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MESTRADO EM EDUCAÇÃO SOCIAL:

INTERVENÇÃO COM CRIANÇAS E JOVENS EM RISCO

“Dás-me a mão?”
Um Estudo de Caso

Sartre dizia que o inferno são os outros;


eu digo que o inferno é cada um viver afastado dos outros sem se dar conta…

Unidade Curricular: Tipologias e Indicadores de Situação de Perigo

1º Ano – 1º Semestre

janeiro de 2014

Docente: Professora Doutora Gina Tomé


Índice

Introdução

CONCEPTUALIZAÇÃO TEÓRICA
1. A Proteção da Criança …………………………………………………………..5

2. Risco - Contextos de risco ou protetores …………………………………….….6


2.1. A família……………………………………….……………………………...…6
2.2. Criança em risco e maltratada em contexto familiar em Portugal ………………8

3. Fatores Associados ao Risco …………………………………………………....10


3.1 Abuso Psicológico ou Emocional…………………………………………….....10
3.2 Abuso Sexual …………………………………………………………………..12

4. Resiliência………………………………………………………………………16
4.1. Conceito de Resiliência ………………………………………………………...16

5. ESTUDO DE CASO
5.1. A Jovem e o seu Contexto familiar…………………………………………..…18
5.2. Diagnóstico e primeira intervenção (Institucional) ……………………….……18
5.3. Fatores associados ao de Risco …………………………………………………19
5.4. Fatores de Proteção …………………………………………………………..…20

6. Intervenção ……………………………………………………………………..21
6.1. Intervenção realizada e Proposta de Intervenção ………………………………22
6.2. Programa de promoção de competências pessoais e sociais ……………………23

Reflexão Critica ……………………………………………………………………..…24


Referências Bibliográficas ………………………………………………………………...…25

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Introdução

Inicio este trabalho, sem ter qualquer presunção de trazer algo de novo ao estudo pormenorizado
e epistemológico feito acerca desta temática, tão essencial nos tempos que vivemos.

A criança/jovem em risco é uma realidade cada vez mais visível no quadro da sociedade
atual, dado que são situações que assumiram importância social e política. Isto é, são
situações geradoras e fruto de situações de violência e insegurança no seio da família,
resultantes de ruturas familiares, condições socioeconómicas degradadas ou de natureza
e tradição cultural.

Gostaria talvez de olhar para este tema a partir de dentro, daquilo que define o Homem
enquanto Homem e não como algo que possa eventualmente designar-se Homem sem o
ser…
Debruçamo-nos sobre o Humano e adentramo-nos nele mas nem sequer nos apercebemos
do “chão” que estamos a pisar. Muito mais que um ser visível, corpóreo… o que é o
Homem? Quem é o Homem? E infelizmente não somos capazes de desvendar esse
mistério de luz e sombras e aquilo que habita as profundidades do ser…

Este tema “Dá-me a mão”, quando se pretende falar em RISCO, em Tipologias e


Indicadores de Situação de Perigo, pode soar a espiritualismos desencarnados ou visões
coloridas da vida, mas pretendo com este tema ir um pouco mais fundo…

“Dá-me a mão”… é tantas vezes o grito surdo e anónimo de tantas e tantas vidas sem
rosto e sem voz, é tantas vezes a única palavra que ressalta de um olhar triste e opaco, é
tantas vezes o único gesto de uma boca inerte diante na PASSIVIDADE e do sem sentido
de uma multidão que corre sem saber para onde… e que vai destruindo sem se dar conta,
mundos cheios de vida e de sonho…

“Dá-me a mão”… tu que és mãe e que és pai e que te deixaste enredar pelo "primado do
indivíduo sobre a família, primado do eu sobre o nós, o qual significa que é em função
do bem-estar de cada um dos cônjuges que se definem regras e formas de regulação nas
interações conjugais" (Torres, 2001:126)

“Dá-me a mão”… tu que és “exposta, frequentemente, a situações de sofrimento que te


levam a erodir e a delapidar os teus recursos de saúde, sem que haja quaisquer
perspetivas continuadas de reparação”. (Sá, 2002: 57).

“Dá-me a mão”… tu que és vítima de “maus tratos psicológicos e emocionais que são
de natureza intencional, caracterizados pela incapacidade de dar à criança/jovem um
ambiente de tranquilidade, bem-estar e segurança emocional e afetiva, indispensável a
um saudável crescimento e desenvolvimento emocional.”

“Dá-me a mão”… tu que és a voz de tantas declarações feitas por menores que sofreram
de abuso sexual e nunca foram levadas a sério. Devemos prestar muita atenção à
informação verbal e não-verbal que a criança/ jovem nos transmite.

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“Dá-me a mão”…é por isso uma chamada de atenção para o caso em estudo. Alguém
que com apenas 4 anos sofreu na pele a desumanidade de alguém que se autodefine
como HOMEM, como Humano... Quem é o Homem afinal? E quem somos nós que
vivemos e assentimos em construir/desconstruindo uma sociedade assim em que o
homem é o inferno para si mesmo e para quem o rodeia?

Neste estudo de caso, há uma frase que não pode nem deve deixar-nos indiferentes:
“QUERO NASCER DE NOVO, PARA TER UMA NOVA MÃE!” e o que é isto senão
um desespero de alma de alguém que se sente viva na vida sem ter ALGUÉM QUE
SEJA NA SUA VIDA UMA MÃO…

E pronto, eis a introdução do trabalho que aqui se inicia…

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CONCEPTUALIZAÇÃO TEÓRICA

1. A Proteção da Criança

Em Portugal a partir de 1984 a proteção da criança/jovem ganhou maior importância a


partir da ação do Instituto de Apoio à Criança no domínio dos maus-tratos infantis.

Em 1990 com a ratificação da Convenção dos Direitos da Criança reconhecendo a esta o


estatuto de sujeito de direitos e na atualidade o estatuto de cidadão, também designada a
cidadania da infância.

A lei (147/99, de 1 de Setembro) de proteção da criança e jovem, traduz em parte uma


filosofia que concebe a sociedade sob uma perspetiva funcionalista em que cada indivíduo
ou instituição tem o seu papel a desempenhar para assegurar o funcionamento harmónico
da sociedade. "A promoção dos direitos e a proteção da criança e do jovem em perigo
incumbe às entidades com competência em matéria de infância e juventude, às comissões
de proteção de crianças e jovens e aos tribunais (art.º 6.º, Lei n.º l47l 199)."

Concretizando o respetivo diploma legal a intervenção das entidades com competência


em matéria de infância e juventude é efetuada de modo consensual com os pais,
representantes legais ou com quem tenha a guarda de facto da criança ou do jovem,
consoante o caso, de acordo com os princípios e nos termos do presente diploma, (art.º
7.º, Lei n.º I47/99)".

