidade bem como sua integridade física em risco para beneficiar outrem
(DINIZ, 2014).
É importante clarificar que caso o doador mude sua vontade, mesmo após já ter
enviado o documento ao Ministério Público, ele poderá extinguir o feito, conforme o
parágrafo quinto do artigo acima mencionado. Outros tipos de impedimentos e autorizações
que enfatizam o que ocorre com grávidas, incapazes e menores, também podem ser vistas no
artigo nono da referida lei.
Embora seja a legislação mais importante sobre o tema, outras legislações também
trazem ao debate este tipo de transplante, como é o caso do Decreto nº 9.175/2017, que
destaca em seu artigo 29 a mesma situação de transplante inter vivos prevista anteriormente,
especificando quem é portador de algum tipo de deficiência. Este artigo também destaca a
importância do doador ter ciência de todos os riscos que o ato pode ocasionar a sua
integridade (BRASIL, 2017).
Ao articular o decreto com a lei é possível identificar alguns pontos em comum, a
saber, merece destaque o fato de não poder ser objeto de transplante órgãos ou tecidos vitais,
da mesma forma perante a legislação brasileira só é possível ter doação solidária e com o
pleno consentimento do doador (DINIZ, 2014).
Conforme entendimento de Catão (2004), o governo brasileiro demonstra com as
instituições legislativas o grande apreço com a pessoa humana, por isso impõe tantas
obrigações e limitações a esta doação de órgãos. Com isso, é visto que este transplante só é
mais comumente visualizado quando não há doador falecido que seja compatível com o
receptor.

1.2.2 Transplantes post mortem

Após realizar uma análise sobre o transplante entre vivos, convém trazer ao debate um
dos tipos de transplantação mais comum, que é a retirada dos órgãos ou tecidos post mortem ,
neste tipo é necessário que seja comprovado que o doador teve morte encefálica, conforme
todos os procedimentos já estabelecidos no Conselho Federal de Medicina (CFM, 1997).
Antes de realizar um aprofundamento sobre o transplante, é importante entender o que
é tido como morte encefálica, sobre o assunto, o neurocirurgião do Hospital das Clínicas da
UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) conceitua da seguinte forma:
19

A morte encefálica representa o estado clínico irreversível em que as funções


cerebrais (telencéfalo e diencéfalo) e do tronco encefálico estão
irremediavelmente comprometidas. São necessários três pré-requisitos para
defini-la: coma com causa conhecida e irreversível; ausência de hipotermia,
hipotensão ou distúrbio metabólico grave; exclusão de intoxicação exógena
ou efeito de medicamentos psicotrópicos. Baseia-se na presença
concomitante de coma sem resposta ao estímulo externo, inexistência de
reflexos do tronco encefálico e apneia. O diagnóstico é estabelecido após
dois exames clínicos, com intervalo de no mínimo seis horas entre eles,
realizados por profissionais diferentes e não vinculados à equipe de
transplantes. É obrigatória a comprovação, por intermédio de exames
complementares, de ausência no sistema nervoso central de perfusão ou
atividade elétrica ou metabolismo. Morte encefálica significa morte tanto
legal quanto cientificamente. É necessário que todo profissional de saúde,
especialmente o médico, esteja familiarizado com o conceito de morte
encefálica, para que a aplicação da tecnologia na sustentação da vida seja
benéfica, individual e socialmente comprometida, e não apenas promovedora
de intervenção inadequada, extensão do sofrimento e angústia familiar e
prolongamento inútil e artificial da vida (MORATO, 2009, online).

Na Lei nº 9.434/97, há em seu artigo 3º a exposição do pré-requisito para a realização


deste transplante, delegando os métodos para a definição da comprovação de morte encefálica
ao CFM, vez que para retirar tecidos, órgãos ou qualquer parte do corpo, o doador deverá ter
tido morte encefálica perfeitamente constatada e registrada por dois médicos. Nesse sentido, é
importante ter ciência que os médicos que constatarem a morte encefálica não devem ser os
que serão responsáveis pela remoção da parte destinada a doação (BRASIL, 1997).
A confirmação da morte do doador torna-se, portanto, um dos aspectos mais
importantes para a realização deste transplante, logo os médicos devem diagnosticar com
cautela o momento exato da morte do indivíduo (CATÃO, 2004):

O cadáver, como já oportunamente afirmados, é uma projeção material da


pessoa humana, conservando sua dignidade, sendo considerado res sui
generis. Logo, é com a morte que o indivíduo deixa de ser pessoa e passa a
ser cadáver. E somente no momento em que atinge essa condição – de
pessoa morta- é que poderá servir aos fins previstos no art. 1° da Lei nº
9.434/97 (CATÃO, 2004, s/p).

Logo, é de suma importância ter uma precisão médica quanto a morte do doador, pois
caso não haja cautela nessa determinação ao invés de morte encefálica, pode se ter um caso de
homicídio. Há também uma reflexão que esta morte permite aos médicos manter os órgãos
oxigenados por meio da manutenção homeostática, o que permite que a circulação sanguínea
traga funcionalidade aos órgãos até ser realizado o procedimento de doação. Caso o
organismo tenha parada total, fica impossibilitado a realização do transplante.
20

Uma logística esquematizada é de extrema necessidade para a subutilização do órgão,


vez que para cada órgão do corpo humano existe um determinado tempo de duração, o que
não passa de vinte e quatro horas. Fora isto, o órgão deve ser acondicionado em uma
temperatura ideal e transportado em um recipiente seguro (AGOSTINHO; MONTEIRO,
2010).

1.3 Tráfico de órgãos no mundo

Na modernidade a qual o mundo encontra-se inserido, a globalização merece uma


especial atenção, pois ela representou um avanço na expansão dos mercados nacionais para
águas internacionais, e esse comercio internacional foi o que permitiu que as mercadorias
fossem distribuídas para todo o mundo (SANDEL, 2015).
Esse triunfar dos mercados, tornou-se algo de extrema importância no cenário global
no que tange a economia, pois permitiu uma larga utilização dos bens de consumo. Embora
tenha movido a economia, a moral e a ética não seguiram o mesmo caminho, vez que cederam
lugar para a ganância pelo lucro (SANDEL, 2015).
Como qualquer outro mercado, o tráfico de órgãos também entraram em cena neste
momento, se estabelecendo em países que possuem fronteiras menos vigiadas e funcionários
passíveis de serem corrompidos (NAIM, 2006).
Neste sentido, convém entender como se desenvolve a estrutura do tráfico de órgãos,
logo, em primeiro lugar, tem-se o “agenciador de órgãos”, este é o funcionário responsável
por encontrar um doador compatível com o receptor, vale ressaltar que este doador precisa ser
saudável. A troca de órgãos por um valor monetário é injusta, pois o valor recebido pela
doação dos órgãos não chega nem perto do valor lucrado com a venda do órgão no mercado
negro. Estes casos são perfeitamente expostos pela “Organs Watch”.
Um grande problema que o tráfico de órgãos representa na sociedade, surge com esse
pagamento, pois o valor recebido é bem pouco se comparado com as consequências negativas
advindas da cirurgia, e nem tão pouco pagam o custo para a realização da mesma, o que faz o
sistema ser cíclico, vez que o doador acaba por gerar a falência da função vital do órgão
doado entrando este na fila de transplante (ANDRADE, 2011).
Conforme dados da Organização Mundial de Saúde, o Brasil encontra-se no Top cinco
dos países que mais vendem órgãos no mercado clandestino. Observa-se um duplo entrave
quanto ao receptor do órgão e que o vende, pois quem geralmente vende o órgão encontra-se
na classe popular e necessita do dinheiro para sobreviver, já quem compra o órgão está na
21

classe alta porque não querem submeter seus entes familiares a fila de espera do processo de
transplantação (ALENCAR, 2007).
Data-se de 1931, a primeira venda de órgãos humanos, esta foi realizada na Itália na
qual o indivíduo doou sua glândula genital para ser transplantada (SANTOS, 2000). Hoje em
dia são utilizados meios mais modernos de comunicação o que permite a facilidade da
movimentação financeira e das conexões entre os grupos de países.
Para que esse tipo de crime não provoque danos irreparáveis, é necessário que sejam
criados mecanismos de prevenção eficientes, como também, é importante separar os tráficos,
vez que o tráfico de pessoas é diferente de tráfico internacional de órgãos humanos, e este
último, no Brasil, pode ser visto nos turismos de transplante e na doação recompensada.
22

2 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E SEUS DIREITOS


FUNDAMENTAIS

Antes de se entender como é feita a aplicação dos direitos fundamentais na questão da


transplantação de órgãos é importante trazer a reflexão o cenário atual dos hospitais
brasileiros. Quando se dá destaque a rede hospitalar, observa-se que esta pode ser pública ou
privada, mas no tocante ao transplante de órgãos a lista de espera é igual. A cirurgia de
transplante como qualquer outra, precisa de todo um aparato tecnológico por parte do
hospital, mas quando se trata de hospitais públicos, é nítido que existe certo descaso no
tratamento do público, tanto com materiais quanto com a estrutura física do local.
Os pacientes de maneira geral precisam enfrentar alguns entraves para ter acesso a
saúde, esperam no posto de saúde, esperam nas unidades emergenciais e esperam nos
hospitais, quando finalmente conseguem ser atendidos e são convencidos da insuficiência ou
mal funcionamento do órgão ou tecido e entram na lista de possíveis receptores.
Esse receptor embora esteja em um fila, não é certo, que quando a vez dele finalmente
chegar, ele seja contemplado, pois o possível doador tem que possuir compatibilidade
sanguínea com o enfermo. A fila nem sempre é respeitada, pois os contemplados são
analisados em conformidade com os demais, se algum deles possuir um quadro de saúde mais
grave, ele subirá para o primeiro lugar.
Nesse sentido o enfermo precisa encontrar um doador a tempo, antes que seu
órgão/tecido pare de funcionar. É a partir desse momento que se pode trazer a tona o debate
de como esse descaso com os hospitais, bem como a fila de espera pelo transplante interfere
na plena garantia do direito a saúde e pensando em uma esfera maior, do direito a vida.
Dentro da Constituição Federal Brasileira (1988), o sistema jurídico contempla
perfeitamente esse debate, quando no caput do artigo quinto prognostica a inviolabilidade do
direito à vida:

Art. 5° - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a
propriedade, nos termos seguintes: [...] (BRASIL, 1988).

