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Disp.

e Tradução: Rachael
Revisora Inicial: Marcia
Revisora Final: Rachael
Formatação: Rachael
Logo/Arte: Dyllan

Os Segredos Dele Poderiam Destruí-la


Desde o primeiro momento em que Josie colocou os olhos no sexy e
misterioso Shane Dean, ela estava apaixonada. Esse desejo inflamou um caso
passional, e em algumas semanas, Shane tinha deslizado um anel em seu
dedo. Parecia que cada fantasia dela estava se tornando realidade... Até que
seu novo marido desapareceu sem deixar rasto. Agora, dois anos e um
coração partido depois, Josie fica chocada com as chamadas hospitalares:
Shane tinha sido encontrado... Numa cena de crime sem memória de como
tinha chegado lá.

O Amor Dela Poderia Salvá-lo


Shane não consegue se lembrar do anjo de olhos azuis ao seu lado —
ou até mesmo quem ele é — mas ele sabe que algo não está certo. Sua audição
está super afiada, sua força física incrível, e o desejo de proteger Josie
esmagadora. Poderosos inimigos o estão caçando, e Josie é a chave para
descobrir o porquê. Enquanto Shane luta para desvendar seu passado,
perigosas novas verdades vêm à luz. Poderia ele proteger a única mulher que
ele já havia amado? E poderia Josie confiar em um homem que ela pensava
que conhecia — um que carregava um segredo tão mortal?

Para Vince Rossi: o melhor padrinho, treinador do softball, cowboy,


dentista,
e guia de rio que já viveu. Nós sentimos muito sua falta.

Agradecimentos
Eu amo a página de agradecimentos em um livro porque agradecer às
pessoas me faz feliz; embora acrescente algum stress no caso de eu esquecer
alguém. Se eu tiver, eu realmente peço desculpas. Muitas pessoas
trabalharam duro para fazer este livro acontecer, e eu estou muito grata por
isso.
Primeiro, um grande obrigado ao meu marido, Big Tone. As pessoas
perguntam o tempo todo como um autor com um dia de trabalho e filhos
consegue tudo pronto, e eu lhes digo que é porque eu sou casada com você.
Você faz as coisas acontecerem. Mesmo antes de eu vender meu primeiro
livro, quando escrever era apenas um tempo de atividades, você me
incentivava a continuar. Obrigada.
Aos meus filhos, Gabe e Karly, obrigada pelo apoio, pelos risos, e pela
diversão. Vocês são os melhores filhos do mundo, e eu amo vocês.
À minha agente talentosa, Caitlin Blasdell, obrigada por proteger,
guiar, e melhorar minha carreira. As edições que você envia sempre faz o
livro muito mais forte. Você é a calma em uma indústria selvagem, e eu te
agradeço muito! Obrigada a Liza Dawson por me ensinar a montar o cenário,
a Havis Dawson por seus experientes conselhos de edição, e a Hannah
Bowman para percepções de caracteres. A gang Dawson verdadeiras rochas.
À minha incrível editora, Michele Bidelspach, obrigada pelas
fantásticas e detalhadas edições para este livro. Acho que nós alcançamos
uma profundidade com os personagens que os leitores vão adorar, e isso é da
sua competência. Eu realmente gostei de trabalhar com você e espero que
tenhamos muitos livros por vir. Obrigada a todos no Grand Central
Publishing que trabalharam tão duro para conseguir este livro para os
leitores.
Obrigada a Kelly Mueller em Books-n-Kisses por sua amizade e apoio,
e obrigada a Bonnie Paulson, Tina Jacobson, e Asa Bradley por responder
perguntas rápidas sobre gramática e lógica... E por sua amizade. Além disso,
obrigado a Carla Gallway por seu trabalho duro.
Obrigado à Lethal Ladies Critique Group pela sabedoria e diversão, à
minha equipe de rua FB pelo incentivo e risos, e ao meu grupo local RWA,
IECRWA, pelo apoio e bons tempos.
E, como sempre, obrigada ao meu sistema de apoio constante: Gail e
Jim English, Debbie e Travis Smith, Stephanie e Donald West, Brandie e Mike
Chapman, Jessica e Jonah Namson e Kathy e Herb Zanetti.

Revisoras Comentam...

Marcia: Se você gosta de uma boa trama, muito bem dosada com
bandidos malvados, mocinhos maravilhosos — oh, meu, eu queria um desses
para mim — muito suspense, segredos e ação que te deixam de cabelo em pé
e adrenalina correndo por suas veias o tempo todo, sim, você veio ao lugar
certo... Eu juro, mal posso esperar pelo próximo... Boa leitura.

Rachael: Eu não conhecia essa autora, mas me encantei com a escrita e


com o livro. No princípio não sei se eu gostei tanto assim do Shane, por ele ter
abandonado a Josie sem nenhum motivo. Mas conforme vamos entendendo
toda a trama o encantamento por ele e seus irmãos aparece. Tudo é tão bem
encaixado que o suspense da trama te deixa de cabelos em pé. Realmente
preciso dos próximos livros para saber o final de tudo. Vocês com certeza vão
amar!!!
Prólogo

Southern Tennessee Hills


Vinte anos atrás

Shane se estabeleceu contra a parede fria de bloco, absorto no


aparelho de TV do outro lado do quarto, mas forçando-se
periodicamente a olhar através da janela escura. Na segunda batida do
amanhecer, ele e seus irmãos tinham que fugir do centro de informática.
A transgressão corrente era punível por espancamento ou confinamento.
Provavelmente, ambos.
Mas uma noite gasta assistindo uma maratona da série com uma
família que vivia na cidade valia a pena o risco e fornecia uma visão de
um mundo que ele apenas havia sonhado. Invadir a sala privada que
abrigava a televisão tinha sido quase demasiadamente fácil.
Surpreendia-o os soldados lhes ensinar cautela e vigilância, mas não
esperar que eles usassem essas habilidades.
Um estrondo soou à distância — provavelmente de uma mina de
carvão algumas horas de distância. Só para dupla-verificação, ele
levantou a cabeça e usou sua audição especial para se certificar de que
eles estavam a salvo. Um lobo rondava a uma milha ou um pouco mais
longe, e presas se dispersavam. Nenhum humano respirava nas
proximidades. Bem, nenhum exceto seus três irmãos enquanto eles
assistiam a série. O oitavo episódio acabou com uma música alegre e um
final feliz.
“O que é uma família?” Jory, seu irmão mais jovem, perguntou.
Shane forçou um dar de ombros. “Eu acho que uma família são
pessoas que vivem juntas.”
“Então, nós somos uma família?” A voz de Jory quebrou.
Shane balançou a cabeça, endireitando os ombros. “Sim, nós
somos uma família.”
“O que é uma mãe?” Jory coçou a cabeça.
“Eu acho que é aquela senhora lá.” Shane apontou para a mulher
na tela.
“Ela parece...” Matt, o mais velho de todos eles, disse, pensativo;
“suave.”
Eles assentiram.
“Por que não temos mães ou senhoras aqui?” Jory perguntou.
Shane deu de ombros novamente. Ele provavelmente não merecia
uma mãe, mas Jory, sim. Por que Jory não tinha uma mãe? “Talvez
soldados não têm mães.”
“Oh.” Jory se voltou para a tela. “Ela parece legal.”
Sim. A senhora suave parecia legal.
Nathan saltou. “É hora de ir — o sol está saindo.” Como o segundo
mais velho, Nathan geralmente mantinha um olhar atento sobre Jory e
Shane, enquanto Matt passava seu tempo os treinando para sobreviver.
Shane se levantou e estendeu a mão para ajudar Jory.
Ele recuou. “Eu quero ficar.”
“Agora, Jory.” Matt abriu a porta uma lasca para espiar fora. “Eles
já estão começando o mão-a-mão.”
Jory se levantou e limpou as calças. “Bem.”
“Sigam-me, e não pareçam culpados.” Matt se dirigiu para a
madrugada fria, seguido por Nathan.
Shane esperou até que Jory estivesse limpo antes de fechar a
porta e se apressar para treinar com Nathan. Ao redor deles, garotos
estavam envolvidos em combates-simulados. Seu irmão o chutou no
estômago, e ele permitiu que a dor desaparecesse antes de socar Nate
na mandíbula.
O sol angulava através das árvores quando o Comandante Phillips
avançou para a área de prática seguido por dois soldados que puxavam
atrás deles um homem baixo e sujo. Graxa e detritos bagunçavam o
longo cabelo escuro e barba do homem. As mãos do prisioneiro estavam
amarradas atrás das costas, e ele implorava furiosamente em uma
linguagem que Shane ainda não tinha aprendido. Os pés descalços do
homem se arrastavam pelo chão, deixando rastros claros. Seu sangue
fazia um ruído sibilante conforme corria por suas veias muito
rapidamente. O tecido pulmonar estando enquanto ele ofegava.
Terror tinha um som.
“Soldados.” O comandante chamou a atenção.
Eles rapidamente se moveram em formação. O comandante era
reto e seguro, seu cabelo cortado em um corte curto. Seus olhos eram
de um profundo preto escuro. Shane sempre tentava se concentrar em
outra coisa quando enfrentava o comandante, certo de que se perdesse
naquelas profundezas negras significaria a morte. Ele sabia disso de
alguma forma.
Ele e os outros garotos observaram impassíveis quando um
soldado forçou o prisioneiro de joelhos.
“Você estiveram estudando anatomia e pontos de pressão por um
mês agora,” o comandante disse. “Hoje nós vamos nos concentrar na
forma mais rápida e econômica de quebrar o pescoço de alguém.”
As demonstrações ao vivo sempre faziam a cabeça de Shane
estalar. Será que o prisioneiro sabia que estava prestes a morrer?
Provavelmente. Shane endureceu a espinha apenas no caso de ser a vez
dele. Por favor, não deixe que seja sua vez.
O comandante fez uma pausa, e então gritou: “Cadete Shane.”
Enquanto Shane avançava para ficar perto do prisioneiro, Matt
começou a se mover de seu lugar na formação, chegando para a faca
embainhada em sua panturrilha. Shane sutilmente sacudiu a cabeça.
Mesmo que Matt de alguma forma esfaqueasse o comandante para
puderem correr, eles não tinham para onde ir. O comandante sempre os
encontrava.
Matt parou, todo seu corpo tenso. Como o mais velho dos irmãos,
ele considerava seu dever protegê-los de algum modo. Seus olhos
cinzentos idênticos encontraram os de Matt quentes e desesperados.
Shane tentou dar de ombros, mas seus ombros tremeram ao invés. Seu
intestino doendo.
Esperançosamente ele não ia perder a razão por alguns dias como
Matt tinha quando foi sua primeira vez. Shane entendia que esta era
mais uma parte de seu treinamento — ele já era velho o suficiente para
matar agora.
Ele tinha acabado de completar dez anos.

