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Curso

Introdução ao
transtorno do espectro
do autismo (TEA)
com Katrien Van Heurck
Sumário

Módulo 1 – Introdução .................................................................................................... 3

Módulo 2 – Visão geral .................................................................................................... 4

Aula 1. Vídeo de apresentação ........................................................................................ 4

Aula 2. Fundamentos históricos e socioculturais do autismo ........................................ 6

Aula 3. A história do autismo no século XX .................................................................... 9

Aula 4. Os “especialistas” .............................................................................................. 12

Aula 5. Métodos ............................................................................................................. 14

Aula 6. Autismo após 1980 ............................................................................................ 17

Aula 7. Coerência central e cegueira da mente ............................................................ 21

Aula 8. Avaliações/instrumentos internacionais para diagnóstico ............................. 24

Aula 9. Avaliações, diagnósticos e tratamento............................................................. 27

Aula 10. CID-10 e DSM-IV .............................................................................................. 31

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Módulo 1 – Introdução

Vídeo chamada

Ementa: O curso apresenta conteúdos básicos necessários à compreensão do autismo,


iniciando com os fundamentos históricos e socioculturais do transtorno e abordando
algumas teorias, como a teoria da mente, a coerência central e a cegueira da mente. O
curso também desenvolve a questão do diagnóstico e do tratamento com uma
explicação sobre os instrumentos internacionais para diagnóstico (CID e DSM), as causas
e as diferentes possibilidades de tratamento. É apresentado o conceito de “gentileza
autista” (autism friendly) e a sua importância para a inclusão e a educação de pessoas
com autismo. O curso aborda a educação do ponto de vista prático e concreto (espaço
físico, atividades e adequações curriculares) e do ponto de vista do perfil do educador.
O participante terá alguns conhecimentos básicos sobre o autismo, indispensáveis para
uma intervenção adequada.

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Módulo 2 – Visão geral

Aula 1. Vídeo de apresentação

Autismo, ou transtorno do espectro do autismo (TEA), é um transtorno global do


desenvolvimento (TGD). TGDs são os transtornos em que várias áreas de desenvolvimento são
afetadas, causando um desenvolvimento diferente daquele observado nas pessoas
neurotípicas. Também temos os transtornos específicos, em que apenas uma área é afetada.
Mas esse não é o caso do autismo.
O TEA, em geral, se manifesta antes da idade dos três anos. Na realidade, o autismo
aparece em um ser humano ainda na fase intrauterina. As características se manifestam nos
primeiros meses e anos da vida. O diagnóstico só pode ser dado oficialmente a partir dos três
anos de idade, mas é melhor que o diagnóstico seja revisto com uma certa frequência ao longo
da vida da pessoa.
Nenhum cientista conseguiu descobrir até agora a causa do autismo. Existem várias
causas ou etiologias, e estas três parecem ser as mais importantes:

 A causa neurobiológica do autismo: uma disfunção neurológica por uma causa


hereditária genética, com influência de fatores ambientais;
 A causa psicológica do autismo: a maneira própria de percepção que as pessoas
com TEA têm. Elas percebem de forma diferente, elas veem o mundo de forma
diferente e elas atribuem outros significados a tudo aquilo que percebem;
 A causa comportamental: pessoas com autismo se comportam de maneira
diferente. Elas têm padrões de comportamento estereotipados e precisam de
repetição.

As condutas que elas demonstram são diferentes das condutas das pessoas em geral da
mesma idade. Para modificar essas condutas é necessário entender que todo comportamento
é causado por um motivo. Se a fonte que causa a conduta não for trabalhada, o comportamento
também não vai mudar.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que no mundo vivam mais ou menos
setenta milhões de pessoas autistas, e os dados do IBGE de 2010 estimam que dois milhões de
pessoas com autismo vivam no Brasil.

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As estatísticas informam que uma em cada oitenta pessoas tem autismo. Uma nova
pesquisa de 2018 sinaliza dados no sentido de que uma em cada sessenta pessoas tem autismo.
Outro dado é que o autismo é mais comum em homens do que em mulheres. Em geral
as pesquisas mostram que o autismo é diagnosticado quatro vezes mais em meninos do que em
meninas.
Quando o assunto é autismo, as mesmas características sempre aparecem: pessoas com
autismo têm comprometimento na interação social, na comunicação e nos padrões de
comportamento.
Mesmo nos dois milhões de brasileiros com autismo, deve-se dizer que os casos não são
iguais; nenhum é igual ao outro.
Para educar uma pessoa com autismo, é necessário conhecer essa pessoa, ter um
vínculo positivo com ela e entender o seu autismo.

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Aula 2. Fundamentos históricos e socioculturais do autismo

A palavra autismo é muito antiga. Já no tempo dos gregos existia a palavra autos, que
significava “eu mesmo”. A palavra autismo é derivada dessa palavra, significando “desenvolver
a si mesmo”. Os filósofos daquela época já mencionavam esse tipo de pessoas, e muitos desses
filósofos eram também autistas. Por quê? Para realizar esses estudos filosóficos, é necessário
ser uma pessoa muito concentrada, egocêntrica, isolada, solitária, sistemática, todas
características que hoje em dia são identificadas em pessoas com autismo de alto
funcionamento.
A história da medicina também apresenta muitas referências ao autismo. Descobrimos
muitos escritos que mencionavam possíveis casos de autismo. São escritos históricos
encontrados em vários países.