Nesse diapasão, conforme Silva (2013), a vida “constitui fonte primaria de todos os
outros bens jurídicos”, ou seja, “de nada adiantaria a Constituição assegurar outros direitos
fundamentais, como a igualdade, a intimidade, a liberdade, o bem-estar, se não exigisse a vida
23

humana num desses direitos” (SILVA, 2013, p. 200). Assim, entendendo essa inviolabilidade
do direito à vida como um direito fundamental, é importante ter ciência que a este direito se
incorpora o direito à saúde e à existência, que consistiria “no direito de estar vivo, de lutar, de
defender a própria vida, de permanecer vivo. É direito de não ter interrompido o processo
vital senão pela morte espontânea e inevitável” (SILVA, 2013, p. 200).
Logo, se o direito a vida é inviolável ao cidadão brasileiro, este cidadão possui o
direito reconhecido pelo ordenamento jurídico pátrio de lutar pela garantia de sua vida,
consequentemente de sua existência. Para Berlinguer (2004) esta liberdade se vista de maneira
ampla pode acarretar o estímulo do tráfico de órgãos:

A expressao ̃ “comprar ou morrer” presta-se a afirmar que não há nenhuma


outra alternativa: para sobreviver é necessário comprar ou vender. Quem se
opõe a isso estabelece um arbítrio contra a liberdade pessoal e nega aos
doentes na espera de um transplante a possibilidade de viver
(BERLINGUER, 2004, p. 186).

Partindo dessa lógica o doente ou aceita a imposição da legalização vigente tendo


como possibilidade a morte, ou afronta essa legislação comprando o órgão pretendido no
mercado clandestino. Diante disso, os indivíduos que continuam na fila de espera demonstram
ou a luta pelo direito constitucional de existência ou que não possuem condições financeiras
de arcar o custo de toda a operação.
Este dilema não era para ser vivenciado pelo enfermo, vez que ele já enfrenta uma
lentidão de todo o tempo que convive com sua enfermidade, porquanto é necessário repensar
toda essa dinâmica de transplantação para que o sistema valorize a dignidade humana trazida
como princípio no primeiro artigo da Carta Magna:

Art. 1° - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, sonctituem0se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]
III – a dignidade da pessoa humana [...] (BRASIL, 1988).

Essa dignidade como qualquer outro direito é intransferível e indisponível, não


sofrendo, com isso, nenhuma limitação por características de qualquer natureza
(SARMENTO, 2016). Para esse autor é a “dignidade que impõe a não instrumentalização da
pessoa humana, dela resulta o imperativo de que cada indivíduo seja concebido sempre como
um sujeito, e nunca como um objeto” (SARMENTO, 2016, p. 105). Portanto, não se pode
permitir a alienação do corpo humano, uma vez que este não pode ser posto em valoração.
24

Diante disso, a livre escolha não pode se confundir com liberdade, sobre isso Vieira
(2017) complementa:

O princípio da dignidade, expresso no imperativo categórico, refere-se


substantivamente a esfera de proteção da pessoa enquanto si, e não como
meio para a realização de objetos de terceiros. A dignidade afasta os seres
humanos da condição de objetos a disposição de interesses alheios (VIEIRA,
2017, p. 62).

Nesse diapasão, o que o tráfico humano mostra é que essa comercialização do corpo
humano é um atentado a dignidade da pessoa humana, pois ao delimitar intenções, percebe-se
que não se pode trocar parte do corpo por dinheiro para que o vendedor possa sobreviver.
Sobre o assunto o voto do Ministro relator Eros Grau na ADPF nº 153, elucida:

As coisas têm preço, as pessoas têm dignidade. A dignidade não tem preço,
vale para todos quantos participam do humano. Estamos, todavia, em perigo
quando alguém se arroga o direito de tomar o que pertence a dignidade da
pessoa humana como seu valor (valor de quem se arrogue a tanto). É que,
então, o valor do humano assume a forma na substância e medida de quem o
afirme e o pretende impor na qualidade e quantidade em que o mensure.
Então o valor da dignidade da pessoa humana já não será mais valor do
humano, de todos quantos pertencem a humanidade, porém de quem o
proclame conforme o seu critério particular. Estamos então em perigo,
submisso a tirania dos valores (BRASIL, 2010, p. 28).

Embora seja previsto expressamente a liberdade, não há em nenhum dispositivo legal


que consagre o respeito à autonomia de vontades, entretanto “é inegável que ela está presente,
implícito, em diversos dispositivos constitucionais, e, sobretudo nos direitos ligados à
liberdade e à personalidade” (MARMELSTEIN, 2016, p.104).
No caso do tráfico de órgãos, a autonomia de vontades pode ser aplicada tanto no caso
do receptor quanto do doador pago vez que essa comercialização ilícita não é obrigatória, só
ocorre quando há vontade de ambas as partes, não afetando terceiros com suas atitudes. É por
isso que sempre os direitos fundamentais são dosados quando se referem a aplicação em um
caso concreto, pois

o que se deve buscar é a máxima otimização da norma. O agente


concretizador deve efetivá-la até onde for possível atingir ao máximo a
vontade constitucional sem sacrificar outros direitos igualmente protegidos
(MARMELSTEIN, 2016, p.375).
25

Quando dentro do caso concreto há uma colisão de direitos fundamentais, necessita-se


utilizar a proporcionalidade de maneira que nenhum dos princípios prevaleça mais que outro,
conforme traz o autor:

O princípio da proporcionalidade é, portanto, o instrumento necessário para


aferir a legitimidade de leis e atos administrativos que registrem direito
fundamentais. Por isso, esse princípio é chamado de ‘limites dos limites
(MARMELSTEIN, 2016, s/p).

Pesar sobre se é legal ou não a comercialização de órgãos dentro do país envolve um


conflito de direitos, por um lado pesa-se o direito a vida do paciente que se encontra enfermo
necessitando do transplante de órgãos e por outro há a dignidade do doador pago, pois ambos
os lados são fundamentados na autonomia da vontade. Nesse caso, aplica-se o princípio da
proporcionalidade, mas antes de aplicá-lo, faz-se necessário avaliar os pontos tanto negativos
quanto positivos que os doutrinadores apontam.
Infelizmente, o comércio de órgãos é a alternativa mais comum quando uma pessoa
que possui condições financeiras não quer se submeter a morosidade do transplante de órgãos
oficial. Esta morosidade tem em sua principal fonte a falta de doadores, vez que ainda é
persistente um entrave social no tocante a doação, pois algumas família se negam a realizar a
doação dos órgãos do ente querido falecido tanto por esperança religiosa de reversão do
quadro hospitalar, quanto pela insegurança na real intenção dos médicos, já que houve casos
de desvios de órgão para o mercado clandestino.
Essa descrença no sistema, devido a ideia de que a corrupção atingiu todas as áreas do
Brasil, leva a população a crer que os órgãos são destinados a pessoas que possuem uma
maior renda financeira, burlando com isso todo o sistema de filas de espera que a
transplantação oficial regulariza. Sobre o entendimento da primazia dos direitos fundamentais
na transplantação de órgão, faz-se necessário analisar a seguir legislações sobre o tema e as
penalidades previstas para quem trafica.

2.1 Legislações sobre transplantes de órgãos

No ano de 1963, foi criada a primeira lei alusiva à retirada órgãos e tecidos do corpo
humano, a Lei n° 4.280, esta lei se entrevia sobre a extração de partes do corpo de pessoas
falecidas, sem a regulamentação de transplantes inter vivos.
26

Art. 1º É permitida a extirpação de partes de cadáver, para fins de


transplante, desde que o de cujus tenha deixado autorização escrita ou que
não haja oposição por parte do cônjuge ou dos parentes até o segundo grau,
ou de corporações religiosas ou civis responsáveis pelo destino dos despojos
(BRASIL, 1963).