A existência de crianças, abandonadas, maltratadas, negligenciadas, vítimas de abuso


sexual, infratores, integra-se numa das categorias: de crianças em risco ou crianças
maltratadas.
No entanto esta lei respeita os princípios da convenção dos direitos da criança, definindo
criança e jovens como sujeito de direitos. Estabelece um novo quadro de referência para
as metodologias de intervenção junto da criança/jovem, baseado no empowerment,
parceria e intervenção em rede.

A reforma do direito de menores em Portugal de 1999, a jusante da ratificação da


Convenção dos Direitos da Criança (1990) reforçou a dimensão social de proteção à
criança através da Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro. Lei denominada de “proteção de
crianças e jovens em perigo”, que estabelece o enquadramento jurídico das Comissões de
Proteção de Crianças e Jovens em Perigo, reconhecendo às comissões de proteção através
da modalidade de comissão restrita a aplicação de medidas de proteção em meio natural
de vida e de acolhimento familiar e em instituição, sem a intervenção do Tribunal de
Menores e Família, salvo as exceções previstas na lei (art.ºs 72.º, n.º 2 e 9I.º).

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2. Risco - Contextos de risco ou protetores

2.1. A família

A era industrial transportou consigo uma crise na família patriarcal com a mobilidade
massiva para os centros urbanos, criando uma nova conceção de casal e da própria vida
familiar. A sociedade pós-moderna caracteriza-se por modificações nos modelos
familiares vigentes, em matéria da natureza dos vínculos matrimoniais e em consequência
pelo divórcio e pela reconstrução familiar. Assume um modelo mais de consumo e menos
de produção o que produz dificuldades no modelo de família nuclear (produtivo) em que
prol do modelo de família reconstituída (consumista). Atualmente é fácil encontrar as
famílias ao fim-de-semana mais nas superfícies comerciais do que em parques ou espaços
verdes.
É também na era da pós-modernidade que surgem as famílias multi-problemáticas, muito
expostas pelos problemas da toxicodependência, violência doméstica e problemas de
saúde mental. Estes tipos de famílias identificam-se com elevados níveis de consumo no
que respeita aos serviços sociais.

São famílias que muitas vezes começam por falar do seu problema ao médico de família,
a seguir ao assistente social da unidade de saúde, deste passa para o Serviço Social da
Segurança Social, deste para a CPCJ, deste ao serviço do Ministério Público, passando
por um conjunto de serviços sociais da comunidade local, nomeadamente instituições de
solidariedade social que não são aqui referidos.

A família na contemporaneidade, tem-se apresentado permeável às mudanças da


sociedade e modos de vida, como refere Sofia Aboim (2005), "(…). Maioritária do
casamento religioso, a um ritmo conjugal, têm vindo a aumentar, a um ritmo progressivo
e marcado, os casamentos civis e a coabitação como experiência prévia ao casamento,
tendências (...) sinalizadoras de processos de modernização de uma vida familiar que se
foi tornando cada vez mais privada e mais adaptada às exigências dos ritmos individuais"
(ln KarinWall, 2005: 85). Neste contexto, é importante, segundo KarinWall, distinguir a
família constituída por laços de consanguinidade e de aliança, o grupo doméstico definido
pela co-residência e pela partilha de um espaço de vida e a rede social primária definida
pelas relações de apoio e pelos contactos de proximidade (Karin Wall, 2005).

A família é uma dimensão importante no estudo e análise no problema da criança/jovem,


tendo em conta a sua formação, estrutura, condições de vida, necessidades, relações entre
e inter-familiares, fatores culturais, bem como os vínculos relacionais e os afetos
estabelecidos. Não basta retirar a criança, institucionalizá-la ou atribuir o rendimento
social de inserção à família. O relatório da subcomissão parlamentar para a Igualdade de
Oportunidades sobre a avaliação dos sistemas de acolhimento, de proteção e tutelares de
crianças e jovens (2006) conclui existir em Portugal uma excessiva institucionalização de

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crianças, falta de formação especializada e de meios dos profissionais e ausência de
políticas de apoio às famílias.

As políticas de família constituem na atualidade uma das questões mais pertinentes no


debate social contemporâneo. Não basta políticas de "manutenção" de pobreza das
famílias (ou seja, políticas protetoras), são necessárias políticas que reforcem as
competências das famílias e as valorizem como pessoas e cidadãos comuns de qualquer
sociedade.

A diversidade de famílias e formas de agregados familiares tornou-se um traço comum


na sociedade atual. Mas não foi apenas a família e a composição do agregado familiar
que sofreram alterações, estas verificaram-se também na mudança das expectativas
criadas pelas pessoas nas suas relações com os outros (ex: o acesso fácil a bens de luxo e
por consequência a novos endividamentos). Assiste-se hoje, segundo Kellerhals "ao
primado do indivíduo sobre a família, primado do eu sobre o nós, o qual significa que
é em função do bem-estar de cada um dos cônjuges que se definem regras e formas de
regulação nas interações conjugais" (Torres, 2001:126).

Todas estas transformações alteram o ciclo de vida familiar, o que nos leva a refletir sobre
os impactos da globalização na organização familiar.
Atualmente assistimos à evolução do "individualismo" dos cidadãos o que dificulta o
espírito coletivo, de grupo e de família. Hoje a família já não é vista como fonte de
rendimentos, não é o casamento que determina a constituição de uma família, a
desigualdade entre os sexos, mas sim como uma relação de entreajuda entre os membros.

Segundo a diretiva das Nações Unidas (ONU: 1993) as funções da família são:

- Económica, Social e Emocional, é uma função reforçada pelo casamento, que estabelece
os papéis dos indivíduos enquanto casal e atribui-lhes a responsabilidade de assegurarem
os Seus laços emocionais, sociais e económicos, entre eles e os restantes membros da
família, de modo a estabelecer um bom relacionamento familiar;

- Biológica, a função de assegurar a reprodução da família através da procriação;

- Aquisição de Direitos e Deveres baseia-se no registo de nascimento dos filhos,


atribuição à Criança de um nome de família e uma nacionalidade, concedendo-lhe assim
o direito à cidadania e ao apoio financeiro por parte dos pais;

- Garantia das necessidades básicas, família como suporte social, económico dos
membros não autónomos;

- Educativa e de socialização, consiste na transmissão de valores sociais e culturais, bem


como de saberes e conhecimentos indispensáveis para o desenvolvimento e para a vida
em sociedade;

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- Função de proteção psicológica, física, sexual e social face à violência no contexto intra
e extra-familiar.

A família contemporânea insere-se no quadro da nova sociedade, que impõe


necessariamente traçar uma nova tipologia de família, não apenas consentânea com a pós-
modernidade, mas também com as ideias de coerência filosófica e ética do ser humano.

2.2. Criança em risco e maltratada em contexto familiar em Portugal

No âmbito do objeto específico, a criança/jovem em risco e maltratada é uma realidade


cada vez mais visível no contexto da sociedade moderna de natureza interactiva, ou seja,
clínica, social, cultural, psicológica e jurídica. Situação que é fruto e geradora de situações
de Violência e insegurança no seio da família, resultantes de ruturas familiares, condições
socioeconómicas degradadas e tradições culturais.