A PRÉ-HISTÓRIA DO AUTISMO
O primeiro estudo de caso, descrito pelo farmacêutico do hospício de Londres, era a
história de um menino de cinco anos. Em 1799 ele foi internado. Ele nunca brincou ou interagiu
com as outras crianças do hospital. Ele sempre brincou sozinho com seus soldadinhos. Horas e
horas a mesma brincadeira. Hoje vemos muitas características parecidas entre crianças autistas
atuais e aquelas crianças de duzentos anos atrás.

Dois casos investigados do fim do século 18 e do começo do século 19:


- Victor, o menino selvagem de Aveyron (1775-1828).

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Victor era um menino de mais ou menos doze anos quando foi encontrado em uma
floresta no Sul da França (1787). Ele não falava, não respondia às perguntas, não reagia aos sons.
Ele estava sem roupa. O seu comportamento mostrava que ele era completamente antissocial.
Ele vivia só com os animais.
Médicos famosos se interessaram pelo caso de Victor e começaram a examiná-lo. A
conclusão foi que o Victor nasceu com retardo mental.
Mesmo quando Victor foi adotado pelo médico que o encontrou, e após ter recebido
educação, ele continuou com os mesmos comportamentos. Ele teve algumas melhoras,
aprendeu maneiras para se comunicar, mas nunca se tornou “normal”.
Os relatórios e os artigos sobre esse caso interessaram muitos médicos contemporâneos
que se questionam se Victor era autista.

- Kasper Hauser de Nürnberg (1812-1833)


Na segunda-feira de Pentecostes, em 1828, um moço muito estranho apareceu na Praça
Unschlilt, em Nürnberg.
Ele parecia bêbado, ou louco. Tropeçava nos seus próprios pés e repetia sempre a
mesma frase: “Quero ser cavaleiro como meu pai”. Ele tinha uma carta para o capitão da
cavalaria com o pedido para virar cavaleiro.
Ele não falava direito; só comia pão com água e sabia escrever seu nome: Kasper Hauser.
A vida toda Kasper viveu escondido.
Cinco anos depois ele foi assassinado porque o povo acreditava que ele era parente do
rei, e muito rico.
Muitos cientistas querem responder agora a esta pergunta: “Será que Kasper era uma
pessoa com autismo”?

7
Os dois são casos de isolamento social com as características de autismo.
Filmes:
- Menino Selvagem
https://www.youtube.com/watch?v=b5CKltq3Uf4
- O garoto selvagem, François Truffaut (1969)
- Kaspar Hauser: O enigma de Kasper Hauser, Werner Herzog (1974)

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Aula 3. A história do autismo no século XX

Os pioneiros
As primeiras pesquisas científicas sobre autismo datam do início do século 20.
Em 1911, um psiquiatra suíço, Paul Eugen Bleuler (1857-1939), utilizou pela primeira vez
o termo “autismo” para pacientes esquizofrênicos que tinham dificuldades para entrar em
contato com outras pessoas. Os esquizofrênicos tinham uma relação social e emocional
completamente conturbada.
O psiquiatra austro-americano Leo Kanner (1894-1981) investigou o “transtorno
autista”. Em 1943 ele publicou seu artigo Autistic disturbances of affective contact, que forma a
base da pesquisa contemporânea sobre o autismo. O artigo é o relato de uma pesquisa que ele
fez com onze crianças, todas com características de isolamento, estereotipia e necessidade de
uma rotina. Kanner chamou essas características de “early infantile autism”, ou “autismo
infantil”. Essa denominação é usada na CID-10 (Classificação internacional das doenças). Kanner
continuou pesquisando sobre o tema até a sua morte, com 86 anos.
Leo Kanner criou o conceito de “mãe-geladeira”. Esse termo era um rótulo atribuído às
mães das crianças autistas. Kanner acreditava que essas mães passavam o autismo para as
crianças porque eram afetivamente frias. Essas mães tinham como característica ser obsessivas
e distantes.
O psicanalista Bruno Bettelheim popularizou essa ideia nos anos de 1950 e 1960. Ele
explicava que o autismo seria causado pela indiferença da mãe em relação à criança.
Leo Kanner também explicitou, em sua observação clínica, que em geral as mães de
autistas eram muito inteligentes, mas pouco afetuosas.
Hoje ainda há quem acredite nessa teoria, julgando que o autismo é resultado de maus
pais e de uma falha na função materna.
Um ano depois que Leo Kanner publicou o seu artigo descrevendo suas pesquisas, o
pediatra austríaco Hans Asperger (1906-1980) foi o pioneiro a formular uma definição sobre a
síndrome que tem seu nome, a síndrome de Asperger.
Ele observou em quatrocentos meninos padrões de comportamentos repetitivos
sistemáticos e um padrão de habilidades anormais para a idade, que ele chamou inicialmente
de “a psicopatia autista” (autista = eu mesmo / psico = mente e patia = sofrimento). Todos esses
meninos tinham uma inteligência normal ou acima do normal. Ele mencionava o diagnóstico de
um transtorno da personalidade.

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Ele chegou à conclusão, após suas observações, de que todos mostravam falta de
empatia, habilidades reduzidas para fazer amizades, conversas monótonas, interesses especiais
por determinados assuntos e movimentos desajeitados.
Asperger chamou essas crianças de "pequenos mestres", porque elas conseguem
explicar um assunto muito detalhado e de forma pontual.
A história conta que Hans Asperger também tinha sido uma criança com essas
características.

