Você está na página 1de 104

CAROLINE PRISCILA DA SILVA

ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO
FACULDADE SÃO BRAZ

CURITIBA/2018
Sumário

Apresentação ................................................................................... 03
Iconografia ....................................................................................... 04
Aula 1 – Concepções de alfabetização e letramento ........................ 05
Aula 2 – Necessidade de repensar o termo alfabetização ................ 20
Aula 3 – Considerações históricas sobre a alfabetização no Brasil . 33
Aula 4 – Métodos de alfabetização utilizados no Brasil .................... 46
Aula 5 – Elementos psicolinguísticos relacionados à alfabetização 60
Aula 6 – Diferenciação nos modos de representação da escrita ....... 73
Aula 7 – Metodologia da alfabetização ............................................. 82
Aula 8 – Práticas pedagógicas ......................................................... 94
Referências ...................................................................................... 104
Apresentação

Caro estudante, seja bem-vindo!


Daremos início à disciplina de Alfabetização e Letramento, teremos
bastante contato com dados históricos e conteúdos próximos de nossas
vivências como estudantes, que nos “trarão” de volta ao tempo de escola. Vale
lembrar que na educação a distância, o estudante tem participação ativa em sua
própria construção do conhecimento, então é importante que você esteja
motivado em aprender cada vez mais e também comprometido com nossas
aulas e atividades propostas.
Bom estudo!
ICONOGRAFIA

Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de


linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.

VOCABULÁRIO
Indica a utilização de um termo, palavra ou expressão no
texto.

IMPORTANTE
Indica pontos de maior relevância no texto.

REFLITA
Questionamentos e reflexões sugeridas pelo autor, mas não
é necessário respondê-los.

SAIBA MAIS
Oferece novas informações que enriquecem o assunto:
textos, artigos, reportagens escritas etc.

CURIOSIDADES
Indica alguma curiosidade a respeito do tema de estudo, mas
que não está contemplado na ementa.

MÍDIAS
Indica sugestões de vídeos ou reportagens para
conhecimento complementar.

LINK
Vídeos e textos para aprofundar o assunto.
Dica: Para facilitar clique com o botão direito do mouse e abra
uma nova janela.
Aula 1 – Concepções de alfabetização e letramento

Fonte: Pixabay (2018)

Olá! Seja bem-vindo a nossa primeira aula. A partir de agora, faremos


uma introdução à história da alfabetização, conceituando-a através dos anos,
partindo da pré-história até a atualidade.
Veremos também as muitas discussões que levaram aos avanços no
campo educacional, como formas de ensinar e desenvolver no aluno a
autonomia em construir seu conhecimento, assim como no conceito de
letramento que será amplamente abordado dentro do tema e, também, o que
podemos considerar como descasos e retrocessos diante das possibilidades
dentro da alfabetização.
Bom estudo!
Quando pensamos no termo alfabetização, podemos relembrar do
momento de nossa entrada na escola como alunos do sistema de ensino que
compreende os anos iniciais da educação básica.

Qual lembrança se tem do primeiro contato com a leitura e a escrita,


seriam lembranças boas ou lembranças traumáticas de alguma
dificuldade em aprender, de não acompanhar os demais colegas ou
mesmo da necessidade de desistir da escola por motivos financeiros ou
familiares?

De fato, prezado estudante,


remeter-se ao período da
alfabetização é lembrar do
momento de escola e sala de
aula, de quando ainda
pequenos, de alguma forma,
sentamos em uma cadeira,
conhecemos nossa
professora, demais amigos e
Fonte: Deposit Photos (2018) os mais variados símbolos
colados pelas paredes, presos
por grampos em pequenos varais ou mesmo escritos um a um no quadro com
giz.
Símbolos esses que, no decorrer dos dias, com atividades lúdicas ou
bastante mecânicas, deixavam aos poucos de serem apenas símbolos,
tornavam-se mais íntimos, apresentavam-se como letras com sua grafia exata,
dissociando depois entre letras e números, sons e quantidades. Criavam sons
específicos, depois se juntavam a mais letras formando mais sons e, como
mágica, destes sons formavam-se novas palavras, ainda pequenas e simples.
Depois, como em um jogo, apareciam novas etapas, destas palavras curtas,
aparecia o treino cada vez mais complexo para a formação de palavras mais
extensas e o uso do conjunto de todas elas para formação de pequenas frases
e depois a produção de textos.
Essas lembranças diferem-se de pessoa para pessoa, como podemos
observar nas palavras a seguir, de Graciliano Ramos (1953):

Diante das diferentes lembranças que podemos ter de nossa própria fase
da alfabetização, aparece a primeira noção do quanto as formas de se alfabetizar
acontecem, suas interfaces, a questão sociocultural e econômica que a
permeiam e as várias concepções originadas nas últimas décadas, além das
críticas referentes ao processo de alfabetizar ou mesmo a distância existente
entre ensinar e aprender.
Estudante, você conhecerá a amplitude deste processo no decorrer deste
estudo.
Alfabetização, uma reflexão sempre necessária

Figura 1.1: Estudantes em processo de ensino-aprendizagem

Fonte: Deposit Photos (2018)

Ao pensar em alfabetização, é preciso primeiramente, lembrar o que é


trabalhado nesta etapa de ensino; logo é possível chegar ao entendimento de
que no processo de alfabetização é trabalhada a aquisição e produção da
linguagem oral e escrita.
Ao falar de linguagem é importante saber que ela é um dos principais
fatores que diferem os seres humanos dos demais animais. A capacidade de
comunicação, o uso social da linguagem e a produção de diferentes formas de
usá-la é o que lhe propiciou grandes descobertas e sua própria evolução.

Agora você pode estar se perguntando, qual a relação entre a evolução


da espécie humana a alfabetização e sua reflexão?
O fato é que o homem foi capaz de produzir ao longo do tempo a
linguagem como forma de perpetuação de sua espécie, história, descobertas e
até mesmo sobrevivência. Como toda produção humana, a linguagem foi
desenvolvida a partir de necessidades pré-existentes; assim como a descoberta
do fogo é um marco importante na história da humanidade, a necessidade de
comunicação entre os indivíduos e a criação da linguagem seja ela oral, escrita
ou mesmo desenhada nas paredes das cavernas marca o primeiro passo dado
para algo que exige uma reflexão permanente dos processos de ensino e
aprendizagem da linguagem.
Proponho a você uma reflexão rápida comparando os itens que temos
atualmente, com o que tínhamos antigamente.

Reflita, por exemplo, comparando os antigos aparelhos de telefone, os quais a


única função e de extrema importância e descoberta para a época era a de
ligar e conversar a distância com a pessoa no outro lado da “linha”, aos atuais
e requisitados celulares com acesso a inúmeros aplicativos que cada vez mais
são atualizados, conforme a evolução da tecnologia.

Quantas utilidades evoluíram com o passar dos anos? Evoluíram com a


capacidade de criação humana diante de suas necessidades. Diante desta
perspectiva, o que temos para dizer a respeito da educação, do processo de
aquisição e uso da linguagem?

O indivíduo que temos hoje no processo de alfabetização tem as


mesmas condições e necessidades daqueles de uma década ou
século atrás?

Atualmente temos uma constante mudança e aceleração do uso da


informação, do acesso a ela por meio da comunicação e da linguagem. Neste
âmbito, a alfabetização precisa passar pelo processo de reflexão a todo tempo,
permitindo a ela a adequação correta às diferentes formas de se ensinar e
aprender.
O que define a alfabetização

Figura 1.2: Estudante em processo de assimilação de observações

Fonte: Deposit Photos (2018)

É verdade que a criança desde a sua formação faz observações do mundo


ao seu redor, isso ocorre a partir da compreensão da linguagem como forma de
comunicação. Nos primeiros dias de vida, ao identificar uma voz já conhecida,
ela é capaz de acalmar-se e sentir-se mais segura. Com o passar dos meses,
faz observação da linguagem oral transmitida entre as pessoas, sendo capaz de
tentar, por imitação, o balbuciar de alguns sons e ver que, desta forma, consegue
ser ouvida, atendida ou até mesmo interpretada.
Com o exemplo da linguagem como interação e interpretação, mesmo de
um ser ainda tão imaturo, é possível compreender a importância desta na
colocação do indivíduo dentro de uma sociedade. Não falo da linguagem formal,
adquirida na escola, na leitura de artigos e textos informativos, mas sim da
própria linguagem materna, ou seja, aquela que é adquirida dentro do convívio
social da criança em questão. A criança aprenderá a linguagem conforme sua
família ou comunidade.
Diante da linguagem materna, esta que é natural da criança, surge os
primeiros contrapostos e discussões a respeito da alfabetização. Qual a melhor
forma de ensinar e qual o melhor método diante de tantos?

 Você saberia apontar qual método trabalharia em uma turma de


alfabetização?
 Será que existe uma única forma de ensinar totalmente eficaz na
alfabetização ou mesmo uma receita pronta para aplicar?

Soares (2013) aponta o conceito de alfabetização como o processo de


aquisição do código escrito. Segundo ela, não se constatou nenhum método
pedagógico coerente que juntasse a decodificação do código escrito, ou seja,
decifrar o alfabeto, conhecendo e diferenciando letras e números, da capacidade
de compreender o que se lê e escreve.
Desta forma, o conceito de alfabetização se dá pelo ato mecânico de
aprender gradualmente as letras do alfabeto, separar as vogais, juntar sons e
formar palavras. Depois de dominar o código alfabético, conseguir transformar o
que se fala ou se ouve em linguagem escrita e também transformar o que se
escreve em linguagem oral.

Prática de Alfabetização no Brasil

Ao adentrar um pouco sobre como se desenvolveram os processos de


ensinar e alfabetizar no Brasil, é possível observar as várias interfaces as quais
a educação brasileira passou neste período, até as práticas e teorias que
conhecemos e utilizamos atualmente. Até mesmo você estudante, já tendo ou
não um pouco da prática pedagógica, pode defender ou criticar alguma forma de
ensino, pode se familiarizar com alguma em especial.
As primeiras práticas de ensino brasileiras se baseavam na decodificação
e memorização como ferramentas de ensino. É importante ressaltar as antigas
e famosas cartilhas tão utilizadas por professores da época, como as conhecidas
“Caminho Suave”, “Cartilha Sodré”, “Método da Abelhinha”, dentre outras. Por
mais que muitos se refiram a elas com críticas, é válido verificar a sua
participação na história das práticas de alfabetização.

Clique aqui para ver a cartilha de alfabetização “Caminho Suave”, que


ainda é impressa e distribuída atualmente.

Se você analisar uma dessas cartilhas e métodos de ensino com base na


memorização, verá que tal prática não favorece a participação do aluno no
processo de ensino-aprendizagem. Temos dentro dela a visão do aluno como
verdadeira “tabula rasa”, ou seja, um papel em branco, em que era permitido
somente transferir a ele informações já previstas dentro de determinado currículo
e plano de estudo, sem que houvesse a valorização dos próprios conhecimentos
do aluno.

Independentemente da faixa etária e do nível de ensino em que o aluno


esteja, ele tem conhecimentos adquiridos no decorrer de sua vida,
sejam eles por meio de observações ou vivências, os quais interferem
em sua aprendizagem e devem ser valorizados dentro da prática pedagógica.

A prática, a qual não favorece a participação do aluno nas aulas, não


permitindo que ele questione e pontue conhecimentos que agreguem o
aprendizado, gera desmotivação do aluno com o decorrer do tempo. Esse aluno,
que antes esperava ansioso a capacidade de decodificar aquele código
alfabético, passar a ler, mas poderia esperar pelo que depois de aprender a
decodificar?
Conteúdos descontextualizados de suas vivências, os quais não
instigavam a procurar saber mais ou mesmo, não agregavam valor dentro do seu
próprio cotidiano.
Na década de 80, após muitos anos sem conseguir concluir um método
que funcionasse de forma efetiva com todos os alunos, temos no Brasil, a
inserção dos estudos trazidos por Emília Ferreiro e Ana Teberoski. Com
ramificações na psicologia e muita observação nos estudos de Jean Piaget,
conceituado nome dentro do campo da psicologia da educação.
Emília Ferreiro propõe uma mudança de foco dentro dos processos de
ensinar, enxergando o aluno como agente ativo de sua aprendizagem e não só
receptor de informações como era tratado até então.

A partir dessa percepção, inicia-se um novo olhar para o aluno, que passa a
ser reconhecido como estudante, capaz de interferir e produzir o próprio
conhecimento. É importante observar que não fora desqualificado o papel do
professor, o que na verdade passou a ser reconhecido, é que ambos, professor
e estudante, exercem papel fundamental na aprendizagem.

Importante ressaltar a necessidade da reflexão a respeito da alfabetização


como prática de ensino e aprendizagem. Se passamos por um tempo que pouco
se observaram mudanças e progressos relacionados ao ensino, temos com o
passar dos anos uma mudança de foco, o qual observa e valoriza além do ensino
a forma como se aprende. Logo, é retirado do professor a única responsabilidade
nesse processo, onde o educando somente recebe informações, decodifica,
memoriza e pouco as utiliza para suas vivências.
Desta forma, ensinar a ler e a escrever são responsabilidades que
preocupam e assustam a princípio, como diz CARVALHO (2013). Não existe
uma receita pronta para se ensinar, assim como também não existe uma única
forma de aprender! É dentro dessa perspectiva que podemos pensar no papel
do professor como alfabetizador.
Mais que decodificar letras, juntando-as em sílabas e depois formando
pequenas palavras desconexas entre si, como, por exemplo, “A vovó viu a uva”,
presente por muitos anos nas formas de ensinar, é necessário ensinar para a
vida, para a sociedade em questão, para o contexto em que está inserido cada
aluno, seja este, criança, jovem ou adulto.
Para isso, o professor precisa conhecer seu aluno, suas particularidades,
visto que, pessoas são diferentes, com características, personalidade,
facilidades, dificuldades e formas e tempos diferentes de aprender. Quando
existe o conhecimento e a conscientização dessas diferenças, começa-se a
tratar a educação, o professor e o aluno com mais respeito e seriedade, fazendo
com que haja uma busca por novas práticas que atendam melhor às
necessidades que surgem.
O que precisa estar sempre ativo no pensamento de quem realiza a
prática pedagógica é a capacidade de observação dos contextos e necessidades
presentes nos sistemas de ensino e na sociedade.

Além de respeitar os tempos de aprendizagem, o conhecimento do


contexto em que alunos estão inseridos, faz parte do planejamento e
atuação do professor em sala de aula, visto que, nem todas as pessoas
fazem parte da mesma cultura, da mesma posição social e financeira ou mesmo
faixa etária.
Diante disso, é preciso que o professor tenha consciência da necessidade
de planejar o que ensina, não somente visando a organização e sistematização
de cada conteúdo, mas sim a reflexão do que será preparado para esta aula,
para quais estudantes ela será objetivada. Ao pensar no estudante o professor
exerce a capacidade de empatia, ou seja, se coloca no lugar deste individuo,
pensando em quais suas dificuldades, habilidades e necessariamente, formas
de instigá-lo a buscar mais sobre o assunto que será trabalhado.

Empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro. Significa a


capacidade psicológica para sentir o que sentiria outra pessoa caso
estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar
compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma
objetiva e racional o que sente outro indivíduo.

Por que ser alfabetizado?

Figura 1.3: O aluno como agente ativo de uma educação libertadora

Fonte: Deposit Photos (2018)


? Por que é preciso frequentar a escola?
Por que é preciso de alfabetização? ?
As respostas para essas perguntas variam de pessoa para pessoa, num
primeiro momento é possível sanar essas dúvidas logo na infância, quando,
rapidamente, no pensamento de criança, lembramos de que vamos para a
escola por ordem de nossas famílias, mas não seria possível aprender a
decodificar o código alfabético em nossas casas, com os próprios familiares?
Como você viu, a linguagem é adquirida desde o nascimento da criança.
Mesmo antes de ter o contato com a escola, a criança já participa do universo
letrado e ela pouco a pouco faz observações das escritas a sua volta, faz a leitura
de símbolos, rótulos de produtos já conhecidos ou mesmo a familiarização com
as letras de seu nome e demais familiares. No entanto, não se pode afirmar que
só por esse conhecimento adquirido que ela esteja alfabetizada.
A escola e o professor exercem papel fundamental na formação global do
estudante, atuando como mediadores do conhecimento. É no espaço escolar
que são proporcionadas as trocas de culturas, de conhecimento, de vivências e
até mesmo das próprias diferenças entre um indivíduo e outro. A partir dessas
trocas que se dá o enriquecimento do que é aprendido pelo estudante, em uma
classe de alfabetização, por exemplo, a troca de conhecimento entre uma
criança que já aprendeu um pouco mais pode ser compartilhada com as demais
que ainda não têm o mesmo intelecto.