A criança maltratada está habitualmente envolvida em contextos familiares de perigo e


contextos sociais vulneráveis, designados de "crianças em risco" é uma categoria próxima
do "mau trato infantil", mas diferente na sua definição da OCDE/1995. "Criança e jovem
em risco" é um conceito recente' precedido pelo adjetivo desfavorecido.

A noção de risco tem por orientação a prevenção. Crianças em risco podem não apresentar
características que permitam reconhecer o risco, porque não são ainda problemáticas, mas
elas podem estar associadas a situações que podem conduzir ao risco.

O conceito “risco” é interativo, ou seja, está relacionado com o contexto em que se insere
a situação (Ferreira: 1998). O "risco" e a "desproteção" constituem um problema tão vasto
como complexo, cuja amplitude é difícil de medir na ausência de uma matriz comum. A
desproteção da criança e do jovem está quase sempre associada às situações de maus-
tratos que não são um simples acidente; “(...), eles podem ser físicos, provocados por
tratamento cruel, falta de cuidados de assistência e de saúde infligidos ao menor com
idade inferior a dezasseis anos pelo pai, mãe ou tutor” (art.º 153º Código Penal: 1984).

Acontece, porém que sendo a família um elemento natural para o crescimento e bem-estar
da criança, falha nas suas responsabilidades parentais.
Nestas situações o Estado assume a sua função de provedor e defensor do bem-estar da
criança. Segundo Sá, a criança está em perigo quando “os pais a expõem, frequentemente,
a situações de sofrimento que a levam a erodir e a delapidar os seus recursos de saúde,
sem que haja quaisquer perspetivas continuadas de reparação'.' (Sá, 2002: 57). É também
nestas situações que intervêm as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens.

A compreensão do conceito - criança/jovem em risco - impõe uma análise baseada entre


a criança, a família e o contexto em que se desenvolve. É necessário ter em atenção as

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dimensões que diretamente estão associadas à proteção da criança do jovem, podendo
fazer referência à idade da criança/jovem, reação da criança à situação/problema, recurso
a serviços de bem-estar social e incidência das respostas sociais.

As primeiras definições legais de abuso infantil, que datam de 1910 nos Estados unidos,
identificavam três categorias de problemas: "pôr em perigo amoral da criança ou deixar
que os outros o façam”, os pais exibirem comportamentos moralmente repressivos";
"Colocarem em perigo a vida ou a saúde da criança, (Calheiros; 2006, p. 75). Outra
variável importante a considerar no estudo da criança maltratada e em situação de risco é
o contexto cultural, no quadro de uma sociedade globalizada, orientada por valores
multiculturais e de mobilidade social, essencialmente no espaço europeu.
“Entre as questões básicas subjacentes à definição de criança maltratada e negligenciada
encontram-se as questões relacionadas com valores sociais e individuais." (Belsky, l99l;
Enery, 1989, cit. in Calheiros, 2006: 78.)

Segundo Magalhães, “os maus tratos podem ser definidos como qualquer forma de
tratamento físico e ou emocional, não acidental e inadequado, resultante de disfunções e
ou carências nas relações entre crianças ou jovens e pessoas mais velhas, num contexto
de uma relação de responsabilidade, confiança e ou poder. Podem manifestar-se por
comportamentos ativos (físicos, emocionais ou sexuais) ou passivos (omissão ou
negligência nos cuidados e ou afetos" (Magalhães, 2002: 38).

Nas últimas décadas têm-se desenvolvido estudos sobre os fatores que influenciam as
definições técnicas do mau trato, procurando estabelecer uma terminologia técnica
comum entre as diferentes áreas profissionais e ao mesmo tempo sustentar a intervenção
interdisciplinar.
O estudo realizado confirma os problemas atrás referidos na vida e desenvolvimento da
criança de acordo com os dados disponibilizados pelas Comissões de proteção de
Crianças e Jovens. Os problemas que afetam maioritariamente as crianças e mais
sinalizados dizem respeito ao absentismo escolar, negligência, maus-tratos físicos e
psicológicos, falta de condições de higiene da criança, falta de higiene na habitação, falta
de cuidados de saúde, ausência em consultas médicas e planos de vacinação, absentismo
e abandono escolar, abuso sexual e situações de risco. São também sinalizados, problemas
como a falta de condições económicas da família, negligência ao nível da higiene e
vestuário não adequado à estação do ano, desestruturação e disfunção familiar, falta de
comunicação entre os progenitores, exposição da criança a atos de violência doméstica e
negligência da criança com perturbações e problemas comportamentais.

Em Portugal, as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens são hoje o serviço mais


responsável pela deteção e intervenção na promoção e proteção dos direitos da criança.
O relatório de avaliação de atividade das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens de
2006 (C.N.C.J.R.) refere (2006:6), que as crianças intervencionadas pelas C.P.C.J.
apresentam problemas de progressão ou abandono escolar nas idades entre os 6 e 10 anos
e 13 e 17 anos respetivamente, surgindo como principal problemática o abandono escolar

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aos 13 anos. A negligência destaca-se sobretudo nas crianças até aos 12 anos de ambos
os sexos. Os maus-tratos físicos têm maior incidência nas crianças do sexo masculino até
aos 10 anos, e no sexo feminino verifica-se aos 13 anos. A prática de facto qualificada
como crime assume relevância relativa nos jovens com mais de 15 anos do sexo
masculino.

3. Fatores Associados ao Risco

3.1 Abuso Psicológico ou Emocional

A distinção de abuso psicológico de abuso emocional é explicada por Dias (2004). O


abuso psicológico é um comportamento prolongado, repetitivo e inapropriado que
danifica ou reduz o potencial criativo, o desenvolvimento de faculdades e processos
mentais muito importantes para o desenvolvimento sadio da criança. Já o abuso
emocional é definido como uma resposta emocional prolongada, repetitiva e inapropriada
às emoções da criança e ao seu comportamento expressivo.
Para este autor, o que distingue estes dois conceitos são as consequências que originam
na criança, ou seja, o abuso psicológico tem mais incidência ao nível do desenvolvimento
mental e cognitivo do menor, já o abuso emocional prejudica o desenvolvimento das
emoções da criança, afetando a sua socialização, a sua vida social e o seu entendimento
sobre a afetividade. Porém, apresentam uma característica em comum: a regularidade
com que são praticados, a qual torna os seus efeitos devastadores para a criança.