Apenas em 1981 essa síndrome recebeu seu nome: síndrome de Asperger. Lorna Wing,
pesquisadora britânica, mãe de uma filha autista, começou a diferenciar o tipo de autismo
pesquisado por Leo Kanner do tipo de síndrome pesquisado por Hans Asperger.
A pesquisadora e psiquiatra Lorna Wing se dedicou às pesquisas sobre os transtornos
invasivos do desenvolvimento, transtornos em que o autismo e a síndrome de Asperger se
enquadram.
Ela publicou, em 1981, Asperger's syndrome: a clinical account, em que a síndrome foi
detalhada diferenciando-se do autismo descrito por Leo Kanner.
Lorna Wing começou a se dedicar às características do autismo. Ela usou o termo “tríade
do autismo”: problemas na socialização, comunicação e nos padrões de comportamento.
Ela criou os parâmetros para o diagnóstico do autismo:
1. verbalização correta, mas estereotipada e pedante;
2. comunicação não verbal caracterizada por gestos inadequados, voz sem entonação e
poucas expressões faciais;
3. ausência de empatia;
4. preferência por repetição, aversão a mudanças;
5. defeitos de coordenação motora em postura e movimentos;

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6. boa memória mecânica e limitados interesses especiais.

A forma como a tríade se manifesta é diferente para cada pessoa com autismo. Cada
pessoa tem a sua própria personalidade, seu temperamento, seu QI, suas preferências e suas
experiências.
Lorna Wing foi a primeira cientista que usou a denominação “síndrome de Asperger”
(1981), diferenciando o autismo clássico de Leo Kanner do tipo de autismo investigado por Hans
Asperger.
Nos anos 1960 e 1970 o conhecimento sobre autismo cresceu bastante.

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Aula 4. Os “especialistas”

Uma pessoa que contribuiu muito para esse conhecimento é Temple Grandin (Boston,
29 de agosto de 1947).
Temple Grandin é uma renomada zoóloga com autismo de alto funcionamento. Ela é
professora na Universidade do Colorado (EUA), onde desenvolve os abatedouros humanizados.
Ela foi diagnosticada com autismo. Com a ajuda da sua família e de professores, ela se
formou em 1970 em psicologia, tendo cursado, depois, zootecnia. Em 1989 ela concluiu o
doutorado em zoologia.
Ela descreveu seu autismo como um filme de 24 horas1 que passa pela sua cabeça. As
imagens que aparecem a ajudam a entender melhor a vida. Quando era criança, ela teve um
atraso significativo nas habilidades de comunicação e interação social. Ela não aceitava o
contato físico de outras pessoas.
Ela inventou a máquina do abraço para lidar com todos os estímulos que a vida trazia e,
principalmente, para aprender a lidar com os contatos com as outras pessoas.
Filme:
- Temple Grandin [traz um esclarecimento sobre sua vida e o autismo]
- YOUTUBE: Temple Grandin: o mundo necessita de todos os tipos de mentes
(Legendado - Parte 01)
https://www.youtube.com/watch?v=6J-_AOEOT0c&t=68s
- YOUTUBE: A história de Temple Grandin
https://www.youtube.com/watch?v=QgDdIZDT3Q0&t=8s

Para entender o autismo, precisamos de pessoas como Temple Grandin, Gunilla


Gerland, Donna Williams, Dominique Dumortier, Jim Sinclair, Stephen Shore, Nicolas Brito Sales,
entre tantos outros.
Elas são os especialistas. Elas podem nos explicar como é a vida de uma pessoa com
autismo.

1
GRANDIN, Temple. Thinking in Pictures: Other reports from my life with Autism. Doubleday: 1996.

12
Os métodos
Nos anos de 1960 e de 1970, a visão sobre o tratamento de autismo era “corrigir o
comportamento”.
Acreditava-se que pessoas com autismo mostravam comportamento errado e
inadequado. Esse tipo de comportamento tinha que ser corrigido. O autismo era visto como um
distúrbio comportamental e se enquadrava dentro da psiquiatria.

Nessa época os métodos como a análise comportamental aplicada e o TEACCH foram


criados e usados na correção dos comportamentos.

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Aula 5. Métodos

Análise comportamental aplicada (ABA)


No fim dos anos 1960, começo dos anos 1970, o psicólogo Ole Ivar Lovaas iniciou o
tratamento da terapia comportamental para o autismo.
Ole Ivar Lovaas2 (1927-2010) era da Noruega, mas vivia nos Estados Unidos da América
(EUA), onde era psicólogo e professor na Universidade da Califórnia. Ele era considerado como
o pioneiro da applied behavior analysis (ABA).
Ele acreditava que o comportamento das crianças com autismo podia ser modificado
com ensino. O comportamento adequado tinha que ser ensinado para as crianças com autismo.
Na mesma época outro psicólogo, o norte-americano Burrhus Frederic Skinner3 (1904-
1999), que trabalhava com o comportamento, ficou famoso como o fundador do behaviorismo
radical, uma linha dentro da psicologia. O behaviorismo era a base da análise do
comportamento.
Lovaas foi muito influenciado pelas pesquisas de Skinner.
Os dois são os pioneiros da ABA.
A análise comportamental aplicada se originou do behaviorismo. O behaviorismo é uma
linha dentro da psicologia que tem como foco o comportamento de seres humanos e de animais,
em que todo comportamento é ensinado.
A filosofia da ABA trabalha com estímulos para ENSINAR e CONTROLAR o nosso
comportamento.
O ser humano precisa da interação por meio dos estímulos para aprender um novo
comportamento.
ABA4 é um método que possibilita compreender as ações e as habilidades no transtorno
do espectro do autismo (TEA) e o modo como essas ações e habilidades podem ser influenciadas
pelo meio ambiente.

