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TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - T.E.A: Uma análise da


proteção jurídica às pessoas com Transtorno do Espectro Autista
Ana Beatriz Vieira Santos1
Marcia Girardi²

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo analisar os direitos e proteções jurídicas das
pessoas com Transtorno de Espectro Autista, com o propósito de debater quanto às
legislações que visam proteger os autistas, em consonância aos princípios
constitucionais que garantem a dignidade da pessoa humana destas pessoas em
específico. Os diagnósticos positivos de TEA tem aumentado significativamente nos
últimos anos, e este trabalho se dispõe a discorrer sobre como o ordenamento
jurídico atual trata as desigualdades que são geradas através de cada diagnóstico,
visto que, as pessoas autistas estão em um grupo que é tratado com discriminação,
que geral dificuldades ao acesso à direitos fundamentais. O presente artigo tem o
intuito de na primeira parte, conceituar o Transtorno do Espectro Autista, e seus
tipos. A segunda parte será utilizada para analisar como as pessoas autistas são
recepcionadas socialmente no atual cenário jurídico. Ao final será tratado sobre as
proteções e direitos em conformidade a desproteção jurídica das pessoas com TEA.
As considerações finais deste artigo, serão baseadas na interdisciplinaridade entre o
conteúdo jurídico e o âmbito social.

Palavras-chave: Autismo. Proteção. Direito. Sociedade.

ABSTRACT
This article aims to analyze the rights and legal protections of people with Autism
Spectrum Disorder, with the purpose of discussing legislation that aims to protect
autistic people, in line with the constitutional principles that guarantee the human
dignity of these people in particular. . Positive diagnoses of ASD have increased
significantly in recent years, and this work aims to discuss how the current legal
system treats the inequalities that are generated through each diagnosis, given that
autistic people are in a group that is treated with discrimination, which creates
difficulties in accessing fundamental rights. This article aims to conceptualize Autism
Spectrum Disorder and its types in the first part. The second part will be used to
analyze how autistic people are socially received in the current legal scenario. At the
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Acadêmico de Direito - Faculdade de Educação Santa Terezinha - FEST – E-mail:

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end, protections and rights will be discussed in accordance with the legal lack of
protection of people with ASD. The final considerations of this article will be based on
the interdisciplinarity between legal content and the social scope.
Key-words: Autism. Protection. Right. Society.

1 INTRODUÇÃO
Este artigo traz, primordialmente, a experiência pessoal da autora, que vivencia
todas as fases do autismo, em decorrência de experienciar desde o recebimento do
diagnóstico, até o início do tratamento e demais situações que familiares de pessoas
com autismo vivenciam.
Inicialmente, é importante ressalvar, que cientificamente falando, nunca houve
uma justificação causal sobre o autismo. As pesquisas que tratam da doença,
conseguiram identificar somente algumas informações importantes, como por
exemplo, a informação de que homens tendem a ter mais chances de desenvolver
T.E.A.
É possível verificar e entender através de uma rápida análise, que todas as
famílias são prováveis de conviver com uma criança e posteriormente adulto, autista.
Exatamente por estes motivos, há uma grande necessidade de que as pessoas
tenham informações sobre esta patologia crônica, desde o diagnóstico, até os
direitos e proteções dispostos.
Ressalta-se que é muito importante que as famílias recém diagnosticadas
tenham uma base de conhecimento sólida a respeito do autismo, para que ocorra o
bom desenvolvimento, cuidado e crescimento durante o tratamento da pessoa
autista. Em decorrência do grande número de casos que vêm surgindo nos últimos
tempos, grande parte das pessoas conhecem ou já ouviram falar do autismo, mas
ainda são leigas nos tipos, maneiras de convivência, tratamentos.
É a partir deste ponto, que os problemas começam a surgir, com efeito, a falta
escassez de informação gera a ignorância, que é destacada através dos
preconceitos, das generalizações, do afastamento das pessoas com autismo da
seara social.
Diante deste contexto, os principais objetivos norteadores deste artigo, será
analisar de forma específica, como as pessoas autistas são resguardadas no atual

