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A INFÂNCIA E ADOLÊSCENCIA EM FOCO: desvelando as condições de risco pessoal

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Ana Carolina Araujo Lopes

Resumo

Este artigo, fruto de pesquisa bibliográfica e documental, tem por


objetivo desvelar o conceito de risco pessoal no universo de vivencia
de crianças e adolescente que, pela atual legislação, são vistos como
sujeitos em situação peculiar de desenvolvimento e desta forma,
devem ser alvos de prioridade absoluta. A partir da revisão
bibliográfica tem-se que o conceito de risco pessoal é um fenômeno
inerente ao âmbito familiar. Tal constatação nos leva a inquietação
acerca do reconhecimento social da legislação protetiva de crianças e
adolescentes.

Palavras-chave: Criança. Adolescentes. Risco Pessoal. Proteção.

Abstract

This article, the result of a bibliographical and documentary research,


aims to reveal the concept of personal risk in the universe of children
and adolescent experience that, by the current legislation, are seen as
subjects in a peculiar situation of development and in this way, must
be targets of Absolute priority. From the bibliographic review it has
been that the concept of personal risk is an inherent phenomenon
within the family. This finding leads us to worry about the social
recognition of the protective legislation of children and adolescents.

Keywords: Child. Adolescents. Personal Risk. Protection.

1
Graduanda do curso de Serviço Social, Universidade CEUMA. ana.cal95@hotmail.com
I. INTRODUÇÃO

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei nº


8.069/90, “criança é a pessoa que possui idade inferior a 12 anos incompletos e a
adolescente na faixa etária entre 12 e 18 anos de idade completos”. Todos os direitos
adquiridos foram resultantes de um processo de luta, marcado por transformações ocorridas
no Estado, na sociedade e na família.
Desde o período Colonial, as crianças e adolescentes pobres eram vistos como
“delinquentes”, ou seja, eram considerados como pessoas “desajustadas”. Todavia, depois
de tantos casos de negligências, castigos e maus-tratos contra crianças e adolescentes
pobres, houve a necessidade de começarem a serem vistos como sujeito de direitos. Essas
transformações no Brasil foram ocorrendo em longo tempo e somente em 1990, através do
Estatuto da Criança e do Adolescente, que foi sancionada a Lei nº 8.069, que legitimou os
direitos da criança e do adolescente modificando assim suas concepções.
Mesmo com seus direitos conquistados, crianças e adolescentes nunca
deixaram de sofrer violações de seus direitos. Muitos são os problemas enfrentados por
crianças e adolescentes no Brasil, estes não se limitam apenas a classes sociais, raça ou
religião, mas os maiores obstáculos são as situações de riscos enfrentadas no seu próprio
ambiente familiar.
Constantemente crianças e adolescentes são vítimas de situações de riscos,
principalmente pessoal, segundo Einsenstein e Souza (1993, p.18): Risco é a probabilidade
da ocorrência de algum evento indesejável. Os riscos não estão isolados ou independentes
do evento social. Estão inter-relacionados a uma complexa rede de fatores e interesses
culturais, históricos, políticos, sócio-políticos e ambientais.
As questões referentes à infância e à juventude gozam de um caráter prioritário
que são assegurados pela Constituição Federal de 1988, objetivando o constituinte
originário à proteção integral, no sentido de proteger seus tutelados da ameaça ou violação
dos direitos fundamentais2, independentemente de classe social.
Sabemos que é dever do Estado, da família e da sociedade assegurar a defesa
intransigente desses direitos, partindo da concepção que crianças e adolescentes são
pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, conforme dispõe o art. 227 da

