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FACULDADE DOM ALBERTO

ADEMILDE FONTANA DUARTE OLIVEIRA

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL COM AS CRIANÇAS E


ADOLESCENTE VITÍMA DE VIOLÊNCIA SEXUAL

JOANÓPOLIS - SP
2.022
FACULDADE DOM ALBERTO

ADEMILDE FONTANA DUARTE OLIVEIRA

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL COM CRIANÇAS E


ADOLESCETES VITÍMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do título especialista em
SERVIÇO SOCIAL

JOANÓPOLIS - SP
2.022
O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL COM AS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES VITÍMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

OLIVEIRA, Ademilde Fontana Duarte1,

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO – Este artigo busca analisar o aspecto da violência doméstica e familiar contra a criança e o
adolescente. Muitas vezes, as crianças e os adolescentes se calam e não registram queixa ou denunciam
este tipo de violência, justamente por medo ou por respeitabilidade hierárquica, quando os agressores
são membros de sua família. Então, sentem-se acuadas e não sabem como agir, que atitude tomar. É
nesse aspecto que entra o trabalho do profissional do Serviço Social, que irá prestar os primeiros
atendimentos à criança e adolescente vítimas da violência sexual. É necessário que a atuação dos
assistentes sociais seja efetiva, prática e com certa eficiência, buscando sanar o problema em um
primeiro momento. Portanto, este artigo tem como objetivo justamente analisar o trabalho deste
profissional, em sua área de atuação, bem como os métodos de trabalho. Trata-se de uma pesquisa
doutrinária, onde serão buscadas inovações sobre o tema, fruto de estudo de pesquisadores dos mais
renomados estudiosos sobre o assunto.

PALAVRAS-CHAVE: Criança. Adolescente. Violência Sexual. Assistente Social. Escola e Família.

ABSTRACT - This article seeks to analyze the aspect of domestic and family violence against children
and adolescents. Often, children and adolescents are silent and do not file a complaint or denounce this
type of violence, precisely out of fear or hierarchical respectability, when the aggressors are members of
their family. So, they feel cornered and don't know how to act, what attitude to take. It is in this aspect that
the work of the Social Service professional comes in, who will provide the first care to children and
adolescents who are victims of sexual violence. It is necessary that the performance of social workers is
effective, practical and with some efficiency, seeking to solve the problem at first. Therefore, this article
aims precisely to analyze the work of this professional, in his area of expertise, as well as the working
methods. This is a doctrinal research, where innovations on the subject will be sought, the result of a
study by researchers of the most renowned scholars on the subject.

KEYWORDS: Child. Adolescent. Sexual Violence. Social Worker. School and Family.