Capítulo 1
Dias presentes

Os saltos de Josie clicavam em rápida sucessão contra os azulejos


bem-desgastados, o cheiro de água sanitária fazendo seu estômago
doer. Sua mente girava. Como isso podia estar acontecendo? Deveria
ser algum tipo de truque.
Alguém tinha pendurado abóboras sorridentes ao longo das
paredes do hospital para celebrar o mês de outubro. Algo sobre aqueles
dentes irregulares contra as paredes sombrias a assustavam. Mesmo
depois de adulta, a sensação de impotência que sentira quando criança
no hospital deixava seu corpo tenso e pronta para fugir dos cheiros
antissépticos.
Várias enfermeiras se reuniam atrás uma grande balcão,
estudando gráficos. Josie as ignorou e se apressou pelo corredor. Ela
alcançou o último quarto à esquerda e deu de cara com um policial
uniformizado. Saltando para trás, ela lutou para se equilibrar nos saltos
que estivera usando para o trabalho. A chamada tinha chegado depois
do jantar, e ela ainda estava no escritório. Como sempre. A promoção a
vice-presidente era para agarrar, e ela estava ia obtê-la.
O policial a firmou, os olhos escuros avaliadores. “Está tudo bem,
senhora?”
“Sim ...?” Ela puxou sua bolsa drapejada em seu braço, precisando
de algo para agarrar. Ela era uma adulta e no controle agora. “Um
Detetive Malloy me ligou para vir para cá. Eu sou Josie Dean.” Sua
respiração engatou em seu sobrenome; ela o mudaria em breve.
“Ele está lá dentro com o Sr. Dean.”
“Major Dean,” ela disse automaticamente, e então seu rosto
aqueceu. “Quero dizer, ele costumava ser um major. Mas pode ter sido
promovido.” Deus. Ela tinha soado como uma idiota.
Uma voz através de um altifalante anunciou um código azul. O
oficial se endireitou, ouviu, e depois relaxou os ombros quando uma sala
no terceiro andar foi denominada. “Você pode ir entrar.” Ele inclinou a
cabeça em direção à porta aberta antes de piscar um sorriso para uma
bela enfermeira empurrando um carrinho de livros pelo corredor.
Sim. Ela podia entrar. Mais fácil falar do que fazer. Josie respirou
fundo, tomou coragem e entrou, sua atenção instantaneamente
capturada pela figura masculina empoleirada contra a cama de hospital.
Por alguns breves segundos, o tempo parou. Lembranças
inundaram sua mente, seu corpo, talvez em algum lugar lá no fundo, até
que seus pulmões esqueceram de trabalhar. O que rapidamente, ela se
viu impotente com a necessidade de curá-lo. Tossindo, ela forçou ar em
sua garganta e deu uma boa olhada.
Várias ataduras estavam amarradas através do torso musculoso de
Shane enquanto um nódulo roxo se levantava de sua testa. Suas pernas
longas estavam envoltas em calças ensanguentadas, e suas botas
grossas estavam cruzadas na altura dos tornozelos. Ele estava nu da
cintura para cima, o peito cheio de cicatrizes e abdominais lisos traindo
uma vida de combate. As novas feridas se encaixariam com o resto.
Aquelas cicatrizes partindo seu coração mais uma vez.
Seus olhos cinzentos com laser sobre ela, e ela lutou contra o
impulso de correr. Dor, necessidade, e familiaridade rodou por seu
cérebro. Sua pele aqueceu. Droga, ele era bonito. O cabelo castanho
escuro puxado para trás do rosto machucado, e mesmo com as
contusões, suas feições robustas falava de força e beleza masculina.
Feroz e perigoso como um lobo.
Seu cabelo tinha crescido até os ombros e acrescentava uma
borda selvagem nova ao perigo.
Ela tinha um monte de camadas, e ele a atraía em cada uma
delas, fornecendo segurança e cumprindo sua necessidade desesperada
de pertencer. Até que ele a abandonara. Ela hesitou e agarrou a alça da
bolsa até que o couro cortava em sua pele.
Uma garganta pigarreou. “Sra. Dean?”
“Josie.” Ela mudou seu foco para um homem em um terno
marrom amarrotado recostado contra um cartaz que descrevia o interior
do ouvido. O quarto era pequeno — uma mesa de exame, um balcão
regular com pia, uma cadeira de rolamento para um médico. No
entanto, ela ainda não tinha notado o outro homem até que ele fez um
som. “Detetive Malloy?”
“Sim.” Olhos astutos da cor de seu terno a estudaram, e ele
começou a escrever em um bloco. “Este é seu marido?”
O poder silencioso da presença de Shane puxou sua atenção de
volta para ele. Mesmo depois de todo esse tempo, ele ainda comandava
as respostas em seu corpo. Ele inclinou a cabeça como se estivesse
esperando sua resposta.
Ela assentiu. “Este é Shane Dean.” Isso não podia estar
acontecendo. O desamparo que ela sentira quando criança assustada e
ferida no hospital se fechou sobre ela. A necessidade de fugir deixando
seus joelhos tremendo. Ela centrou-se na pessoa mais próxima que ela
tinha de família, lutando para manter seus lábios firmes. Era realmente
ele. Realmente Shane. “Eles disseram que você está com amnésia.”
Shane fez um breve aceno de cabeça. “Eu não consigo me lembrar
de nada.”
O estrondo familiar da voz dele bateu em seu plexo solar. Emoção
lavando através dela afiada com uma dor aguda. Dois anos. Dois longos
anos desde que ele a deixara. “O que aconteceu?”
O detetive parou de escrever. “Esperávamos que você pudesse
nos fornecer uma explicação. Onde seu marido estava indo hoje?”
Ela soltou uma gargalhada. Sério? “Não faço absolutamente
nenhuma ideia. Estamos separados.”
Shane parou, o ar espessando com tensão ao redor dele.
“Estamos?”
“Eu não te vejo há dois anos.” Sua voz tremeu, e ela lutou para
controlar seus nervos crus. Ela não ia deixá-lo afetá-la. “Eu nem sabia
que você estava de volta ao país.”
“Em qual país ele deveria estar?” O detetive perguntou.
Como se ela soubesse. “Ele está no marines com base fora de
Pendleton. Liga para eles.” Espere um minuto. “Como você soube como
me chamar se você não sabia que ele estava no exército?” Ela deu um
pequeno passo atrás para estudar seu marido. “E o que você está
fazendo no estado de Washington?”
Shane deu de ombros. O papel sobre a mesa amassou quando ele
se moveu. “Não sei. Provavelmente vim visitá-la de minha casa em
Oregon? Eu tenho uma carteira de motorista do Oregon, como também
um cartão com seu nome e número de telefone na minha carteira...
Junto com nossa licença de casamento. Eu sou do Oregon?”
Os pensamentos dela começaram a girar. “Sim. Quer dizer, eu
acho que sim.”
Um músculo em sua mandíbula flexionou. “Você não sabe?”
“Não. Eu não sei muito sobre você, Shane. Nós nos conhecemos
na Califórnia e nos casamos lá.” Em três semanas que tinham se
conhecido — a primeira e única vez em sua vida que ela havia arriscado
e sido espontânea. É claro que tinha acabado em desastre. Ela tinha sido
tão estúpida. O que ela estava pensando?
O detetive limpou a garganta. “Seu marido não está usando
nenhuma etiqueta com número de registro. Ele foi encontrado na beira
do rio, que fica a quilômetros da cidade a partir de sua casa. De seu
conhecimento, ele conhece mais alguém aqui em Snowville?”
“Não.” Pelo menos, ela achava que não. Mais de 100.000 pessoas
viviam no leste da cidade de Washington. Shane poderia conhecer
qualquer outra pessoa que vivia lá.
Seus joelhos começaram a tremer, e ela os obrigou a ficar imóveis
com orgulho teimoso. Ela então cravou as unhas em suas palmas para
sufocar o desejo de acariciar suas contusões. Sua noção romântica de
achar que podia curá-lo, de lhe mostrar que para o amor tudo era
possível, havia lhe rendido um coração partido. Legitimamente assim.
Tinha acabado. Eles tinham acabado. Seu corpo precisava malditamente
se lembrar desse fato. Assim como seu coração.
Os olhos de Shane afiaram. “Quando você se mudou para
Washington?”
“Dois anos atrás.”
“Quando nos separamos.”
“Sim.”
Ele arqueou uma sobrancelha em uma expressão que ela se
lembrava muito bem. “Eu por acaso sei que estamos separados?”
Calor lavou através de seu peito, logo abaixo da pele. “Acabar com
nosso casamento foi sua escolha.” Na verdade, ele nem se preocupara
em terminar oficialmente o casamento. Ele tinha simplesmente
desaparecido — deixando-a sozinha depois de promessas que ele
claramente não tinha intenção de cumprir. Algumas pessoas não
conseguem uma família, e ela deveria ter se lembrado disso antes de
confiar nele.
O detetive clicou a caneta, ganhando sua atenção. “Por favor,
explique. Foi algum tipo religioso de acordo? A separação?”
Josie inclinou a cabeça. “Desculpe-me?”
Malloy ajeitou sua postura contra a parede. “A separação em vez
de um divórcio. Foi algum acordo religioso?”
Josie soltou o ar. “Não. Nós vamos providenciar o divórcio. Não
me parecia certo pedir um à revelia, e eu queria esperar até que Shane
pudesse assinar os papéis. Pareceu-me justo...” Ela queria encará-lo,
acabar tudo do jeito correto. Claro, sempre houve aquela pequena
chance de que ele pudesse tentar reconquistá-la — explicar por que a
abandonara.
Sem chance.
Ela agora já tinha esperado o suficiente — os papéis estavam
prontos. Assim como ela.
“Foi legal da sua parte, esperar eu quero dizer.” Ironia ressoou na
voz de Shane e estimulou as vértebras de Josie para à atenção uma de
cada vez.
“Sim, foi.” Mais de uma vez ela tinha pensado sobre apresentar os
documentos, mas não conseguiu se endurecer para acabar com tudo de
forma unilateral. Divorciar-se de um soldado provavelmente em combate
parecia errado. Mesmo depois de tudo, feri-lo desse jeito só ia machucá-
la ainda mais. “Eu mandei os papéis do divórcio para sua base em
Pendleton. Você poderia ter enviado as cópias assinadas de volta para
mim.”
“Talvez eu não queira o divórcio.” A mandíbula de Shane definiu
daquele jeito que sempre garantia para cutucar seu temperamento.
Ela forçou a raiva abaixo. Bem abaixo. Ela não discutiria na frente
do policial. Seu olhar pesquisou o rosto machucado de Shane. “Ele foi
assaltado?”
O detetive começou a escrever novamente. “Nós não sabemos. Se
assim for, os assaltantes podem estar precisando de ajuda médica,
também.” Ele gesticulou em direção aos dedos ensanguentados de
Shane. “Ele bateu a merda fora de alguém.” Rabisco. Rabisco. “Ah, Sra.
Dean, você conhece alguém que gostaria de ferir ou matar seu marido?”
Além dela? Ela teria que saber que ele saiba quem eram seus
inimigos — e ela não sabia. “Não. Mas, novamente, eu não vi Shane nos
últimos anos. Você realmente deve entrar em contato com os militares.
Ou seus irmãos.”
A cabeça de Shane se levantou abruptamente. “Irmãos?”
“Sim? Você deixou escapar uma vez que tinha irmãos.” Como ele
podia não se lembrar de nada? Para um maníaco por controle como
Shane, isso tinha que ser um inferno. “Embora eu não tenha nenhuma
ideia de quem são eles.”
Ele exalou, exasperado, e vagou o olhar sobre seu rosto em uma
carícia tão familiar que ela quase suspirou. “Parece que eu não confio
muito em você, olhos azuis.”
“Você não confia em ninguém.” Ela tinha lhe dado tudo que tinha,
e não tinha sido suficiente. Lágrimas picaram a parte de trás de seus
olhos, e ela brutalmente as afastou. Ele não ia vê-la chorar agora. Antes
de ele partir, teve uma noite em que ela havia pensado que eles
estavam se aproximando, ela tinha pensado que ele finalmente ia deixá-
la entrar. Então, ele desaparecera.
Os olhos dele aqueceram e uma sugestão de sorriso ameaçou sair.
Uma tensão de um tipo diferente começou a aquecer o quarto. Josie
puxou o casaco fechado quando seus mamilos traidores atingiram o
pico. Ela tinha esquecido a sua capacidade de mudar afeto para desejo.
Homem maldito.
Shane olhou sobre o ombro direito nu. “Eu sempre tive essa
tatuagem?”
“Sim.” Malloy se inclinou para ver melhor. “Símbolo legal. O que
significa?”
“Liberdade,” Shane murmurou, esfregando o ombro. Ele girou a
cabeça para encontrar o olhar de Josie, ambas as sobrancelhas subindo.
“Certo?”
“Sim.” Ela engoliu em seco. “Você já tinha a tatuagem quando nos
conhecemos, e você disse que significava liberdade.”
“Não me lembro de ser tatuado, mas sei o que significa o
símbolo.” Shane franziu a testa, correndo a mão ferida pelo cabelo.
O detetive limpou a garganta. “Então, você não sabe quem
poderia querer atacar seu marido, e não o vê há dois anos. Ah, Sra.
Dean, você construiu uma vida aqui, certo?”
“Sim.” Uma boa vida com raízes. É claro, ela estava sozinha, mas
estava segura.
O detetive assentiu. “Você está namorando alguém?”
Calor subiu em seu rosto, mesmo quando os olhos de Shane
afiaram para pedra. Ela sacudiu a cabeça. “Isso não é da sua conta,
detetive.”
Shane levantou o queixo. “Mas eu acredito que é da minha conta,
meu anjo.”
O homem sempre podia emitir uma ameaça eficaz com a mais
suave das palavras. Ela abriu a boca para lhe dizer para engolir isso
quando suas palavras afundaram. “Você se lembrou. Você me chamou
de 'anjo'.” Ele tinha lhe dado o apelido no primeiro dia em que se
conheceram em um pequeno café na Califórnia.
Ele sacudiu a cabeça, dando um leve estremecimento, e então
ficou quieto. “Não. Nenhuma memória. Você parece um anjo — grandes
olhos azuis, cabelo loiro fino. Meu anjo.”
“Não mais.” Ela não ia deixá-lo fazer isso com ela. Ele tinha levado
dois anos para lidar com o passado, e não poderia enfrentar essa dor
novamente. Não importava o quão perdido ele parecia, ou o quanto
sozinha ela se sentia. “Estamos separados.”
“Quem você está namorando, Josie?” Como de costume, Shane
ignorou suas palavras e estreitou seu foco para o que ele considerava
importante.
“Nós precisamos saber, Sra. Dean,” o detetive Malloy cortou antes
que ela pudesse mandar Shane ir para o inferno. “Só para limpar a lista
de suspeitos, se nada mais.”
Ela suspirou. “Eu não estou namorando ninguém.”
“Alguém surgiu em sua mente,” Shane disse suavemente. Muito
suavemente.
Dedos gelados se arrastaram por sua espinha, e sua frequência
cardíaca falhou. Ela afastou a sensação. O policial apertou os olhos.
Ambos os homens esperavam.
Ela respirou fundo, puxando a calma. “Eu não estou namorando
ninguém, mas saio de vez em quando com Tom Marsh. Ele trabalha em
construção, e a última coisa que ele faria seria agredir alguém. E nós
somos apenas amigos.”
“Que tipo de amigos?” Shane manteve seu foco unicamente nela
como se o policial não estivesse no quarto.
“Não te interessa.” O pânico correndo por suas veias a irritou.
Ele agarrou uma camisa amarrotada de cima do travesseiro e a
puxou sobre a cabeça, fazendo uma careta enquanto puxava o algodão
desgastado. Depois se empurrou fora da cama — em direção a ela.
“Esse Marsh sabe que você é comprometida?”
Consciência bateu em seu abdômen quando o cheiro único de
cedro aquecido e masculino bruto de Shane a invadiu. Como ela podia
ter esquecido o quão grande ele era? O quanto mais alto do que seus
próprios um metro e cinquenta e sete centímetros? Ela inclinou a cabeça
para encontrar seus olhos. “Tom sabe que eu estou prestes a me
divorciar.”
“Você tem certeza disso?” Shane agarrou seu braço, seu foco
sobre o detetive. “Malloy, você tem minhas informações de contato
enquanto estou na cidade. Eu vou ficar com minha esposa. Ligue se
souber de alguma coisa.”
A mão firme em volta de seu bíceps — tão quente, tão familiar —
enviou uma onda de consciência emocionante através de suas veias. Um
único toque poderia levá-la meses atrás, talvez mais. O homem sempre
tinha sido irreal e maior que a vida. Desejá-lo quase a havia destruído
uma vez. Nunca mais. Ela respirou fundo. “Os médicos já te liberaram?”
“Sim. Eu tenho uma concussão, e uma vez que estiver curada,
minha memória deve ser restaurada. Embora” — sua voz caiu para um
sussurro — “você precise me despertar a cada duas horas esta noite,
querida.”
O sotaque. Aquele sotaque sulista sempre escapava quando ele
estava cansado ou excitado — uma idiossincrasia que ele normalmente
conseguia camuflar. O simples som disso inflamou memórias de noites
quentes e sussurros suaves de seu cérebro direto para seu núcleo. Era
uma intimidade que a maior parte das pessoas não sabia sobre ele, e
conhecer a fazia se sentir especial. Sua boca ficou seca.
Um tique visível começou debaixo do olho esquerdo do detetive.
“Você não está livre para sair, Major Dean.”
Shane sorriu.
O ar se apressou para fora dos pulmões de Josie. Ela conhecia
aquele sorriso. O detetive não tinha a menor chance.
Nem ela.
Shane baixou a voz para um tom puramente agradável, que não
enganaria ninguém nem com metade de um cérebro. “Malloy, eu fui
atacado e estive colaborando com você. Eu, infelizmente, não tenho
nenhuma informação nova, nem estou sob prisão. Assim, eu estou indo
para casa com minha esposa. Ligue-me se você tiver mais perguntas.”
O sotaque se foi.
Malloy clicou sua caneta. “Eu poderia prendê-lo como testemunha
material.”
“Experimenta.” De alguma forma, seu tom se tornou ainda mais
agradável.
Josie lutou contra um arrepio.
Malloy, para seu crédito, ignorou a ameaça e virou os olhos
castanhos injetados para ela. “Há alguém que gostaria de te machucar,
Sra. Dean?”
Josie sugou por ar. “Você acha que ele foi ferido por minha
causa?”
O detetive deu de ombros. “Eu não sei. Este pode ter sido um
assalto aleatório, mas temos que explorar todas as possibilidades.”
Ela não via seu marido há dois anos. De jeito nenhum o assalto
estava ligado a ela. “Ninguém quer me machucar. Além disso, a maioria
dos meus amigos não sabem que eu sou casada.” Ao seu lado, Shane
ficou tenso, e sua respiração acelerou em resposta.
O detetive assentiu, seu olhar, passando por ambos. “Tem certeza
de que quer que ele vá com você?”
Não. Apesar de que já era hora de acabar com isso. “Claro. Nós
precisamos conversar, e eu tenho papéis para Shane assinar. Obrigada
por sua preocupação.” Nem por um segundo ela acreditou que Shane
fosse se afastar neste momento.
“Tem certeza de que está segura? Ele pode ser perigoso.” O
detetive avaliou ambos sem expressão. Rosto de policial... Rosto de
soldado. Ela já o tinha visto em seu marido.
“Shane é perigoso como o inferno.” Ele a havia salvado de um
idiota detestável no dia em que eles se conheceram, seu treinamento de
combate óbvio. Ela se permitiu um sorriso irônico. “Mas ele nunca iria
me machucar.” Fisicamente de qualquer maneira.
Malloy limpou a garganta. “Major Dean, o que acontece com sua
segurança?”
Shane piscou duas vezes e depois riu. “Ah. Você quer dizer a partir
dessa mortal boneca duende de pé ao meu lado?”
“Possivelmente.” O olhar de Malloy sondou os olhos de Josie
enquanto se dirigia a Shane. “Você esteve afastado e ela se mudou.
Estatisticamente, é possível que a duende tenha contratado alguém para
cuidar de você.” Ele sorriu. “Sem ofensa, senhora.”
Ela bufou uma risada. “Não levei, Detetive. Embora eu lhe
asseguro, se eu quisesse Shane morto, eu mesma faria isso.” Ele tinha
tentado lhe ensinar algumas habilidades perigosas durante seu breve
casamento, mas ela nunca tinha tido motivos para usá-las.
Os olhos do detetive se estreitaram.
Shane riu ainda mais. “Vamos, anjo.”
Ela permitiu que ele a levasse da sala. Eles passaram pelo policial
uniformizado e os muitos quartos, o grande quadro de Shane a
diminuindo de uma forma que ela tinha esquecido, de uma forma que a
fazia se sentir segura — protegida — e ao mesmo tempo muito
vulnerável. A preocupação do detetive filtrou através de seus
pensamentos. Shane era perigoso antes. E se ele fosse ainda mais
agora? Onde ele tinha estado nos últimos dois anos? Ela não o conhecia
mais. Inferno, ela nunca o conhecera.
Talvez ela não estivesse tão segura assim.
No entanto, quando as portas da saída apareceram, ela acelerou o
passo, num esforço de escapar do hospital. Sua primeira visita, quando
tinha sete anos, ela tinha sido trazida por um pai adotivo que a havia
machucado. Na segunda vez, quando ela já tinha nove anos, ela tinha
sido levada por um pai adotivo tentando salvá-la. Experiências
diferentes, mas o resultado foi o mesmo. Ela finalmente tinha acabado
sozinha.
Ali estava ela de novo, deixando o hospital com alguém que logo
iria partir. Ele a havia abandonado uma vez. Não importava o quão
rápido seu coração tinha saltado quando o vira novamente, ou o quão
perdido ele parecia agora, ele não ficaria.
Shane não era um cara que se prendia a nada.
Ele parou perto das portas de vidro da saída, virando-a para
encará-lo, inclinando seu queixo com uma junta. A amplitude de seus
ombros, a estreiteza de sua cintura, a força agrupada ao longo de seus
músculos prometiam poder e perigo. Calor e o perfume masculino de
cedro aquecido flutuou para ela. “Então, esposa. Você dormiu com esse
seu namorado?”