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Direitos fundamentais são os direitos básicos individuais, sociais, políticos e jurídicos que são
previstos na Constituição Federal de uma nação. Por norma, os direitos fundamentais são baseados
nos princípios dos direitos humanos, garantindo a liberdade, a vida, a igualdade, a educação, a
segurança e etc.
Constituição Federal, que garante à criança e ao adolescente o acesso aos direitos
regulamentados.
O ECA estabelece que crianças e adolescentes possuem necessidade de
proteção integral e prioridade em seus direitos, tanto por parte da família como da sociedade
e do Estado. O Estatuto da Criança e do Adolescente é organizado em duas partes, onde a
primeira parte dispõe sobre os Direitos Sociais: educação, saúde, convivência familiar e
comunitária e lazer, que se destina a todas as crianças e adolescentes; e na segunda parte,
dispõe sobre as políticas de atendimento, sendo elas: medidas de proteção, medidas
socioeducativas e medidas pertinentes aos pais e responsáveis, esta parte se destina
especificamente a crianças e adolescentes em situação de risco.

II. SITUAÇÕES DE RISCO PESSOAL ENFRENTADAS POR CRIANÇAS E


ADOLESCENTES

No Brasil, desde o seu descobrimento, crianças e adolescentes foram objetos de


todas as formas de violações, tais como: exploração, negligência, opressão, crueldade e
todas as outras formas de violência. Porém, após constantes lutas da sociedade civil, o
cenário da infância e juventude começa a mudar com a instauração do Estatuto da Criança
e do Adolescente, alcança reconhecimento tanto jurídico como social no contexto nacional,
garantindo assim uma proteção diferenciada.
Ainda assim, crianças e adolescentes são constantemente acometidos por
diversas situações de risco, principalmente aquelas que são advindas do ambiente familiar.
Estar em situação de risco pessoal significa ter seus direitos violados. Situação de risco é
toda e qualquer situação que compromete o desenvolvimento tanto físico quanto emocional
da criança e/ou adolescente, advindos da ação ou omissão dos pais/responsáveis, da
sociedade ou do Estado.
São diversas as situações de risco pessoal enfrentadas por crianças e
adolescentes, estas situações de risco pessoal, dependendo da gravidade da situação e da
realidade em que a criança e/ou adolescente se encontra, pode levar a fatores que
colaborem para situações de risco social. As situações de risco em que vivem crianças e
adolescentes, propicia marginalização, exclusão e perdas dos direitos fundamentais. As
crianças e adolescentes que vivenciam essas situações são aquelas que vivem as
consequências das desigualdades sociais, da pobreza, da exclusão social e até mesmo da
falta de vínculos afetivos na família.
Vale ressaltar que, determinadas violações de direitos das crianças e
adolescentes são advindas do sistema capitalista, onde propicia a desigualdade social,
tornando - se presente principalmente nos lares das famílias pobres. Diante desse cenário,
podemos observar que inúmeras famílias sofrem com a questão do desemprego, o que leva
essas situações a se tornarem críticas, pois as crianças e adolescentes acabam se tornando
vítimas desse sistema, colocando-as em situação de risco.
Apesar das crianças e adolescentes serem amparadas pela Constituição Federal
de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a incidência de riscos pessoais
enfrentadas por estes no Brasil é uma realidade frequente, o que constitui um grande
problema social. É notável o crescimento de crianças e adolescentes brasileiros que
continuam à margem da rede de proteção, tanto na esfera dos direitos humanos, quanto na
esfera social e trabalhista, indicando assim estas condições como situação de risco.
Existe diversas formas de se violentar 3 uma criança e/ou adolescente, formas
que se tornam perceptíveis em um simples olhar. Ao violentar uma criança e/ou
adolescente, violenta-se também sua mente, deixando sequelas profundas. Segundo Malta
(2002, p.47) “... como atitude do adulto em depreciar e inferiorizar de modo constante a
criança ou o adolescente, causando-lhe sofrimento psíquico e interferindo negativamente no
processo de construção da sua identidade”.
Segundo Molaib (N/D), as situações de risco pessoal na infância e adolescência
são casos de:
a) Abandono e negligência;
b) Abuso Psicológico e maus-tratos na família;
c) Exploração e abuso sexual;
d) Tráfico de crianças e adolescentes;
e) Trabalho de crianças e adolescentes;
f) Uso e tráfico de drogas;
g) Conflito com a lei em razão de cometimento de ato infracional.
Em todos estes casos acima citado, a legislação brasileira, visando assegurar a
proteção integral à crianças e adolescentes, estabelece normas a serem seguidas que se
constituem direitos adquiridos para crianças e adolescentes. Podemos observar que a
maioria dos indicativos de situações de risco se correlaciona com a situação econômica
precária que cercam inúmeras famílias, impedindo de ter condições suficientes de cuidar da
criança e do adolescente, principalmente em casos de saúde, higiene, nesse caso o Estado
é obrigado a intervir, para garantir a proteção integral à criança e ao adolescente. Porém

