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Neurociência cognitiva
do

Autismo

Roberto Aguilar Machado Santos Silva1


Suzana Portuguez Viñas2

O autismo é um transtorno do desenvolvimento neurológico abrangente,


englobando, principalmente dificuldades nos domínios social, linguístico e
comunicativo. O diagnóstico geralmente é feito nos primeiros 2-3 anos de vida,
de comportamentos como falta de contato com os olhos, atenção conjunta,
comportamento imitativo e falta de resposta ao discurso. Outras características
identificáveis são semelhantes às de condições relacionadas, como
comportamentos repetitivos e desatenção observados em transtorno
obsessivo-compulsivo e transtorno de déficit de atenção, respectivamente.

1 Roberto Aguilar Machado Santos Silva é escritor, médico-veterinário, Doutor, Membro da


Academia de Ciências de Nova York e pós-graduando em neuropsicopedagogia. Possui vários
livros publicados sobre filosofia e neuropsicopedagogia.
2 Suzana Portuguez Viñas é escritora, agente literária, pedagoga, psicopedagoga e pós-

graduanda em neuropsicopedagogia. Possui vários livros publicados sobre filosofia e


neuropsicopedagogia.
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Também são observados distúrbios de humor secundários comuns,
incluindo ansiedade e depressão.

Classificação do Autismo segundo o Centers for


Diseases Control and Prevention
De acordo com Centers for Diseases Control and Prevention (CDC, em
Português Centros de Controle e Prevenção de Doenças, EUA), a revista
científica Journal of Autism and Developmental Disorders, publicou uma nova
análise da forma como as crianças são classificadas com Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA) para explorar o diagnóstico precoce
(https://www.cdc.gov/seed). O TEA é diagnosticado por clínicos experientes
(por exemplo, pediatras e psicólogos infantis) que realizam uma revisão
completa do comportamento e do desenvolvimento de uma criança. Esta
revisão completa geralmente leva em consideração os resultados de
ferramentas padronizadas - como observações e entrevistas - que oferecem
uma maneira uniforme de definir comportamentos. Esta abordagem para
diagnosticar TEA, também conhecida como julgamento clínico, é considerada o
padrão-ouro ou gold standard (em inglês) na classificação do TEA. Na nova
análise publicada, os pesquisadores do CDC desenvolveram um método para
classificar crianças com TEA, que se baseiam em ferramentas de diagnóstico
padronizadas - uma entrevista com os pais e observação clínica da criança -
que pode ser usada para criar grupos bem definidos de crianças, para ajudar a
orientar as decisões de tratamento ou projetos de pesquisa. Os pesquisadores
do CDC examinaram o quanto este método classifica bem as crianças com
TEA em comparação com o julgamento clínico padrão-ouro.
O método utilizado pelos pesquisadores do CDC para classificar
crianças com TEA, combina bem com o julgamento clínico e identifica uma
diversidade de crianças com transtorno autista. O método do CDC também
fornece orientação, sobre como resolver as diferenças entre o relatório dos pais
e a observação clínica e como interpretar alguns sintomas de TEA, relatados
pelos pais em crianças pequenas. Por fim, o método do CDC permite aos
pesquisadores colocar crianças em diferentes subgrupos, o que, por sua vez,
pode melhorar nossa capacidade de aprender mais sobre as semelhanças e
diferenças entre crianças com TEA. Essas descobertas são importantes para
os pesquisadores, pois buscam maneiras eficazes de classificar as crianças
com TEA, particularmente em estudos que analisam as causas da desordem.

Diagnóstico padronizados para classificar crianças com autismo


O estudo para explorar o desenvolvimento precoce (SEED, Study to
Explore Early Development) é um estudo de caso-controle, projetado
para explorar a relação entre os fenótipos e as etiologias do transtorno
do espectro do autismo (ASD). Os objetivos deste artigo foram: (1)
descrever o algoritmo SEED que usa o Autism Diagnostic Interview-
Revised (ADI-R) e Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS) para
classificar crianças com TEA, (2) examinar propriedades psicométricas
de diferentes métodos de classificação, incluindo o método SEED que
incorpora regras para a resolução da discordância ADI-R e ADOS e (3)
determinar se os interesses restritos e os comportamentos repetitivos
foram observados para crianças que tiveram discordância de instrumento
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resolvidas usando os resultados sociais e de comunicação ADI-R. Os
resultados suportam a utilidade dos critérios SEED, quando grupos bem
definidos de crianças são um resultado clínico ou de pesquisa
importante. A integra do artigo para classificar crianças com autismo
pode ser encontrada em: WIGGINS, L. D.; REYNOLDS, A.; RICE, C. E.;
MOODY, E. J.; BERNAL, P.; BLASKEY, L.; ROSENBERG, S. A.; LEE, L-
C.; LEVY, S. E. Using Standardized Diagnostic Instruments to Classify
Children with Autism in the Study to Explore Early Development. Journal
of Autism and Developmental Disorders, v. 45, n. 5, p 1271–1280,
2015.