1
ademildefontana@hotmail.com.
1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como tema o “Serviço Social e o Trabalho com Crianças e
Adolescentes vítimas de Violência Sexual”.
O tema está inserido na área de Serviço Social, porém serão necessárias
algumas abordagens essenciais, como conceitos sobre aspectos relevantes para o
presente estudo, a fim de que haja compreensão necessária sobre os aspectos
abordados.
No entanto, o tema é bastante complexo, porém a realidade demonstra que
muitas crianças e adolescentes realmente são vítimas de violência sexual. Tal problema
tem sido considerado um problema de saúde pública em diversos países, inclusive no
Brasil.
Crianças e adolescentes têm que ser protegidos pela sociedade, pois é o futuro
de um país. Objetiva-se um crescimento saudável, para que seres humanos dignos e
honestos possam ser constituídos.
Crianças e adolescentes são considerados prioritários pela legislação brasileira,
tendo a garantia constitucional de que são protegidos e inerentes aos direitos básicos.
No entanto, será que isso realmente está acontecendo? Será que a proteção tem sido
eficiente, conforme o disposto no texto constitucional?
Estes têm que ter um atendimento prioritário, ter o direito ao acesso à educação,
à saúde, e outros direitos básicos de todo cidadão, garantido inclusive pela Lei Maior,
que é a Constituição Federal.
Assim, criança é o ser humano cuja idade compreende do zero aos doze anos.
Adolescente, é o ser humano com idades de doze aos dezoito anos.
Portanto, objetiva-se uma proteção para o ser humano, sujeito de direitos e
obrigações, do zero aos dezoito anos. Aos dezoito anos, o indivíduo atinge a
maioridade civil, nos termos do artigo 5º, do Código Civil Brasileiro.
Diante desta breve explanação, compreende-se que a lei protetiva abrange todos
os indivíduos cuja idade seja inferior aos dezoito anos.
O indivíduo cuja idade seja inferior aos dezoito anos está cheio de planos,
expectativas para a vida. Geralmente, estudando, escolhendo sua profissão. Tem, em
sua família, a sua base moral, sua estrutura psicológica.
Imagina-se, porém, em caso contrário, quando presenciar em seu âmbito familiar
uma ameaça, sente-se mal com as agressões constantes sofridas em seu âmbito
familiar, ou mesmo nas ruas, quando é abordado e agredido constantemente, tendo sua
sexualidade simplesmente invadida.
Em uma época de descobertas, quando está descobrindo seu próprio corpo ou
descobrindo aspectos de sua existência, de sua vida, é agredido, molestado (por
conhecidos ou não).
Como ficaria o psicológico deste jovem? Como este poderia confiar em seu
próximo, ao saber que a sua inconfiabilidade vem de seu próprio lar, onde este teria o
seu respaldo, o seu conforto e o amor necessário para constituí-lo como ser humano?
A maioria destes jovens carrega para o resto de suas vidas os traumas vividos
em suas infâncias e adolescências. Necessitam de tratamento psiquiátrico intensivo em
muitos casos e muitos acabam por se sentir desfigurados moralmente.
Assim, é importante ressaltar estes dois aspectos — o jurídico e o social.
Quando se trata do aspecto jurídico, ressente-se por algo que já ocorreu, determinando
punições para o agressor e proteção à vítima para que não sofra mais agressões.
Porém, abrange o aspecto repressivo da questão.
Já no âmbito social, busca-se um aspecto preventivo, ou seja, tende-se a evitar
que casos assim ocorram, buscando o âmbito social, através de palestras ou
instruções, para que tal caso não ocorra. Visa à proteção da criança e do adolescente
para que estes não sofram agressões sexuais de quem quer que seja.
Portanto, tem por objetivo geral uma análise doutrinária sobre a questão da
violência sexual contra crianças e adolescentes, buscando assuntos práticos da
atualidade, informando como agem os grupos de apoio e a busca da repressão sobre
este tipo de violência.
Assim, para viabilizar, serão utilizadas pesquisas nos mais renomados autores
que disciplinam sobre o assunto, bem como serão buscados dados novos sobre o
assunto através de meios eletrônicos, tais como internet.
1. VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Infelizmente, a violência sexual contra crianças e adolescentes tem se tornado


uma prática cada vez mais comum nos dias atuais. Para entendermos a dimensão do
problema é necessário, preliminarmente, estabelecer um conceito sobre o tema
abordado. Os pediatras americanos Kempe & Kempe (1984, apud FELIZARDO et al.,
2006) define abuso sexual da seguinte forma:
“Abuso sexual infantil é o uso sexual de uma criança por uma pessoa adulta para
a sua satisfação sexual sem levar em consideração o desenvolvimento psicossexual e
social dessa criança” (KEMPE; KEMPE, 1984, p. 9, apud FELIZARDO et al., 2006, p.
70).
Os pediatras ainda entendem que:

O uso de crianças e adolescentes, que são, segundo o seu desenvolvimento,


ainda dependentes e imaturos, em relações sexuais, as quais elas, as crianças,
não conseguem entender totalmente e também são incapazes de darem o seu
consentimento consciente ou de violar tabus sociais em relação a papéis
familiares (KEMPE; KEMPE, 1984, p. 9, FELIZARDO et al., 2006).