É fato que as crianças aprendem umas com as outras, o ser humano


aprende com o outro; diante disso, é dada a importância de
proporcionar espaços que ampliem os conhecimentos e as trocas entre
os alunos.

Assim como podemos pensar em uma turma de intercâmbio com o


objetivo de adquirir uma língua estrangeira, em que as pessoas ali envolvidas
vão praticar e aprender com essas trocas de experiências, da mesma forma deve
ser pensada qualquer etapa de ensino.

Fonte: Deposit Photos (2018)

O direito de frequentar a escola não esteve sempre presente na vida da


população, como vimos anteriormente, a educação evoluiu a partir de novas
necessidades presentes no mundo. O Brasil mostra um extenso passado de
descaso com a educação, heranças que estão presentes em muitas
características do ensino brasileiro.
O direito de acesso à educação escolar foi conquistado aos poucos e por
muito tempo somente para atender a fins políticos e comerciais. Caminhou
juntamente com os progressos sociais, a abolição da escravatura, o direito das
mulheres e a chegada da industrialização. Com isso, houve um aumento
gradativo no número de alunos nas escolas, principalmente com a chegada da
industrialização no país, a qual originou grande migração da população das
zonas rurais para as zonas urbanas. Uma grande parcela da população que até
então não havia pensado na necessidade da alfabetização em suas vidas, se viu
pressionada a ter este pré-requisito para conseguir um emprego e garantir sua
subsistência nos grandes centros urbanos.
Por muito tempo imperou a visão de que a escola servia para o preparo
de um indivíduo para o mercado de trabalho, ou seja, era necessário ensinar as
pessoas a decodificar o alfabeto e seu uso na formação de palavras e, a partir
disso, fazer a leitura de pequenas comandas, placas ou a realização de
operações simples da matemática para o cotidiano. Para essa função existiam
as antigas classes chamadas “classes de instrução” cujo objetivo era bastante
notório: preparar o aluno para operar uma máquina e fazer parte da linha de
produção de uma empresa.

Clique aqui para assistir ao vídeo de Viviane Mosé falando sobre a


escola de massa.

O número de alunos para serem alfabetizados aumentou


consideravelmente, ter acesso à escola passou a ser tratado como direito de
todo cidadão e apesar de a palavra “direito” soar agradavelmente, é preciso
refletir com que qualidade a população teve acesso à educação.
Ser alfabetizado poderia significar também que além de estar apto ao
mercado de trabalho, o indivíduo poderia votar e ajudar a eleger seus
representantes políticos.

Qual a condição de uma pessoa que aprendeu apenas a decodificar


o alfabeto tem para buscar mais conhecimento e participar das
decisões de seu país, isto é, qual a condição dessa pessoa que foi
instruída para o mercado de trabalho e passa o seu dia operando maquinários
tem de buscar mais conhecimento?
Diante da crescente demanda de alunos no sistema de ensino e da sua
ineficiência em formar além da alfabetização, milhares de pessoas são formadas
pela escola sem adquirir a real condição de aplicar o que aprendeu em sala de
aula, sem a aptidão para produzir e compreender pequenos textos.
Compreende-se que a função da escola vai além do ensino da
decodificação e uso do alfabeto, da instrução de conteúdos desconexos do
contexto dos alunos, do estudo dos quocientes e equações matemáticas, é
preciso fazer com que os alunos apliquem esses conhecimentos no dia a dia, na
vida deles.

Síntese

Nesta aula, você viu o conceito de alfabetização e sua utilização nas


práticas pedagógicas no decorrer dos anos no Brasil. Viu também qual é o papel
da escola e a nova visão a respeito de como se ensina e como se aprende, além
da importância de proporcionar ao estudante condições e estratégias de
construir seu próprio conhecimento.
A partir das próprias lembranças do tempo de alfabetização de cada um
é possível valorizar a necessidade da constante reflexão da prática pedagógica
na alfabetização, para que esta seja satisfatória e acompanhe a evolução do
próprio ser humano.

Atividades de Aprendizagem

Reflita a respeito do seu tempo de alfabetização, tentando lembrar a forma


como ela foi abordada pela instituição de ensino que você frequentou. A partir
de suas lembranças das facilidades e dificuldades com a escrita, pense em cinco
pontos negativos e cinco pontos positivos do modelo didático utilizado na sua
alfabetização.
Aula 2 – Necessidade de repensar o termo Alfabetização

Fonte: Pixabay (2018)

Para compor nossa aula sobre Concepções de Alfabetização e


Letramento abordaremos o conceito de Letramento e sua prática, pesquisado e
defendido por professores e teóricos da educação brasileira.
Necessidade de um novo conceito?

Figura 2.1: Magda Soares

Fonte: Foto de Ronaldo Guimarães / Disponível em:


<https://editoracontexto.com.br/autores/magda-soares.html>. Acesso em: 19/09/2018,
às 14h34min (fins pedagógicos).

Dentro do campo da educação e mais especificamente dentro da


abordagem da alfabetização, temos como referência Magda Soares,
principalmente por sua atuação diante das discussões a respeito das diferenças
entre alfabetizar e letrar.
O que de fato difere a alfabetização para Magda Soares é que existe na
Língua Portuguesa duplo sentido para os verbos ler e escrever. Dizer que
alguém sabe ler não caracteriza que ela adquiriu a habilidade de ler e
compreender o que leu, assim como não é possível afirmar que uma pessoa
sabe escrever simplesmente porque decifrou o código alfabético e faz a escrita
de palavras.
A habilidade de escrever se dá na capacidade de realizar diferentes
produções textuais, como ao ler um texto, saber fazer a síntese de um
texto, ser capaz de compreender e destacar os pontos mais
importantes etc.

É a partir deste duplo sentido que temos a discussão e inserção do termo


letramento como definição da capacidade do indivíduo ler, escrever e ter
compreensão do que fora lido dentro dos contextos e conclusões esperadas em
tal ação.
Leia a seguir ao poema de Kate M. Chong sobre Letramento.

O que é Letramento?

Letramento não é um gancho um bilhete de amor,


em que se pendura cada som telegramas de parabéns e cartas
enunciado, de velhos amigos.
não é treinamento repetitivo É viajar para países desconhecidos,
de uma habilidade, sem deixar sua cama,
nem um martelo é rir e chorar
quebrando blocos de gramática. com personagens, heróis e grandes
Letramento é diversão amigos.
é leitura à luz de vela É um atlas do mundo,
ou lá fora, à luz do sol. sinais de trânsito, caças ao tesouro,
São notícias sobre o presidente manuais, instruções, guias,
O tempo, os artistas da TV e orientações em bulas de remédios,
e mesmo Mônica e Cebolinha para que você não fique perdido.
nos jornais de domingo. Letramento é, sobretudo,
É uma receita de biscoito, um mapa do coração do homem,
uma lista de compras, recados um mapa de quem você é,
colados na geladeira, e de tudo que você pode ser.
Ao ler este poema você pode ter a dimensão do que é Letramento. Em
resumo, os dois últimos versos mostram o quanto ser letrado difere uma pessoa
dentro de uma sociedade, o indivíduo que lê e se apropria da leitura começa a
ter concepções e olhares diferentes dentro da sociedade em que vive, dentro de
suas escolhas e ações.
Diante da reflexão da capacidade de apropriação da linguagem falada e
escrita, viu-se a necessidade de discussão do que se caracteriza como
alfabetizar, assim como a necessidade da inclusão de um novo termo que defina
a pessoa com desenvolvimento de leitura e escrita.
Vejamos as definições que aparecem no dicionário Aurélio:

Analfabetismo Alfabetismo Letrado


Versado em letras,
erudito
Estado ou condição Ação de alfabetizar,
de analfabeto de tornar “alfabeto”.
Iletrado
a(n) + alfabet + ismo Alfabet + iza(r) + cão
Que não tem
i zar: sufixo, indica: Sulfixo ção: indica
conhecimentos
tornar, fazer com que. uma ação.
literários.

Você consegue perceber a necessidade de não só alfabetizar uma


pessoa, mas permitir a ela conhecimento do mundo em que vive?
Muitas são as políticas públicas para diminuir o índice de analfabetismo
no Brasil, como, por exemplo, campanhas como o “pacto pela idade certa”. No
entanto, o que se observa, na prática, é o ensino da decodificação do alfabeto,
a grafia das letras e a junção delas para a formação de pequenas palavras.
O Brasil reduziu em 4,3 pontos percentuais o número de analfabetos entre
os anos de 2001 a 2014, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), de 2014, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Por essa amostragem, teríamos então 2,5 milhões de
pessoas analfabetas a menos em relação a 2001.
Esses números podem parecer positivos, contudo, é preciso entender que
ter a capacidade de decodificar palavras dentro de uma frase ou texto não
caracteriza esse indivíduo como letrado, com domínio da leitura e escrita, tendo
compreensão do que foi lido.
Segundo Carvalho (2013), a análise desses dados se torna ainda mais
desfavorável quando compreendemos que quanto maior o número de pessoas
alfabetas, maior o índice de pessoas não letradas.

Assista ao filme “Central do Brasil” e tente relacionar as condições da


personagem ao analfabetismo e acesso à educação.

Surge então a necessidade de um novo termo que defina a pessoa que


saiu da condição de analfabeta, mas não desenvolveu conhecimento linguístico
capaz de utilizar da leitura e escrita para mudar sua condição dentro da
sociedade.

Exemplo:
O sujeito que entra para as estatísticas como pessoa alfabetizada pode ser o
mesmo que apresenta dificuldade em atividade simples de leitura simples, como
a leitura de um anúncio de compra ou venda de um item de uma página de mídia
social.
A capacidade de compreensão do que se expressa no pensamento de
quem fala ou daquele que escuta resulta no que é definido por letramento. Logo,
temos definido que alfabetização se caracteriza pela ação de ensinar ou
aprender a ler e escrever, enquanto que letramento é a condição daquele que
além de saber ler e escrever ainda as pratica dentro da sociedade, se dedica às
práticas de leitura e escrita, é capaz de ler, interpretar e produzir leituras e
escritas de maneira a serem compreendidas.
Com a definição de letramento não temos somente o ganho de mais uma
palavra ou conceito, temos um novo olhar sobre o estudante e novas
responsabilidades. É enxergar o contexto que ele está inserido; quais as suas
necessidades, identificar o que já alcançou dentro da leitura e escrita e oferecer
oportunidades e condições para que este continue se desenvolvendo.
Diferente do termo alfabetizar, o conceito letramento apresenta
questionamentos a serem observados, pois não temos como concluir que o
indivíduo já completou o processo de letramento; por exemplo, existem pessoas
que no decorrer de sua aprendizagem já conseguem escrever ou interpretar um
bilhete ou uma pequena mensagem, mas ainda sentem dificuldade em
compreender um artigo de jornal. Ler e escrever envolve um conjunto de
habilidades a serem aprendidas e desenvolvidas constantemente.
Segundo Soares (1998, p. 47),
Qual a idade certa para a alfabetização e letramento?

Diante das discussões sobre a necessidade de letrar além do alfabetizar,


chegamos a mais um ponto: a partir de quando começar a trabalhar o
letramento?
Em 2013 foi lançado, no Brasil, o PNAID (Pacto Nacional pela Idade
Certa) em resultado do que constatou o Censo de 2010: 15,2% dos alunos
matriculadas no terceiro ano do Ensino Fundamental ainda não sabiam ler ou
escrever.
Portanto, são crianças que frequentam a escola e, apesar da idade, ainda
não apresentam domínio do código escrito, ou seja, ainda não foram
alfabetizadas.
A proposta do Pacto Nacional pela Idade Certa era de que, em até três
anos a partir do seu lançamento, 100% das crianças em idade escolar
estivessem alfabetizadas ao final do terceiro ano do Ensino Fundamental, isto é,
até os oito anos de idade. Veja o trecho da Resolução nº 12, de 8 de maio de
2013:
É certo que a educação é um direito a todos os cidadãos, no entanto, ela
precisa ser efetiva e realizada com qualidade. Quando entendido que é preciso
respeitar o contexto em que cada cidadão está inserido, abre-se a oportunidade
de observar um pouco mais o aluno que ingressa nos primeiros passos da leitura
e escrita.
Ao desenvolver a prática pedagógica em sala de aula é preciso olhar do
ponto de vista do aluno. As crianças nos surpreendem com sua capacidade de
assimilar e criar informações, fazer conexões com fatos vividos, falas ouvidas
para tentar chegar à conclusão de algo que seja desconhecido delas. Muitas
vezes, muito mais criativos que nós adultos, que já consideramos ter uma boa
experiência de vida.

Fonte: Unslash (2018)

Assim acontece com exemplos simples do dia a dia, em que o aluno


compreende que um conjunto de letras (às vezes por suposição, números
também) formam alguma palavra e que aquilo que se escreve pode ser lido ou
falado. Desta forma, em sua tentativa de fazer parte do mundo letrado, junta seus
conhecimentos prévios com aquele desafio de ler as desconhecidas letras.
Surge então o que nós, pessoas já familiarizadas com aquele mundo de letras e
leituras, podemos chamar de “adivinhação”.

O indivíduo aprende a ler ainda antes de ser alfabetizado.

Da mesma forma que a criança aprende a ler por meio de assimilação,


também é esse o processo com o adulto, ele utiliza as ferramentas de
comunicação que tem para aprender; ele faz assimilações e suposições,
conectando imagens familiarizadas a palavras conhecidas naquele contexto e
assim, entre acertos e erros, constrói sua comunicação com o mundo.
Portanto, cabe ao professor mediar e valorizar as tentativas de cada
estudante nesse processo de ensino e aprendizagem, observar de que ponto de
vista o estudante formulou determinada tentativa, estimulando a participação
efetiva do estudante em seu aprendizado.
Explorar o ponto de vista e as experiências entre os estudantes estimula
e desenvolve a confiança e a autonomia em cada um, fazendo com que o
ambiente escolar seja um facilitador da aprendizagem e um espaço de trocas de
vivências em que não se aprende só o que o professor planejou ensinar, mas
sim o que ambos construíram juntos.

Você sabia que estimular a participação do estudante na construção


da aula não representa mudar o que foi planejado para aquele estudo?
Essa prática desenvolve a autonomia no estudante e também sua
confiança no aprendizado.

O professor pode traçar estratégias que busquem a participação ativa de


cada estudante, não importando a faixa etária em que estejam. Vamos aos
exemplos!
 Uma pesquisa é uma ótima estratégia. Desde recorte de figuras,
para crianças, até pequenas pesquisas, para os maiores.
 Pequenas ações que despertem o interesse do estudante ainda
antes de ele estar no ambiente escolar.
 Ao trazer aquele item pedido, por exemplo, o professor pode
orientar que, em determinado dia, todos deverão observar o
caminho de ida para a escola e trazer algo que encontrou. Os
objetos trazidos poderão variar entre: pedras, folhas, grãos de areia
e até mesmo um reciclável que não deveria estar jogado na rua.
Com os itens trazidos, são inúmeras as formas que poderão ser
utilizados, desde catalogar os itens, até mesmo uma conversa
sobre a importância de separar o lixo.

Falar de mudar o foco do ensinar para como se aprende não se refere a


métodos melhores ou piores, diz respeito a planejar de forma que a
aprendizagem faça sentido a quem está na condição de aluno.

Leitura e escrita com sentido

Na prática pedagógica nada é imutável e fechado, vai depender do modo de


conceber o processo de aprendizagem. As mudanças necessárias para a
alfabetização inicial não se resolvem com um novo método, novos teste e
materiais didáticos. Na realidade, é preciso mudar essa imagem em relação à
escrita e à criança. A escrita é uma representação da linguagem e a criança
não é: “um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega, um
instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons”. (FERREIRO,
2001, p. 40).
A leitura e a escrita precisam ter sentido. Se aprender a ler e escrever, ou
mesmo qualquer outro conteúdo proposto no currículo escolar não fizer sentido,
ele gerará um ato mecânico de decorar o conteúdo por um curto período de
tempo. Um exemplo simples da escrita sem sentido é a cópia de textos, frases
ou mesmo palavras desconexas.
Alfabetizar visando o letramento requer desenvolver o desejo pelo que se
lê e pelo que se escreve. Saber sobre o que se lê, em que gênero textual se
enquadra, possibilitar ao estudante até mesmo reconhecer suas afinidades,
saber que está lendo um romance fictício ou mesmo ter a capacidade de ler uma
sátira ou texto com sarcasmo e saber distinguir o contexto da realidade.
Na língua portuguesa existe também o que é chamado de polissemia,
quando uma palavra pode ter dois ou mais sentidos. Imagine como fica confuso
para alguém que não tem total compreensão do que se lê, quando a palavra
luva, por exemplo, aparece com significado diferente dependendo do contexto
em que está inserida.
Outra reflexão que podemos fazer aqui é o estudante ler um livro ou artigo
de jornal e não saber diferenciar partes semânticas do texto pode acarretar na
compreensão errada ou até mesmo em o aluno não entender o que leu.
Enfim, promover o letramento significa mais do que ensinar a escrever
bem e falar bem, é possibilitar ao estudante conquistar seu espaço dentro da
sociedade, promover a liberdade de pensamento para que ele tenha autonomia
de buscar conhecimento.