Conforme trazido em 1963, a especificidade desta lei era mais voltada para o
transplante de córnea, vez que este possuía a necessidade do consentimento do cônjuge ou
parentes até segundo grau do ente falecido, ou até mesmo poderia ser realizada se existisse
uma declaração do próprio falecido, demonstrando seu interesse em ser doador de córnea
(COLTRI, 2015).
Em 1968, a Lei n° 4.820/63 foi revogada pela Lei 5.479, a mais atual lei incluiu a
regulamentação do transplante inter vivos, mas não deixou de tratar do transplante post
mortem (CATÃO, 2004). A legislação ora mencionada, em 1968 já antevia algo que nas leis
mais atuais também traz, pois em seu artigo 1º, já torna clara a obrigatoriedade da gratuidade
para a doação de órgãos e tecidos post mortem. Da mesma forma em seu artigo 10, a lei
informava que a doação inter vivos deveria ser realizada para fins humanitários ou
altruísticos, mesmo assim a lei traz a seguinte especificidade:

§2° Só é possível a retirada, a que se refere este artigo, quando se tratar de


órgãos duplos ou tecidos, vísceras ou partes e desde que não impliquem em
prejuízo ou mutilação grave para o disponente e corresponda a uma
necessidade terapêutica, comprovadamente indispensável, para o paciente
receptor (BRASIL, 1968).

Entretanto, embora a lei de 1968 tenha disposto diversas inovações no tocante a


possibilidade de transplante inter vivos, bem como traz a obrigatoriedade do transplante
gratuito; ela ainda não é completa sobre o assunto, o que se torna necessário a criação de uma
legislação mais ampla e sem abertura a muitas interpretações (CATÃO 2004).
Continuando com o debate de mapeamento de uma legislação completa sobre o
assunto, é sabido que a Constituição Federal em vigor, em seu artigo 199, § 8º traz a previsão
da criação de uma lei que assente os critérios e regulamentações relativos ao transplante bem
como comercialização de órgãos, tecidos ou partes do corpo humano (COLTRI 2015).

Art. 199 – A assistência à saúde é livre a iniciativa privada. [...]


§ 4° A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção
de órgãos, tecidos e substancias humanas para fins de transplante, pesquisa e
tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus
derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização (BRASIL, 1988).
27

Embora já se tenha exposto que se havia a necessidade da criação de uma lei completa,
esta ainda sofreu diversos moldes até se firmar na legislação atual. Diante do exposto, em
1992 foi publicada a Lei 8.489, na qual determinava em seu artigo 1° vedação total da
comercialização de qualquer parte do corpo humano, pois qualquer disposição em vida ou
após a morte deveria ser gratuita (COLTRI, 2015) “art. 1° A disposição gratuita de uma ou
várias partes do corpo post mortem para fins terapêuticos e científicos é permitida na forma
desta lei” (BRASIL, 1992).
Algo que mais na frente iria ser modificado é que a lei trouxe mudanças quanto a
autorização da retirada de órgãos post mortem, vez que por meio desta não se precisava mais
pedir autorização prévia para isso. Logo, se o falecido não tivesse deixado uma autorização
particular ou pública, ou se os familiares não se manifestassem contra, os médicos poderiam
seguir com a retirada dos órgãos conforme elucidado no artigo abaixo:

art. 3° - A permissão para o aproveitamento, para os fins determinados no


art. 1° desta lei, efetivar-se-á mediante a satisfação das seguintes: condições
I – por desejo expresso do disponente manifestado em vida, através de
documento pessoal ou oficial;
II – na ausência do referido inciso I deste artigo, a retirada de órgãos será
procedida se não houver manifestação em contrário por parte do cônjuge,
ascendente ou descendente (BRASIL, 1992).

Entretanto, essa doação presumida gerou diversos debates jurídicos, pois quando não
se tem um controle de autorizações, pode-se abrir espaço para o mercado clandestino de
órgãos (CATÃO, 2004). Nesse diapasão, em 1993, foi publicado no Diário Oficial o Decreto
nº 879 que alterou o artigo 3º, II da lei de 1992. Por meio deste decreto volta-se a necessidade
de ter uma declaração dos familiares autorizando a retirada dos órgãos, ou seja, através deste
decreto as equipes médicas deveriam consultar os familiares antes de realizar qualquer
procedimento (CATÃO 2004).
Seguindo a linha legislativa do transplante de órgãos, em 1997, encerra-se as
legislações sobre o tema, vez que foi publicada a lei mais atual, a Lei nº 9.434. Esta lei foi
regulamentada pelo Decreto nº 2.268/97 e sofreu alterações com a Lei nº 10.211 de 2001
(CATÃO, 2004).
A atual lei retoma todas as disposições trazidas anteriormente sobre a doação de
órgãos inter vivos e post mortem, bem como continua a trazer a necessidade da doação ser
feita a título gratuito, proibindo com isso qualquer tipo de comercialização (COLTRI, 2015).
Embora a lei tenha revivido diversas normatizações anteriores, ela inova em com relação a
28

proibição da retirada de órgãos de corpos sem identificação, conforme visto no artigo 6º “Art.
6º É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não
identificadas” (BRASIL, 1997).
Há também inovações quanto a formalização da doação, vez que precisa ter um
instrumento escrito na presença de duas testemunhas conforme o artigo 9º, §4. Ao
desenvolver o entendimento da lei, observa-se que há a exigência quanto a determinação da
morte encefálica conforme comprovações técnicas ditas pelo Conselho Federal de Medicina.
Sá (2003) explica que esta lei apresenta-se dúbia, pois ao mesmo tempo em que traz
diversas inovações, ativa alguns entraves na doação, vez que até médicos ficam inibidos a
comprovar a morte encefálica. Quando há a falta de declaração ou negação por parte da
família do de cujus, os médicos são obrigados a informar às centrais de transplantes sobre a
captação de órgãos.

A verdade é que o profissional enfrentou problemas de ética e de


consciência, com a lei de doação presumida. Não lhe seria suficiente invocar
o Código de ética Médica, precisamente seu artigo 28, que permite ao
profissional de medicina “recursar a realização de atos médicos que, embora
permitidos pela lei, sejam contrários aos ditames da sua consciência “porque,
em faze do sistema de hierarquia de normas, o Código de ética é o ato
administrativo normativo, inferior a lei, pelo que deve ser interpretado de
acordo com ela, jamais em contrário (SÁ, 2003 p.63).

Como essa doação presumida acabava generalizando todos os cidadãos brasileiros,


grande crítica surgiu, e para amenizar ela foi criada em 2001 a Lei nº 10.211. Esta lei alterou
o artigo quarto da lei de 1997, passando a exigir de parente ou cônjuge uma autorização para a
que se pudessem retirar os órgãos do falecido (COLTRI, 2015).

2.2 Penalidades previstas ao tráfico de órgãos

Além de todas as inovações que a lei trouxe, ela representou uma novidade no tocante
às punições, pois foi uma das primeiras que desenvolveu uma sanção penal para aqueles que
não seguissem o que estava posto na legislação. Nesse sentido, o artigo 15 da referida lei traz
uma punição tanto para quem compra quanto para quem vende órgãos, tecidos ou qualquer
outra parte do corpo humano, vez que burla a gratuidade da doação prevista no artigo
primeiro da mesma lei, ou seja, se não tiver gratuidade, altruísmo ou humanidade o corpo
humano é indisponível (BUONICORE, 2011).
29

Art. 15 – Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano:


Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa de 200 a 360 dias-multa.
Parágrafo único: Incorre na mesma pena quem promove, intermedeia,
facilita ou aufere qualquer vantagem com a transação (BRASIL, 1997).

Buonicore (2011) aproveita o desenvolver do artigo para determinar quem seria o


sujeito passivo e o ativo deste crime:

[...] o sujeito ativo da ação poderia ser qualquer pessoa. Desde pessoas
físicas a funcionários públicos, médicos, enfermeiros, familiares, enfim,
qualquer pessoa. O sujeito passivo neste caso poderia ser dois. Se tratarmos
do trafico de órgãos intervivos será a própria pessoa que teve seu órgão
retirado, porém se tratar do tráfico de órgão post mortem, será a família do
morto (BUONICORE, 2011, p. 20).