Magalhães (2005) acrescenta que os maus tratos psicológicos e emocionais são de


natureza intencional, caracterizados pela incapacidade de dar à criança/jovem um
ambiente de tranquilidade, bem-estar e segurança emocional e afetiva, indispensável a
um saudável crescimento e desenvolvimento emocional. Este tipo de mau trato encontra-
se presente em todas as outras tipologias de maus tratos, sendo apenas considerado
isoladamente quando constituir a única forma de abuso. É de definição e diagnóstico
difícil, tornando-se necessário um exame médico e psicológico da vítima e uma avaliação
social e do seu contexto familiar. Duque (2008) refere que o agressor é sempre alguém
que se encontra numa situação de maior poder, face à vulnerabilidade do agredido e define
cinco formas de manifestação do mau trato psicológico:

• Rejeição – Ocorre quando os filhos não conseguem alcançar os objetivos pré-definidos,


sendo muitas vezes insultados verbalmente, ridicularizados e criticados pelos pais ou
responsáveis.

• Isolamento – caracteriza-se pela falta de comunicação entre os familiares e a criança.


Este tipo de mau trato psicológico é mais característico das famílias de estrato
socioeconómico mais elevado e, devido à sua falta de disponibilidade, leva a que não seja

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dada a devida atenção às crianças, originando um abandono afetivo e ausência de afetos.
A criança não se sente amada pela sua família e tem tendência a isolar-se no seu próprio
mundo, refugiando-se no seu quarto ou simplesmente manifestando a sua tristeza.

• Corrupção/Chantagem – Ocorre quando a criança é educada a conseguir atingir certos


objetivos através de recompensas. Os comportamentos das crianças são induzidos de
forma não espontânea, uma vez que as suas atitudes não são tomadas por iniciativa
própria, mas sim incutidas pelos pais. Este tipo de mau trato inclui todas as formas de
desonestidade, perversão e depravação para com a criança.

• Sujeição ao terror – a criança é dominada pela manipulação dos seus medos. São feitas
chantagens em função dos temores da criança, ameaçando-a, aterrorizando-a e levando-a
a ter comportamentos pretendidos pelos pais.

• Ignorar a criança – este tipo de mau trato consiste em não valorizar ou desvalorizar o
que a criança faz ou necessita para que o seu desenvolvimento seja adequado. Verifica-
se uma indiferença pelos pais em relação à criança.
Deficiências não orgânicas de crescimento, baixa estatura, infeções, asma, doenças
cutâneas, alergias, auto-mutilação (arranhar-se, balancear, beliscar-se…) são sinais
característicos dos maus tratos psicológicos e emocionais (Magalhães, 2005).

Magalhães (2005) apresenta os seguintes sintomas que se encontram associados a este


tipo de mau trato:

1) Perturbações funcionais:
• Apetite (anorexia, bulimia);
• Sono (terrores noturnos, falar em voz alta durante o sono, posição fetal…);
• Controle dos esfíncteres: enurese e encomprese (urinar e eliminar fezes
propositadamente);
• Problemas na fala (ex. gaguez);
• Tonturas;
• Dores sem causa orgânica aparente: de cabeça, musculares (ex.: das pernas) e
abdominais;
• Interrupção da menstruação na adolescência.

2) Perturbações Cognitivas:
• Atraso no desenvolvimento da linguagem;
• Perturbações de memória para as experiências do abuso;
• Baixa auto-estima; sentimentos de inferioridade;
• Dificuldades de aprendizagem (alterações da concentração, atenção e memória).

3) Perturbações Afectivas:
• Choro/ riso incontrolado;
• Sentimento de vergonha e culpa;

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• Medos concretos ou indeterminados;
• Timidez;
• Inadequação na maturidade (excessivamente infantil ou adulto);
• Dificuldade em lidar com situações de crise e/ou conflito.

4) Perturbações do Comportamento:
• Desinteresse total por si próprio;
• Défice na capacidade para brincar, jogar, divertir-se e do natural comportamento
exploratório (falta de curiosidade).
• Excessiva ansiedade ou dificuldade nas relações afectivas interpessoais:
• Isolamento;
• Hostilidade, agressividade / Medo, timidez, docilidade extrema;
• Falta de confiança nos adultos;
• Relações sociais passivas, escassas ou conflituosas;
• Ausência de resposta perante estímulos sociais;
• Fugas de casa ou resistência em regressar a casa;
• Manifestações de raiva contra pessoas específicas (designadamente a mãe);
• Acidentes constantes;
• Problemas escolares (ex. absentismo escolar; baixo rendimento escolar repentino);
• Comportamento desviante (delinquência, prostituição, álcool ou drogas);
• Comportamentos bizarros (ex. barrar a entrada do quarto com o objectivo de se
protegerem de possíveis agressões).

5) Perturbações do Foro Psiquiátrico:


• Agitação ou hiperactividade;
• Ansiedade, depressão;
• Mudanças súbitas de comportamento e humor;
• Comportamentos obsessivo-compulsivos e/ou auto-mutilação;
• Neuroses graves (fobias e/ou manias);
• Alterações da personalidade e psicoses;
• Regressões no comportamento (chupeta, chupar no dedo);
• Falta de integração entre o pensamento e a linguagem.

3.2 Abuso Sexual

De acordo com Wong (1997, cit. in Duque, 2008), o abuso sexual infantil poderá ser
definido como o envolvimento de crianças/jovens, mentalmente imaturos e dependentes,
em atividades sexuais que não compreendem verdadeiramente e para as quais são
incapazes de dar o seu consentimento, violando, deste modo, tabus sociais ou papéis
familiares. Ocorre em todos os estatutos sociais, porém há um maior controlo nas famílias
socialmente desfavorecidas sendo mais facilmente detetável a ocorrência dos abusos
(Azevedo e Maia, 2006).

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O abuso sexual é uma atividade criminosa que constitui uma agressão ao bem-estar do
menor por meio de atos de cariz sexual efetuados por um adulto contra uma criança e
tipificados como crime (Duque, 2008).
Refere-se a abusos que implicam contacto e aqueles que não o implicam, que se designam
por exposição sexual. Nos abusos que implicam contacto cabem todas as formas de sexo
oral, anal, masturbação ou outras formas de contacto e exploração sexual do corpo infantil
ou juvenil, como o toque de zonas erógenas (boca, ânus e genitais) ou o estímulo ou
exploração em prostituição. Na exposição sexual, destaca-se: a masturbação do adulto
exposto à criança ou adolescente, a exibição dos órgãos genitais da vítima ou do abusador
(tendo por fim a estimulação e satisfação sexual do adulto), fotografar para fins sexuais,
facilitar ou incentivar o uso de material marcadamente pornográfico, falar sobre temas de
carácter sexual, expor e ridicularizar o desenvolvimento físico e sexual dos mais novos,
levar a presenciar atos sexuais entre adultos, usar castigos ou punições de características
sexuais, dormir, vestir ou cuidar da higiene íntima quando isso é claramente desadequado
à idade e às necessidades emocionais das respetivas crianças e adolescentes, entre outros
(Strecht, 2006).