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campo jurisdicional, e se de fato, as legislações preveem proteção às pessoas com


o Transtorno do Espectro Autista.
Não obstante, tem-se como objetivo ainda, apresentar como o autista é
recebido dentro da sociedade, abrangendo os direitos básicos sociais, como, lazer,
inclusão, dignidade de vida, direito de ir e vir. De outra banda, analisar-se-á de forma
crítica, se os direitos constitucionalmente aduzidos pela Constituição Federal, e as
legislações específicas são aplicados na prática, e este grupo de pessoas são
incluídos dentro da sociedade.
Para tanto, o presente artigo foi fracionado em capítulos que discutem sobre o
Transtorno do Espectro Autista de forma geral. O primeiro trata de definir o autismo
e seus tipos, bem como a evolução do diagnóstico. Posteriormente trata-se da
inclusão social, e do reconhecimento do autista como deficiente. Por fim, no último
capítulo, estudar-se-á sobre as proteções, legislações e direitos em prol das
pessoas com transtorno do espectro autista.
As considerações finais do artigo, como o todo, será a preocupação em
analisar os direitos disponíveis aos autistas, em uma análise feita através do olhar,
inicialmente, da mãe de uma criança autista e consequentemente, operadora do
direito.

2 O AUTISMO EM UM ASPECTO GERAL


Imprescindível ressaltar que, ainda que o Transtorno do Espectro Autista
tenha tomado proporções de conhecimento mundial e passado a ser tratado com
mais seriedade recentemente, este é um assunto que vem sendo discutido há
muitos anos.
Em meados de 1911, o termo “autista” foi falado de forma precedente, e
quem utilizou este termo foi Eugene Bleuler, um psiquiatra suiço que estudava
patologias como a esquizofrenia. O uso da palavra em questão, foi para conceituar
características de déficit e conflitos com a realidade, sendo a diferença entre uma
pessoa em específico e as demais pessoas da sociedade.
Posteriormente, anos depois, mais especificamente nos anos 40, outro
psiquiatra, este, austríaco, resolveu realizar pesquisas observando crianças de

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determinadas idades, com o intuito de comprovar que os “autistas” existiam e tinham


características específicas que os diferenciavam das demais pessoas.
Concomitante a isto, este mesmo psiquiatra, Leo Kanner,que foi considerado
o pai do autismo, listou uma série de particularidades que seriam comuns nas
crianças consideradas autistas, ainda que, naquela época o termo fosse utilizado de
forma leiga, sem tanta definição.
O médico lista como condições autistas, a inaptidão para se relacionar com
pessoas que não estão em seu ciclo social, bem como, a insuficiência de lidar com
situações que estão fora de seu controle. Ademais, o psiquiatra destaca que através
do seu estudo sobre o autismo, realizado com onze crianças, há uma alteração
significativa na comunicação das crianças com essa deficiência. Algumas nem
mesmo conversam, outras, utilizam da fala para expressar suas necessidades de
forma autoritária.
Como ainda não haviam conceitos corretos e sólidos a respeito dos autistas,
naquela época surgiram diversas opiniões que buscavam justificar a patologia, como
por exemplo, Kanner tinha a percepção de que a criança autista havia sido
acometida pela patologia, pois não tinha um bom relacionamento com seus
progenitores, raciocínio este, que ligava o autismo da criança diretamente aos seus
pais.
Seguidamente, em 1948, a OMS (Organização Mundial de Saúde), uma
importante instituição governamental para a saúde, na sua sexta edição tratou pela
primeira vez sobre doenças mentais, no entanto, não tratou especificamente quais.
Em seguida a esta simples menção, foi que as doenças mentais tiveram um
pouco mais de evidência. Conforme Álvaro e Francisco Lotufo (2014), a evidência
ocorreu da seguinte maneira:
A primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM) foi publicada pela Associação Psiquiátrica Americana (APA)
em 1953, sendo o primeiro manual de transtornos mentais focado na
aplicação clínica. O DSM-I consistia basicamente em uma lista de
diagnósticos categorizados, com um glossário que trazia a descrição clínica
de cada categoria diagnóstica. Apesar de rudimentar, o manual serviu para
motivar uma série de revisões sobre questões relacionadas às doenças
mentais. O DSM-II, desenvolvido paralelamente com a CID-8, foi publicado
em 1968 e era bastante similar ao DSM-I, trazendo discretas alterações na
terminologia.

