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Análise Psicológica (2004), 1 (XXII): 33-42

O que é ser criança?


Da genética ao comportamento (*)

JOÃO GOMES-PEDRO (**)

Esta questão tem de ser entendida, no nosso Num pólo oposto, constataria essa pessoa do
milénio e na nossa civilização, como o grande além, que a outra grande parte desse mundo luta,
desafio da nossa existência impondo, eticamente, ainda, desesperadamente por uma sobrevivência
uma responsabilidade de atitude a todos os cida- que é garantida (quando o é) ao cada minuto da
dãos do mundo. vida sem que haja espaço ou tempo para vislum-
A criança é razão de ser do mundo e, mais do brar futuro ou sequer esperança.
que isso, representa o futuro desse mundo. Constataria ainda esse ressuscitado da nossa
Pensar em futuro, qualquer que seja a dimen- criação que, em cada uma das partes desse mun-
são considerada, tanto em termos científicos co- do, coexistem exploradores e explorados e que
mo morais, obriga a pensar na criança e, sobre- em cada um desses espaços, ao mesmo tempo, a
tudo, obriga a reflectir se o que hoje investimos luta pela sobrevivência, face à fome, se sobrepõe
na criança é suficiente para garantir o melhor do à sobrevivência moral, em função da maior ou
seu porvir que é, por acréscimo, o do seu mundo. menor confiança num destino.
Se qualquer pessoa responsável desaparecida há Esse reaparecido da bruma do tempo se acaso
cem anos atrás ressuscitasse hoje e olhasse então o se deparasse perante um noticiário televisivo
nosso mundo com o olhar da distância e, por isso, ou com a primeira página dum jornal quotidiano,
não comprometido, não entenderia, porventura, a ter-se-ia confrontado com a evidência do não
incoerência da nossa postura face ao futuro. respeito entre os homens deste tempo – guerras,
Constataria a alienação dum quotidiano de crimes, ameaças, assaltos, roubos – enfim, toda a
stress, ou seja, o frenesim dos cidadãos do mun- espécie de violência num quotidiano de stress e
do dito civilizado, numa lei do vale tudo, devo- desespero.
tados à procura de poder e de dinheiro, de modo Porém, essencialmente, esse alguém, porven-
a garantir a ilusão desse poder. tura deslumbrado com as mais diferenciadas tecno-
logias da comunicação, constataria que os ho-
mens, criadores de toda esta evolução técnica,
comunicam menos entre si.
(*) Nota da Redacção: Este artigo foi originalmente Com a reflexão sábia que um não envolvi-
publicado em Novos Desafios à Bioética, Porto Editora, mento assegura, esse alguém colocaria, afinal, a
2001. Reeditamo-lo, neste número especial de Análise grande questão: porquê este turbilhão de incoe-
Psicológica, com as devidas autorizações do autor e da
respectiva editora.
rência a tender para a auto-destruição que se ex-
(**) Faculdade de Medicina Universidade de Lis- pressa no ambiente em que circulamos?
boa. Hospital de Santa Maria, Lisboa. Colocaria, ainda, decerto, a questão porven-

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tura mais premente: não vislumbra o homem que estamos a comprometer a nossa sobrevivên-
deste tempo que o último receptor do descalabro cia moral para além da nossa sobrevivência eco-
é a criança? nómica e, sobretudo, a nossa coerência quando
E que, sendo a criança o garante do mundo, o nos deixamos arrastar pela voracidade do poder
homem se compromete no seu futuro, compro- e das influências macroculturais que nivelam as
metendo esse garante que é a criança? condutas e baixam, inequivocamente, a fasquia
Como é que os políticos não reconhecem esta dos valores.
evidência? Será só pelo facto que investir na cri- Os indicadores da toxicodependência conti-
ança só vê resultados anos mais tarde quando, nuam a subir em Portugal; os indicadores da re-
porventura, são outros os beneficiários, em vo- siliência dos nossos adolescentes, em termos de
tos, desse investimento? crença, de sucesso e de confiança na sociedade,
Como é que os intelectuais e os profissionais são alarmantes; os indicadores da instabilidade e
mais devotados à criança não fazem convergir da disfunção familiar não param de subir; os in-
todas as suas intervenções neste grito pela so- dicadores de stress e de violência na nossa socie-
brevivência moral do seu mundo, inspirado na dade, designadamente na nossa sociedade mais
criança? jovem, começam a ser trágicos, sobretudo nas
Como é que os cidadãos deste mundo passam periferias dos grandes espaços urbanos.
ao lado desta evidência? Além do preço que pagamos hoje por este de-
A nossa virtual personagem, com a lucidez sastre existencial, que preço vamos pagar num
que a referida sabedoria da distância confere, futuro que vai pertencer aos nossos netos e aos
tentaria, estou certo, fazer convergir, na evidên- filhos ou netos dos nossos netos?