A psicanalista suíça Wirtz (1990, apud FELIZARDO et al., 2006) entende que tal
relação independe de duas partes envolvidas, pois uma relação que envolve uma
pessoa adulta e uma criança é uma prática que esta última não tem condições de
consentir.
O adulto se aproveita da relação hierárquica em relação à criança, obrigando a
mesma a cooperar. Assim, o abuso sexual contra crianças e adolescentes, podem ser
equiparados ao estupro. Nesse sentido, “trata-se aqui de uma relação sexual imposta,
mesmo que o momento da violência física não esteja presente” (WIRTZ, 1990, p. 17,
apud FELIZARDO et al., 2006).
Segundo Wirtz (1990, apud FELIZARDO et al., 2006), a criança, que deveria
receber atenção e cuidados dos adultos, é, entretanto, violentada por quem justamente
tem como um modelo e que depende financeira e afetivamente.
Shengold (apud WIRTZ, 1990, apud FELIZARDO et al., 2006) entende que tal
espécie de violência é o “ataque total contra o ser da pessoa”. Assim, a identidade da
criança e do adolescente é diretamente afetada.
O abuso sexual infantil é, portanto, definido como:

Uma ação sexual (ou sexualizada) de um adulto com uma criança, que, pelo
seu desenvolvimento emocional e cognitivo, e pela relação de poder desigual
entre duas gerações, não está em condições de se decidir livremente (HRSG,
1984, p. 69, apud FELIZARDO et al., 2006).

O abuso sexual intrafamiliar, ou seja, ocorrido no seio da família é um fenômeno


bastante disseminado, que ocorre em todas as classes sociais, em todas as raças, que
é praticado por pessoas consideradas normais.
“No espaço familiar, a criança e o adolescente deveriam receber conforto, amor e
confiança, pré-requisitos para um desenvolvimento adequado de suas personalidades,
mas é justamente onde mais acontece esse tipo de violência” (FELIZARDO et al.,
2006).
A nova concepção de abuso sexual exige um estudo e dedicação mais assídua.
Novos conceitos estão constantemente surgindo, há a tecnologia que favorece, e muito,
as formas de comunicação.
O perigo não é mais o mesmo de décadas atrás. O perigo pode vir dos lares, do
âmbito familiar, ou mesmo através de um elo, de um meio de comunicação, onde o
agressor pode ser introduzido na vida cotidiana dessas vítimas.

Extremismos, tais como indiferença ou indignação exagerada, não contribuem


como solução para o problema. Pelo contrário. Na verdade, essas reações
servem muito mais para deslocar o tema do abuso sexual infanto-juvenil para a
margem da sociedade, sob risco de neutralizar o assunto e reforçar a lei do
silêncio socialmente imposta de não se falar dele ou nele publicamente. O
fenômeno do incesto demanda uma discussão em torno de três temas-tabus,
que nessa dinâmica estão interligados: família, sexualidade e violência,
tomando-se como base a estrutura patriarcal ocidental, em conjunto com a
tendência do recalcamento coletivo e individual da questão. (FELIZARDO et al.,
2006)

A formação social, a criação de paradigmas, pressiona gradativamente a família


nuclear para o isolamento social, uma vez que a sociedade retira a família da esfera
pública (FELIZARDO et al., 2006).
Portanto, a família se torna o único espaço em que o indivíduo possa
desenvolver suas emoções e satisfazer seus desejos e necessidades de atenção, de
carinho, ou mesmo contato corporal. Dessa forma, os elos familiares se fortalecem,
tornando-se o único espaço em que a criança e o adolescente possam satisfazer suas
necessidades emocionais (FELIZARDO et al., 2006).