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Violência é toda e qualquer forma de violação dos direitos de outra pessoa, podendo se manifestar
de diversas formas.
existe casos em que crianças e adolescentes enfrentam diversos tipos de situação de risco,
até mesmo pelos próprios familiares.
O abandono e a negligência referem – se na falta de assistência de pais ou
responsáveis quanto à segurança, educação, saúde e formação. Quando evidenciada a
negligência e falta de condições psicológicas, e não apenas falta de recursos materiais,
pode ser aplicada aos pais ou responsáveis a perda da guarda de crianças e adolescentes,
conforme art. 33 do ECA: “A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e
educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor – se a
terceiros, inclusive aos pais (Vide Lei nº 12.010, de 2009, grifo do autor). ”
O abandono é visto como uma forma grave de descuido, que aponta
para o rompimento de um vínculo apropriado dos pais para com os
seus filhos, submetendo às vítimas de abandono a sofrimentos
físicos e psicológicos, sendo contrárias as leis do estatuto da criança
e do adolescente que garante a toda criança condições dignas de
vida, explicitando especialmente o direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade (SILVA, ALVES, ARÁUJO, N/D).
Segundo o ECA, negligência seria o ato de omissão do responsável pela criança
ou adolescente, que apesar de informado e ter condições, intencionalmente deixa de prover
as necessidades básicas para seu desenvolvimento. A identificação da negligência em
nosso meio é complexa, devido às dificuldades socioeconômicas da população, o que leva a
esse questionamento da intencionalidade. Diante da raiz desse problema, encontramos uma
violência maior, que é a desigualdade social, que decorre da injustiça dos privilégios que
levam a irregularidade da apropriação dos bens que são produzidos pela comunidade.
No Brasil, a dificuldade de diferenciar negligência e pobreza é
particularmente aguda. O desamparo familiar e a privação
econômica, associados ao baixo nível de informação de grande
parcela da população, são características comuns num país marcado
por profunda desigualdade social; são também traços usualmente
relacionados ao comportamento negligente dos pais (...)
(GONÇALVES, 2003, p. 166).
Podemos observar que a maioria das famílias acusadas de negligência vivem
em condições de extrema pobreza. O conhecimento desses usuários em relação a questões
de higiene, alimentação, educação e saúde na maioria das vezes são diferentes daquelas
trazidas pelos profissionais. Este pode ser considerado um dos pontos mais complexos para
intervenção dos casos de negligência.
Caminha (2000) classifica a negligência de acordo com os níveis de gravidade,
ou seja, negligências leve, moderada e grave. A leve, consiste em uma ausência de regras
nos cuidados com relação a falta de horário para se alimentar e dormir, porém esse tipo de
negligência não deixa de ser importante, pois ela pode levar a outras situações, o que
contribui para uma negligência grave. A negligência moderada, consiste no descuido com
higiene, podendo gerar graves doenças. A grave, refere-se a casos de
crianças/adolescentes que não frequentam a escola ou que não são levadas para
atendimento médico quando necessitam, ou até mesmo de forma preventiva. Esse tipo de
ato negligente pode ser denominado abandono, isto é, a forma mais extrema de omissão do
cuidado.
O abuso psicológico, diz respeito a fazer ou exigir algo da criança e/ou
adolescente, de forma que cause danos sérios a sua autoestima ou a sua estrutura
emocional que está em formação. Esse abuso, trata-se de uma relação desigual de poder
entre adultos dotados de autoridade e crianças e adolescentes dominados. Pode ser
exercida através de determinadas atitudes, tais como: agressões verbais, de chantagens,
regras excessivas, ameaças (algumas vezes até de morte), humilhações, desvalorização,
desqualificação, rejeição e isolamento.
O Código Penal Brasileiro, dispõe em seu artigo 136 sobre maus – tratos:
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino,
tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. § 1º - Se do
fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um
a quatro anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a
doze anos.§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
O art. 13/ECA determina que casos de suspeita ou confirmação de maus – tratos
contra crianças ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar
da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Tipificando ainda em
seu artigo 245, o que segue:
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-
escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos
de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de
maus-tratos contra criança ou adolescente: Pena - multa de três a
vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
A violência sexual pode ser conceituada como: abuso sexual e exploração
sexual. O abuso sexual da criança ou do adolescente pode ou não envolver o contato físico.
É notável que a uma maior incidência de relatos de abuso sexual por parte de membros
familiares.
A legislação em vigor prevê com pena de reclusão de 2 a 6 anos e multa a
punição para a exploração sexual mediante imagens pornográficas, inclusive via internet
(art. 241 e 244A/ECA).
Art. 241º - Vender ou expor à venda fotográfica, vídeo ou outro
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008, grifo do autor) Pena – reclusão, de 4 a 8 anos, e
multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008, grifo do autor).
Art. 244-A – Submeter criança ou adolescente, como tais definidos
no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:
(Incluído pela Lei nº 9.975, de 23/06/2000, grifo do autor) Pena –
reclusão de 4 a 10 anos, e multa.
Entre as várias formas de tráfico de pessoas, tem se destacado o tráfico de
crianças e adolescentes, este trata-se da retirada da criança e/ou adolescente com ou sem
o consentimento dos pais/responsáveis, para fins de trabalho ilegal, exploração e abuso
sexual, ou outras formas de abuso. Sobre este o ECA dispõe,
Art. 239 - Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio
de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das
formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena - reclusão de
quatro a seis anos, e multa. Parágrafo único. Se há emprego de
violência, grave ameaça ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de
12.11.2003, grifo do autor)Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito)
anos, além da pena correspondente à violência. (Art. 239/ECA).
O trabalho infantil é aquele realizado por crianças e adolescentes, foras de suas
casas e dentro de casa de terceiros, que tem sido executado em troca de um pequeno
salário ou de uma promessa de roupa, escola, alimentação, etc. Podendo causar riscos
como esforços físicos intensos, isolamento, abuso físico, psicológico ou sexual, entre outras
consequências. Segundo o art. 60º/ECA: “É proibido qualquer trabalho a menores de
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz (Vide Constituição Federal, grifo
do autor) ”.
A exploração do trabalho de crianças e adolescentes no Brasil, é um fenômeno
que intensifica a desigualdade social e a pobreza, condições estas que acabam levando
inúmeras crianças e adolescentes a pertencerem a esse grupo. Esse ingresso no mundo do
trabalho, na maioria das vezes não parti de um processo de escolha, e sim em uma
necessidade imposta pela realidade social excludente, que determina as diversas maneiras
de inserção e precarização do trabalho.
Em relação ao trabalho abusivo e explorador a que estão sujeitos crianças e
adolescentes, este torna-os prejudicados em seu desenvolvimento físico, emocional e
intelectual nessa fase. Segundo a publicação do Ministério do Trabalho e Emprego, o Fundo
das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, menciona as seguintes características, no
que torna o trabalho infantil precoce prejudicial ao desenvolvimento de crianças:
I - aquele realizado em tempo integral, em idade muito jovem;
II - o de longas jornadas;
III - o que conduza a situações de estresse físico, social ou psicológico ou que seja
prejudicial ao pleno desenvolvimento psicossocial;
IV - o exercido nas ruas em condições de risco para a saúde e a integridade física o