cia científica do presente, a reflexão adequada Novos programas educacionais, sociais e sani-
sobre o absurdo das constatações feitas. tários estão hoje disponíveis para os nossos jo-
A representação delegada que recebi dessa al- vens.
ma recriada, foi a de tentar fazer essa reflexão, Porém, estão eles, esses programas, dedicados
necessariamente científica e, também, necessa- prioritariamente à infância mais precoce, indis-
riamente moral. cutível período crítico para o sucesso da nossa
Esta reflexão recai, inteira, sobre as necessi- intervenção?
dades irredutíveis da criança, porventura ainda Numa era em que tanto se fala de direitos por-
não reconhecidas e, por via disso, não assimila- ventura de um modo que dá direito a não os cum-
das, ou seja, não transferidas para um léxico de prir, direi, tão só, que ninguém tem o direito de
mandamento universal a inspirar a conduta de ignorar o direito da criança em ver garantidas as
todos os cidadãos do mundo. suas necessidades, sobretudo quando é bebé.
As necessidades da criança são inalienáveis, Há cerca de seis anos, um Presidente dos Es-
são irredutíveis, são inquestionáveis. Assegurá- tados Unidos reuniu, na Casa Branca, cerca de
-las é, inequivocamente, o nosso mandamento e uma centena de peritos em Saúde e em Educação
terá de ser, assim, a nossa missão. para formular a grande questão que, afinal, ainda
É neste contexto, filosófico e moral, que julgo não foi respondida satisfatoriamente: O que é
dever equacionar esta reflexão que é a dum advo- que pode assegurar, em termos de experiência, o
gado da criança, centrando-me na questão mais melhor para as necessidades da criança, quando
actual e sensível da nossa existência – O que é essa criança é bebé?
afinal a criança e que necessidades tem ela, essa A constatação de que a experiência precoce é
criança da nossa inquietitude, razão do nosso vital para o desenvolvimento intelectual e moral
crer e do nosso destino? da criança é algo que, de facto, nos faz escrever,
Estamos a pagar, já hoje, um preço incompor- desde há dez anos, incessantemente.
tável de um não compromisso face ao que as ne- O problema é o que nos é colocado pelos nos-
cessidades da criança obrigam. sos alunos, pelos nossos profissionais de saúde e,
Não é difícil a constatação desta evidência. sobretudo, pelos pais que hoje recebemos nas
Não será preciso falar português, língua que é nossas consultas, quando nos interrogam todos
charneira entre três mundos e representante de da mesma maneira – o que é que é preciso fazer,
uma cultura civilizacional, para reconhecermos providenciar, para garantir essas irredutíveis ne-

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cessidades do bebé? minou um projecto que durou sete anos a cons-
Existe um facto curioso que observo hoje em truir e que constou, tão só, dum plano de um
termos de resposta social aos atentados mais gri- Centro de Desenvolvimento Infantil edificado na
tantes a essas irredutíveis necessidades infantis. cerca do Hospital Ortopédico da Parede e que foi
Constato que apesar da brutalidade da evidência estudado ao pequeno detalhe desde as dimensões
que nos entra dentro de casa numa quase simul- de cada sala de avaliação, aos corredores de aces-
taneidade de acontecimentos, sejam eles no Ko- so, à creche e jardim infantil terapêuticos, aos
sovo, na China, em Angola ou em Timor, apesar aposentos para os pais vindos dos locais mais
dessa evidência, dizia, a sociedade mundial per- distantes, aos jardins desenhados pelo arquitecto
manece tolhida na organização das suas respos- paisagista, aos pontos de encontro das equipas
tas. pluridisciplinares, às salas de espera, aos equipa-
Acontece, a nível global, algo que reproduz mentos e mobiliários, tudo dimensionado à ima-
algumas das reacções individuais de pânico, qual gem da criança.
abstracção comportamental face a uma imanên- Depois de sete anos de trabalho exaustivo de
cia de caos. uma equipa de peritos, depois de meio milhão de
Quem não se lembra daquelas crianças de três contos gastos na construção desse Centro, uma
e quatro anos nos orfanatos romenos com olhar Ministra da Saúde despachou a adaptação do edi-
de infinito e só capazes de comunicar através de fício a complemento do Hospital Ortopédico, in-
pequenos gestos direccionados para algum pe- viabilizando o projecto dedicado à criança.
daço de comida que lhes era fornecida, tal como Como os corredores do Centro não foram pen-
estamos habituados a ver distribuir peixes às fo- sados para ali passarem camas, o tosco do edifí-
cas de aquário ou pedaços de carne aos tigres de cio permanece inerte e é hoje, para mim, um mo-
qualquer Jardim Zoológico? numento nacional à estupidez política e ao modo
Quem não se lembra dos olhares de infinito, subtil mas perverso como se destroem as expecta-
tão tristes e tão desistidos, em crianças empurra- tivas irredutíveis das crianças, neste caso crian-
das pelas mães para as portas de aviões super- ças vulneráveis em função da sua deficiência.
lotados no desespero de uma última tentativa pa-
ra salvar a vida de um filho, sem reencontro mar- O segundo exemplo que personalizo tem a ver
cado ou sequer esperado? com um programa televisivo produzido, em par-
Quem não se lembra das crianças de Timor tilha, com uma grande jornalista, escritora e gran-
com aquele olhar de infinito de quem já não quer de advogada da Criança que é a Laurinda Alves.
olhar para não haver lugar para mais sofrer? Chamava-se o programa «Os Primeiros Anos».
