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Han, apresenta em a sociedade da transparência, o fenómeno

generalizado da transparência, evidenciando um retrato actual da


sociedade. A urgência da transparência e a necessidade de ser
transparente ao extremo levanta vários perigos que o autor aponta ao
longo da obra. Reflete sobre o percurso da sociedade capitalista,
apontando as consequências da instalação do capitalismo.
Para o autor a imposição da positividade traz a consequência do aumento
da violência.
A igualdade, a tolerância, o controlo, são abordados e desenvolvidos de
forma incomum, não como um privilégio que modela a sociedade para
um caminho positivo, mas como algo perigoso e urgente a ser debatido.
Queremos tolerância, mas só toleramos o que nos soa ao ouvido.
Queremos não ser controlados, mas somos nós seres humanos que
inconscientemente estamos a instalar o controlo no mundo, tornando-nos
o agente de controlo e submetendo todos à nossa volta à essa
manipulação.
Nós exploramo-nos conscientemente e acreditamos que essa exploração
nos levará a um caminho positivo.
O ser humano está a tornar-se naquilo que sempre criticou. Nunca foi tão
importante falar do conceito pornográfico, buscamos o prazer imediato,
aquilo que só se dá inteiramente uma vez.
As forças que tem o poder de ajudar a sociedade, acabam por se tornar
destrutivas, não trazendo nenhuma mudança positiva, sendo as
portadoras da morte. O que luta pela liberdade, acaba por ser aquele que
mata a liberdade. Esta obra leva-nos a questionar o nosso papel! Somos
espetadores? Agimos de foram conscientes? Somos realmente agentes da
mudança?
Vivemos uma vida acelerada, cheia de informações em excesso, tentamos
preencher o vazio que nunca termina.
A violência nasce dentro, o inimigo está dentro de nós, ao não
reconhecermos esses sentimentos, procuramos pela falsa segurança da
utopia da eterna felicidade. A vida perfeita, a família perfeita, a relação
perfeita, a casa perfeita, o trabalho perfeito, procuramos por essa
perfeição sem reconhecer que ela é um conceito inventado para nos
tornar obedientes e escravos de um estado permanente de alegria.
Quando o ser humano perder a capacidade de se questionar, perde a
razão de viver.
Em 9 breves capítulos, o autor reflete sobre a sociedade positiva, da
exposição, da evidência, pornográfica, da aceleração, da intimidade, da
informação, do desencobrimento e do controlo.

1- Sociedade positiva
Neste capítulo a autor reflete sobre sociedade positiva, a que tem a
constante necessidade de eliminar tudo o que é negativo. Só o que
é positivo tem lugar de presença. Nessa sociedade transparente e
positiva é exigida a eliminação da esfera privada e o término da
possibilidade de segredos.

Primeira Jaula

A jaula está completamente desprovida de cenário: entra uma


pessoa; apenas vê uma caixa no chão, com um comprimido e um
copo de água. Surge uma voz-off:

- Este comprimido tem a possibilidade de apagar todas as


memórias, emoções e pensamentos negativos. Imediatamente
depois de o tomar, terás a possibilidade de atingir eternamente a
felicidade.

2- Sociedade da Exposição
Neste capítulo, o autor reflete sobre a Sociedade da Exposição, a
que tem a necessidade de exposição excessiva. O sujeito torna-se o
seu próprio objeto de publicidade. As pessoas pensam não só em
sim, mas na forma como o outro reage às suas ações. Tem
necessidade de expor toda a sua vida, tornando pública todas as
suas manifestações. Torna-se numa sociedade pornográfica,
desnuda, exposta

Segunda Jaula
A jaula está completamente desprovida de cenário: entra uma
pessoa; apenas vê uma camara de filmar. Surge uma voz-off:
- Estas imagens estão a ser transmitidas em direto para o exterior,
todos os visitantes estão a ver e ouvir.
Conta-nos a história da tua vida.

3- Neste capítulo, o autor reflete sobre a Sociedade da Evidência, a


que tem a necessidade de evidenciar, tornando-a uma inimiga
direta do prazer. Ao tornar evidente e totalmente transparente,
elimina-se o pensamento critico, a fantasia que sustenta precisão
das coisas. Ao eliminar tudo o que é oculto, evidenciando a
transparência, elimina-se também todos os jogos da vida humana,
tudo o que torna a vida atrativa.

