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UNIFOR

CCG
CURSO DE JORNALISMO

JORNALISMO E EMPRENDEDORISMO
Professor : José Wagner Borges Gondim

Os jornalistas no processo de independência política do Brasil ;

A separação do Brasil de Portugal demorou. Depois de consumado, teve que seguir o rito
estrutural , além de buscar reconhecimento internacional.

A independência do Brasil, restringiu-se a esfera política, não alterando em nada a


realidade sócio-econômica, que se manteve com as mesmas características do período
colonial.

A imprensa censurada interessava ao passado e tradição das elites feudais e absolutistas


européias. Uma imprensa livre interessaria à burguesia européia e as forças da elite colonial
rural brasileira.

Mas essas forças internas brasileiras ( a elite econômica brasileira ) não eram homogêneas,
não tinha o mesmo foco ou a mesma visão tanto do processo de independência , como
econômico e cultural.

Mas percebem que era preciso mobilizar as classes diversas da população brasileira.

Lentamente passam a estimular uma imprensa mais livre.

Quando percebem que precisam limitar a independência, tentam limitar a imprensa .

Para unir é preciso mobilizar. Para mobilizar é preciso despertar a opinião. Para ter
opinião é preciso imprensa. ( Nelson Werneck Sodré )

A Direita brasileira queria desde a separação do Brasil de Portugal a união em pé de


igualdade mas aceitando , todos , a estrutura colonial e a monarquia.

A Esquerda defendia a separação incondicional, mudança no regime e até a república.


Com a revolução do Porto e sua tentativa de recolonizar o Brasil, direita e esquerda se
unem.

O Correio Brasiliense, antes cauteloso, faz oposição a intenção da Revolução Colonialista


de Portugal de recolonizar o Brasil. Vira Oposição.

Em 1820, o Correio Brasiliense mantém contatos amistosos com os liberais e com o que
havia de imprensa ( ainda incipiente ) no Brasil. Identifica-se com José Bonifácio de
Andrada e visões de projetos políticos para o país.
Profissionais liberais e maçons, animados com as noticias da revolução constitucional de
Portugal reúne-se agora abertamente, enfrentando a repressão. ( essa característica marcaria
os últimos meses de governo de D. João VI no Brasil )

Com a Independência ( 1822 ) o Correio deixa de circular e Hipólito da Costa ajuda nos
esforços diplomáticos para reconhecimento do Brasil livre de Portugal na Europa.

Optando-se pela Independência, a imprensa recebe os reflexos da realidade e atravessa fase


de liberdade.

Até 1821 o único jornal oficial brasileiro era a Gazeta do Rio de Janeiro.

Neste ano, surge um periódico publicado por um diretor da censura régia : José da Silva
Lisboa ,Visconde de Cairu , O Conciliador do Reino Unido . Conservador sobre as
liberdades políticas achava que liberdade de imprensa prejudicava o mundo livre.

Além do Conciliador do Reino Unido, outras folhas surgiram ( O Amigo do Rei e da Nação
e o Bem da Ordem ) todos anti-liberais.

Em 15 de setembro de 1821 é lançado o Revérbero Constitucional Fluminense, considerado


o primeiro jornal da defender a liberdade, igualdade e fraternidade importados da
Revolução Francesa. Defendia a liberdade de imprensa, mas não a Independência. Se
declarava defensor dos interesses do nacionalismo brasileiro. ( Maçonaria )

A tensão entre Brasil e Portugal agrava-se . Um decreto determina que D. Pedro voltasse a
Portugal. Outros o fechamento de instituições no Brasil.

Um panfleto ( Despertador Brasileiro ) faz o que muitas folhas não conseguiram : agitou, a
partir do Rio de Janeiro, boa parte da opinião pública para o fato de que Portugal queria
reduzir o Brasil a uma mera colônia como na era do descobrimento. ( Isabel Lustosa o
classifica como o primeiro grito pela independência )

Outros jornais seguiram a mesma linha editorial do panfleto. A agitação se mantinha


sobretudo alimentada pela maçonaria.
9 de janeiro de 1822 : Dia do Fico. D. Pedro cai nas graças do povo. Expressiva parte das
tropas portuguesas deixam o Brasil.

1822 : nasce o Correio do Rio de Janeiro. Pede uma constituição para o Brasil.

As folhas da época se dividem. Umas são usadas para atacar os inimigos da corte e D.
Pedro. Outros , no mesmo tom, defendem reforma em ritmo mais lento.

Não havia leis regulamentando a imprensa. Muitas folhas eram virulentas e os autores
usavam pseudônimos.

Em Portugal o clima era igualmente tenso com agressões ao Brasil e aos brasileiros. No
Brasil reagia-se na mesma moeda. A imprensa daqui açoitava a de lá ...e vice –versa.

O preconceito dos portugueses leva a milhares de brasileiros a mudarem de sobrenome por


nomes ligados a fauna e flora.

No atos , o governo e seu ministério já administravam o país como se fosse independente.


Em agosto, um documento diplomático já apresentava o Brasil aos Estados Unidos, e ao
resto do mundo, como nação soberana.

7 de setembro : declaração da Independência . Teve pouca atenção da imprensa no


momento só ganhando relevo depois com divulgação institucional já que nos
comportávamos antes como nação livre de Portugal.

Com a Independência, acaba a unidade entre esquerda e direita. A imprensa livre cessa.
Atentados a jornalistas são registrados.

Maçons, liderados por Gonçalves Ledo queriam que D. Pedro jurasse a Constituição antes
de ser elaborada.

José Bonifácio queria plenos poderes ao rei do Brasil.