Ao se lançar um olhar retrospectivo sobre o processo histórico da civilização


ocidental, vê-se que a infância foi quase sempre dominada por violência e
exploração. Entretanto, essa questão foi até recentemente esquecida. Parece
existir uma tendência a reprimir a realidade má e sombria entre adultos e
crianças e a idealizar as boas lembranças da infância. Em abril de 1896, o pai
do movimento psicanalítico, Sigmund Freud, proferiu uma palestra para os seus
colegas vienenses sobre a origem da histeria. Nela, ele indicou como causa
para os sintomas dessa neurose de conversão (que ocorria em pacientes seus
– 12 mulheres e 06 homens) a sedução sexual cometida pelo próprio pai na
idade infantil. Para esse autor, o sintoma histérico não era uma defesa contra a
sexualidade, mas uma resistência às perversões sofridas (HIRSCH, 1990;
WIRTZ, 1990, apud FELIZARDO et al., 2006).

Sendo a criança e o adolescente historicamente desfavorecidos, há algo que


pode ficar claro nos dias de hoje. Com a evolução social, com a globalização, com a
disseminação dos meios de comunicação, torna-se essencial que haja mecanismos de
proteção a estes, para que se evite um mal maior. Crianças e adolescentes devem ser
preservados. Não basta a letra fria de a lei prever tal proteção, mas é necessário
investimento do Poder Público nesse sentido.

2 AS PRINCIPAIS CAUSAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E


ADOLESCENTES

Há diversas causas da violência sexual contra crianças e adolescente, podendo


ser estas múltiplas e complexas. Porém, as causas estão relacionadas aos problemas
sociais, econômicos e culturais, devendo ser analisada com o devido cuidado,
considerando as diferentes variáveis para o abuso e a exploração sexual.
Além das várias causas, há também os contextos em que o problema está
inserido, o que fatalmente poderá agravá-lo ou mesmo dificultar o seu enfrentamento.
A utilização do álcool e de outras drogas tem sido um fator determinante em
casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. Tal prática está sempre
associada à violência intrafamiliar (SOUZA & JORGE, 2015).
Segundo Souza & Jorge (2015), a violência sexual está, infelizmente, coberta por
um tabu que conduz ao silêncio das vítimas. Muitas se sentem envergonhadas, não
sabem como falar sobre o problema. Elas sentem medo de prejudicar um membro de
sua família, normalmente o agressor. Por exemplo, sendo o pai o agressor, muitos se
sentem inibidos em denunciá-lo, com medo que este venha a sofrer as consequências,
ou seja, sejam presos e fiquem anos e anos atrás das grades.
É comum ouvir que a causa é a pobreza, que isso acontece nas regiões mais
remotas do País ou na periferia, porém identificar as principais causas de tal problema
é fundamental para enfrentá-lo.
Assim, tal estudo é bem mais complexo do que parece. Poderia os fatores ser
relacionados com os grupos sociais e culturais, momentos históricos e características
econômicas. Mas Graça Gadelha (apud CHILDHOOD, 2012) afirma que “o abuso
sexual no Brasil não tem uma classe social”.
Quanto à exportação sexual, induz ao pensamento de uma relação de mercado,
em que o sexo é fruto de uma troca. Diversas vezes o agressor acreditar estar inclusive
ajudando a criança e o adolescente, pois acredita estar entregando-o a uma família que
irá suprir todas suas necessidades básicas (CHILDHOOD, 2012).

Também temos que considerar o fato de famílias menos favorecidas terem


menor condição de acompanhar e orientar seus filhos por trabalharem fora e
não terem uma rede de apoio. Por outro lado, a insuficiência ou falta de políticas
públicas na várias esferas não apoiam e nem garantem um atendimento
integrado, contínuo e de qualidade a essas famílias (CHILDHOOD, 2012).