moral das crianças;
V - aquele incompatível com a frequência à escola;
VI - o que exija responsabilidade excessiva para a idade;
VII - o que compromete e ameace a dignidade e a autoestima da criança, em
particular quando relacionado ao trabalho forçado e com exploração sexual;
VIII - trabalhos sub-remunerados.
O ECA (capítulo V, Título II) proíbe a realização de qualquer trabalho aos
menores de catorze anos, salvo na condição de aprendiz, nos termos da lei. Vale ressaltar
que este problema está associado à pobreza, à desigualdade e à exclusão social, pois para
muitas famílias, o trabalho infantil é uma questão de sobrevivência.
Nesse contexto, podemos destacar também a questão da mendicância, que é o
ato de pedir esmolas ou qualquer outro tipo de ajuda. É fácil notarmos a presença constante
de crianças e adolescentes pedindo dinheiro nos semáforos, ruas, de casa em casa, dentro
dos ônibus e que na maioria das vezes estão sozinhas. Essa realidade é presente em todo
cenário brasileiro, mas, nem toda vez essa ajuda é para compra de alimentos ou
necessidades básicas, a maioria das vezes são os próprios pais que mandam as crianças e
adolescentes irem pedir dinheiro na rua, para sustentar os seus vícios, principalmente para
uso de drogas. Diante disso, vale ressaltar que quando estas crianças estão nesse expostas
a essas condições pedindo dinheiro nas ruas, elas estão sujeitas a outros riscos sociais
ainda maiores, tais como o uso de drogas, além de ficarem distantes da escola.
Diante dessa realidade vivida, o uso de drogas se torna bem presente na vida
dessas crianças e adolescentes, não só o uso como também o tráfico. Os traficantes
aproveitam que estes não podem ser apreendidos para utiliza-los como mulas para o
transportar drogas, em troca eles ganham moedas, roupas, pequenas coisas. Além disso, a
criança e/ou adolescente envolvida nesse meio, podem acabar fazendo o uso dessas
substâncias. Dessa forma, o art.243/ECA determina:
Art. 243 - Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que
gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida
alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes
possam causar dependência física ou psíquica: (Redação dada pela
Lei nº 13.106, de 2015, grifo do autor)Pena - detenção de 2 (dois) a
4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave
(Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015, grifo do autor).
Envolvidos em situações que são vividas dentro do âmbito familiar, estas podem
levar crianças e adolescentes a riscos maiores, tais como a prática de atos infracionais. O
ato infracional praticado por adolescentes possui um caráter dual, pois carrega em seu
cerne a situação de um adolescente que violou o direito de outrem e que este mesmo
adolescente deve ser alvo de proteção integral e Prioridade Absoluta garantida em Lei,
posto que se o adolescente cometeu o ato infracional é porque os entes definidos para a
sua proteção (Estado, Sociedade e Família) em algum momento falharam. Vale ressaltar
que somente adolescentes cumprem medidas socioeducativas. Notada a prática do ato
infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas
socioeducativas previstas no art. 112/ECA:
Art. 112º - Verificada a prática do ato infracional, a autoridade
competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I – advertência;
II – obrigação de reparar o dano;
III – prestação de serviços à comunidade;
IV – liberdade assistida;
V – inserção de regime em semiliberdade;
VI – internação em estabelecimento educacional;
VII – qualquer uma das previstas no art. 101º, inciso I a VI.
Em razão disso, as intervenções governamentais ou não governamentais
buscando solucionar tais problemas esbarram na complicada realidade que nos cerca. As
situações de risco são frutos da exclusão social gerada pela má distribuição de renda,
perpetuando assim em cada nova geração, ampliando – se o contingente de necessitados.
Como forma de proteger e combater cada vez mais situações de riscos pessoais
contra crianças e adolescentes, temos como meio de denúncia o Disque 100, este é um
serviço de proteção de crianças e adolescentes, onde recebe denúncias de violação dos
direitos destes sujeitos.

