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A Guerra Contra Aguirre e a formação da Tríplice Aliança

A região platina vivenciou várias contendas desde meados do século XVII. Devido ao fato da região
possuir uma "fronteira viva" , diversos interesses geopolíticos tentaram se aflorar na região. O
último embate na região do Prata e o mais cruel, foi a famosa Guerra da Tríplice Aliança, também
conhecida como Guerra do Paraguai, que ocorreu entre 1864 a 1870. A guerra envolveu todos os
países platinos e o Império Brasileiro, sendo responsável por definir a estrutura geopolítica da
região. Porém, para entender a Guerra da Tríplice Aliança, se faz necessário analisar os
acontecimentos antecedentes que inspiraram a guerra e foram responsáveis por estabelecer a
respectiva aliança entre os países beligerantes.
Desde a sua independência, em 1828, o Uruguai, passava por uma intensa disputa pelo poder
político. Eram dois partidos que possuíam interesses distintos. De um lado estava os blancos, partido
político conservador que estava ligado aos fazendeiros e de outro os colorados, de cunho liberal
ligado à elite mercantil. A disputa pelo poder entre blancos e colorados gerou uma guerra civil onde
o Império Brasileiro se viu obrigado a interferir.
A participação do Império se deve aos sucessivos ataques e saques realizados pelos partidários
blancos na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai. A delimitação da fronteira havia sido
estabelecida em 1852, após a vitória sobre Oribe. Na época das incursões uruguaias no Rio Grande,
o Presidente do Uruguai era Anastásio Aguirre, filiado ao partido blanco. Com o intuito de resolver as
invasões ao seu território, D. Pedro II exigiu o pagamento de indenizações por parte do governo
uruguaio bem como a punição aos infratores. Aguirre, que por ideologia era contra ao Império, nada
fez, o que causou o agravamento do problema. Seguiu-se o "ultimato" do governo brasileiro, que foi
entregue pessoalmente à Aguirre. Frente a negligência de Aguirre, a relação do Império com o
Uruguai foram cortadas.
Em 1863, Brasil e Argentina passam a apoiar a rebelião colorada comandada pelo General Venâncio
Flores. Para combater a aliança entre Argentina e Brasil, Aguirre solicita ajuda de Solano López do
Paraguai que:

"[...] sentindo-se prejudicado pela aliança entre as duas nações mais poderosas da região e sua
intervenção nos assuntos internos do Uruguai, concluiu - com alguma arrogância e enorme
temeridade - que era chegada a hora de mudar o equilíbrio da região e dar ao Paraguai um novo
papel naquele jogo de interesses político-econômicos."
(BUENO, 2012)

Dessa forma o Paraguai firma o trato com Aguirre, pois via que a aliança Brasil-Argentina seria
prejudicial para seus interesses geopolíticos. Solano López ameaçou intervir militarmente em
qualquer ato agressivo contra o Uruguai. Sem ligar para as ameaças de López, as tropas Imperiais
cruzam a fronteira e invadem o Uruguai sendo auxiliada pelas tropas de Venâncio Flores e pela ação
conjunta da Esquadra do Almirante Tamandaré.
A Esquadra Brasileira e as tropas de Flores, sitiaram a vila de Salto no rio Uruguai, que capitulou 28
de novembro de 1864. Em 16 de outubro de 1864, as tropas imperiais sob às ordens de Menna
Barreto, conquistam Mello e dali partem para Paissandu. Após cercarem Paissandu, as forças
seguiram para a capital. Em 15 de fevereiro de 2015, Aguirre é deposto e a presidência passa ao
General Venâncio Flores.
Com a queda de Aguirre e a ascensão de Flores, o Uruguai celebra um acordo de paz com o Império
Brasileiro e pouco tempo de pois é firmado o Tratado da Tríplice Aliança. Solano López, que já havia
dado início à seus plano expansivos (aprisionamento da embarcação Marquês de Olinda e ataque ao
Mato Grosso e ao Rio Grande do Sul) se viu só contra as três nações. O cenário da guerra estava
armado.
Fontes Consultadas:

BUENO, EDUARDO. Brasil: uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro:
Leya, 2012.

http://www.ahimtb.org.br/confliext12.htm [Acesso em: 06/11/15]

A Guerra do Paraguai e os Voluntários da Pátria

Após a declaração de guerra e os ataques paraguaios no Mato Grosso e no Rio Grande do Sul, o
Império Brasileiro se viu com a urgente necessidade de estabelecer um meio que fosse capaz de
aumentar o número de efetivos do Exército Brasileiro. A necessidade foi grande, pois o "inimigo"
possuía uma força bélica que contava com 64 mil homens, enquanto as forças nacionais contavam
com um pouco mais de 18 mil homens. Inicialmente foi tentado utilizar a Guarda Nacional para dar
fim aos ataques paraguaios, porém a Guarda não poderia cruzar a fronteira. Então, em 7 de janeiro
de 1865, foi promulgado o Decreto nº 3.371 , que:

"Crêa Corpos para o serviço de guerra em circumstancias extraordinarias com a denominação de -


Voluntarios da Patria -, estabelece as condições e fixa as vantagens que lhes ficão competindo.
Attendendo ás graves e extraordinarias circunstancias em que se acha o paiz, e a urgente e
indeclinavel necessidade de tomar, na ausencia do Corpo Legislativo, todas as providencias para a
sustentação, no exterior, da honra e integridade do Imperio [...]"