O método ABA já é utilizado há mais de 50 anos e pode contribuir para uma melhora
nas interações sociais, para aprender novas competências e para manter comportamentos
positivos, por meio do uso de currículos que são divididos em programas.

2
The Lovaas Institute - Treatment for chidren diagnosed with autism. www.lovaas.com
3
Journal of Applied Behavior Analysis.
4
Site NEUROCONECTA: Análise do Comportamento Aplicada ABA e autismo
http://neuroconecta.com.br/analise-do-comportamento-aplicada-aba-e-autismo/ e
Applied Behavior Analysis (ABA). Autism Speaks. https://www.autismspeaks.org

14
TEACCH: Treatment and education of autistic and communication related handicapped
children
TEACCH5 é um programa de intervenção que foi criado na Universidade de Chapell Hill,
na Carolina do Norte (EUA). As primeiras pesquisas iniciaram em 1966 inspirados por Eric
Schopler (1927-2006). Ele era um terapeuta social que trabalhou em vários hospitais
psiquiátricos para crianças.
Em 1966 foi diretor do Child Research Project. Com os resultados desse projeto, o
método TEACCH foi criado em 1971. O método foi um programa pioneiro para trabalhar com
crianças com TEA. O método TEACCH oferece tratamento e educação para pessoas com autismo
e outras pessoas com problemas de comunicação e aprendizagem em todas as idades.

A filosofia do método consiste em atingir o máximo de independência para a pessoa na


vida adulta.
O foco do programa é o ensino de habilidades de comunicação, organização e interação
social, com ênfase no uso das habilidades salientes das pessoas com autismo: processamento,
memorização das rotinas e os interesses.

5
Curso UNIAPAE; TEACCH; 2011.

15
Pessoas com autismo precisam de um ensino concreto, atenção para a visualização, com
o nível de execução das atividades adaptadas a cada caso.
Outro método dessa década é o programa Son-Rise, criado nos EUA. Ele também é
chamado método Kaufman, em referência ao nome de seu criador.

- YOUTUBE: Autismo - Conheça um pouco sobre o método Son-Rise


https://www.youtube.com/watch?v=-FO63S8m5kA

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Aula 6. Autismo após 1980

Várias alterações aconteceram nos anos 1980 em relação ao conhecimento sobre o


autismo. Pela primeira vez o autismo foi mencionado no DSM (Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Disorders).
A partir dessa época o autismo deixou de ser considerado um distúrbio psiquiátrico, ou
seja, um distúrbio mental, e passou a ser reconhecido como um transtorno do desenvolvimento.
Esta é uma mudança muito importante porque o comportamento vai deixar de ter um caráter
absoluto.
Cientistas como Uta Frith6 e Simon Baron-Cohen constataram que o autismo tem dois
lados. O lado de fora, que se refere aos comportamentos, às condutas e às reações das pessoas
com autismo. Ou seja, aquilo que é visível, que podemos observar. E o lado de dentro, que se
refere à percepção e ao entendimento do mundo que essas pessoas têm. No lado de dentro
também estão as emoções e os sentimentos.
As pessoas com autismo percebem o mundo de forma diferente da nossa. Se uma
pessoa tem uma percepção diferente do mundo, ela também dá significados diferentes a ele e,
por isso, tem comportamentos diferentes. Por exemplo, na educação infantil trabalha-se muito
com música. Normalmente as crianças gostam de música, ficam alegres e se divertem. Mas uma
criança com autismo percebe a música de um jeito diferente; muitas vezes, a reação dela é de
tampar os ouvidos. A música, para ela, pode ser sofrida, pode até doer.
Acabou-se o mito de que pessoas com autismo são insensíveis. Ao contrário, elas são
muito sensíveis, elas percebem tudo, mas de forma diferente. Isso vai se traduzir em
comportamentos diferentes da “normalidade”. Não podemos esperar que pessoas com autismo
reajam dentro da “normalidade”, porque o que é normal para nós, não é normal para elas. Nós
temos que nos adaptar a elas, respeitá-las. Esperar que elas façam tudo como as outras crianças,
é abuso. E é no momento em que entendemos seus comportamentos e reações, que podemos
trabalhar com eles.
As pesquisas começaram a dar maior importância às habilidades psicoemocionais, e os
profissionais que trabalham com autismo precisam dar atenção a esse aspecto. Autismo não é
só comportamento a ser corrigido: autismo é um todo. Temos que lembrar que estamos
trabalhando com seres humanos.