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Somente em 1980, quando publicou-se uma edição do Manual Diagnóstico e


Estatístico de Transtorno Mentais, sendo esta, a terceira edição, é que
reconheceram o autismo como uma condição. No ano seguinte, 1981, surgiu o
conceito do autismo como sendo um espectro.
Após muitos anos, e todas as tentativas de possíveis conceituações do
autismo, tal como, de estudos que pudessem comprovar qual a maneira de
diagnosticar as características de uma pessoa autista, somente no ano de 1994,
após uma análise em milhares de pacientes, pode-se estabelecer critérios a respeito
do autismo.
Historicamente tratando, no ano de 2007, estabeleceu -se o dia 02 de Abril
como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo.
Dentre tantos marcos históricos na história autista no Brasil, em 2012, houve
a sanção de uma lei que tratava especificamente dos direitos das pessoas com
transtorno do espectro autista, sendo denominada como, Lei Berenice Piana -
12.764/12.
Ainda que no mundo todo, atualmente, muito se discuta sobre o autismo e
seus critérios e especificidades, o diagnóstico mais preciso é o que atende aos
critérios trazidos pelo Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de
Psiquiatria:
Os sintomas desses transtornos representam um continuum único de
prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de
comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos em vez de
constituir transtornos distintos. (DSM - 5, 2014, p.42).
De forma genérica, pode-se conceituar o autismo com o comportamento
particular de cada ser, que não surge de repente, mas sim desde o início da vida.
Para alguns autores que escrevem sobre o tema, como Lia Maia (2017, p.
15), existem alguns comportamentos que surgem com frequência nas pessoas com
autismo:
A saber, costumam ser frequentes os seguintes comportamentos: pouco ou
nenhum contato visual, atraso na fala, apatia ou falta de resposta a
estímulos, grito, choro ou outra manifestação de irritação súbita e
aparentemente sem motivo, agitação nas mãos, aparente alienação ao
ambiente, apego à rotina, repetição frequente de palavras isoladas ou frases
inteiras.

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Dentre todas as tentativas de uma compreensão clara sobre o conceito do


autismo, este transtorno ainda é uma incógnita complexa que vem sendo estudada
diariamente, e apesar de existirem muitos pesquisadores que vem conquistando
avanços, ainda não tem um conceito fixo.

2.1 O RECONHECIMENTO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA COMO


UMA DEFICIÊNCIA
No campo da saúde sempre houve um grande discussão sobre a definição
dos autistas, havia uma grande divergência de opiniões quanto aos mesmos serem
deficientes ou não.
Um dos principais pontos que contribuíram para esta discussão era o fato do
questionamento ir além da medicina, como por exemplo, os juristas questionavam se
os autistas poderiam ter acesso aos direitos garantidos às pessoas com deficiências.
Foi então, no ano de 2012 que a divergência foi resolvida, quando foi
publicada uma lei denominada Lei Berenice Piana, sob o nº 12.764, tratando
especificamente sobre o TEA, certificando dentre tantos outros assuntos, que os
autistas se equiparam com as pessoas com deficiência.
A Lei 12.764 de 2012, foi promulgada após o transtorno do espectro autista
se tornar um problema de saúde pública que necessitava de uma resolução capaz
de pôr fim às discussões jurídicas e médicas e o mais importante, informar a
população dos direitos dos autistas.
No artigo primeiro da referida legislação, o legislador deixa claro que a lei foi
publicada para proteger os autistas, bem como, resguardar todos os seus direitos
dali em diante.
A partir de então, com o respaldo jurídico do artigo acima mencionado,os
autistas passaram a ter acesso aos direitos que já eram garantidos às pessoas
deficientes na legislação brasileira, somando aos demais direitos e proteções
específicas aos autistas.
No entanto, a legislação não foi benéfica apenas para os autistas, a Lei
Berenice Piana tornou-se um meio de levar visibilidade às causas autistas, tornando
o assunto significante e ensejando políticas públicas que informassem a sociedade a
respeito dos direitos e garantias dos autistas.