Então, por Childhood (2012), deveria haver mais investimento do Poder Público
para que tal situação pudesse ser resolvida. Trata-se de uma condição insustentável,
onde crianças e adolescentes acabam sofrendo as consequências.
Tem-se que considerar, também, que os agressores podem ser portadores de
algum distúrbio que os conduz à prática da violência sexual.
A falta de informação é um aspecto a ser considerado. Mesmo jovens vítimas
deste tipo de abuso não registram suas reclamações, o que afeta diretamente as
estatísticas sobre o assunto.
Childood (2012) comenta que abordar temas relativos à sexualidade é algo
complexo. Ainda existe um tabu quanto a isto, ou seja, muitos relutam em discutir, falar
sobre o tema. Talvez se sintam envergonhados, inibidos por relatar que sofreram abuso
sexual de alguém conhecido, muito próximo destas vítimas.
A dependência dos agressores também é outra questão que os impedem de
relatar o que realmente está acontecendo. Assim, pais ou responsáveis, por exemplo,
agressores destes menores, são responsáveis pelo orçamento familiar. Uma prisão do
agente ativo, neste caso, importa em uma redução às condições de vida, que
normalmente já é precária.
Graça Gadelha (apud CHILDHOOD, 2012), afirma que por outro lado, crianças e
adolescentes, vítimas de violência sexual, são atendidos por médicos, psicólogos ou
psiquiatras, fazendo com que a notificação não chegue ao Sistema de Garantia de
Direitos, o que é prejudicial às estatísticas.
Já os fatores culturais são de extrema importância quando se fala em violência
sexual contra crianças e adolescentes. Assim, em uma sociedade em que a mulher é
vista como objeto, em uma cultura extremamente machista, é comum que ocorra tal
prática. As vítimas, inclusive, podem ser meninos, cujos agressores podem ser tanto
homens como mulheres.
Tais casos são menos denunciados, pois há um enorme constrangimento. Muito
se espera de políticas públicas ou projetos para atender estes meninos. Há a
dificuldade para o encaminhamento de vítimas do sexo masculino.

A violência é um substantivo plural, e tem diversas manifestações. Sua


ocorrência está muitas vezes baseada em uma relação de poder em relação à
vítima. Esse poder pode ser tanto econômico, geracional, de força física, de
classe social, ou mesmo de gênero. Refletir sobre o papel de cada um e cada
grupo na sociedade e como isso impacta na vulnerabilidade de crianças e
adolescentes a violência é fundamental (GADELHA apud CHILDHOOD, 2012,
p. 03).

Portanto, conclui-se que evitar a violência sexual é olhar todos os fatores


abordados no presente capítulo com o devido cuidado para não estigmatizar grupos,
cenários ou causas.
3. A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL COM AS VÍTIMAS

