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Ana Carolina Araujo Lopes
Resumo
Abstract
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Graduanda do curso de Serviço Social, Universidade CEUMA. ana.cal95@hotmail.com
I. INTRODUÇÃO
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Direitos fundamentais são os direitos básicos individuais, sociais, políticos e jurídicos que são
previstos na Constituição Federal de uma nação. Por norma, os direitos fundamentais são baseados
nos princípios dos direitos humanos, garantindo a liberdade, a vida, a igualdade, a educação, a
segurança e etc.
Constituição Federal, que garante à criança e ao adolescente o acesso aos direitos
regulamentados.
O ECA estabelece que crianças e adolescentes possuem necessidade de
proteção integral e prioridade em seus direitos, tanto por parte da família como da sociedade
e do Estado. O Estatuto da Criança e do Adolescente é organizado em duas partes, onde a
primeira parte dispõe sobre os Direitos Sociais: educação, saúde, convivência familiar e
comunitária e lazer, que se destina a todas as crianças e adolescentes; e na segunda parte,
dispõe sobre as políticas de atendimento, sendo elas: medidas de proteção, medidas
socioeducativas e medidas pertinentes aos pais e responsáveis, esta parte se destina
especificamente a crianças e adolescentes em situação de risco.
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Violência é toda e qualquer forma de violação dos direitos de outra pessoa, podendo se manifestar
de diversas formas.
existe casos em que crianças e adolescentes enfrentam diversos tipos de situação de risco,
até mesmo pelos próprios familiares.
O abandono e a negligência referem – se na falta de assistência de pais ou
responsáveis quanto à segurança, educação, saúde e formação. Quando evidenciada a
negligência e falta de condições psicológicas, e não apenas falta de recursos materiais,
pode ser aplicada aos pais ou responsáveis a perda da guarda de crianças e adolescentes,
conforme art. 33 do ECA: “A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e
educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor – se a
terceiros, inclusive aos pais (Vide Lei nº 12.010, de 2009, grifo do autor). ”
O abandono é visto como uma forma grave de descuido, que aponta
para o rompimento de um vínculo apropriado dos pais para com os
seus filhos, submetendo às vítimas de abandono a sofrimentos
físicos e psicológicos, sendo contrárias as leis do estatuto da criança
e do adolescente que garante a toda criança condições dignas de
vida, explicitando especialmente o direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade (SILVA, ALVES, ARÁUJO, N/D).
Segundo o ECA, negligência seria o ato de omissão do responsável pela criança
ou adolescente, que apesar de informado e ter condições, intencionalmente deixa de prover
as necessidades básicas para seu desenvolvimento. A identificação da negligência em
nosso meio é complexa, devido às dificuldades socioeconômicas da população, o que leva a
esse questionamento da intencionalidade. Diante da raiz desse problema, encontramos uma
violência maior, que é a desigualdade social, que decorre da injustiça dos privilégios que
levam a irregularidade da apropriação dos bens que são produzidos pela comunidade.
No Brasil, a dificuldade de diferenciar negligência e pobreza é
particularmente aguda. O desamparo familiar e a privação
econômica, associados ao baixo nível de informação de grande
parcela da população, são características comuns num país marcado
por profunda desigualdade social; são também traços usualmente
relacionados ao comportamento negligente dos pais (...)
(GONÇALVES, 2003, p. 166).
Podemos observar que a maioria das famílias acusadas de negligência vivem
em condições de extrema pobreza. O conhecimento desses usuários em relação a questões
de higiene, alimentação, educação e saúde na maioria das vezes são diferentes daquelas
trazidas pelos profissionais. Este pode ser considerado um dos pontos mais complexos para
intervenção dos casos de negligência.
Caminha (2000) classifica a negligência de acordo com os níveis de gravidade,
ou seja, negligências leve, moderada e grave. A leve, consiste em uma ausência de regras
nos cuidados com relação a falta de horário para se alimentar e dormir, porém esse tipo de
negligência não deixa de ser importante, pois ela pode levar a outras situações, o que
contribui para uma negligência grave. A negligência moderada, consiste no descuido com
higiene, podendo gerar graves doenças. A grave, refere-se a casos de
crianças/adolescentes que não frequentam a escola ou que não são levadas para
atendimento médico quando necessitam, ou até mesmo de forma preventiva. Esse tipo de
ato negligente pode ser denominado abandono, isto é, a forma mais extrema de omissão do
cuidado.