Capítulo 2
Os pequenos bíceps de sua esposa tencionaram em suas mãos, e
aqueles olhos incríveis escureceram para violeta, traindo sua intenção de
recuar. Shane agarrou seu queixo para segurá-la no lugar, procurando
uma resposta que ele não sabia ao certo se merecia.
Ela lhe deu um olhar gelado e um leve rubor se espalhou por suas
belas maçãs do rosto, mas não atingiu seu nariz arrebitado que ele tinha
o desejo mais estranho de beijar. “Minha vida sexual não é da sua
conta.”
Ele baixou as pálpebras. “Ah, querida,” ele suspirou, “nós dois
sabemos que isso não é verdade.” Ele ergueu a mão de seu queixo para
deslizar o dedo sobre seu lábio inferior cheio e picou com prazer quando
ela respirou fundo. Seu cérebro podia não se lembrar dela, mas seu
corpo vibrava com a necessidade de tirar o sangue de qualquer homem
que ousasse tocá-la.
Enquanto eles estavam parados nas portas de vidro do hospital no
entardecer do dia, Shane catalogou a paisagem urbana tranquila. Trinta
e cinco veículos estavam parados no estacionamento, e três empresas
se alinhavam na outra rua: uma que vendia alimentos, uma loja de
penhores com possíveis armas, e uma loja de conveniência administrada
por um casal. Havia uma boa probabilidade de que a loja tinha uma
espingarda perto da registradora. Uma fileira de apartamentos se
levantavam acima das empresas, provavelmente, três. Estatisticamente,
pelo menos, uma residência podia ter uma arma.
Como ele sabia disso? Claustrofobia súbita o teve lutando para
parecer normal, mesmo enquanto inclinava a cabeça para ouvir...
Alguma coisa. Qualquer coisa. Mas todos os sons chegavam abafados,
como se sua cabeça estivesse debaixo d’água.
Assim, ele se concentrou na pele macia debaixo de sua mão
áspera. Josie tinha um rosto clássico, maçãs do rosto bem definidas, e
feições delicadas. No entanto, seu queixo segurava uma teimosia que o
intrigava tanto quanto o desafiava.
Ele moeu os dentes juntos. “Eu não sei o quanto você está ferido,
mas se você não me soltar, eu vou chutar seu traseiro.”
Seu sorriso rápido se sentiu enferrujado, como se os músculos não
tivessem sido utilizados há muito tempo. Dois anos talvez — desde que
ela o deixara?
Com um dar de ombros, ele a soltou, endireitou, e recuou. Cada
movimento ligeiro cavando agulhas afiadas em seu crânio. Luzes
piscavam por trás de seus olhos por causa da dor. “Eu preciso saber.
Você está com medo de mim?” Ele não se conhecia. Será que ele
poderia machucá-la? A ideia de que ele pudesse machucar uma pequena
mulher tão indefesa foi como um soco no estômago. Quem diabos era
ele?
Ela arqueou uma sobrancelha delicada. “Se você está perguntando
se você abusa de mulheres, a resposta é não. Se você está perguntando
se você é um idiota, a resposta é sim.”
Ele bufou uma risada, mal segurando uma careta quando seus
olhos provocaram agonia. “Eu aprecio sua honestidade.”
“Disponha.” Ela jogou um fio loiro por cima do ombro e abriu a
porta de saída para o ar fresco da noite. “O que você poderia muito bem
fazer o mesmo.”
Ele fez uma pausa em sua declaração, tomando um momento para
apreciar seu corpo apertado no terninho cinza claro. A mulher tinha uma
bunda que ele adoraria afundar as mãos. O flash de luxúria rolou através
dele seguido por mal-estar. Ele tinha acabado de assustá-la,
praticamente a ameaçando sobre o namorado, e agora ele a queria nua.
Depois de um breve casamento, ele a abandonara. E se ele não tivesse
tido uma boa razão? Haveria uma boa razão para ele ter deixado sua
mulher desprotegida? Provavelmente não.
Depois que ela saiu, ele rapidamente a seguiu, seu olhar
esquadrinhando o enorme estacionamento. Tranquilo, pacífico e bem
iluminado na noite fria. Pinho e um toque de neve flutuava pela brisa.
“Você vai me levar para casa, anjo?” Ele imaginou que teria que
persuadi-la para levá-lo para sua casa. Ele precisava cavar um buraco
até que sua cabeça parasse de bater, e depois descobrir quem o havia
atacado.
Escuridão e paz parecia mais importante do que segurança agora.
Ela suspirou, puxando as chaves de uma bolsa monstruosa e
caminhando em sapatos pontudos em direção ao centro do
estacionamento. “Goste ou não, você é minha responsabilidade agora.
Pelo menos até você assinar os papéis.” Ela parou e se virou de forma
tão abrupta que ele teve que agarrar seus braços para evitar se chocar
com ela. Seu olhar encontrou o dele. “A menos que você só esteja cheio
de merda. Amnésia? Sério?”
Ela se sentia bem sob suas mãos. Ignorando a enxaqueca, ele
entrou em seu espaço, realmente desfrutando do clarão de consciência,
e então a filtragem de irritação em seu rosto deslumbrante. “Eu já menti
para você?” A pergunta era um risco, considerando que ele não fazia
nenhuma ideia se tinha mentido ou não.
Anger bateu a irritação fora do rosto e estreitou os olhos. “Não.
Você simplesmente não me disse nada.”
Oh, mas ele a tinha machucado. O jogo de seus ombros, a linha
de seus lábios, tudo lhe dizia que ele havia lhe causado dor. Que tipo de
burro ele era para ferir uma coisinha tão doce? “Sinto muito.”
Ela piscou três vezes e deu um passo atrás. “Não importa.”
“Eu acho que sim. Sejam quais forem os erros que cometi, eu
sinto muito.” Ela era tão pequena, a cabeça nem tocava o fundo de seu
queixo. Talvez ele devesse se virar sozinho no momento — deixá-la viver
a vida que ela tinha construído ao longo dos dois últimos anos.
Mas ele não queria fazer isso. Havia calor enterrado na mulher, e
ele estava se sentindo tão malditamente frio. Ela o amara uma vez.
Talvez ela pudesse explicar o porquê.
Um zumbido começou na base do seu crânio. Ele levantou a
cabeça para explorar o parque de estacionamento, a abundância
tranquila de SUVs não fornecendo nenhuma resposta. Alguém os estava
observando, embora — disso ele estava certo.
A dor de cabeça desapareceu, empurrada para algum lugar para
ser tratada mais tarde. Consciência filtrou através de seu cérebro de que
ele não deveria ser capaz de fazer isso. Seus batimentos cardíacos
diminuíram. Sua respiração desacelerou. Ele puxou Josie para seu lado,
ignorando a dor em seu ombro ao encontrar suas costelas machucadas,
levando ambos mais para dentro do estacionamento. Uma brisa fresca
soprou em seu rosto, e uma van do outro lado da rua chamou sua
atenção. Sim. “Onde está seu carro?”
A mulher não conseguia se afastar de seu braço protetor. “Bem
aqui.” Ela apontou um chaveiro para um Toyota Highlander preto, um
bip ecoando através da área silenciosa quando as portas destravaram.
Adrenalina inundou seu sistema, de alguma forma, o acalmando
ainda mais. Isso não era natural. Deveria ele ter mais medo de si mesmo
do que de seus agressores? “Você deveria ter estacionado debaixo de
uma luz.”
“Não me repreenda.”
“Então você deveria ser mais cuidadosa.” Ele teve a sensação de
já ter dito essas palavras para ela antes. Empurrando a especulação
para longe, ele abriu a porta do motorista, e ela entrou. Ele a seguiu,
agarrando sua cintura fina e a levantando sobre o consolo central,
estabelecendo sua própria bunda no assento. Dúvida tentou se infiltrar
em seus instintos, mas seus movimentos foram graciosos e treinados —
seus músculos trabalhando rapidamente como se separados de seu
cérebro. Dor começou logo atrás de seus olhos, e ele a empurrou de
lado.
Josie tentou voltar para seu assento. “Ei —”
“Eu dirijo.” Ele pressionou no pedal do freio e apertou o botão de
ignição sem chave. Pânico rodou em seu abdômen, então ele se
concentrou duro e rápido, cercando-se de calma. Truque interessante,
esse. “Afivele seu cinto de segurança.”
“Não —”
“Agora.” Ele baixou a voz para puro comando, cortando um olhar
para ela que foi igualmente duro.
Ela arqueou as sobrancelhas em surpresa. Com um bufo, ela
revirou os olhos e puxou o cinto. Não. Definitivamente nenhum medo
dele.
Pela primeira vez desde que recuperara a consciência, seu corpo
parecia familiar. Calma, decisão, alerta. Uma ameaça existia naquela van
azul. Ele preferiu não questionar sua certeza do fato. Não agora de
qualquer maneira. O veículo estava parado em frente a uma das saídas
do estacionamento como se estivesse esperando pacientemente, longe
de quaisquer luzes. Ele olhou no espelho retrovisor pela entrada no lado
oposto. Perfeito.
Movimentos certos teve o SUV dando ré e manobrando ao redor
das fileiras de carros em direção à saída. Pressionando com força contra
o acelerador, ele apertou o reverso através da entrada com um guincho
de pneus.
“Mas o quê —” Josie silvou, agarrando as duas mãos no painel
enquanto o atendente na entrada saltava da cabine, os braços
balançando no ar.
Shane chicoteou a Toyota ao redor e no tráfego, pressionando o
acelerador e contornando vários carros antes de girar o volante e atirar
o carro em um beco, seguindo por vários quarteirões.
“O que diabos você está fazendo?” Josie gritou.
Ele arqueou uma sobrancelha, deslizando em uma rua de mão
única longe do hospital. “Você tem uma boca grande, não é mesmo,
anjo?”
“Oh, Deus, você está completamente louco. Você tem uma
concussão. De jeito nenhum você deveria estar dirigindo.”
Ele olhou pelo espelho retrovisor. Tudo limpo. Dúvida sufocou em
sua garganta. Talvez ele estivesse louco. Independente disso, ele não
sentia mais a ameaça. “Desculpa. Eu só queria me divertir um pouco.”
Compreensão afundou. Ele não tinha intenção de lhe contar sobre a
ameaça. Interessante. Ou ele não confiava nela — ou o instinto lhe
ditava para protegê-la. Independente disso, ele escolheu experimentar,
para julgar sua reação. Ele limpou a garganta. “Havia homens em uma
van em frente ao hospital, esperando um de nós. Eu senti o perigo.”
Ela virou a cabeça lentamente em direção a ele. “O quê?”
“Você me ouviu.” Ele manteve o olhar na estrada enquanto
passaram por fachadas de lojas tranquilas, estudando-a fora de sua
visão periférica. A veia no pescoço dela vibrou quando seu batimento
cardíaco acelerou. Sua respiração engatou, e um aroma de frutos
silvestres flutuou dela. Que espécie de soldado ele era para ter esse tipo
de treinamento? Esses sentidos superdesenvolvidos? Temor se
estabeleceu em seu intestino.
Ela balançou a cabeça. “Você está louco. Que van? Não havia
nenhuma van.”
Então, duas opções aí. Ou ele não a havia colocado em seu
mundo, ou ela estava mentindo. O desejo de sua confiança o pegou de
surpresa. Maldição. Ele precisava ficar com ela até que sua memória
voltasse.
Uma voz na parte de trás de sua cabeça sussurrou que era uma
desculpa tão boa quanto qualquer outra para ficar com ela. Ele virou
para uma estrada principal, passando por uma longa fileira de
concessionárias de veículos. “Para que lado eu vou?”
Seu suspiro encheu o carro silencioso. Ela olhou para o porta-
luvas. “Siga a interestadual indo para o leste.”
Interessante — ele podia facilmente ler os pensamentos
espelhados em seu rosto. “Há uma arma em seu porta-luvas, querida?”
Ela saltou, um olhar cortante para ele. “Hum, sim?”
Ele arqueou uma sobrancelha. “Pistola?”
“Sim. Lady Smith1. Você me ensinou a atirar e sempre manteve
uma arma por perto.”
Bom. Embora ele apreciasse se ela não pegasse em uma arma,
enquanto perto dele... Pelo menos por agora. “Vamos deixá-la aí, tudo
bem?”
1
Uma série de pistolas semiautomáticas fabricadas pela Smith & Wesson a partir do início do século 20.
“Tudo bem.” Ela cruzou os braços.
Ele entrou na interestadual, seguindo as indicações para Idaho.
“Eu agradeço você me levar para casa, anjo.” O apelido. Parecia afetá-la
bastante se seu rosto corado fosse qualquer indicação. Sua visão
periférica era excelente, assim como sua visão noturna — bom demais.
Quem ou o que ele era? O mundo começou a se fechar sobre ele. “Eu
não sei o que aconteceu comigo, mas eu prometo que vou descobrir.”
“Tenho certeza de que sua memória vai voltar — você é o cara
mais forte que eu já conheci.” Ela não parecia feliz com esse fato, e sua
mão tremia quando ela correu os dedos pelas sedosas mechas loiras.
Um pequeno dente mordeu em seu lábio. “Ouça. Você não conhece
ninguém aqui na cidade. O que aconteceu deve ter sido um assalto.” Ela
se virou para ele, aqueles belos olhos azuis iluminados pelos postes na
rua. “Você pode ficar comigo alguns dias até que sua memória retorne.
Ou até que encontre seus irmãos.”
Hesitação. Ele franziu a testa. A mulher não queria que ele ficasse
com ela. Seu coração bateu forte. Sua esposa estava sendo gentil.
Amável. Ele olhou para ela, deixando-a saber que seu olhar estava nela.
Dessa vez. “Eu posso não me conhecer agora, querida. Mas eu sei que
eu nunca teria te deixado ir.” De jeito nenhum ele era tão estúpido.
Fogo brilhou naqueles olhos perigosamente. “Você me deixou,
querido.”
Ele arqueou uma sobrancelha. “Por quê?”
Seu olhar vacilou. E ela se deslocou no assento, desviando o olhar.
“Pegue a próxima saída.”
Dúvida amuou seus belos lábios. O que ela sabia que não estava
lhe dizendo? De alguma forma, ele sabia como obter respostas de
pessoas — não importa o custo. Um frio varreu sua espinha. Ele não
queria machucar alguém como Josie, não é? Sacudindo a cabeça, ele
deu sinal e arrancou, saindo da estrada para uma rua tranquila.
Ela apontou. “Vá para a direita e suba a colina, depois vire à
esquerda na Newcomer. Minha casa é a quarta à direita.” O timbre
suave da voz dela acariciou sua pele, proporcionando conforto e um
sentimento de pertencer.
Algo lhe dizia que ele não tinha pertencido há muitos lugares. Ele
manteve uma vigilância estreita sobre as casas bem conservadas em
ambos os lados da rua, muitas delas decoradas com enormes abóboras,
luzes alaranjadas, e fantasmas de papel ondulando das árvores. Ele
também observou as luzes do carro atrás dele. Mais importante, ele
sintonizou em seus sentidos. Nada. Nenhuma advertência, nenhum
temor. Embora algo ainda estivesse errado com sua audição — quase
como se ele esperasse ouvir mais coisas. Algo além do normal. Do que
ele estava sentindo falta?
Ele puxou para a entrada de automóveis que aparentemente
parecia uma casa de fazenda branca com arbustos alegres ao longo da
frente. O acabamento era de um azul marinho perfeito. Mal-estar filtrou
através de sua mente. Ele já tinha visto este lugar antes. Acolhedor.
Doce. Puro. “Sua casa é bonita.”
Ela arrancou, com um olhar cortante para ele.
O quê? Ele nunca tinha dito nada gentil para ela? Com um
grunhido, ele apertou o botão da porta da garagem na viseira de sol e
entrou no espaço vazio. Limpo e arrumado, as paredes seguravam
ancinhos, pás, e uma variedade de ferramentas com alças rosas. A cor
fez algo em seu peito doer. Ela não deveria ter que usar um martelo.
Nunca. “Você vai me dizer o que quer que você está escondendo de
mim.” Ele saltou do veículo.
Os pés dela tocaram o concreto, e a porta do carro se fechou
antes de ela responder. “Eu não vou te dizer porcaria nenhuma.” Ela
tentou passar por ele.
Ele mudou seu peso, bloqueando seu caminho. “Eu não te dei
nenhuma opção.” Nem por um segundo ele queria intimidá-la. Mas ele
deu um passo, forçando a mulher a inclinar a cabeça para olhar para
ele.
Fúria cintilou vermelho brilhante através das altas maçãs de seu
rosto enquanto suas mãos foram para os quadris. “Se você pensa que
pode aparecer aqui depois de dois anos, com uma porcaria de amnésia e
mandar em mim, você pode começar a pensar de novo.”
OK. Sem intimidação. A bola de desconforto desenrolou em seu
intestino conforme ele relaxava. Ele conteve o sorriso que queria soltar.
“Eu não vou embora até que eu me lembre de tudo.”
Ela respirou fundo. “Ou sai do meu caminho ou se prepare para
ser um eunuco.”
A mulher era uma coisa. Indecisão filtrou através de seu cérebro.
Surpresa o enchendo do quanto ele queria sua cooperação. Sua
confiança disposta. Ele deu um passo para o lado, lhe permitindo abrir a
porta e entrar em uma cozinha alegre, com aparelhos de aço inoxidável
cintilantes.
Ele fechou a porta atrás dele e a trancou. Ele era o cara bom ou o
cara mau? “Eu te ensinei a lutar?” Instinto lhe sussurrou que, se ela
tinha sido dele, mesmo que por pouco tempo, ele teria lhe ensinado.
“Talvez eu te ensinei,” ela murmurou, sacudindo a jaqueta para
pendurá-la sobre uma antiga cadeira esculpida que correspondia a uma
mesa redonda.
Ele suspirou. O aconchego da sala o pegou de surpresa, fazendo-o
sentir como um valentão cheio de merda. Belos vasos e copos se
alinhavam na parte superior dos armários, a mistura eclética e de
alguma forma calmante. Ímãs femininos de flores e citações adornavam
a geladeira. A casa era um lar. “Sua casa é bonita.”
“Obrigada.” Ela olhou para a máquina de mensagens sobre o
balcão organizado. Que piscava com duas mensagens.
“Verifique suas mensagens, Josie.” Ele manteve o comando suave,
enquanto queria apertar o botão ele mesmo. O namorado teria ligado?
Raiva varreu através dele com o pensamento. Os músculos na base de
seu pescoço começaram a doer. Aquela dor de cabeça estava voltando e
rápido. Quem diabos sairia com uma mulher casada? Sua mulher?

