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O AUTOR
Epaminondas da Cruz é professor de Licenciado em Educação Física formado
pela UniAraguaia, Licenciatura Pedagogia (FIAR), pós-graduado em Libras (FAVENI)
e docência do ensino superior na educação física escolar (FAVENI) e mestre em
Ensino de Ciências pela Universidade Estadual de Goiás.

FICHA CATALOGRÁFICA
LIBRAS – LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

C957l, Cruz Júnior, Epaminondas Rodrigues da.

Libras – Língua Brasileira de Sinais / Epaminondas


Rodrigues da Cruz Júnior – Goiânia: NUTEC, 2021.
122 p.: il. - (Educação a distância UniAraguaia).

Possui bibliografia.

1. Língua Brasileira de Sinais. 2.Inclusão. 3. Surdez –


Educação e Linguagem I. Centro Universitário Araguaia. II.
Título.
ISBN: 978-65-84788-07-7

CDU: 376:81’221.24

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Marta Claudino de Moraes


CRB-1928

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ARAGUAIA - UNIARAGUAIA
1º Edição – 2023

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio e para qualquer
fim. Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais

REITOR
Professor Mestre Arnaldo Cardoso Feire
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PRÓ-REITORA ACADÊMICA
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COORDENAÇÃO DA EQUIPE DE DESIGN GRÁFICO
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DIAGRAMAÇÃO DO CONTEÚDO TEXTUAL
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REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Professora Mestra Maria José de Miranda

CENTRO UNIVERSITÁRIO ARAGUAIA – UNIARAGUAIA


NÚCLEO DE TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Av. T-10 nº 1.047, Setor Bueno - Goiânia-GO, CEP: 74.223.060

Correio eletrônico: coord.ead@faculdadearaguaia.edu.br


Site Institucional: www.uniaraguaia.edu.br

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SUMÁRIO

UNIDADE 3 - FLEXIBILIZAÇÃO DOS MÉTODOS PARA O TRABALHO COM A


CRIANÇA SURDA...................................................................................................100
3.1. Tipos de métodos pedagógicos para trabalhar com pessoas surdas........104
3.2. Adaptações práticas para o processo de ensino e aprendizagem da criança
com surdez………………………………………………………...........................……106
3.3. Relações do professor e o intérprete no processo de ensino e aprendizagem
da criança com surdez…………………………………….........................................113
3.4. A família da criança surda e as participação no processo de
aprendizagem……………………………………………………………….............…..114
3.5. A cultura surda e a cultura ouvinte…………………………………................116
ATIVIDADES……………………………………………………………….............….…120
REFERÊNCIAS…………………………………………………………….................…122

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UNIDADE III: Flexibilização dos métodos para o trabalho com a criança surda

O processo histórico na alfabetização dos surdos mostra-nos na unidade um


sobre a importância da flexibilização para o processo de ensino e aprendizagem da
criança com surdez. A predominância histórica do uso na flexibilização leva-nos a
perceber os diversos métodos que surgiram ao longo da história da educação dos
surdos.
Durante um momento da história a pessoa com surdez era considerada incapaz
de adquirir a aprendizagem da leitura e da escrita, tempos depois conseguimos
encontrar alguns autores que tiveram sucesso no processo de ensino e
aprendizagem. dentre eles temos:

PEDRO PONCE DE LEÓN – (1520-1584)

Autor de uma escola de surdos em um Mosteiro em San Salvador, na Espanha,


defendia que a aprendizagem era uma possibilidade de aceitação dos filhos dos
nobres. Ele acreditava que a melhor flexibilização para alcançar as pessoas com
surdez era através da escrita e da aprendizagem de um alfabeto bimanual, assim
determinava a aprendizagem pela soletração das letras. Seus estudos direcionaram
as pesquisas de Juan Pablo Bonet, o criador do primeiro alfabeto manual publicado.

100
Fonte: ROCCAFORTE, 2018.

Bonet que também era espanhol fez a sua publicação a partir de 1620, seu
primeiro livro tinha como título “Redução das letras e arte de ensinar a falar os Mudos”.
Apesar de ser um sucessor de León, Bonet acreditava que a melhor maneira de
flexibilizar a aprendizagem dos surdos era através da oralização.