6
FRITH, Uta. Autismo: Verklaringen van een raadsel. Berchem: Epo, 2013.

17
Nos anos 1980, Uta Frith e Simon Baron-Cohen desenvolveram diversas teorias sobre
autismo.
Uta Frith (1941-) nasceu na Alemanha. Ela é psicóloga de desenvolvimento e uma
autoridade na área do autismo. Ela foi uma das primeiras que começou o estudo da síndrome
de Asperger.
Simon Baron-Cohen (1958-) é inglês, psicólogo de desenvolvimento e professor em
patologia do desenvolvimento.
Junto com Uta Frith e Alan Leslie, ele publicou a primeira pesquisa sobre
desenvolvimento tardio da teoria da mente em crianças com autismo. Ele está muito convencido
de que autismo não é um transtorno, mas uma diferenciação no desenvolvimento entre crianças
com autismo e as demais crianças.

Teoria da mente
A teoria da mente7 é a habilidade do ser humano de se colocar no lugar do outro, de
imaginar os pensamentos e os sentimentos do outro e, por isso, prevenir e entender o seu
comportamento. Essa habilidade às vezes é também chamada de mindreading. Trata-se de “ler”
os pensamentos do outro e se adaptar constantemente. O desenvolvimento dessa habilidade é
muito comprometido em pessoas com autismo. As pessoas com autismo têm problemas com o
entendimento do comportamento dos outros e se sentem na maioria das vezes com medo
devido à imprevisibilidade dos comportamentos humanos, tudo isso por falta da teoria da
mente. Elas têm dificuldades na interpretação e na previsão em relação àquilo que os outros
farão. A teoria da mente é usada para definir a intenção dos gestos e dos comentários.

7
BARON-COHEN, Simon. Autism en Asperger syndroom: De stand van zaken. Amsterdam: UITGEVERIJ
NIEUWEZIJDSLIS, 2009. p.91

18
Para ter essa habilidade da teoria da mente, a pessoa tem que ser capaz de imaginar,
abstrair e adivinhar a fala do outro e o seu respectivo significado, aquilo que o outro não fala,
mas que ele quer dizer.
A hipótese de uma falha na teoria da mente ou um deficit na empatia explica as
dificuldades das pessoas com autismo especialmente no contato social e na comunicação.

- YOUTUBE: Teste Sally e Anne

https://www.youtube.com/watch?v=uZ55KSYSnnk

19
O teste Sally e Anne

Esta é Sally. Esta é Anne.

Sally guarda sua bola na cesta.

Sally sai, mas Anne fica.

Anne coloca a bola de Sally na caixa.

Ao retornar, onde Sally vai procurar a bola?


Na cesta ou na caixa?

As crianças com autismo vão responder que a Sally vai procurar a bola na caixa.
Elas não são capazes de se colocar no lugar da Sally.

20
Aula 7. Coerência central e cegueira da mente

Coerência central

As pessoas com autismo têm uma percepção diferente daquela que têm as pessoas
comuns.
As pessoas neurotípicas têm uma percepção em geral. Elas percebem tudo como um
todo. Todos os elementos formam um conjunto com significado.
A coerência central é a aptidão de processar todas as informações externas de uma
maneira global, dentro de um contexto.
Essa teoria foi desenvolvida por Uta Frith. Segundo Uta, a teoria explica por que pessoas
com autismo têm sérios problemas no processamento dos estímulos. Elas não conseguem
processar todas as informações de uma maneira global com sentido.
Elas procuram segurança nas repetições e buscam rotinas e estruturas. Elas se fixam no
conhecido e têm resistência às mudanças.
Essa teoria explica tanto as dificuldades quanto as potencialidades.
- Dificuldades:

 interação com os outros;


 planejamento e organização;
 flexibilidade;
 determinação, autonomia e concentração.

- Potencialidades:

 percepção de detalhes;
 pensamento lógico;
 conhecimento dos fatos.

21
Cegueira da mente
A cegueira da mente é uma incapacidade de inferir os seus próprios estados mentais e
os de terceiros e é consequência de um deficit na teoria da mente. É por causa dela que uma
pessoa tem dificuldade para entender ou imaginar o que as outras pessoas podem estar
sentindo e pensando.
A percepção das pessoas com autismo é dependente do contexto. Por isso
frequentemente ouvimos dizer que uma pessoa autista é muito diferente dependendo do lugar
onde ela está.
Quando falamos em contexto, temos que considerar que existe um contexto perceptível
e um contexto não perceptível. O contexto perceptível é a situação concreta; por exemplo, uma
pessoa parada com a mão para cima. O contexto não perceptível depende do uso do nosso
conhecimento, da nossa imaginação para atribuir um significado à situação concreta. No
exemplo, se aquela mão que está para cima começa a se mover de um lado para o outro,
normalmente entendemos que a pessoa está dando “oi” ou “tchau”.
Crianças com autismo precisam aprender todos os comportamentos sociais. Uma das
primeiras coisas que elas aprendem é abanar “oi” e “tchau”. Então, se no nosso caminho
aparecer uma pessoa de uniforme parada no meio da rua com a mão levantada, a maioria das
pessoas vai entender que isso significa “pare”. Mas é bem possível que a criança autista, que
acabou de aprender a abanar “oi” e “tchau”, abane para o agente de trânsito e fale: “Oi, tudo
bem?”, porque ela ainda não tem o conhecimento para entender as diferenças de contextos.
Quando nós aprendemos algo, automaticamente, conseguimos transferir esse
conhecimento adquirido para os outros ambientes que nós frequentamos. Porém, para as
pessoas autistas isso não acontece automaticamente.