A criação dos Corpos de Voluntários da Pátria, foi o meio que o governo encontrou para resolver os
problemas do recrutamento e contornar o problema com a Guarda Nacional.
Dos 139 mil soldados brasileiros que participaram da guerra, 50 mil eram voluntários provenientes
de todas as províncias do país, sendo a maioria rio-grandenses. Muitos aderiram ao voluntariado,
pois a participação geraria boas recompensas, como consta nos seguintes artigos:

" Art. 1º São creados extraordinariamente Corpos para o serviço de guerra, compostos de todos os
cidadãos maiores de dezoito e menores de cincoenta annos, que voluntariamente se quizerem
alistar, sob as condições e vantagens abaixo declaradas.

Art. 2º Os voluntarios, que não forem Guardas Nacionaes, terão, além do soldo que percebem os
voluntarios do Exercito, mais 300 rs. diarios e a gratificação de 300$000 quando derem baixa, e um
prazo de terras de 22.500 braças quadradas nas colonias militares ou agricolas.

Art. 4º Os voluntarios comprehendidos nos artigos anteriores terão baixa logo que fôr declarada a
paz, dando-se-lhes immediatamente passagem para onde a solicitarem, no caso que tenhão de se
transportar per mar.

Art. 6º Os voluntarios terão todas as regalias, direitos e privilegios das praças do Exercito para
serem reconhecidos Cadetes ou Particulares, sem que por isso percão as vantagens do art. 2º, e
possão ser promovidos a Officiaes quando se distinguirem. Os que tiverem direito a ser reconhecidos
Cadetes ou Particulares, poderão usar logo dos respectivos distinctivos até se proceder aos Conselhos
de Direcção e Averiguação, quando o Quartel General o faculte; ficando dispensados da
apresentação de escriptura de alimentos."
Vale ressaltar que muitos que aderiram ao Corpo de Voluntários foram influenciados pela imprensa
que se utilizava do patriotismo para retratar os voluntários. Eram os "heróis da pátria e que
combateriam um "inimigo cruel e sanguinolento".
O sentimento patriótico expresso pelos voluntários tem seu exemplo no caso de Jovita Feitosa. Uma
jovem nortista que se passou de homem para se alistar e combater os paraguaios.
Porém com o seguimento da guerra a "euforia patriótica decaiu", não sendo suficiente para
aumentar o contingente brasileiro. Assim, o governo passou a estabelecer o recrutamento forçado,
exigindo o recrutamento de 1% da população de cada província. Muitos cidadãos escaparam do
recrutamento forçado fazendo doações de recursos e equipamentos e empregando parentes e
escravos em seu lugar. No caso dos escravos, houve intensa prática mercantil. Muitos compravam
seus "substitutos" e os alistavam para lutarem em seu lugar. O governo Imperial tratou de negociar a
alforrias dos escravos que se alistassem nas tropas que marcharia rumo ao Sul.
Após receberem breve treinamento militar os Voluntários da Pátria partiam enfrentar o inimigo do
Império. Em diversas províncias houve festejos de despedida, que inclusive em algumas delas o
Imperador estava presente simbolizando a nação.
Os Voluntários da Pátria participaram de diversas batalhas influenciando diretamente na vitória do
Império. Lutaram em solo nacional e estrangeiro. Participaram da tomada de Uruguaiana, assim
como marcharam para Tuiuti, onde foi travada a maior batalha na história da América do Sul. Além
de combaterem os paraguaios, enfrentaram doenças epidêmicas como a cólera e a varíola. Porém
não deixaram de cumprir o seu papel, lutar pelo império, lutar pela pátria.

FONTES CONSULTADAS:

Legislação Informatizada - Decreto nº 3.371, de 7 de Janeiro de 1865 - Publicação Original


Disponível em <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3371-7-janeiro-
1865-554492-publicacaooriginal-73111-pe.html>. [Acesso em 10 de nov. De 2015]

ALMEIDA, Fabiana Aparecida de. Vivendo a Guerra do Paraguai: Memórias de um voluntário da


Pátria. Disponível em: <http://www.historiamilitar.com.br/Artigo5RBHM3.pdf>.[ Acesso em 10 de
nov. de 2015]

TORAL, André Amaral de. A participação dos negros escravos na guerra do Paraguai.Estud. av., São
Paulo , v. 9, n. 24, p. 287-296, Aug. 1995 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-40141995000200015&lng=en&nrm=iso>. [Acesso em 10 nov. 2015]

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