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Segundo Valente (2003), pode considerar-se “crianças em perigo” quando as mesmas vêm
ameaçadas a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento, pelos pais,
representante legal ou quem tenha a guarda de facto. O perigo pode ser resultado de uma acção
ou omissão de terceiros ou da própria criança ou do jovem.
O conceito de risco tem uma maior amplitude nocional de que o de perigo, no sentido em que
nem todas as situações de risco implicam uma situação de perigo.
De facto, Magalhães (2002: 45) define, os riscos de maus tratos como quaisquer influências que
aumentam a probabilidade de ocorrência ou manutenção de tais situações. São marcadores,
correlações e, algumas vezes causas, que se dividem por características individuais, experiências
de vida específicas ou factores de ordem contextual”.
Os factores podem estar associados às características dos pais, do menor e dos contextos
familiares, sociais e culturais.
De facto, nas situações de risco a legitimidade da intervenção passa pela remoção de situações
que possam constituir-se num perigo, através da construção de estratégias e acções integradas a
nível central e local, em prol de uma prevenção primária.
Nesta vertente, a prevenção primária está incluída nas competências das Comissões de Protecção
de Crianças e Jovens, na sua modalidade alargada, uma vez que actuam na rede informal, o mais
a montante possível, ou seja, na área do risco.
Quando o grau de risco é tão elevado que se constitui numa situação de perigo para a segurança,
saúde, formação, educação, ou desenvolvimento da criança ou jovem, a intervenção passa para a
intervenção de nível secundário e terciário, cabendo aqui a legitimidade às entidades com
competência em matéria de infância e juventude.
Estabeleceu, neste prisma, que a intervenção deveria ser efectuada numa primeira instância, por
entidades com responsabilidade/competência em matéria de infância e juventude, numa segunda
instância às comissões de protecção de crianças e jovens em perigo e em última instância os
tribunais, que aparecem como subsidiários das novas comissões.
A principal tarefa das Comissão de protecção a criança e jovens em perigo, deve ser:
b) Promover acções e colaborar com as entidades competentes tendo em vista a detecção dos
factos e situações que, na área da sua competência territorial, afectem os direitos e interesses da
criança e do jovem, ponham em perigo a sua segurança, saúde, formação ou educação ou se
mostrem desfavoráveis ao seu desenvolvimento e inserção social;
c) Informar e colaborar com as entidades competentes no levantamento das carências e na
identificação e mobilização dos recursos necessários à promoção dos direitos, do bem estar e do
desenvolvimento integral da criança e jovem.
f) Dinamizar e dar parecer sobre programas destinados às crianças e aos jovens em perigo;
Ainda, Magalhães (2003: 79-81) considera que, o processo de promoção e protecção pode ser
feito de forma formal e informal. A autora dá ênfase à rede informal, pois segundo a mesma, a
intervenção informal minimiza as consequências danosas de foro afectivo e emocional para o(s)
menore(s) e “menor risco de exclusão social e familiar”.
e) está sujeita, de forma directa ou indirecta, a comportamentos que afectem gravemente a sua
segurança ou o seu equilíbrio emocional;
f) assume comportamentos ou se entrega a actividades ou consumos que afectem gravemente a
sua saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem que os pais, o representante
legal ou quem tenha a guarda de facto se lhes oponham de modo adequado a remover essa
situação.
Nesta vertente, Magalhães (2002, p.33), sublinha que são múltiplas e interligadas as formas
como as crianças ou jovens podem estar submetidos a situações de violência, podendo a mesma
assumir diferentes formas, designadamente “maus tratos físicos, abuso emocional ou
psicológico, abuso sexual, negligência, abandono, exploração no trabalho, exercício abusivo da
autoridade e tráfico de crianças e jovens, entre outras formas de exploração”.
A problemática dos maus tratos reveste-se, de acordo com a autora (2002: 20), de uma enorme
complexidade, associada a três factores centrais:
(1) das diferentes perspectivas em que o conceito de maus tratos é abordado, segundo os capitais
culturais e socioeconómicas;
(2) “dos seus mecanismos etiológicos”, em que os maus tratos físicos estão associados a
contextos sócio-economicamente desfavorecidos e a problemáticas como o alcoolismo, a baixas
habilitações e formação profissional e também ao stress, enquanto que os maus tratos
emocionais, estão mais interligados a grupos com maior capital social e económico. A autora,
alerta que nestas situações é mais difícil apreender e sinalizar o problema, uma vez que possuem
recursos que lhes permitem manter a situação no anonimato, perpetuando o problema;