Os principais achados dos pesquisadores do CDC, foram:


Mais de 2.600 crianças inscritas no SEED completaram uma visita
clínica e foram classificadas como tendo TEA ou não tendo TEA. O método
SEED classificou mais de 700 crianças com TEA com base em uma
combinação de sintomas relatados pelos pais na entrevista diagnóstica de
autismo revisada (ADI-R) e observada por um clínico na Agenda de
Observação de Diagnóstico do Autismo (ADOS), que são as melhores
ferramentas de diagnóstico disponíveis para o TEA. A forma como as crianças
foram classificadas com TEA na SEED tem várias vantagens em comparação
com outros métodos de classificação. Por exemplo, o método SEED:
. Teve um bom equilíbrio de sensibilidade (o que significa que crianças
com TEA foram identificadas corretamente como tendo a condição) e
especificidade (significando que crianças sem TEA foram corretamente
identificadas como não tendo a condição).
Também, os pesquisadores criam grupos bem definidos de crianças,
que podem experimentar diferentes sintomas ou que podem desenvolver de
maneiras diferentes;
. Identificou mais crianças com TEA, incluindo crianças com idade
mental muito baixa; e oferecido maneiras de resolver as diferenças entre o
relatório dos sintomas e a observação clínica dos sintomas.
. Em geral, os resultados sugerem o uso do método SEED para
classificar crianças com TEA ao criar grupos bem definidos de crianças, o que
pode ser importante para orientar o processo de tratamento ou o projeto de
pesquisa. Os pesquisadores podem usar o método de classificação SEED para
aprender mais sobre ASD e suas causas complexas e sintomas associados
para ajudar crianças e famílias.

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Desde o reconhecimento por Leo Kanner em 1943, a pesquisa etiológica
do autismo resultou em uma ampla gama de teorias. As primeiras teorias,
como a noção de "mães geladeira" de Bettelheim, já foram derrubadas, com
teorias modernas que categorizam o autismo como uma desordem do
desenvolvimento neurológico.

Bruno Bettelheim
Bruno Bettelheim (Viena, 28 de agosto de 1903 — Silver Spring, 13 de
março de 1990) foi um psicólogo norteamericano, nascido na Áustria.
Após a anexação da Áustria pelo Terceiro Reich, na véspera da
Segunda Guerra Mundial, foi deportado com outros judeus austríacos
para o campo de concentração de Dachau e, mais tarde, para
Buchenwald. Aí pôde observar os comportamentos humanos quando o
indivíduo é sujeito a condições extremas, percepcionadas como
radicalmente destrutivas (desumanização), que estiveram mais tarde na
base das suas teorias sobre a origem do autismo. Após a anexação da
Áustria pelo Terceiro Reich, na véspera da Segunda Guerra Mundial, foi
deportado com outros judeus austríacos para o campo de concentração
de Dachau e, mais tarde, para Buchenwald. Aí pôde observar os
comportamentos humanos quando o indivíduo é sujeito a condições
extremas, percepcionadas como radicalmente destrutivas
(desumanização), que estiveram mais tarde na base das suas teorias
sobre a origem do autismo. Graças a uma anistia em 1939, Bettelheim e
centenas de outros prisioneiros foram libertados, o que lhe salvou a vida.
Emigrou então rumo aos Estados Unidos, onde foi professor de
psicologia em universidades americanas e dirigiu o Instituto Sonia-
Shankman em Chicago para crianças psicóticas, destacando-se o seu
trabalho com crianças autistas. Acerca de seus trabalhos com pacientes
autistas, Bettelheim reivindicou que a causa do autismo seriam "As mães
geladeiras": mães frias, sem sentimentos, que levavam os filhos a um
isolamento mental. Suas teorias foram aceitas internacionalmente por
mais de duas décadas. Bruno Bettelheim suicídou-se aos 86 anos de
idade, em 1990, acredita-se pelo fato de ter começado a perder sua
credibilidade.

Embora haja uma alta concordância de gêmeos idênticos com o


autismo, encontrar os marcadores genéticos específicos do autismo ainda
continua sendo uma tarefa difícil, com múltiplos genes candidatos. As teorias
cognitivas atuais concentram-se em funções principalmente mediadas pelos
lobos frontais, incluindo a teoria da mente, fraca coerência central e disfunção
executiva como áreas primárias de déficit. As teorias biologicamente
fundamentadas implicam anormalidades em estruturas como o cerebelo, a
amígdala, o hipocampo e os gânglios basais. Os pesquisadores também
encontraram anormalidades de desenvolvimento grosseiras, como o aumento
do volume total de cérebro (TBV) e a conectividade anormal dos tratos da
substância branca. Muitas doenças do desenvolvimento têm dismorfologias
padronizadas, como nos aspectos faciais das Síndromes de Willliam e Down.

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Síndrome de Williams
A Síndrome de Williams também conhecida como síndrome Williams-
Beuren é uma desordem genética que, talvez, por ser rara,
frequentemente não é diagnosticada. Sua transmissão não é genética. O
nome desta síndrome vem do médico, Dr. J.C.P. Williams que a
descreveu em 1961 na Nova Zelândia e pelo Dr. A. J. Beuren da
Alemanha em 1962. Acometendo ambos os sexos, na maioria dos casos
infantis (primeiro ano de vida), as crianças têm dificuldade de se
alimentar, ficam irritadas facilmente e choram muito. A síndrome de
Williams é uma doença caracterizada por "face de gnomo ou fadinha”,

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nariz pequeno e empinado, cabelos encaracolados, lábios cheios, dentes
pequenos e sorriso frequente. Estas crianças normalmente têm
problemas de coordenação e equilíbrio, apresentando um atraso
psicomotor. Seu comportamento é sociável e comunicativo embora
utilizem expressões faciais, contatos visuais e gestos em sua
comunicação. Embora comecem a falar tarde, por volta dos 18 meses,
demonstram facilidade para aprender rimas e canções, demonstrando
muita sensibilidade musical e concomitantemente boa memória auditiva.
Seu desenvolvimento motor é mais lento. Demoram a andar, e tem
grande dificuldade em executar tarefas que necessitem de coordenação
motora tais como: cortar papel, desenhar, andar de bicicleta, amarrar o
sapato etc...