López Sánchez (1995, cit. in Azevedo e Maia, 2006) aponta três critérios que devem ser
considerados na definição de abuso sexual: a idade da vítima, a idade do agressor e os
comportamentos do perpetrador para submeter a vítima ao que pretende. Os abusos
sexuais devem ainda ser definidos através do conceito de coerção e o de assimetria de
idade. A coerção refere-se à força física, pressão ou engano e deve ser considerada um
critério suficiente para que um comportamento seja encarado como abuso sexual,
independentemente da idade do agressor. A assimetria de idade entre o agressor e a vítima
impossibilita uma verdadeira liberdade de decisão, impedindo uma atividade sexual
comum, já que os participantes têm experiências, grau de maturidade biológica e
expectativas diferentes.
Na maior parte das vezes, o abusador é do sexo masculino e é muito raro que os casos de
abuso sexuais sejam únicos, isolados, cometidos por pessoas estranhas ou desconhecidos
da criança. Em vez disso, o abusador tem uma relação prévia de proximidade com o
menor, com algum investimento ou ligação emocional que muito facilita uma intimidade
rotineira, que pode condicionar não só o impacto traumático do abuso, como a maior
facilidade da sua perpetuação no tempo. Ou seja, normalmente o abusador é alguém que
antes, durante e depois do abuso continua a fazer parte importante da vida emocional da
criança. Neste padrão, podem destacar-se os familiares do menor (ex. pais, padrastos, tios,
padrinhos), professores, vizinhos, entre outros (Strecht, 2006).

Segundo Duque (2008), a criança pode reagir de formas diferentes, dada a diversidade de
modalidades dessa violência, do agressor, da relação que mantém com este, da duração e
repetição dos episódios. No entanto, as reações gerais que a criança desenvolve são:

• Passividade: opta por uma postura passiva (não grita, não tenta fugir nem defender-se)
mostra-se indiferente em relação aos atos do agressor. A passividade da criança não

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significa que consente os atos, mas sim o medo de sofrer represálias, ameaças a que está
sujeita e/ou a vergonha que sente;

• Agressividade: a criança tem reação agressiva face ao agressor, sendo mais frequente
no início da vitimação, contudo o poder superior, psicológico e físico do agressor poderá
reduzir esta reação à nulidade total.

• Participação ativa: a criança participa ativamente na situação construída pelo agressor.


Além de não lhe resistir, colabora com ele, podendo até estimular o agressor com o seu
próprio comportamento. Porém, a responsabilidade continua a ser do agressor.

O abuso sexual é de difícil deteção e diagnóstico, uma vez que raramente resultam lesões
físicas ou vestígios que indiquem claramente que a criança foi ou tem sido vítima de
abuso sexual, já que em alguns casos (principalmente nas situações com crianças mais
pequenas) não chega a haver penetração anal ou vaginal ou, quando há penetração, a
ejaculação dá-se, na maioria das vezes, fora do corpo da criança. As roupas e a criança
podem ser lavadas após o abuso e o exame médico-legal pode ser superior a 48 horas após
o ato, tornando-se difícil/impossível detetar vestígios de esperma ou outros indícios
presentes na criança. O tabu social implícito (vergonha da criança associada a sentimentos
de culpa, medo e segredo do lar) torna-se um impedimento ao pedido de ajuda. As
crianças, principalmente as mais novas, podem confundir a relação com uma
manifestação afetiva normal ou especial (Magalhães, 2005).

Segundo Magalhães (2005) os sintomas mais frequentes nas crianças presentes no


abuso sexual são os seguintes:

1) Perturbações funcionais:
• Apetite (anorexia, bulimia);
• Sono – terrores noturnos (com vocalizações da experiência sexual);
• Controle dos esfíncteres: enurese, encomprese;
• Dores abdominais inexplicadas e recorrentes.
2) Obediência exagerada aos adultos e preocupação em agradar.
3) Pobre relacionamento com as outras crianças.
4) Comportamentos sexuais:
• Erotização precoce;
• Descrição e interesse desadequados sobre questões sexuais e desapropriados à idade;
• Masturbação excessiva;
• Desenhos e jogos sexuais explícitos.
5) Comportamentos agressivos.

 Sintomas mais frequentes nos jovens:


1) Condutas aparentemente bizarras:
• Dormir vestidos(as) com a roupa que usam durante o dia;
• Urinar propositadamente a cama para evitar o toque do abusador;

14
• Para evitar a atracão, destruir ou ocultar sinais de feminilidade;
• Recusa em tomar banho ou em despir-se nos vestiários;
• Recusa em ir à escola ou de ir para casa.

2) Perturbações do foro sexual:


• Condutas auto-eróticas extremas (tratam-se de comportamentos aprendidos pelo
que é importante não criticar ou acusar a criança ou jovem):
o Masturbação em frente aos colegas;
o Interação sexual com companheiros;
o Abuso sexual de crianças mais pequenas;
o Sedução dos adultos.
• Sentimento de nojo em relação à sexualidade.

3) Comportamentos desviantes (ex. toxicodependência; alcoolismo; delinquência;


prostituição).

4) Outras perturbações:
• Depressão;
• Comportamento suicida;
• Tentativa de fuga;
• Auto-mutilação (a dor física (alívio e descompressão) é uma tentativa de
controlar a dor psíquica).

As declarações feitas por menores que sofreram de abuso sexual devem ser levadas a
sério. Devemos prestar muita atenção à informação verbal e não-verbal que a criança/
jovem nos transmite. Acima de tudo, o profissional deve ter o cuidado de fazer com que
a vítima se sinta acreditada. É, portanto, fundamental saber ouvir, respeitar e dar um
significado ou um destino àquilo que a vítima nos transmite, de modo a que não se sinta
sozinha, exposta, desvalorizada, confusa ou assustada por tudo aquilo que tem dentro de
si e que transmitiu naquele momento (Strecht, 2006).

Nas situações de abuso intra-familiar acresce com a imposição do segredo e do silêncio,


perpetuando-se, frequentemente, sob a ameaça e o medo de serem desacreditadas ou de
sofrerem represálias. É, também, necessário ter em conta a desigualdade do poder e da
capacidade de determinação entre a vítima e o agressor, o qual usa estratégias específicas
para manter a vítima silenciada e acessível aos seus intentos (Azevedo e Maia, 2006).

15
4. Resiliência
A resiliência é a capacidade do ser humano para fazer frente
às adversidades da vida, superá-las e, inclusive,
ser transformado por elas
(Grotberg, 1993,1994).

A perplexidade da origem, das causas, podemos até mesmo dizer da explicação, quanto à
facilidade de algumas pessoas perante situações adversas na esfera individual, familiar ou
social, é uma permanente dúvida! Que se passa com eles, com o seu meio? Como
conseguem superar situações tão negativas? A resposta parece estar no desenvolvimento
e maximização de fatores ou variáveis intra ou interpessoais que se assumem como
“escudos protetores”. Resistência, adaptabilidade, invulnerabilidade, capacidade de
enfrentar… são muitos os conceitos associados e dependentes da definição do termo
Resiliência. Igualmente muitos são os estudos existentes acerca desta temática, que
abarcam áreas tão diversas como a Psicologia, a Psiquiatria, a Sociologia, a Medicina, a
Pediatria ou a Educação. Contudo, embora seja uma área muito investigada, a esfera da
Resiliência traduz-se ainda num campo com várias lacunas, uma vez que ainda não existe
ainda um referencial teórico bem constituído que a defina, dada a multiplicidade de
conceitos que lhe são atribuídos (Martins, 2005).