1. Leia o livro “O menino que aprendeu a ver”, de Ruth Rocha. Ele


aborda a história de um menino que inicia a fase de alfabetização na
escola vai descobrindo novas letras, começando a enxerga-las dentro
das palavras e dentro do seu mundo. Aos poucos, aquela variedade de
figuras e desenhos que antes o menino via nas placas, na televisão e
materiais impressos, passam a ter significado, deixando de ser desenhos
para ser símbolos com nomes.
2. Sugiro que você assista ao filme “Aprender a aprender” e reflita como é o
processo de aprendizado do aluno por meio da observação e interação
com o contexto em que ele vive. Analise como ele pode ir mais além se
forem dadas boas condições para o seu desenvolvimento.

Síntese

Nesta aula, foram trabalhadas as definições dos termos alfabetização e


letramento. Você viu a respeito da alfabetização como decodificação e a
necessidade de se ofertar aos alunos possibilidades de liberdade a partir da
leitura, e a escrita a partir do conceito de letramento.
Você viu também a importância de o professor desenvolver estímulos no
estudante a fim de contribuir cada vez mais no processo de ensino-
aprendizagem.

Atividades de Aprendizagem

A partir da década de 90, a forma de alfabetizar utilizando as cartilhas


tradicionais de alfabetização foi amplamente discutida e criticada pelo fato de ela
não promover letramento, ou seja, não permitir que o aluno desenvolvesse
autonomia e a construção de seu próprio conhecimento. A partir do estudo desta
aula e de suas vivências, reflita a respeito de como a prática do letramento
desenvolve no educando o sentimento de pertencimento à sociedade.
Aula 3 – Considerações históricas sobre a alfabetização no
Brasil

Fonte: Pixabay (2018)

Bem-vindo a nossa terceira aula. Avançaremos um pouco mais no estudo


da história da alfabetização no Brasil, afinal, são mais de 500 anos de educação
brasileira que perpassa no mesmo contexto da formação de toda uma sociedade.
Ouve-se muito falar sobre alfabetização, métodos melhores ou piores,
retrocessos e progressos, mas de onde vieram todas essas falas?; qual seria a
importância desses dados históricos, dos erros e acertos?
Responder a essas perguntas será o objetivo desta aula.
Bom estudo!
Contextualizando

Ao estudar alfabetização e letramento, entendemos o significado do termo


alfabetização, definido como aprendizado do código escrito. O ato de ler vem a
partir da escrita, desta forma, ler se descreve como a capacidade de reconhecer
a grafia do código escrito e representá-lo a partir da fala.
A escrita surge da necessidade de comunicação entre os seres humanos,
ou seja, da necessidade de socialização do código escrito, de transmitir o
conhecimento para o outro. Temos como marco de seu início os traços
desenhados em pedras e cavernas no tempo da Pré-História, quando o homem
contava sua história, suas conquistas e descobertas usando desenhos e
símbolos pintados de forma rupestre. No entanto este registro ainda não foi
considerado como tipo de escrita, devido não conter uma organização ou mesmo
padronização.
\
O primeiro tipo de
escrita a ser
considerado foi
chamado de escrita
cuneiforme. Ela foi elaborada
aproximadamente há 4.000
a.C. pelos sumérios para
registrar o cotidiano e os
acontecimentos políticos e
financeiros em placas feitas
de argila. A curiosidade desse
Figura 3.1: Escrita Cuneiforme
tipo de escrita é que ela era
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) feita com objetos pontiagudos
em formato de cunha, dando
origem a pronúncia de seu nome, além disso, seu registro era feito sempre na
ordem da direita para a esquerda.
Ao registrar seu cotidiano, descobertas e acontecimentos, o homem
contribuiu para o desenvolvimento da civilização. Para que você compreenda
melhor, um exemplo clássico é a descoberta do fogo; a observação e as técnicas
desenvolvidas em seu manuseio permitiram que o homem tivesse controle sobre
os animais, sobre o calor em dias frios, sobre a capacidade de se guiar mesmo
durante a noite, bem como no preparo de alimentos.
Os primeiros registros de escritas foram fáceis de ser interpretado pelos
pesquisadores. Depois, por causa da evolução da escrita que eram em forma
gráficas e depois passou a outros símbolos, as interpretações foram mais
difíceis.

A escrita foi usada para representar a contagem dos anos, uma


estação para colheita, fatos ambientais, história de famílias, entre
outras.

Clique aqui para assistir ao documentário que retrata a história da


escrita.

A capacidade de saber ler o que cada símbolo representava e ser capaz


de reproduzi-lo, torna-se o primeiro significado do termo alfabetização. Temos
então um conjunto de símbolos que formam um código composto de regras e
formas de utilização.
A aprendizagem por transmissão de conhecimentos e o treino da grafia
dos variados símbolos e seus significados passaram de geração em geração.
Com o desenvolvimento das civilizações e o cultivo da terra e animais temos
mais um dado importante no que diz respeito à história da alfabetização.
O crescimento do comércio fez com que o homem procurasse cada vez
mais formas de controle de suas posses. Se em determinado momento da
história das civilizações temos como principal prática de comércio o escambo,
em uma sociedade com mais desenvolvimento são necessários outros símbolos
que produzam significado no registro e contagem de bens. A partir do código
escrito se desenvolveram outros códigos e regras até que chegamos ao que
temos hoje.

Escambo é a prática ancestral de se realizar uma troca comercial sem


o envolvimento de moeda ou objeto que se passe por esta, sem
equivalência de valor.

Aprender o código alfabético a princípio não era uma ação escolar, era
uma prática realizada em família, repassada por aqueles que tinham o domínio
sobre a leitura e a escrita. Baseava-se em regras simples, tais como:

Memorizar a grafia dos


símbolos, aprender como 1
se configurava a forma
da letra ou número. Memorizar o nome de cada
Depois saber reproduzir símbolo relacionando com o
no mesmo formato. som produzido por ele.

Juntar cada um, com objetivo


de formar palavras ou histórias. 3

Com uma análise rápida sobre o desenvolvimento da escrita até os


padrões conhecidos atualmente é possível entender sua importância para a
sociedade por meio da capacidade do homem em observar, enxergar
necessidades, interagir e criar estratégias para solucionar problemas.
Escrita além da contagem de números e registro da história

A capacidade de produzir história e a partir dela conhecimento abriu um


leque cada vez maior no desenvolvimento da sociedade, as pessoas começaram
a enxergar além da simples interpretação do código escrito. Existem mais
possibilidades a partir da leitura e da escrita, é possível viajarmos para outros
países sem sair de casa, abrir janelas mesmo em dias mau tempo, contar
histórias.
A partir da criação da máquina de imprensa, em 1430, por Johann
Gutenberg, houve uma grande difusão de modelos escritos, pois o artefato
possibilitava a reprodução de textos inteiros sem que houvesse a necessidade
de copiar palavra por palavra a mão. A Bíblia sagrada foi o primeiro livro a ser
reproduzido inteiramente, sendo vendida no idioma alemão.

Ao falar de imprensa,
provavelmente pensamos em canais
de comunicação: sejam eles de
televisão, rádio ou jornal. No
entanto, o nome imprensa foi dado
originalmente à máquina de
impressão tipográfica.

Figura 3.2: Imprensa de


Gutenberg

Fonte: © Wikimedia Commons (2018)


Os livros, antes escritos à mão, eram expressivamente caros e ficavam
sob a posse da elite da época. Com a invenção da imprensa, a produção e o
acesso a textos, livros e folhetos se tornaram cada vez mais efetivos, com isso,
a necessidade de o número maior de pessoas com a capacidade de ler e
escrever. Diante dessa necessidade, foi usado em maior escala o método de
ensinar o código escrito, já conhecido e passado de geração em geração. Assim,
o conjunto de regras para aprender o alfabeto formando palavras e sons ganha
aliados, como, por exemplo, cartilhas com exercícios de aprendizagem.

Alfabetização contextualizada no Brasil

Ao estudar a história da Alfabetização no Brasil, a primeira impressão que


você pode ter é uma instabilidade no campo educacional, devido à quantidade
de críticas aos sistemas e métodos usados ou mesmo uma incerteza de tudo o
que foi desenvolvido até então.
Olhar para a história permite avaliar vantagens e desvantagens de cada
didática ou método desenvolvido e usado, indicar suas influências nas práticas
pedagógicas atuais e extrair o melhor de cada um para desenvolver práticas que
acompanhem as necessidades educacionais.
Muitos autores destacam o descaso com a educação brasileira. Com a
chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, houve grandes mudanças, o país
que até então era habitado apenas por povos indígenas, os quais tinham sua
própria linguagem e cultura, passa a receber os portugueses já com
conhecimento, tecnologias da época e a religião cristã. Em 1549, temos a
chegada dos Jesuítas da “Companhia de Jesus” e o primeiro indício do sistema
de alfabetização, ainda com objetivo de catequização e aculturação do povo,
ensinando a eles as primeiras letras e cultura europeia, vestimentas e
socialização.
 Companhia de Jesus, A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa
fundada em 1534, por um grupo de estudantes da Universidade de Paris,
liderados pelo conhecido Inácio de Loyola. A Congregação foi
reconhecida conhecida principalmente por seu trabalho missionário e
educacional.
 Aculturação, processo de modificação cultural de indivíduo, grupo ou
povo que se adapta a outra cultura ou dela retira traços significativos. A
aculturação leva muitas vezes à desintegração de uma ou de várias
culturas, sob a influência dos contatos que se estabelecem entre os seus
integrantes.

Por cerca de 200 anos a alfabetização jesuítica foi voltada ao público


masculino, índios, seus filhos e filhos de colonos, ao mesmo tempo em que tinha
o objetivo de alfabetizar para converter os índios à religião católica. As mulheres
não tinham acesso às classes de instrução e eram educadas somente para a
vida doméstica e religiosa.
Os jesuítas desenvolveram um sistema de ensino elaborado com regras
e o expandiram em várias casas de acolhimento, conhecidas por “escolas de ler
e escrever”.
No decorrer de todo o século XIX e nas primeiras décadas do século XX,
o termo mais comum para designar o ensino das primeiras letras, como também
todo o processo de escolarização, era instrução. Os jesuítas seguiam um
documento curricular, o Ratio Studiorium, o qual constava o ensino da gramática
média, da gramática superior, das humanidades, da retórica, da filosofia e da
teologia.
Figura 3.3: O Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Plano e
Organização de Estudos da Companhia de Jesus), normalmente abreviada
como Ratio Studiorum

Fonte: © Wikimedia Commons (2018)

O ensino ficava dividido entre as “escolas de ler e escrever”, onde eram


ministradas as primeiras instruções, ou seja, as primeiras letras e noções de
boas maneiras. Posteriormente, para aqueles que tinham condições financeiras,
existiam os colégios, instituições de ensino também jesuítas em formato de
seminário, onde era ensinado: Moral, Filosofia e Línguas Clássicas. Depois,
podia-se estudar Teologia, Direito ou Medicina na Universidade de Coimbra,
dirigida pelos jesuítas.
A partir do ensino das letras, começava a se formar no país a
hierarquização da sociedade brasileira, pois tinha acesso e continuidade ao
ensino das letras somente aqueles que tinham posses, sendo assim, de forma
planejada pelo governo, poderiam ter mais chances de prosperar aqueles que
podiam pagar pelo acesso à educação.
Em 1759, houve o término da educação jesuíta no Brasil, por ordem do
Ministro de Portugal, Marquês de Pombal, os padres da Companhia de Jesus
tiveram suas “escolas de ler e escrever” destruídas, bem como todo material de
ensino que haviam produzido. A partir disso haveria a remodelação do ensino no
país, colocando disciplinas mais práticas e apresentando um modelo de escola
pública.

No entanto, o resultado com a expulsão dos jesuítas foram anos de


desorganização do sistema de ensino e maior segregação da população mais
pobre e indígena, que ficaram praticamente de fora dos planos de
alfabetização. Além da falta de investimentos na construção de novos prédios
para abrigar as escolas, que passaram a ser na casa dos próprios
professores contratados para ministrar as disciplinas.

Em 1808, com a chegada da família portuguesa ao Brasil, temos um


marco importante que coloca a educação como lei no país, apesar disso, poucos
foram os investimentos para que ela de fato ocorresse. Priorizou-se
principalmente a formação da elite brasileira com colégios de ensino superior e
até mesmo a formação fora do país, ao contrário disso, a maior parte da
população ficou perdida e o cenário educacional desorganizado, em que até
mesmo os professores passaram a ser responsáveis pela complementação de
sua formação, segundo os novos requisitos exigidos.
Em 1827, após a Independência do Brasil, entra em vigor a primeira lei
brasileira que tratava exclusivamente da educação, decretava que haveria
escolas em todas as cidades mais populosas para o serem ensinadas as
primeiras letras de forma pública e gratuita.

Art. 1.º – Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverá escolas
de primeiras letras que forem necessárias.
BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. In: LIMA, N. dos S. Um século de ensino primário.
Natal: Typografia d’A República, 1927.
Outro fato importante para ser destacado pela inserção desta lei é o
primeiro passo para o acesso das meninas às escolas, não para o aprendizado
das letras a princípio, mas para as práticas domésticas.

Art. 11.º – Haverá escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas,
em que os Presidentes em Conselho, julgarem necessário este
estabelecimento.
BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. In: LIMA, N. dos S. Um século de ensino primário.
Natal: Typografia d’A República, 1927.

A criação de leis que garantissem o acesso às primeiras instruções é


considerada como avanço para o momento histórico do país, no entanto, o
contexto político e econômico que vinha de Portugal e mesmo depois da
Independência não foi favorável a avanços ou mesmo preocupação com a
educação brasileira. Por anos, o cenário continuou quase o mesmo, resumido
novamente à falta de investimento em estrutura e material pedagógico, falta da
elaboração de um currículo que atendesse as necessidades educacionais e
favorecimentos para classes nobres.
Em 1889, temos a Proclamação da República do Brasil, instaurada logo
após a abolição da escravatura de 1988. A partir de então a escola assume
importante papel como instrumento de modernização e progresso da nação.
Nesse contexto, surgem as novas tecnologias trazidas pela Revolução Industrial
que ocasionam uma grande movimentação nas formas de trabalho e na vida da
sociedade.

Escola para todos

Depois de séculos de descaso com a educação, promover uma mudança


que atingisse a grande maioria da população tornava-se algo cada vez mais
difícil, contudo, em pouco tempo a demanda nas escolas mais que multiplicou.
Faltavam ainda escolas, professores, material e, inclusive, uma forma de
alfabetização eficaz.
Assim chegamos ao século XXI, com cerca de vinte milhões de analfabetos,
aos quais se somam outros tantos cidadãos com apenas rudimentos de leitura
e escrita. No entanto, espera-se que os trabalhadores urbanos das funções
mais modestas tenham no mínimo condições de ler e entender avisos, ordens,
instruções. Para as funções qualificadas, exigem-se pessoas capazes de usar
a leitura e a escrita para obter e transmitir informações para comunicar-se,
para registrar fatos. Daí a responsabilidade da escola, especialmente da
escola pública, de oferecer oportunidades de alfabetização e letramento a
todos. (CARVALHO, 2011)

Até então a alfabetização era destinada a uma pequena parte da


população, além disso, era feita por cartilhas e memorização de conteúdos. Esse
mesmo método, como você já viu na aula anterior, era ineficaz quanto à
construção da aprendizagem do aluno. As chamadas cartilhas de alfabetização
tiveram seu papel na alfabetização ou pelo menos na apresentação do código
escrito, no entanto eram estáticas quanto às novas necessidades da sociedade.
Em um contexto de Revolução Industrial, tinha-se também uma revolução
no mercado de trabalho, mas sem trabalhadores capazes de suprir a demanda.
A maioria dos campos de trabalho advinha das grandes fazendas, com destaque
para a grande produção de café no país.