Em outubro, José Clemente Pereira, presidente do Senado convoca as autoridades do


império para a sessão solene de aclamação de D. Pedro, Rei do Brasil que prestaria
juramente à Constituição que ainda estava em negociação.

O Governo tem reação furiosa e as lojas maçônicas são fechadas.

D.Pedro volta atrás em função da reação das elites progressivas e revoga atos de
fechamento e punição.

José Bonifácio se revolta e pede demissão. 3 dias depois D. Pedro o chama de volta e lhe
dá mais poderes.
A Devassa ou a Bonifácia

José Bonifácio inicia feroz perseguição aos inimigos a Coroa que querem implantar uma
República. Fecha jornais ligados a maçonaria ( Revérbero e o Correio do Rio de Janeiro ) e
coopta adversários.

D. Pedro é coroado em dezembro de 1822 . Período de profundas perseguições.

Em 1823 os principais jornais ativos no Rio e no restante das províncias era governista. O
Diário do Governo era o jornal oficial do novo império. José da Silva Lisboa edita o
Atalaia, governista, sempre atacando os maçons.

Mas havia resistência : Correio do Rio de Janeiro publica fortes artigos ( Frei Caneca )
contra adversários da Maçonaria. Frei Sampaio ( governista ) devolve a virulência.
Começa a Assembléia Constituinte e Legislativa do Brasil. O Diário da Assembléia ( órgão
oficial ) relata os debates com relativa precisão. Há muitas criticas José Bonifácio de
Andrada e à perseguição dos maçons .

José Bonifácio começa a cair em desgraça: quer abolir a escravidão, rever as concessões de
terra, tirar propriedade de portugueses vassalos ( vários deles filhos dos mesmos que
vieram com D. João VI e desabrigaram brasileiros )

Há forte reação das elites coloniais brasileiras. Usam a Marquesa de santos ( Domitila de
Castro ) para se queixar com D. Pedro.

João Soares Lisboa retorna ao Brasil e é preso . Da cadeia publica Correio Extraordinário
do Rio de Janeiro com fortes cores oposicionistas .

Luis Augusto May, jornalista, homossexual, ridicularizado em artigos apócrifos, é


espancado a mando de José Bonifácio e o mandante acaba descoberto. Vira mártir da
imprensa . Andrada pede demissão. D. Pedro também está independente.

Sem José Bonifácio, as forças de direita e esquerda tentam se reorganizar e valendo-se da


imprensa.

José Bonifácio lança o seu jornal : O Tamoio, de alto nível e anti-português. Atacava,
ainda que de forma indireta, D. Pedro , sempre cercado por colaborares portugueses que
continuavam a explorar o Brasil . Virou oposição, isolado .

Outros jornais surgiram : Sentinela da Liberdade, cuja linha editorial se assemelhava ao


Tamoio ; A Estrela Brasileira ; Sentinela da Liberdade à Beira do Mar da Praia Grande .

Em contrapartida, surge Estrela Brasileira, absolutista, editado por Jean Baptiste Aimé de
Loy . Alguns historiadores garantem que D. Pedro pagava de Loy para escrever a o Estrela
O mais aguerrido jornalista da época : Cipriano Barata. Escrevia de Pernambuco para o Rio
de Janeiro, no Correio. Era temido até por José Bonifácio de Andrada, considerados por ele
e Frei caneca, um aristocrático.

Na Assembléia Constituinte, todas as queixas, dissabores e problemas do país estavam


desaguando. Os portugueses continuavam alvo comum de queixas.

O tom das criticas sobe ; D. Pedro I fecha a Assembléia Constituinte acusando a imprensa
de manchar a honra e à pessoa do Imperador.

Os Andrada ( Tamoio ) e José Soares Lisboa ( Correio do Rio de janeiro ) são banidos para
a Europa. Lisboa volta ao Brasil por Pernambuco e decide participar da Confederação do
Equador. Morre em combate.

Em resumo :

A ação da imprensa influenciou, e muito, no processo de Indpendência :

1. O Correio Brasiliense ( Hipólito da Costa ) na luta contra o absolutismo, o


obscurantismo, a corrupção ;

2. Teve forte inspiração no pensamento liberal e no liberalismo econômico ;

3. José da Silva Lisboa, censor, ajudou a divulgar ideais iluministas . Depois


identificado como autor do Despertador Brasiliense, ocupa papel como
agitador da opinião pública contra as intenções de Portugal na futura ex-
colônia;

4. Imprensa estimulou a organização de diversas manifestações políticas


viabilizadas através das páginas dos jornais e dos panfletos que surgiram
entre 1821 e 1823;

5. Alianças forma construídas e dissolvidas mas sempre amparadas pela


necessidade de se repensar o Brasil . A Campanha Constituinte foi
estimulada a partir dos jornais em 1822 quando nasce o Correio do Rio de
Janeiro. Pede uma constituição para o Brasil.

6. D. Pedro fez jornalismo usando artigos onde atacava os desafetos e


experimentava o poder da repercussão cometida ;

7. Percebe-se a força do Quarto Poder ( Isabel Lustosa ) com o uso da palavra


para cooptar e chantagear obtendo-se vantagens, alugando-se penas ;

8. A imprensa brasileira, na Independência tinha características semelhantes a


da Europa, um século antes . Eram raros os jornalistas profissionais . Vários
era padres, intelectuais, liberais , maçons .
9. Todos tinham consciência do papel histórico que estavam assumindo
naquele momento do Brasil e no alcance que a propaganda política teria em
detrimento de um papel mais educativo que um jornal poderia exercer.

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