Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos
sobre ele estão reservados.
Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e
reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou
quaisquer veículos de distribuição e mídia.
Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações
legais.
2
CBI of Miami
Breve Histórico: Do Autismo ao TEA
Djalma Freitas
3
CBI of Miami
Atualmente, o autismo é conhecido como um Transtorno de Espectro
descrito como um [...] transtorno do desenvolvimento de causas neurobiológicas
definido de acordo com critérios eminentemente clínicos. As características
básicas são anormalidades qualitativas e quantitativas que, embora muito
abrangentes, afetam de forma mais evidentes as áreas da interação social, da
comunicação e do comportamento (Schwartzman & Araújo, 2011, p.37).
No Brasil, devido à crescente demanda de pessoas com este transtorno e,
devido ao empenho de muitas pessoas, em 27 de dezembro de 2012 foi assinada
pela presidenta da república do Brasil a lei 12.764/12 que dispõem sobre os
direitos da pessoa com transtorno do espectro autista no Brasil.
De acordo com a referida Lei, é considerada pessoa com transtorno do espectro
autista aquela portadora de síndrome clínica caracterizada na forma dos
seguintes incisos I ou II:
I - Deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da
interação social, manifestada por deficiência marcada de comunicação verbal e
não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência
em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento;
II - Padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades,
manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por
comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões
de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos.
§ 2o A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com
deficiência, para todos os efeitos legais.
A mudança de nomenclatura de autismo para Transtorno do Espectro do
Autismo, isto é, fazer do autismo um transtorno de ‘Espectro’ trouxe importantes
implicações sobre o transtorno. Tal como Schwartzman e Araújo (2011, p. 37)
destacam, as anormalidades no TEA são quantitativas e qualitativas o que
caracteriza as diferentes intensidades e distintas manifestações de tais
anormalidades. Neste sentido, é importante frisar que as três áreas – interação
social, comunicação e comportamentos – necessariamente apresentarão algum
nível de desenvolvimento atípico, contudo, o quanto e como atípico é ou será o
desenvolvimento da pessoa diagnosticada com TEA apresentasse de modo
4
CBI of Miami
idiossincrático respeitando as especificidades e qualidades individuais da pessoa.
A denominação tem sido usada para reconhecerem-se as amplas
diferenças individuais que existem entre pessoas diagnosticadas como autistas.
Indivíduos com tal diagnóstico vão desde aqueles com todos (ou a maioria) dos
sintomas listados [...] até aqueles que apresentam apenas os sintomas mínimos
exigidos. Esta faixa inclui indivíduos que operam em alto nível de
desenvolvimento, além daqueles que estão muito abaixo em seu nível de
funcionamento. [...] O argumento para o autismo estar em um espectro ou ser um
transtorno de espectro baseia-se na similaridade de sintomatologia de indivíduos
[...] na medida em que indivíduos que diferem em gravidade ou padrão de
sintomas têm causas similares ou vias causais subjacentes semelhantes, a
moção do autismo como um transtorno de espectro faz sentido, em termos
teóricos. (Whitman, 2015, p. 33).
Ou seja, as diferentes facetas e manifestações do autismo levaram tal
transtorno a ser reconhecido como um Transtorno de Espectro. As pessoas com
tal transtorno do desenvolvimento apresentam, conforme tenho entendido,
necessariamente algum tipo de irregularidade em seu desenvolvimento, seja
apresentando, portanto, áreas de desenvolvimento que estejam acima do que é
esperado para aquela área do desenvolvimento em pessoas que se encontram
dentro de um desenvolvimento convencionalmente entendido como típico, ou,
estejam aquém do esperado. Destaco a questão de áreas de desenvolvimento
com fins de salientar que tais irregularidades no desenvolvimento da pessoa
diagnosticada com TEA se manifestam numa mesma pessoa de modos e
intensidades diferentes.