4.1. Conceito de Resiliência

Se o estudo da Resiliência no campo das Ciências Humanas e Sociais, nomeadamente na


área da Psicologia, é relativamente recente, a origem do conceito apresenta contudo raízes
longínquas. A sua etimologia vai beber à expressão resilire no latim, que significa «saltar
para trás», «voltar», «ser impelido», «recuar», «encolher-se», «romper», e que remete à
ideia de elasticidade e capacidade rápida de recuperação. O conceito de Resiliência tem
vindo a ser explorado pela Física e Engenharia, particularmente na descrição das
experiências sobre tensão e compressão de barras de ferro, tendo-se procurado
compreender a relação entre a força aplicada num corpo e a deformação que essa mesma
força produzia no respetivo corpo (Pinheiro, 2004).
Ao longo da literatura científica das Ciências Humanas e Sociais é possível encontrar um
vasto leque de definições sobre Resiliência. Segundo Rutter (1987), a Resiliência diz
respeito à competência e à capacidade de adaptação do indivíduo, condições que lhe
permitem superar com sucesso o stresse na adversidade. O autor avança ainda com a
definição da Resiliência como “a positive polé of ubiquitous phenomenon of individual
differences in people´s response to stress and adversity” (1990, p. 181 cit. in Martins,
2005).
Flach (1991) refere que a Resiliência funcionaria como um conjunto de forças
psicológicas e biológicas exigidas para atravessar com sucesso as mudanças num
processo contínuo de aprendizagem e reaprendizagem. Portanto, é necessário que os
processos fisiológicos, ativados pelo stresse, funcionem de tal forma que o indivíduo se
torne resiliente por meio da habilidade de reconhecer a dor, de perceber seu sentido e de
tolerá-la até resolver os conflitos de forma construtiva.

16
Segundo Masten e Coastworth (1995), a Resiliência não é um atributo individual da
criança que opera isoladamente; em vez disso, é entendida como um fenómeno hipotético,
que pode ser manifestado a partir de um funcionamento competente da pessoa perante a
presença de acontecimentos de vida adversos.
No contexto da investigação da Resiliência, a analogia é feita por a mandala transmitir
um Segundo Kotliarenco, Cáceres e Fontecilla (1997), a origem da Resiliência assenta no
facto de que, nascer ou viver num ambiente psicologicamente nocivo, constitui uma
condição de alto risco, quer para a Saúde Física, quer para a Saúde Mental do Ser
Humano. Desta premissa emerge a necessidade maior de procura – não a tipologia de
fatores que mantêm situações de risco para o indivíduo – mas sim o referencial de recursos
(internos e externos) que lhe permitam movimentar-se de forma mais positiva.
Desta forma, a Resiliência parece ser globalmente definida no seio da comunidade
científica como um conjunto de processos intrapsíquicos e sociais que ocorrem no
decurso do desenvolvimento humano, por meio da interação dinâmica entre os atributos
individuais, da família e dos contextos sociais e culturais. Fonagy e colaboradores (1994),
referenciado por Manciaux (2003), afirmam, a este propósito, que “a Resiliência é um
desenvolvimento normal em condições difíceis” (p.223).
De acordo com Cicchetti (1999) a Resiliência é operacionalmente definida, como um
processo de desenvolvimento dinâmico, que reflecte evidências de adaptação positiva
quando o sujeito é exposto a acontecimentos de vida stressantes.
Em 2000, Soares definiu resiliência como a “capacidade do indivíduo para uma adaptação
bem-sucedida, funcionamento positivo ou competências na presença de adversidade,
envolvendo múltiplos riscos e ameaças internas e externas ou, ainda, a capacidade de
recuperação na sequência de uma experiência traumática prolongada (p.11).”
Já Tavares (2001) analisa a origem do termo sob três pontos de vista: o físico, o médico
e o psicológico. No primeiro, a Resiliência é a qualidade de resistência de um material ao
choque, à tensão, à pressão, permitindo-lhe voltar, sempre que é forçado ou violentado, à
sua forma ou posição inicial (por exemplo: uma barra de ferro, uma mola, um elástico,
entre outros). No segundo, a Resiliência seria a capacidade de um sujeito resistir, por si
próprio ou com a ajuda de medicamentos, a uma doença, a uma infeção ou a uma
intervenção. E no terceiro, Kotliarenco, Cáceres e Fontecilla (1997), a origem da
Resiliência assenta no facto de que, nascer ou viver num ambiente psicologicamente
nocivo, constitui uma condição de alto risco, quer para a Saúde Física, quer para a Saúde
Mental do Ser Humano. Desta premissa emerge a necessidade maior de procura – não a
tipologia de fatores que mantêm situações de risco para o indivíduo – mas sim o
referencial de recursos (internos e externos) que lhe permitam movimentar-se de forma
mais positiva.
Martins (2005) define - “A resiliência como uma capacidade global da pessoa para manter
um funcionamento efetivo face às adversidades do meio envolvente ou para recuperar
nessas condições;
- A resiliência como uma boa adaptação nas tarefas do desenvolvimento de uma pessoa,
como resultados da interação entre o sujeito, e a adversidade do meio ou um envolvimento
de risco constante (p.91) ”.

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5. Estudo de Caso

Uma Mariana, que bem podia ser um de nós, um dos nossos filhos, sobrinhos, amigos.
Um retrato a escala cinza daquilo que juntos construímos como sociedade ideal, como
terra das promessas e dos sonhos mais alucinantes, degradantes e perversos que povoa
a mente humana. (In)consciências, (in)constâncias, (in)vulgaridades… Faz-nos falta
voltar à essência do que é o HOMEM para que não nos tornemos infra-humanos, faz-
nos falta revisitar as nossas origens e encontrar nem que seja uma ténue réstia de amor,
para podermos amar e não “matar” a essência de bem que há nos outros.
Este é pois um caso complexos quer do ponto de vista psicológico, psiquiátrico,
sociológico, antropológicos, pedagógico… mas principalmente um caso que nos leva
a pensar verdadeiramente o que está no fundo do ser humano e o que precisa ele para
ser feliz, para ser pessoa no seu sentido mais profundo. A família eis a célula
imprescindível e a chave de leitura para tantos enigmas da sociedade que se diz
moderna.

5.1 A Jovem e o seu Contexto familiar

A Mariana tem atualmente 16 anos, tendo nascido em setembro de 1997.

A Mariana nasce num contexto familiar destruturado, com registo de violência conjugal
entre os progenitores e maus-tratos físicos à menor.
A progenitora é de origem cabo-verdiana, sendo o progenitor português.
Os progenitores tiveram 5 filhos em comum.