22
23
Aula 8. Avaliações/instrumentos internacionais para diagnóstico

Internacionalmente existem duas linhas de avaliação para diagnosticar as doenças


mentais. A primeira linha de avaliação é o DSM = Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders. A segunda é a CID = Classificação Internacional de Doenças.

Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM)


A primeira publicação do DSM data de 1952.
Até agora existem cinco revisões, que apresentam mais de trezentas patologias mentais.
A Associação Americana de Psiquiatria (APA)8 é responsável por essa avaliação internacional. A
última publicação entrou em vigor em maio de 2013, depois de ser apresentada e aprovada pela
APA.
A primeira vez que o termo autismo foi utilizado no DSM aconteceu na revisão de DSM-
III em 1980.
Nessa edição os cientistas usaram terminologias como transtorno pervasivo do
desenvolvimento, transtorno invasivo de desenvolvimento, ou transtorno global de
desenvolvimento.
A partir da DSM-III, o autismo passou a ser visto não mais como uma doença psiquiátrica,
mas como um distúrbio de desenvolvimento. Essa mudança também afetou a maneira como o
autismo passou a ser abordado e tratado. O autismo recebeu um significado mais humano.
Com a revisão seguinte, em 1989, o DSM-III – Revisado (DSM-III-R), o transtorno ganhou
dois subgrupos: autismo e autismo atípico.

8
APA é um grupo internacional que reúne psiquiatras, psicólogos e epidemiologistas.

24
Uma nova revisão foi feita em 1994 e criou o DSM-IV. Aqui foram acrescentados mais
três subgrupos: síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância e síndrome de Asperger.
Em 2000, surgiu uma revisão do DSM-IV, o DSM-IV-R, no qual, as subcategorias como
autismo clássico, autismo atípico e síndrome de Asperger foram reunidas em um só grupo que
passou a se denominar transtorno do espectro do autismo (TEA).
A última revisão foi feita em 2013, em que o DSM-V acabou com todas as subcategorias
e optou pelo uso de uma única terminologia: autismo ou transtorno do espectro do autismo
(TEA). Essa mudança aconteceu porque não existe a necessidade científica de dividir o espectro
em subcategorias.

25
Classificação Internacional de Doenças (CID)
A Classificação Internacional de Doenças (CID) foi criada em 1893. O aperfeiçoamento
desse instrumento de avaliação está atrelado à evolução do DSM. Em 1893 a CID era uma lista
de causas de morte.
Em 1948 a Organização Mundial de Saúde (OMS) se responsabilizou pela CID e, na sexta
edição, especificou para cada causa de morte uma doença considerada responsável.
Na CID-10 (1988) foram inseridos os transtornos mentais e de comportamento (F00 -
F99). Dentro desse grupo foi incluído o transtorno global do desenvolvimento (F84).
No dia 18 de junho de 2018 foi lançada a CID-11, que é vista como um acréscimo à versão
da CID-10. Essa CID entrará em vigor em 2022.
A CID-10 e o DSM-IV-R eram praticamente iguais e aprovados pela OMS.
A avaliação oficial usada no Brasil é a CID, embora muitos médicos especialistas usem o
DSM.
A história do autismo é longa e já recebeu várias explicações e alterações. Hoje o
mistério do autismo já está um pouco mais claro e ordenado. O conhecimento e as pesquisas
científicas estão se desenvolvendo de forma importante. O autismo não é mais visto como uma
doença, mas como um transtorno do desenvolvimento.

26
Aula 9. Avaliações, diagnósticos e tratamento

Por que um diagnóstico é necessário? Um diagnóstico é uma avaliação que permite ao


médico fornecer o tratamento adequado para a cura. Essa é a definição da palavra
“diagnóstico”. Mas o que fazer com o autismo, um transtorno do desenvolvimento que não tem
cura?
No caso do autismo9, a avaliação diagnóstica ajuda os médicos e profissionais a
desenvolverem tratamentos paliativos e programas de prevenção. A avaliação diagnóstica tem
como objetivo prevenir o desenvolvimento completo do transtorno.
O diagnóstico é necessário para entender que tipo de tratamento tem que ser iniciado.
O diagnóstico em si não vai resolver o transtorno, mas direciona o caminho do trabalho.
A avaliação diagnóstica não pode ser feita somente uma vez; tem que ser feita
regularmente porque o quadro de transtorno do espectro do autismo muda durante a vida da
pessoa.
O diagnóstico precoce permite a implementação de programas de prevenção
secundários = estimulação precoce. Dispondo-se do diagnóstico o mais cedo possível, aumenta
a possibilidade de sucesso desses programas de prevenção secundários. No caso do autismo não
se pode falar de uma intervenção primária. Na intervenção primária encaixam-se as
intervenções que impedem o desenvolvimento da doença ou do transtorno e os curam.
Um diagnóstico precoce também facilita o trabalho multidisciplinar e a comunicação
entre os profissionais e os pais.
- YOUTUBE: Autismo e o Tom

https://www.youtube.com/watch?v=YLdfVApUplY

9
WHITMAN, T. L.: O desenvolvimento do autismo. Social, cognitivo, linguístico, sensorial, motor e
perspectivas biológicas. São Paulo: MBooks, 2015. p.39

27
A. O diagnóstico é importante para os pais
Muitos pais10 e, principalmente as mães, percebem rapidamente que há algo diferente
no desenvolvimento do filho ou da filha. Muitos vão procurar ajuda, de um lado, na expectativa
de saber o que está acontecendo e, de outro lado, na expectativa de ouvir que na verdade não
existe nenhum problema. Muitos esperam essa resposta porque temem o confronto com a
realidade desagradável no sentido de que o seu filho possa ter um problema grave. Muitos têm
medo dos efeitos do “rótulo” de autista.
O diagnóstico é importante para que eles entendam que o filho é diferente e para que
possam procurar o apoio de especialistas para ajudá-los.