Figura 3.4: O motor a vapor foi


essencial para aumentar a produção
das máquinas

Fonte: © Wikimedia Commons (2018)


Para os requisitos dos novos campos de trabalho, não bastava apenas ter
força braçal, era exigido que o trabalhador apresentasse um mínimo de
entendimento e compreensão de comandas, isto é, leitura e escrita básicas.
O cidadão que até então não percebia a importância de saber ler e
escrever, por não ter tido contato com a linguagem escrita, se vê diante da nova
necessidade intelectual. Logo, se inflam as salas de aula com jovens e adultos
que nunca tiveram contato com as letras. Em primeira instância, você pode
pensar que, enfim, fora dada importância ao cidadão e seu acesso à leitura e à
escrita, infelizmente o que poderia ser um bom dado estatístico para o país torna-
se um grande problema e pauta de muitas discussões a respeito das formas de
ensinar.
O incentivo à educação e ao trabalho voltado às pesquisas nesta área
foram escassos no decorrer da história da educação até então, e, assim, as
escolas da época esbarraram em um problema sem saber a forma de solucioná-
lo. O trabalhador braçal que veio em grande parte do campo tentava uma
colocação no mercado de trabalho, e mais do que isso, condições de se instalar
na cidade. A realidade do trabalhador era ir à classe de alfabetização depois de
longas e exaustivas horas de trabalho. Ao chegar à escola, tinham contato com
as cartilhas descontextualizadas de sua realidade, com ensinamentos didáticos
baseados no “Ba Be Bi Bo Bu”.
Parte dos alunos compreendia o código escrito e, logo, começaram a
utilizá-lo em seu cotidiano, incluindo a compreensão de comandos no local de
trabalho. Contudo, era grande a parcela dos alunos que deixavam a escola sem
conseguir compreender a leitura escrita.
Sem valorizar a educação, sem pesquisas e novas didáticas, o centro do
problema existente passou a ser a forma como o professor ensinava. Deu-se
início a várias discussões avaliando os métodos utilizados na época.
Síntese

Nesta aula, você pôde saber um pouco mais do cenário histórico que se
constituiu a alfabetização no mundo, valorizada a partir da escrita primitiva até a
constituição do código escrito e sua socialização. Vimos a história da
alfabetização, assim como as formas de ensinar desenvolvidas no Brasil até
meados da década de 90.
Você viu que muito do atraso tido na educação atual é herança de um
extenso período de abandono e descaso com a situação educacional, pouco
investimento em ensino público, assim como, por muitos anos, não quererem a
ascensão das classes mais desfavorecidas.

Atividades de Aprendizagem

Você viu, nesta aula, alguns dos descasos com a educação brasileira De acordo
com o que aprendeu, o que precisaria ser feito para que tivesse educação com
qualidade para todos os cidadãos?
Aula 4 – Métodos de alfabetização utilizados no Brasil

Fonte: Deposito Photos (2018)

Nesta aula, você vai ver quais são os métodos de alfabetização utilizados
no Brasil desde o período colonial até as formas sugeridas e usadas atualmente.
Estudaremos a importância e o reflexo desses métodos na educação atual, de
acordo com os estudos de importantes nomes da educação.
Métodos de alfabetização

Vamos iniciar a aula refletindo: o que são métodos de ensino e o quão


distante eles são de nossa vivência?

Método, normalmente nos remete a algo organizado, que possa ser


padronizado e seguido. Na ação de alfabetizar, é muito comum utilizar
sequências de ações caracterizadas no método tradicional, recorrendo à
memorização e treinos até que se alcance o objetivo de identificar as letras,
depois saber reproduzi-las e, por fim, juntá-las formando palavras.
Essa forma de ensinar foi permanente por séculos no Brasil, utilizada
desde o modelo jesuíta, tendo continuidade nas cartilhas e ainda presente, em
partes, no ensino atual. Conhecendo um pouco mais de como se configura cada
método, você poderá elaborar suas críticas e visão sobre a forma de alfabetizar.

Método Sintético

O método sintético parte de um grau de dificuldade considerado menor


para o entendimento de quem está iniciando o aprendizado da leitura e da
escrita, por isso pode, a princípio, ser colocado como um dos mais rápidos,
simples e antigos métodos de alfabetização.

Sintético: criado de maneira resumida. Tende a ser artificial.

Neste método, parte-se do ensino das estruturas menores de uma palavra


para, então, progressivamente, elevar os níveis de dificuldade até chegar à
leitura e à escrita.
Dentro do sistema de progressão, o estudo é iniciado pelo
reconhecimento das vogais; depois, consoantes; junção para a formação de
sílabas; e a formação de palavras. Existe a fixação do som e da grafia de cada
letra; depois, de cada sílaba, até que sejam compostos o alfabeto e as “famílias
silábicas” em seus vários formatos, conhecidos por:

Bastão /
Caixa-alta

Cursiva
Maiúscula Letra Script

Cursiva
Minúscula

Tendo o domínio dos sons pertinentes a cada letra, independentemente


do formato a qual ela esteja, o aluno pode começar a juntá-las para a formação
de sílabas e pequenas palavras. Apresar da decodificação das letras e da
capacidade de formação de palavras, a produção e a leitura de textos ainda
ficam em grau mais elevado e de maior complexidade dentro deste formato de
ensino.
Ao aprender pela decodificação de pequenas partes, o aluno se
condiciona a ter sempre a mesma linha de pensamento em que B mais A
resultará sempre em BA, limitando a criação ou mesmo a leitura de outras
palavras com maior complexidade, como, por exemplo, na palavra “BRAsileiro”,
até que o professor explique essa nova etapa.
A leitura iniciada pelo método sintético é normalmente mais pausada, não
pelas vírgulas ou pontos, mas pelo processo de assimilar o som fragmentado por
silabas.
Na contramão das críticas ao método sintético, temos um aluno com bom
reconhecimento da grafia e ortografia, devido às repetições e treinos até atingir
a capacidade oral e escrita.
Fazem parte do método sintético:

Alfabético: o mais antigo e conhecido método de alfabetização no Brasil,


muito popular pelo uso das cartilhas de alfabetização. Seu estudo é iniciado pelo
conhecimento das letras do alfabeto e suas junções silábicas, seguindo a ordem
alfabética.

Clique aqui para ver primeira cartilha a abordar o método alfabético.

É conhecido também por método da soletração, por compor partes


pequenas de uma palavra, fazendo a leitura soletrada e depois silabada até que
se tenha domínio total da leitura.

Fônico: bastante presente nos sistemas educacionais da Europa e


também no ensino americano, o método fônico diferencia-se pela relação direta
entre fonemas e grafemas, ou seja, entre o som da fala e a escrita, existindo o
entendimento de que o que é falado também é escrito. Neste sistema, são
apresentados antes os sons das vogais em suas diferentes pronúncias; depois,
as consoantes, tratadas aqui como letras auxiliares das vogais.
Se aliado com mais formas de alfabetização, o método fônico tem uma
participação efetiva no entendimento da composição das palavras, trabalha o
percurso do som emitido por cada letra na boca, mostrando o movimento de
lábios e língua, como demonstrado na imagem a seguir.
Figura 4.1: Ilustração representando a posição da língua ao emitir vogais

Fonte: © Wikimedia Commons (2018)

Silábico: pode ser considerado o método mais utilizado nas escolas


brasileiras, defendido por ser de fácil compreensão, pois inicia o trabalho pelas
partes menores da palavra. A princípio, o método era utilizado nas cartilhas de
alfabetização; depois da apresentação das vogais, eram formadas as sílabas e
depois compostas palavras.
Apesar do método trabalhado nas cartilhas já não ser mais tão requisitado
ou famoso, a silabação ainda é bastante presente dentro do material pedagógico
usado na alfabetização. Foram acrescentadas a ele novas maneiras de se
trabalhar, como, por exemplo, mais ludicidade e exercícios mais elaborados,
como a troca de sílabas para compor uma nova palavra. No entanto, ainda se
configura como a divisão das palavras em sílabas e sua composição a partir
delas.

Método Analítico

Ao contrário do Método Sintético de alfabetização, a forma analítica


trabalha com o conceito de começar pelo todo para, só depois, passar ao
conhecimento das palavras pela divisão das partes, sílabas e letras. Segue pela
linha de pensamento de Nicolas Adam, que, utilizando de uma metáfora simples,
explica que ao apresentar um casaco para uma criança, apresenta-o somente
como casaco e não pelas suas partes, apresentando separadamente as
mangas, golas, botões, bolsos ou corpo. Assim também deve ser a apresentação
da escrita a partir da fala, mostrando o texto como um todo e depois partir para
as partes menores.
Se partir do ponto de vista que a criança desenvolve sua primeira
linguagem pela observação das pessoas a sua volta, fazendo assimilações e
balbucios de repetições de falas prontas, formando aos poucos seu vocabulário,
temos os estudos voltados ao tema e defesa da Teoria do Sincretismo Infantil,
de Henri Wallon, por volta de 1920. Segundo ele, a criança pensa influenciada
por dois fatores, pela capacidade cognitiva e pelas referências e informações
que recebe do meio.
A não capacidade de distinguir todas as informações recebidas do meio,
unindo-as para compor uma resposta lógica ou conhecimento, gera na criança a
necessidade de fazer suposições, muitas vezes resultando nas consideradas
“pérolas”, por nós adultos. Essa elaboração de pensamento para criar respostas
para um mundo ainda não totalmente assimilado é o que pode ser chamado de
sincretismo infantil.
O Método Analítico se compõe em:

Palavração: se constitui em associar a grafia da palavra a uma imagem


de figura. Após fazer a relação entre ambas, a proposta é elaborar pequenas
frases e textos utilizando palavras já trabalhadas. O trabalho pode ser
desenvolvido também sem a associação de figuras às palavras trabalhadas,
fazendo uso de listas de palavras já conhecidas pelos alunos. Nesse caso, a
partir das listas, são utilizadas as palavras na formação dos textos.
A decomposição de cada palavra não tem caráter obrigatório no método
de palavração, podem ser escolhidas algumas palavras com objetivo de mostrar
o processo de divisão por partes e sílabas e a partir das sílabas conhecidas
originar a criação de novas palavras.
Assim como os demais métodos quando aplicados sozinhos, o uso
somente do processo de palavração pode resultar na elaboração de frases e
textos desconexos, com pouco conteúdo ou mesmo sem contexto. A leitura,
assim como pela forma silábica, pode se tornar cansativa e não motivadora, no
entanto, existe maior interação do aluno com o que está sendo ensinado,
podendo utilizar palavras conhecidas de imediato sem ter que passar por todo o
processo de decodificação do alfabeto.

Sentenciação: o aprendizado é feito com sentenças prontas, frases


feitas, e, a partir do conhecimento da ordem da frase, o reconhecimento das
palavras que a compõem; pode-se destacar palavras principais para
memorização mais prática. Depois de reconhecidas as palavras que compõem
a frase, são aprimorados os conhecimentos a respeito da palavra em destaque,
decomposição em silabas, formação de novas palavras e frases.
Um exemplo de trabalho de sentenciação é a configuração de pequenos
poemas e parlendas, trabalhadas com rimas, assimilando cada palavra por vez:
“O rato roeu a roupa do rei de Roma”.
As palavras podem ser substituídas por outras, pode ser incentivada a
organização das frases da parlenda atentando-se para o primeiro significado
explicado pelo professor.
O método permite a interação com o conteúdo proposto, aparece de uma
forma menos estatizada, mas precisa contar também com a criatividade do
professor que fará a mediação e a apresentação de novas possibilidades com
outros temas constantemente.

Fonte: Deposit Photos (2018)


Contos ou método de histórias

O método de histórias, também conhecido como método de contos,


trabalha a alfabetização na visão de que a criança aprende a escrever,
escrevendo, e a ler, lendo, ou seja, aprende por estar inserida em um contexto
onde a leitura e a escrita são usadas e estimuladas. Presente na forma de
ensinar do educador francês Freinet, o qual apresentou seu estudo como Método
Natural, a criança faz observações de seu mundo e tenta efetivar sua
comunicação escrita, pode originar desenhos e garatujas simbolizando as letras
vistas no mundo da escrita e, progressivamente, a cópia do próprio nome, de
palavras, até chegar a sua produção.

Celetin Freinet, (1896 – 1966) foi um educador francês que ficou


conhecido pelo trabalho diferenciado que fazia, seu público eram
crianças e jovens das classes mais pobres. Muitos profissionais
realizam técnicas desenvolvidas por Freinet sem saber que partiram de seus
estudos, um exemplo são as “aulas passeio” criada por ele e tão presente na
didática atual. Para o educador, a aprendizagem acontece por meio da vivência.
A pedagogia de Freinet se fundamenta em quatro eixos: cooperação,
comunicação, documentação (conhecida pelos diários feitos por seus alunos) e
afetividade, este último caracteriza muito do que Freinet percorreu em sua vida
como educador.

O método de histórias ficou conhecido no século XX, mas não foi usado
em grande escala no Brasil por ser entendido como uma forma de ensinar muito
avançada para o ensino da época. Uma das dificuldades trazidas pelos
professores diante deste método é a falta de suporte presente no livro didático,
o que gerava certa insegurança no trabalho desenvolvido.
No Brasil, a maior ênfase do trabalho do francês ocorreu em Minas Gerais,
onde foram desenvolvidos materiais específicos para seu trabalho “O livro de
Lili”, por exemplo, é um dos materiais utilizados na formação de alfabetizadores
no período de 50 anos (1920 – 1970).
Clique aqui para ver um pouco mais sobre “O livro de Lili”.

O método de histórias segue a linha de apresentação de histórias prontas


e de fácil assimilação e memorização dos fatos pelas crianças ou mesmo a
produção de histórias coletivas com base em acontecimentos vivenciados por
elas no cotidiano escolar. A produção dos textos a serem trabalhados pode partir
de inúmeras fontes e contribuem com a motivação em aprender ao participar da
criação das aulas.
O método também passa pelas fases da sentenciação, palavração e
separação em sílabas, continua sendo bastante utilizado no Brasil, na grande
maioria não de forma isolada, como no caso do “Livro de Lili”, mas como
composição às aulas, promovendo aulas mais participativas e com produções
escritas a partir da criação de textos ou memorização e assimilação para
desenvolver o próximo passo do trabalho, como é o exemplo dos “contos de
acumulação”.

É importante saber em que “mundo” a criança está inserida, ou seja,


saber se ela tem acesso ao mundo letrado e qual a qualidade do e
quantidade de material ofertado a ela.

Movimento Escola Nova

O Movimento da Escola Nova, conhecido também como Escola Ativa ou


Escola Progressiva, teve origem na Europa, no final do século XIX, e ganhou
força na metade do século XX. Defendia a renovação no campo da educação,
debatendo com o método tradicional de ensino em que a criança apenas realiza
a cópia e memorização de conhecimentos.
Na proposta da Escola Nova, o aluno precisa ter autonomia para realizar
hipóteses, segundo John Dewey (1859 – 1923), pedagogo e filósofo americano,
idealista do movimento e influenciador na América, a educação é uma
necessidade social, para ele, a escola não deve ser uma preparação para a
vida, mas a própria vida.
A partir do princípio da experiência de vida como ponto de partida para
aprendizagem, a capacidade de aprender é defendida pelo seu caráter biológico,
devendo ser respeitada como direito de todos, possibilitando a qualquer
indivíduo ser o sujeito de sua própria aprendizagem e podendo desenvolvê-la
conforme capacidade e não de acordo com a classe social a que pertence.
A defesa da autonomia do aluno em seu processo de aprendizagem está
ligada aos novos avanços científicos da biologia e psicologia, em estudos de
Jean Piaget, por exemplo, importantes nomes e teorias que mudaram a forma
de pensar o aluno dentro do sistema de ensino.