Como esta legislação foi a primeira que trouxe uma sanção para o tráfico de drogas,
precisaria que houvesse a previsão de crime dentro no Código Penal Brasileiro, logo em 2016
a Lei n° 13.344 foi publicada incluindo o artigo 149-A, expandindo a abrangência do artigo
para incluir outras modalidades do tráfico de pessoas (BRASIL, 2013). Esta lei foi fruto da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o tráfico de pessoas que aconteceu durante o
ano de 2011 e 2012 (Idem).
Como nenhuma outra lei traz penalidades para o tráfico de órgãos, esta é a que vigora
e surte efeitos, lembrando que a punição é tanto para quem compra quanto para quem vende
punido, com isso, todos os envolvidos no transplante ilegal. Observando esta lei é necessário
destacar que o tráfego de órgãos é permitido vez que alguém pode conseguir doador em outra
cidade, outro estado e até mesmo em outro país a depender da gravidade da situação, o que
não se pode ter é o tráfico, pois neste há um transporte que envolve lucratividade.
30

3 O ROMPIMENTO DAS NORMAS DE DIREITOS HUMANOS ANTE AO


TRANSPLANTE ILEGAL

Quando se analisa os ramos do direito, é notável que o transplante de órgãos pode ser
perfeitamente atrelado as teorias efetivadas pela bioética e pelo biodireito, no entanto, “é
necessário refletir sobre o valor da vida humana, ao se reconhecer que nem tudo que é
possível de ser realizado pela ciência pode ser aceito pela ética” (GOMES, 2007), vez que
estas teorias executam práticas que corroboram para a efetivação de uma doação segura,
mantendo a saúde tanto do doador quanto do receptor.
Para efetivar esta doação segura além de proteger a integridade, esses ramos dos
direitos defendem a proteção constitucional dos envolvidos, principalmente no tocante aos
direitos de personalidade, vez que estes são absolutos, gerais, extrapatrimoniais,
intransmissíveis, indisponíveis, irrenunciáveis, imprescritíveis, inexpropriado e ilimitados
logo, “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas”
(BRASIL, 1988).
Desta forma, o Código Civil (2002) consagra como direito de personalidade o direito a
integridade física e moral, “o direito à integridade física é direito inato, reconhecido pelo
sistema jurídico, que confere ao sujeito a faculdade de conservar-se íntegro e perfeito,
desenvolvendo normalmente sem qualquer restrição” (RODRIGUES, 2002), portanto, deve
ser protegido.
Resguardando o direito a personalidade, vez que estes “estão, inexoravelmente unidos
ao desenvolvimento da pessoa humana, caracterizando-se como garantia para a preservação
de sua dignidade” (FARIAS; ROSENVALD, 2012, p. 174), outros direitos fundamentais
necessitam ser protegidos para além do ato em si, dito de outra forma, o presente trabalho se
preocupou até o exato momento em delinear uma série de direitos em jogo entre doador e
receptor no momento da transplantação, entre eles figuram-se o direito á vida, a saúde, a
igualdade, a liberdade. Contudo, é importante ter noção de que os direitos atuais que
envolvem o transplante são para além do ato em si, englobando, também toda a dinâmica que
o envolve.
Destrinchando este debate tem-se que para que uma pessoa receba o órgão ela
necessita esperar numa fila de transplantes a fim de ser contemplada, qualquer situação que
rompa com isto pode se enquadrar numa violação aos direitos, e é esta violação que constitui
o principal foco de pesquisa deste trabalho, pois se a fila de transplante é grande e muitas
31

pessoas, para ter acesso rápido ao órgão/tecido, a burlam, como se pode ter a garantia de
direitos?
Com o advento da modernidade e toda a tecnologia surgida com ela, é nítido que o
ambiente virtual pode ser uma via de mão dupla, pois ao mesmo tempo em que auxilia e
consagra outras espécies de direitos fundamentais, pode ser prejudicial quando se nota a
influência da dark web nas transplantações. Destarte é importante entender que a prática da
venda de órgãos além de ser ilegal representa uma afronta aos direitos de todos os envolvidos,
pois burla a fila de espera e não oferta ao vendedor o auxílio de saúde necessário para a
retirada do órgão/tecido a ser vendido. Neste diapasão é importante destrinchar toda essa
dinâmica a fim de mapear soluções plausíveis para o fim do tráfico de órgãos.

3.1 Os Direitos Humanos na Internet

Antes de se aprofundar sobre o tema deste tópico é necessário entender o que são
direitos humanos e como estes se diferenciam dos demais direitos inerentes a um indivíduo.
De inicio é importante entender que os direitos fundamentais são aqueles nacionalizados, ou
seja, estão atrelados ao ordenamento jurídico específico do local em que eles circulam; já os
direitos humanos, estes têm abrangência universal, logo são regidos por intermédio de leis
internacionais.

Talvez seja este um critério de diferenciação entre direitos fundamentais e direitos


humanos: os primeiros se vinculam a ordenamentos jurídicos particulares e
específicos, ao passo que os segundos se revestem de universalidade e resultam de
uma formulação internacional (ANTUNES, 2005, p. 341).

Estabelecendo um paralelo entre os direitos hoje em dia tidos como fundamentais e os


direitos trazidos na constituição, é importante entender primeiramente que os direitos
fundamentais são aqueles inerentes a cada indivíduo, previsto legalmente, logo para ser
titular destes direitos, basta nascer com vida. Atrelados estes direitos têm-se os direitos
sociais que tem como base executar formas de prestigiar os direitos fundamentais na
sociedade. Mais precisamente ao se analisar os direitos, entende-se que os direitos humanos
aprecem como uma união de todos os direitos individuais existentes, no entanto com
abrangência internacional.
Uma diferença existente entre estes dois direitos reside no fato de que os direitos
humanos vestem a roupagem do momento histórico a qual esteja atrelado, logo, a depender da
32

época a qual ele se encontra, a sua aplicabilidade pode ser alterada. Alguns constitucionalistas
encaram que com a evolução social é possível identificar alguns direitos humanos ligados a
tecnologia, sendo assim, deveriam figurar na quinta geração “advindos com a chamada
realidade virtual, que compreendem o grande desenvolvimento da cibernética na atualidade,
implicando o rompimento de fronteiras, estabelecendo conflitos entre países com realidades
distintas, via Internet” (OLIVEIRA JÚNIOR, 2000, p.86).
Desta forma, quando se presta a estudar na atualidade os direitos fundamentais no
caso do transplante de órgãos tem-se em primeiro lugar o direito à saúde, seguido do direito
à vida e a igualdade, portanto, em seu conjunto, tem-se que pelas legislações atuais
brasileiras, o Estado, bem como a sociedade, tem o dever de ofertar dignidade a pessoa
enferma quando esta precisa de intervenção cirúrgica baseada em transplantes.
Contudo nem sempre esta proteção é feita de forma efetiva, vez que há um crescente
número de necessitados em contraste com estáveis números de doadores, ou seja, as pessoas
estão ficando mais doentes do que a quantidade de órgãos que chega para transplante. Esta
situação apresenta ao cidadão duas alternativas, ou continuam na fila de espera ou utilizam
de meios alternativos para a obtenção do órgão.
Ao se deparar com a possibilidade de utilização dos meios alternativos, é nítido que a
facilidade de acesso ao mercado negro tem sido estimulada desde que a internet tem se
propagado em dimensões gigantescas. Sobre este tema, o governo brasileiro encara uma via
de mão dupla, de um lado fiscalizar o acesso a dark web como forma de coibir o crescimento
do tráfico de órgãos e por outro lado fornecer acesso igualitário a internet a fim de
possibilitar o livre exercício da liberdade de expressão dentro do meio virtual (BRASIL,
2004).
“[...] A HumanRightsCouncil – ResolutiononHumanRightsonthe Internet trouxe
uma concepção de que os mesmos direitos que são protegidos sem o uso da
Internet, ou seja, “off-line” devem ser estendidos no ambiente digital “on-line”,
principalmente, a liberdade de expressão. Na verdade, verifica-se uma ampliação
do art. 19 de Declaração Universal dos Direitos Humanos adaptando-a para sua
abrangência na rede mundial de computadores (BRANT, 2014, p. 56).

Resta claro que estas novas tecnologias são inseridas dentro da globalização em um
jogo de poder exercido por uma sociedade dominante "não há como negar que as relações
sociais e institucionais estão atravessadas por valores culturais diferenciadores que se
traduzem em um jogo de poder e dominação" (Idem). Esta inclusão de novos direitos
advindos das inovações tecnológicas dentro do rol dos direitos fundamentais é possível vez
que a Constituição Federal traz em seu artigo quinto meramente um rol exemplificativo de
33

direitos, não impedindo com isso, a formação de outros direitos advindos da modernização
social.
Neste sentido, pode-se afirmar que a liberdade de expressão habilita o exercício dos
direitos humanos dentro da modernidade, contudo também abre espaço para uma regulação
posterior destes nos meios digitais, vez que esta exerce um controle sob os conteúdos a fim de
inibir a reprodução de discursos de ódio ou criminosos. Esta situação pode ser bem mais
enfatizada se em pauta for colocado o Web 2.0, pois neste a liberdade de expressão não se
harmoniza com os tratamentos internacionais sobre a questão (GOULART, 2012).
Para sanar a desarmonização promovida pela web 2.0, no Brasil foi instituído o Marco
Civil da Internet, neste há uma preocupação em enfatizar o acesso a internet como um direito
fundamental, e trazer princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet em solo
brasileiro (BRASIL, 2014). É importante entender que mesmo não advindo da proteção
constitucional, o Marco Civil da internet se preocupa em articular este uso da internet com a
proteção dos direitos humanos (BRASIL, 2014, art. 2º), oferecendo respostas à sociedade
quanto a tutela dos direitos que podem ser relacionados às novas tecnologias da informação.
Logo, traz consigo o conceito de cidadania digital:

Para exercer a cidadania digital, os usuários desta sociedade de informação devem


usufruir dos direitos humanos, dos direitos fundamentais em nível individual ou
coletivo, inclusive por instituições públicas ou privadas a fim de promover a
informação com o intuito de desenvolvimento da sociedade de informação
(BRANT, 2014, p. 62).