JUAN PABLO BONET (1579-1633)

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Na França de 1712 a 1789 surgiu uma outra maneira de flexibilizar a
aprendizagem das crianças surdas pelo então Abade Charles Michel de L´Epée. Ele
acreditava que o processo de ensino e alfabetização dos surdos deveria acontecer
através do uso de sinais que era a língua que usava para se comunicar com seus
alunos.
CHARLES-MICHEL DE L´EPÉE

Na contrapartida de Charles Michel de L'Epée existiu outra figura importante,


Jacob Rodrigues Pereira, que não acreditava na flexibilização para o processo de
ensino fosse através dos sinais, mas sim através dos métodos que ensinassem ao
surdo a oralizar. Samuel Heinicke (1727-1790) corrobora com o pensamento, mas ele
usava o alfabeto manual para ensinar os surdos a falarem. Thomas Braidwood (1715-
1806) acreditava que deveriam ser os dois caminhos.
Essas linhas de trabalhos desenvolvidas ao longo dos anos no século XVIII
fizeram surgir duas frentes: a do Gestualismo e Oralismo. O Gestualismo foi uma
flexibilização que aconteceu na língua para o estabelecer da comunicação com a
pessoa surda, já o Oralismo era o método que tinha como primícia o ensino através
de métodos que ensinasse as pessoas a oralizar.
Nesse mesmo século houve uma crescente das concepções biológicas sobre
a surdez. Jean Marc Itard (1774-1838) fez várias publicações e acreditava que a
surdez era uma patologia e não adiantava que fizesse adaptações e flexibilizações de
métodos de ensino, pois para ela a solução era tratamentos e erradicação dessas

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pessoas Muitas foram as atrocidades que Itard cometeu até que descobrissem a
verdadeira causa da surdez, as atrocidades iam de abrir para estudo as pessoas
mortas, como também perfurações de tímpanos para introdução funis, uso de
sanguessugas e cateteres.
Thomas Gallaudet 1787-1851) dedicou sua vida aos estudo sobre os métodos
de ensino para trabalhar com a criança surda, morreu em 1851 e seu filho Edward
Miner Gallaudet deu continuidade à visão do pai que junto com um amigo Mason
Cogswell fundaram o American School for the Deaf (1ª escola para surdos, nos EUA)
e em 1864 tornou-se Universidade que trabalhava com as pessoas surdas e pessoas
que tinham afinidade com as temáticas de estudo. Uma instituição que existe até os
dias de hoje. Veja!

Fonte: https://www.gallaudet.edu/about

103
O surgimento da Universidade de Gallaudet vem acompanhada com uma linha
filosófica do Bilinguismo na educação dos surdos atual que é a possibilidade de utilizar
a língua de sinais como a língua mãe da comunidade surda e a segunda língua a do
seu país. No nosso contexto, a Libras como primeira e o português como segunda.

3.1. TIPOS DE MÉTODOS PEDAGÓGICOS PARA TRABALHAR COM PESSOAS


SURDAS

Os métodos são maneiras e formas de como o professor irá realizar o seu


trabalho. Assim cabe ao professor entender, compreender, dominar o conteúdo e
saber aplicar o seu conhecimento de uma maneira dinâmica para que o aluno possa
apropriar-se do conhecimento e estabelecer relação desse conhecimento adquirido
com o seu cotidiano.
Rangel (2005, p.11), ao escrever sobre os métodos, coloca que “a metodologia
de ensino é o meios não o fim”. Portanto é através do método que encontraremos o
caminho para a aprendizagem. Esta que é marcada por fatores lógicos,
biopsicológicos, epistemológicos, didáticos e históricos que são determinantes no
processo, pois depende da relação estabelecida entre professor e aluno.
Segundo Rangel (2005), os métodos podem ser individualizados, em grupos
com condições direcionadas pelo professor, no entanto , existem alguns princípios
apresentados: O princípio da adequação, o princípio da participação, da
espontaneidade, da vivência, da descoberta, da transferência e da reflexão.
Assim como existem os métodos apresentados por Rangel (2005), há também
na alfabetização os métodos Sintético que têm como base a unidade sonora, algo já
se utilizava no início do processo de alfabetização das crianças surdas, mas que para
elas não houve sucesso. Como por exemplo o método alfabético ou soletração que
trabalha o som das letras, no entanto para o professor em sala de aula talvez não haja
sucesso por se tratar de uma criança surda.
Há também o método fônico ou fonético que tem base na França e na
Alemanha. Esse estabelece a relação das palavras com uma imagem e um som
destas. Para tal método poderíamos ter uma flexibilização que poderia dar certo para
alguns surdos, no entanto necessitaria de uma mudança no qual o professor não
manteria o seu foco no som das palavras, mas sim no sinal que o surdo utilizaria para
essa determinada palavra.