10
WILLIAMS, Chris e Wright: Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperger. Estratégias práticas para
pais e profissionais. São Paulo: MBooks, 2008. p.3

28
B. o diagnóstico para os terapeutas e educadores
O diagnóstico é o elo mais importante entre o paciente, os profissionais e também a
família. O diagnóstico mostra o caminho para educar/estimular as crianças com autismo. O
diagnóstico dá um norte e indicações, informa o que tem que ser estimulado e o que tem que
ser ensinado para uma criança com TEA, mostrando quais as terapias e qual a melhor forma de
oferecê-las.
O que o diagnóstico também permite é a busca da informação especializada sobre o
transtorno. É importante lembrar que existem muitas informações, mas nem todas essas
informações são cientificamente comprovadas e nem sempre funcionam. O diagnóstico dá
espaço para pesquisas e estudos que já existem ou podem ser feitos.
O diagnóstico também pode ser útil para prognósticos para o futuro, embora no caso
específico do autismo isso não seja sempre viável.

A TRÍADE DO AUTISMO
Como já foi mencionado antes, as características do autismo são divididas em três áreas,
chamadas de tríade do autismo (definição de autismo no DSM-IV e na CID-10):
- comprometimento na interação social;
- prejuízo na comunicação verbal e não verbal;
- problemas na imaginação, com padrões de comportamento repetitivos e
estereotipados.
Essas características mostram que pessoas com autismo têm uma rigidez no pensar e no
agir. São muito metódicas e sistemáticas.
Muitas vezes, em conjunto com essa tríade, a pessoa com autismo pode ter problemas
sensoriais, crises de pânico e o que chamamos de "birra".
O autismo é um transtorno social que se manifesta em cada pessoa de forma diferente.

29
- YOUTUBE: Autismo hoje em dia https://www.youtube.com/watch?v=l7NdnYYj-ew

30
Aula 10. CID-10 e DSM-IV

Como já foi mencionado, existem dois instrumentos internacionais de avaliação aceitos


pela Organização Mundial de Saúde (OMS). As duas avaliações são: CID-10 (Classificação
Internacional de Doenças, décima versão) e DSM-IV-R (Diagnostical and Statistical Manual of
Mental Disorders, 4a versão - revisada).
Esses dois instrumentos definem, cada um, uma categoria ampla: o transtorno global do
desenvolvimento, na CID-10; e transtornos invasivos do desenvolvimento, no DSM-IV-R. Esta
categoria ampla é dividida em subcategorias. O transtorno do espectro do autismo engloba três
dessas subcategorias: autismo clássico, autismo atípico e a síndrome de Asperger (no TEA não
estão incluídos a síndrome de Rett nem o transtorno desintegrativo da infância).
A seguir veremos como são definidas cada uma dessas três categorias, segundo o DSM-
IV / CID-1011.
Lembrem-se da tríade do autismo: problemas na interação social, problemas na
comunicação e problemas nos padrões de comportamento.

A. DEFINIÇÕES NO DSM-IV / CID-10: autismo clássico (ou autismo infantil)

Autismo clássico que é a mesma coisa que autismo infantil. No Brasil nós temos que
respeitar a nomenclatura "autismo clássico", porque em 2012 o Ministério da Saúde oficializou
esse nome. A definição do autismo determina que uma pessoa que recebe esse diagnóstico deve
apresentar um total de pelo menos seis itens dos grupos 1, 2 e 3, incluindo pelo menos dois
itens do grupo 1, um item do grupo 2 e um item do grupo 3. Esses três grupos são definidos pela
tríade do autismo.

GRUPO 1: Comprometimento qualitativo na interação social - a pessoa deve apresentar ao


menos dois dos itens seguintes:

a) dificuldades no uso de múltiplos comportamentos não verbais como, por


exemplo: olho no olho, expressão facial, postura do corpo e gesticulação
para regular a interação social;
b) fracasso no desenvolvimento de relações com seus semelhantes,
apropriadas ao nível de desenvolvimento;

11
PEETERS, Theo. Autismo: Entendimento teórico e intervenção educacional. Rio de Janeiro: EDITORA DE
CULTURA MÉDICA, 1998. p.1-2

31
c) falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou
realizações com outras pessoas (por ex., não mostrar, trazer ou apontar
objetos de interesse);
d) falta de reciprocidade social ou emocional.

GRUPO 2: Comprometimento qualitativo na comunicação - a pessoa deve apresentar ao


menos um dos itens seguintes:

a) atraso ou falta total do desenvolvimento da linguagem falada (não


acompanhada por qualquer tentativa de gestos ou mímica como modo de
comunicação);
b) dificuldade em iniciar e manter uma conversa com outras pessoas;
c) uso de linguagem estereotipada ou repetitiva, ou de linguagem muito
peculiar;
d) ausência de imaginação social ou imitação espontânea de
comportamentos sociais.