Este marco civil da internet traz ao debate sobre garantia dos direitos aos envolvidos
nos transplantes de órgãos a ideia de que o estado precisa ser um Estado Democrático de
Direito que busca uma sociedade mais igualitária garantindo a todos os envolvidos os
direitos humanos e fundamentais. Não resta dúvida que este é um debate amplo, pois o
marco civil da internet propõe ofertar a todos acesso a rede de internet como forma de
garantir uma vivência igualitária tanto para aqueles que podem pagar pelo uso quanto aos
que não podem, ou seja, não se propõe a analisar o tema em cima do qual este trabalho foi
desenvolvido, contudo, como ele é um tema atual, mais na frente será explicado que quanto
mais facilidade tem no acesso a internet mais conteúdos da dark web podem ser acessados.
Desta forma, trazer aqui o marco civil da internet foi um caminho utilizado para
demonstrar que mesmo o Estado se preocupando com a garantia dos direitos fundamentais
presentes na Constituição Federal, existe na atualidade um mundo totalmente novo que
contempla uma variedade de formas e de novos direitos que impedem todo um restringir aos
34

meios digitais que seria uma alternativa viável ao tráfico. Logo, tendo ciência da
modernidade atual e dos direitos individuais protegidos pelo marco civil da internet, se
preocupa em como lidar com o tráfico de forma a não privar os sujeitos de seus direitos.
Neste diapasão, dentro do cerne do tráfico de órgãos, bem como da transplantação
legal destes, observa-se que existem diversos sujeitos atuando, entre eles o doador (que a
depender do caso torna-se vendendor), o receptor, a equipe que fará o transplante e a equipe
que comercializam tais bens, logo dentre todos estes, há direitos fundamentais em jogo,
porque quando se pesa o direito de um acaba inibindo o direito do outro. Se os direitos
humanos são universais, eles devem contemplar a dinâmica legislativa de cada país, ou seja,
se em todos os países do mundo a lista de espera é uma realidade presente, necessita acima
de tudo promover a proteção dos direitos daqueles que ali esperam.
Seguir como alternativa o tráfico de órgãos representa uma quebra na garantia dos
direitos fundamentais, pois fere o direito a vida e a saúde de quem espera, na mesma
proporção que retira a dignidade dos dois envolvidos no tráfico, pois acabam realizando as
cirurgias sem todo o apoio de equipamentos necessários. Por isso é de comum entendimento,
a nível internacional, a promoção de ações conjuntas que tentem inibir o avanço do tráfico,
ou seja, a nível mundial, os países estão se preocupando em proteger a dignidade humana
feriada quando há práticas de tráfico internacional de órgãos.

3.2 A ONU e normas específicas sobre transplante de órgãos

A Organização das Nações Unidas traz ao debate da transplantação de órgãos o lado


obscuro da força, pois traz as motivações que levam um doador a vender ou dar seu órgão
para o mercado negro. Entre estas motivações é nítido que boa parte daqueles que doam são
da classe popular fazendo tal ato ou por necessidade ou quando é explorado, vez que o tráfico
de pessoas é um número alarmante atualmente.
Este mercado negro de órgãos aparece como o principal vilão da transplantação
voluntária dos mesmos, pois gera a escassez de materiais a serem doados, esta escassez
promove o aumento da demanda, vez que existe uma fila de espera por determinados órgãos,
mas há na mesma proporção uma limitação de materiais disponíveis.
Nesse sentido, sabe-se que o mercado de órgão tem como clientela pessoas de alta
rentabilidade contrastado com doadores que são atraídos pela falsa promessa de alta quantia
em pagamento, o famoso “dinheiro fácil”, contudo, não é deixado claro a este doador todo o
35

procedimento que este precisa arcar, vez que os cuidados médicos pós-operatórios não fazem
parte do pacote de venda.
Desta forma, faz-se necessário reforçar políticas públicas e internacionais no intuito de
prevenir violações ao corpo humano, punir os criminosos e proteger as vítimas desse
mercado. Conforme pontuado pela ONU, este tráfico de órgãos figura em segundo lugar entre
as criminalidades mais lucrativas do mundo, vez que é crescente o “turismo de
transplantação” (LUSA, 2018). Este turismo leva os doentes ricos até países onde a
fiscalização é precária, como por exemplo, Paquistão, China e a Índia e lá realizam o
procedimento cirúrgico (Idem).
Para coibir essa prática, proteger as vítimas e responsabilizar penalmente os
responsáveis é necessário ser instituído um tratado internacional que vise proteger as
fronteiras e estimular dentro de cada população o desejo de doar, seja esta post mortem ou em
vida. Com base neste intuito pode-se desenhar algumas legislações internacionais, a saber, o
Protocolo de Palermo, que visa inibir o tráfico de pessoas porém sem mencionar
especificamente o tráfico para remoção de órgãos e a Declaração de Istambul, esta tem como
base primordial de sua preocupação o tráfico de órgãos.
O Protocolo de Palermo, internalizado pelo governo brasileiro em 2004 (Decreto nº
5.017/2004), consiste em um documento dividido em duas partes principais a primeira é
relativa a proteção destinada as vítimas, já a segunda parte, trata da prevenção e cooperação
entre os países no intuito de coibir novas práticas e combater o crime organizado.

Art. 2º - Objetivo: Os objetivos do presente Protocolo são os seguintes: a) Prevenir e


combater o tráfico de pessoas, prestando uma atenção especial às mulheres e às
crianças; b) Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico, respeitando plenamente os
seus direitos humanos; e c) Promover a cooperação entre os Estados Partes de forma
a atingir esses objetivos (BRASIL, 2004).

Já no tocante a Declaração de Istambul (2008), ouve uma preocupação em delinear os


princípios básicos deste crime na medida em que conceituou o tráfico de órgãos, o turismo de
transplantação diferenciando este último das viagens para fins de transplante.

As viagens para fins de transplante são a circulação de órgãos, doadores, receptores


ou profissionais do setor do transplante através de fronteiras jurisdicionais para fins
de transplante. As viagens para fins de transplante tornam-se turismo de transplante
se envolverem o tráfico de órgãos e/ou o comercialismo dos transplantes ou se os
recursos (órgãos, profissionais e centros de transplante) dedicados à realização de
transplantes a doentes oriundos de fora de um determinado país puserem em causa a
capacidade desse país de prestar serviços de transplante à respectiva população
(ISTAMBUL, 2008).
36

Observa-se com isso, que esta declaração tem se tornado um importante instrumento a
nível internacional, pois prevê medidas a serem adotadas internamente em cada país para que
a doação de órgão seja intensivada, a ideia desse estímulo reside no fato de quanto mais
órgãos forem disponíveis para a lista de espera, mais ocorrerá a diminuição dos indivíduos
que procuram o mercado clandestino. Um desses estímulos é a elaboração de campanhas
nacionais que promovam a doação de órgãos junto às famílias que possuem parentes
falecidos, pois este incentivo promoverá o aumento do número de órgãos disponíveis no
sistema de doações o que consequentemente diminuirá as filas de esperas e a curto prazo terá
uma equivalência entre quem precisa e quem doa.

3.3 Dark Web e a facilidade dos meios alternativos

Continuando o debate acerca da recepção dos órgãos, tem-se que o tráfico de órgãos
pelo mundo é feito em sua grande maioria pela Dark Web ou pela Deep Web, porém, antes de
continuar o debate sobre esse tema, convém entender o que seria estas terminologias, pois
quando entra no mundo tecnológico a World Wide Web, também conhecida como internet, é
apenas a introdução de toda uma problemática.
Conhecida pela metáfora do iceberg, a Surface Web (internet) é apenas a parte de
cima, visível, desta rocha, a parte inferior à água seria a deep web e internamente se situaria a
dark web. Na Deep Web, pode-se encontrar todos aqueles sites não comumente visto no
acesso normal, ou seja, aqueles endereços que não aparecem nos mecanismos usuais de busca
devido a segurança e privacidade que os mesmo requerem. Esta Deep web é composta por
dados acadêmicos, médicos, financeiros, de segurança nacional entre outros que necessitem
de senhas e credenciais para se ter acesso (HIGA, site).
Quando o acesso a algum site requer login, o usuário possui duas alternativas, a
primeira seria utilizar o navegador comum de sua internet, contudo fornecerá bases para ser
rastreado, ou usar uma rede de proteção, como por exemplo, o Tor, que seria um software
livre e de código aberto. O Tor além de fornecer uma navegação mais segura, permite acessar
sites arquivados na deep web (HIGA, site).
Já quando se fala de dark web, entende-se que esta é uma parcela no interior da Deep
Web composta de sites que são voltados para as práticas criminosas. Estes endereços são
compostos por strings codificados que só permite o acesso de pessoas autorizadas, logo para
ter acesso a este segmento da web, necessita-se ter uma ferramenta de busca com
37

criptografagem alta. Desta forma, na gama de possibilidades da dark web tem-se diversos
fóruns de discussão sobre temas altamente polêmicos na sociedade atual, além de sites de
mercado negro, sendo o Silk Road o mercado mais conhecido deste ambiente (HIGA, site).
Por meio de tutoriais presentes em vários sites da internet pode se observar a
facilidade de contato com esses ambientes, desta forma além de ter acesso a informações
confidenciais há sempre um chamado da força obscura ali presente o que a depender de quem
acessa pode ser um convite criptografado para o usuário expor seus sentimentos reprimidos.
Se colocado em pauta à questão do tráfico, com a facilidade explicativa de utilização destes
sites, pessoas que passam necessidade e necessitam de dinheiro fácil chegam ao ponto
máximo da rede sem muitos esforços (HIGA, site).
Sites comuns como Tecnoblog, Techtudo, além de descrever como se tem acesso a
esses ambientes por meio de um passo a passo, também expõe meios de fluir nestes ambientes
de forma anônima.

