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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS – UNIPAM

Curso: Psicologia– 1º período


Disciplina: Bases Epistemológicas e Históricas da Psicologia
Docente: Prof. Me. Henrique C. M. Neto
Aula: Cultura: o cosmo humano
Textos de apoio

Texto 1

O ser humano pode ajustar-se a um número maior de ambientes do que qualquer outra criatura,
multiplicar-se infinitamente mais depressa do que qualquer mamífero superior, e derrotar o urso polar, a
lebre, o gavião e o tigre, em seus recursos especiais. Pelo controle do fogo e pela habilidade de fazer roupas
e casas, o homem pode viver, e vive e viceja, desde os pólos da Terra até o equador. Nos trens e
automóveis que constrói, pode superar a mais rápida lebre ou avestruz. Nos aviões e foguetes pode subir
mais alto do que a águia, e, com os telescópios, ver mais longe do que o gavião. Com armas de fogo pode
derrubar animais que nenhum tigre ousaria atacar. Mas fogo, roupas, casas, trens, automóveis, aviões,
telescópios e armas de fogo não são parte do corpo do homem. Eles não são herdados no sentido biológico.
O conhecimento necessário para sua produção e uso é parte do nosso legado social. Resulta de uma
tradição acumulada por muitas gerações e transmitida, não pelo sangue, mas através da linguagem (faia e
escrita). A compensação que o homem tem pelos seus dotes corporais relativamente pobres é o cérebro
grande e complexo, centro de um extenso e delicado sistema nervoso, que lhe permite desenvolver sua
própria cultura.

(CHILDE, Gordon. A evolução cultural do homem, p. 40-1.)

Texto 2

Victor, o “selvagem de Aveyron”

O "menino selvagem" Victor de Aveyron é um dos casos mais conhecidos de seres humanos criados
livres em ambiente selvagem. Provavelmente abandonado numa floresta aos 4 ou 5 anos, foi objeto de
curiosidade e provocou discussões acaloradas principalmente na França, onde o caso ocorreu.
Sua história oficial começa em 1797, quando um menino inteiramente nu, que fugia do contato com as
pessoas, foi visto pela primeira vez na floresta de Lacaune. Em 9 de janeiro de 1800 foi registrado seu
aparecimento num moinho em Saint-Sernein, distrito de Aveyron. Tinha a cabeça, os braços e os pés nus;
farrapos de uma velha camisa cobriam o resto do corpo. Era um menino de cerca de 12 anos de idade,
media 1,36 m, tinha a pele branca e fina, rosto redondo, olhos negros e fundos, cabelos castanhos e nariz
comprido e aquilino. Sua fisionomia foi descrita como graciosa; sorria involuntariamente e seu corpo
apresentava a particularidade de estar coberto de cicatrizes.
Victor não pronunciava nenhuma palavra e parecia não entender nada do que falavam com ele. Apesar do
rigoroso inverno europeu, rejeitava roupas e também o uso de cama, dormindo no chão sem colchão.
Quando procurava fugir, locomovia-se apoiado nas mãos e nos pés, correndo como os animais
quadrúpedes.

Estudo sociológico do caso

Alguns médicos, como os franceses Esquirol (1772-1840) e Pinel (1745-1826), diagnosticaram o menino
selvagem como idiota (nomenclatura que hoje corresponde à deficiência mental grave). Talvez por essa
razão tenha sido abandonado pelos pais.
O médico psiquiatra Jean-Marie Gaspard hard, diretor de um instituto de surdos-mudos, não
compartilhava da opinião dos colegas. Propôs uma questão: Quais as consequências da privação do
convívio social e da ausência absoluta da educação social humana para a inteligência de um adolescente
que viveu assim, separado de indivíduos de sua espécie? Ele acreditava que a situação concreta de
abandono e afastamento da civilização explicava o comportamento diferente do menino Victor,
contrapondo-se ao diagnóstico de deficiência mental para o caso.
Em seu livro A educação de um homem selvagem, publicado em 1801, Itard apresenta seu trabalho com o
menino selvagem de Aveyron, descrevendo as etapas de sua educação: ele já é capaz de sentar-se
convenientemente à mesa, tirar a água necessária para beber, levar ao seu benfeitor as coisas de que
necessita; diverte-se ao empurrar um pequeno carrinho e começa também a ler. Cinco anos mais tarde já
fabricava pequenos objetos e podava as plantas da casa. A partir desses resultados Itard reforçou sua tese
de que os hábitos selvagens e a aparente deficiência mental iniciais eram apenas e tão-somente resultados
de uma vida afastada de seus semelhantes e da civilização.
Acompanhando de perto e trabalhando vários anos com Victor para educá-lo, Itard formula a hipótese de
que a maior parte das deficiências intelectuais e sociais não é inata, mas tem sua origem na ausência da
socialização, na falta de comunicação com os semelhantes principalmente pela palavra. Aproximando-se da
visão sociológica dos fatos sociais, o pesquisador concluiu que o isolamento social prejudica a
sociabilidade do indivíduo. E a sociabilidade é a base da vida em sociedade.

(Fonte: <http://www.leonarde.pro.br/victoroselvagem.pdf>)

Texto 3

Duas meninas, Amala e Kamala, foram descobertas em 1921, numa caverna da Índia, vivendo
entre lobos. Essas crianças, que na época tinham quatro e oito anos de idade, foram confiadas a um asilo e
passaram a ser observadas por estudiosos. Amala, a mais jovem, não resistiu à nova vida e logo morreu. A
outra, porém, viveu cerca de oito anos.
Ambas apresentavam hábitos alimentares bem diferentes dos nossos. Como fazem normalmente
os animais, elas cheiravam a comida antes de toca-la, dilaceravam alimentos com os dentes e faziam pouco
uso das mãos para beber e comer. Possuíam aguda sensibilidade auditiva e o olfato desenvolvido.
Locomoviam-se de forma curvada, com as mãos apoiadas no chão, como o fazem os quadrúpedes. Kamala
levou seis anos para andar de forma ereta. Notou-se também que a menina não ficava a vontade na
companhia de pessoas, preferindo o convívio com os animais, que não se assustavam com sua presença e
pareciam até entendê-la.

(Adaptado de: A. Xavier Telles. Estudos Sociais. São Paulo, Nacional, 1969, p.115-116.)

Texto 4

Um chinês louro, de olhos azuis


(Clyde Kluckhohn)

Há alguns anos, conheci em Nova York um jovem que não falava uma palavra em inglês e estava
evidentemente perplexo com os costumes americanos. Pelo “sangue”, era tão americano como qualquer
outro, pois seus pais eram de Indiana e tinham ido para a China, como missionários.
Órfão desde a infância, fora criado por uma família chinesa, numa aldeia perdida. Todos os que o
conheceram o acharam mais chinês do que americano. O fato de ter olhos azuis e cabelos louros
impressionava menos que o andar chinês, os movimentos chineses dos braços e das mãos, a expressão
facial chinesa e os modos chineses de pensamento.
A herança biológica era americana, mas a formação cultural fora chinesa. Ele voltou para a China.

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