*****

Josie se virou, apreensão escorrendo por sua espinha. Quando seu


marido, Shane tinha sido tanto possessivo quanto protetor. Ela nunca
tinha pensado — jamais se sentir tão segura e protegida. Bem, até que
ele a abandonara. Então, ela tinha perdido o sentido de pertencer. “Isso
não vai dar certo.”
Três passos a levou até o antigo balcão de escrita abrigado num
canto. Ela o havia encontrado numa venda de garagem na primavera
anterior e tinha passado horas lixando e pintando a peça, depois o
redefinira como mesa da cozinha. Desde o primeiro dia, ela havia
determinado criar sua própria herança de família. Mesmo se ficasse
sozinha.
Ela puxou alguns papéis do balcão, jogando-os contra a tigela de
cerâmica da Pottery Barn2 que continha maçãs sobre a mesa. O homem
era muito tentador, e ela ainda estava avariada. Proteger seu coração
era sua função, não dele. “Assine os papéis, e depois você precisa sair.”
Ele ergueu os olhos, aqueles olhos cinzentos que podiam arder
com paixão ou congelar com raiva. Neste momento, aquelas janelas
blindadas se fecharam. “Não.”
Exasperação levou um grito em sua garganta. Precisou de cada
grama de controle que ela tinha para empurrá-lo de volta para baixo. Ela
tinha desejado fazer isso da maneira certa, uma maneira respeitosa.
Uma maneira que demonstrava que eles tinham significado alguma coisa
um para o outro. Ainda que seu casamento tivesse acabado, ainda que
ele tivesse partido, o suficiente esteve lá para terminá-lo da maneira
certa. “Isso não é uma opção.” Ela tentou manter o queixo de inclinar
quando jogou suas palavras de volta em seu rosto.
Uma faísca queimou em seus olhos. Ele varre o olhar da parte
superior de seu corpo para baixo, parando várias vezes durante a
viagem. O ar na sala espessou.

2
Uma rede de lojas de móveis e presentes nos EUA e Canadá. A matriz está localizada em São Francisco, Califórnia. Foi fundada
em 1950 pelos irmãos Paul e Morris Secon.
O momento bateu uma dura consciência em seu plexo solar. Ela o
havia imaginado naquela casa confortável, olhando para ela daquele
jeito.
Como ele fazia quando eles viviam juntos.
Seus pés ficaram presos ao chão. Ela não conseguia desviar o
olhar e suas altas maçãs do rosto, nariz reto, e os lábios carnudos que
ela não tocava há dois anos. O cabelo espesso tinha crescido até os
ombros. Seus dedos coçavam para tocar. Mas então ela franziu o cenho.
Os militares o haviam deixado crescer o cabelo todo esse tempo?
Segurando seu olhar, ele avançou tão graciosamente quanto um
gato selvagem. Lento e seguro — fechando a distância entre eles até
que ela inalou seu perfume de cedro aquecido. Um zumbido começou
em seu abdômen. Calor lavando ao longo de sua pele.
Um dedo grosso ergueu seu queixo. Ela deveria dar um passo
atrás. Longe do perigo. Mas algo... Algo a manteve parada. Talvez fosse
curiosidade. Talvez fosse esperança que ela ainda podia sentir arder.
Seus membros estavam pesados. Demasiadamente pesados para se
mover. Sua frequência cardíaca engatou.
Lentamente, muito lentamente, que ambos sabiam que ela tinha
tido mais do que tempo para se afastar, ele abaixou a cabeça. Os lábios
roçaram os dela. Firmes, sondando, tão quentes. Uma vez, duas vezes,
e depois uma terceira vez.
Um gemido vibrou em sua garganta.
Ele deu mais um passo perto dela, uma mão apertando seu quadril
e a outra inclinando seu queixo. Fogo. A língua deslizou através de seus
lábios, tomando. Um movimento e ele a puxou contra seu corpo duro,
forçando suas curvas a se encaixar em seu tamanho maior, a aceitá-lo,
para embalar o cume firme de uma ereção cavando em sua pele.
Necessidade a atravessou tão rápido que ela estremeceu. Seu sexo
umedeceu. Seus mamilos empedraram.
A mão em seu queixo se moveu e agarrou seu cabelo enquanto
ele devorava sua boca. O gosto tão familiar dele escalpelando seu
coração. A boca liberou a dela para pressionar beijos molhados de boca-
aberta ao longo de seu queixo e pescoço.
Tão rápido.
Tão duro.
Tão exigente.
Ela ofegou por ar, sua mente girando. Seus joelhos
enfraquecendo. Shane.
Ele beijou mais abaixo, mergulhando o rosto no V de sua blusa,
empurrando o material para o lado para acariciar a parte superior de
seus seios. Um zumbido baixo de apreciação masculina ecoou contra sua
pele. Ela deslizou as mãos por seu cabelo grosso, puxando-o para mais
perto. Calor a encheu. Um toque começou em seus ouvidos. Seu corpo
saltando para a vida. Pela primeira vez em dois anos, ela ansiava.
De repente, ele se moveu de novo, agarrando sua bunda e a
levantando contra ele. Ela ofegou quando seus pés deixaram o chão.
Suas pernas automaticamente circulando sua cintura.
Isso era loucura... E ela realmente não se importava. Mais. Ela
precisava de mais.
Seu corpo esteve adormecido por dois anos e de repente estava
acordado. Vivo.
A dureza exigente do pênis pressionou contra seu núcleo. A boca
voltou a devorar a dela, as mãos fortes pressionando seu corpo contra o
dele. Erguida, ela gemeu e apertou as coxas contra seus quadris,
esfregando-se contra ele. Precisando. Finalmente, ele levantou a cabeça.
Seu beijo tinha sido mais duro e mais insistente do que em sua
vida anterior juntos. Ele sempre tinha sido tão cuidadoso — tão gentil.
Algo novo e selvagem jorrava dele agora. Excitação queimou em seu
peito. Pela primeira vez ele a tratava como igual. Como mulher e não
como algo frágil que ele precisava proteger.
Posse. Brilhava em seus olhos cinzentos, junto com necessidade.
Desejo. Promessa. Ela deveria pensar. Ela não deveria pensar?
“Josie. Você me diz onde é o quarto, ou eu vou te tomar aqui no
chão.” Sua voz baixa, quase gutural, acariciou todos os nervos crus, já
implorando por seu toque.
Atordoada, ela abriu a boca para falar. O barulho estridente do
telefone a fez saltar. Ela sacudiu a cabeça. Realidade. Onde ficava a
realidade? O telefone tocou novamente.
Os olhos de Shane estreitaram. O aperto em sua bunda
intensificou, puxando seu sexo com mais força contra o dele. Ela gemeu.
Seu olhar perigoso a mantendo cativa.
O telefone tocou novamente.
Depois, sua voz dizendo para o chamador deixar uma mensagem.
Então... Tom. “Oi, linda. Que tal um jantar esta noite?”