Escola Nova no Brasil

Figura 4.2: Anísio Teixeira

Fonte: © Wikimedia Commons (2018)


Depois de 43 anos da Proclamação da República, o sistema de ensino
brasileiro ainda não tinha uma organização que atendesse às necessidades
educacionais com vista à modernização esperada para o país. Apesar dos
conceitos de a Escola Nova terem sido trazidos por Rui Barbosa, em 1882, com
o intuito de preparar a população para atuar no novo mercado de trabalho em
constante evolução com a industrialização, o movimento ganhou forças a partir
de 1932 com o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova – A reconstrução
educacional no Brasil: ao povo e ao governo”.
O manifesto tratava de um conjunto de princípios para reforma do sistema
educacional brasileiro, composto por 26 educadores e intelectuais da época,
como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Cecília Meireles e Fernando de Azevedo,
quem redigiu o documento.
É importante entender o contexto que ocasiona essa tomada pela
educação. Alguns anos antes, em 1924, temos a criação da Associação
Brasileira de Educação, que realizava encontros de educadores em prol da
discussão de alternativas para os problemas do ensino brasileiro. Em seguida,
no ano de 1930, temos importantes mudanças políticas com a posse do governo
provisório de Getúlio Vargas, o qual propôs reformar o sistema educacional
brasileiro.
Em 1931, em um encontro da Associação Brasileira de Educação, surgiu
a ideia de apresentar ao governo sugestões pertinentes à área educacional. A
partir das discussões sobre as propostas que seriam apresentadas, destaca-se
a elaboração do documento em formato de manifesto. Em sua composição, por
exemplo, está:

Princípio da escola nova de educação


igual para todos e não a uma minoria
privilegiada, como ocorreu por anos.
Com objetivo de retirar a população do estado de marginalização
social e da situação de miséria, o texto propunha o ensino obrigatório e
custeado pelo governo até os dezoito anos de idade. Dentre as sugestões,
também se destacavam o pedido de criação de fundos de arrecadação para a
educação, a criação de universidades e a reivindicação de uma verdadeira
reconstrução do ensino brasileiro, que auxiliaria na formação e construção de
sociedade mais justa.
As propostas feitas no Manifesto, apesar de não terem sido colocadas
todas em prática, foram de grande valia para a educação brasileira na
composição de sua história. Diversas mudanças ocorreram já no ano de 1934,
como o direito e a obrigatoriedade da inserção de todas as crianças com idade
compatível aos quatro anos iniciais do Ensino Médio; firmou-se a obrigatoriedade
do recolhimento de impostos destinados à educação; houve a criação de
universidades, entre outros.
Como disse, nas décadas seguintes, discussões e avanços trazidos no
ápice da criação do manifesto foram perdendo força gradativamente, por um lado
ganhava-se o acesso da população ao sistema de ensino; por outro, ainda não
se garantia a qualidade no ensino-aprendizado.

Mudança de foco

Em meados da década de 70, temos a importante entrada dos estudos da


Psicologia na área da educação, cuja mudança é notável às pesquisas: sai o
“como se ensina” para o “como se aprende”. Sendo assim, o aluno ganha
destaque no processo de aprendizagem.

A mudança de foco se dá a partir dos estudos de Jean Piaget e da psicolinguista


Emília Ferreiro, os quais não revelam nenhum método novo de ensino, mas
desvendam mecanismos de como a criança aprende.
Para Piaget, a aprendizagem é um processo gradual que precisa de
ser respeitado, a criança assimila novos conhecimentos e faz uma
reorganização e acomodação daquilo que já conhecia com o novo aprendizado.
O processo cognitivo passa por essas etapas diversas vezes e leva tempo em
cada uma delas, considerando que o tempo é diferente de uma criança para
outra.
Diante dos saltos cognitivos necessários para o processo de
aprendizagem, surge o “olhar diferenciado” ao aluno, pois até então muito se
discutia do porquê de a criança não aprender. Eram culpabilizados os métodos
e os professores, buscavam-se novos materiais com formas melhores de
ensinar, mas não se enxergava a capacidade de o aluno aprender.
Os estudos de Emília Ferreiro no Brasil ganharam prestígio entre
educadores e governo, sendo aplicados até mesmo nos Parâmetros Nacionais
Curriculares. Apesar de não apresentar nenhum método para trabalhar, ao
contrário disso, criticava o sistema tradicional de ensino e o uso das famosas
cartilhas, abre novos leques para a educação e a alfabetização. Ganhavam-se
salas de aulas e conteúdos mais interativos, atividades estimulantes, alunos
participativos e professores observadores e mediadores do conhecimento.
O novo foco enfatiza a teoria Construtivista de ensino, confundida com
método de ensino para muitos, contudo, ela não se caracteriza e também não
tem como propósito o método. Para o Construtivismo, o conhecimento não é
único e nem acabado, não existe uma única forma de aprender, assim como não
existe um limite, um ponto final. O aprendizado tem caráter significativo,
construtivo e duradouro.

Síntese

Nesta aula, você pôde compreender a história da alfabetização desde os


primeiros rudimentos da escrita e entender a função social desse mecanismo
comunicacional. Você viu também as interfaces do nosso sistema de ensino,
desde o descaso, tanto com a população quanto ao interesse em desenvolver
um sistema concreto e eficaz.
Ao estudar a história, é possível analisar melhor o que foi construído,
assim como ter parâmetros para desenvolver a alfabetização em sala de aula.
Talvez em meio a tantos métodos já usados e estudados não seja possível
escolher somente um para a prática pedagógica, mas já temos ciência que toda
forma de ensinar deve promover a participação e o desenvolvimento do aluno.

Atividades de Aprendizagem

A história da alfabetização brasileira passou por vários momentos, como, por


exemplo, os anos de abandono que deixaram uma herança de analfabetismo em
nossa população. Depois do estudo dos diversos métodos utilizados para
alfabetizar e as críticas a cada um deles, chegou a sua vez de fazer a análise
crítica de um livro didático. Você deve observar:
 Apresentação, letra utilizada, percepção de um ou mais métodos
dentro da concepção e trabalho proposto no livro.
 Verifique também qual foi a linguagem utilizada.
Aula 5 – Elementos psicolinguísticos relacionados à
alfabetização

Fonte: Deposit Photos (2018)

O século XX foi marcado por importantes mudanças na área educacional,


por diversas influências relacionadas à modernização mundial, a educação e a
forma como ela é trabalhada passou a receber novos olhares. Como vimos na
aula anterior, os estudos da psicologia foram voltados à observação de como o
aluno aprende.
Nesta aula, veremos como os estudos de Jean Piaget e Emília Ferreiro se
desenvolveram na defesa dos mecanismos de aprendizagem do aluno.
Psicogênese da escrita e da leitura

Para iniciar esta aula, é importante compreender o significado dos


termos que abordaremos no decorrer deste estudo. Vamos às
definições:

Psicologia

Ciência que se dedica aos processos mentais ou comportamentais do ser


humano e de suas implicações em certo ambiente. Reunião dos elementos,
mentais ou comportamentais, que caracterizam uma pessoa ou um grupo.
A psicologia se dedica a estudar o ser humano por sua capacidade mental
e seu comportamento, logo, observa as relações do indivíduo interna e
externamente, assim como sua interação com a sociedade em que vive. A partir
do conceito apresentado, fica fácil compreender como a psicologia passou a ser
grande aliada na área educacional, trazendo compreensões ainda
desconhecidas no meio pedagógico.

Psicogênese

Segundo o glossário da CEALE, o termo psicogênese pode ser


compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de conhecimentos
e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o
desenvolvimento, desde os anos iniciais da infância, e aplica-se a qualquer
objeto ou campo de conhecimento.
A Psicogênese será de grande valia no estudo sobre as contribuições de
Emília Ferreiro para a alfabetização, neste referencial, partimos do pressuposto
de que a apropriação da leitura e da escrita apoia-se nos conhecimentos prévios
vividos e construídos pela criança. A observação da aprendizagem desenvolvida
no decorrer da história da criança fornece dados relevantes de cada etapa de
aprendizado vivida por ela.
Psicolinguística

Analisa os processos que dizem respeito à comunicação humana, pelo uso


da linguagem oral ou escrita; estuda também fatores que possam interferir no
aprendizado ou na comunicação.
A percepção humana dos fatos acontecidos muda conforme a situação
vivenciada, portanto a reprodução presente inicialmente pela assimilação na
leitura e na escrita pode ocorrer por estímulos externos, por percepção visual,
auditiva ou gestual.

Dentro do campo da psicologia, temos importantes autores que se


dedicaram em compreender como funcionam os processos mentais para o
desenvolvimento da leitura e da escrita, dentre eles estão: Jean Piaget, Emília
Ferreiro e Ana Teberosky. Você vai ser a seguir um pouco mais dos estudos de
cada um deles.

Jean Piaget – teoria do desenvolvimento cognitivo

A teoria cognitiva tem sua origem nos Estados Unidos com vários teóricos,
dentre eles destacam-se: Piaget, Vallon e Vigotsky. Apesar de algumas
ramificações e diferenças entre si, todos se preocuparam em compreender a
ação da criança em seu processo de construção do conhecimento.

O temo cognição pode ser considerado como um conjunto de


habilidades que levam ao desenvolvimento do pensamento, ligadas
ao raciocínio, a memorização, a construção de hipóteses.

A teoria de Jean Piaget é considerada uma das mais importantes da sua


área, defende o desenvolvimento cognitivo a partir da interação com o meio,
passando pelos processos de equilíbrio, assimilação e acomodação de novas
informações ou observações. Piaget inicia suas indagações a respeito do
desenvolvimento cognitivo a partir de respostas erradas dadas por crianças em
testes de inteligência da época, as respostas o intrigavam em como poderia
funcionar o pensamento humano.
Piaget acreditava que observando as
respostas erradas poderia analisar a forma de
pensamento a qual levava a composição de tal
formulação de hipóteses pela criança. Afirma em
sua teoria que a observação e identificação do que
leva ao erro é de tal relevância quanto às respostas
corretas dadas por elas.
O teórico conclui que o desenvolvimento
passa por fases de desenvolvimento da criança, as
experiências internalizadas como aprendizado e as
Figura 5.1: Jean Piaget
novas observações fundamentam o pensamento
Fonte: © Wikimedia que as crianças usam. Piaget divide esses sistemas
Commons (2018) de desenvolvimento em estágios, que, segundo
ele, são sequenciais e qualitativos diferentes, e promovem a construção da
próxima estrutura cognitiva, podendo ser mais complexas e maiores que a
anterior já alcançada.
A continuidade observada e defendida na teoria do desenvolvimento
cognitivo mostra que cada indivíduo procura por uma acomodação de suas
formulações, equilibrando o pensamento e adaptando para uma nova retomada
e elaboração de hipóteses. Esse conceito fica mais claro quando
compreendemos os princípios apresentados por Piaget em seus estudos.

Princípios da teoria do desenvolvimento cognitivo

Para Piaget, a criança nem sempre tem domínio total dos desafios que se
apresentam durante seu processo de desenvolvimento e aprendizagem, essa
insegurança com o novo ou falta de total compreensão pode gerar na criança a
desistência daquele processo ou a modificação do que é apresentado, essa
maneira de modificar se caracteriza pelo que é chamado de acomodação.
Toda construção de pensamento, para Piaget, deve passar pelo processo
de acomodação, uma forma de desequilíbrio no pensamento da criança, para
depois passar pela assimilação e, depois, a aprendizagem. A acomodação é
necessária, pois se o meio não oferece novos desafios, temos somente um
processo de assimilação de conhecimentos, sem instigar na criança a
formulação do próprio pensamento. “Maturação, experiência ativa, equilibração
e interação social são as forças que moldam a aprendizagem” (PIAGET apud
LEFRANÇOIS, 2008, p. 260).

Fornecer desafios para o aluno é essencial para que ele saia da zona
de conforto e leve a elaboração do pensamento. Para essa elaboração,
ele precisará observar e interagir com o meio, enriquecendo seu
processo de aprendizagem.

Entre o processo de acomodação e assimilação, o pensamento da criança


passa pelo estágio de equilibração de ideias, ou seja, ela busca nas
informações que já internalizou como verdadeiras para compor um novo
pensamento.
Como você já viu nesta disciplina, o que para nós, adultos, já parece
ser uma informação formada, para uma criança ainda é um mundo
desconhecido.

Exemplo
A criança conhece a composição figurativa de árvore. Quando ela ouve a palavra
árvore, sua mente lhe mostra essa informação, no entanto, o objeto árvore pode
estar ligado a outro contexto desconhecido. A árvore conhecida pela criança é
aquela grande e com folhas verdes. Nesse momento, é apresentado a ela um
outro tipo de árvore, um Ipê amarelo, grande, mas com cor amarela. Apesar de
parecer simples, para a assimilação dessa nova informação, a criança passará
pelo processo de desequilíbrio do conhecimento (o que é novo), para a
equilibração de um novo conceito de árvore, que também poderá ser amarela.

Estágios de desenvolvimento cognitivo de Piaget

Para Piaget, o processo de equilibração e assimilação são responsáveis


por todo o processo do desenvolvimento cognitivo, podem parecer mais
evidentes em idades específicas que são tratadas como fases de transição entre
um estágio e outro. Na teoria de Piajet, o desenvolvimento cognitivo aparece
dividido em quatro estágios. Você vai cada um deles, a seguir, começando pelo
sensório-motor.

Estágio Sensório-motor

É apresentado como primeiro estágio de desenvolvimento e compreende o


período de 0 a 24 meses de idade. Neste estágio se destacam as capacidades
sensoriais e motoras do bebê. É possível observar que, nos primeiros meses de
vida, o bebê não tem domínio motor, contudo já tem consciência de que deseja
efetuar a ação de pegar. Nesta fase, a observação e a interação com o meio faz
parte da própria sobrevivência e busca de anseios, pois já assimila a relação
entre o choro e a atenção de um adulto, suprindo, assim, necessidades de
alimentação, higiene e afeto.
O estágio sensório-motor apresenta
uma divisão de ações e pensamentos
que antecedem os 18 meses de idade
e de 18 a 24 meses, quando o bebê
já tem o intuito de explorar o ambiente
em que vive, não somente para suprir
necessidades e copiar ações dos
adultos, como a repetição de
balbucias. Existe a transição entre um
estágio e outro; neste processo, a
criança já começa a compreender o

Figura 5.2: Estágio sensório-motor mundo externo dela, deixando de lado


o egocentrismo para o entendimento
Fonte: Deposit Photos (2018)
de que existe o “outro”. A capacidade
de compreender que existe o outro
está ligada ao entendimento de que existe a possibilidade de um objeto ou
pessoa existir mesmo que não esteja visualmente perceptível naquele momento.

Estágio Pré-operátório

Compreende o período entre os 2 e 7 anos de idade, compõe a finalização


de algumas características iniciadas no período anterior como, por exemplo, o
desenvolvimento da linguagem oral. Inicia-se o uso do conhecimento
representativo, usando figuras para a assimilação do conhecimento. No entanto,
ainda não demonstra capacidade de descentralizar ideias relacionadas à figura
ou ao pensamento em questão.
Neste estágio, há o melhor desenvolvimento da fala, lembrando que a
linguagem é colocada como fator de suma importância para o desenvolvimento
da inteligência.
A linguagem pode representar a leitura de um conjunto de ações e não
somente pela fala, propriamente dita.

No início, apresenta fala clara quanto ao repasse de informações e pedido


para si, mas ainda há dificuldade em acompanhar um raciocínio coerente para
manter uma conversa em que haja o domínio de dois ou mais pensamentos
concomitantes.
A linguagem é, necessariamente, interindividual, sendo constituída
por um sistema de signos (significantes arbitrários ou convencionais).
Mas, ao lado da linguagem, a criança pequena – menos socializada
que a de 7-8 anos e sobretudo que o próprio adulto – tem necessidade
de outro sistema de significantes, mais individual e mais motivado: os
símbolos, cujas formas mais correntes na criança pequena se
encontram no jogo simbólico ou de imaginação..., o jogo simbólico
aparece mais ou menos ao mesmo tempo da linguagem. (PIAGET,
2011, p. 77).

Nesta fase, a criança apresenta


ausência de esquemas lógicos,
ocasionando um desequilíbrio aparente em
seu pensamento, logo, suas respostas
podem parecer aos adultos desprovidas de
sentido ou mesmo relacionadas a criações
do imaginário infantil até que haja a própria
maturação biológica para dar conta desse
processo, juntamente com as experiências
vividas chegando à fase de acomodação
dessas respostas.

Figura 5.3: Estágio pré-


operatório

Fonte: Flickr (2018)


Estágio Operatório Concreto

Compreende o período dos 7 até aproximadamente 12 anos de idade.