O atendimento do abuso sexual da criança e do adolescente sempre gera muita


dificuldade. Há intervenção do profissional de Serviços Sociais como se fosse um
primeiro-socorro referente aos danos causados.
Para Felizardo (2015), há muitas dúvidas levantadas sobre a veracidade ou não
da denúncia e uma gritante resistência das famílias em prestar queixa sobre tais
acontecimentos.
O jovem, ou seja, a criança e o adolescente devem ser preservados e deve-se
evitar uma exposição desnecessária.
Porém, nada poderá ser feito se as autoridades não tomarem conhecimento da
violência sexual contra crianças e adolescentes. Assim, pesquisas mostram que 50%
das denúncias de abuso sexual são registradas, em um primeiro momento, na
autoridade policial. Portanto, tais autoridades são uma porta de entrada para tomar
conhecimento do que realmente está acontecendo (FELIZARDO, 2015).
Isto realmente faz entender que existe a expectativa de que haja a interrupção da
situação abusiva por parte de um terceiro, uma vez que tal auxílio não é encontrado no
âmbito familiar (FELIZARDO, 2015).
O momento da denúncia tem sido priorizado, sendo que a punição do culpado a
única forma de coibição da violência sexual contra crianças e adolescentes.
Porém, há outras formas que são consideradas portas de entrada para as
queixas, o que completam dados estatísticos e obrigam o Poder Público a tomar
alguma situação prática diante de tal realidade.
Notificações de maus-tratos pelos profissionais de saúde, e as instituições
escolares contra crianças e adolescentes tornaram-se um ato obrigatório no País.
Assim, caso uma criança ou adolescente apresente hematomas, ferimentos ou
qualquer outra característica que idealize uma agressão física, ou mesmo uma simples
suspeita, deve ser comunicado às autoridades, para que providencias sejam
devidamente tomadas (FELIZARDO, 2015). Porém, a prática apresenta de forma
diferente.
Na rede pública de assistência, tais casos geralmente são submetidos a um
chamado “jogo de empurra” entre os profissionais e instituições. Talvez diante da
dificuldade em abordar a veracidade dos fatos, muitos profissionais isentam em assumir
certa responsabilidade.
Há uma série de questões a serem analisadas em primeiro lugar, bem como a
preparação do profissional para poder lidar com tal situação. Ou mesmo a falta de
recursos para poder resolver a situação da melhor maneira possível.
Segundo Felizardo (2015), outra questão relevante é que muitas vezes a vítima
sente-se desencorajada em denunciar o agressor e ter que enfrentar as consequências
de seu ato. Muitos preferem silenciar-se ou mesmo retirar posteriormente a denúncia,
com medo que o agressor volte a praticar tal tipo de violência.
O profissional de serviço social, neste caso, sente-se desapontado, impotente
diante do recuo da vítima em prosseguir com a denúncia. As agressões voltam a
ocorrer, infelizmente, sem que, possa estes profissionais tomar alguma atitude.
A família é uma instituição social básica, fundamental para a formação do
indivíduo, conforme já abordado no presente trabalho monográfico. Aos pais, cabe zelar
pela educação e segurança de sua prole, provendo as necessidades materiais de seus
filhos (FELIZARDO, 2015).
Quando os pais são agressores, como deve o profissional de serviço social
intervir? Evidentemente que estes não têm o poder de destituir o pátrio poder, pois
somente o judiciário poderá fazê-lo. E como poder agir em situações em que os chefes
das famílias são os agressores, os abusadores?
Deve o assistente social visitar as casas para poder averiguar o que realmente
está acontecendo, porém intervir dentro de suas competências, ou seja,
aconselhamento, um tratamento diferenciado, mais humanizado, não apenas
manifestar-se como conselheiro (uma vez que são os pais ou responsáveis os
agressores, neste caso), mas deve haver uma intervenção adequada, dependendo do
caso concreto (FELIZARDO, 2015, p. 68).
Evidentemente que o encaminhamento aos profissionais especializados seria a
melhor solução, mas o agente social deve intervir principalmente em comunidades
carentes, oferecendo um primeiro atendimento.
Como foi anteriormente abordado, receberão a indicação do Conselho Tutelar,
que irá também agir dentro de sua competência funcional. Porém, apesar disso, devem
estabelecer um calor humano, ou seja, um atendimento mais humanizado, prestando
atenção necessária para tais famílias, oferecendo um apoio social (ARAÚJO, 2015).
Os problemas familiares não dizem apenas aos integrantes da família, mas
dizem a todos. Por isso, a própria família deve ser vista através de uma ótica operativa,
criando um espaço de acolhimento e reflexão para que os integrantes de dada entidade
familiar possa refletir sobre os problemas e buscar soluções mais criativas para resolver
o conflito e não apenas negá-lo (ARAÚJO, 2015).
Os papéis deverão ser redefinidos, a responsabilidade de cada um deve ser
atribuída. Porém, o diálogo é de fundamental importância, deve ser utilizado como um
instrumento com referencial diverso para a solução de problemas.
Lembrando sempre que a criança ou adolescente devem ser devidamente
poupados e jamais expostos.
Não se trata de uma tarefa fácil para a família e para os assistentes sociais. Os
terapeutas optam por atender cada integrante da família separadamente, ao passo que
o agente social pode optar por um atendimento coletivo, ou seja, ouvir a todos os
integrantes da família em um mesmo momento.
Lidar com a violência sexual ocasiona certo desgaste emocional, o que deve ser
considerado. Cria-se um chamado recalcamento subjetivo, que é baseado em reflexões
de Wirtz (1990 apud FELIZARDO et al., 2006), que afirma que se trata de um
mecanismo de defesa utilizado por especialistas.