Síndrome de Down
Síndrome de Down, também denominado trissomia 21, é uma anomalia
genética causada pela presença integral ou parcial de uma terceira cópia
do cromossoma 21. A condição está geralmente associada com atraso
no desenvolvimento infantil, feições faciais características e deficiência
mental leve a moderada. O quociente de inteligência de um jovem adulto
com síndrome de Down é, em média, de 50, sendo equivalente à
capacidade mental de uma criança de oito ou nove anos, embora isto
possa variar significativamente.

No entanto, no autismo, as dismorfologias fora do substrato neural foram


encontradas sutis ou inexistentes, com achados limitados em características
como quarto dígito reverso e rotação posterior da orelha.

Dismorfologia
A Dismorfologia é a área da Genética Médica que estuda e busca
interpretar os padrões de crescimento humano e as anomalias
morfológicas. O termo "Dismorfologia" foi primeiramente empregado por
David Smith na década de 1960. As anomalias morfológicas incluem as
malformações, disrupções, deformações e displasias. Padrões de
anomalias morfológicas, por sua vez, são agrupados em síndromes,
sequencias e associações. Síndromes, em Dismorfologia, são padrões
de anomalias morfológicas relacionadas de modo causal, mas não
necessariamente relacionadas em sua patogenia. Exemplos de
síndromes incluem: síndrome de Down e síndrome de Gorlin.
Sequencias compreendem uma ou mais anomalias morfológicas
secundárias que sabidamente ou presumidamente resultantes de uma
única malformação, disrupção, displasia ou deformação. Exemplos
incluem: sequência de Pierre-Robin e sequencia de Potter. Associações
são padrões de anomalias, pelo menos duas das quais morfológicas,
que ocorrem mais frequentemente do que seria esperado pelo acaso e
nas quais uma relação causal não foi identificada.

Teorias cognitivas
Teoria da Mente
Uma das mais comuns teorias social-cognitiva do autismo é baseada na
Teoria da Mente (ToM, do inglês Theory of Mind), a habilidade de "mentalização"
precisa inferir que os outros têm suas próprias crenças e desejos para entender
seu comportamento. Usado como uma medida básica da inteligência social, o
ToM geralmente é adquirido por 3-4 anos de idade, e geralmente está