Neste período, a criança ainda passa pela transição da fase anterior, mas já
consegue manipular mentalmente as memórias de formas figurativas,
experiências vividas e ideias. Como o próprio nome diz, apesar de já demonstrar
capacidade de manipular mentalmente, a compreensão por parte da criança
ainda se dá diante de algo concreto.
Nesta fase desenvolve-se a capacidade de compreensão do conceito de
conservação, que nos experimentos e observações de Piaget se dá pela
capacidade de a criança observar um objeto em sua forma, composição,
localização ou aparência e diferenciá-lo, como, por exemplo, um jogo de
memória ou a preservação da quantidade existente dentro de um objeto.
Uma experiência muito utilizada por Piaget para compor esse conceito é a
de preservação da quantidade. Nela, são apresentados recipientes diferentes
para as crianças, um mais baixo, mas de maior circunferência; outro mais alto e
estreito. Ao apresentar o primeiro recipiente para a criança, é mostrado já com o
líquido, depois é transferido para o recipiente mais estreito, ficando visivelmente
mais alto na percepção da criança. Apesar de a quantidade do líquido ser a
mesma nos dois recipientes e de a criança ter acompanhado a troca do liquido,
ela ainda não faz tal percepção.

Clique aqui para assistir ao vídeo exemplificando esse estágio de


aprendizagem.

Estágio Operatório Formal

Compreende a idade de 11 e 12 anos em diante. Esta é a última fase


mencionada por Piaget e caracteriza-se, principalmente, pela capacidade de
entender a forma abstrata do pensamento. Nas fases anteriores, o
desenvolvimento cognitivo foi preparado para trabalhar com a forma concreta do
pensamento, tendo por base a representação gráfica de algo já vivenciado.
A transição do concreto para o abstrato representa a capacidade cognitiva
observada e defendida por Piaget quando mostra que a criança aprende e
formula o pensamento por etapas em seu desenvolvimento, uma etapa configura
e precede a outra, servindo de base para a acomodação do pensamento e o
desenvolvimento do aprendizado.
O período operatório concreto é apresentado por uma criança que formula
pensamentos abstratos, deixando de lado a representação do “é” para a criação
do “pode ser”. A compreensão do mundo pela linguagem começa a ficar cada
vez mais evidente pela criança, permitindo a ela o desejo de mudança e de
questionamentos de modelos já existentes, de conhecimentos prévios e da
própria sociedade.
Neste período, a presença do mediador torna-se imprescindível para ajudar
na equilibração e acomodação dos pensamentos e, ainda assim, permitir o
desenvolvimento do senso crítico e desejo pela construção continua do
aprendizado, mesmo na vida adulta.

A abordagem da psicogênese da leitura e escrita por Emília Ferreiro e Ana


Teberosky

Emília Ferreiro e Ana Teberosky são dois nomes bastante conhecidos e


conceituados na área educacional, as duas basearam seus estudos no princípio
defendido por Piaget: todo conhecimento tem uma origem. Firmaram seus
estudos na observação das crianças em seu processo de aprendizagem e
aquisição da escrita, dessas observações surgiu o livro “Psicogênese da língua
escrita”.
As autoras afirmam que a capacidade de escrita das crianças é muito
superior àquelas as quais são submetidas a reproduzir pelo processo de ensino.
Para Ferreiro e Teberosky, “a obtenção de conhecimento é um resultado da
própria atividade do sujeito, isso significa que o ponto de partida de toda
aprendizagem é o próprio sujeito” (FERREIRO & TEBEROSKY, 1985, p. 29).
A partir disso, é difícil acreditar que na atualidade exista a concepção de
que a criança é um livro em branco, disposto a receber o conteúdo
descontextualizado pela escola no método tradicional de ensino, apresentando
as letras em suas formas gráficas e os sons separados.

[...] é bem difícil imaginar que uma criança de 4 ou 5 anos, que cresce num
ambiente urbano no qual vai reencontrar, necessariamente, textos escritos em
qualquer lugar (em seus brinquedos, nos cartazes publicitários ou nas placas
informativas, na sua roupa, na TV etc.) não faça nenhuma ideia a respeito da
natureza desse objeto cultural até ter 6 anos. (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999,
p. 29).

Portanto, fica claro o conceito de que a criança se compõe no papel de


sujeito de seu próprio aprendizado, faz conexões com o meio que lhe é
proposto e constrói seu pensamento. Não falamos apenas do processo de
alfabetização vivenciado no espaço escolar, pois, segundo as autoras, a
aquisição da linguagem começa desde o primeiro estágio de desenvolvimento
pela teoria de Piaget. A criança nasce e aprende a utilizar a linguagem como
forma de interação com o meio para garantir a satisfação de suas necessidades.
Para crianças que dentro de seu contexto familiar e de sociedade são
inseridas em um mundo letrado, dando a elas condições de acesso à linguagem,
além de oral também escrita, o processo de alfabetização ocorre bem antes do
espaço escolar.

Há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever
coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de
alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da
possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras
crianças que necessitam da escola para apropriar se da escrita. (Ferreiro, 1999,
p. 23)
As autoras, ao utilizarem a criança como agente do seu próprio
aprendizado, se opõem ao uso de conteúdos prontos e cartilhas oferecidas aos
alunos, visto que esses métodos reforçam apenas a memorização por parte da
criança e não a interação e descoberta do meio. Dentro da concepção da
psicogênese, a sala de aula por si só torna-se um ambiente alfabetizador quando
está equipada com formas criativas e motivadoras que envolvam os alunos.
A partir da escola entendida como ambiente que favorece a aquisição e a
troca de experiências para o aprendizado, temos uma mudança em sua
configuração, desde a disposição das carteiras em sala de aula até a colocação
de objetos que propiciem a curiosidade e a manipulação deles pelas crianças. O
professor também passa a exercer a função do mediador do conhecimento,
apresentando formas criativas de levar as crianças a observar e construir
hipóteses, estimulando o gosto pela busca do aprendizado.
O professor não exerce apenas o papel de lançar novos desafios, faz uma
função muito mais importante, isto é, precisa observar constantemente a
formulação do pensamento da criança em seus estímulos e respostas de forma
que ela compreenda como está em seu desenvolvimento cognitivo, e, a partir da
observação, fornecer e estimular de modo que favoreça o que já está em
desenvolvimento, além de retomar e auxiliar na aquisição do pensamento em
pontos que apresentaram dificuldades.

Síntese

As contribuições de Ferreiro e Teberosky para a área educacional são de


extrema importância, pois a partir de suas observações e pelo conhecimento da
teoria do Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget foi possível compreender
que a criança passa por estágios de aprendizado até que haja a união entre a
maturação biológica de sistemas da criança com suas descobertas fase a fase
do conhecimento.
As pesquisas das autoras nos deixam informações importantes para serem
utilizadas no cotidiano tanto dentro quanto fora do espaço escolar no que diz
respeito a como as crianças aprendem.
Atividade de aprendizagem

Jean Piaget é um dos principais nomes da Psicologia, contribuindo para a área


educacional da atualidade. Pesquise entre quais são seus principais
pensamentos e escritos voltados relacionado à educação.
Aula 6 – Diferenciação nos modos de representação da escrita

Fonte: Flickr (2018)

Olá! Seja bem-vindo à sexta aula. A partir de agora, você vai aprender como
funciona o processo de alfabetização dentro do conceito de desenvolvimento
cognitivo de Jean Piaget e as descobertas psicolinguísticas de Emília Ferreiro e
Ana Teberoski.
Bom estudo!
Níveis de Escrita

Compreender a proposta de Emília Ferreiro exige o entendimento de cada


etapa passada pela criança dentro de seu desenvolvimento cognitivo. A autora
não propõe apenas a observação do aluno, mas a interação deste com o
conhecimento, ou seja, o ambiente escolar precisa permitir e incentivar a
construção. A criança precisa de espaço para transpor suas experiências com o
mundo letrado e criar novas, além de fazer suposições e “errar”. Errar, nesse
caso, significa aprender, dar passos alicerçados para a construção do acerto.
Em seu primeiro contato com o mundo letrado, a criança reconhece as
formas gráficas que representam as palavras, podem ainda não compreender o
formato e o som das letras, mas já podem reproduzir a própria leitura do mundo
novo que ela vai descobrindo. Estar em contato com uma criança em
alfabetização, permite muitas reflexões sobre como elas chegam às suas
conclusões.
Emília Ferreiro analisa a criança e o modo de representação em icônico e
não-icônico.

A criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo
conjunto de palavras e está oferecendo um valiosíssimo documento que
necessita ser interpretado para poder ser avaliado. Essas escritas infantis são
consideradas como grafismo, puro jogo, o resultado de fazer como se soubesse
escrever. (FERREIRO, 1995, p. 16)

Dentro do que é considerado Hipótese Central, o nível de escrita Icônica


representa o estágio em que a criança ainda não diferencia a letra do desenho.
Para a criança, escrever e desenhar representam a mesma coisa.
É possível observar a representação da escrita por desenhos
caracterizados por “garatujas”.
Garatujas: configurações de traços e rabiscos feitos por crianças sem
uma forma bem definida.

Na representação de escrita não-icônica, a criança inicia o processo de


reconhecimento do uso das letras para a formação da escrita; para isso, elabora
registros com traços ainda rudimentares, sem formar uma lógica na escrita das
palavras; pode ainda mesclar em uma mesma representação letras e números.
Dentro do que é considerada Construção Gráfica, a escrita icônica
representa o uso de garatujas para simbolizar letras ou mesmo o uso de um
único desenho para representar várias letras.
Ainda no modelo de Construção Gráfica, a escrita não-icônica representa a
compreensão pela criança de que as palavras são compostas por letras,
ocorrendo a compreensão gráfica delas. Pode haver, ainda, a mescla de letras
e números ou mesmo a representação gráfica de uma simulação de escrita, por
exemplo: a sequência de linhas onduladas, pode ser a representação da escrita
de letra cursiva.

Períodos de desenvolvimento

A fase icônica antecede o entendimento da escrita como código escrito,


podemos imaginar as crianças que fazem seu primeiro contato com o mundo
letrado ainda fora do espaço escolar, mesmo pequenas, enxergar a necessidade
social da escrita em sua vida.
O mundo adulto gira em torno das letras, da comunicação e, atualmente,
com a proximidade das crianças junto ao mundo digital, é possível compreender
a capacidade delas de reproduzir o que se vê, por mais que ainda não haja o
entendimento total do que se faz.
No entanto, o objetivo de também se conectar tanto com o mundo adulto,
quanto com as chamativas propagandas dos desenhos animados e joguinhos
virtuais, os motivam a simular escritas que elas representam de alguma forma
seu pensamento, suas hipóteses etc.

Trabalhar o desenvolvimento da criança em sala de aula exige do


professor observação e interação constantes, mas a realidade dentro
do espaço escolar é de grande quantidade de alunos com
características, ritmos e pensamentos diferentes.

Aproveitar o momento de empolgação do aluno é crucial, para isso, o papel


do professor deve ser o de atuar na percepção da fase de desenvolvimento em
que o aluno estiver, levando em consideração que nem todas as crianças da
mesma sala de aula estarão no mesmo nível de desenvolvimento. Dessa forma,
é essencial que o professor tenha conhecimento das características de cada fase
para oferecer atividades desafiadoras e significavas, assim como para identificar
possíveis dificuldades de aprendizagem naquela fase.

Período Pré-silábico

Nesta etapa, o aluno compreende a formação da escrita a partir do uso do


código alfabético, contudo, não demonstra domínio sobre ele. A criança ainda
não faz relação entre a escrita e a fala, em uma proposta de atividade, por
exemplo, será comum observar um aluno que para indicar palavras colocará uma
sequência de letras, pois já compreende a formação da palavra pela união de
letras, mas elas ainda não fazem sentido. Se o professor mediador fizer uma
análise da produção do aluno, poderá observar, em alguns casos, as letras
utilizadas repetidamente em várias palavras diferentes.

 CAMILA
 Palavra: BOLA
 Hipótese: CMIA
Sem distinguir a relação de escrita e fala é comum que o aluno faça a
simulação de uma leitura passando o dedinho por cima das palavras. Na
hipótese de leitura poderá relacionar a quantidade de palavras faladas pelo
espaçamento entre as palavras dentro de uma frase.
Dentro do período pré-silábico é bastante comum o que chamamos de
“realismo nominal”, a criança compreende que a escrita é feita por letras, no
entanto ela ainda recorre ao uso da representação da figura a qual a palavra
significa, utilizando uma quantidade de letras correspondentes ao que a figura
representa.

 CASA:
Hipótese:
ABCAEILMIOHACOL
 FORMIGA:
Hipótese: AM

No realismo nominal, o imaginário da criança lembra-se da figura “casa”


como algo relativamente grande, portanto, o tamanho da palavra deve
acompanhar o tamanho da figura. Na mesma percepção, a imagem da formiga
torna-se relativamente pequena em proporção à imagem da casa, logo, a escrita
da palavra formiga acompanha esse pensamento.

Período Silábico

A hipótese silábica marca a capacidade de compreensão de que a escrita


e a fala são relacionadas entre si. Nesta fase, descobrem o som das palavras
dividido pelas sílabas e podem, na hora da escrita, colocar uma letra para
representar cada sílaba.

Palavra: ÁRVORE
Hipótese: ABOE
É comum na transição do período pré-silábico para o período silábico haver
maior utilização de vogais na formação das palavras, principalmente se for
apresentado à criança a formação de palavras pela união de consoante vogal.
Dentro do período silábico, a criança faz aos poucos a compreensão da
escrita como representação da fala e compreende a formação de cada som
como a união de duas letras, normalmente formada pela união de consoante
com vogal. Em muitos sistemas de ensino, é comum observar a apresentação
das famílias silábicas para que as crianças compreendam a formação de silabas.

• Compreensão do som formado pela união duas


letras.
• AVE = VAVE

Dentro do conceito de juntar letras, a criança


se obriga a criar uma letra para acompanhar a
formação da palavra, mesmo que para um adulto
esse formato pareça, a princípio, não ter lógica,
devemos valorizar a hipótese criada pela criança
para suprir aquela “regra”. Aqui podemos observar
a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget,
quando afirma que a criança passa por um
desequilíbrio entre o conhecimento
internalizado e um desafio. Nesse caso, ela tenta
modificar a regra para acomodação de uma nova
hipótese, o entendimento pode não ocorrer de
imediato, mas esse é o processo de aprendizado
Fonte:
<https://bit.ly/2Mbl1Ve>. até que, pela experiência, ela assimile a
Acesso em: 26/09/2018,
às 15h15 (fins possibilidade de uma letra também poder compor o
pedagógicos). “pedaço” de uma palavra.
Outra característica deste processo de alfabetização, é o que chamamos
de Aglutinação, processo em que a criança reconhece alguns grafemas e
fonemas para a produção de palavras, mas ainda não diferencia os espaços
entre uma palavra e outra na formação de frases.

DEI UM PULO NO LAGO.


 Hipótese: DEIUMPULONOLAGO
VI O SAPO NA LAGOA
 Hipótese: VIOSAPONA LAGOA

Período Silábico-alfabético

Considerada como fase de transição entre períodos silábico e alfabético,


tem por característica a troca de letras no processo de formação das palavras.
É nesse período que tem início a compreensão da formação de sílabas com mais
de duas letras.

 CASA= KSA

No exemplo anterior, o som de uma sílaba ter mais de uma possibilidade


de escrita mexe novamente com o que a criança já internalizou, exigindo que ela
faça uma nova adaptação e assimilação da nova possibilidade.

Período Alfabético

Compreende a última hipótese relacionada ao período de alfabetização,


estende-se por maior período de tempo e tem por característica o uso da escrita
com clareza; são observadas trocas de letras e omissão de algumas até que o
domínio ortográfico esteja totalmente assimilado.
 Erros como:
BORBOLETA = BOBOLETA
PEIXE = PIXE
ELEFANTE = ELEFATE

O desenvolvimento da escrita continuará sendo trabalhado e construído


pelo seu uso constante entre acerto e erros.
Veja a seguir alguns exemplos de outras características da assimilação de
novas palavras e ortografias.

 Escritas alfabéticas sem predomínio de valor sonoro:


CABELO = SABELO ou CAPELO
GELO = JELO
AGULHA = AJULHA ou AGULIA

 Escritas alfabéticas com algumas falhas na utilização do valor sonoro


convencional:
Queijo = qeijo

 Uso de praticamente todas as regras, alguns erros de ortografia


pertinentes ao não conhecimento e uso das palavras:
COMPREENSÃO = COMPREENÇÃO

Dificuldades de Aprendizagem

Conhecer o processo pelo qual a criança aprende é de grande importância,


por isso o professor deve viabilizar atividades que ajudem no desenvolvimento
da leitura e da escrita, bem como observar se os erros apresentados pelo aluno
caracterizam alguma dificuldade de aprendizagem.
As dificuldades podem ser por fatores variados, desde a falta nutricional
que tenha comprometido o processo de aprendizagem até algum fator de origem
genética ou biológica.
Dentre as dificuldades mais comuns observadas em sala de aula estão:
 troca de fonemas;
 dificuldade em registrar seguindo o que se ouve;
 dificuldade de atenção e registro.