Numa confrontação terapêutica com pacientes gravemente traumatizados,


exemplarmente verificados em vítimas de incesto, o terapeuta sente-se exposto
a suas próprias dificuldades emocionais. Wirtz menciona Eissler que recorre às
reações de defesa coletivas para descrever a sensação de desamparo que se
observa em psicanalistas que vivenciam essa situação na sua prática. Em sua
concepção, o confronto com o seu próprio desamparo exige do terapeuta que
faça uma revisão das suas crenças emocionais, do seu sistema de valores, o
que é, pois, bastante ameaçador, sobretudo porque coloca em perigo também o
ego (eu) do profissional (WIRTZ, 1990, apud FELIZARDO et al., 2006).

O profissional acaba por se envolver pela vida pessoal da vítima, sentindo-se


envergonhado. Porém, tal sentimento não pode ser transmitido à vítima, pois se
perderá esta relação de confiabilidade.
O certo é que durante o relato de uma vítima de violência sexual é embargado
por uma forte emoção, o sentimento existente naquele momento é o de miséria
humana, há uma dor incontrolável.
Portanto, recomenda-se que se atenuem os seus efeitos.
Há outros sentimentos que pode surgir naquele momento, tal como raiva e
indignação.
Wirtz (1990 apud FELIZARDO et al., 2006), descreve que ocorre que, são muitos
sentimentos negativos naquele momento, o que requer muito preparo do profissional do
Serviço Social para agir.
Sentimentos destrutivos, como raiva, indignação, ódio, dentre outros, não devem
ser compartilhados com o profissional que faz o atendimento. Mesmo estando este
sobre grande revolta diante do relato feito, deve tentar minimizar a situação. Em um
primeiro momento, a vítima tem que exteriorizar o que está realmente sentindo naquele
momento.
O profissional do serviço social deve ouvir as vítimas com a devida atenção.
Mas, antes mesmo de se fixar nas palavras das vítimas, deve abstrair nelas o
comportamento durante o depoimento. Evidentemente que as vítimas não têm
compromisso com a verdade. E muitos se limitam a falar muito pouco, com muita
cautela (WIRTZ, 1990, apud FELIZARDO et al., 2006).
Há um bloqueio que impede que as crianças e adolescentes consigam narrar
tudo o que aconteceu de forma detalhada. Há uma escolha de palavras, e não um
depoimento natural, onde as palavras são, muitas vezes, bloqueadas.
Então, o assistente social deve intervir, sim, mas conforme a sua competência
funcional. Devem utilizar-se de instrumentos que têm diante de si para poder atuar,
porém apenas isso, agir de acordo com as normas de sua profissão exigem.