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correlacionado com a habilidade linguística tanto em crianças em
desenvolvimento como em populações autistas.
Também designada por mentalização ou perspectiva cognitiva, é a
habilidade de atribuir e representar, em si próprio e nos outros, os estados
mentais independentes - crenças, intenções, desejos, conhecimento, etc - e de
compreender que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são
distintas da sua própria. É um processo que se baseia apenas na compreensão
cognitiva do estado mental de outrem e no qual o sujeito que consegue
representar o estado mental do outro indivíduo não se torna emocionalmente
envolvido. Déficits nessa função acontecem em pessoas com autismo,
esquizofrenia, déficit de atenção, bem como consequência de intoxicação
cerebral decorrente de abuso de álcool. Embora existam abordagens filosóficas
aos questionamentos levantados por essas discussões, a Teoria da Mente
como tal é distinta da Filosofia da Mente.
A Teoria da Mente é uma teoria na medida em que a mente não é
diretamente observável. O pressuposto que outros têm uma mente é chamado
de teoria da mente porque cada humano só pode intuir a existência de sua
própria mente através de introspecção, e ninguém tem acesso direto à mente
de outra pessoa. Normalmente é aceite que outros possuem mentes por
analogia com a própria mente, e baseado na natureza recíproca da interação
social, como observado na atenção compartilhada, uso funcional da linguagem
e a compreensão das emoções e ações dos outros. Possuir uma teoria da
mente permite que se possa atribuir pensamentos, desejos e intenções aos
outros, predizer ou explicar suas ações e pressupor suas intenções. Como
definido originalmente, a teoria da mente permite compreender que estados
mentais podem ser a causa - e consequentemente serem utilizados para
explicar e predizer - do comportamento dos outros. Ser capaz de atribuir
estados mentais aos outros e compreendê-los como causa do comportamento
implica, em parte, que uma pessoa seja capaz de compreender a mente como
um "gerador de representações". Se uma pessoa não possui a teoria da mente
completamente desenvolvida, isto pode ser um sinal de comprometimento
cognitivo ou prejuízo no desenvolvimento. Teoria da mente parece ser uma
habilidade potencial inata em humanos, mas são necessárias experiências
sociais durante muitos anos para ativá-la. Diferentes pessoas podem
desenvolver teorias da mente mais ou menos efetivas. Empatia é um conceito
relacionado, significando a experiência de reconhecimento e compreensão dos
estados mentais, incluindo crenças, desejos e particularmente emoções dos
outros, frequentemente caracterizada como a habilidade de "compreender o
ponto de vista do outro". Apesar das capacidades usadas na teoria da mente
serem, na sua maior parte, também utilizadas na empatia, estes dois sistemas
baseiam-se em circuitos neuronais distintos. Estudos neuro-etológicos de
comportamentos animais recentemente desenvolvidos sugerem que mesmo
roedores podem exibir habilidades éticas ou empáticas. Teorias neo-
Piagetianas sobre o desenvolvimento cognitivo mantém que a teoria da mente
é um produto da habilidade hipercognitiva dos humanos para registar,
monitorizar e representar seu próprio funcionamento. Assim, foi colocada a
hipótese de as pessoas usarem o seu próprio estado mental como ponto de
partida na inferência de estados mentais de outros, seguida de um ajustamento
com base nas diferenças existentes entre a própria pessoa e o outro sujeito. O
número de pesquisadores da teoria da mente que em diferentes populações
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(humanas e animais, adultos e crianças, com desenvolvimento normal e
atípico) cresceu rapidamente nos últimos 40 anos desde o trabalho de Premack
e Woodruff3 "Does the chimpanzee have a theory of mind?", assim como
cresceram as diferentes teorias da mente. O emergente campo de discussão
da neurociência social também começou a se interessar por este tipo de
debate, imaginando os seres humanos em atividades que necessitam da
compreensão de uma intenção, crença ou outro estado mental. Uma
explicação alternativa para a Teoria da Mente (ToM) é fornecida dentro do
Behaviorismo e possui evidências empíricas significativas para uma explicação
funcional tanto da perspectiva da fala quanto da empatia. A abordagem mais
desenvolvida dentro do behaviorismo é a chamada "Relation Frame Theory".
De acordo com essa visão da empatia e da fala, estas estão em relação direta
com um complexo sistema de habilidades relacionais baseadas na
discriminação e respostas verbais à relações ainda mais complexas sobre o si
próprio, os outros, espaço e tempo, e a transformação destas funções através
de relações estabelecidas.
Usado como uma medida básica da inteligência social, o ToM
geralmente é adquirido por 3-4 anos de idade, e geralmente está
correlacionado com a habilidade linguística tanto em crianças em
desenvolvimento como em populações autistas. Estudos comportamentais
demonstraram que indivíduos com autismo, dependendo do nível de
funcionamento e da idade, muitas vezes têm atraso no desenvolvimento de um
ToM qualitativamente diferente. Em um estudo de PET de adultos, as
diferenças nas regiões de ativação foram mostradas em um paradigma ToM
baseado em história, com ativação relacionada à tarefa no córtex pré-frontal
medial em controles normais e em uma região frontal mais ventral em
indivíduos com Síndrome de Asperger.

Classificação atual da Síndrome de Asperger


Atualmente a síndrome de Asperger, é considerada um transtorno
neurobiológico enquadrado dentro dos TEA. Esta doença neurológica foi
considerada, por muitos anos, como uma forma leve do autismo, em
relação ao autismo clássico de Kanner.

Esses resultados sugerem uma diferença qualitativa e não quantitativa


na resposta neural às tarefas do estado mental. As diferenças neurais podem
ser devidas ao desenvolvimento atípico de ToM nos adultos autistas, onde as
habilidades sociais relacionadas são muitas vezes aprendidas em um nível
intelectual tardia em desenvolvimento, em vez de em um nível intuitivo nos
primeiros estágios da infância, causando diferenças regionais nas respostas
corticais às tarefas ToM.
Uma habilidade importante necessária para desenvolver o ToM é inferir
as emoções de outras da expressão facial. Além dos paradigmas ToM
baseados na história acima mencionados, estudos também foram realizados,
ilustrando a dificuldade em inferir emoções nos olhos entre os indivíduos
adultos autistas. Em tarefas semelhantes de inferência emocional, a evidência

3PREMACK, D.; WOODRUFF, G. Does the chimpanzee have a theory of mind? V. 1, n. 4 A


Special Issue on Cognition and Consiousness in Nonhuman Species, p. 515-526, 1978.

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de fMRI4 aumenta essa distinção, mostrando diminuição da ativação da
amígdala e ativação aumentada no giro temporal superior, áreas classicamente
implicadas na percepção emocional e na compreensão da linguagem.

Uma vez que os sujeitos nestes estudos foram instruídos a olhar para as
imagens dos olhos, uma disfunção no nível sensorial da falta de contato com
os olhos não pode explicar o desempenho dos indivíduos autistas. No entanto,
a falta de contato com os olhos é uma característica comum do autismo, tanto
em adultos como em crianças, e ainda confirmada em estudos de rastreamento
ocular, mostrando diminuição da atenção nos olhos e aumento da atenção na
boca ou ambiente circundante. É bem provável que a falta de atenção nos
estímulos socialmente relevantes durante a primeira infância dificulte o
desenvolvimento social adequado e, consequentemente, afeta habilidades
sociais de nível superior, como a ToM.