É importante lembrar que o professor, em sua observação e interação com


o aluno, seja capaz de identificar uma dificuldade na aprendizagem. Entretanto,
quando essa dificuldade ultrapassa as possibilidades de sala aula, o aluno
precisa de apoio externo, com profissionais que identifiquem a origem da
dificuldade para, se for o caso, ser encaminhado para tratamento em conjunto
com a escola e a família.

Síntese

O estudo dos processos em que ocorre a alfabetização traz contribuições


essenciais para a prática pedagógica, fornecendo ao professor ferramentas de
trabalho que favoreçam na criação de estratégias de ensino e aprendizagem.
Não temos uma receita pronta de como se fazer a alfabetização, mas
conhecemos o caminho pelo qual ela deve percorrer, cabendo a cada
profissional da área educacional buscar a qualidade de uma prática inovadora a
fim de construir o desenvolvimento e a criação do pensamento para o exercício
da função social da escrita.

Atividades de Aprendizagem

Componha uma atividade, observando sua didática em dois momentos da


história: como era ensinada antes e depois da teoria do construtivismo.
Aula 7 – Metodologia da Alfabetização

Fonte: Pixabay (2018)

Olá, estudante! Chegamos à reta final da nossa disciplina com uma


“bagagem” significativa diante do conceito de alfabetização escolar e sua
implicação frente às necessidades educacionais e função da escrita. Nesta aula,
vamos refletir a respeito das práticas pedagógicas já estudadas e suas
aplicações dentro do trabalho do professor, tendo em vista o papel deste perante
a alfabetização.
Função das teorias pedagógicas

Assim como vimos na abordagem trazida por Magda Soares em nossas


primeiras aulas, a escrita tem sua função social, portanto, alfabetizar precisa ir
além da decodificação do alfabeto. Não somente avançar em termos de leitura
e escrita, mas promover o que se chama de uma “educação libertadora”, oferecer
ao aluno condições de aprender mais do que está nos livros didáticos, promover
o encontro de sua identidade, da busca e construção do seu próprio
conhecimento.

Construir o conhecimento deve permitir que o indivíduo desenvolva a


capacidade, por si próprio, de analisar, compreender e formular ideias
e opiniões. Desta forma, poderá apresentar contribuições à sociedade,
não somente na visão de mercado de trabalho com a produção de bens
materiais, mas intelectualmente, com a produção de valores sociais e culturais.

As teorias pedagógicas se desenvolveram pela prática pedagógica, pelo


surgimento das necessidades no decorrer da história, assim como há um século
não se ouvia falar na abordagem Construtivista e na oportunidade de o aluno ser
sujeito de sua educação. Temos, com o passar do tempo, a construção de uma
nova história, é provável que novas teorias e novas formas de aprender e de
ensinar apareçam conforme novas necessidades.
Aproveitar o que já foi descoberto, estudado e desenvolvido na prática
permite um trabalho mais qualificado e objetivo. Com a modernização das
práticas de ensino e aprendizagem, torna-se impossível escolher um único
método e o aplicar como uma receita pronta e que surtirá sempre os mesmos
efeitos, seja qual for o aluno e o contexto em questão.
No decorrer deste estudo, já concluímos que devemos valorizar a
bagagem intelectual e cultural trazida pelo aluno para o ambiente escolar e
permitir que a escola seja um local facilitador e mediador de amplas trocas de
conhecimento, permitindo ao aluno se tornar estudante, isto é, sujeito ativo de
sua formação educacional.
O domínio das teorias pedagógicas torna-se essencial para que o
processo de aprendizagem seja observado e realizado com qualidade, foco no
letramento e desenvolvimento social do estudante, não somente em números a
serem apresentados em estatísticas governamentais. A partir da qualidade
desenvolvida acerca do aprendizado, do letramento e da ascensão do estudante
dentro da sociedade, será possível com o tempo, produzir a história da
alfabetização no Brasil sob melhores perspectivas.

É importante lembrar que, de


forma positiva ou negativa,
todas as metodologias
utilizadas na história têm seus valores
e contribuíram até aqui no
conhecimento que hoje pode e deve
ser aplicado na prática pedagógica,
logo, o domínio das teorias deve estar
presente no trabalho e estudo de cada Fonte: Pixabay (2018)
professor que exerce a função de
mediador do conhecimento.

A função do professor mediador

Antes de falar do trabalho do professor, é preciso deixar de lado o conceito


de que este exerce sua profissão por dom ou por amor, por mais apaixonado
que ele seja, antes de tudo é preciso valorizar sua capacidade e seu
conhecimento do que será aplicado em sala de aula e planejar de acordo com o
que envolve a aprendizagem de seu educando.
Sabe-se que a humanidade está em constante evolução, a tecnologia
evolui e as necessidades também, o professor mediador é uma delas em todos
os momentos da sociedade, visto que, a escola e a escrita têm função social, o
professor também se enquadra no desenvolvimento desta formação social. Com
o conhecimento das Teorias Pedagógicas e os estudos acerca do
desenvolvimento e da aprendizagem nas últimas décadas, torna-se
imprescindível a ação diferenciada do professor diante da prática cotidiana no
processo de alfabetização.
O professor, em sua função de mediador, deve, além de estar preparado
para exercer com qualidade a prática pedagógica, conhecer o educando no qual
o trabalho será desenvolvido.

O aprendizado se aprimora a partir do olhar criterioso do professor que entende


quais as facilidades e necessidades demonstradas durante o processo de ensino
e aprendizagem.

Dentro da teoria apresentada por Piaget, a criança elabora hipóteses de


acordo com os conhecimentos adquiridos e assimila novas informações
conforme os desafios colocados a ela, suas tentativas podem nem sempre ser
corretas, mas delas origina-se um rico material para o trabalho do professor.
A assimilação de novos conhecimentos pelo estudante e o papel
essencial do professor mediador aparecem também no estudo do Filósofo e
Pedagogo brasileiro, Dermeval Saviani:

O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada


indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo
conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à
identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos
indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado
e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir
esse objetivo. (SAVIANI, 1995, p.17)

O professor precisa estar frente a uma educação inovadora, não somente


para o futuro, mas educação que liberte o educando no próprio presente para
que seja sujeito de seu próprio conhecimento. Por isso, o papel de mediação
está em provocar no aluno o desejo de buscar mais, segundo o professor e o
psicólogo criador da Teoria da Experiência da Aprendizagem Mediada (MLE),
Reuven Feuerstein, o professor deve deixar de matar a “sede” do aluno e,
contrariamente, oferecer a ele mais sal. Ou seja, o desafio e desconforto é
necessário para a produção do conhecimento.

Você já deve ter ouvido falar a respeito da plasticidade do cérebro


humano, ou a capacidade de ele se regenerar e se adaptar a novas
condições. O cérebro se mostra como uma grande máquina em suas
funções de produção, que precisa ser alimentado por novas informações e
experiências que geram novas conexões e aprendizados.

O cérebro busca respostas,


faz reflexões, volta a tempos
passados e gera hipóteses futuras,
oferecer ao aluno uma prática
docente com vista ao
desenvolvimento da autonomia tem
por objetivo a superação de ambos
os envolvidos neste processo, tanto
professor quanto aluno. O objetivo
Fonte: Pixabay (2018) da educação mediadora é
justamente que cada vez mais o
aluno tenha condições e motivação para buscar o conhecimento por si próprio.

Prática pedagógica

Ao falar de aprendizagem, o pensamento normalmente nos remete à


figura da escola, espaço físico aliado ao corpo pedagógico e alunos.

O papel da escola é o de propiciar um ambiente de ensino e


aprendizagem!
Quando nele não existe uma prática escolar que possibilite trocas de
experiências, pensamentos, diferenças, conhecimentos e culturas, a escola
perde seu caráter social, deixa de ser um lugar de “aprender” para exercer um
papel somente disciplinador, onde alunos estão abaixo dos profissionais
detentores do conhecimento.
Aprender é um ato que ocorre durante toda a extensão da vida do
indivíduo, este dado é importante como forma de conscientização de que o
conhecimento perpassa o ambiente escolar. Dessa forma, a escola e o
professor não são os detentores do conhecimento do aluno. Reconhecido o
papel da escola, identifica-se a capacidade de o aluno participar de uma prática
pedagógica transformadora que seguirá contínua com a formação de cada
cidadão.

Desenvolver a capacidade de “aprender a aprender” possibilita não somente o


domínio do conteúdo proposto, mas o poder de transformação e inovação do
que fora aprendido. O professor tem a função de mediador entre o conhecimento
acumulado no decorrer da história e o aluno que recebe este conhecimento que
pode usar o novo para inovação em um novo pensamento.

Atualização pedagógica

É válido refletir que o aprendizado também se dá pela interação entre


professor e aluno, portanto, precisa existir dentro da prática pedagógica de cada
profissional o compromisso em olhar o aluno e suas particularidades e
estabelecer uma relação de empatia com o estudante, ou seja, ter a percepção
que o estudante presente naquele processo de ensino e aprendizagem não é o
objeto de estudo do professor.
O professor deve observar o aluno e planejar sua abordagem colocando-
se no lugar dele, este movimento possibilita que o professor enxergue os pontos
de vista, as dificuldades e as necessidades de cada estudante.
Exercer um planejamento com base na empatia propicia uma prática
atualizada e diversificada, visto que esta beneficia diferentes alunos em
diferentes contextos. Para a prática atualizada há a oportunidade e o desejo pela
constante qualificação e reciclagem de formas e métodos.

Assim como as tecnologias


não só mudaram o rumo da
história, como também
ajudaram a construí-la,
fazendo deste processo um
ciclo contínuo de
necessidades e avanços, a
didática adentra este campo
de necessidades à serem
Fonte: Pixabay (2018) supridas.
Historicamente, com
o desenvolvimento da tecnologia, temos o desaparecimento e o surgimento de
profissões. O alfaiate cede lugar às grandes indústrias e suas confecções; o
datilógrafo migra para o conhecimento dos novos sistemas e softwares
oferecidos com o constante desenvolvimento dos computadores; e assim por
diante, com profissões como telefonistas e mensageiros.
Na atualidade, muito se fala do raciocínio rápido, na criatividade em
desenvolver publicidade e rápida conexão feita dentro do contexto de
comunicação. Para atender a essas necessidades é preciso o desenvolvimento
de habilidades compatíveis, ou mais, para ensinar dentro de um contexto em que
a informação surge antes mesmo de o indivíduo apresentar por ela curiosidade
ou necessidade, o professor precisa estar atualizado.
Para o professor estar atualizado, compete a ele estudar, observar e
planejar de maneira que não seja apenas lecionada uma disciplina, mas feito um
diálogo compatível com o mundo do aluno.
Avaliação

Fonte: Pixabay (2018)

A avaliação da aprendizagem por muitas vezes pode se estender em uma


discussão delicada sobre o assunto. Defendida por alguns profissionais e
criticada por outros, a avaliação é caracterizada como parte do processo de
ensino e aprendizagem.
Conhecida em grande parte pelo modelo tradicional de avaliação, isto é,
provas orais e escritas, com objetivo de quantificar o conteúdo aprendido pelo
aluno, sofreu modificações no processo de avaliar.
Muito do preconceito que o termo avaliação sofre atualmente se dá pela
fama dos métodos utilizados anteriormente. Como vimos em nosso estudo sobre
a história da alfabetização no Brasil, a educação passou por fases, adaptações
e mudanças; muitas delas feitas às “escuras”, ou seja, sem ter como base um
real estudo das práticas de ensino e dos processos de aprendizagem.
Décadas de gerações foram formadas pelas conhecidas provas, que
muito se caracterizam pelas respostas decoradas e estudos repetitivos do
mesmo conteúdo.
Importante destacar que o método tradicional de avaliação, assim como
o método tradicional de ensino, traz inúmeras colaborações ao sistema
de ensino construído no decorrer dos anos. Sem poder descartar seus
pontos positivos na formação de muitos alunos.

Críticas à parte, é preciso se lembrar de que com os estudos na área de


educação e psicologia temos uma nova abordagem nos sistemas de ensino,
mudando o foco de como ensinar para como se aprende. A partir do momento
em que o processo de ensino e aprendizagem é compreendido sob este novo
olhar, surge também a necessidade de novas formas de avaliar, visto que cada
estudante é considerado diferente dentro de sua aprendizagem.
Cada aluno é tido como indivíduo com autonomia e participação ativa na
construção e busca de seu conhecimento. Sujeito com bagagem histórico crítica,
com experiências e contexto diferentes dos demais, mesmo que ainda crianças.
Ao estabelecer as individualidades, surge a necessidade de repensar, não
apenas as formas de avaliar, mas também quais os objetivos a serem
alcançados com a sua prática.

A avaliação não é tudo; não deve ser o todo, nem na escola nem fora dela; e se
o frenesi avaliativo se apoderar dos espíritos, absorver e destruir as práticas,
paralisar a imaginação, desencorajar o desejo, então a patologia espreita-nos e
a falta de perspectivas, também. (MEIRIEU, 1994)

A avaliação faz parte da prática pedagógica e sua aplicação com objetivos


estabelecidos, fornecem ao professor importantes dados sobre a aprendizagem
do aluno, pode informar não somente o quanto este aprendeu ou deixou de
aprender, mas de que forma e com qual metodologia se desenvolveu melhor.
Portanto, ao aplicar uma avaliação, ela deve auxiliar o professor no
conhecimento do aluno em questão e não ser apresentada de maneira estática,
como única informação válida.
Dentro da própria alfabetização é possível observar as divergências
de um processo de avaliação estático, baseado em provas com a
escrita de perguntas e respostas. Como poderia um professor
alfabetizador saber o quanto seu aluno aprendeu mesmo antes de este ter
domínio da leitura e da escrita para depois fazer a prova?

Com o passar dos anos foram elaboradas várias maneiras de avaliar, a


própria observação de como os alunos elaboram o pensamento para chegar às
respostas faz parte das experiências reformuladas.
Entende-se que para uma avaliação atender aos seus objetivos como
instrumento de ação diante do processo de ensino e aprendizagem, ela precisa
se caracterizar como diagnóstica, formativa e somativa. A seguir, você vai ver
melhor cada uma delas.
É caracterizada pela interação entre
professor e aluno. Ficam de lado as tradicionais
provas escritas que quantificam acertos e erros
e dão espaço à observação de práticas
exercidas pelo aluno. Dentro desse conceito, o
processo de avaliação se dá em todo tempo e
em diversas atividades, possibilitando uma
expressão natural do aluno diante do que está
sendo observado.
Diagnóstica A avaliação diagnóstica deve ser
realizada de forma contínua, apresentando
dados sobre o aprendizado e etapas já
concluídas, avaliando as habilidades
desenvolvidas dentro de um processo anterior,
viabilizando as condições de trabalho para a
próxima etapa, seja ela no início de um ano
letivo, na abordagem de um novo conteúdo ou
mesmo dentro do desenvolvimento cognitivo e
social do estudante.
Pode ser considerada como informativa ou
mesmo investigativa. Seu processo se dá pelo
recolhimento de informações a curto e longo prazo,
com vista em encontrar possíveis dificuldades no
Formativa processo de aprendizagem. Caracteriza-se por reunir
dados apresentados pelo aluno, sejam eles
representados no papel ou em sua ação no cotidiano
diante das atividades e desafios propostos. O uso de
portfólios com atividades e observações de cada
aluno, em diferentes fases, serve de base em vários
momentos dentro do desenvolvimento escolar.

É realizada normalmente ao final de um


conteúdo trabalhado como forma de avaliar o
desenvolvimento pedagógico e conhecimento
agregado pelo aluno naquele processo. Sua
função não é menos importante que as demais, no
entanto, esta tem a obrigação de fornecer ao aluno
um feedback de seus erros e acertos, além de
propor uma autoavaliação em relação aos seus
Somativa estudos e esforços na busca de construção do
conhecimento, viabilizando uma análise sobre o
próprio sistema adotado por ele para aprender
mais e não somente o que lhe fora dado.
A avaliação com caráter somente
classificatório e quantitativo, ou seja, sem o retorno
do professor ao aluno e sua autoavaliação, não
estabelece uma interação entre professor-aluno,
finalizando o processo sem que haja uma análise
dos objetivos propostos e alcançados ou não.
Ao compreender o processo avaliativo diante destas características
abordadas, não temos a definição de um método de avaliar melhor ou pior que
outro, mas um processo avaliativo que respeita o estudante em seus “tempos”
de aprendizagem, habilidades e dificuldades. É permitido a ele ser avaliado
como todo e não somente por questões quantitativas e classificatórias
dentro de determinado conteúdo.
Ainda segundo a Lei nº 9.394/96, conhecida como Lei de Diretrizes e
Bases da educação,

A verificação do rendimento escolar observará critérios:


a) Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre
os quantitativos e dos resultados ao longo do período
sobre os de eventuais provas finais.