A sociedade civil é capaz de vir para a rua pa- Era um programa para pais, na intenção de
ra assistir à passagem do Bispo de Dili, porque é ajudar as famílias a melhor entender cada crian-
Prémio Nobel da Paz, porque é o testemunho vi- ça, cada irredutível necessidade, cada inadiável
vo da luta dum povo mas essa mesma sociedade expectativa, cada irrecusável apelo de cada bebé.
civil não reage à guerra como sociedade euro- Por intransponíveis necessidades de garantir
peia símbolo de uma dita civilização ocidental, audiências, o nosso programa foi passado às duas,
essa mesma sociedade civil não identifica ainda às três, às quatro da manhã e, mesmo assim, teve
a criança como prioridade mundial a exigir, pelo o recorde de audiência dos programas da noite...
menos, mais espaço humanizado nas cidades,
nos passeios, nos hospitais, nas escolas, nas tele- O terceiro exemplo é o da minha luta actual
visões. de conquistar mecenatos para algumas obras hos-
Vivenciei e vivencio ainda hoje testemunhos pitalares que viabilizem um pouco de espaço, um
inequívocos de uma abstracção política, nacional pouco de decência nas casas de banho das cri-
e mundial face às necessidades irredutíveis das anças e dos pais, um pouco de tinta nos buracos,
crianças. um pouco de sofá nos átrios, um pouco de arte
Darei só três exemplos para que a história não nas paredes, um pouco de remendo no chão de
deixe esquecer. cada corredor, um pouco de cadeira para cada
mãe se encostar, enquanto vela agarrada à mão
Há dez anos atrás, uma equipa que liderei ter- do seu bebé.

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rante o último século se tinha aprendido sobre os
Entretanto, face a estas frustrações que são, mecanismos mais profundos da mente, nomea-
também, tentações de desistência por parte dos damente envolvidos nos contextos psicológicos,
que ainda vivem de ideais, vão-se organizando sociais, culturais e morais que impregnam a vida
as mais variadas interpretações que, por mais fá- de todas as crianças.
ceis, são culpabilizadoras dos políticos, das esta- Julgo que está a ser errada a interpretação do
ções de televisão, das tutelas administrativas, etc. papel dos nossos genes no nosso comportamen-
A preferência popular pelo «Big Brother», en- to.
tre outras inequívocas realidades nacionais é um O ajustamento das condições em que cada
problema de cultura nacional. bebé se adapta às determinantes do seu próprio
Teremos que passar a entender, outrossim, que genoma condiciona todas as múltiplas transac-
os problemas da cultura pertencem a toda a so- ções que a própria evolução proporciona e mo-
ciedade civil, dependem dos constructos de cida- dela, em termos de porvir.
dania, derivam da resiliência de cada família, são Cada gene só se pode exprimir em função do
evidências da identidade de cada um que cons- modo como cada fase ambiental da evolução hu-
trói essa identidade, melhor ou pior, em cada mana modela a força potencial da natureza. A
vínculo, em cada escola, em cada grupo. expressão genómica com todas as suas influên-
O desafio da cultura que se projecta nas prio- cias é, de facto, condicionada pelas sucessivas
ridades e que, em última análise, confere ou não interacções entre o que é potencial e o que são os
a prioridade às irredutíveis necessidades da cri- sucessivos ambientes que constituem o envelope
ança é o desafio de todos e para todos a ser, ne- do biológico, desde o núcleo ao citoplasma, des-
cessariamente, construído por todos, embora, in- de a célula ao tecido, desde o órgão ao corpo to-
questionavelmente, tenha que ser assumido, prio- tal, desde o corpo à relação com o outro mais sig-
ritariamente, pelos mais responsáveis. É esta a nificativo nos primeiros tempos de vida e que é a
responsabilidade dos pediatras, dos educadores e mãe, até às outras todas relações sociais com os
de todos os que se cumprem na devoção à cultu- outros mais ou menos preferenciais que a família
ra da Criança. e a sociedade vão proporcionando, nas sucessi-
A responsabilidade da nossa exigência face às vas etapas do ciclo da vida.
irredutíveis necessidades das nossas crianças é O mito determinista que tanto nos legou em
proporcional à nossa capacidade de entender o termos de significado nas primeiras relações, cru-
desafio que é colocado à cultura da sociedade ci- za-se com as outras realidades influenciais atra-
vil e que se confina às prioridades da criança. vés das quais sabemos que nunca nada está per-
É enorme a responsabilidade que hoje recai dido em função da extraordinária capacidade de
sobre os profissionais da Saúde, da Psicologia e adaptação humana em todos as fases potenciais
da Educação, nomeadamente no que respeita à da vida.