Disfunção executiva

Funções executivas "geralmente é usado como um termo guarda-chuva


referente a funções de alto nível, incluindo memória de trabalho, planejamento,
iniciação, flexibilidade cognitiva e inibição. Os lobos frontais estão implicados
para processar essas funções, com evidências de pacientes com dano de lobo
frontal adquirido. A função executiva dificulta-se no autismo, bem como em
outras condições, como transtorno obsessivo compulsivo, esquizofrenia,
síndrome de Tourette e transtorno de déficit de atenção com hiperatividade
(TDAH)

4 A imagem por ressonância magnética funcional (fMRI, do inglês Functional Magnetic


Ressonance Imaging), é uma técnica específica do uso da imagem por ressonância magnética
(MRI, do inglês Magnetic Resonance Imaging) capaz de detectar variações no fluxo sanguíneo
em resposta à atividade neural.
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Transtorno obsessivo-compulsivo
Perturbação obsessiva-compulsiva (POC) (português europeu) ou
transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) (português brasileiro) é uma
perturbação mental caracterizada por obsessões e compulsões. As
obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes que
provocam na pessoa ansiedade ou mal-estar. A pessoa sente a
necessidade de ignorar ou suprimir a ansiedade causada por essas
obsessões através de pensamentos, rotinas ou atividades repetitivas
denominadas compulsões ou rituais. As obsessões mais comuns são o
medo de contaminação por germes, sujidade ou produtos químicos,
medo de contrair uma doença, medo de prejudicar outras pessoas de
forma acidental ou intencional ou medo de cometer um erro grave. As
compulsões mais comuns são lavar as mãos ou limpar compulsivamente
para diminuir o medo de contaminação ou de contrair uma doença;
confirmar repetidamente as coisas para diminuir o medo de prejudicar
outrem ou de cometer um erro; e ordenar, organizar por determinada
ordem, contar ou repetir compulsivamente nomes, frases ou rotinas para
diminuir a ansiedade. Algumas pessoas têm dificuldade em deitar fora
objetos. A maior parte dos adultos com POC está consciente que os
comportamentos não fazem sentido. A condição está associada a tiques,
perturbações de ansiedade e risco acrescido de
suicídio.

Esquizofrenia
Esquizofrenia é uma perturbação mental caracterizada por
comportamento social fora do normal e incapacidade de distinguir o que
é ou não real. Entre os sintomas mais comuns estão delírios,
pensamento confuso ou pouco claro, alucinações auditivas, diminuição
da interação social e da expressão de emoções e falta de motivação. As
pessoas com esquizofrenia apresentam muitas vezes outros problemas
de saúde mental, como distúrbios de ansiedade, depressão ou distúrbios
relacionados com o consumo de substâncias nocivas. Os sintomas
geralmente manifestam-se de forma gradual, desde o início da idade
adulta, e permanecem durante um longo período de tempo.

Síndrome de Tourette
A síndrome de Tourette é um transtorno neuropsiquiátrico hereditário
que se manifesta durante a infância, caracterizado por diversos tiques
físicos e pelo menos um tique vocal. Estes tiques têm remissões e
recidivas características, podem ser suprimidos temporariamente e são
precedidos por impulsos premonitórios. A síndrome é definida enquanto
parte do espectro dos transtornos devido a tiques, no qual se incluem
tiques transitórios e crônicos. A Tourette era considerada uma síndrome
rara que na maior parte das vezes é associada à vocalização de termos
obscenos ou afirmações depreciativas e socialmente impróprias
(coprolalia), embora este sintoma se manifeste apenas numa pequena
minoria de pessoas com a doença. A Tourette já não é considerada uma
condição rara, embora nem sempre seja corretamente identificada, uma
vez que a maior parte dos casos são moderados e a gravidade dos
tiques diminui à medida que a pessoa atravessa a adolescência. Estima-
se que entre 0,4 e 3,8% das crianças entre os 5 e 18 anos possam ter
Tourette. A prevalência de outros transtornos devido a tiques nas
crianças em idade escolar é maior, sendo os mais comuns piscar os
olhos, tossir, limpar a garganta, fungar e determinados movimentos
faciais. Os casos graves em adultos são raros. A Tourette não afeta a
inteligência ou a esperança de vida.

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Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
Perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA) (português
europeu) ou transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH)
(português brasileiro) é uma perturbação do neurodesenvolvimento
caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade
inconsistentes com a idade da pessoa. Os critérios de diagnóstico
requerem que os sintomas se comecem a manifestar antes dos doze
anos de idade, que estejam presentes durante mais de seis meses e que
causem problemas em pelo menos dois cenários diferentes, como na
escola e em casa, por exemplo. Em crianças, a desatenção é muitas
vezes a causa de maus resultados escolares. Embora cause
dificuldades, sobretudo na sociedade contemporânea, muitas crianças
com PHDA ou TDAH conseguem-se concentrar em tarefas que
consideram interessantes.