1. Baixe o Tor Browser - O primeiro passo é baixar o Tor, que possui versões
para Windows, Mac e Linux. O Tor pode ser baixado também pela página inicial do
browser (https://www.torproject.org/download/). Após a instalação, se você não
estiver em um rede censurada ou filtrada, basta clicar no botão “Connect”e o
navegador será aberto imediatamente.
2. Por onde começar na deep web- Como você está conectado ao Tor, pode navegar
em qualquer site pelo Tor Browser como anônimo. Isso porque, em vez de acessar
diretamente o servidor do site de destino, seu computador se conectará a uma
máquina do Tor, que se conectará a outra máquina, que se conectará a outra máquina
e assim por diante, como em um túnel. O site de destino, portanto, receberá não o
seu endereço IP, mas o IP de outro nó da rede.
Como nesses ambientes não há uma ferramenta de busca tão eficiente como o
Google é necessário entrar em sites alternativos o mais famoso é a Hidden Wiki que
pode ser acessado pelo seguinte link http://zqktlwi4fecvo6ri.onion
/wiki/index.php/Main_Page.Nessa página, você encontrará uma série de links que o
levarão para blogs, sites, fóruns de discussão e outras páginas da deep web.
3. Recomendações de segurança na deep web - É necessário tomar algumas
precauções de segurança na deep web. Como a rede que você está acessando não é
censurada, ela também está cheia de conteúdos ilícitos, que não poderiam estar
facilmente disponíveis na internet. Isso inclui pornografia infantil, encomendas de
assassinatos e venda de drogas não legalizadas (HIGA, site).

É importante destacar que apesar do passo a passo ser de fácil acesso, há sempre
malwares e brechas que são introduzidas na navegação; logo o governo tem sempre que
exercer uma vigilância redobrada para que um simples usuário não utilize esta ferramenta de
forma ilícita. Desta forma, é nítido que os usuários desta rede têm representado um crescente
público para o mercado negro, o que se torna um dado preocupante, pois quando se trata de
tráfico de órgãos, sabe-se que este não pode ser realizado de qualquer forma, pois "É um
38

procedimento complexo, que dificilmente poderia dar certo fora de um centro cirúrgico com
uma equipe treinada de médicos e enfermeiros" (GARCIA, s/d apud SALVADORI, site).
A preocupação com o crescente uso da deep web alerta para a necessidade de se
formular medidas alternativas a este uso por usuários normais, pois há sempre um incentivo
ao mercado negro e com este a depender do estado psicológico do indivíduo, vem uma falsa
crença da obtenção de dinheiro falso. Infelizmente o que não é mostrado são as consequências
da venda do órgão, pois a busca por satisfação de necessidades financeiras podem promover o
surgimento de problemas de saúde em quem está vendendo, devido a clandestinidade das
formas de retirada do órgão, por isso se torna tão importante a atuação conjunta do Estado
com a sociedade a fim de efetivas as ações previstas na Declaração de Istambul (2008).

3.4 Direitos Humanos violados no tráfico ilegal de órgãos

Antes de se analisar o tráfico de órgãos dentro do governo brasileiro, é importante


pontuar o que aqui é entendido como este tráfico, vez que esta definição foi constituída pela
Declaração de Istambul em 2008.

recrutamento, transporte, transferência, refúgio ou recepção de pessoas vivas ou


mortas ou dos respectivos órgãos por intermédio de ameaça ou utilização da força
ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de uma posição
de vulnerabilidade, ou da oferta ou recepção por terceiros de pagamentos ou
benefícios no sentido de conseguir a transferência de controle sobre o potencial
doador, para fins de exploração através da remoção de órgãos para transplante
(ISTAMBUL, 2008).

Esta declaração, portanto, tem como principal objetivo diminuir as filas de espera na
mesma proporção que garante ao enfermo um tratamento adequado enquanto aguarda nesta
fila (GUEDES, 2015). Logo, para enfrentar a espera nesta fila crescente é importante que os
países implementem políticas públicas que incentivem a doação e consequentemente aumente
o número de órgãos disponíveis.
A falta de órgãos para transplante tem se tornado um problema social, todavia,
aproveitar-se desta situação de fragilidade e objetificar o corpo a fim de comercializá-lo na
obtenção de lucros, não aparece como solução plausível (SANDEL, 2015). Desta forma, nota-
se que a prática do tráfico de partes do corpo humano fere os direitos fundamentais, os
direitos humanos e os direitos de cidadania, ou seja, fere a dignidade da pessoa humana ao se
tornar uma circunstância amoral, pois
39

o homem não é uma coisa; não é, portanto, um objeto passível de ser utilizado como
simples meio, mas, pelo contrário, deve ser considerado sempre em todas as suas
ações como fim em si mesmo. Não posso, pois, dispor do homem em minha pessoa
para o mutilar, degradar ou matar (KANT, 2004, p. 60).

Neste caso, como a Constituição Federal assegura a inviolabilidade do direito à vida,


percebe-se que quando um traficante de órgãos deseja algum vendedor, ele não se preocupa
com todo o processo que envolve a obtenção do bem, ou seja, para ele pouco importa como o
vendedor irá se recuperar após a retira do órgão, logo não se preocupa com toda a
vulnerabilidade que atinge o vendedor e o comprador durante o processo, por isso que a
conduta é ilícita

jamais de poderia legitimar qualquer conduta que vulnerasse ou colocasse em risco a


vida humana, que é um bem intangível e possui valor absoluto. Diante da
inviolabilidade do direito à vida (CF, art 5º) e à saúde (CF, art 194 e 196), a tortura e
tratamento degradante (CF, art 5º III), e experimentos científicos ou terapias que
rebaixem a dignidade humana (RAMPAZZO, 2003, p. 24).

Assim como a transplantação de órgãos, o tráfico também conta com toda a cadeia
formativa, contudo além desta é necessário que o traficante conquiste a confiança do
comprador e do vendedor para que eles forneçam o consentimento na adesão e na retirada dos
órgãos (ROSA, 2012). A primeira ruptura com a dignidade nestes casos ocorre quando há a
coisificação da parte do corpo humano, ou seja, quando se coloca um preço em algo
indisponível (TORRES, 2007).
Neste sentido, é dever do Estado combater o tráfico de órgãos, bem como todas as
práticas criminosas que violem a liberdade o indivíduo e em conformidade, a sua dignidade.
Desta forma para que este combate seja visto como mais efetividade é necessário promover
palestras educativas que por meio das tecnologias existente leve aos ambientes educativos
projetos que visem promover a cidadania na medida em que orienta os indivíduos para os
malefícios aos direitos de quem vende seu órgão.
40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Respeitante aos direitos fundamentais e humanos atuantes na sociedade brasileira,


tem-se que para honrar o princípio norteador da Constituição Federal, a saber, o princípio da
dignidade humana, deve-se garantir uma vida digna a todos os cidadãos. Entende-se por vida
digna um conjunto de diversos direitos fundamentais que em consonância permitem ao
indivíduo viver sem privações, dentre esses direitos, o presente trabalho pontuou o direito à
saúde.
O direito à saúde, tido aqui, consiste em viver uma vida sem doenças de forma a gozar
de maneira íntegra os seus demais direitos, contudo garantir uma vida sem doenças não é um
trabalho fácil, pois requer políticas públicas e uma atuação mais intensiva do Estado, vez que
o direito a saúde é uma norma de eficácia limitada. Desta forma, para efetivar este direito,
além de ter instituído o Sistema Único de Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar,
o Estado necessita fornecer subsídios para vacinação, consultas e cirurgias.
Dentre essas formas de efetivação, um dos problemas existentes na sociedade atual,
tem início quando se precisa da atuação não só do Estado, mas também da sociedade, este
problema reside na falta de órgãos e tecidos suficientes para atender a lista de espera por uma
transplantação, ou seja, quando um paciente necessita, para continuar vivendo sua vida
normalmente, de um órgão externo a seu corpo, ele enfrenta a demora ocasionada pela
escassez de doações. É nesse momento que o Estado juntamente com a sociedade necessita
promover uma vida mais digna a este enfermo.
Outrossim, a sociedade dentro do mundo de transplante de órgãos tem seu papel
plenamente satisfeito quando se torna doadora ou permite a retirada dos órgãos de seus entes
queridos falecidos. Já o Estado tem um papel proativo, pois deve estimular por meio de
campanhas educativas a doação de órgãos na mesma medida em que coibi práticas
clandestinas do mercado negro no tocante a venda de órgãos e tecidos.
Desta forma, é possível identificar a quebra com os direitos dos pacientes que esperam
na fila por um transplante quando o órgão é adquirido pelo mercado negro, vez que, com a
modernidade atual é possível notar o surgimento de diversos mecanismos que proliferam o
mercado clandestino de órgãos, ou seja, se por meio da prática autorizada os órgãos só podem
ser doados respeitando o caráter post mortem quando esta for encefálica, ou em vida quando
for doado um tecido ou órgão que não comprometa a vida do doador; pela prática clandestina
isso pouco importa, pois é crescente tanto o número de roubos de órgãos em meio a
necrotérios oficiais, quanto a venda de órgãos sem observação dos critérios oficiais.
41

