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onde vivera cerca de oito anos. Contava, então, com aproximadamente 12 anos de
idade.
Esse menino, pelo fato de não ter convivido em ambiente humano, foi motivo de
longas e intensas discussões no meio científico.
Nunca se soube se Victor se perdeu ou foi abandonado por sua família. Sabe-se
apenas que viveu em completo isolamento.
Foi levado a uma instituição nacional de surdos-mudos, onde Philippe Pinel,
considerado o pai da psiquiatria moderna, o diagnosticou como “acometido de
idiotia” e,
portanto, não suscetível à socialização e à instrução. Mas Jean Itard discordou de
seu mestre e resolveu educar ele mesmo o menino.
Escreveu dois relatórios sobre seus progressos: um em 1801, após um ano de trabalho
com ele, e outro em 1806.
No primeiro, afirma que os hábitos de Victor mostravam as marcas de uma vida
errante e solitária e demonstravam que ele tinha passado pelo menos sete de seus 12
anos no isolamento.
“Itard não percebeu o potencial do convívio. O tempo que passava com Victor era
apenas o das experiências educacionais que fazia com ele.
Da um passo, inova, é ousado, mas ainda é limitado por não perceber a importância
das relações pessoais”, afirma Izabel Galvão, organizadora de A Educação de um
Selvagem.
Madame Guérin, a governanta que cuidou de Victor, foi quem estabeleceu com ele uma
relação propriamente pessoal.
“Até certo ponto, o tratamento que Itard impôs trouxe resultados, mas foi
domesticador. Já o de Guérin foi humanizador”, diz a psicóloga Renata Guarido,
professora da USP.
Em contato com os dois, Victor, ao longo dos anos, tornou-se um rapaz de aparência
normal. Aprendeu a mostrar as coisas de que gostava, a sorrir, a pedir e a dar
carinho.
Mas frustrou Itard, pois jamais aprendeu a falar articuladamente. Era capaz apenas
de dizer uma ou outra palavra, como lait (leite). Morreu aos 40 anos.