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Victor foi encontrado, nos idos de 1799, em Aveyron, França, em um meio selvagem

onde vivera cerca de oito anos. Contava, então, com aproximadamente 12 anos de
idade.
Esse menino, pelo fato de não ter convivido em ambiente humano, foi motivo de
longas e intensas discussões no meio científico.

A mais célebre criança selvagem inspirou inúmeros livros (alguns científicos,


outros nem tanto) e teve sua vida levada para as telas de cinema pelo diretor
francês
François Truffaut no belo O Garoto Selvagem, de 1969. Foi conhecido primeiro como
Selvagem de Aveyron e, mais tarde, chamado de Victor pelo médico e educador francês
Jean Itard, que se encarregou de sua criação. O menino foi encontrado por caçadores
em 1799, com cerca de 12 anos, vagando por bosques na França.

Estava nu, sujo, mordido e arranhado, se alimentava de nozes e raízes. Tinha 23


cicatrizes causadas por mordidas de animais e outra, no colo, por uma provável
facada.
Andava trotando, farejava o que lhe davam, roía os alimentos, amava os campos e
tinha aversão a usar roupas e a comer alimentos cozidos.
Não falava, apenas emitia sons guturais. Seus olhos não se fixavam ou demonstravam
expressão. Seu tato, olfato e audição eram aparentemente insensíveis.

Nunca se soube se Victor se perdeu ou foi abandonado por sua família. Sabe-se
apenas que viveu em completo isolamento.
Foi levado a uma instituição nacional de surdos-mudos, onde Philippe Pinel,
considerado o pai da psiquiatria moderna, o diagnosticou como “acometido de
idiotia” e,
portanto, não suscetível à socialização e à instrução. Mas Jean Itard discordou de
seu mestre e resolveu educar ele mesmo o menino.

Escreveu dois relatórios sobre seus progressos: um em 1801, após um ano de trabalho
com ele, e outro em 1806.
No primeiro, afirma que os hábitos de Victor mostravam as marcas de uma vida
errante e solitária e demonstravam que ele tinha passado pelo menos sete de seus 12
anos no isolamento.

Segundo o médico, o menino dava aos cientistas a incrível oportunidade de


“determinar quais seriam o grau de inteligência e a natureza das ideias de um
adolescente que,
privado desde a infância de qualquer educação, tivesse vivido inteiramente separado
dos indivíduos de sua espécie”.

Itard é considerado o pai da educação especial e um precursor da psicologia


infantil por seu inovador trabalho com Victor.
Mas, apesar de estar à frente de seu tempo, cometeu um erro. O médico, que apostou
na disciplina e nas relações sensoriais de causa e efeito para educar o menino,
deixou de lado as emoções.

“Itard não percebeu o potencial do convívio. O tempo que passava com Victor era
apenas o das experiências educacionais que fazia com ele.
Da um passo, inova, é ousado, mas ainda é limitado por não perceber a importância
das relações pessoais”, afirma Izabel Galvão, organizadora de A Educação de um
Selvagem.

Madame Guérin, a governanta que cuidou de Victor, foi quem estabeleceu com ele uma
relação propriamente pessoal.

“Até certo ponto, o tratamento que Itard impôs trouxe resultados, mas foi
domesticador. Já o de Guérin foi humanizador”, diz a psicóloga Renata Guarido,
professora da USP.
Em contato com os dois, Victor, ao longo dos anos, tornou-se um rapaz de aparência
normal. Aprendeu a mostrar as coisas de que gostava, a sorrir, a pedir e a dar
carinho.
Mas frustrou Itard, pois jamais aprendeu a falar articuladamente. Era capaz apenas
de dizer uma ou outra palavra, como lait (leite). Morreu aos 40 anos.

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