Terceira Jaula
A jaula está completamente desprovida de cenário: entra uma
pessoa; apenas vê uma camara de filmar

4- Sociedade Pornográfica
Neste capítulo, o autor reflete sobre a Sociedade Pornográfica, a
que expõem as coisas, tornando-as superficiais. O prazer é
desassociado de qualquer questionamento. Desnudamento total,
transparência completa. O que é revelado permanece igual, não se
transforma. Não existe erotismo. Quando as coisas se tornam
expostas demais, tornam-se obscenas. A pornografia é aquela que
exibe exaustivamente as coisas, transmutando a ideia de que
entre a imagem e o olhar não existe segredo.

Quarta Jaula

A jaula está completamente desprovida de cenário: entra uma


pessoa; apenas vê uma caixa no chão com um objeto luminoso,
futurista para colocar na cabeça. Surge uma voz-off:

-Este objeto tem a possibilidade de fazer-te aprender qualquer


coisa que desejas num minuto.
Tens agora a possibilidade de aprender três coisas em 3 minutos.
O que queres realmente aprender?
5- Sociedade da Aceleração

Neste capítulo, o autor reflete sobre a Sociedade da Aceleração, a


que leva à aceleração do processo de vida, substituindo a
narratividade dos processos humanos. Essa sociedade desassocia o
tempo da vida, tornando todos os acontecimentos em meros
factos, desconectando-os. As memórias são acumuladas sem
nenhuma história concreta. O significado é vago e sem importância,
permitindo que o aceleramento se torne no sinonimo de motor da
vida humana.

Quinta Jaula

A jaula está completamente desprovida de cenário: entra uma


pessoa; apenas vê uma caixa no chão, com um papel. Surge uma
voz-off:
- Retira o papel.
No papel apenas está uma frase: Pensa em 7 memórias
importantes e no que elas significam para ti.

6- Sociedade da intimidade
Neste capítulo, o autor reflete sobre a Sociedade da Intimidade, a que
força a transparência e destrói as interações sociais. As redes sociais
são um exemplo que alteram a intimidade na sociedade. O excesso de
intimidade compadece com a acentuação do narcisismo, destruindo a
possibilidade da individualidade desprovida de mediatismo. Nas redes
sociais quem mostra mais conteúdo/intimidade é beneficiado com a
partilha dos seus post, criando a ilusão de que para sermos aceites,
temos que ser transparentes e mostrar a nossa intimidade em troco
de exposição social. Nunca a experiência biográfica foi tão importante.
Sexta Jaula
A jaula está completamente desprovida de cenário: entra uma pessoa:
Surge uma voz-off:
- Liga uma aplicação, pode ser Instagram ou Facebook. Ativa o modo
de partilha em direto. Fala sobre esta experiência aos teus seguidores.
Sobre tudo o que experienciaste desde que chegaste a este espaço.
7- Sociedade da Informação
Neste capítulo, o autor reflete sobre a Sociedade da Informação, a
que é inimiga da verdade, a que aparenta. Nesta sociedade a
linguagem também é positiva. A informação é contante e sucessiva,
torna-se homogénea, sem origem, penetrando em tudo e todos. A
circulação de informação em massa, ocupa a mente dos cidadãos,
tornando-a vazia e desprovida de raciocínio.

Sétima Jaula
A jaula está completamente desprovida de cenário; na parede da
frente é projetado um vídeo:
-No vídeo estão a ser transmitidas várias imagens/noticias (com
som) de telejornais de todo o mundo. O vídeo permanece durante
três minutos. No segundo minuto surge um relógio digital que
começa por mostrar, minutos a passar, horas, meses, até finalizar
com a duração de 100 anos. O vídeo termina o relógio permanece
com os 100 anos marcados.

8- Sociedade do Desencobrimento
Neste capítulo, o autor reflete sobre a Sociedade do Desencobrimento, baseando-
se em Rousseau e no seu projeto de um coração transparente como o cristal: “Seu
coração, transparente como um cristal, não pode esconder nada do que nele se
passa; cada emoção que nele surge é comunicada, partilhada com seu olho e com
seu rosto” O sujeito deve-se mostrar tal e qual como é! Desencobrir-se de tudo,
transparência total.

Oitava Jaula
A jaula está completamente desprovida de cenário; no chão, um lápis
e duas folhas. Surge uma voz-off:
Num minuto desenha-te como te vês. Segura na outra folha, num
minuto, desenha-te como achas que os outros te vêm. Observa os
dois desenhos.
9- Sociedade do Controlo
Neste capítulo, o final, o autor reflete sobre a Sociedade do Controlo,
transportando todas essas reflexões para a sociedade controlada. Já não há
necessidade de um controlo maior, pois os indivíduos se vigiam e
obrigam os outros a vigiarem, mantendo uma ilusão geral de que
são livres, tornando-o uma necessidade interna. Todos se expõem e
todos se vigiam. É uma prisão onde o próprio individuo sente a
necessidade de se expor - “o presidiário do panóptico digital é ao
mesmo tempo o agressor e a vítima, e nisso é que reside a dialética
da liberdade, que se apresenta como controle”