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência contra criança e adolescentes inclui tanto impactos imediatos como


posteriores, que podem causar sérios danos em sua vida adulta. Antes de citar as causas e
consequências destes danos, é importante entendermos que, causa é o que ocasiona, ou
provoca algo, é o princípio ou origem de alguma coisa. Consequência é aquilo que resulta
da causa.
As causas das situações de risco pessoal enfrentadas por crianças e
adolescentes são as mais diversas, a começar do momento em que a família não tem
condições de cuidar dos seus filhos e por isso as crianças e/ou adolescentes sofrem
situações de negligência, até o ponto de que os pais/responsáveis negligenciam esses
direitos por outras questões, que acabam afetando o desenvolvimento da criança e/ou
adolescente.
Sabemos que vivemos em um mundo capitalista, e este traz severas
consequências para o mercado de trabalho, afetando diretamente a vida das pessoas.
Diante desse contexto do capitalismo, podemos citar como consequência o desemprego,
que é o principal fator que tem afetado as famílias.
O desemprego é uma das causas predominantes de situações de risco para as
famílias, atingindo assim as crianças e adolescentes inseridos nesse contexto familiar,
principalmente quando a família é numerosa, os recursos financeiros são poucos ou as
vezes nenhum. Os pais/responsáveis sem trabalhar, acabam por não atender aos anseios
das crianças e/ou adolescentes, e estas acabam na maioria das vezes entrando em
situações de risco como, não ter o que se alimentar, falta de remédio, condições precárias
de moradia, dentre outras questões que levam não somente as crianças e/ou adolescentes
como também toda a família a uma situação de risco.
Casos de situação de risco devido ao desemprego tem predominância nas
camadas populares. Entretanto, não é somente as crianças e adolescentes que estão
inseridas nas camadas populares que são vítimas de situações de risco, mas grande parte
da população de crianças e adolescentes passam por esse tipo de situações.
Toda criança que sofre por algum tipo de violência nos primeiros anos de sua
vida, pode ter seu desenvolvimento cerebral comprometido, dependendo do tipo de violência
sofrida, pode causar problemas nos relacionamentos futuros. A criança ou adolescente
vitimizado, perde a confiança em quem está ao seu redor, principalmente quando esses
riscos partem de dentro de suas casas; esse ambiente familiar corresponde à metade do
desenvolvimento da criança, se ela é criada em um ambiente agressivo, este é um fator
determinante para que ela seja um adulto violento. Por isso, vale ressaltar que toda criança
e/ou adolescente deve ter todo o acompanhamento que for necessário para a eliminação
desses riscos, para evitar que venha surgir problemas futuros que prejudique seu
desenvolvimento.
Em relação as consequências dessas situações de risco sofridos por crianças e
adolescentes, Caminha (2000) diz que estes se encontram em processo de
desenvolvimento tanto psicológico, como cognitivo, por isso tendem a criar seus
comportamentos a partir das primeiras experiências que vivenciam na vida.
Diante disso, segundo Silva e Hutz (2002), afirmam que o fato da criança ter sido
violentada tanto física como sexual, psicológico e/ou negligência, aumenta o risco de
cometer na adolescência atos infracionais, prejudicando ainda mais seu comportamento, e
dependendo de como for em sua adolescência, o risco de cometer crimes em sua vida
adulta é grande.
O fato da criança e/ou adolescente ser agredido em sua própria casa, local onde
este deveria ser protegido, o deixa totalmente desamparado, pois além de ter de conviver