Capítulo 3

O ar resfriou dez graus. Talvez mais. Tensão atravessou a cozinha


outrora-pacífica. Isso era ruim. Desastroso. Josie soltou o cabelo de
Shane e bateu as mãos contra seu peito, tentando desembaraçar as
pernas de seus quadris.
Ele a segurou no lugar.
“Você está me machucando,” ela sussurrou. Ele não estava, nem
perto, mas as palavras o faria soltá-la.
“Então pare de mexer.” Nem um pingo de concessão se mostrou
em seu rosto.
Ela piscou várias vezes. Choque mantendo seu corpo imóvel. O
Shane que ela conhecera a teria colocado imediatamente e com
segurança de volta em seus pés.
A voz de Tom drenou para o fundo, detalhando planos finais para
o jantar. Ela tinha que desligar a máquina. Josie lutou, tentando voltar
para o chão. Ela quase tinha feito sexo com Shane. Mais dois segundos
e—
“Não.” A mandíbula de Shane endureceu para pedra. Seus olhos
escurecendo para ardósia.
Pânico. Perigo. Violência. Josie ficou imóvel, seu olhar capturado
pela raiva em Shane. Tanta. Seus pulmões achataram. Durante todo o
tempo que eles tinham passado juntos, nem uma vez ela tinha tido
medo dele.
Até agora.
A máquina desligou.
Os segundos se passavam enquanto seu coração martelava em
suas costelas. Ele continuou olhando para ela. Nenhuma expressão se
mostrando em seus traços selvagens, nenhum brilho em seus olhos. Ela
sufocou um calafrio. Quem era este homem? Lentamente, quase
delicadamente, Shane a baixou para o chão, segurando seus ombros até
que ela se firmou. Então, ele deu dois passos para trás.
Um arrepio correu ao longo de seus braços, e ela esfregou as
mãos trêmulas contra os arrepios. Como no mundo ela tinha deixado
isso acontecer? Ela nem sequer tinha tentado impedi-lo. Mesmo agora,
seu corpo ainda doía. Por Shane. Ele estava diferente desta vez. Não no
controle, não escondendo seus sentimentos. Ela abriu a boca para falar,
mas nada saiu.
Shane enfiou as mãos nos bolsos da calça. Assim ele não tentaria
agarrá-la de novo? “Você não vai a esse jantar.”
Bem, merda nenhuma. Ela limpou a garganta. “Eu construí uma
boa vida aqui, Shane.” De jeito nenhum ela o deixaria destruí-la. De
novo não. Nunca mais.
Talvez se repetisse esse mantra o suficiente, ela acreditaria nas
palavras.
Lamento brilhou em seu rosto. “Você o ama?”
Ela estava apenas começando a conhecer Tom. Recentemente
divorciado, ele nutria tantas feridas quanto ela e ela tinha mostrado sua
simpatia nos dois meses que eles se conheciam. Mas, amor? Ela tinha
dado tudo o que tinha para Shane. O que não tinha sido nada legal.
“Isso não é da sua conta.”
Shane inclinou a cabeça. “Você realmente acredita nisso?”
“Sim.”
Um sorriso curvou os cantos de seus lábios. “Mais cinco minutos e
eu estaria dentro de você. Duro e rápido.”
Desejo a golpeou abaixo do abdômen, mesmo enquanto ela
levantava a cabeça em desafio. Duro e rápido. Uma das muitas maneiras
que Shane gostava no quarto. Como também lento e suave. Louco e
divertido. Porém, sempre no perfeito controle.
O sorriso dele se espalhou, suave e mortal. “E você já estaria
gritando meu nome, implorando por mais. Nós dois sabemos disso.”
Ele estava se lembrando? Ou apenas muito seguro de si? Ela
ergueu um ombro. “O sexo sempre foi bom entre a gente, Shane.” A
mentira quase a fez engasgar. O sexo tinha sido incrível.
Ele riu. Uma risada profunda e masculina. Uma que ela não ouvia
há muito tempo. “Quer que eu prove que era melhor do que bom,
anjo?”
Sim.
Ela com certeza queria. Seus seios doíam. Seu sexo estava
inchado. Intrigada com este novo lado dele enviava fogo em suas veias.
Esperança queimando viva, e ela a anulou imediatamente. O homem
nunca mudaria realmente, nunca realmente a deixaria entrar. “Inferno,
não.” Movimentos bruscos a levaram até a mesa, onde ela puxou o
celular da bolsa e enviou uma mensagem rápida para Tom. Ela estava
cansada demais para jantar e ligaria amanhã.
Jogando o telefone em cima do balcão, ela abriu a porta da
geladeira e pegou restos da lasanha. Rotina iria acalmá-la. Sempre que a
vida se tornava excessiva, ela se assentava e se organizava. Por mais
esquisito que fosse, Shane tinha lhe ensinado esse mecanismo de
escape. Tomar o controle de algo tão bobo quanto coordenar as cores
de seus armários lhe dera paz e uma nova perspectiva sobre a vida mais
de uma vez. Parecia que estava na hora de escolher um novo projeto.
Cozinhar era outra maneira que ela tinha aprendido para acalmar-
se. O prato de vidro azul ocupou suas mãos. Ela tinha feito a lasanha na
noite anterior e mais da metade permanecia. O favorito de Shane. A
ironia disso não passou despercebida.
Uma cadeira raspou atrás dela, e ela se virou quando Shane se
deixou cair nela. Mesmo sentado, seu volume sobrecarregava o pequeno
espaço. Profundos círculos se destacavam sob seus olhos tão escuros
quanto as contusões cobrindo sua pele. “Você vai me alimentar agora?”
“Sim. Depois, você pode assinar os papéis e ir embora.” Ela
empurrou longe a simpatia e colocou o prato no microondas para definir
o tempo, lutando contra o prazer de cozinhar para ele novamente.
Quando casada, ela se sentia casada quando cozinhava. Como se
fossem uma família de verdade. Alimentos quentes e saudáveis era a
única maneira que ele lhe permitia cuidar dele. E ela adorava fazê-lo.
Mesmo agora, ela passava horas escolhendo no mercado apenas
os ingredientes certos. Os espinafres frescos, os tomates cultivados em
casa. Na semana passada, ela tinha passado uma hora encontrar a
planta de orégano certo para crescer no peitoril da janela. Na cozinha,
enquanto cozinhava, por breves momentos ela se permitia fingir que
eles ainda estavam juntos. Que ele confiava nela. Que confiava e
precisava dela.
Mas ele nunca tinha realmente precisado dela. Até agora.
Como ela poderia forçá-lo a sair? Ele não tinha ideia de quem era.
A menos que estivesse brincando com ela. Ela pegou os pratos e
refrigerante enquanto o macarrão esquentava, pegando a travessa e
enchendo os dois pratos antes de se sentar. Cerveja não era sua coisa, e
o tipo que ele gostava, Guinness, era muito forte para ela. Então ela não
tinha nenhuma para oferecer. “Você gosta de lasanha. Pelo menos você
costumava gostar.”
Shane balançou a cabeça, pegando uma grande garfada e
engolindo. “Eu ainda faço.” Prazer curvou seus lábios enquanto ele
comia.
Calor a encheu em resposta.
Finalmente, depois de limpar seu prato, ele esfregou os olhos.
“Ajude-me a preencher as lacunas. Como é que nos conhecemos?”
Memórias a atravessaram com uma pontada familiar. “Nós nos
conhecemos em um café.” Cerca de um milhão de anos atrás. “Um cara
estava mexendo comigo, não me deixava em paz, e você o espantou.” O
cara tinha se achado tão legal com óculos escuros estilo aviador,
fingindo ser um soldado. Ele era do tamanho de Shane, mas tinha
recuado imediatamente. “Nós nos casamos três semanas depois.” Um
turbilhão. Rápido, explosivo, e tão malditamente sexy. Completamente o
oposto de como ela tinha planejado sua vida. O que ela estava
pensando?
“Entendo.” Os olhos de Shane aqueceram. “Quanto tempo nós
ficamos casados até que, ah...”
“Dois meses.” Ela suspirou quando dor socou seu abdômen.
“Então você simplesmente partiu.”
“Sem nenhuma palavra?” Ele estreitou os olhos.
Ela deu de ombros. “Por que você está em Washington?”
“Eu te fiz uma pergunta.” Rápido assim, sua voz se tornou dura.
O tom era novo. Ela ficou imóvel, enquanto sua mente girava.
Intrigada, ela manteve o olhar fixo nele. Tantas vezes ela tinha tentado
empurrá-lo e fazê-lo perder o controle. Fazê-lo parar de tratá-la como
vidro. Ela deveria tentar agora? “Eu ouvi sua pergunta.”
“Eu preciso que você me responda. Para me ajudar.” Sua inflexão
permaneceu a mesma, mas uma vulnerabilidade ímpar obscureceu seus
olhos. “Eu tenho que saber o que aconteceu.”
Por um breve segundo, e pela primeira vez, ela viu o menino que
ele poderia ter sido antes de virar um soldado. Seu coração aqueceu
enquanto seus ombros relaxavam. De jeito nenhum ela poderia ignorar
aquele apelo. “Você me deu um beijo de despedida de manhã, disse que
me amava, e que voltaria.” Depois da noite mais apaixonada de seu
casamento, que ela não estava pronta para lembrá-lo sobre isso ainda.
“Você não voltou.”
“Por quê?”
“Eu não sei.” Mesmo agora, as palavras doíam. Quantas vezes ela
tinha ficado acordada à noite, sozinha, se fazendo essa mesma
pergunta? Por que ele não tinha retornado? Estaria ele sequer pensando
nela? Ela tinha revivido sua última semana juntos na cabeça
repetidamente. “A última semana — foi ruim.”
Ele endureceu. “Ruim? Como?”
Ela exalou. “Você estava disperso. Realmente triste. Uma semana
antes de partir, você tinha ficado sabendo que um de seus irmãos tinha
morrido. Seu irmão, Jory.”
“Jory.” Shane franziu a testa, esfregando o peito. “Como ele
morreu?”
“Eu não sei.” Raiva retornou em um flash. “Até aquela semana, eu
nem sequer sabia que você tinha irmãos.” Ela lutou para ficar sentada e
não saltar longe dele. Ele tinha tido toda uma vida, uma família, e nunca
tinha compartilhado nada com ela. “Por que você acha que está aqui
agora, depois de dois anos?”
“Você disse que tinha enviado os papéis do divórcio para minha
base. Eu suponho que os recebi e vim para discutir a questão.” Ele
endireitou os ombros na última parte.
Ele iria lutar contra ela sobre o divórcio? Temor se reuniu em seu
estômago. “Então, onde estão os papéis?”
“Eu não sei.” Ele tomou um profundo gole de refrigerante. “Você é
uma ótima cozinheira, Josie.”
Prazer floresceu dentro de seu peito. Ela tinha aprendido a
cozinhar durante a faculdade... Esperando ter uma família para
alimentar um dia como as mães na televisão faziam. Tristeza empurrou
o prazer para longe. Não tinha acontecido. “Obrigada.”
Os olhos dele se estreitaram. “Você é uma chef?”
“Não.” Memórias a inundaram. Ela quase tinha assumido o risco e
mudado de contabilidade principal para cozinhar durante seu segundo
ano no Cal State. Mas não tinha tido coragem. Além disso, ela podia
controlar números. Organização e trabalho duro de contador. Ela nunca
mais precisaria confiar em uma pessoa ou um sistema inteiro de novo.
“Eu sou contadora.”
Surpresa arqueou suas sobrancelhas. “Isso explica o traje sexy.”
Sexy? Nem sequer perto. Ela arrancou os sapatos de salto alto,
esfregando os pés no chão de azulejos suave. Ela tinha pago pelos
azulejos com seu segundo salário de seu novo trabalho na filial local da
empresa de contabilidade. Tinha levado uma semana inteira de procurar
exatamente a cor certa, um bege caseiro. “Contabilidade é seguro.”
“Ah.” Entendimento ecoou em seu tom baixo. “Segurança é
importante para você. Interessante.” Ele coçou o queixo. “Algo me diz
que eu não sou tão seguro.”
“Não.” Ela sorriu, mesmo quando tristeza fez seu peito doer. “Você
foi o único risco que eu já tomei. O tiro saiu pela culatra.”
“Sinto muito.”
Ela deu de ombros. “Eu não quero falar sobre isso.”
Ele a estudou, nenhuma expressão em seu rosto duro. “Ok. Você
disse que eu tenho irmãos. Plural. Além de Jory, o que você sabe?”
“Nada sobre seus irmãos.” Ela não queria ter essa conversa. Ela
tinha falhado como esposa, ou saberia mais sobre ele. “Mas você tem
pesadelos. Pelo menos você costumava ter.”
Ele parou. “Sobre o quê?”
Raiva brilhou através dela. “Eu não sei. Você nunca quis me dizer.”
Ela jogou o guardanapo em cima de seu prato de comida meio-cheio.
“Mesmo antes de você acordar uma noite gritando o nome de Jory,
pesadelos deixavam seu sono muito agitado.” Ela baixou o olhar para os
dedos cutucando nas abóboras no guardanapo. “Naquela noite, você
parecia tão arrasado. Eu nunca tinha te ouvido soar daquele jeito.” Um
calafrio deslizou por seus ombros. Ela tinha desejado tanto protegê-lo,
ajudá-lo. Ele não tinha deixado.
“Sinto muito.” A rouquidão na voz dele se enroscou em seu
coração. “Você não deveria ter que lidar com algo assim.”
Ela bufou sua irritação. “Você deve se desculpar sim. Não por me
expor, mas por me excluir.” Por um segundo, quando ele quase a beijara
sem sentido, ela tinha pensado que ele tinha mudado. Que ele pudesse
ver a verdadeira ela. A mulher que poderia ser sua igual.
Ele se empurrou de detrás da mesa. “Você é linda, Josie. Macia e
delicada. Você deve ser protegida.”
Ah. Ainda tinha que esfregar. Ela balançou a cabeça. “Você não
me conhece, Shane. Você nunca fez.”