sua intervenção pedagógica sobre o garantir de O modelo etológico ter-nos-á influenciado a
cuidados adequados às necessidades irredutíveis pensar em termos de sobrevivência quando ca-
da criança. racteriza a evolução em termos de competência
Uma das implicações desta responsabilidade é de espécies na mira de garantir aquela mesma
a de entender e de fazer entender quais as impli- sobrevivência.
cações de todo um fantástico novo conhecimento Porém, a caracterização da espécie humana
que provém da investigação em Neurociências e vai no sentido de uma evolução complexa des-
se aplica à vida da criança e da sua relação. tinada a garantir competências susceptíveis de
As aquisições mais recentes têm influenciado condicionar capacidades decisivas como são as
os clínicos a perceber o funcionamento humano de constituir família e de cooperar em grupos so-
como uma expressão feita de comportamentos e ciais com objectivos comuns, cada vez mais com-
sintomas determinados por mecanismos genéti- plexos.
cos e bioquímicos. Porém, a preocupação dum As duas faces da moeda da vida foram estan-
modelo biomédico centrado numa preocupação do, assim, cada vez mais individualizadas e pro-
essencialmente diagnóstica e terapêutica terá fei- gramadamente determinadas em termos de tare-
to subordinar a esses determinantes tudo o que du- fas sociais.

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Refiro-me ao lado competitivo da existência O que é ser criança, hoje, desafia, irredutivel-
versus a outra face que reúne as expectativas de mente, a nossa imaturidade adaptativa.
cuidados dependentes, afinal, da empatia, da com- Creio que a sobrevivência moral da nossa es-
paixão, da ternura, da partilha e da solidariedade. pécie estará, cada vez mais radicada na capaci-
É-nos muito mais confortável, hoje em dia, dade de assumirmos o que é ser criança e no que
pensar e agir em termos de sobrevivência e com- a criança nos implica em termos culturais e mo-
petição do que posicionarmo-nos em termos de rais.
atitudes, de afectos e de valores. O desafio da criança é um desafio global, por-
O desenvolvimento económico das nações, o ventura a ter de ser explicado nas transacções in-
crescimento exponencial dos mercados, a evolu- finitas que a genética e o ambiente protagoni-
ção da tecnologia informática e da comunicação zam.
tem-nos feito crer que as necessidades básicas O número de genes e, tão só, o conhecimento
estão asseguradas e daí uma relativa negligência estrito das leis da hereditariedade não chega pa-
de intervenção moral, cada vez mais submissa às ra conhecermos o que é que, de facto, influencia
virtudes do progresso fazendo, assim, esquecer o quê e faz definir, afinal, as características de
as necessidades irredutíveis do desenvolvimento cada indivíduo.
emocional que é, afinal, o substracto vital da com- A descodificação do genoma humano terá si-
petência em estabelecer relações, ao longo de to- do uma surpresa para muitos e, para outros, entre
da a vida. os quais me incluo, a confirmação de que é na
Durante séculos e séculos este substracto vital transacção, nomeadamente entre os genes e as
era apanágio do dever da mulher, identificada no circunstâncias pessoais que reside o mistério
feminino e no maternal e cabia neste papel o ca- que, por sua vez, consubstancia as diferenças en-
riz de vulnerabilidade que lhe era conferida pela tre os seres humanos.
sociedade. Nenhum gene existe ou funciona isolado.
As mulheres eram supostas estar em casa com Cada gene pertence a um genoma que por sua
as crianças, tal como era suposto ser seu prazer o vez pertence a uma pessoa que, por sua vez, per-
cuidar dos seus filhos, do seu marido e do seu tence a um meio, a uma cultura.
lar. Na contraface desta expectativa, o homem era Em cada um destes patamares e entre eles es-
suposto assumir as rédeas do lado competitivo tabelecem-se relações que, por sua vez, têm signi-
da vida, nesse lado incluída a missão de asse- ficados distintos.
gurar sobrevivência económica à família consti- São as transacções significativas entre o po-
tuída. tencial genómico e o ambiente desde o intrace-
Historicamente, fomos capazes, enquanto es- lular ao cultural que definem a dinâmica fenotí-
pécie, de lidar com estas duas faces da moeda pica.
através de rituais e de preconceitos inspirados de Bronfenbrenner e a sua escola (1998) habitua-
regras, de expectativas e de papéis sociais mais ram-nos a pensar que é o contexto e o processo
ou menos cumpridos, que nem sempre assumi- que fazem exprimir o potencial na ecologia de
dos. cada pessoa e que é esta dinâmica que, em fun-
Em menos de meio século, a transformação ção do tempo, determina cada expressão indivi-
social foi enorme. dual.