O abuso psicológico, diz respeito a fazer ou exigir algo da criança e/ou
adolescente, de forma que cause danos sérios a sua autoestima ou a sua estrutura
emocional que está em formação. Esse abuso, trata-se de uma relação desigual de poder
entre adultos dotados de autoridade e crianças e adolescentes dominados. Pode ser
exercida através de determinadas atitudes, tais como: agressões verbais, de chantagens,
regras excessivas, ameaças (algumas vezes até de morte), humilhações, desvalorização,
desqualificação, rejeição e isolamento.
O Código Penal Brasileiro, dispõe em seu artigo 136 sobre maus – tratos:
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino,
tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. § 1º - Se do
fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um
a quatro anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a
doze anos.§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
O art. 13/ECA determina que casos de suspeita ou confirmação de maus – tratos
contra crianças ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar
da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Tipificando ainda em
seu artigo 245, o que segue:
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-
escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos
de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de
maus-tratos contra criança ou adolescente: Pena - multa de três a
vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
A violência sexual pode ser conceituada como: abuso sexual e exploração
sexual. O abuso sexual da criança ou do adolescente pode ou não envolver o contato físico.
É notável que a uma maior incidência de relatos de abuso sexual por parte de membros
familiares.
A legislação em vigor prevê com pena de reclusão de 2 a 6 anos e multa a
punição para a exploração sexual mediante imagens pornográficas, inclusive via internet
(art. 241 e 244A/ECA).
Art. 241º - Vender ou expor à venda fotográfica, vídeo ou outro
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008, grifo do autor) Pena – reclusão, de 4 a 8 anos, e
multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008, grifo do autor).
Art. 244-A – Submeter criança ou adolescente, como tais definidos
no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:
(Incluído pela Lei nº 9.975, de 23/06/2000, grifo do autor) Pena –
reclusão de 4 a 10 anos, e multa.
Entre as várias formas de tráfico de pessoas, tem se destacado o tráfico de
crianças e adolescentes, este trata-se da retirada da criança e/ou adolescente com ou sem
o consentimento dos pais/responsáveis, para fins de trabalho ilegal, exploração e abuso
sexual, ou outras formas de abuso. Sobre este o ECA dispõe,
Art. 239 - Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio
de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das
formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena - reclusão de
quatro a seis anos, e multa. Parágrafo único. Se há emprego de
violência, grave ameaça ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de
12.11.2003, grifo do autor)Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito)
anos, além da pena correspondente à violência. (Art. 239/ECA).
O trabalho infantil é aquele realizado por crianças e adolescentes, foras de suas
casas e dentro de casa de terceiros, que tem sido executado em troca de um pequeno
salário ou de uma promessa de roupa, escola, alimentação, etc. Podendo causar riscos
como esforços físicos intensos, isolamento, abuso físico, psicológico ou sexual, entre outras
consequências. Segundo o art. 60º/ECA: “É proibido qualquer trabalho a menores de
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz (Vide Constituição Federal, grifo
do autor) ”.
A exploração do trabalho de crianças e adolescentes no Brasil, é um fenômeno
que intensifica a desigualdade social e a pobreza, condições estas que acabam levando
inúmeras crianças e adolescentes a pertencerem a esse grupo. Esse ingresso no mundo do
trabalho, na maioria das vezes não parti de um processo de escolha, e sim em uma
necessidade imposta pela realidade social excludente, que determina as diversas maneiras
de inserção e precarização do trabalho.
Em relação ao trabalho abusivo e explorador a que estão sujeitos crianças e
adolescentes, este torna-os prejudicados em seu desenvolvimento físico, emocional e
intelectual nessa fase. Segundo a publicação do Ministério do Trabalho e Emprego, o Fundo
das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, menciona as seguintes características, no
que torna o trabalho infantil precoce prejudicial ao desenvolvimento de crianças:
I - aquele realizado em tempo integral, em idade muito jovem;
II - o de longas jornadas;
III - o que conduza a situações de estresse físico, social ou psicológico ou que seja
prejudicial ao pleno desenvolvimento psicossocial;
IV - o exercido nas ruas em condições de risco para a saúde e a integridade física o
moral das crianças;
V - aquele incompatível com a frequência à escola;
VI - o que exija responsabilidade excessiva para a idade;
VII - o que compromete e ameace a dignidade e a autoestima da criança, em
particular quando relacionado ao trabalho forçado e com exploração sexual;
VIII - trabalhos sub-remunerados.