com o agressor, ele acaba tendo que ficar calado diante das situações. As consequências
que estes podem sofrer podem vir a curto e a longo prazo, prejudicando tanto o seu
desenvolvimento como o ambiente social no qual pertence.
Para Greven (apud GUERRA, 1998, p.48),
Os sentimentos gerados pela dor decorrente da violência física de
adultos contra crianças são na maioria das vezes reprimidos,
esquecidos, negados, mas eles nunca desaparecem. Tudo
permanece gravado no mais íntimo do ser e os efeitos da punição
permeiam nossas vidas, pensamentos, nossa cultura.
Dessa forma, pode – se verificar que o comportamento e consequências das
pessoas que passaram por esse tipo de violência, condiz sempre com o relato de vários
autores que abordam sobre esse tema. Os efeitos das situações de risco pessoal podem ser
vistos nas funções cognitivas e emocionais, no âmbito escolar e social da criança e do
adolescente. As vezes quando notamos uma criança ou adolescente quieto, calado, nem
sempre é timidez, por isso é importante ficar atento quanto a essas questões, pois este pode
estar sofrendo algum tipo de violência dentro de casa.
“Os sintomas mais frequentes são: falta de motivação, isolamento, ansiedade,
comportamento agressivo, depressão, baixo desempenho e evasão escolar, dificuldade de
aprendizagem, repetência e necessidade de educação especial” (Brancalhone, Fogo e
Williams, 2004).
Nas situações de abuso físico e verbal os pais/responsáveis acabam tendo
desprazer com as crianças e/ou adolescentes, batendo neles ou isolando – os, retirando
alguns privilégios e até mesmo deixando de se comunicar com estes. Em algumas situações
ocorre dos pais/responsáveis negligenciarem a alimentação para os filhos. Casos como
este, podem despertar na criança e/ou adolescente um futuro agressor, tornando – o a
criança e/ou adolescente capaz de cometer algum ato infracional em sua adolescência ou
um crime em sua vida adulta.
Os prejuízos podem surgir como danos imediatos: pesadelos
repetitivos, raiva, culpa, vergonha, medo do agressor e de pessoa do
mesmo sexo que este, quadros fóbico – ansiosos e depressivos
agudos, queixas psicossomáticas, isolamento social e sentimentos
de estigmatização. Podem também acontecer como danos tardios:
aumento significativo na incidência de transtornos psiquiátricos,
dissociação afetiva, pensamentos invasivos, ideação suicida, fobias
mais agudas, níveis intensos de ansiedade, medo, depressão,
isolamento, raiva, hostilidade e culpa, cognição distorcida, tais como
sensação crônica de perigo e confusão, pensamento ilógico, imagens
distorcidas do mundo e dificuldade de perceber a realidade, redução
na compreensão de papéis complexos e dificuldades para resolver
problemas interpessoais (DAY, TELLES, ZORATTO, et. al, 2003).
Sendo assim, a violência contra crianças e adolescentes que ocorre no país,
apesar de ter bastante repercussão na mídia, muitos casos ainda continuam na
invisibilidade, pois nem todos são denunciados. Existem situações que vizinhos não
denunciam devido ao medo que tem se for descoberto que foi ele que denunciou,
principalmente em casos que envolve pais drogados ou traficante, abuso sexual; mesmo
com a opção de denúncia sigilosa, muitos têm medo devido a essas questões.
Portanto é necessário que tenha uma rede para lidar com esses casos, pois a
atuação desses profissionais que compõem essa rede, é fundamental na identificação e
prevenção da violência contra criança e adolescente, pois pode determinar o seu
rompimento, impedindo que muitos casos continuem acontecendo, interrompendo o ciclo
desses tipos de violações (ACIOLI, LIMA, BRAGA, et.al, 2011).

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