Entretanto, não fomos ainda capazes de nos Cada gene não é mais, afinal, do que um có-
adaptarmos, reflexivamente, a esta transição ma- digo químico que determina a sequência de ami-
jor da nossa existência e o resultado da desadap- noácidos nas proteínas que a célula produz.
tação está à vista, sobretudo marcado e expresso A célula é, assim, o primeiro ecosistema de
na disfunção familiar. um potencial herdado; todo o organismo biológi-
A óbvia solução que envolve uma preparação co e, para além dele, a pessoa total, amplificam
conjunta de homens e mulheres para levar a cabo aquele ecosistema até a um infinito que incor-
um destino de partilha nesta dupla função da so- pora, ainda, outro ecosistema ainda mais lato e
brevivência e de cuidados, não poderá, contudo, que é o envolvimento relacional de cada pessoa.
ficar só no óbvio, mas terá, outrossim, de exigir Porém, este modelo ecológico só define a com-
uma preparação educacional, desde o berço. plexidade quando Processo, Pessoa, Contexto e

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Tempo se congregam e se definem na dinâmica o pelo branco com excepção do nariz, das ore-
da música que modela a dança das transacções lhas, das patas e do rabo que são pretos. São as
infantis. diferenças da temperatura do corpo deste coelho
É a melodia desta música que dá sentido à de altitude que determinam as variações de cor
química e dá coreografia ao bailado, diria às re- do pelo porquanto é nas extremidades do corpo
lações... que, indubitavelmente, há mais frio.
O gene não existe isolado tal como o bebé não Rapando um pouco do pelo do dorso destes
vive só. coelhos e se se aplicar naquela área uma espécie
O bebé não sorri por determinação génica. Po- de saco de gelo devidamente ajustado até ao apa-
rém, é o registo de uma matriz social que o faz recimento do novo pelo, essa nova pelugem apa-
procurar sintonia na melodia da fala da sua mãe rece preta.
e é a emoção de uma contingência de afectos que Esta experiência simples mostra que o feno-
o faz sorrir. tipo para a cor da pele do coelho do Himalaia
O que existe de química intracelular e de depende, especificamente, da temperatura nas zo-
neurotransmissão intercelular na génese de cada nas onde se viabiliza o crescimento do novo pelo.
sorriso só pode ser explicado pela dinâmica das Por outras palavras, é a temperatura em zonas
interfaces que são todas as transacções infinitas específicas do coelho o que constitui a determi-
entre os sistemas interiores de cada bebé. nante ambiental que faz predizer a expressão do
Nada substitui nada tal como ninguém substi- gene responsável pela cor do pelo.
tui ninguém. Cada sistema complementa-se em Um outro princípio fundamental para a com-
cada outro e é o infinito das combinações possí- preensão da interacção gene-ambiente é o de que
veis que gera o mistério. esta interacção se modele num processo de duas
Ter quase o mesmo número de genes que a
vias.
mosca, só explica que, enquanto ser vivo o ho-
Só a título de exemplo, direi que certas pes-
mem pode ser mosca ou também, quando huma-
soas estarão fundamentalmente predispostas a de-
nizado, pode ser pessoa.
primirem-se quando vivenciam experiências stres-
Pode-se ser máquina a gerar prazer, a gerar
santes.
conhecimento ou a gerar sucesso, mas também
Porém, e por outro lado, o estar deprimido faz
se pode ser pessoa a gerar empatia, amor ou com-
aumentar a predisposição para a ocorrência de
paixão.
Existe hoje uma categoria de cientistas – os stress.
geneticistas do comportamento – que são estu- As aves canoras herdam genes que determi-
diosos do desenvolvimento humano que procu- nam as suas competências, nomeadamente as
ram entender como é que factores genéticos e competências melódicas do seu canto mas que só
ambientais se cruzam e interagem de modo a de- se revelam ou seja, só se exprimem se esses pás-
terminar o que todos conhecemos como sendo di- saros partilharem o canto dos outros pássaros da
ferenças individuais. sua espécie.
Rutter e colaboradores (1997) identificaram
vários princípios a entender como guias ou mo- As duas direcções deste processo dual terão
delos daquelas interacções. sempre que ser levadas em conta para entender
Um desses princípios orienta-nos para o pri- comportamentos desde o pássaro à pessoa.
mado de que as interacções entre organismos e Ainda um outro princípio de interacção gene-
ambientes precisam de ser entendidos num con- ambiente explica a circunstância dos factores ge-
texto de grande abrangência ecológica, sendo pres- néticos determinarem o modo como as pessoas
suposto que variações significativas do ambiente escolhem os seus próprios ambientes e optam
podem ter profundíssimas repercussões no feno- por determinadas experiências.
tipo. Por exemplo, crianças que por razões genéti-
Albert Windester (1972) aplicou exaustiva- cas respondem melhor a níveis elevados de esti-
mente este princípio nos seus estudos com coe- mulação nomeadamente sonora, preferirão ouvir
lhos do Himalaia. música muito alto o que, por sua vez condiciona
O coelho do Himalaia, de um modo geral, tem as suas opções por relações com amigos ou ami-

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gas que, porventura, apreciam o mesmo modo de intervenção educacional mais igual do que por-
ouvir música. ventura poderia ocorrer com gémeos sabidos di-
O que, tradicionalmente, os geneticistas do zigóticos.