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Dentre estas informações, após o entendimento de que as pessoas com


autismo tinham direitos iguais aos dos deficientes, por serem definidos como
pessoas com deficiência também, houveram grandes discussões quanto à
necessidade de tal legislação. Destes direitos que foram questionados, um dos mais
impactantes, foi o direito ao recebimento do Benefício de Prestação Continuada -
BPC, sendo o pagamento pelo Estado ao usuário do valor de um salário mínimo,
que até o momento, os deficientes autistas não poderiam receber, mas após a
publicação da lei, os mesmos tornaram-se aptos e o Estado passou a ser obrigado a
conceder.
Diante de tantas discussões históricas, desde meados dos anos de 1911,
conforme já fora exposto, foi somente quando houve a promulgação da Lei 12.764
reconhecendo o TEA como uma deficiência que os autistas passaram para uma
nova fase na luta pelos seus direitos, a partir de então, o autismo tomou uma grande
proporção de visibilidade, gerando grandes conquistas aos autistas.

3 O IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA


NA FAMÍLIA
Por se tratar de um Transtorno que é considerado de complexa definição por
especialistas em transtornos mentais, o autismo ainda é um tabu dentro da
sociedade.
Quando se fala em diagnóstico autista dentro do seio familiar, tem-se a
noção básica, cujas quais, o termo Transtorno do Espectro Autista já é
completamente assustador perante a pessoas que não têm intimidade com
transtornos mentais.
Sabe-se que uma pessoa, desde a infância tem saltos de desenvolvimento,
onde são avaliados a cada mês de vida se o crescimento está acontecendo de
forma natural e normal. As famílias atuais, baseiam-se no crescimento e evolução de
seus parentes mais próximos, conforme a história sócio cultural a qual conhecem, e
se encaixam conforme as evoluções e mudanças ocorrem.
Nos diagnósticos de pessoas com Transtorno do Espectro Autista, os
familiares não costumam absorver de forma simples e rápida a ideia de ter um
familiar diagnosticado com autismo, sendo a primeira atitude, a negação.

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O momento específico do recebimento do diagnóstico, pode ser considerado


como o divisor entre a vida sem extremos e a vida com extremos, visto que, dali em
diante, os familiares daquele deficiente, passarão a conviver com as lutas e
condições diárias que envolvem a vida de um deficiente.
É possível afirmar que muitas famílias, principalmente as que entram em
completa negação com ao receber o diagnóstico, sofrem uma espécie de luto, que
com o passar do tempo, se ressignifica, tornando-se uma luta em favor do bem estar
dos autistas.
Ainda, nesta toada, Sprovieri e Assumpção Júnior (2001) tratam de forma
específica sobre os sentimentos ruins que, de forma individual, somente os pais de
um filho autista experimentam:
As famílias de autistas vivem continuamente sintomáticas porque o
problema progride em termos de gravidade. Quanto mais essa criança
evolui e entra em outras etapas evolutivas, mais seus limites se fazem
presentes. A família enfrenta os efeitos de um de seus membros ser
permanentemente sintomático, com deficiências que progridem
gradativamente. Os períodos de alívio das exigências ligadas à doença são
mínimos, o que contribui para a família se disfuncionar.

Ademais, é possível afirmar que a reação negativa da família ao receber o


diagnóstico do transtorno do espectro autista é, sem dúvidas, normal, podendo
ainda, variar em cada caso específico, ressaltando que, aquelas famílias cujos
componentes são mais informados, os sentimentos experimentados são menos
agressivos, tornando a adaptação ao transtorno algo menos doloroso.
No entanto, na maioria das vezes, o núcleo familiar acaba se desgastando
em decorrência das mudanças e adaptações bruscas que ocorrem, visando o bem
estar do indivíduo. Os maiores desafios segundo especialistas, acontecem
primordialmente no meio social, pois, os próprios familiares acabam não sabendo
como inserir aquele indivíduo dentro do convívio social, sem que o seu
comportamento característico do TEA lhe cause desconforto frente a outras
pessoas.
Logo, devido principalmente à falta de um conceito consistente para o
autismo, as famílias acabam vivendo um misto de sentimentos e emoções, como
descrevem alguns estudiosos a respeito do transtorno.