O ECA (capítulo V, Título II) proíbe a realização de qualquer trabalho aos
menores de catorze anos, salvo na condição de aprendiz, nos termos da lei. Vale ressaltar
que este problema está associado à pobreza, à desigualdade e à exclusão social, pois para
muitas famílias, o trabalho infantil é uma questão de sobrevivência.
Nesse contexto, podemos destacar também a questão da mendicância, que é o
ato de pedir esmolas ou qualquer outro tipo de ajuda. É fácil notarmos a presença constante
de crianças e adolescentes pedindo dinheiro nos semáforos, ruas, de casa em casa, dentro
dos ônibus e que na maioria das vezes estão sozinhas. Essa realidade é presente em todo
cenário brasileiro, mas, nem toda vez essa ajuda é para compra de alimentos ou
necessidades básicas, a maioria das vezes são os próprios pais que mandam as crianças e
adolescentes irem pedir dinheiro na rua, para sustentar os seus vícios, principalmente para
uso de drogas. Diante disso, vale ressaltar que quando estas crianças estão nesse expostas
a essas condições pedindo dinheiro nas ruas, elas estão sujeitas a outros riscos sociais
ainda maiores, tais como o uso de drogas, além de ficarem distantes da escola.
Diante dessa realidade vivida, o uso de drogas se torna bem presente na vida
dessas crianças e adolescentes, não só o uso como também o tráfico. Os traficantes
aproveitam que estes não podem ser apreendidos para utiliza-los como mulas para o
transportar drogas, em troca eles ganham moedas, roupas, pequenas coisas. Além disso, a
criança e/ou adolescente envolvida nesse meio, podem acabar fazendo o uso dessas
substâncias. Dessa forma, o art.243/ECA determina:
Art. 243 - Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que
gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida
alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes
possam causar dependência física ou psíquica: (Redação dada pela
Lei nº 13.106, de 2015, grifo do autor)Pena - detenção de 2 (dois) a
4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave
(Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015, grifo do autor).
Envolvidos em situações que são vividas dentro do âmbito familiar, estas podem
levar crianças e adolescentes a riscos maiores, tais como a prática de atos infracionais. O
ato infracional praticado por adolescentes possui um caráter dual, pois carrega em seu
cerne a situação de um adolescente que violou o direito de outrem e que este mesmo
adolescente deve ser alvo de proteção integral e Prioridade Absoluta garantida em Lei,
posto que se o adolescente cometeu o ato infracional é porque os entes definidos para a
sua proteção (Estado, Sociedade e Família) em algum momento falharam. Vale ressaltar
que somente adolescentes cumprem medidas socioeducativas. Notada a prática do ato
infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas
socioeducativas previstas no art. 112/ECA:
Art. 112º - Verificada a prática do ato infracional, a autoridade
competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I – advertência;
II – obrigação de reparar o dano;
III – prestação de serviços à comunidade;
IV – liberdade assistida;
V – inserção de regime em semiliberdade;
VI – internação em estabelecimento educacional;
VII – qualquer uma das previstas no art. 101º, inciso I a VI.
Em razão disso, as intervenções governamentais ou não governamentais
buscando solucionar tais problemas esbarram na complicada realidade que nos cerca. As
situações de risco são frutos da exclusão social gerada pela má distribuição de renda,
perpetuando assim em cada nova geração, ampliando – se o contingente de necessitados.
Como forma de proteger e combater cada vez mais situações de riscos pessoais
contra crianças e adolescentes, temos como meio de denúncia o Disque 100, este é um
serviço de proteção de crianças e adolescentes, onde recebe denúncias de violação dos
direitos destes sujeitos.
REFERENCIAS
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DAY, V.P.; et al. Violência doméstica e suas diferentes manifestações. Rev. psiquiátrica.
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