A disfunção executiva no autismo é evidente em comportamentos


perseverantes comuns, como uma forte preferência pela mesmice, rituais
elaborados e maneirismos motorizados repetitivos. O Teste Wisconsin de
Classificação de Cartas (WCST)5 é uma tarefa de flexibilidade cognitiva
comumente empregada, onde o sujeito deve classificar os cartões de acordo
com um conjunto de regras que mudam periodicamente. Os sujeitos autistas
mostraram um aumento do número de erros persistentes nesta tarefa. Uma
medida típica de planejamento é a tarefa da Teste Torre de Londres6, onde os
sujeitos devem mover os discos de uma sequência definida para diferentes
pinos nos poucos movimentos possíveis. Novamente, o desempenho
prejudicado foi visto em crianças com autismo. Nas tarefas de memória de
trabalho, houve resultados mistos, possivelmente atribuíveis à dificuldade em
dissociar a memória de trabalho de outras funções executivas. Um estudo, no
entanto, descobriu que o desempenho estava inversamente relacionado à
dificuldade da tarefa, sugerindo que os déficits de memória de trabalho são
resultado das demandas na organização e integração de informações. A
evidência de neuroimagem também fornece evidências de disfunção executiva
de achados que mostram anomalias corticais frontais.
Embora a evidência anedótica e clínica sugira disfunção executiva para
explicar com precisão o fenótipo cognitivo do autismo, surgem problemas, pois
é um fenômeno não unitário. Há um grande número de processos abrangidos
pelo termo e nenhum consenso geral sobre qual das funções executivas são
afetadas no autismo. No entanto, dada a evidência até agora, mais estudos
que podem dissociar os efeitos de diferentes funções executivas podem
esclarecer o debate.

5 O Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) é um instrumento bastante relevante


na avaliação neuropsicológica, considerado internacionalmente como padrão de referência
para exame das Funções Executivas do cérebro, amplamente reconhecido a partir de 1993.
6 O Teste Torre de Londres (TOL) avalia a capacidade de decisão estratégica e de resolução

de problemas em crianças de 4 a 13 anos. Baseia-se na utilização de um instrumento (incluso


na caixa) que é constituído por três cavilhas de comprimentos diferentes, em que são
amarrados três bolas (uma vermelha, uma verde e azul): a pessoa deve mover estas bolinhas
em um determinado número de movimentos de modo a obter a configuração indicada pelo
examinador.
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Coerência Central
Outra teoria cognitiva é a noção de fraca coerência central (WCC, do
inglês Weak Central Coherence) ou simplesmente Coerência Central, na língua
portuguesa, um termo referente a uma diminuição da capacidade no
processamento global e uma habilidade aprimorada no processamento de
detalhes locais. Este padrão de habilidade se reflete na apresentação clínica do
autismo, bem como em estudos que mostram indivíduos autistas para ter
desempenho superior em tarefas perceptivas que requerem atenção aos
detalhes, como no design de blocos e pesquisa visual.
A falta da tendência natural em juntar partes de informações para formar
um 'todo' provido de significado (Coerência Central) é uma das características
mais marcantes no autismo.
Embora a principal fonte de evidências experimentais dessa teoria seja
derivada de tarefas visuo-espaciais, como no caso de ToM, as dificuldades
sociais podem resultar da inatenção precoce de estímulos socialmente
relevantes. No entanto, uma combinação de desatenção, bem como a
incapacidade de integrar adequadamente estímulos sociais em um contexto
significativo, pode explicar melhor o comportamento social. Uma vez que os
indivíduos autistas demonstraram que não são completamente desatentos para
os estímulos sociais, ainda apresentam diferenças qualitativas nos estudos de
neuroimagem funcional do processamento facial, é provável que a Coerência
Central seja uma disfunção de nível superior que afete características sociais e
não-sociais do autismo . Ao aplicar a Coerência Central ao perfil autista, áreas
específicas de talento e interesses especiais podem ser atribuídas a um foco
intenso e estreito, às vezes levando a dificuldades de atenção ou, por outro
lado, a um alto nível de competência em uma tarefa ou hobby. Artigos de
Happé7 exploram ideias semelhantes ainda mais na caracterização do autismo
como um estilo cognitivo, ao invés de um déficit, com uma atenção crescente
total aos detalhes.
Em estudo de Ring e colaboradores (19998), os indivíduos autistas
mostraram maior ativação em áreas occipito-temporais9 ventrais e diminuição
da ativação em áreas corticais pré-frontais, sugerindo aumento do
processamento no nível sensorial e diminuição do processamento das funções
executivas mediadas pelo córtex pré-frontal necessário para holística
integração de estímulos sensoriais. Embora a evidência sugira que a Coerência
7 HAPPE, F. Autism: cognitive deficit or cognitive style? Trends Cogn Sci, v. 3, n. 6, p. 216-
222, 1999. HAPPE, F., et al. 'Theory of mind' in the brain. Evidence from a PET scan study of
Asperger syndrome. Neuroreport, v. 8, n. 1, p. 197-201, 1996.
8 RING, H.A., et al. Cerebral correlates of preserved cognitive skills in autism: a functional MRI

study of embedded figures task performance. Brain, v. 122, n. Pt 7, p. 1305-1315, 1999.


9 Os lobos temporais estão localizados na zona por cima das orelhas, tendo como principal

função processar os estímulos auditivos. Os sons produzem-se quando a área bocasiva é


estimulada. Tal como nos lobos occipitais, é uma área de associação - área auditiva
secundária - que recebe os dados e que, em interação com outras zonas do cérebro, lhes
atribui um significado permitindo-nos reconhecer o que ouvimos. Curiosidade: É na zona onde
convergem os lobos occipital, temporal e parietal que se localiza a área de Wernicke, que
desempenha um papel muito importante na produção do discurso. É esta área que nos permite
compreender o que os outros dizem e que nos faculta a possibilidade de organizarmos as
palavras em frases sintaticamente corretas.
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Central possa explicar uma variedade de características no autismo, ainda são
necessários estudos adicionais para investigar seus correlatos neurais.