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Todavia, é possível concluir que as famílias recebem o diagnóstico de


variadas formas, e ainda, que a transformação não ocorre somente com o indivíduo
diagnosticado, como também dentro do seio familiar e social deste, que passa a ser
alvo de extrema preocupação e cuidado.

4 AS GARANTIAS DE PROTEÇÃO E DIREITOS DA PESSOA COM


TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - LEI BERENICE PIANA 12.764/2012
Importante se faz mencionar que os autistas sempre foram sujeitos de
direito. No entanto, somente no ano de 2012, venceram a barreira que lhes negava
os direitos às pessoas deficientes, pois foi quando, com a publicação da Lei
12.764/2012, teve o autismo reconhecido como deficiência.
A supracitada lei carrega o nome de uma ativista brasileira, mãe de uma
criança diagnosticada como autista. A mesma era uma militante ativa na defesa dos
direitos dos autistas, visto que, vivenciava no dia a dia todas as dificuldades
impostas pelo autismo, além, da família. Foi, ainda, esta ativista, chamada Berenice,
a responsável por idealizar a primeira clínica Escola de Autistas do Brasil, no estado
do Rio de Janeiro, e ainda, teve participação em todas as causas autistas que
ocorriam.
No entanto, mesmo após a publicação da Lei que equiparou o autista ao
deficiente, garantindo os direitos e benefícios, ainda havia grandes problemas para
serem sanados, visto que, por mais positiva que a lei fosse, a mesma ainda não
conseguia abranger todos os problemas que giravam em torno do TEA.
Contudo, ao falarmos sobre proteção jurídica e direitos das pessoas com
TEA, em um primeiro momento, é necessário analisar a historicidade da
desproteção das pessoas com deficiência de um modo geral. É neste sentido que as
autoras Marina Torres e Rebeca Napoleão de Araújo Lima chegam a conclusão de
que “o preconceito e a ignorância fazem parte da história das pessoas deficientes”..
Anteriormente a publicação da lei que cuidou especificamente dos direitos
dos autistas, o texto constitucional da Carta Magna de 1988, já havia estabelecido o
princípio da dignidade da pessoa humana, que foi um importante pilar da busca por
direitos fundamentais, deixando claro que a todos os sujeitos de direitos é atribuído,
sobretudo, o direito de viver com dignidade.

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Dentre tantos outros princípios que o artigo quinto da Carta Magna


menciona, também há o princípio da isonomia, ou igualdade, que equipara todos os
cidadãos como iguais, perante as leis. São, inicialmente, através destes textos
constitucionais, que tratam da igualdade de todos, que a Lei Maior aduz todos os
outros direitos dos cidadãos, como saúde, lazer, alimentação, transporte, inclusão
social.
Quando tratamos dos autistas, de forma específica, estes, são protegidos
juridicamente por um acervo de direitos existentes dentro do atual sistema jurídico
do direito brasileiro, que busca garantir o desenvolvimento desse deficiente.
Dentro da legislação específica que trata do Transtorno do Espectro
Autista, o artigo 1º, determina inicialmente as diretrizes que precisam ser seguidas
para que haja a execução desses direitos.
Dentre as diretrizes estabelecidas algumas muito importantes, como, o
direito ao tratamento específico para cada tipo de autismo, a inserção das pessoas
autistas no mercado de trabalho, o direito a receber tratamento multidisciplinar em
todos os âmbitos, como saúde e educação.
A referida legislação estabelece claramente a deficiência e as respectivas
necessidades dessas pessoas. Em continuidade a isto, o artigo 3ª da mesma lei,
especifica os direitos relativos ao transtorno, que inicialmente, são um reforço dos
direitos constitucionais previstos na Carta Magna, como, direito à vida, integridade e
lazer.
Não obstante, o referido artigo trata dos direitos de proteção e de acesso
aos sistemas públicos de saúde, incluindo todos os serviços que devem ser
prestados às pessoas autistas, desde o diagnóstico prévio, até as demais
necessidades precisas durante o tratamento.
Ademais, também traz em seu texto legal, o direito do autista de se
profissionalizar, e se inserir no mercado de trabalho, desde o acesso à educação até
a previdência social.
Ainda que os autistas tenham uma série de direitos assegurados e estejam
protegidos desde a Constituição Federal até as legislações específicas, em
consonância aos princípios que garantem efetividade na execução desses direitos,
ainda não há dentro do sistema a disponibilização do acesso a estes direitos.