Diante disso, caracterizamos a avaliação


processual como a avaliação que permeia todo o
Fonte: Pixabay (2018)
processo de aprendizagem, junta informações obtidas
em atividades e observações realizadas em diversos
momentos do aluno no ambiente escolar, permitindo uma visão ampla de suas
conquistas, desenvolvimento de habilidades e pontos que precisam ser
reforçados ou retomados.
Conclui-se dentro da avaliação processual uma atividade indissociável de
uma boa prática pedagógica, sendo necessária no planejamento e na
observação diária do professor em sua atuação e interação em sala de aula.
Síntese

O trabalho de alfabetização em sala de aula exige do professor


conhecimento, habilidade e competência para dar aos seus alunos condições
para que construam seu próprio conhecimento, a partir de suas vivências e
curiosidades. O conhecimento das teorias pedagógicas dá suporte ao professor
no seu planejamento e ação dentro de determinado contexto, além de permitir
realizar sondagens periódicas como forma de análise, elaborando práticas e
intervenções dentro da sala de aula.

Atividades de aprendizagem

Desenvolver a capacidade de “aprender a aprender” possibilita não


somente o domínio do conteúdo proposto, mas o poder de transformação e
inovação do que fora aprendido. Reflita de que forma você, como estudante,
pode utilizar o conceito de “aprender a aprender” e melhorar a sua própria
aprendizagem.
Aula 8 – Prática Pedagógica

Prática Pedagógica

Fonte: Pixabay (2018)

Chegamos à última aula! Conhecer e trabalhar com alfabetização, seja ela


em espaços ou idades diversas, requer muito preparo. Exercer o papel do
professor mediador para a conquista de cada aluno em construir seu
conhecimento é bastante gratificante!
Agora que você conhece a história da alfabetização em nosso país e suas
variadas teorias e abordagens pedagógicas pode analisar com mais habilidade
as práticas de ensino.
Nesta aula, você vai ver práticas pedagógicas.
Bom estudo!
A alfabetização com foco no letramento visa uma educação libertadora,
com a proposta de que o aluno seja sujeito de sua própria aprendizagem.
Defende-se que a base da alfabetização quando bem alicerçada permite ao
sujeito criar asas dentro do conhecimento, a partir desta afirmação, imaginamos
o quão importante será a prática reflexiva que este estudante irá exercer no
decorrer de sua vida. Para tanto, imaginamos primeiramente em quão reflexiva
é a prática do professor em sala de aula, o qual será muitas vezes o propulsor
do encantamento do aluno pela arte de aprender a aprender.

Estratégias flexíveis

Nas aulas anteriores, foi possível compreender como a criança aprende,


quais etapas e processos envolvidos para que haja o aprendizado. Contudo,
quando o professor chega em sala, o que ele inicialmente observa de cada aluno
não lhe permite ter uma base completa de como é cada um dos estudantes em
suas particularidades. Esta visão primária e superficial do aluno é o que podemos
comparar com a “ponta de um iceberg”.

Segundo esta teoria, um iceberg flutua deixando à vista somente 10% de seu
volume total, restando, assim, 90% abaixo da superfície do mar.

Sem preparo e instrumentos suficientes, um navegador pode se planejar


somente para o que consegue visualizar, ignorando a camada de gelo que fica
submersa, ocasionando a colisão e até mesmo o naufrágio de sua embarcação.
Da mesma forma é o planejamento do professor em sala de aula, planejar sem
conhecer as necessidades, habilidades e contextos em questão é o mesmo que
se comparar a navegar sem a instrumentação necessária e adequada. É
possível enxergar o aluno, mas não se descobre os fatores internos que o levam
a aprender mais e melhor, bem como não são visíveis os motivos pelo qual
aquele aluno não aprende.
O cuidado em elaborar um planejamento flexível, ou seja, que atenda às
necessidades do aluno e também aos objetivos do professor torna-se crucial
dentro da prática pedagógica.
Ao planejar a abordagem de um conteúdo a ser trabalhado é preciso
visualizá-lo em ângulos diferentes e, primeiramente, permitir a discussão a
respeito de tal assunto, só depois disso deve ser proposto ao aluno. Saber ouvir
é um ato para desenvolver a elasticidade dentro do planejamento para que,
durante a conversação em sala de aula, cada fala e pensamento possam ser
aproveitados na própria discussão ou mesmo dar abertura para novos
conhecimentos.

É preciso ter de forma clara a visão de que “elasticidade” não se refere


a “bagunça” dentro da aula, tão pouco a falta de objetivo e foco.

Mas como ter foco dentro desta


perspectiva de planejar e propor
discussões onde poderão haver muitos
pontos de vista, familiarização de
conteúdo ou entrada em contextos?

Para isso, vale trabalhar com o conceito de “resiliência”, temos em seu


significado a capacidade de um material sofrer alterações em seu estado físico
e, posteriormente, conseguir retornar a sua forma natural, absorvendo os
impactos sofridos sem maiores danos.
Exemplo: Elástico!
Ao ser esticado, ele sofre uma tensão; ao ser solto, inicia-se um processo
de absorvição em suas propriedades físicas até que volte totalmente a sua forma
normal.

Dentro das particularidades humanas, o conceito de “resiliência” se dá


pela capacidade de um indivíduo de lidar com adversidades, com seus próprios
medos, e vencer os obstáculos a partir de suas escolhas e esforços, sejam eles
de origem psicológica, intelectual ou física.
O termo “resiliência” associado ao trabalho docente refere-se à
capacidade de planejar/colocar em prática e, durante esta prática, conseguir
observar o surgimento de novas discussões e até mesmo a retomada do
conteúdo de outra forma. É ter a consciência de que o professor não é o centro
do saber e que as aulas não precisam ser “engessadas”, sendo possível usar a
fala dos alunos como fatores que agreguem valor e sejam propulsores de novos
conhecimentos.

A formação do leitor

Mais do que ensinar conteúdos, a alfabetização com foco no letramento


objetiva desenvolver o prazer pelo aprendizado, tornando-a significativa. Quando
a iniciação ao mundo das letras é prazerosa ao aluno, dá a ele a base e as
ferramentas para construir seus objetivos.
Trabalhar com a formação do leitor abre um leque de oportunidades a
serem exploradas no decorrer das aulas, torna possível a união de várias teorias
e a utilização de didáticas diferentes.
A teoria e a prática precisam caminhar juntas, dando visão de todo o
processo ao professor. Ao iniciar o trabalho com alfabetização, é necessário que
exista boa quantidade e qualidade de material ofertados aos alunos.

Você já sabe que parte do processo de aprender a ler e escrever se


aprende fazendo.
Planejar o espaço de trabalho deve acontecer não apenas pelo
responsável pela construção do espaço em sua concepção inicial, mas também
em cada aula que for elaborada. Uma aula vai além de uma sala com paredes
e carteiras, o professor pode mudar a dinâmica e disposição das carteiras e dos
móveis; criar espaços de leitura que fiquem acessíveis e despertem interesse e
curiosidade nos alunos.
Os materiais devem ser trocados periodicamente, no entanto, a leitura de
uma mesma obra além de poder ser incentivada, gera interesse no aluno. Novas
letras, palavras e conceitos são aprendidos dia a dia e a leitura de um mesmo
livro em tempos diferentes pode proporcionar novas descobertas.

Fonte: Freepik (2018)

Quando se fala em materiais logo, se remete aos livros de literatura com


lindas e coloridas figuras. Realmente eles são lindos e produtivos, mas caixas
com diversas figuras, recortes de revistas, recortes de palavras e encartes
também são considerados materiais de leitura; além de serem economicamente
viável, fazem parte do cotidiano de todos.
As típicas salas de aula com alfabeto colado nas paredes são as primeiras
imagens que nos remetem às salas de alfabetização.

Sim, ele o alfabeto pode estar lá!


O alfabeto faz parte do mundo da leitura e da escrita, e o código escrito
precisa ser aprendido e não apenas decodificado. Muito mais que o alfabeto
fixado na parede, diferentes produções podem fazer parte dela, como, por
exemplo: cartazes com textos e figuras prontas; cartazes com textos coletivos
produzidos em uma aula e depois expostos; listas de palavras já conhecidas;
listas de nomes; produções dos alunos; até mesmo o próprio alfabeto,
confeccionado por eles e com real significado de algo trabalhado em aula.

Se a disposição da sala de aula pode ser alterada para aguçar


percepções e sentidos, por que a própria aula não pode ter didática
diferente?

Muitos profissionais podem sentir insegurança em trabalhar fora de sala


para não perder o “controle” da aula. No entanto, aprendemos até agora que
precisamos valorizar as vivências dos alunos, logo, nada melhor do que
proporcionar vivências.

Atividades sugeridas

O imaginário infantil pode ser amplo e diversificado, o acesso à


informação e a materiais escritos é cada vez maior por parte das crianças. Vale
lembrar que o importante não é a disponibilidade de materiais sempre prontos e
comprados, mas valorizar o contexto em que os processos de ensino e
aprendizado acontecerão, sem ficar preso a recursos prontos.

Trabalho com rótulos: identificação de letras e sons por meio de nomes


e marcas conhecidas pelo rótulo de produtos. Um exemplo simples é propor à
criança que ela procure um rótulo de produto que contenha a letra inicial de seu
nome. Por exemplo: Yara – Yakult®.
Outra forma é a formação de frases ou histórias a partir de rótulos diversos.
Manter uma caixa com recortes disponíveis, por exemplo, permite a criação de
várias atividades e sempre relembrar significados. Com este trabalho será
possível observar a própria criança utilizando os recortes em momentos
diferentes do dia, até mesmo dentro da criação de suas falas e brincadeiras.

Trabalho com músicas: a música é um importante aliado dentro da prática


pedagógica e pode ser utilizada de diferentes formas. Vale ressaltar que a
música não é colocada como forma de ocupar o tempo, e sim como aprendizado,
por mais “bonitinha” que ela seja, a letra e as figuras devem ser exploradas.
Dentro do contexto de uma música, o professor pode propor: interpretar
uma história; identificar palavras-chave; relacionar palavras e figuras; trabalhar
rimas e sequência de fatos e frases. Brincadeiras também podem ser
desenvolvidas a partir de músicas, estimulando a percepção auditiva e visual.
Por exemplo, a típica dança da cadeira pode ser trocada por pausas na música
para que os alunos procurem objetos com a palavra em que a música parou. A
brincadeira da “batata quente” pode envolver perguntas e respostas ou mesmo
se apresentar como uma forma paralela e mais divertida de um sorteio para que
cada criança conte um fato, algo que tenha feito no final de semana e assim por
diante.

Trabalho com histórias: um dos trabalhos mais ricos na alfabetização é a


contação de histórias. Por elas, novos mundos podem ser conhecidos, medos
podem ser deixados de lado, expressões podem ser observadas e a
alfabetização é enriquecida.
Estudamos até aqui a necessidade de despertar o gosto pela leitura no
aluno. O mundo dentro do contexto de uma história torna-se muito mais próximo
da realidade infantil. Ao ler e observar figuras, ele desenvolve a imaginação e a
interpretação; ao ouvir a leitura de uma história, ele pode observar a dicção das
palavras e a formação das frases, formando as cenas da história e as pausas
dadas em cada vírgula ou ponto, informações que também estarão presentes
quando este aluno iniciar suas próprias produções; ao ouvir uma contação de
histórias, ele desperta a alegria em poder formar suas histórias, permitindo maior
segurança ao se expressar, pois o contador da história usa diversas linguagens
gestuais, expressões corporais e faciais.
As histórias devem fazer parte do processo de ensino-aprendizagem e
podem ser contadas pelo professor, pelos alunos, também podem aparecer em
rodas de leitura ou até mesmo criadas coletivamente. Cada criança pode dar
continuidade a uma história que começou a ser contada; podem mudar o final;
podem transformar em histórias em quadrinhos.
Como registro escrito, a história pode ser separada em quadros e
reorganizada em sua ordem cronológica; ser ilustrada; proposto encontrar
palavras etc.

Trabalho com sondagem: é interessante propor atividades livres, a partir


de um espaço propício para a formação do leitor. É possível observar a interação
do aluno com o ambiente e demais colegas. Toda criança precisa de tempo para
fazer suas criações e ser sempre dirigidas pelo professor. Dispor de materiais
diversos, livros, caixas de recortes, brinquedos lúdicos e até mesmo pedaços de
tecido, permitem ao aluno brincar, se expressar, interagir e aprender.
Cabe ao professor usar este tempo de atividade livre para o aluno, para
fazer observações a respeito da interação do aluno com o objeto, com os demais
colegas, a capacidade de criação de brincadeiras e até mesmo a reprodução de
fatos já vivenciados em seu cotidiano.

Contato com a escrita

Com o conhecimento das teorias pedagógicas é possível que você tenha


se identificado mais com uma ou outra e queira utilizá-la em sua prática
pedagógica. É importante saber que o trabalho com a decodificação do código
escrito não precisa estar dissociada aos demais trabalhos ou mesmo das
atividades propostas no item anterior.
Juntamente com o trabalho de uma história, as brincadeiras com músicas
e outras formas lúdicas, o código escrito pode e deve aparecer. Para um trabalho
inicial, ele pode aparecer no trabalho com atividades concretas, utilizando tintas,
recortes e colagens. Deixar a criança utilizar o corpo para aprender, auxilia
bastante no desenvolvimento dela.
Atividades utilizando as pontas dos dedos para a grafia dos primeiros
símbolos e letras permitem o desenvolvimento visual e motor, antes de ensinar
a criança a pegar no lápis e escrever no papel, permita a ela explorar com o
próprio corpo. Uma atividade com areia no parquinho ou mesmo em uma caixa
de areia, dá a criança condições de grafar sem medo de errar e ter que apagar
a folha em branco, assim ela treina, com a ponta do dedo, ludicamente seus
primeiros traços.

O conhecimento não precisa estar estatizado em etapas de ensino, ou


seja, a criança não precisa obrigatoriamente conhecer todas as letras
para “passar para a próxima fase”. Assim também acontece com regras
de pontuação e ortografia, em alguns momentos podemos achar que esse tema
ainda não pertença à fase em que a criança está, no entanto, ela já pode ter um
contato inicial e se familiarizar aos poucos com aquela novidade.

Toda atividade deve ser planejada de acordo com o que a turma já


apresenta de evolução, nem avançada demais, de forma que não compreendam
o que é solicitado, nem simples demais, para que não percam o interesse por
novos aprendizados. Ao planejar, tenha em vista promover:
 Atividades significativas: agregam conhecimento a ser utilizado no
cotidiano.
 Atividades produtivas: o aluno enxerga seu vínculo com a atividade.
 Atividade desafiadora: utiliza conhecimentos prévios para
elaboração de estratégias.

Mais que elaborar e aplicar conhecimentos em sala de aula, é preciso


compreender que a criança aprende interagindo. Uma das maiores interações
dela será com o professor, portanto, além de observar, participar deste processo
o tornará muito mais significativo!
Síntese

As práticas para alfabetização são diversas e ricas pois podem ser


exploradas conforme o contexto em que estará inserida. Não existe uma receita
pronta que surtirá sempre o mesmo resultado, trabalhamos com seres humanos
e cada um é único, com características talvez parecidas, mas com reações
diferentes entre si. Planejamento, observação e atualização precisam ser uma
constante na prática do professor na formação do leitor.

Atividades de Aprendizagem

Dentro do conceito de “resiliência” trabalhado nesta aula, reflita de que


forma você, como professor, poderá melhorar sua abordagem e prática de
ensino, levando em consideração a necessidade de formar o leitor com objetivo
no letramento e não somente na decodificação.
Referências

CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione,


2009.
KRAMER, S. Alfabetização, leitura e escrita: formação de professores em
curso. São Paulo: Ática, 2001.
MICOTTI, M. C. de. Alfabetização: propostas e práticas pedagógicas. São
Paulo: Contexto, 2012.
OÑATIVIA, A. C. Alfabetização em três propostas: da teoria à prática. São
Paulo, 2009.
SOARES, M. Alfabetização e letramento. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 2010.
VALLE,L.de L.D. Metodologia da alfabetização. [livro eletrônico]. Curitiba:
InterSaberes, 2013.

Você também pode gostar