CONCLUSÃO

Essa pesquisa procurou analisar através das pesquisas bibliográficas a questão


da violência sexual contra crianças e adolescentes e o trabalho do serviço social.
Profissionais bem estruturados, capazes de enfrentar o problema como
soberania e eficiência, se fazem necessários, para que haja um direcionamento melhor
para o tratamento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.
Crianças e adolescentes são considerados prioritários pela legislação brasileira.
O art. 4º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990), garante a “absoluta prioridade” no atendimento as crianças e adolescentes.
Portanto, pelo atendimento prioritário, entende que o Estado se preocupou em
tratar crianças e adolescentes com o devido cuidado e atenção. No entanto, isto
realmente não tem acontecido na prática, justamente porque as crianças e
adolescentes, objetos de tal proteção legal, estão sendo maltratados e apresentam
condições de vida precária.
Crianças e adolescentes acabam por serem moralmente violentadas, tendo suas
dignidades sacrificadas, estando, portanto, expostos a todo tipo de gente, que acaba
por explorá-las também sexualmente.
Isto ocorre com frequência, infelizmente. Porém, mais do que isso, ocorre
também à exploração sexual no âmbito de seus lares. A família deveria representar a
estabilidade, a segurança para tais crianças e adolescentes. É na família que
teoricamente encontra-se o respaldo social, o enfrentamento de problemas e anseios,
onde angústias são devidamente superadas. Porém, quando a ameaça vem dos lares,
a situação torna-se ainda mais complicada.
Normalmente, o adulto que abusa sexualmente de seus filhos utiliza a hierarquia
como um argumento, para depositar na criança toda sua frustração, suas angústias.
Esquecem-se por muitas vezes que são apenas crianças e não pequenos adultos.
Quando este tipo de violência ocorre dentro dos lares, torna-se mais difícil, pois
as crianças raramente denunciam o abuso, ou por medo, ou temendo ter seus pais ou
responsáveis presos e afastados de seus lares.
Assim, a violência intrafamiliar é mais comum do que nos parece, porém muitos
casos são “abafados” e não chegam ao conhecimento de autoridades. Somente casos
extremos, quando a violência sexual deixa marcas visíveis (como hematomas, por
exemplo) ou mesmo causam a morte das vítimas, é que as autoridades conseguem
tomar conhecimento do ocorrido.
Aspectos como o socioeconômico, portanto, vem influenciando muito o resultado
de tais pesquisas. Pais apresentam, algumas vezes, certos desprezo pela situação de
seus filhos, pois o que se percebe é que estes se sentem como “donos” de seus filhos.
Em outras palavras, seus filhos são vistos como se fossem propriedade sua. Muitas
crianças apresentam em suas aparências o retrato do descaso de seus pais ou
responsáveis. Não apenas marcas físicas, mas também em suas vestimentas, seu
estado de higiene, etc.
Profissionais têm encontrado inúmeras dificuldades para tratar de tais assuntos.
O assistente social precisa atender as famílias vítimas de tal violência com o máximo de
cuidado, para que se possa chegar a uma conclusão aceitável.
Assim, as estratégias de intervenção devem ser cuidadosamente pensadas. É
preciso investimento social e profissional, para que os resultados possam ser
reduzidos. Não há mais como a sociedade conviver com esta triste realidade. O Estado
não pode mais mostrar-se pacífico diante do abuso sexual onde crianças e
adolescentes são vítimas. Será necessário um estudo de programas sociais mais
eficazes para a prevenção de tais situações. Os resultados serão obtidos em longo
prazo, mas algo deve ser feito imediatamente.
Crianças e adolescentes devem ser tratados como tal, de acordo com a sua faixa
etária de desenvolvimento. É necessário um atendimento efetivo para interromper a
situação de abuso e que as peculiaridades devem ser consideradas. O atendimento
não deve trazer a ameaça implícita, soluções devem ser buscadas, as vítimas,
principalmente, devem ser ouvidas.
O profissional do Serviço Social deve frequentar às casas suspeitas de violência
sexual contra o menor, e entender o que realmente está acontecendo. Primeiramente,
faz-se necessária a intervenção e participação do Conselho Tutelar. E só em um
segundo momento que o assistente social irá intervir.
Mas o certo é que se faz necessário que a violência seja interrompida
imediatamente. Um trabalho reflexivo deve feito e conflitos devidamente mediados. O
clima de confiança foi quebrado durante tal instabilidade, há a insegurança da criança e
do adolescente que sempre buscaram apoio de seus familiares para a solução de
conflitos. Assim, é certo que, quando se quebra a confiança, quando as crianças são
ameaçadas, há a ruptura de um elo, o que pode ocasionar danos irreparáveis às
vítimas.
Os trabalhos do Assistente Social vêm, em destaque protegendo as vítimas,
confortando as famílias e dando suporte em meio a tanta violência constatada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Maria de Fátima. Violência e Abuso Sexual na Família. Disponível em:


http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n2/v7n2a02.pdf. Acesso em: 04 Agost. 2022.

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