GRUPO 3: Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades - a


pessoa deve apresentar ao menos um dos itens seguintes:

a) preocupação insistente com um ou mais padrões restritos ou


estereotipados de interesse, anormais em intensidade ou foco;
b) falta de flexibilidade ou postura compulsiva em rotinas e rituais
específicos e não funcionais;
c) maneirismos motores repetitivos e estereotipados (por exemplo,
movimento dos dedos ou das mãos, sacudindo eventualmente todo o
corpo);
d) preocupação persistente com partes de objetos.

Essas características são acompanhadas geralmente de desenvolvimento anormal ou


desajustado antes do terceiro ano de idade, manifestadas por atrasos ou por funcionamento
anormal das áreas da tríade.

B. DEFINIÇÕES NO DSM-IV / CID-10: Autismo atípico (ou transtornos globais do


desenvolvimento - sem outra especificação)

32
As características do autismo atípico aparecem numa idade um pouco mais avançada
em comparação com as do autismo clássico.
As primeiras características podem se apresentar na criança entre as idades de três e
doze anos.
No início da vida essas crianças têm um desenvolvimento normal. Depois de alguns anos
elas começam a apresentar problemas com relacionamentos, maneirismos estranhos e padrões
anormais da fala.
Os comprometimentos são diferentes dos observados no autismo clássico, porque elas
não apresentam todas as características da tríade. Elas só apresentam uma ou duas
características.
O autismo atípico aparece em pessoas com uma deficiência intelectual profunda ou em
indivíduos com um grave transtorno específico de desenvolvimento.
Esse tipo de transtorno causa prejuízo para a vida toda, mais especificamente na vida
social.

C. DEFINIÇÕES NO DSM-IV / CID-10: síndrome de Asperger

Uma pessoa com síndrome de Asperger parece uma pessoa meio autista e meio normal.
Essa síndrome é diferente da síndrome do autismo clássico. Ela não responde completamente à
tríade; seu diagnóstico é baseado em apenas dois critérios.
As pessoas com síndrome de Asperger12 têm um QI normal ou acima do normal. Elas
não apresentam atraso no desenvolvimento da linguagem. Elas também não têm um atraso no

12
BARBOSA, A. B. Silva. Mundo singular. Entendendo o autismo. P. 197. Rio de Janeiro: FONTANAR,
2012.

33
desenvolvimento cognitivo nem no desenvolvimento dos interesses e na aprendizagem nos três
primeiros anos de vida.
Os comprometimentos aparecem, geralmente, depois da idade de três anos e podem
causar problemas sérios na vida adulta. Essas pessoas apresentam prejuízo nas áreas sociais,
comunicativas e ocupacionais.
No DSM-V a síndrome de Asperger é classificada como autismo leve, mas devemos estar
atentos para essa denominação: ela não significa que a vida dessas pessoas é mais fácil. Pelo
contrário, as pessoas com síndrome de Asperger têm consciência de que são diferentes das
demais, e isso pode tornar sua vida muito sofrida.

O nome síndrome de Asperger foi dado por Lorna Wing em 1981 em referência a Hans
Asperger, o primeiro médico que investigou a síndrome.
A síndrome de Asperger se apresenta de maneiras ou tipos diferentes: de
personalidades, de gestos e de habilidades comunicativas.
Encontramos pessoas que são muito boas em leitura, em cálculo, em ciências humanas,
em línguas, em números, em memorização, em memorizar mapas, entre outras habilidades.
Muitas são superinteligentes, mas desinteressadas e dispersas nas escolas.
Muitas têm dificuldade em prestar atenção e em entender o que o professor fala.
Os critérios13 avaliados para o diagnóstico da síndrome de Asperger são:

13
WHITMAN, T. L.: O desenvolvimento do Autismo. Social, Cognitivo, Linguístico, Sensorial, Motor e
Perspectivas Biológicas. P.31. São Paulo: M Books, 2015.

34
- Prejuízo qualitativo na interação social - a pessoa deve apresentar ao menos dois dos itens
seguintes:

1. prejuízo qualitativo no uso do comportamentos não verbais;


2. fracasso no desenvolvimento de relacionamentos;
3. falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou
realizações com outras pessoas (por ex., não mostrar, trazer ou apontar
objetos de interesse);
4. falta de reciprocidade social e emocional.

- Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades,


a pessoa deve apresentar ao menos um dos itens seguintes:

1. preocupação com padrões estereotipados e interesses, anormal em


intensidade ou foco;
2. rigidez ou falta de flexibilidade em rotinas e rituais específicos e não
funcionais;
3. maneirismos motores repetitivos e estereotipados;
4. insistente preocupação com partes dos objetos.

Esses dois critérios envolvem prejuízo nas áreas sociais e ocupacionais.

Uma característica das crianças com síndrome de Asperger é que elas geralmente
aprendem a falar mais rapidamente e aprendem a ler sozinhas.
Todas são muito sensíveis, talentosíssimas, mas se apresentam de forma meio esquisita.
Por isso elas muitas vezes são alvo de chacota, bullying e sofrem facilmente de depressão.
A partir do início da utilização do DSM-V não serão mais utilizados os termos autismo
clássico e síndrome de Asperger. As novas terminologias serão: autismo de baixo funcionamento
e autismo de alto funcionamento.

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