comportamento chamam de gradiente de reacção Por outro lado, gémeos verdadeiros ou não,
e da canalização não representa mais, afinal, do adoptados por famílias distintas podem ter am-
que é o processo chamado adaptação, fenómeno bientes educacionais muito próximos, conhecida
universal das espécies. que é, em certos países, a grelha de exigências
Se o patinho recém-nascido for privado do para famílias de adopção a qual compreende um
quá-quá chamativo da sua mãe nos primeiros determinado estatuto social e cultural para além
dias da sua vida poderá não sobreviver porque de uma seleccionada garantia de um ambiente de
perde o sentido de sobrevivência que a partilha afecto e segurança.
de grupo garante na aprendizagem alimentar via- Acresce ainda a circunstância, também conhe-
bilizada pela deslocação incessante da mãe e dos cida, de que dentro de uma mesma família, pode
seus repetidos quá-quá. ser distinto o ambiente emocional proporcionado
Porém, se um patinho órfão tiver a sorte de a irmãos dessa mesma família o que tem a ver
encontrar uma galinha com uma ninhada de pin- com diferenças, porventura subtis, de vinculação
tos também recém-nascidos, esse patinho, se inicial, porém indutoras de atitudes educacionais
adoptado, poderá ficar condicionado aos piu-piu também distintas.
desta outra espécie e, assim, sobreviver, se por- Podemos, mais do que nunca, afirmar hoje
ventura aquela condicionante tiver ocorrido no que genoma e ambiente são, tão só, dois aspectos
seu período crítico de adaptação. de um mesmo único processo que é desenvolvi-
As relações entre genoma e ambiente são in- mento.
finitas. É a dinâmica das relações entre factores no-
O gradiente da reacção que é viabilizado por meadamente mediados por diferentes genomas e
estas relações infinitas pode ser simbolizado pe- os infinitos condicionantes do ambiente, sobre-
las também infinitas expressões fenotípicas do tudo proporcionados pelos laços afectivos e mo-
coelho do Himalaia. rais, o que determina o comportamento e, com
Imagine-se um gradiente entre dois limites ele, o modo de viver, de ser e de estar.
teóricos de sobrevivência para o coelho do Hi- A descodificação do genoma deu-nos, afinal,
malaia – uma temperatura mínima e uma tempe- a evidência gritante desta noção. Temos, de facto,
ratura máxima. poucos mais genes do que a mosca mas isto tal-
Próximo do limite da temperatura mínima o vez explique a infinita diferença entre os que
pelo do coelho do Himalaia, mais do que só as vivem como moscas e os que se comportam co-
extremidades, será todo preto. Próximo de um li- mo Homens.
mite superior para a temperatura ambiente, todo A cultura da facilidade tenta os homens a se-
o pelo, incluindo o das extremidades, será todo rem moscas e a comportarem-se como tal. A ex-
branco. ploração do «voyeurismo» e daquela tentação
Na espécie humana são conhecidos, entre os explicará o só aparente sucesso dos «reality shows»
mais citados, os estudos orientados para a expli- produzidos pelos canais privados de televisão.
cação das relações entre genoma e ambiente em É a dinâmica das relações entre tudo o que po-
gémeos quer monozigóticos quer dizigóticos que, tencia o desenvolvimento o que faz a diferença.
entretanto, vivem tanto juntos como separados, Direi, também, que é a diferença que implica a
em famílias de adopção. ética.
As correlações estatísticas destes estudos mos- A descodificação do genoma humano abre pers-
tram que o grau de similitude entre irmãos dimi- pectivas infinitas à Medicina, à Psicologia e à
nui na mesma medida em que decresce a percen- Sociologia, nomeadamente em termos de uma
tagem de genes partilhados. nova ordem de intervenção, tanto preventiva co-
Haverá, contudo, que matizar esta realidade mo terapêutica.
com outras evidências. Porém, o essencial da descoberta do genoma
Por um lado, gémeos monozigóticos podem humano ultrapassa o conhecimento do mapa mo-
merecer de um determinado ambiente familiar uma lecular.

