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Profa.

Junia Saraiva
Disciplina: Psicologia social e das relações

ESTUDO DE CASO

CULTURA E HUMANIZAÇÃO
As diferenças entre o homem e o animal não são apenas de grau, pois, enquanto o animal
pertence mergulhado na natureza, o homem é capaz de transformá-la, tornando possível a
cultura. O mundo resultante da ação humana é um mundo que não podemos chamar de
natural, pois se encontra transformado pelo homem. A palavra cultura também tem vários
significados, tais como o de cultura da terra ou cultura de um homem letrado. Em
antropologia, cultura significa tudo o que o homem produz ao construir sua existência: as
práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais. Se o contato que o
homem tem com o mundo é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos
elaborados por um povo em determinado tempo e lugar. Dada a infinita possibilidade de
simbolizar, as culturas dos povos são múltiplas e variadas.
A cultura é, portanto, um processo de autolibertação progressiva do homem, o que o
caracteriza como um ser de mutação, um ser de projeto, que se faz à medida que transcende,
que ultrapassa a própria experiência. Quando o filósofo contemporâneo Gusdorf diz que “o
homem não é o que é, mas é o que não é”, não está fazendo um jogo de palavras. Ele quer
dizer que o homem não se define por um modelo que o antecede, por uma essência que o
caracteriza, nem é apenas o que as circunstâncias fizeram dele. Ele se define pelo lançar-se
no futuro, antecipando, por meio de um projeto, a sua ação consciente sobre o mundo. Não
há caminho feito, mas a fazer, não há modelo de conduta, mas um processo contínuo de
estabelecimento de valores.
Nada mais se apresenta como absolutamente certo e inquestionável. É evidente que essa
condição de certa forma fragiliza o homem, pois ele perde a segurança característica da vida
animal, em harmonia com a natureza. Ao mesmo tempo, o que parece ser sua fragilidade é
justamente a característica humana mais perfeita e mais nobre: a capacidade do homem de
produzir sua própria história.
ARANHA,Maria Lúcia e MARTINS, Maria Helena. Filosofando – Introdução à Filosofia.
São Paulo, Editora Moderna, p. 22-23, 1998.

O “MENINO SELVAGEM” DE AVEYRON


Em 1797, um menino quase inteiramente nu foi visto pela primeira vez perambulando pela
floresta de Lacaune, na França. Em 9 de janeiro de 1800, foi registrado seu aparecimento
num moinho em Saint-Sernein, distrito de Aveyron. Tinha a cabeça, os braços e os pés nus;
farrapos de uma velha camisa (sinal de algum contato com seres humanos) cobriam o resto
do corpo. Sempre que alguém se aproximava, ele fugia como um animal assustado. Era um
menino de cerca de 12 anos, tinha a pele branca e fina, rosto redondo, olhos negros e fundos,
cabelos castanhos e nariz comprido e aquilino. Sua fisionomia foi descrita como graciosa;
sorria involuntariamente e seu corpo estava coberto de cicatrizes.
Provavelmente abandonado na floresta aos 4 ou 5 anos, foi objeto de curiosidade e provocou
discussões acaloradas principalmente na França. Após sua captura, verificou-se que Victor
(assim passou a ser chamado) não pronunciava nenhuma palavra e parecia não entender
nada do que lhe falavam. Apesar do rigoroso inverno europeu, rejeitava roupas e também o
uso de cama, dormia no chão sem colchão. Locomovia-se apoiado nas mãos e nos pés,
correndo como os animais quadrúpedes.
(Adaptado de: F. Azeved. Princípios de Sociologia: pequena introdução ao estudo da
sociologia geral. São Paulo: Duas Cidades, 1973, p. 21).

AMALA E KAMALA: AS MENINAS-LOBO


Você certamente já ouviu falar de Mogli, o menino-lobo. Trata-se de uma criação literária
do escritor anglo-indiano Rudyard Kipling (1865-1936). Na história de Kipling, Mogli é um
menino inteligente e sociável que se dá muito bem com os animais e também com os seres
humanos. Mogli é um personagem fictício criado pela imaginação do autor. Mas o que
aconteceria, realmente a um ser humano, caso fosse criado entre lobos? A história a seguir
pertence à vida real e mostra como o personagem Mogli está longe de refletir a realidade:
Duas meninas, Amala e Kamala, foram descobertas em 1921, numa caverna da Índia,
vivendo entre lobos.
Essas crianças, que na época tinham quatro e oito anos de idade, foram confiadas a um asilo
e passaram a ser observadas por estudiosos. Amala, a mais jovem, não resistiu à nova vida e
logo morreu. A outra, porém, viveu cerca de oito anos. Ambas apresentavam hábitos
alimentares bem diferentes dos nossos. Como fazem normalmente os animais, elas
cheiravam a comida antes de tocá-la, dilaceravam alimentos como os dentes e faziam pouco
uso das mãos para beber e comer. Possuíam aguda sensibilidade auditiva e o olfato
desenvolvido. Locomoviam-se de forma curvada, com as mãos apoiadas no chão, como o
fazem os quadrúpedes. Kamala levou seis anos para andar de forma ereta. Notou-se também
que a menina não ficava à vontade na companhia de pessoas, preferindo o convívio com os
animais, que não se assustavam com sua presença e pareciam até entende-la.
(Adaptado de: A. Xavier Telles. Estudos Sociais. São Paulo: Nacional, 1969, p. 115-116).

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