Teoria do cérebro masculino extremo


Primeiro, informalmente observado por Hans Asperger em seu artigo
original, uma teoria proposta por Baron-Cohen10 é a noção de que o autismo
pode ser uma manifestação extrema de um perfil cognitivo sexualmente
diferente, mais frequentemente visto em homens. Embora exista uma
controvérsia notável sobre essa teoria a partir de seus estereótipos de gênero
destacados, existem evidências comportamentais de suporte consideráveis. Os
exemplos incluem o aumento do desempenho que favorece as mulheres nas
tarefas ToM, níveis de contato visual, desenvolvimento de linguagem,
comunicação pragmática e várias outras tarefas, principalmente com base em
medidas sociais e comunicativas. O suporte biológico inclui níveis aumentados
de testosterona em crianças autistas de 6 a 10 anos e o dimorfismo sexual de
diminuição da relação de 2º para 4º dígito em homens, e foi correlacionado
com os níveis de testosterona fetal.

Neuroanatomia
Volume total de cérebro
Um dos achados estruturais mais consistentes no autismo é a alta
incidência de macrocefalia. Embora a macrocefalia possa ocorrer por várias
razões, incluindo ampliação do espaço subaracnóideo benigno, hidrocefalia ou
hematoma subdural, tais patologias não contribuem desproporcionalmente para
a macrocefalia no autismo, mas sim um aumento no volume cerebral total
(VTC).
Aumento do tamanho do cérebro no autismo
Conforme as pesquisadoras Flora M. Vaccarino e Karen Müller Smith
(200911) da Universidade de Yale (EUA), a última década testemunhou
uma explosão de pesquisas sobre as origens neurológicas dos
transtornos do espectro autista (ASD). Os estudos de ressonância
magnética (MRI) apoiam a hipótese de que o aumento do tamanho do
cérebro (BS, do inglês Brain Size) é a causa subjacente da macrocefalia,
que se desenvolve em aproximadamente 20% dos pacientes nos dois
primeiros anos de vida. Em comparação com pessoas controles com
desenvolvimento típico ou indivíduos não autistas com atraso mental,
indivíduos com TEA têm um aumento de 5-10% no volume cerebral total
aos 18 meses-4 anos de idade. O BS aumentado foi atribuído a um
aumento nos volumes de matéria cinza e branca. As diferenças na BS e
na circunferência da cabeça aparecem mais robustas na primeira
infância. Se o aumento do cérebro persiste no TEA após os 5 anos não é
claro, embora vários estudos tenham relatado um aumento de 6-12% no
volume de matéria cinza em adolescentes e adultos com TEA. Embora
existam muitas perguntas sem resposta sobre como as perturbações

10
BARON-COHEN, S. The extreme male brain theory of autismo. TRENDS in Cognitive
Sciences, v. 6, n.6, p. 248-254, 2002.
11 VACCARINO, F. M.; SMITH, K. M. Increased brain size in autism—what it will take to solve a

mystery. Biol Psychiatry, v. 66, n. 4, p. 313–315, 2009.


14
neuroanatômicas observadas no TEA conduzem às manifestações
cognitivas e comportamentais dessas doenças, está se tornando cada
vez mais claro que a trajetória alterada do desenvolvimento do cérebro
no TEA é provavelmente o biomarcador mais confiável neste transtorno(

Circunferência da cabeça e tamanho do cérebro na desordem do


espectro do autismo
Sacco e colaboradores (2015), em artigo intitulado “Head circumference
and brain size in autism spectrum disorder: A systematic review and
meta-analysis” (Circunferência da cabeça e tamanho do cérebro no
transtorno do espectro do autismo: uma revisão sistemática e meta-
análise) afirmaram que a macrocefalia e o crescimento excessivo do
cérebro foram associados à desordem do espectro autista. Realizamos
uma revisão sistemática e meta-análise para fornecer uma estimativa
geral do tamanho do efeito e significância estatística tanto para a
circunferência da cabeça quanto para o volume total de cérebro no
autismo. Nossa estratégia de pesquisa de literatura identificou 261 e 391
registros, respectivamente; 27 estudos que definem porcentagens de
pacientes macrocefálicos e 44 estudos estruturais de imagem cerebral
fornecendo volumes cerebrais totais para pacientes e controles foram
incluídos em nossas meta-análises. A circunferência da cabeça foi
significativamente maior em indivíduos autistas em comparação com
controles, com 822/5225 (15,7%) indivíduos autistas que apresentam
macrocefalia. Estudos estruturais de imagens cerebrais que medem o
volume de volume estimado do volume cerebral. O tamanho do efeito é
maior em autistas de baixo funcionamento em comparação com
indivíduos de alto funcionamento e ASD. O crescimento excessivo do
cérebro foi registrado em 142/1558 (9,1%) pacientes autistas.
Finalmente, encontramos uma interação significativa entre a idade e o
volume cerebral total, resultando em maior circunferência da cabeça e
tamanho do cérebro durante a primeira infância. Nossos resultados
fornecem tamanhos de efeitos conclusivos e taxas de prevalência de
macrocefalia e sobrecrescimento cerebral no autismo, confirmam a
variação do crescimento anormal do cérebro com a idade e apoiam a
inclusão desse endofenotipo em painéis de diagnóstico multi-
biomarcadores para clínicos.