Esse controlo grande genialidade desse novo panóptico é que não


há mais necessidade de um vigia, as próprias pessoas presas nele se
vigiam e se obrigam a vigiar os demais, e o grande instrumento
dessa vigilância é a transparência, que acaba por se tornar uma
necessidade interna ao sujeito. E tudo isso mantendo a ilusão de
cada um que está agindo em sua liberdade. Ou seja, eu me
exponho totalmente, e me coloco na posição de ser vigiado, meu
vizinho, colega de trabalho, concidadão, etc. também, e assim
todos se expõem e todos se vigiam, “[...] cada um e todos são
expostos à visibilidade e ao controle, e, quiçá, adentrando inclusive
a esfera privada” (HAN, 2017a, p. 109-110). É uma prisão sem
grades, na qual o próprio sujeito sente a necessidade de se expor.
Como consequência disso, temos que “a sociedade da
transparência é uma sociedade da desconfiança e da suspeita, que,
em virtude do desaparecimento da confiança, agarra-se ao
controle” (HAN, 2017a, p. 111). Nessa sociedade da transparência,
a exposição pornográfica e o controle panóptico estão ligados, se
complementam, de tal forma que um retroalimenta o outro (HAN,
2017c). Isso resulta na máxima do capitalismo, a pessoa se torna
apenas produção, e sua eficiência econômica é maximizada, pois
segundo Han (2017a), aquele se se ilumina, que se mostra
completamente está se expondo à exploração. Não se distinguem
mais comunidades, mas apenas ajuntamentos de egos isolados que
vão atrás de interesses comuns. O mundo todo hoje vem se
tornando um panóptico, não se percebe mais o dentro ou o fora, e
seus grandes difusores, segundo Han são o Google e as redes
sociais, nas quais em nome da liberdade todos se expõem e
desnudam pensando que com isso estão exercendo sua liberdade,
porém “o presidiário do panóptico digital é ao mesmo tempo o
agressor e a vítima, e nisso é que reside a dialética da liberdade,
que se apresenta como controle” (HAN, 2017a, p. 116).
Perfomance sobre o controlo na sociedade.
HAN, 2017a, p. 116
CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao olharmos para o livro Sociedade da
Transparência, podemos ver um retrato de nossa sociedade atual.
Han nos convida a parar um pouco e refletir sobre os caminhos que
nossa sociedade capitalista e conectada está tomando e quais as
consequências disso. O inferno do igual está se propagando, e é
visível nos casos de suicídio e de doenças mentais, que estão se
alastrando pela sociedade. Revista Filosófica São Boaventura, v. 13,
n. 1, jan/jun. 2019 37 O problema não está, porém, simplesmente
na aceleração, na informação, na intimidade, etc., mas sim na
forma como tais processos vem se dando. É uma aceleração por si
mesma, uma informação em excesso que busca preencher o vazio
deixado pelo pessoal, uma intimidade que revela e expõe em
demasia. As forças que poderiam ajudar a sociedade, todos os seus
“hiper” acabam por se tornar destrutivos e por provocar morte.
Como consequência da imposição da positividade vemos que
embora os avanços das ciências biológicas e da medicina sejam
enormes surgem doenças devastadoras, porém agora elas não são
mais físicas, são mentais, psíquicas, e são consequência da violência
com que a positividade vem se impondo e forçando os demais a se
sujeitar a ela. Hoje a violência é feita para dentro, o inimigo está
dentro de si mesmo, e consiste em qualquer sinal de negatividade,
de diferença, em qualquer coisa que fuja da igualdade apregoada.
Como Han mesmo defende, “[...] muito mais perigoso do que o
terror do outro é o terror do igual, o terror da imanência. Em
virtude da falta de negatividade, já não há defesa contra esse
terror” (HAN, 2017b, p. 196). Cabe a nós, diante de tudo isso,
pensar nosso papel nessa sociedade, se somos meros espectadores
participantes, que serão engolidos por isso, ou se tentaremos de
alguma forma lutar contra esse processo, que vem se tornando
hegemônico.
Leva-se em conta que há um vazio existencial preponderante entre os indivíduos, que os torna
reféns dos grandes fluxos da internet e do capital, onde esses sujeitos se convertem em seres
plenamente incompletos

ROUSSEAU, J.-J. Rousseau richtet über Jean-Jacques – Gespräche, Schrien in zwei Bänden.
Munique, 1978, vol. 2, p. 253-636, aqui p. 484 [Ed. de H. Rier].
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