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Outro método muito utilizado ainda hoje por alguns é o silábico, seu princípio
está centrado no reconhecimentos das letras, no som delas e nas alterações que
acontecem quando se tem a mudança de consoantes. Como se trata de um método
centrado no reconhecimento das palavras através do som é um método que para
alguns surdos não tem sucesso.
Já dentre os métodos analíticos que trabalham de um todo para as partes do
estudo, temos o método da palavração esse traz o reconhecimento de uma
determinada palavra, logo depois aumenta a quantidade de palavras incitando o aluno
a construção de seu universo de palavras associação esse a imagem a materiais
concretos. Tal método é muito utilizado para a alfabetização de crianças surdas, pois
ele é um meio termo dos métodos sintético e analítico utilização de memorização de
palavras que são ensinadas com os sinais.
O ensino deu continuidade e a pedagoga argentina Cecília Braslavsky propôs
um método que foi reconhecido como o de sentenciação. Esse parte de uma frase e
do trabalho do professor em desenvolver nessa sentença a aprendizagem do aluno
através das relações de palavras e sílabas contidas na frase. Assim como no método
anterior esse método poderá ser utilizado com alguns surdos quando estes tiverem
um arcabouço enriquecido.
Por último, não menos importante temos o método Global que é desenvolvido
pelo professor através de um texto e logo depois do aluno adquirir a compreensão do
texto, o professor irá desenvolver seu trabalho nas partes do texto como elementos
de aprendizagem. Para ser desenvolvido com a criança surda a aprendizagem por
esse método, se fará necessário que ele entenda o princípio da vivência, pois somente
a partir das experiências anteriores que o aluno conseguirá estabelecer as relações,
após isso ele conseguirá assimilar o conhecimento e relacionar com suas vivências.
Desse modo, a busca pelos métodos de ensino do ser humano sempre existiu
e é notório que os métodos que grandes autores defendem são direcionados para
pessoas ouvintes, para tanto, há a necessidade de um olhar para o processo de
aprendizagem da comunidade surda. Não basta que o professor tenha boa vontade é
necessário que ele entenda o processo histórico, compreenda sobre a aquisição da
linguagem da criança surda, sobre a cultura da criança surda, tenha fluência na língua
de sinais e desenvolva materiais que sejam capazes de alcançar seu aluno.

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3.2. ADAPTAÇÕES PRÁTICAS PARA O PROCESSO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM DA CRIANÇA COM SURDEZ

O processo de ensino e aprendizagem está vinculado diretamente ao


desenvolvimento da metodologia e na aplicação dos métodos. A aplicação do método
é direcionada pelas atividades que serão desenvolvidas nas aulas, pois esse irá
transpor o conhecimento, aproximar o aluno da prática pautada no objetivo que foi
estabelecido pelo professor.
A aplicação das atividades fará com que o aluno consiga fixar melhor o
conhecimento que foi transferido do professor. Para além da fixação temos a
verificação da aprendizagem que é o caminho para que o professor consiga avaliar a
aprendizagem do aluno diante das atividades realizadas. Segundo Rangel (2005),
essas atividades podem ser através de exercícios, de um diálogo, da fala e o poder
de argumentação do aluno, de trabalhos individuais e em grupo.
Agora veremos algumas sugestões que estão disponíveis em livros, blogs, sites
e vídeos de atividades que podem ser trabalhadas com crianças surdas. A primeira
obra que analisaremos é das autoras Stock e Strobel (1999). As autoras iniciaram seu
livro mostrando a adaptação partindo do contexto que o aluno para que ele consiga
fazer relação do processo de aprendizagem com o seu contexto.

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Como podemos observar nas atividades acima, uma preocupação que todos
os professores trabalham é o processo de identificação como ser tanto para meninas
como para meninos. A construção de uma identidade na criança é importante para
que ela entenda o seu papel na sociedade.

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Já nessa segunda imagem existe um outro objetivo que é buscar o
reconhecimento da área da exata, iniciando o reconhecimento do sistema numérico.

Nessas atividades temos a da esquerda para ensinar as cores e da direita para


reconhecer a aprendizagem do aluno sobre o conteúdo ensinado.