Capítulo 4
Josie cruzou as pernas, lutando contra a vontade de esfregar uma
palma em seus olhos. Ela se sentou na cama, uma infinidade de livros
espalhados diante dela. Depois do jantar, ela tinha deixado Shane para
ir para o banheiro de hóspedes, dizendo que tinha trabalho a fazer antes
de se trocar para seu moletom confortável, o cabelo em um rabo de
cavalo.
Mas os números das contas diante dela não estavam batendo.
Havia problemas em várias das contas que ela tinha tomado ao longo
dos últimos meses. Ou ela tinha cometido um erro, ou o contador que
contratara tinha feito merda. Não que isso fosse uma grande surpresa,
considerando que Billy tivera que sair para um centro de reabilitação de
drogas.
Ela foleou de volta aberto o arquivo de papel manilha principal da
Hall Funeral Home. Os números nadaram diante de seus olhos. Ela
piscou várias vezes, lhes permitindo endireitar.
Espere um minuto.
Lutando com o contas-a-pagar, ela rapidamente digitalizou os
itens. Triunfo a teve quase rindo alto. Claro. Billy tinha contado as
vendas de várias parcelas de uma família como um montante fixo, e não
como renda mensal. A venda estava distribuída por vários meses, e o
dinheiro não seria pago até o décimo quinto dia de cada mês. Mas Billy
tinha contado o dinheiro antes de receber o pagamento.
Obrigada Senhor. O problema foi fácil de resolver. Ela tomou uma
respiração profunda e relaxante. Talvez todas as quatro contas com
problemas tivesse erros semelhantes. As drogas aparentemente tinham
realmente mexido com o cérebro de Billy. Embora por segurança, ela
deveria verificar todos os seus arquivos, mesmo os que pareciam certo,
especialmente desde que a concorrência na firma estava bem louca
ultimamente. Ela olhou para os outros arquivos espalhados na cama.
Talvez ela devesse ir para a cama e esquecer o trabalho. Era
apenas um pouco depois das oito, mas a exaustão fazia sua cabeça se
sentir pesada. Ela olhou para sua cesta de tricô no canto. Tricô. Preciso,
lógico, e ainda de alguma forma criativo. A Sra. Lilly, uma de suas mães
adotivas favoritas, lhe ensinara quando ela tinha onze anos. Antes da
Sra. Lilly ficar muito doente para cuidar de crianças perdidas. Mais
recentemente, seu antigo hobby tinha permitido a Josie fazer amigos em
uma cidade estranha e mostrar um lado de si mesma que ela muitas
vezes tinha escondido.
Com um sorriso, ela notou um chapéu listrado empoleirado sobre
a cômoda que tinha recentemente tricotado para sua secretária. Sassy,
brilhante e ousada, a mulher ia amar o padrão. Era tão diferente de suas
primeiras tentativas desastrosas por conta própria. Agora ela podia
imaginar o resultado final em sua mente, enquanto comprava os fios na
loja de especialidades do outro lado da cidade. O proprietário já a
conhecia lá... E durante as compras, Josie se tornara parte de algo. Uma
comunidade de pessoas criativas.
Os tempos eram difíceis. Pessoas tricotavam para ganhar dinheiro,
para manter suas famílias aquecidas. Enquanto as mulheres com seus
filhos adoráveis pesquisavam pelos corredores acolhedores, Josie quase
podia fingir que ela tinha uma família, também. Que ela tinha uma
habilidade para passar e compartilhar com mais alguém.
Alguém com os olhos de Shane e nariz dela.
Mesmo que ela ficasse sozinha a vida inteira, ela poderia criar.
Algo dela permaneceria... Tanto tempo quanto o fio se segurasse.
Shane tinha amado seu tricô. Algo antiquado e feminino sobre o
método. Uma parte dela queria voltar para a sala. Estar perto dele. Mas
eles realmente não tinham nada para falar senão a necessidade de ele
assinar os papéis do divórcio. E se ele não quisesse assinar?
E se ele quisesse?
O telefone tocou, sacudindo-a de pensamentos sobre Shane. Ela
pegou o telefone. “Alô?”
“Sra. Dean, é o Detective Malloy.” Farfalhar de papéis e telefones
tocando soaram através da linha, circundando a voz do detetive no
ruído.
“Olá, detetive.” Uma sombra cruzou sua porta. Ela encarou Shane.
Ele mais do que enchia sua entrada, seu grande volume contrastando
com os tons femininos de seu quarto. O cabelo molhado enrolado na
nuca.
O detetive limpou a garganta. “Nós tivemos algumas evoluções no
caso de seu marido, Sra. Dean.”
Mal-estar endireitou sua postura. “Evoluções?”
“Sim. Eu sei que já são quase oito horas da noite, mas eu gostaria
que você e seu marido me encontrassem na estação em trinta minutos.”
O detetive desligou.
Josie puxou o aparelho do ouvido, virando-o para olhar estarrecida
para ele. Evoluções? Malloy precisava de um livro sobre a etiqueta
apropriada no telefone. Ela desligou o telefone e se virou para a porta.
“Anjo?” Shane se inclinara contra a porta em um jeans desbotado
e camiseta rasgada, a postura casual desmentida pelo olhar agudo em
seu rosto muito pálido. Sua cabeça provavelmente o estava matando.
Seu aroma de cedro aquecido flutuou para ela, inundando de
masculinidade em sua zona de conforto.
“O detetive Malloy gostaria de falar com a gente.” Suas mãos
agarraram o edredom grosso com padrões de tulipas caseiro. Ela tinha
comprado a capa de um catálogo, esperando impacientemente até que
chegasse antes de escolher as lâmpadas extravagantes da mesa
combinando. Ela normalmente contava cada tostão, mas tinha se
esbaldado na criação de sua casa.
A cama king-size tinha sido outra indulgência.
Memórias de noites quentes e manhãs divertidas passadas
agarrada com Shane em outra cama encheram sua mente. Ele era um
cara grande e precisava de uma cama king-size. Ela lutou contra um
rubor.
Shane arqueou uma sobrancelha, recostado na parede que ela
tinha pintado de um bege suave. Uma sobra se alinhava em sua
mandíbula afiada, lhe dando a aparência de um rebelde. “Por que o
detetive quer falar com a gente?”
Ela deu de ombros. “Eu não sei.” Sangue manchava a camisa
rasgada de Shane, um testemunho da violência que o espreitava. “Dê-
me um segundo, enquanto eu me troco, e podemos ir ver do que se
trata.”
Os olhos dele aqueceram. “Precisa de ajuda?”
Seu abdômen apertou. “Não.”
Seu dar de ombros o fez estremecer. “Como quiser.”
“Você está bem?” A preocupação indesejada a fez lembrar de
emoções que ela pensava ter destruído.
“Tudo bem. Apenas uma dor de cabeça.” Ele girou em seus pés
descalços e desapareceu de vista.
Sim, lá estava o Shane que ela se lembrava. Bloqueando-a fora,
sob o pretexto de proteger sua natureza delicada. Babaca.
Era hora de seguir em frente e tapar o buraco que ele tinha
criado. As emoções que Shane evocava eram cruas, perigosas, e muito
profundas. Ela nunca o havia expulsado completamente de dentro de
seu coração.
Ele era um soldado e tinha apostado sua reivindicação.
Quanto mais cedo ele partisse, mais cedo ela poderia voltar a
fingir que estava seguindo em frente. Talvez um dia ela realmente o
fizesse. Seus pés tocaram o chão frio de madeira. Ela estivera
procurando um tapete para o quarto por mais de um ano — um dia ela
encontraria o perfeito.
Ela vestiu um jeans confortável e um suéter azul que trazia
variados matizes em seus olhos. Não que estivesse se vestindo para
impressionar Shane. Ela apenas gostava daquele suéter.
Indecisão a teve mordendo o lábio até que, com um dar de
ombros, ela pegou uma camiseta desbotada de homem da gaveta
inferior. Nas noites frias, ou noites solitárias, muitas vezes ela dormia
com uma das camisas velhas de Shane. Ele não podia ir para a delegacia
de polícia com uma rasgada.
Ela o encontrou na mesa da cozinha, comendo o resto da lasanha
fria. “Você está com fome de novo?”
Ele terminou de mastigar. “Eu gosto de sua comida.”
A camiseta pousou sobre a mesa com uma jogada rápida. “Eu
tenho uma de suas camisas velhas. Está limpa.”
Ele limpou a boca com um guardanapo, seu olhar para a camisa.
“Eu deveria interpretar algo disso?” Profunda e escura, a voz dele tinha
baixado para um rumor que acelerou seu coração.
“Não.” Apenas que ela não tinha conseguido esquecê-lo ainda.
Não importava o quão duro ela tinha tentado mentir para si mesma.
“Algumas das suas roupas devem ter sido confundidas com as minhas
quando eu me mudei.” Nada a faria admitir que também tinha mantido
uma camisa dele que ela se recusara a lavar, escondida na parte traseira
de seu armário. Mesmo depois de dois anos, seu perfume masculino
único ainda se agarrava ao algodão gasto.
“Tudo bem.” Ele arrancou a camisa ensanguentada e vestiu a
limpa. “Obrigada.”
“De nada.” Um olhar naquele peito impressionante e ela queria
lambê-lo da-cabeça-aos-pés. Meu, ela precisava se controlar. Ela pegou
um casaco do pequeno armário perto da porta. As paredes emocionais
entre eles a estavam sufocando, e ela precisava sair dali. “Devemos ir.”
Shane assentiu, levantando-se da cadeira da cozinha, e abriu a
porta devagar e deliberadamente. “Ok.”
Preocupação parou seu movimento. “Você está bem?”
“Sim. Apenas uma dor de cabeça. Eu vou dirigir.”
Josie pensou em discutir. Mas por que se preocupar? Ele ia acabar
dirigindo, e, francamente, dirigir à noite não era sua atividade favorita.
Ela gostava disso sobre Shane durante seu breve casamento. Dirigir era
um prazer para ele, e ela podia apenas ficar lá sentada e relaxar durante
o passeio. “Tanto faz.”
Ela esperou até que ele saiu da garagem antes de lhe dar as
direções. Eles viajaram em silêncio até que ele alcançou a cidade. Josie
cutucou distraidamente em uma fiapo em seus jeans. “Quaisquer
memórias voltando?” Apenas uma vontade obstinada manteve seu olhar
longe das mãos habilidosas no volante. Ela adorava aquelas mãos.
“Não.” Shane olhou novamente pelo espelho retrovisor.
Josie se virou para olhar os carros atrás deles. “O que você está
procurando?”
“A van que nos seguiu hoje cedo.”
Talvez sua contusão tivesse sido pior do que eles pensavam. “Eu
acho que foi apenas sua imaginação. Você tem um ferimento na
cabeça.”
“Talvez.” Ele verificou atrás novamente. Frustração e dúvida
deslizando em seu rosto, para ser mascarado por um sorriso agradável.
Um que não a enganou nem um pouco. “Independente disso, eu não
sinto nenhum perigo agora.”
Sim. Ele ainda mantinha segredos guardados hoje, não é? Josie
virou seu foco para a noite fora do carro.
Shane saiu da autoestrada, dirigiu por aproximadamente um
quilômetro, e estacionou o SUV na frente do prédio de tijolos de três
andares. Luzes brilhantes rodeavam a estação, banindo a noite.
Saltando, ele cruzou para abrir sua porta antes que ela pegasse a
maçaneta. Mãos fortes a ajudaram a sair do veículo, onde a brisa do
outono cortou em sua pele.
“Ah, Josie? Que tal deixar que eu falo com o detetive?” A porta se
fechou com um clique suave e Shane apontou para frente.
“Por quê?” Ela era perfeitamente capaz de responder às perguntas
da polícia. Não só ela nunca tinha feito nada de errado, como também
tinha crescido em um orfanato. Lidar com as autoridades e suas agendas
não era novidade para ela.
Shane abriu a porta. “Eu tenho a sensação de que Malloy está
atrás de algo. Eu não gosto que ele não lhe disse quaisquer detalhes
sobre suas novas evoluções.”
Ela estava cercada por pessoas manipuladoras mantendo agendas
escondidas, e isso incluía Shane. Mesmo se a amnésia fosse real, ele não
estava exatamente próximo da verdade.
A sala de espera da estação de polícia tinha dois sofás de couro,
uma miríade de plantas vivas, e várias cadeiras laranja largas. Acolhedor
e confortável. Uma fatia de cidade pequena em uma cidade que tinha
crescido inesperadamente. Uma mulher de quarenta e poucos anos com
cabelo vermelho desordenado estava sentada atrás de um balcão largo
com paredes com vidro grosso, cantarolando satisfeita no meio do turno
da noite. Atrás dela se espalhava uma parede de fotos retratando
policiais em várias cerimônias de premiação. Ela sorriu e falou através do
alto-falante, sua voz metálica emergente. “Posso ajudar?”
Shane avançou para responder exatamente quando uma
campainha soou e uma porta se abriu ao lado do balcão. Malloy a
manteve aberta com uma mão robusta. “Entrem.”
Josie girou e o seguiu por um corredor largo e tranquilo. A grande
mão de Shane assentada na parte baixa de suas costas, pressionando-a
junto. Possessivo e protetor — completamente no comando. Ela tinha
esquecido desse sentimento de ser dele.
Várias portas fechadas se alinhavam pelo corredor, enquanto os
três se aproximavam de uma grande porta dupla que bloqueava o centro
da delegacia do público. Malloy abriu uma porta de metal riscado,
apontando para entrarem em uma sala de conferências com uma grande
mesa de carvalho e cadeiras de couro. Josie deslizou na cadeira que
Shane puxou para ela, olhando para uma bela aquarela de uma cena de
montanha de neve decorando a parede lateral. “Onde está o espelho de
duas faces?” Ela perguntou.
Malloy bufou, andando em volta da mesa para se sentar e soltar
pastas de papel manilha sobre a madeira polida. “As salas de
interrogatório são mais próximas das celas. Esta é apenas uma sala de
reuniões.”
Shane se sentou ao lado de Josie. “Certo. Exatamente por que
estamos nos reunindo aqui, detetive?”
Josie se recostou na cadeira e longe do conforto que ela teria
encontrado se tivesse se inclinado contra Shane.
Malloy coçou o queixo, estudando-os com olhos astutos e aspecto-
cansado. Ele tinha descartado o paletó amarrotado e gravata velha,
enrolando as mangas da camisa para revelar um pelo escuro ao longo
dos braços. Ele se concentrou em Shane. “Alguma de suas memórias
voltou?”
“Ainda não, mas elas vão.” Shane ignorou o movimento de Josie
de se afastar e estendeu a mão para colocar um amplo braço sobre seus
ombros. “Você já falou com Pendleton?”
“Ainda não, mas eu vou,” o detetive repetiu o tom de Shane.
Então olhou para Josie. “Quando vocês eram casados, seu marido
alguma vez falou sobre seu conjunto de habilidades no exército?”
O braço em volta de seus ombros endureceu, mas o corpo de
Shane se manteve relaxado e sua expressão indiferente. Josie pensou.
“Não. Shane não falava sobre seu passado, sobre seu futuro, ou sobre
seu trabalho, detetive. Eu acredito que nós já abordamos isso.” Admitir
que seu casamento tinha sido uma farsa assentou como uma pedra em
seu estômago. Ela cruzou as pernas. “Por que pergunta?”
Malloy olhou para Shane e abriu um arquivo, tirando três
fotografias e as colocando sobre a mesa. “Eu pergunto porque
encontramos três corpos mortos abaixo no rio um par de horas atrás.”
Josie sugou o ar, seu olhar colado nas fotos de homens mortos
deitados em placas de metal, seus corpos coberto por lençóis finos.
Exatamente como na televisão. Choque detonou um rugido em seus
ouvidos. “Quem são eles?” ela sussurrou.
Malloy deu de ombros. “Não sabemos ainda. Mas um exame
preliminar mostra que os dois primeiros morreram com pescoços
quebrados.” Seu dedo bateu na terceira imagem de um homem com
contusões e cortes marcando seu rosto. “Este cara provavelmente
morreu de uma batida intensa que esmagou seu crânio — saberemos
mais depois das autópsias amanhã.” O detetive olhou para as juntas
machucadas da mão de Shane apoiada sobre a mesa.
“Quaisquer forense?” A voz de Shane permaneceu amena e
despreocupada.
“Ainda não. Mas tenho certeza que vamos encontrar alguma
coisa.” Malloy levantou uma sobrancelha. “Algum de vocês reconhece
esses homens?”
Josie estudou as imagens, um caroço se formando em sua
garganta. Teria Shane matado três homens com as próprias mãos? Ele
seria capaz de tal ato? Sua pele picou com consciência e um novo
sentido de autopreservação. Ela não conhecia o homem com quem se
casara. “Eu não os reconheço.”
A mão de Shane assentou em sua nuca.
Ela saltou.
Os olhos de Malloy se estreitaram.
Shane esfregou seu pescoço em círculos suaves que não
conseguiram acalmá-la. “Eu não os conheço.”
“Nós encontramos um taco de beisebol perto de um deles.” Malloy
tirou uma foto de um rebatedor de metal. “Estava no rio, mas vamos
encontrar impressões no punho.”
Shane deu de ombros. “Nós dois sabemos que você já tirou as
impressões do taco, e se tivesse encontrado alguma, você já teria dito.”
Josie endureceu. Como ele sabia disso?
Malloy perguntou para ela. “Tem certeza de que não reconhece
nenhum desses homens, Sra. Dean?”
“Sim.” Ela manteve a voz baixa para evitar que tremesse. “Por que
você pergunta?”
Malloy pegou um segundo arquivo de um saco de provas contendo
um pedaço de papel amassado. “Porque nós encontramos sua foto no
bolso de um dos homens mortos.”

Capítulo 5

Josie estendeu a mão com dedos trêmulos para tocar o papel


enrugado. A foto era do site de sua empresa e tinha sido impresso em
papel de computador barato. Seus joelhos tremiam e o ar em seus
pulmões era gelado. “Por que alguém teria uma foto minha?”
Shane balançou a cabeça. “Então, o assalto não foi aleatório.”
“Não.” Malloy bateu a caneta sobre a mesa. “Estes homens
estavam à procura da Sra. Dean.”
“Por quê?” Josie se virou para Shane. “Eu não entendo. Por que
esses caras estariam me procurando? E por que te machucaram?” A
realidade começou a girar longe dela junto com seu senso de segurança.
Medo tinha um gosto ácido em sua garganta. “Como foi que você
encontrou com eles?” Tantas perguntas, e as respostas permaneciam
trancadas na cabeça dura de Shane.
Ele apertou a mandíbula. Então pegou o papel e estudou seu rosto
sorridente. “Eu não sei. Mas esta foto está na Internet, certo?” Em seu
aceno, ele exalou. “Vamos discutir a segurança em postar seu rosto on-
line mais tarde.” Ele jogou o papel de volta para baixo. “Eles precisavam
da foto para identificá-la. Minha suposição é que eles estavam me
procurando, considerando que alguém bateu na minha cabeça.” A
cadeira rangeu quando ele se recostou. “É claro, precisamos levá-la para
algum lugar seguro, enquanto tentamos descobrir isso.”
Teriam aqueles homens vindo procurá-la? E se eles a tivessem
encontrado? De jeito nenhum ela poderia ter se defendido contra os
três. “Os três caras com minha foto estão mortos.” Provavelmente pelas
mãos de Shane.
Ele olhou para a foto. “Pode haver mais homens atrás de nós.”
“Atrás de você.” Ou talvez atrás dela. O que ela deveria fazer?
“Talvez eu devesse tirar umas férias. Sozinha.”
Ele mudou seu foco, o olhar vagando por seu rosto, um sorriso
curvando os lábios. “Você está presa comigo por agora, anjo. Lide com
este fato.” O sorriso não fez nada para camuflar a determinação
definindo sua mandíbula dura.
Malloy limpou a garganta. “Eu posso colocá-la em algum lugar
seguro, Sra. Dean.” Seu peito estufou.
Josie lutou para não engasgar com a testosterona que engrossou
o ar. “Eu preciso de um minuto para mim, senhores.” A palavra
provavelmente não se aplicava a nenhum dos homens sentados na sala.
O que ela deveria fazer?
Esconder-se não parecia uma opção inteligente... Especialmente
sem um cronograma. Ela não podia simplesmente abandonar o trabalho,
principalmente por que ela precisava corrigir os arquivos de Billy — e
depois se tornar sócia. A segurança de tal posição permitiria que ela
finalmente relaxasse um pouco, e a única maneira de conseguir a
promoção seria ficar visível. Na empresa, de qualquer maneira. “Existe
outra alternativa?”
Malloy suspirou. “Eu posso ter um carro da polícia verificando sua
casa durante a patrulha. Não temos mão-de-obra suficiente para colocar
alguém em sua casa vinte e quatro horas por dia, mas vou fazer o que
posso.” Ele deslizou o papel em um arquivo, então bateu toda a pilha em
uma única pilha e olhou para Shane. “Estou supondo que você vai ficar
com ela?”
“Sim.”
Josie piscou várias vezes. Por que aqueles homens a queriam? Até
onde Shane estava envolvido? E se eles vieram atrás dela? É claro, ela
se lembrava de um pouco de autodefesa. Não era suficiente, embora.
Ela tinha decidido propositadamente fazer yoga, em vez de karate para
manter a forma. O exato oposto do que Shane teria dito que ela fizesse.
Malloy se levantou. “Não tenho mais nenhuma pergunta para você
agora, mas gostaria que me mantivesse informado sobre sua
localização.”
“Claro.” Shane se empurrou longe da mesa e ficou de pé,
ajudando Josie a se levantar. “Deixe-me saber se você identificar os
homens no necrotério.”
“Eu vou. Embora você provavelmente vá se lembrar deles em
breve, eu acho.” O detetive circulou a mesa. “Eu te informo.”