Os progenitores separaram-se em divórcio litigioso em 2001, ficando a progenitora com


a menor. A progenitora passa por dificuldades económicas, emprego precário com
atividade laboral em período noturno e não tendo grande suporte da família alargada.

5.2 Diagnóstico e primeira intervenção (Institucional)


O acolhimento institucional da Mariana dá-se em setembro de 2001, perto dos seus 4 anos
de idade, sendo sinalizada a situação pela mãe, à Comissão de Promoção e Proteção de
Crianças e Jovens, na sequência da separação dos progenitores e por a mãe não conseguir
garantir os cuidados da filha. Face a esta sinalização há abertura de processo em sede de
CPCJ e é realizado acordo de Promoção e Proteção, no qual se decreta o acolhimento
institucional da criança.

Nos primeiros anos de acolhimento tentou-se efetuar um trabalho com a progenitora, no


sentido do fortalecimento da relação filial, dado verificar-se uma vinculação débil e
insegura entre mãe e descendente, sendo que a mãe apresenta fracas competências
parentais. Dados os litígios entre os progenitores, os contactos da menor com o pai não
eram regulares

18
No início da intervenção institucional, a Mariana mostra-se menos conflituosa com os
pares e acatando mais facilmente as regras e limites negociados entre ela e o adulto.

Em Maio de 2004, estando a Mariana a passar o fim-de-semana junto do agregado de


origem da mãe, o pai desta levou-a, sem consentimento da progenitora.

A mãe comunicou a ocorrência às autoridades policiais e judiciais e é emitida ordem


judicial para a menor ser entregue à progenitora. O progenitor apenas o fez mais de 15
dias após a ter levado.

A Mariana retorna à Instituição onde está acolhida, verbalizando que terá sido vítima de
comportamentos sexualmente abusivos, assim como de maus-tratos e privação alimentar,
estes factos são participados às Autoridades Judiciais, dando origem a processo-crime
contra o progenitor.

Este episódio foi uma experiência traumática que desorganizou a Mariana e a fez regredir
fortemente nas aprendizagens efetuadas, até então. Para além disso, incutiu-lhe um grande
sentimento de insegurança que se revelou altamente prejudicial na disponibilidade mental
para efetuar aprendizagens. Na Instituição, procura-se, com recurso a todos os meios de
que se dispõe, apoiar a Mariana no seu percurso e exercer uma função contentora nos
momentos de descontrolo da menor.

A jovem foi sendo acompanhada na Instituição, com apoio psicológico individualizado


regular, desde 2003, e com acompanhamento pedopsiquiátrico, iniciado em 2006, por
apresentar mudanças bruscas de humor e alterações comportamentais, sendo prescrita
medicação.
Em 2008, procedeu-se à regulação do poder paternal, ficando a criança confiada à guarda
e cuidados da Instituição, com poder paternal residual entregue à progenitora. O
progenitor é inibido de visitar ou estabelecer qualquer contacto com a filha.

Nos contactos com a progenitora, a Mariana mostra-se cada vez mais ambivalente, ora
referindo desejar viver com a mãe, ora afirmando desejar ficar longe dela. Esta última
situação ocorre com frequência, após ser contrariada. Em alguns momentos diz querer
nascer de novo, para ter uma nova mãe.

5.3 Fatores associados ao de Risco


O percurso pessoal da menor caracteriza-se, globalmente, por imaturidade a nível social,
cognitivo e emocional: ausência de competências relacionais, mudanças bruscas de
humor, dificuldade de controlo dos impulsos, grande necessidade de ser aceite pelos
outros, défice cognitivo, tendência para desistir ou nem sequer iniciar as tarefas, quer por
medo do insucesso quer por inatividade, necessidade de constante reforço positivo por
parte do adulto.

O percurso escolar da Mariana foi, desde sempre, marcado e definido de acordo com as
dificuldades de aprendizagem que apresentava, decorrentes da postura e comportamentos
de desinteresse e conflito que revelava em contexto escolar, na interação com pares,

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professores e outros adultos, quer em sala de aula quer no recreio, não acatando
orientações nem conselhos. Apresentava grande instabilidade emocional e períodos de
concentração muito reduzidos, dificuldade de controlar os impulsos e na capacidade de
superar reações de irritabilidade face a situações de frustração.

Foi integrada no Programa Educativo Individual em 2009, tendo adequações curriculares


individuais, adequações no processo de avaliação e tecnologias de apoio, no âmbito do
Decreto-lei n.º 3/2008, derivado dum perfil cognitivo com resultados abaixo do esperado
para a idade, mas principalmente pela sua instabilidade emocional, que lhe provoca
alterações comportamentais que interferem com a realização das aprendizagens
adequadas à idade.

A progenitora manifesta-se como uma pessoa extremamente frágil a nível emocional,


com fundo depressivo e ansioso e choro fácil, apresentando-se, sempre exausta, sendo
escassos os momentos de predisposição para passar tempo de qualidade com a filha e
dedicar-lhe momentos exclusivos de atenção.

A postura da Mariana na Instituição foi sofrendo uma deterioração crescente ao longo dos
anos, com episódios recorrentes e em crescendo de gravidade, com desobediência aos
adultos e agressão verbal, com episódios pontuais de agressão física a pares. Em
acompanhamento pedopsiquiátrico é realizado um diagnóstico de perturbações do humor,
bipolar, com défice cognitivo acentuado e apresentação de ideias delirantes e
comportamentos hétero-agressivos muito violentos.

Quando a menor tem perto de 14 anos ocorre um episódio grave de agressão física ao
adulto cuidador de referência, sendo necessária a intervenção de vários adultos para lhe
por termo, com utilização de força contentora.

Face à gravidade da agressão foi apresentada participação dos factos, junto dos serviços
do Ministério Publico do Tribunal Judicial competente (TFM), art.º. 28.da Lei Tutelar
Educativa (LTE).Os factos praticados pela jovem colocam-na no âmbito da Lei 166/99
de 14/09, art.º. 1, da LTE, por os mesmos estarem tipificados na lei penal como crime de
ofensa à integridade física,

Aberto o inquérito e após recolhidos vários elementos de prova, constatou-se pelas


perícias psiquiátricas e psicológicas que a jovem era inimputável em face da debilidade
mental que apresenta, art. 49, nº1 da LTE.
O Ministério Público entende ser de aplicar o art. 49, nº2 LTE, por a jovem necessitar de
um acompanhamento terapêutico e não da aplicação de uma medida tutelar educativa,
pelo que foi Internada num Centro de Recuperação de Menores, para tratamento, com o
acordo dos legais representantes.

5.4 Fatores de Proteção


A progenitora deseja manter os contactos com a filha, verbalizando um forte vínculo
afetivo e emocional com a criança. Com o progenitor não há contactos regulares. A
progenitora iniciou acompanhamento psicológico.