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Os autistas têm direitos especificados na Lei Berenice Piana, que garantem


o acesso especial à saúde para tratamento especializado, no entanto, o sistema de
saúde atual ainda não conta com estrutura profissional adequada que disponibilize
estes serviços.
Ademais, também tem direito a educação especializada com equipe
interdisciplinar que possa contribuir para o progresso na vida social, dentre todos os
outros direitos.
Resta claro, que ambas as legislações que tratam dos deficientes, bem
como, dos autistas ensejam a proteção jurídica e preveem direitos específicos, no
entanto, não há efetividade na execução destes, devendo o Estado intervir de forma
fiscalizadora, para que os autistas possam ter acesso as esses direitos.

4.1 A INSERÇÃO DAS PESSOAS COM T.E.A NO CAMPO SOCIAL


A inserção social das pessoas autistas é um assunto que merece ser
tratado inicialmente dentro da sociedade como um todo. Para que os deficientes
sejam incluídos dentro do campo social, é necessário que a população esteja
informada sobre o transtorno, para que não aumente os números de discriminação e
preconceito.
Há no atual sistema jurídico brasileiro, a Lei 13.146/2015, que estabelece
as maneiras de inclusão da pessoa com deficiência, conhecido de maneira geral,
como o Estatuto da Pessoa com Deficiência, trazendo em seu texto as normas que
devem ser seguidas visando que o deficiente seja incluído no convívio social de
forma igual às demais pessoas.
Este mesmo Estatuto, define no seu artigo 2º, o conceito de deficiência,
para a partir, deste conceito ser possível viabilizar a inclusão social, eliminando as
desigualdades sociais.
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual,
em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas (BRASIL, LEI 13.146/2015, 2020, p. 1).

Não menos importante, a ONU, trata da integração social em um aspecto


de adaptação de todos os envolvidos no processo da inclusão social. Ainda que as

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pessoas autistas tenham uma expectativa de vida normal, algumas medidas podem
ser tomadas para que estas pessoas sejam incluídas de forma mais natural no meio
social.
Em decorrência das características perceptíveis dos autistas, como
maneiras comportamentais, inteligência subnormal, sobretudo, dificuldade em
comunicação com pessoas fora do seu ciclo rotineiro, são necessários programas de
inclusão, que adaptem estes deficientes a realidade, bem como, que preparem as
demais pessoas para o convívio com os autistas.
O IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, só incluiu
perguntas sobre o autismo no CENSO a partir do ano de 2022, anteriormente à isto,
não haviam dados específicos sobre o número de autistas no Brasil, nem quais as
suas condições e espécies.
O questionário investiga se o participante já foi diagnosticado com
autismo, em tese, o número de pessoas questionadas seria de 78 milhões, e estes
resultados serão divulgados até meados do ano de 2025.
Contudo, estima-se que atualmente existem cerca de 6 milhões de
autistas no Brasil, este número decorre das pesquisas realizadas pelo CDC, que
indicam que no ano de 2023, 1 a cada 36 crianças são autistas.
Quanto a isso, ressalta-se a importância da inclusão social destas
pessoas, que necessitam ter participação na sociedade. É importante observarmos
que, ainda que, existam inúmeras legislações que determinam a inclusão social dos
deficientes, como por exemplo, as vagas de emprego que devem ser destinadas
exclusivamente às pessoas com deficiência, ainda há um grande déficit quanto à
participação social destas pessoas na sociedade.
As pessoas com transtorno do espectro autista são, de certa forma,
excluídas da sociedade em decorrência de suas características físicas e a maneira
que agem perante outras pessoas, no entanto, a não aceitação das pessoas autistas
pela própria sociedade, acaba gerando situações que agravam o diagnóstico.
A inclusão social dos autistas tem relevância sociocultural, e ainda que
existam dificuldades na linguagem, comunicação, e na interação social, estas
pessoas precisam ser inseridas em todos os âmbitos que incluam o contato com

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pessoas que estão fora da sua convivência, visto que, precisam desta interação para
que possam alcançar o máximo do seu potencial.