Autismo e cognição social


Fruto de tradições filosóficas elementaristas e, sobretudo, das teorias
cognitivas do processamento da informação, o estudo da cognição humana em
geral, e da cognição social em particular, tem adoptado uma abordagem mais
microscópica, elementar, individual e simbólica da cognição tentando isolar os
seus componentes mais básicos de forma a compreender processos cognitivos
mais complexos. Mais recentemente, a natureza algo simplificadora e
localizacionista da abordagem das neurociências cognitivas parece contribuir
novamente para este elementarismo descontextualizado. Por outro lado,
abordagens recentes defendem que o fluxo de informação entre a mente e o
mundo é tão denso e contínuo que no estudo da natureza da atividade
cognitiva a mente não constitui, por si só, uma unidade de análise com
significado (Garrido e colaboradores, 2011).
Cognição Social emergiu em meados dos anos 70 como uma
abordagem conceptual genérica com o objetivo de compreender e explicar
como é que as pessoas se percebem a si próprias e aos outros, e como é que
essas percepções permitem explicar, prever e orientar o comportamento social.
15
Assentada na vasta tradição teórica e de investigação da psicologia
social, e revigorada pela integração de ideias e metodologias da psicologia
cognitiva, a abordagem da cognição social introduziu valiosos contributos para
a compreensão de muitas das questões e problemas clássicos da psicologia
social, empenhando-se igualmente em áreas ainda não exploradas de
investigação.

Em 2013, pesquisadores da Universidade René Descartes de Paris 12,


França, publicaram um estudo intitulado Autism, social cognition and superior
temporal sulcus (Autismo, cognição social e sulco temporal superior), onde
afirmaram que Estudos de imagem cerebral desenvolvidos durante a última
década levaram a uma melhor compreensão dos circuitos neurais envolvidos
na cognição social. Ao identificar regiões cerebrais envolvidas na percepção
social, esses estudos também permitiram uma melhor compreensão dos
circuitos neurais envolvidos em distúrbios do espectro autista (TEA).
Os resultados em estudos de imagem cerebral, dos pesquisadores
franceses, levaram a uma melhor compreensão dos circuitos neurais
envolvidos na cognição social e sua implicação em distúrbios do espectro
autista (ASD). Demonstrou-se que o sulco temporal superior (STS) é altamente
implicado nos processos sociais, da percepção de informações socialmente
relevantes, como movimentos corporais ou olhos, a processos de cognição
social mais complexos.

Além disso, vários resultados de imagens cerebrais multimodais


apontam anormalidades anatomo-funcionais no TEA em crianças e adultos.
Estes resultados são altamente consistentes com deficiências sociais no TEA,
entre as quais a percepção do olhar do olho é particularmente relevante. As
anormalidades do olhar agora podem ser medidas objetivamente usando a
metodologia de rastreamento ocular, levando a uma melhor caracterização das
deficiências de percepção social no autismo. Além disso, essas alterações
anormais foram associadas a anormalidades no TEA. Com base nesses
resultados, nossa hipótese é que as anomalias anatomo-funcionais no TEA que

12ZILBOVICIUS, M. ; SAITOVITCH, A.; POPA, T.; RECHTMAN, E.; DIAMANDIS, L.;


CHABANE, N.; BRUNELLE, F.; SAMSON, Y.; BODDAERT, N. Autism, social cognition and
superior temporal sulcus. Open Journal of Psychiatry, v.3, p. 46-55, 2013.
16
ocorrem cedo através do desenvolvimento do cérebro podem constituir o
primeiro passo na cascata de disfunção neural subjacente ao autismo.

17
Conclusões
As pesquisas desenvolvidas ao longo da última década ajudaram a
caracterizar melhor os principais prejuízos na cognição social que consistem na
principal característica do autismo. No nível comportamental, graças a novas
metodologias, temos uma melhor compreensão de como os sujeitos autistas
percebem o mundo que os rodeia.

Para saber mais


FIOCRUZ. Síndrome de Williams
http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/sindrome-willians.htm
Acesso em 07 fev. 2018.

GARRIDO, M. V.; AZEVEDO, C.; PALMA, T. Cognição Social: fundamentos,


formulações actuais e perspectivas futuras. Psicologia, v. XXV, n. 1, pp. 113-
157, 2011.

KOYAMA, A. A Review on the Cognitive Neuroscience of Autism.


https://link.springer.com/article/10.1007/BF03379555
Acesso em 08 fev. 2018.

SACCO, R; GABRIELE, S.; PERSICO, A. M. Head circumference and brain


size in autism spectrum disorder: A systematic review and meta-analysis.
Psychiatry Res., v. 234, n. 2, p. 239-251, 2015.

FACEBOOK. NEUROPSICOPEDAGOGIA HOJE.


https://www.facebook.com/neuropsicopedagogiahoje/

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