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A primeira atividade traz o contexto de elementos que são iguais e diferentes
para criança e na segunda temos mais uma atividade da área da exata com as formas
geométricas.

Todas as atividades colocadas acima são direcionadas para trabalhar com os


órgãos do sentido, uma atividade bastante comum em que trabalhamos com crianças
as questões sensoriais do corpo humano. Na tentativa de verificar a aprendizagem

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das crianças sobre a temática trabalhada fica a sugestão da atividade apresentada
pelas autoras.

A última imagem acrescentada busca levar a criança a expressar os seus


sentimentos, algo que é confuso para a criança que, às vezes, chora sem conseguir
entender o motivo de seu choro.
Dentro das diversas atividades apresentadas por Stock e Strobel, pode-se notar
que em todas elas o elemento de adaptação para alcançar a criança surda é a
inserção da Libras, isso nos mostra uma possibilidade no momento de atuação do
professor no exercício da docência.
Vamos agora analisar alguns blogs que apresentam materiais para o trabalho
do professor. O primeiro é da Professora Andresa Vaniele (Graduada em Letras e
Pedagogia, Especialista em Educação Especial e Inclusiva e Língua Brasileira de
Sinais. Atualmente ofereço Atendimento Educacional Especializado na Área de
Surdez na Prefeitura de José Bonifácio e ministro cursos de Capacitação e formação
em Língua Brasileira de Sinais e ministro aulas em Pós Graduações. Sou apaixonada
pelo mundo surdo e Língua de Sinais).

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O relógio contém adaptações que aproximam o surdo da sua língua, facilitando
a compreensão. Assim como esses existem outros materiais que você poderá acessar
o link abaixo e ter uma base para criação de suas ideias.
(http://oficinadelibras.blogspot.com/2012/08/sugestoes-de-materiais-pedagogicos-para.html)
O site que iremos sugerir é da Secretaria do Estado da Educação de Mato-Grosso do
Sul que tem o protagonismo digital com algumas ferramentas que podem ser usadas como
proposta prática de suas aulas.

Fonte: https://www.protagonismodigital.sed.ms.gov.br/planos-de-aula/recursos-didaticos-para-
alfabetizacao-educacao-dos-surdos-54722

A atividade tem como proposta que o aluno encontre as tampinhas com letras
e escreva a palavra baseada no sinal colocado.

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Nossa próxima ferramenta que o professor poderá utilizar são os vídeos que
ensinam como desenvolver passo a passo seu material concreto para trabalhar com
a criança surda.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=mx46wh8l-o4

https://www.youtube.com/watch?v=xxs97TbE74c

Ambos os materiais contêm atividades que auxiliarão você professor na


apropriação da construção de seu material para trabalhar com seus alunos. Com
todas essas possibilidades adaptativas, o professor, de uma maneira dialogada
individualmente ou em grupo, conduzirá o processo de maneira que o aluno seja

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capaz de produzir suas reflexões e relações se tornando um autônomo no processo e
assimilação do conhecimento.
Portanto, no trabalho com a criança surda é necessário uma combinação de
Libras e metodologias diversificadas, recomenda-se que a educação dos surdos seja
efetivada em língua de sinais, independentemente dos espaços em que o processo
se desenvolva. Assim, paralelamente às disciplinas curriculares, faz[1]se necessário
o ensino de língua portuguesa como segunda língua, com a utilização de materiais e
métodos específicos no atendimento às necessidades educacionais do surdo.
Nesse processo, cabe ainda considerar que os surdos se inserem na cultura
nacional, o que implica que o ensino da língua portuguesa deve contemplar temas que
contribuam para a afirmação e ampliação das referências culturais que os identificam
como cidadãos brasileiros (SALLES, FAULSTICH e CARVALHO, 2004, p. 47).
Dessa forma, os professores devem oferecer atividades diversificadas, com
recursos visuais que seja instigante e interessante para o aluno, a tecnologia é uma
grande aliada, com recursos visuais em jogos, slides entre outros recursos midiáticos,
atualmente muito tem se falado em tecnologia assistiva. Ao professor cabe promover
dentro de sala de aula a inclusão diminuindo as barreiras programáticas, conceituais,
atitudinais e sociais para que os alunos possam ter as mesmas oportunidades na
sociedade e no mundo do trabalho.
Dessa forma, entende-se que precisamos rever os conceitos de inclusão
presentes nas escolas, pois receber os alunos deficientes não é sinônimo de inclusão,
mas receber com qualidade diminuindo as barreiras para seu desenvolvimento,
também não basta ter um intérprete; é necessário capacitar os profissionais,
disponibilizar material didático, adequar o ambiente, se isso não acontece não existe
inclusão. É importante que esse movimento de crescimento da acessibilidade continue
para que no futuro as pessoas surdas, assim como todos os deficientes, possam se
tornar independentes e realizar suas atividades de forma plena.