Esta não observação aos critérios oficiais acaba por gerar um outro problema, pois
quem vende um órgão próprio a este mercado, o faz por necessitar de ajuda financeira, ou
seja, estas práticas acontecem entre pessoas que necessitam de dinheiro fácil e são levadas
pela falsa promessa de um montante de dinheiro por apenas um corte. Contudo, se a venda
fosse realmente apenas um corte, o governo estaria despreocupado com os vendedores e mais
focados nos traficantes, mas quem vende seu órgão não o faz em condições de saúde que tal
transplantação necessita, pois quem compra só se preocupa com a retirada, o pós-cirurgia é
algo que não é mostrado nas chamadas da compra. Infelizmente não são poucos os
vendedores que adquirem complicações pós-cirúrgicas e aparecem na lista de espera por um
transplante porque a cirurgia mal feita acabou destruindo a função desempenhada pelo órgão
vendido.
Com o aumento da globalização, o número de usuários da tecnologia cresce cada vez
mais o que se torna uma via de mão dupla, pois da mesma forma que o avanço tecnológico
representa algo positivo para a evolução social, este permite o usuário acesso aos mais
diversificados conteúdos, e no interior desta cadeia tecnológica o principal motor torna-se a
internet.
A internet utilizada pela maioria dos brasileiros seria apenas o lado superficial de uma
força motora atuante na sociedade pós-globalizada, pois em seu interior ela conta com os mais
diversos conteúdos e para acessá-los só é preciso fazer o download de browser específico. Por
meio do Tor, browser mais conhecido da Deep Web, é possível navegar sem o ratreamento
feito pela internet aberta e também entrar em contato com diversos plugs da Dark web, estes
surgem como anúncios comumentes vistos em siste abertos, a exemplo o YouTube. A dark
web é uma camada da internet propícia para o cometimento de crimes, embora
constantemente vigiada pelo governo, permite ao usuário vender e comprar drogas, vídeos
pornôs contendo práticas não apreciadas pela sociedade, órgãos entre outros tipos de crimes
cibernéticos.
Por meio desta pesquisa, pode se constatar que este tráfico de órgãos viola sim os
direitos humanos daqueles que esperam na fila por uma transplantação, e esta espera que em
vários casos torna-se fatal denegride a dignidade humana daqueles que precisam de órgãos,
mas não possuem recursos financeiros para custeá-lo no mercado negro. A negação da
dignidade humana surge no fato de que quando a pessoa entra na fila de espera por um órgão,
o faz por não ter mais outro tipo de solução cabível a seu caso, logo devido a sua fragilidade
necessita que o Estado torna-se proativo na proteção tanto do direito a saúde desta pesssoas,
42

como em relação a proteção do direito a vida, já que sem saúde não se tem como viver uma
vida digna.
Destarte, como ao governo deve ser imputado a observância dos direitos fundamentais
e a garantia destes por meios dos princípios constitucionais, é nítido que burlar a fila de espera
comprando órgãos e tecidos no mercado negro não respeita a igualdade nem a isonomia, por
isso que esta prática é tão policiada pelo governo. Neste sentido, oferta-se como sugestões de
ações a serem tomadas pelo governo em consonância com os Tratados internacionais, a
exemplo a Declaração de Istambul, a instituição de políticas públicas em prol de programas
educativos que informem a sociedade o caminho percorrido pelo órgão do doador até o
receptor de maneira transparente a fim de estimular o surgimento de mais doadores. Estes
programas educativos devem ser vinculados não só em comerciais televisionados, mas
também dentro das escolas e na internet por meio de anúncios e propagandas.
43

REFERÊNCIAS

AGOSTINHO, Camilla Felício; MONTEIRO, Vera Lúcia. Análise do processo de


transporte, manuseio e identificação da caixa para acondicionamento de órgãos para
transplante. UNICAMP. 2010. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Orland
o_Lima_Jr/publication/277598826_ANALISE_DO_PROCESSO_DE_TRANSPORTE_MAN
USEIO_E_IDENTIFICACAO_DA_CAIXA_PARA_ACONDICIONAMENTO_DE_ORGA
OS_PARA_TRANSPLANTES/links/556e74c608aec2268308c674/ANALISE-DO-
PROCESSO-DE-TRANSPORTE-MANUSEIO-E-IDENTIFICACAO-DA-CAIXA-PARA-
ACONDICIONAMENTO-DE-ORGAOS-PARA-TRANSPLANTES.pdf. Acesso em: 25 ago.
2020.

ALENCAR, Emanuela C. O. de. Tráfico de seres humanos no Brasil: aspectos sociojurídicos


- caso do Ceará. 2007. Domínio Público. Disponível em: http://dominiopublico.mec.gov.b
r/download/texto/cp037035.PDF. Acesso em: 22 ago. 2020.

ALMEIDA, Sérgio Lima de. Cirurgia de Ponte de Safena, 2018. Disponível em: https://seu
cardio.com.br/ponte-de-safena/. Acesso em: 27 out. 2020.

ANDRADE, Daniela Alves Pereira de. O tráfico de pessoas para remoção de órgãos: do
Protocolo de Palermo à Declaração de Istambul. São Paulo: 2011. Disponível em: http://ww
w.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-pessoas/premios-e-concursos/daniela.pdf. Acesso
em: 25 ago. 2020.

ANTUNES, Ruy Barbedo. Direitos fundamentais e direitos humanos: a questão relacional.


Revista da Escola de Direito de Pelotas. v. 6 (1), Jan.-Dez. 2005.

BERLINGUER, Giovani; GARRAFA, Volnei. A mercadoria final: a comercialização de


parte do corpo humano. Tradução de Isabel Regina Augusto. 2. ed. Brasília: Universidade de
Brasília, 2001.

BERLINGUER, Giovani. Bioética cotidiana. Tradução de Lavínia Bozzo Aguilar


Porciúncula. Brasília: Universidade de Brasília, 2004.

BRANT, Cássio Augusto Barros. Marco Civil da Internet: Comentários sobre a


Lei 12.965/2014. Belo Horizonte: D’Plácido, 2014.

BRASIL. Lei nº 4.280, de 6 de novembro de 1963. Dispõe sôbre a extirpação de órgão ou


tecido de pessoa falecida. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-
1969/L4280.htm#:~:text=LEI%20No%204.280%2C%20DE%206%20DE%20NOVEMBRO
%20DE%201963.&text=Disp%C3%B5e%20s%C3%B4bre%20a%20extirpa%C3%A7%C3%
A3o%20de%20%C3%B3rg%C3%A3o%20ou%20tecido%20de%20pessoa%20falecida.&text
=Feito%20o%20levantamento%20do%20%C3%B3rg%C3%A3o,devida%2C%20cuidadosa
%20e%20condignamente%20recomposto. Acesso em: 28 out. 2020.
44

BRASIL. Lei nº 5.479, de 10 de agosto de 1968. Dispõe sôbre a retirada e transplante de


tecidos, órgãos e partes de cadáver para finalidade terapêutica e científica, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-
1969/L5479.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%205.479%2C%20DE%2010%20DE%20AG
OSTO%20DE%201968.&text=Disp%C3%B5e%20s%C3%B4bre%20a%20retirada%20e,cie
nt%C3%ADfica%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=1%C
2%BA%20A%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20gratuita%20de,permitida%20na%20forma
%20desta%20Lei. Acesso em: 28 out. 2020.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9434.htm. Acesso em: 25 ago. 2020.

BRASIL. Lei nº 8.489, de 18 de novembro de 1992. Dispõe sobre a retirada e transplante de


tecidos, órgãos e partes do corpo humano, com fins terapêuticos e científicos e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1989_1994/L8489.ht
m#:~:text=LEI%20No%208.489%2C%20DE%2018%20DE%20NOVEMBRO%20DE%201
992.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20retirada%20e,cient%C3%ADficos%20e%20d
%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 28 out. 2020.

BRASIL. Lei n.º 9.434, de 04 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos,
tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9434.htm. Acesso em: 05 ago. 2020.

BRASIL. Lei n.o 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: http://ww
w.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 05 ago. 2020.

BRASIL. Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à


Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à
Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5017.h
tm. Acesso em: 8 out. 2020.

BRASIL. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 153. Supremo


Tribunal Federal. Relator Ministro Eros Grau, 2010. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/pag
inadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=612960. Acesso em: 28 out. 2020.

BRASIL. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos. Secretaria Nacional
de Justiça. Departamento de Justiça. Org. Fernanda Alves dos Anjos et al. 1.ed. Brasília:
Ministério da Justiça, 2013.

BRASIL. Marco Civil da Internet. Lei 12.965 de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios,
garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Diário Oficial da União, Brasília,
24 abr. 2014.