*****

Bem depois da meia-noite, a escuridão filtrando da janela, Josie


terminou de tricotar um cachecol e o colocou na cama para admirá-lo,
sua mente ardendo com pensamentos. Tons de cobre salpicavam o
padrão do lenço, garantido revelar a mancha de âmbar nos olhos de
Tom. Ela tinha estado trabalhando no cachecol para ele por cerca de
uma semana. Talvez ela devesse ter ligado de volta para ele depois do
jantar. Ela deveria dizer a Tom sobre Shane estar ficando com ela? Ela e
Tom eram apenas amigos, mas algo mais tinha se insinuado entre eles
ultimamente, e ela gostava dele.
Um ou dois anos mais jovem que ela, Tom era um cara bom, um
trabalhador em construção com grandes sonhos. E ele acreditava em
seus sonhos. É claro, agora seu maior sonho era voltar à sua vida
segura.
Ela estava em perigo agora? Estariam os homens atrás dela, ou
eles só tinham sua foto porque estavam atrás de Shane? Ela e Shane
tinham saído da delegacia e ido até uma loja de roupas para lhe comprar
um jeans. Ele tinha ficado de cara fechada o tempo todo e quieto,
perdido em seus próprios pensamentos. Sem compartilhá-los com ela e
nem lhe fornecer quaisquer respostas — exatamente como nos velhos
tempos. Uma vez em casa, ambos foram para a cama.
Encantador de uma forma juvenil, Tom nunca escondia suas
emoções dela.
Pressionando a mão em seu abdômen, ela centralizou seus
pensamentos e se concentrou em respirar, permitindo que o medo se
esvaísse. Por dois anos ela tinha tido aulas de yoga e meditação num
esforço para manter a calma. Talvez ela devesse ter tido aulas de tiro.
A faca que ela tinha pegado da cozinha brilhava em seu criado-
mudo. A lâmina era grande o suficiente para cortar um peru de uns vinte
quilos. Apenas no caso de os assaltantes voltarem — ela queria a arma
por perto.
Seu celular tocou, e vendo o número de Tom aparecer, ela
atendeu.
“Aí está você,” ele disse. “Desculpe se é tão tarde. Eu não consigo
dormir.”
“Nem eu.” Ela e Tom conversavam muitas vezes até tarde da
noite, ambos cansados demais para dormir depois de um dia duro de
trabalho. Agora, mais do que nunca, ela precisava conversar. Ela
precisava dizer as palavras para alguém que ela confiava. Para alguém
que entenderia e esperançosamente teria uma visão sobre tudo se
resolver.
Ela respirou fundo. “Lembra quando eu me choquei com você no
elevador um par de meses atrás?”
Tom riu. “Quando nos conhecemos? Sim. Você estava atrasada
para uma reunião e tropeçou — e você pediu desculpas por estar uma
bagunça.”
Ela tinha estado um desastre, apenas de ter descoberto sobre a
possível promoção. Tom, capturando sua atenção com aquele cabelo
felpudo e queixo forte, tinha rapidamente a ajudado a endireitar todos
os papéis, e lhe dizendo para tomar uma respiração profunda. Ele
também tinha sorrido e lhe prometido que ela não estava uma bagunça.
Engolindo em seco, ela se recostou contra a cabeceira. “Eu estou
uma bagunça de novo. Você não vai acreditar na noite que tive.” Tom
tinha se tornado seu confidente, e ela não podia parar agora.
Respirando fundo, ela lhe contou toda a história, começando com o
telefonema do hospital. Tom tinha ficado sabendo sobre Shane desde o
início e a encorajara a apresentar os papéis do divórcio sem esperar por
sua volta. É claro, o divórcio de Tom tinha sido miserável, por isso ela
não queria fazer o mesmo de imediato.
Um silêncio mortal se seguiu depois que ela terminou sua história.
Mal-estar picou a parte de trás de seu pescoço. “Tom?”
Ele exalou alto. “Uau.” Mais silêncio bateu entre eles. “Eu não sei o
que dizer. Quer dizer, isso soa como algo de Law and Order3 — com
amnésia, corpos mortos, e sua foto pisoteada na lama em uma cena de
crime. Você sabe que isso não é nada bom, certo?” Preocupação alertou
sua voz profunda. Um gelo fechado no final, ecoando através da linha.
Ela quase podia vê-lo rondando pela casa inacabada com o telefone
pressionado na orelha. Ele vivia na parte já acabada, enquanto esperava
pelo dinheiro para construir o resto.
“Eu sei que parece irreal.” Não havia nenhuma forma racional de
explicar por que ela tinha deixado Shane dormir no quarto ao lado. “Eu
gostaria de poder explicar.”
3
Série policial dos Estados Unidos, com estreia no dia 13/09/1990, criada por Dick Wolf e transmitida pela NBC, tendo como
cenário a cidade de Nova Iorque.
Tom suspirou. “Você não me deve nenhuma explicação. Eu
entendo que você é casada e os laços que isso implica, mesmo que
esteja buscando um divórcio. E eu certo como o inferno entendo como
um divórcio pode te cortar de joelhos.” Tom tinha descoberto que sua
esposa há três anos estava dormindo com seu optometrista 4, um cara
rico com uma casa de inverno em Belize. É claro, isso aconteceu
exatamente quando o negócio de construção de Tom fracassou e caiu
nos tempos de crise econômica. Muito difícil. Ele tinha se mudado do
Texas para Washington para um novo começo.
Emoção entupiu sua garganta. A amizade de Tom tinha se tornado
rapidamente uma âncora rara em sua vida, e ela confiava nele. “Eu não
posso te dizer o quanto eu te aprecio.”
“Bem, nessa nota, que tal eu te dizer o quanto eu não posso
suportar que seu futuro ex esteja dormindo no quarto ao lado?”
E era por isso que ela contava com Tom. Ele lhe dizia a verdade,
compartilhava seus sentimentos. Bons e más. Ele confiava nela de ser
forte o suficiente para lidar com qualquer coisa. Ela permitiu que seus
ombros relaxassem. “Eu sei.”
4
A OPTOMETRA é uma ciência especializada no estudo da visão, especificamente nos cuidados primários e secundários da
saúde visual. O Optometrista é um profissional independente na área da saúde, com formação superior, que está qualificado a
examinar e avaliar o sentido da visão, sendo um especialista em identificar e corrigir alterações visuais de origem não
patológicas; melhorando o desempenho visual e, consequentemente, o desenvolvimento social e a qualidade de vida da
população. O Optometrista, de formação nível superior, não utiliza qualquer medicamento ou técnica invasiva ao corpo
humano. Todos os equipamentos utilizados são de caráter observativo e direcionados à avaliação quantitativa e qualitativa do
sentido da visão. Também é preparado para identificar uma alteração visual de ordem patológica ocular ou sistêmica,
encaminhando, nestes casos, o indivíduo a um profissional da área médica, realizando assim seu trabalho de prevenção
“É incrivelmente difícil para mim fazer um movimento com um
cara em sua casa.” Humor e uma pitada de seriedade ecoou em seu tom
baixo. Humor, principalmente.
Josie sorriu. Então, Tom estivera se preparando para fazer um
movimento. Ela tinha se perguntado sobre isso. Uma pequena parte dela
estava feliz pelo adiamento — ela obviamente não estava pronta para
abandonar Shane se o beijo na cozinha era qualquer indicação. “Eu
imagino que seria.”
“Bem, tudo a seu tempo. Por agora, que tal você me deixar te tirar
daí? Longe do perigo e cadáveres?” O som de couro estalando através
da linha a fez imaginar Tom se deslocando em sua cadeira favorita no
que ele chamava de sua “homem das cavernas”, uma sala vazia com
uma nova placa-de-gesso que ele mesmo tinha montado que um dia
teria uma mesa de bilhar e uma televisão de plasma. Quando a
economia se recuperasse. “Nós dois podemos tirar folga do trabalho até
que as coisas fiquem seguras para você. Sem pressão, sem estresse,
apenas bem longe daqui até que a polícia tenha tudo resolvido. Por
favor.”
A súplica sincera nas últimas palavras a fez fechar os olhos. Tom
não podia se dar ao luxo de deixar o trabalho mais do que ela podia
agora. No entanto, ele tinha oferecido. “Eu agradeço. Mas, por agora,
vamos esperar e ver o que a polícia vai descobrir.” Uma parte estranha
dela, nas profundezas do medo, realmente não conseguia imaginar os
caras maus querendo ela. Simplesmente não fazia sentido. “Você já
ouviu alguma coisa sobre o nono andar?”
“Ainda não.” O nono andar de seu prédio de escritórios estava
sendo reformado, e Tom tinha feito uma oferta pelo trabalho. “Josie,
não mude de assunto. Você precisa sair da cidade — você está envolvida
em algo perigoso.”
Ela endureceu contra a pilha de travesseiros em seu quarto
silencioso. Os travesseiros eram uma lembrança de um tempo mais feliz
em que ela pensava que as pessoas casadas felizes tinham que ter em
suas camas. Os melhores pais adotivos que ela já tivera se chamavam
Arthur e Claire. A cama deles tinha tantos travesseiros que Claire levava
um total de cinco minutos para arrumá-la. Josie a ajudava antes de ir
pra escola todos os dias, dizendo a si mesma que sua cama de adulto
seria do mesmo jeito algum dia.
Mas, sentada ali, em sua cama maravilhosa com sua multidão de
almofadas coloridas, ela sentiu um peso no peito. “Eu não posso sair
daqui.” A rouquidão crepitou sua voz.
“Entendo. Se minha esposa aparecesse amanhã e quisesse outra
chance, eu não sei se poderia dizer não. Quero dizer, ex-esposa.”
O peito de Josie aqueceu. “A mulher estava louca para deixá-lo.”
Tom suspirou. “Obrigada. Eu tenho que perguntar, você está
segura com Shane? Quero dizer, o quão bem você realmente conhece
esse cara?”
“Não muito bem.” Ela considerou permitir que Tom a levasse
embora em segurança, longe da necessidade crua que ela sentia sempre
que Shane estava perto. A ironia disso quase a fez sorrir. Ela estaria
buscando abrigo contra o único homem cujo todo o foco tinha sido
protegê-la durante o casamento. Antes de deixá-la sozinha e devastada.
Uma pequena parte dela sempre tinha pensado que Shane a encontraria
novamente.
Ela tinha razão.
Tom tomou um momento, provavelmente para engolir um pouco
de cerveja. Ele gostava de uma garrafa de Bud. “Não me leve a mal,
mas você meio que me faz lembrar uma daquelas mulheres em filmes
que apanham e não conseguem deixar o cara porque o amam.”
Sua cabeça saltou para trás. “Shane nunca me bateu.”
“Eu sei. Mas ele te deixou alto e seco... E agora ele está no seu
quarto de hóspedes.”
“Sim, e você foi para aconselhamento de casais, depois que
encontrou sua esposa trabalhando num cara que toca globos oculares.”
Tom bufou. “Você tem toda razão, minha amiga. Nós somos
otários... Nós dois.”
“Um par perfeito.” Ela esticou as pernas debaixo das cobertas. “Eu
preciso de respostas. Eu preciso saber onde Shane esteve nos últimos
dois anos. Merda, eu preciso saber com quem eu me casei. Finalmente.”
Então, talvez, ela fosse capaz de seguir em frente.
Silêncio veio através da linha por vários segundos antes de Tom
falar. “Entendo. Mas me prometa, se precisar de ajuda, você vai me
chamar. Imediatamente.”
“Eu prometo.”
“Justo. Vou tentar passar por seu escritório amanhã para dizer oi.
Noite.” Tom desligou.
Josie colocou o celular na mesa de cabeceira e desligou a
lâmpada. Ela bocejou. No entanto, sua mente rodava. Tom estaria
certo? Ela era uma vítima apanhada num desastre doméstico? Shane
tinha ganhado sua confiança e depois a abandonara. Ele sabia tudo
sobre seu passado e o que o abandono lhe faria — e, no entanto, ele a
deixara de qualquer maneira. Ela estaria sendo fraca em permiti-lo em
sua casa?
Memórias, ideias e possibilidades chicotearam em seu cérebro por
uma hora. Exaustão a venceu, embora sua mente levasse metade da
noite para finalmente relaxar. Quando ela caiu num sono leve, sonhos
estranhos em que ela estava perdida em florestas desconhecidas a
cutucaram em despertar por volta do amanhecer.
Um grunhido baixo retumbou através da parede do quarto. Ela se
sentou, o coração martelando. Shane. Ele estava ferido. O homem tinha
recusado até mesmo uma medicação sem-prescrição antes de dormir.
Ela pegou a faca em sua mesa de cabeceira.
Seus pés descalços tamborilavam sobre o piso de madeira
enquanto ela corria para o outro quarto. Ele estava deitado de bruços,
os braço bronzeados estendidos, a coberta empurrada até sua cintura
nua. As amplas costas masculinas, mostrando uma vida de batalha.
Cicatrizes, algumas bastante antigas, testemunhando que ele já tinha
visto muita dor antes. A tatuagem escura cobria seu ombro esquerdo, as
linhas graciosas criando um caractere chinês durão. Liberdade. Ele
gemeu baixo.
Ela deu um passo leve, inclinando-se para dar palmadinhas em
suas costas aquecidas. “Shane. Você está bem?”
Mais rápido do que o som, ele a prendeu sob seu corpo duro, a
mão em sua garganta. Ele pressionou contra dela, a boca perto de seu
ouvido. “Não dessa vez. Eu disse que nunca mais — não mais
treinamentos como este.”
Josie lutou. Treinamentos? “Shane. Eu não consigo respirar.”
Ele parou. Seus olhos se abriram. “Josie?” A mão em seu pescoço
afrouxou. Ele balançou a cabeça, os olhos se focando. A escuridão não
conseguia esconder as contusões ainda frescas marcando seu rosto. “O
que você está fazendo aqui?”
“Você gritou.” Ela piscou para conter as lágrimas. Quem se movia
tão rápido? “Eu pensei que sua cabeça estava te machucando.”
“Está agora.” Ele endureceu contra ela, acomodando-se entre suas
pernas. O moletom não conseguindo mascarar sua ereção súbita.
Sombras dançavam em seu rosto anguloso, tornando-o tanto belo
quanto misterioso. Sua voz profunda desbastou para um tom quase
gutural. “Você quer tirar minha dor, bebê?”
Necessidade a atravessou no rastro da apreensão. Instinto
arrancou. “Você está me assustando, Shane.”
Ele imediatamente se virou, soltando-a. Ela odiava isso sobre ele.
Sempre tinha. Ele era tão fácil de manipular com fraqueza, com medo ou
suavidade. Mas tente enfrentá-lo cara-a-cara e ele cai direto sobre ela.
Sem causar nenhuma contusão. Aparentemente, o Shane de verdade
estava voltando. “Deus, você me irrita.”
“Sinto muito ter te assustado.” Ele passou as duas mãos pelo
rosto.
Ela não ia gritar. Sem chance. Alavancando-se, ela saltou sobre
seu estômago, o joelho pressionado precariamente perto de suas bolas,
a faca em sua garganta. “Agora, quem está com medo?”
Uma luz suave filtrava dentro, fazendo com que os olhos dele
brilhassem na semiescuridão. Seu corpo inteiro enrijeceu debaixo dela.
Pronto para lutar. “O que você pensa que está fazendo, anjo?”
Advertência fundia com a curiosidade em seu tom.
“Você não me conhece, seu débil-mental.” Ela apertou a mão no
punho. “Talvez eu tenha contratado aqueles homens no necrotério.
Poderia ter sido eu quem te feriu. Quem te colocou no hospital e tomou
suas memórias.” Ela aproximou o joelho de seus meninos. Só uma vez,
ela precisava ver o verdadeiro homem por trás da máscara calma. “No
entanto, você confia. Tão facilmente. Por quê?”
“Porque você é metade do meu tamanho e parece um anjo.”
“Isso é estúpido.” Um movimento rápido e ela poderia cortar sua
jugular. Um movimento que ele tinha lhe ensinado muito tempo atrás.
“Se você tem um ponto cego, Shane, é pelas mulheres que olham
macio. Eu não sei por quê.”
Ele franziu a testa. Nenhuma preocupação filtrou em seus olhos
com a ameaça, então ela pressionou o joelho para cima. A ingestão
aguda de respiração a fez sorrir.
“Josie, mova a perna longe de minhas bolas e saia de cima de
mim. Agora.”
“Ou o quê?”
“Ou eu vou esquecer que você é macia e te ensinar uma lição.” O
sotaque sulista escapou, embora seu tom permanecesse calmo.
Finalmente. Sua fachada estava trincando. “Manda ver, babaca.”
Ela voou pelo ar.
Seu grito ecoou pelo quarto. Ele tinha alavancado os pés e a
jogado sem mover os braços. Mãos fortes vieram em torno dela em seu
voo para baixo. Ela encontrou suas costas pressionadas à frente dele, a
faca em sua jugular. Calor a envolveu. A mão grande em seu cabelo
puxou sua cabeça para o lado, expondo seu pescoço para o ar fresco da
noite. “Babaca?”
Ela atirou ambos os cotovelos para trás contra seu intestino. Seus
pulsos foram rapidamente presos por uma das mãos na parte baixa de
suas costas.
“Eu já te amarrei, querida?”
Desejo disparou através dela como uma dose dura de uísque.
“Não.” Ela tentou se mover, puxar os pulsos livres.
“Que pena. Restringir você me excita.” Ele abaixou a cabeça e
engolfou a boca em sua clavícula. A faca caiu no chão. “Se você não
quer suave, você deveria ter dito.” Ele a jogou de frente, e seus lábios
esmagaram os dela.
Ela não queria suave. Ela queria Shane — tudo dele. Ela arranhou
as unhas em seu peito enquanto um gemido filtrava em sua garganta.
Finalmente. Oh, ela tinha tido contusões depois de uma noite
particularmente apaixonada e atlética durante o casamento, e elas
tinham valido a pena. Mas algo novo tinha acabado de saltar livre. Ela
podia sentir. A selvageria em Shane, algo que ele normalmente
mantinha preso e velado. De alguma forma, finalmente, rugiu.
Sua boca travou na dela. Sem gentileza. Sem suavidade. Apenas
luxúria pura e crua.
Ela se esticou na ponta dos pés, embalando seu pênis entre as
pernas. Oh, Deus. Ela o queria.
Ele parou.
Não. Ela o agarrou mais perto.
Um sussurro soou do lado de fora da janela, e um arranhão ecoou
de dentro da casa.
Ele deu um passo atrás, agarrando seus braços, a cabeça virada
para a porta. “Você tem uma arma, anjo?”
Uma arma? Ela engoliu por ar. “O quê?”
Ele a sacudiu. “Arma. Onde?”
“Hum, eu a deixei no porta-luvas no meu carro.” Medo deslizou
através do desejo.
Vidro quebrado. Algo retiniu pelo chão. “Porra.” Shane a jogou na
cama e rolou para o outro lado, puxando o colchão em cima deles
quando eles bateram no chão. Um estrondo ecoou.
O quê? Fumaça encheu o espaço. Estática. Sua mente fundiu. Sua
visão ficou turva. Ela estendeu a mão para Shane, por segurança. Nada.
Onde ele estava?
Grunhidos masculinos ecoaram. Carne batendo carne. Ela
empurrou o colchão para longe, agarrando a mesa de cabeceira e
puxando-se de joelhos. Fumaça embaçou sua visão. Um zumbido
encheu seus ouvidos. Fumaça girou em torno dela.
Um grunhido puxou sua atenção da fumaça. Shane lutava com um
homem todo de preto, com os punhos voando, mãos agarrando, corpos
lutando. A faca de Shane brilhou, ímpia e afiada.
Sangue espirrou. O atacante caiu no chão, os olhos da morte bem-
abertos. Shane se virou para lutar contra outro homem.
Ela estendeu as mãos sobre a pequena mesa de cabeceira. O
telefone. Ela o agarrou, apertando os olhos para discar os números. Um
rugido encheu sua cabeça. Ela ligou o 911, deixando o telefone cair
exatamente quando uma voz ecoou na linha.
Vozes masculinas gritavam atrás dela. Onde estava ela?
Escuridão caiu sobre sua visão. Ela perdeu o controle sobre o
mobiliário, mergulhando em direção ao tapete macio. Então, nada.
Capítulo 6