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É que é o infinito do que é proporcionado, rica, Bruce Perry não hesita em sumarizar este
tanto no seu timing como no seu contexto o que, conceito – não é o dedo do adolescente que puxa
em cada dia, faz o infinito da diferença. o gatilho da arma que mata colegas da sua escola
Mais ainda, é que, para lá do que é fornecido tal como não é o pénis que viola; é o cérebro, por-
é o modo como se sente tanto o que é dado como ventura vulnerável no que respeita às suas capa-
o que é recebido, o que faz definir o sentido de cidades em controlar comportamentos compulsi-
pertença, o sentido de coerência de cada um face vos ou em regular emoções tais como a raiva, a
à vida e em função dela, face aos outros e a si pró- cólera ou o medo.
prio. Existem períodos sensíveis nos primeiros tem-
O estar bem na sua pele, o sentir o que vale pos de vida em que é decisivo haver ou não opor-
mais ou menos a pena existir, o amar especial- tunidades para a organização de uma arquitectu-
mente alguém, significativamente diferente, é que ra cerebral.
constitui o mistério moral do homem, determina- À 18.ª semana de gestação, quando o cérebro
do inequivocamente, nos primeiros tempos da não é mais que uma estrutura primitiva, o feto já
vida. dispõe de cerca de 150 biliões de células chama-
A responsabilidade dos profissionais de saú- das neurónios. A partir do nascimento começam
de, de psicologia e de educação é, fundamental- a desenvolver-se em ritmo alucinante as estru-
mente esta – a de garantir que cada genoma se turas de conexão (dendrites e sinapses) interneu-
exprima na coerência de uma expectativa, na cer- ronais.
teza de uma pertença, na evidência de um gostar. Uma motivação apropriada por parte do am-
Estamos desde há muito interessados no que biente sobretudo adaptada à predisposição gené-
são os determinantes da violência. tica dos bebés da nossa espécie isto é, uma dis-
Sabemos que, apesar de uma potencial predis- ponibilidade circunstancial traduzida em voz me-
posição genética para os comportamentos de adap- lodiosa, em face humana emocionada, em con-
tação social, não existe o que antigamente se de- tacto de pele com pele cariciante, em cheiros signi-
signava por criminalidade genómica. O que co- ficativos e diferenciados, nomeadamente relacio-
nhecemos hoje bem, sobretudo nesta última dé- nados com algo que é conhecido desde a vida
cada já hoje rotulada como a idade de ouro das fetal (voz dos pais, ritmo cardíaco, cheiro e sabor
Neurociências, é que são múltiplos os factores do líquido amniótico, etc.) proporciona que os
que podem comprometer a adaptação social e emo- axónios atravessem áreas enormes para se arti-
cional de cada criança. cularem com dendrites de outros neurónios cor-
Reportarei só alguns deles. respondentes a sectores sensíveis e afins de uma
A exposição de um feto ao álcool e a drogas coerência relacional.
tais como heroína ou cocaína pode vulnerabilizar Os sinais do ambiente do bebé que correspon-
drasticamente o seu sistema nervoso central cau- dem às suas expectativas mais arcaicas (acús-
sando, nomeadamente, dificuldades intranspo- ticas, olfactivas, tácteis e visuais) vão ser os mo-
níveis à regulação dos estádios desse feto invia- deladores de toda a construção de uma teia que é
bilizando, assim, que, depois de nascer, o então estrutural em termos de sistema nervoso central
recém-nascido se consiga fixar no estádio de aler- mas que também é funcional em termos de regu-
ta o que quer dizer incapacidade em interagir, em lação, de modelação e de adaptação.
se concentrar, enfim, em aprender. Aprender novas descobertas relacionais, no-
Por outro lado, uma indisponibilidade ou in- vos estímulos, novas palavras, novas brincadei-
capacidade dos pais em se adaptarem às compe- ras, exige uma arquitectura estrutural progressi-
tências e às características individuais do seu vamente mais complexa; porém, aprender confi-
bebé inviabiliza uma génese sólida dos primeiros ança, empatia e compaixão requer uma química
vínculos que sabemos serem as traves mestras da que é regulada pelas emoções e pelos afectos e
vasta teia dos afectos e das emoções e que são, que é o condicionante básico das relações e do
por sua vez, o suporte e o fiel da adaptação so- gostar.
cial. O sistema límbico e, em particular, a amígdala
Ao debruçar-se sobre a tão complexa proble- e o lobo esquerdo préfrontal funcionam como ter-
mática da violência nos Estados Unidos da Amé- mostatos neurais que comandam a regulação emo-

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cional e viabilizam, afinal, os já referidos senti- REFERÊNCIAS
dos de pertença e de coerência que fazem ter
sentido, ou não, cada nova aprendizagem, cada Brazelton, T. B., & Greenspan, S. (2000). The Irredu-
cible Needs of Children. Cambridge, MA: Persus
nova descoberta, cada nova relação. Publishing.
A génese dos comportamentos anti-sociais, no- Bronfenbrenner, U., & Morris, P. A. (1998). The eco-
meadamente de violência, surgem na proporção logy of developmental processes. In R. M. Lerner
do que é ou não contingência de expectativas. (Ed.), Handbook of Child Psychology: Theoretical
Stress crónico, negligência, falta de oportuni- Models of Human Development (5th ed., vol. 1, pp.
993-1028). New York: Wiley.
dade nomeadamente de tempo para a empatia, Gomes-Pedro, J. (2001). My Baby XXI. Boston: Brun-
para a contingência de emoções, para a tran- ner-Routledge.
sacção de afectos, para a construção da confian- Karr-Morse, R., & Wiley, M. S. (1997). Ghosts from
ça e do respeito, proporcionam um sentido de in- the Nursery. Training the roots of violence. New
coerência que é um estádio latente de violência. York: The Atlantic Monthly Press.