3.3. RELAÇÃO DO PROFESSOR E O INTÉRPRETE NO PROCESSO DE ENSINO


E APRENDIZAGEM DA CRIANÇA COM SURDEZ

Esse subtítulo trata de um trabalho de pesquisa realizado por um aluno da


UniAraguaia no qual buscou discutir sobre os processo de ensino e de aprendizagem

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do aluno com surdez, nesse texto ele descreve os papéis do professor, do intérprete,
do aluno surdo e ouvinte no processo de aprendizagem.

3.4. A FAMÍLIA DA CRIANÇA SURDA E A PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO DE


APRENDIZAGEM

A família tem sua relevância no processo formativo das crianças, pois é no seio
familiar que as crianças irão modelar a linguagem que utilizarão durante sua vida.
Assim, no momento em que as relações são construídas a aquisição da linguagem
acontece.
Um dos maiores problemas que o professor tem quando recebe a criança com
surdez é a linguagem, pois é a partir de uma língua que o professor desenvolve o seu
trabalho científico. No momento em que a criança chega à escola sem que esse
trabalho esteja feito, haverá consequências.
Dentre as várias consequências sociais e cognitivas de um aluno chegar à
escola sem a aquisição de uma língua, vamos destacar neste primeiro momento o
retardo do processo. Este se dá pelo fato que o professor não terá apenas que
alfabetizar essa criança tendo como base uma língua referente, mas terá que ir para
além da alfabetização com a ensino de uma língua utilizada pelo grupo para
estabelecer a comunicação.
Por um longo período dentro do ambiente escolar existia o trabalho do professor
surdo instrutor de Libras, ele trabalhava junto com a professora alfabetizadora com as
crianças que chegavam no ambiente escolar. A vantagem dessa parceria era que o
surdo compreendia exatamente qual era o melhor caminho para alcançar a criança
com surdez.
No entanto, as dificuldade quanto ao trabalho do professor instrutor veio de
questionamentos sobre a formação desses profissionais e os valores que eram pagos
pelo governo uma vez que a demanda era grande. Devido a esses fatores a figura
desse profissional deixa de existir no ambiente escolar.
O trabalho do instrutor ficou a cargo do professor regente junto com todas as
outras demandas existentes no exercício da docência, mas agora ele teria o auxílio
do intérprete de Libras que desenvolve junto com o professor regente o planejamento
estruturado para o processo de alfabetização das crianças com surdez.

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Essa parceria somente poderá ter sucesso se a família desempenhar o seu
papel no processo. Portanto o papel da família da criança surda é de construir um
linguagem utilizando a língua de sinais de seu país, construção cognitiva com
reconhecimento de palavras, relacionar o conteúdo ensinado em sala com a vida
diária da criança, incitar a crianças ao mundo imaginário para que ela entenda o que
está sendo ensinado na escola, mostrar à criança a importância da leitura para que
ela compreenda o sentido de ir à escola e ter que estudar, realizar as atividades
propostas pela professora em sala com intuído de reforçar e efetivar junto à criança a
aprendizagem, acompanhar a aprendizagem e relatar ao professor as dificuldades de
seu filho.
Portanto, a relação da família com a língua de sinais precisa ser desde o
momento em que descobre que a criança não consegue ouvir. Para alguns autores
existe a necessidade de que a família faça acompanhamento dessa criança com a
Fonoaudiologia, embora muitos autores discordam dessa visão, mas a sociedade por
sua maioria não ter comunicação na língua de sinais, a aprendizagem da leitura labial
junto com a aprendizagem com a língua de sinais e a língua escrita tornará um
facilitador para a criança em sua vida adulta.
Para Sousa (2022), o pensamento de Vygotsky (1984), não é simplesmente
expresso em palavras, e é através delas que passa a existir. Tudo isso se refere à
criança surda e a necessidade de explorar o ambiente de todas as fontes culturais e
sociológicas e linguísticas, são fatores determinantes para o desenvolvimento de
aquisição de linguagem. Ela fica em desvantagem em todo esse processo de
aquisição de linguagem natural. Segundo Vygotsky (1984), o ser humano é um ser
que necessita das relações e interações com o meio, sendo assim a família não pode
privar das crianças, por conta da língua, a possibilidade de se relacionar e inter
relacionar o conhecimento científico com a sua vida diária. Para o autor, a criança se
tornará uma “ferramenta mediadora”, ou seja, ela tem a necessidade ser emancipada
para tomar suas próprias decisões, fazer suas escolhas e ter a capacidade de escolher
a sua vida presente e futura.
Nem sempre a família da criança surda consegue prepará-la para os
enfrentamentos da vida, para algumas há sentimento de incapacidade devido os
problemas comunicacionais existentes na sociedade, mas a família tem o papel de
acreditar na capacidade de seus filhos e mostrar a essas crianças os caminhos para