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6. Intervenção
“... ajudar as crianças e adolescentes a desenvolverem capacidades pessoais
e relacionais, permitindo a cada indivíduo refletir sobre o modo de se relacionar com
os outros, encontrando alternativas adequadas à situação.” (Matos M. et al., 1990)

6.1 Intervenção realizada e Proposta de Intervenção

Face à intervenção realizada desde os 4 anos de idade, Institucionalização num Lar de


infância e Juventude e tendo em conta o parecer do Ministério Público que entende
aplicar o art. 49, nº2 LTE, visto que a jovem necessita de um acompanhamento
terapêutico e não da aplicação de uma medida tutelar educativa, e dado o seu
Internamento num Centro de Recuperação de Menores que tem como missão a Prestação
de cuidados de saúde, na área do tratamento e da reabilitação, a crianças e adolescentes
do sexo feminino, com deficiência intelectual e outros problemas no âmbito da saúde
mental, entre os 3 e os 17 anos de idade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (1995), a Reabilitação Psicossocial


consiste “num processo que oferece aos indivíduos que estão debilitados, incapacitados
ou deficientes, devido a perturbação mental, a oportunidade de atingir o seu nível
potencial de funcionamento independente na comunidade. Envolve tanto o incremento de
competências individuais como a introdução de mudanças ambientais”.
No campo da reabilitação psicossocial poderemos ainda falar nas áreas da:

Reabilitação Ocupacional que consiste no uso terapêutico das atividades de vida diária,
trabalho/atividades produtivas, atividades recreativas e de lazer para incrementar a
independência funcional, aumentar o desenvolvimento e prevenir incapacidades. Pode
incluir a adaptação de tarefas ou do meio para alcançar a máxima independência e para
aumentar a qualidade de vida do utente.

A Mariana encontra-se atualmente no programa de Reabilitação Ocupacional.

Reabilitação habitacional - Os processos de reabilitação nesta área compreendem


unidades de vida residencial – apoiada, protegida e autónoma -, que visam a inserção
comunitária de pessoas portadoras de doença mental de evolução prolongada,
clinicamente estabilizadas e sem apoio sócio-familiar. Nestes espaços desenvolvem-se
programas de acompanhamento e treino pessoal e grupal facilitadores de uma maior
autonomia possível, desenvolvimento pessoal e social, capacitando para uma melhor
integração comunitária de pessoas com doença mental.

Reabilitação sócio-profissional - A reabilitação no âmbito socioprofissional, visa


promover a desinstitucionalização de pessoas com experiência de doença mental, através
da (re) integração / inserção profissional. Os processos formativos de reabilitação nesta
área promovem a aquisição ou reaprendizagem de competências que capacitem a pessoa
para a realização de um trabalho produtivo, abrindo horizontes de socialização,

21
autorrealização e de maior autonomia possível. Pode desenvolver-se através de várias
estruturas ou equipamentos, entre os quais salientamos centros de emprego protegido /
apoiado, assim como a integração no mercado de trabalho.

6.2 Programa de promoção de competências pessoais e sociais

O percurso que será apresentado e proposto à Mariana após o de programa de Reabilitação


Ocupacional consiste em posteriormente integrar o Projeto Reabilitação Sócio-
Profissional que visa a integração profissional de pessoas com problemas psiquiátricos.

Atualmente estão a ser ministrados 4 cursos nas seguintes áreas: Hortofloricultura,


Serviços Domésticos, Pastelaria e Panificação e em breve está prevista a abertura do curso
de Cozinha.

Objetivos:
 Reabilitação social e profissional;
 Incentivar a inserção económica e social;
 Potenciar as potencialidades individuais;
 Diminuir o número de recaídas psiquiátricas;
 Potenciar a empregabilidade;

Destinatários:
- Pessoas que tenham acompanhamento psiquiátrico;
- Pessoas com motivação para serem inseridas num projeto de formação profissional;
- Idade entre os 16 e os 45 anos;
- Saber ler e escrever;
- Estabilidade psiquiátrica e emocional;

Funcionamento:
Os Cursos de Formação têm a duração de 3 anos:
1º ano- Formação Sócio – Cultural
2º ano- Formação Cientifico – Tecnológica
3º ano- Formação Prática em Contexto Real de Trabalho

Todo este percurso tem como meta final o ingresso num programa de
reabilitação/reinserção das suas utentes, através de uma Unidade de Vida Autónoma.
Esta residência visa proporcionar às utentes as melhores condições possíveis, de modo a
promover a sua reabilitação/reinserção social e profissional. Para que este objetivo seja
alcançado promove-se a autonomia das utentes, elas tentam recuperar as capacidades
perdidas e promover as suas potenciais capacidades, procura-se evitar ou diminuir as
recaídas, fortalecer os vínculos familiares (quando os há), restabelecer os papéis sociais
e que haja uma inserção/reinserção na vida laboral.

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Reflexão Crítica

E pronto, “Às vezes ponho-me para aqui a imaginar que o mundo é uma grande máquina.
Sabes, as máquinas não têm peças inúteis… Elas têm precisamente o número de peças
que são necessárias, cada uma com a sua específica função. Então, se o mundo é uma
grande máquina, eu tenho de estar aqui por uma razão e também tu deves estar aqui por
uma razão.”

Pergunto-me: quantas vezes a Mariana não fez a si mesma esta mesma interpelação “se o
mundo é uma grande máquina, eu tenho de estar aqui por uma razão e também tu deves
estar aqui por uma razão.”

Este trabalho, fez-me antes de mais, pensar.


Pensar no porquê e nos porquês da vida e acima de tudo acreditar que um grande número
de “Marianas” consegue reerguer-se e encontrar na sociedade o seu lugar.

Como proposta de intervenção sinto que são caminhos abertos e não impostos, decisões
que a própria “Mariana” terá de tomar e assumir, sempre com uma grande carga de
incerteza e Risco.

Qual o papel de um técnico neste trabalho social? Abrir portas para o futuro e acreditar
na pessoa, olhar para o seu lado positivo e não desistir diante dos múltiplos fracassos do
ser humano.

Procurei que este trabalho incidisse não sobre aquilo que já tinha como dados adquiridos
da praxis de vários anos de trabalho nesta área social, mas procurei na fundamentação
teórica investigar áreas que não me eram tão familiares e que ao mesmo tempo fossem de
encontro ao caso estudado. Apercebi-me de um modo mais evidente que o papel da
família é fulcral naquilo que uma criança é e no adulto que mais tarde será. É um alicerce
essencial e insubstituível, que nada nem ninguém pode alguma vez suprir.

Ao finalizar este trabalho, sinto que aprendi bastante quer estando presente na lecionação
quer com o trabalho de investigação empreendido, apercebi-me que este é um mundo
vastíssimo a nível de estudos realizados, quer de obras sobre esta temática, por isso o
benefício foi todo meu pois sinto que um novo mundo de conceptualização teórica se me
abriu diante dos olhos que me iluminará certamente no terreno concreto do trabalho que
sou chamada a realizar diante das crianças e jovens que nos são confiadas nos nossos
lares de infância e juventude.

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