Perry, B. Neurodevelopment and the Neurophysiology
Deixar de acreditar num sorriso de volta, no of Trauma: Conceptual Consideration for Clinical
esconde-esconde de um jogo de cucu, da volta Work with Maltreated Children. The Advisor, 6 (1).
de uma mão que vem para aconchegar, da volta Rutter, M., Dunn, J., Plomin, R., & Simonoff, E.
de um verso na cantiga de embalar na hora certa, (1997). Integrating nature and nurture: Implications
da volta de um olhar num passear de descoberta, of Person-environment correlations and interac-
tions for developmental psychopathology. Deve-
deixar de acreditar no que afinal é a força do lopment & Psychopathology, 9 (2), 335-364.
querer viver, é perder resiliência, é falhar no sen- Winchester, A. M. (1972). Genetics. Boston: Houghton
tido de coerência, é aprender a desistir. Mifflin.
Todos devemos hoje saber que o começar a
desistir ao mês de vida, aos seis meses, aos de-
zoito meses, corresponde, mais tarde, ao desistir RESUMO
de confiar nos pais ou nos amigos, ao desistir de
Cada gene só se pode exprimir em função do modo
respeitar a avó ou a professora, ao desistir de apren-
como cada fase ambiental da evolução humana modela
der na escola, ao desistir de si. a força potencial da natureza. A expressão genómica
Quando os políticos perceberem que desistir com todas as suas influências é, de facto, condicionada
de si é o percursor do faltar às aulas, do experi- pelas sucessivas interacções entre o que é potencial e o
mentar o charro ou do aderir ao gang, então per- que são os sucessivos ambientes que constituem o en-
velope do biológico, desde o núcleo ao citoplasma,
ceberão que a prevenção da tóxico-dependência,
desde a célula ao tecido, desde o órgão ao corpo total,
só como exemplo, se faz no berço da barriga da desde o corpo à relação com o outro mais significativo
mãe, na génese da família, na creche, enfim, nos nos primeiros tempos de vida e que é a mãe, até às
alvores da vida (Gomes-Pedro, 2001). outras todas relações sociais com os outros mais ou
O sistema dos afectos é antecipatório do mo- menos preferenciais que a família e a sociedade vão
proporcionando, nas sucessivas etapas do ciclo da vi-
tor, do cognitivo e do moral. da.
As emoções são os grandes organizadores das O mito determinista que tanto nos legou em termos
nossas mentes e é no berço que as emoções se or- de significado nas primeiras relações, cruza-se com as
ganizam e regulam (Karr-Morse & Wiley, 1997). outras realidades influenciais através das quais sabe-
As irredutíveis necessidades da criança são ou mos que nunca nada está perdido em função da extra-
ordinária capacidade de adaptação humana em todos
não satisfeitas em função do modo como cada as fases potenciais da vida.
um, quando bebé, sente como são transacciona- O modelo etológico ter-nos-á influenciado a pensar
das as suas emoções (Brazelton & Greenspan, em termos de sobrevivência quando caracteriza a evo-
2000). lução em termos de competência de espécies na mira
O que é ser criança, afinal, quando perspecti- de garantir aquela mesma sobrevivência.
Porém, a caracterização da espécie humana vai no
vamos a viagem da genética ao comportamento? sentido de uma evolução complexa destinada a garan-
Eu diria que ser criança é quando para nós é tir competências susceptíveis de condicionar capaci-
decisivo o modo como nos dão o que esperamos. dades decisivas como são as de constituir família e de

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cooperar em grupos sociais com objectivos comuns, from the body to the relationship with the meaningful
cada vez mais complexos. other during the first years of life, which is the mother,
Ser Criança significa o destino de vida feita relação and all the other social relationships with members of
e afecto. the family and society, in the several stages of the life
Palavras-chave: Genética e comportamento, desen- cycle.
volvimento precoce, necessidades irredutíveis da cri- The determinist myth that left us so much in terms
ança. of the meaning of the first relationships intersects with
the other influential realities which show that nothing
is ever lost, due to the extraordinary human capacity
for adaptation in all the potential phases of life.
ABSTRACT
The ethological model has influenced us to think in
terms of survival by characterising evolution as spe-
Each gene can only express itself according to the cies’ competences to guarantee survival.
way in which each environmental phase of human evo- However, the characterisation of the human species
lution configures the potential force of nature. Geno- is based on the idea of a complex evolution, aimed at
mic expression and its influences is conditioned by the guaranteeing the competences and skills needed to
successive interactions between what is potential and create families and cooperate in social groups with com-
the successive environments that constitute the biolo- mon goals, which are more and more complex.
gical envelope, from the nucleus to the cytoplasm, from Key words: Genetics and behavior, infant’s deve-
the cell to the tissue, from the organ to the total body, lopment, children’s irreducible needs.

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