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a superação das dificuldades impostas pela sociedade. O trabalho da família é
estimular a comunicação em língua de sinais, por meio da leitura labial e por meio da
escrita, não importa o meio utilizado.
Pensando na aplicação prática do ensino por parte da família, essa poderá
escrever e colar imagens com sinais em móveis de sua casa, ao sair com a criança
na rua ensinar os sinais de locais de sua vida diária, usar de materiais impressos que
tenham a língua de sinais, construir com as crianças jogos que seja contextualizado
para criança surda.
A família e a escola precisam analisar sobre o desenvolvimento cognitivo e
aquisição da linguagem de uma criança surda. Tendo em sua análise se a criança
surda consegue fazer a interação com as pessoas que ela convive, com sua família,
escola e clínica fonoaudiológica. Todos necessitam trabalhar com objetivo de analisar
a qualidade das interações e de que maneira essa interação tem influenciado no
desenvolvimento dessa criança, ou seja, a relação entre a socialização e as funções
comunicativa e cognitiva da linguagem.
Assim sendo, o trabalho em parceria da escola com a família potencializa a
criança para as tomadas de decisões. Assim ela será capaz de prescindir, avaliar,
debater, conhecer e comentar os fatos ocorridos em seu contexto, demonstrando-se
parte da sociedade.

3.5. A CULTURA SURDA E A CULTURA OUVINTE

Embora a comunidade de surdos viva junto com a comunidade ouvinte existe


a dicotomia que é gerada pela distância entre as duas. O afastamento se dá pela
incompatibilidade do instrumento comunicador, a dificuldade linguística, também pela
maneira de perceber seu contexto social, outra é a concepção construída sobre a
pessoa que é estereotipada como incapaz.
Por um longo período o único instrumento comunicador na sociedade foi a
língua oral, como já estudado nas unidades um e dois, a comunidade surda conquistou
o direito de se comunicar utilizando a língua de sinais. No entanto, a cultura da
comunidade ouvinte prepara toda a sociedade para o estabelecer da comunicação
utilizando a língua oral, esse ato é discriminatório para uma comunidade surda. Uma
das maneiras utilizadas para amenizar a explosão da comunidade surda é o uso da

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língua de sinais, no Brasil temos a Língua Brasileira de Sinais que foi oficializada pela
lei 10436/2002. Esse instrumento quando oficializado tornou-se uma maneira de
unificar as culturas, mas ainda não é suficiente, pois toda a sociedade, os meios de
telecomunicação, a estrutura do sistema ainda está organizado em maior parte para
a comunidade ouvinte.
Embora a sociedade acredite que a aprendizagem na língua portuguesa pela
comunidade surda poderá oportunizar que esse grupo seja incluído em uma mesma
cultura, é notável que ainda não é possível, pois não são todos os ouvintes que
conseguem sinalizar nas línguas de sinais. Outro fator preponderante é que grande
parte da comunidade surda tem como língua mãe a língua de sinais, algo que lhe é
de direito. Com isso as dificuldades linguísticas da língua portuguesa é um fator que
distancia a comunidade surda da ouvinte.
Outra diferença existente entre a cultura ouvinte e a cultura dos surdos é a
maneira como esse indivíduo percebe o mundo ao seu redor. Parte das concepções
de cultura da comunidade ouvinte vem pelo som ou pela fala dos elementos
contextuais, pontos que divergem da comunidade surda por não conseguirem a
grande maioria ouvir o som das coisas ao seu redor. Desta maneira podemos citar
exemplo do reconhecimento cultural sobre os animais, para a comunidade ouvinte o
gato faz miau, já para a comunidade surda o gato não emite sons, mas se espreguiça,
se lambe e sempre que quer comida passa no meio as pernas do dono.
Desta maneira é notável a diferença entre as culturas para a comunidade
ouvinte a comunicação é oral auditiva, os programas de TV e Filmes não existe a
necessidade de um intérprete, em locais públicos como teatros não existe a
necessidade de ter um intérprete, a música é um elemento completamente sonoro
pertencente à comunidade de ouvintes, os programas de rádio da mesma forma são
apenas elementos auditivos, as bibliotecas são compostas apenas de livros escritos.
Já para a comunidade surda existem alguns elementos que precisam ser
implantados na língua de sinais. Como por exemplo os programas de TV e filmes
deveriam ter acessibilidade com intérpretes de língua de sinais, assim como nos
teatros e locais públicos.
Sabemos que a comunidade surda tem conquistado o seu espaço e se inter-
relaciona com a comunidade ouvinte. Um exemplo é o uso do aparelho de telefone
que, por um longo período, era um objeto pertencente à comunidade ouvinte. No