BRASIL. Decreto nº 9.175, de 18 de outubro de 2017. Regulamenta a Lei nº 9.434, de 4 de


fevereiro de 1997, para tratar da disposição de órgãos, tecidos, células e partes do corpo
humano para fins de transplante e tratamento. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci
vil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/D9175.htm. Acesso em: 27 out. 2020.
45

BUONICORE, Giovana P. Tráfico de órgãos e bem jurídico-penal: análise do artigo 15 da


Lei 9434/97. 2011. Monografia (Graduação) – Curso de Direito, PUCRS. Disponível em:
http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2011_1/giovana
_buonicore.pdf. Acesso em: 11 ago. 2020.

CATÃO, Marconi do Ó. Biodireito: transplantes de órgãos humanos e direitos de


personalidade. São Paulo: Madras, 2004.

COLTRI, Marcos Vinicius. Aspectos Ético-legais da Doação e Transplante de Órgãos,


Tecidos e partes do corpo humano. In: GIMENES, Antonio Cantero et al. Dilemas acerca da
vida humana: interfaces entre a bioética e do biodireito. São Paulo: Atheneu, 2015. Série
Hospital do Coração-HCor.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA - CFM. Resolução nº 1.480/97. Portal Médico.


Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/1997/1480_1997.htm.
Acesso em: 12 set. 2020.

DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 9. ed. rev., aum. e atual. de acordo com
o Código de Ética Médica. São Paulo: Saraiva, 2014.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Parte geral e
LINDB. 10. Ed. Salvador: JusPODVM, 2012.

GOMES, Daniela Vasconcellos. O princípio da dignidade humana e a ponderação de


princípios em conflitos éticos. Revista de Direito Privado. São
Paulo: Revista dos Tribunais, ano 06, nº 29, p.78 a 85, jan-mar. 2007.

GOULART, Guilherme Damasio. O impacto das novas tecnologias nos Direitos Humanos e
fundamentais: o acesso à internet e a liberdade de expressão. REDESG - Revista Direitos
Emergentes na Sociedade Global. v. 1, n. 1, jan - jun. 2012. Disponível em: –
www.ufsm.br/redesg. Acesso em: 29 out. 2020.

GUEDES, Hariadine. Interpretação da Declaração de Istambul sobre o tráfico de órgãos


e turismo de transplante. 2015. Disponível em: http://hariadine.jusbrasil.co
m.br/artigos/250405748/interpretacao-da-declaracao-de-is tambul-sobre-o-trafico-de-orgaos-
e-turismo-de-transplante. Acesso em: 20 out. 2020.

GUIMARÃES, Deocleciano T. (org.). Dicionário de Termos de Saúde. 5. ed. São Paulo:


Rideel, 2014. E-book. Disponível em: http://univates.bv3.digitalpages.com.br/
users/publications/9788533933460%20. Acesso em: 02 ago. 2020.

HIGA, Paulo. Como entrar na Deep Web utilizando o Tor. Disponível em:
https://tecnoblog.net/189897/como-acessar-deep-web-links/. Acesso em: 29 out. 2020.
46

ISTAMBUL. Declaração de Istambul sobre tráfico de órgãos e turismo de transplante,


2008. Disponível em: http://www.declarationofistanbul.org/index.php. Acesso em: 18 out.
2020.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos. São


Paulo: Martin Claret, 2004.

LUSA. Tráfico de órgãos é o segundo crime mais lucrativo a seguir às armas, 2018.
Disponível em: https://www.publico.pt/2018/05/15/sociedade/noticia/trafico-de-orgaos-e-o-
segundo-crime-mais-lucrativo-a-seguir-as-armas-1830156. Acesso em: 29 out. 2020.

MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. 6. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Atlas, 2016.

MATTE, Nicole Lenhardt. Tráfico de órgãos: a (im)possibilidade da legalização da


comercialização de órgãos no Brasil e os entraves à doação. Lajeado: Centro Universitário
Univates, 2017.

MORATO, Eric. G. Morte encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização.


Revista Médica de Minas Gerais. RMMG. Belo Horizonte. 2009. Disponível em:
http://rmmg.org/artigo/detalhes/428. Acesso em: 22 set. 2020.

NAÍM, Moisés. Ilícito: o ataque da pirataria, da lavagem de dinheiro e do tráfico à economia


global. Tradução Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

OLIVEIRA JÚNIOR, José Alcebíades de. Teoria Jurídica e Novos Direitos. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2000.

RAMPAZZO, Lino. Biodireito, Ética e Cidadania. Taubaté – São Paulo: Cabral Editora,
2003.

RODRIGUES, Ivana Bonesi. Responsabilidade Civil por Danos Causados aos Direitos da
Personalidade. Revista de Direito Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 02, nº 09,
p.119-141, jan-março de 2002.

ROZA, Bartira de Aguiar. Turismo e tráfico de órgãos para transplantes: aspectos


conceituais e implicações na prática. Acta Paulista de Enfermagem. v. 25, n. 6. 2012.

SÁ, Maria de Fátima Freire de. Biodireito e direito ao próprio corpo: doação de órgãos,
incluindo o estudo da Lei n.º 9.434/97, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 10.211/01.
2. ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

SALVADORI, Fausto. Vendem-se órgãos. Galileu. Disponível em: http://revistagalile


u.globo.com/Revista/Common/0,,ERT112878-17579,00.html. Acesso em: 29 out. 2020.
47

SANDEL, Michael J. O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado.


Tradução de Clóvis Marques. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

SANTOS, Rita Maria Paulina dos. Dos Transplantes de órgãos à clonagem: nova forma de
experimentação humana rumo à imortalidade? Rio de Janeiro: Forense,
2000.

SAPIENZA, Flávia. Doação de Órgãos: Brasil é o 2º maior transplantador do mundo, 2019.


Disponível em: https://www.amafresp.org.br/noticias/doacao-de-orgaos-brasil-e-o-2o-maior-
transplantador-do-mundo/. Acesso em: 27 out. 2020.

SARMENTO, Daniel. Dignidade da pessoa humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. 2.


ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 36. ed. rev. e ampl. São
Paulo: Malheiros, 2013.

SOUZA, Miriam K. et al. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE): fatores que
interferem na decisão. Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina e Instituto Angelita
& Joaquim Gama. ABCD. São Paulo: 2013. Disponível em: http://observatorio.fm.usp.br/bits
tream/handle/OPI/5727/art_JACOB_Termo_de_consentimento_livre_e_esclarecido_%28TC
LE%29_fatores_por_2013.PDF?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 24 set. 2020.

TORRES, Caetano Alves. Tráfico de órgãos humanos e crime organizado: sob a ótica da
tutela dos direitos humanos. 2007. Disponível em: http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/11524
/11524.PDF Acesso em: 22 out. 2020.

VIEIRA, Oscar Vilhena (Coord.). Direitos fundamentais: uma leitura da jurisprudência do


STF. Pesquisadoras da obra Eloisa Machado et al. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2017.
48

CENTRO UNIVERSITARIO MAURÍCIO DE NASSAU


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO AUTORAL DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO –


TCC
(Autodeclaração de autenticidade, originalidade, inexistência de plágio e não co-responsabilização do
orientador)

NOME DO (A) CONCLUINTE: RAÍSSA PFEIFFER GUEIROS DE ALMEIDA


RG: 8217304 SDS PE CPF: 097.065.054-07
E- MAIL: raissagueiros@hotmail.com Telefone: (81) 9.9702 - 5471
Matrícula: 01177837
ORIENTADOR (A): ARTHUR ALBUQUERQUE DE ANDRADE
DATA DA DEFESA: ______ de dezembro de 2020.
TÍTULO/SUBTÍTULO DO TCC:
TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS VERSUS TRÁFICO DE ÓRGÃOS: ONDE FICA A
DIGNIDADE HUMANA FRENTE À OBTENÇÃO DOS ÓRGÃOS

Declaro, para os devidos fins, que o presente trabalho de conclusão de curso, em fase de defesa,
apresentada ao CURSO DE DIREITO – UNINASSAU, é de minha autoria e que estou ciente: dos
Artigos 184, 297 a 299 do Código Penal, Decreto-Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940; da Lei nº
9.610, de 19 de fevereiro de 1998, sobre os Direitos Autorais, e que “plágio consiste na reprodução de
obra alheia e - ou submissão da mesma como trabalho próprio, bem como na inclusão, em trabalho
próprio, de ideias, textos, tabelas ou ilustrações (quadros, figuras, gráficos, fotografias, retratos,
lâminas, desenhos, organogramas, fluxogramas, plantas, mapas e outros) transcritos de obras de
terceiros sem a devida e correta citação da referência”.
Com isso, declaro por este meio acerca da autenticidade, originalidade, inexistência de
qualquer tipo de plágio, bem como e por fim, de isenção de responsabilidade e-ou corresponsabilidade
do meu orientador (a) em face de qualquer eventual existência de hipóteses acima elencadas.

Recife – PE, ____ de novembro de 2020.

____________________________________________________________
49

ATA DE FREQUÊNCIA DE ORIENTAÇÃO MONOGRÁFICA

Mês: AGO/2020 – NOV/2020 Professor: Arthur Albuquerque de Andrade


Aluno (a): Raissa Pfeiffer Gueiros de Almeida

Data Visto do Orientador Assinatura do Orientando


18/08
31/08
08/09
14/09
19/09
26/09
27/09
30/09
03/11
04/11

Observações:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________

Você também pode gostar