Obviamente estas constatações me levam reconhecer, atualmente, uma
imensa dificuldade em estabelecer critérios plausíveis de diagnóstico, assim
como, reconhecer a necessidade de uma rica vivência de profissionais que se
aventuram a diagnosticar e conduzir intervenções junto dos diferentes tons do
TEA.
Se é, de fato, um transtorno do desenvolvimento definido por critérios
eminentemente clínicos, o olhar clínico sobre tal transtorno tem que estar
eminentemente voltado a um constante contato com este transtorno, assim como,
5
CBI of Miami
com o que culturalmente e convencionalmente foi estipulado como
desenvolvimento típico. Ou seja, para se aventurar clinicamente com estas
pessoas temos que saber do que se trata tal transtorno, seja terapeuticamente ou
para fins diagnósticos.
Como não temos, até o presente, marcadores orgânico-corporais que, em
exames laboratoriais, possam permitir um tratamento que leve a uma cura,
necessitamos de um bom processo diagnóstico que possibilite, para além de uma
nomenclatura diagnóstica, rotas para condutas terapêutico-educacionais capazes
de levar esta pessoa a desenvolver mecanismos de adaptação e regulação frente
as suas demandas de vida. Pois, a pessoa com este transtorno, mesmo que
consiga uma boa evolução do quadro, adquirindo independência e autonomia
perante a vida, suas ações e seus potenciais estarão, ao menos desde o que
temos em achados científicos e metodológicos, restringidos por tal transtorno
(Serra, 2010).
Assim sendo, [...] uma avaliação diagnóstica, em conjunto com outros
procedimentos de avaliação, pode ajudar médicos e educadores a desenvolverem
tratamentos [...] que, com frequência, reduzem a gravidade deste transtorno. É
possível serem criados, por exemplo, programas para a redução de problemas
sensoriais, melhoria do funcionamento motor, diminuição de dificuldades
alimentares, abordagem a cadências nutricionais, desenvolvimento da linguagem
e promoção de comportamentos sociais. Se iniciados cedo [...] às vezes, podem
alterar significativamente a trajetória de desenvolvimento de uma criança [...].
(Whitman, 2015, p. 39).
É latente, portanto, a necessidade e as implicações que o processo
diagnóstico pode trazer. Conquanto, jamais esqueçamos que, diante das
diferentes formas de manifestação deste transtorno do desenvolvimento, os
programas terapêutico-educacionais e os seus respectivos resultados, também,
são amplos e dependem, de fato, do nível de gravidade dos impactos do TEA
sobre a pessoa. Considerando a amplitude de comprometimentos no
desenvolvimento destas pessoas, na versão de 2013 do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais-V (p. 52), são destacados os níveis de
gravidade para TEA:
6
CBI of Miami
Tabela 1. Níveis de gravidade para Transtorno do Espectro Autista (APA, 2013, p. 52)
7
CBI of Miami
Whitman (2015, p. 58-59) destaca 9 domínios/processos que apresentam
características específicas que comumente estão associadas a pessoas
diagnosticadas com TEA:
8
CBI of Miami
Autorregulação Falta de habilidades apropriadas de autorregulação, dificuldades de
automonitoramento, autoinstrução e autoavaliação, deficiências na
solução de problemas, incapacidade de solicitar e utilizar apoios
instrumentais, sinais de fraca autorregulação (TDAH, comportamento
estereotipado e autoestimulador, interesses obsessivos e limitados,
comportamentos compulsivos e ritualísticos).
Problemas Desobediência, agressividade, autoagressividade, problemas com o
comportamentais sono e com a alimentação.
Características físicas/ Aparência “normal”, circunferência craniana grande, convulsões.
problemas médicos
10
CBI of Miami
indivíduo no presente.
Critério E: Essas complicações não são mais bem explicadas por deficiência
intelectual ou atraso global do desenvolvimento. (APA, 2013, p. 50-51).
11
CBI of Miami