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entanto, os avanços tecnológicos fizeram com que esse objeto se tornasse um
instrumento integrador em partes das duas culturas. A parte que não é integrada se
dá por funções que emitem o som, exemplo o toque do celular para a comunidade
surda é ativada somente pela função vibracall e piscar de luzes. Embora alguns
ouvintes também usem essas funções, torna-se para esse como um elemento optativo
o que não é para o surdo.
No contexto escolar é de fácil observação que algumas escolas estão
estruturadas para a comunidade ouvinte. Basta observar no início de um turno,
quando os alunos chegam na escola o que marca o início e o fim de um período de
aula é o uso da sirene. Esta emite um sinal sonoro que é um indicador para a
comunidade estudantil e para os pais que a aula vai começar. No entanto, o uso de
sinais sonoros alcança apenas a comunidade de ouvintes, assim se um aluno estiver
na porta da escola ele só saberá que é o momento de entrar para o início do turno
quando perceber que todos os que estão na porta adentraram uma escola. Essa
mesma situação acontece nos momentos de intervalo ou troca de professores no
ambiente escolar.
Como observado nos relatos acima a comunidade ouvinte por um longo
período considerou as incapacidades da comunidade surda. Para alguns o sentimento
de superproteção dominou no seio familiar, para outros o sentimento de incapacidade
gerou a exclusão da comunidade surda, que hoje têm mostrado as suas capacidades
diante do contexto social.
A construção social da visão do incapaz precisa ser rompida com a valorização
Das potencialidades do sujeito, contudo existe a necessidade das adaptações que
possibilitem a inclusão. Como por exemplo escolas que criem elementos sinalizadores
espalhados pelo pátio que mostre ao surdo o momento que iniciou e finalizou uma
determinada atividade. Outra sugestão seria que provas fossem feitas na língua mãe
na comunidade, isso significa que não teríamos para a comunidade surda provas
escritas e sim em vídeos gravados em sua própria língua.
Existe também a necessidade cultural quanto aos métodos de ensino, uma vez
que o professor necessitará da utilização de elementos visuais, pois esses irão
favorecer os surdos diante da capacidade visual do surdo. Dentre as várias maneiras
adaptativas da metodologia do professor a sugestão é que ele use imagens,
desenhos, ilustrações, materiais concretos, vídeos e animações.

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Em suma, nesta unidade estudamos sobre a flexibilização dos métodos para o
trabalho com a criança surda, compreendemos a necessidade do reconhecimento dos
métodos pedagógicos para trabalhar com pessoas surdas, refletimos e demonstramos
adaptações práticas para o processo de ensino e aprendizagem da criança com
surdez. Lemos sobre as relações do professor e o intérprete no processo de ensino e
aprendizagem da criança com surdez. Refletimos sobre a família da criança surda e
as participação no processo de aprendizagem e apresentamos a dicotomia da cultura
surda e a cultura ouvinte.
Esperamos que, com essa disciplina, o leitor compreenda o seu papel no
processo formativo da comunidade surda e que tenhamos incitado o aluno para
continuar a pesquisa sobre a Língua Brasileira de Sinais.

