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Imagine que está a falar com um adulto e depois aparece outra pessoa com um bebé.
Quando se dirige ao bebé, o seu discurso muda logo. O tom da voz torna-se exagerado,
utiliza palavras mais pequenas e prolongadas e diz frases repetitivas que todos conhecemos.
Está a falar “à bebé”. Foram estas conversas com os mais pequenos que cientistas dos
Estados Unidos observaram em diferentes mães e em várias línguas. Concluíram que o
timbre da voz muda sempre de forma muito específica, independentemente do tipo de voz
da pessoa ou da língua que fala, segundo um artigo científico (http://www.cell.com/current-
biology/abstract/S0960-9822(17)31114-4) publicado na edição desta semana da revista
Current Biology.
O grande objectivo de Elise Piazza e da sua equipa do Laboratório do Bebé (Baby Lab), da
Universidade de Princeton (Estados Unidos), é perceber como as crianças aprendem a falar
e adquirem a linguagem verbal logo desde muito novas. Agora, dentro desse grande
trabalho, estudaram a forma como as mães ajustam a sua voz quando falam com o seu
bebé.
Falar “à bebé” é algo que já tem vindo a ser estudado em várias línguas e culturas.
“Sabemos há muito tempo que os adultos mudam a forma como falam quando se dirigem
aos bebés”, refere Jenny Saffran, psicóloga da Universidade de Wisconsin-Madison (Estados
Unidos) e que não está envolvida no trabalho, num comunicado da Universidade de
Princeton.
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Bebé e a sua mãe no Baby Lab SAMEER A.
KHAN/FOTOBUDDY
Depois, utilizaram gravações de outras 12 mães que falavam nove línguas diferentes:
espanhol, russo, polaco, húngaro, alemão, francês, hebraico, mandarim e cantonês. A
equipa concluiu que a mudança de timbre observada nas mães que falavam inglês era
“altamente consistente” com a das mães que conversavam noutras línguas. Ou seja, falar “à
bebé” é uma linguagem universal. “É tão consistente entre todas as mães”, diz Elise Piazza
no comunicado. “Elas usam o mesmo tipo de mudança [na voz] para passaram de um modo
[de falar] para o outro.”
E os pais?
“Este é o primeiro estudo que questiona se [as mães] também mudam o timbre da sua voz,
utilizando o tipo de características que diferencia os instrumentos musicais uns dos outros
[como o timbre]”, realça por sua vez Jenny Saffran. “Isto é fascinante porque, claramente,
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os falantes não estão conscientes da mudança do timbre. Este novo estudo mostra que isso
é uma característica altamente sólida na fala com os bebés.”
No futuro, a equipa vai continuar a estudar a forma como a mudança do timbre ajuda as
crianças na sua aprendizagem, bem como o timbre noutros tipos de fala como a política ou
a romântica. E se este trabalho só contemplou as mães, os homens também não estão
esquecidos e o próximo passo será analisar o seu timbre e de outras pessoas que cuidam
dos bebés. “Imagine uma orquestra inteira simultaneamente a tocar no mesmo tom e
afinação”, exemplifica Elise Piazza sobre o falar “à bebé”. Essa orquestra da aprendizagem
do bebé está agora a ser investigada.