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O principal objetivo desta pesquisa foi entender, inicialmente, o conceito do
Transtorno do Espectro Autista, sob o olhar de pesquisadores da deficiência e de
famílias que convivem com pessoas autistas. De outra banda, também buscou-se
compreender a respeito das proteções e dos direitos que estas pessoas são
respaldadas.
Visando o objetivo de entender desde o conceito, até as garantias legais e
as demais necessidades das pessoas autistas, os procedimentos metodológicos do
trabalho podem ser qualificados como tendo sido optada pela abordagem da
pesquisa qualitativa, que teve como objeto de estudo, pesquisas realizadas nos
artigos científicos que tratam sobre o Transtorno do Espectro Autista, bem como,
através da bibliografia que trata sobre o tema, bem como de muitos casos
divulgados de famílias que convivem com pessoas autistas.
Quando falamos sobre pesquisa qualitativa, podemos citar, Minayo (2007),
um autor que descreve a referida pesquisa como um processo em que o principal
objetivo é compreender a respeito de determinado assunto, sem realizar pesquisas
numéricas, somente através de análises documentais.
Além deste, também há um grande autor quando se trata de pesquisas
metodológicas. Denzin (2017), que defende a teoria de que a pesquisa qualitativa é
uma pesquisa que envolve a perspectiva de quem a está realizando, para ele, trata-
se de uma espécie de investigação entre o conceito e a prática de determinado
assunto.
Diante do exposto, o presente artigo foi realizado buscando concluir sobre
como as pessoas com autismo vivem atualmente, em face, da desinformação da
sociedade sobre a deficiência. Além disso, também buscou-se entender que existem
legislações eficazes para garantir todos os direitos das pessoas deficientes, bem
como, protegê-las das inúmeras situações errôneas que os mesmos podem ser
acometidos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Constituição Federal de 1988 tratou expressamente sobre a igualdade
de direitos e deveres dos cidadãos, mesmo que sejam diferentes em características
ou condições. O foco principal deste trabalho, foi analisar se as pessoas com
Transtorno do Espectro Autista eram sujeitos de direitos e se estes estavam sendo
executados e respeitados.
Não obstante, também buscou estudar a respeito das características que
alteram o comportamento e a forma de viver não só do autista, como, de todos que
estão ao seu redor, ademais, objetivou - se analisar se os autistas estão incluídos
dentro dos meios sociais e quais as políticas de inclusão utilizadas pelo Estado para
executar os direitos das legislações específicas.
Foi possível verificar durante o decorrer do trabalho que as pessoas
autistas são respaldadas por proteções jurídicas, visto que, existem várias normas
que foram criadas especificamente para tratar dos direitos destas pessoas, isto, em
decorrência do transtorno ser uma deficiência com características específicas que a
distingue das demais.
O estudo aprofundado do Transtorno do Espectro Autista esclareceu que
ainda há não há efetividade total dos direitos previstos pelas legislações pertinentes
ao TEA, isto, porque não há em um primeiro momento, instrumentos que viabilizem
o acesso aos direitos garantidos, como por exemplo, o tratamento especializado, o
acesso a uma educação interdisciplinar, porquanto, consequentemente, é possível
definir que ainda há uma longa batalha em busca desses direitos.
Não obstante, diante do exposto, é possível concluir que atualmente, o
Transtorno do Espectro Autista tem não só respaldo jurídico, como também, uma
grande visibilidade dentro da sociedade, o que é considerado muito importante
visando a inclusão social dos autistas, ademais, é necessário que o Estado efetive
os direitos dispostos aos autistas.

REFERÊNCIAS

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Americana para os Transtornos Mentais: o DSM-5. Rev. bras. ter. comport. cogn.,

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