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ATIVIDADE UNIDADE III

1. Os métodos são maneiras e formas de como o professor irá realizar o seu


trabalho. Assim cabe ao professor entender, compreender, dominar o conteúdo e
saber aplicar o seu conhecimento de uma maneira dinâmica para que o aluno possa
apropriar como conhecimento e estabelecer relação desse conhecimento adquirido
com o seu cotidiano. Com relação ao disposto na Lei nº 13.146/2015, analise as
opções abaixo e assinale a alternativa INCORRETA:

A. O sistema educacional inclusivo refere-se apenas à educação infantil e ao ensino


fundamental.
B. Incentiva a participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias nas
diversas instâncias de atuação da comunidade escolar.
C. A educação bilíngue tem a Libras como primeira língua e a modalidade escrita da
língua portuguesa como segunda língua.
D. Desenvolver pesquisas sobre novos métodos e técnicas pedagógicas para
promoção de uma educação inclusiva.
E. Todas as alternativas anteriores.

2. Quadros (2005) coloca com muita clareza que o profissional intérprete é um


mediador das relações que serão construídas na vida de um aluno, no entanto precisa
o intérprete ser cauteloso para que não seja antiético em assumir o que não é de sua
responsabilidade. Sendo o intérprete um mediador faz-se necessário que ele
considere em sua interpretação contexto sociais, fatores econômicos e o nível cultural
que possui cada aluno receptor. buscar-se-á nesta pesquisa como tem sido
desenvolvido o trabalho do intérprete educacional. Quando o tradutor e intérprete de
Libras, ao atuar, ao mesmo tempo que recebe uma frase ou pensamento na língua
fonte (Língua Portuguesa Oral) para passar para a língua alvo (Libras), o profissional
está realizando uma interpretação:

A. consecutiva.
B. simultânea.
C. inversa.

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D. literal.
E. progressiva.

3. Sobre os personagens da história da Educação de surdos, é CORRETO afirmar.


A. Huet foi um dos primeiros educadores de surdos, assumindo a preceptoria de filhos
de nobres franceses no século XVII.
B. Samuel Heinicke trabalhou junto com Alexander Grahan Bell defendendo o método
oral puro no Congresso de Milão em 1880.
C. O americano T. Gallaudet viajou para a Europa no século XIX em busca de métodos
e informações para criação das primeiras escolas norte-americanas de surdos.
D. O abade francês L’Epée criou a primeira escola de surdos do mundo e foi um dos
únicos que votou a favor da língua de sinais durante o Congresso de Milão.

4. Existe também a necessidade cultural quanto aos métodos de ensino, uma vez que
o professor necessitará da utilização de elementos visuais, pois esses irão favorecer
os surdos diante da capacidade visual do surdo. Dentre as várias maneiras
adaptativas da metodologia do professor a sugestão é que ele use imagens,
desenhos, ilustrações, materiais concretos, vídeos e animações. Sobre o tema
“cultura e identidade surdas”, é CORRETO afirmar.
A. Na maioria das vezes, os termos “cultura surda” e “identidade surda” representam
as mesmas coisas, portanto, são intercambiáveis.
B. Só têm cultura surda os surdos que possuem uma identidade política fortalecida.
C. Surdos que não conhecem a língua de sinais não partilham da cultura surda.
D. Para os Estudos Culturais, a “cultura” são as experiências de cada grupo, a forma
como atribuem sentido à realidade. Assim, fortalecer a cultura surda é fortalecer a
identidade surda.
E. Todas as alternativas estão corretas.

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REFERÊNCIAS

RANGEL, M. Supervisão Pedagógica: Princípios e Práticas . Papirus Editora,


2005.

ROCCAFORTE, M. Le componenti orali della lingua dei segni italiana: Analisi


linguistica, indagini sperimentali e implicazioni glottodidattiche. Roma:
Sapienza, 2018. 17 p.

SALLES, H. M. M. L.; FAULSTICH, E.; CARVALHO, O. L. Ensino de língua


portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Secretaria de
Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos – 13 Brasília,
DF: MEC; SEESP, 2004.SASSAKI R. K. – Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho
e educação. Cadeirando sobre diversidade, [S.L] 2012.

DE SOUSA, Viviane. A INTERAÇÃO FAMÍLIA–ESCOLA OS ANOS INICIAIS DO


ENSINO FUNDAMENTAL. Cadernos da FUCAMP, v. 20, n. 49, 2022.

STOCK, I; STROBEL, K. Brincando e aprendendo com Libras: língua brasileira


de sinais. Universidade Tuiuti do Paraná, 1999, p. 1–72.

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