Dor explodiu por todo o rosto de Shane quando o segundo homem


conseguiu um soco. Flashes piscaram atrás de seus olhos. Memórias.
Ruídos, luta, brutal e mortal.
Ele caiu de joelhos, ao lado do homem que tinha acabado de
matar. A faca foi chutada de sua mão para cair girando debaixo da
cama. Explosões atravessaram seu cérebro. Um tiroteio na Ásia. Um
campo de treinamento com os mortos cobertos de lixo no chão. Flashes
de momentos no tempo. Borrados, estrondosos, confusos, os
pensamentos o atingindo mais duro do que os socos dos bastardos o
golpeando.
Algo rasgou através de seu canal auditivo. Sons... Tantos, tão
cruéis, inundaram seus sentidos. Sons além do normal. Um carro
buzinou a milhas de distância. Gatos silvaram em uma briga quatro
bairros atrás. Memórias de outros carros, outros animais, atravessaram
sua mente.
Shane tentou puxar sua atenção para o presente, bloqueando seu
rosto do pior dos golpes. Seus membros pareciam sobrecarregados com
enormes blocos.
Uma memória o atingiu como uma marreta no peito. Jory. Dor. Se
foi.
Vidro estalou quando um terceiro homem pulou pela janela.
Shane pegou um vislumbre dourado pelo canto do olho. O cabelo
de Josie. Seus belos olhos se fecharam, e ela caiu no chão, inconsciente.
O tempo parou. Toda a dor regrediu. Foco disparou através dele
como uma corrente elétrica. Ele se acalmou. Uma única coisa importava,
apenas uma.
Proteger sua mulher.
Ele pulou, ambas as pernas voando para cercar a garganta do
atacante. Torcendo os joelhos, ele cortou o ar do cara quando eles
caíram no chão. Ele não sentiu o impacto dissonante. Um cotovelo na
têmpora bateu o intruso frio. Rolando, ele o soltou e virou para trás de
volta em seus pés.
Sem perguntas, sem preocupações, nada existia senão a ameaça à
sua frente. O terceiro homem puxou uma Sharkman Fixed-Blade 5 de
detrás das costas. Ele estava de pé cerca de um metro e oitenta
centímetros longe, bem compactado, com olhos castanhos mortais.
“Quanto a facas de combate, essa é uma boa escolha.” Shane
disse. Como ele podia identificar o tipo de faca, mas não sabia seu nome
do meio? “Embora eu prefira a Black Frog.”
5
Faca de combate.
O cara sorriu, mostrando um dente de ouro. “Essa é boa,
também.”
Shane angulou para o lado, mantendo seu corpo entre Josie e a
arma. “Saia e eu não vou te matar.” Provavelmente não era uma
afirmação verdadeira. Ele podia pensar em vinte maneiras diferentes
para matar o cara sem mover os pés de sua posição atual. O sangue
fluindo pelas veias do cara fazia um som suave. Um que Shane não
deveria ser capaz de ouvir. Ele se preocuparia com esse conhecimento
mais tarde. Agora, seu foco era absoluto.
O cara se lançou.
Shane girou, batendo a palma da mão contra o pulso do homem e
sem problemas roubando a faca. Dois passos para frente, e ele
mergulhou a faca na lateral da jugular do rapaz. Após sua presa ao
chão, ele usou as duas mãos para cortar aberto o pescoço do homem,
lutando contra a cartilagem e osso. Conhecimento lhe bateu que, apesar
de difícil, a tarefa tinha sido mais fácil do que deveria ter sido. Sua força
não era normal, também.
Sirenes soaram à distância.
Ele parou, olhando para o telefone no chão. Josie tinha ligado para
o 911.
Sangue correu através de seus ouvidos quando ele pegou na cena
sangrenta. Ele tinha matado dois homens e nocauteado um. Algo
sussurrou na parte de trás de sua cabeça que ele deveria cuidar do
homem inconsciente. Matá-lo para que ele não pudesse se vingar.
Shane tentou tomar uma respiração profunda e se arrependeu
quando o cheiro de morte encheu seus pulmões. Deus, quem diabos ele
era? Por que ele podia fazer tais coisas incríveis? Nenhuma das
memórias piscando de volta eram boas — nenhuma mostrava uma vida
decente. Sua cabeça doía e seu estômago apertou mais apertado do que
seus punhos. Seus punhos sangrentos.
Mas instinto lhe ordenou para tirar o último homem para o bem.
Então ele se levantou e deu um passo em direção à figura de bruços.
Josie gemeu.
Ele parou frio.
Pela primeira vez naquela noite, suas mãos começaram a tremer.
Seu anjo estava deitado no chão cercado por morte e sangue. Que tipo
de monstro ele era?
Ele a havia deixado, e agora tinha trazido perigo para sua porta.
Sua desconfiança dele o havia irritado antes, mas agora ele tinha que
reconhecer que seus instintos eram provavelmente bons. Dessa vez.
Vergonha o encheu que ele a tivesse deixado sozinha. Por quê? Essas
memórias tinham que voltar.
Pequena, ela jazia enrolada de lado, as feições delicadas muito
pálidas. Ele tinha que tirá-la de lá. Agarrando uma fronha, ele
rapidamente limpou o sangue do rosto e das mãos, jogando o material
no chão. Inclinando-se, ele se abaixou para pegá-la suavemente.
Dois policiais encontraram com ele no corredor, jovens e sérios,
armas apontadas para ele.
Fogo eletrocutou ao longo de suas vértebras. Calma absoluta se
seguiu. Mover-se para desativá-los e matá-los, correu através de seu
cérebro tão rápido que seus ombros ficaram tensos.
Josie se agitou em seus braços.
O policial mais próximo firmou sua postura, a arma apontada para
a cabeça de Shane. “Coloque-a no chão.” O garoto tinha que ter cerca
de vinte anos.
Shane respirou fundo. “Não.”
O pomo de Adão do policial balançou. “Eu não quero atirar em
você, cara.” Sua mão oscilou apenas o suficiente para aumentar os
batimentos cardíacos de Shane.
Shane se recostou na parede caso ele precisasse se equilibrar para
chutar para fora. “Chame o detetive Malloy. Ele sabe o que está
acontecendo. Diga-lhe que alguém invadiu a casa de Josie Dean.”
O outro policial, tão jovem quanto o primeiro, inclinou a cabeça e
falou no rádio amarrado a seu ombro. Ele ouviu, e depois se endireitou.
“Malloy já ouviu o chamado — ele está a caminho. E ele parece... Puto.”
“Sim, eu suponho que sim.” Shane girou, lutando contra cada
instinto que possuía para poder virar as costas para as armas. “Vou
colocar minha esposa em seu quarto. Sintam-se livres para me seguir,
mas se vocês apontarem a arma na direção dela novamente, eu vou
tomá-las de vocês.”
Nem por um segundo ele duvidou que pudesse fazê-lo. Tantas
maneiras diferentes para desarmar os policiais passaram por sua cabeça,
seu crânio começou a doer. Memórias de lutas, de despojar armas, dele
matando pessoas, rasgaram por sua mente.
Quem ou o que ele era... De jeito nenhum ele poderia ser o cara
bom.
Pena.

*****

Vozes masculinas despertaram Josie. Ela abriu os olhos, mantendo


seu corpo imóvel em autoproteção. Um truque que ela tinha aprendido
com o pai adotivo que bateu.
Uma voz filtrou através do resto. Shane. Segurança.
Ela se sentou em sua cama. “O que no mundo?”
Shane agarrou sua mão de seu poleiro ao lado dela. Quando eles
vieram de volta para o quarto dela? Seu olhar correu sobre seu rosto.
Tão sério. Tão irritado.
Ela lutou contra um arrepio. “O quê —”
“Flash grenade6,” ele murmurou, limpando o sangue da testa com
as costas da mão livre. Um corte se espalhava aberto acima de seu olho
esquerdo e contusões frescas se misturavam com umas já amareladas
em seu rosto forte e abaixo em seu torso nu. Ele tinha de alguma forma
vestido jeans.
Quantas contusões poderia um corpo tomar?
Sol do amanhecer refletia sobre o chão de madeira brilhante.
Policiais de uniforme caminhavam pelo corredor, colocando marcadores,
tirando fotos. Vozes abafadas vinham do quarto de hóspedes. Uma
figura se empurrou fora da parede, os olhos castanhos profundos
vermelhos. “Sra. Dean.”
“Detetive Malloy.” Josie olhou para suas pernas nuas. Shane
pegou um cobertor do final da cama para drapejar sobre ela. “Ah, o que
aconteceu?”
“Bem, Sra. Dean, tanto quanto podemos dizer, três homens
atacaram você e seu marido. Dois corpos estão no quarto de hóspedes,
e um homem está a caminho do pronto-socorro.”
6
Granada de atordoamento - é um dispositivo explosivo não-letal usado para desorientar temporariamente os sentidos de um
inimigo.
Corpos? Náuseas rodou em seu intestino. Shane tinha matado dois
homens? Então, o quê, sua contagem de corpos estava em cinco esta
semana? “Quem eram eles?” Sua voz falhou no final. Os homens tinham
invadido sua casa, seu santuário. Talvez segurança não existisse.
Shane endureceu. “Eles ainda não foram identificados, anjo.” Ele
baixou o olhar para seus lábios trêmulos. “Aguenta, a próxima
ambulância deve estar aqui em breve.”
“Eu não quero uma ambulância.” Ela apertou o queixo para parar
os lábios. “Eu não vou para o hospital de novo.” Medo fez sua voz
tremer, e ela limpou a voz.
Ele estreitou o foco. “Por que não?”
Ele realmente não se lembrava de nada, ou nunca teria feito essa
pergunta. Ela já tinha lhe contado sobre sua infância, e a história o havia
deixado seriamente puto. Ela tinha feito tudo que podia para impedi-lo
de caçar o bastardo que a tinha espancado. Ela desviou o olhar,
buscando conforto nas belas gravuras Norman Rockwell de lares
pacíficos que ela tinha pendurado nas paredes. “Eu não gosto de
hospitais. A maioria das pessoas não o fazem.”
“Josie.” Baixa, e cheia de comando, sua voz não dava qualquer
brecha.
Eles não tinham se visto em dois anos, e ainda assim seu corpo
reagiu instantaneamente a esse tom. Sexy e masculino, vibrando por
sua espinha. Seu olhar se voltou para ele. Cinza escuro, seus olhos
exigiam uma resposta, como se não houvesse policiais ao redor deles.
Ela se esforçou para atrapalhar sua concentração. “Quem está atrás de
você?”
Ele piscou duas vezes. Seu controle apertado. Finalmente, passou
a mão pelo rosto. “Eu não sei. Sinto muito tê-los trazido até você.” Ele
balançou a cabeça. “Eu não acho —”
Malloy limpou a garganta. “Tive um retorno de Pendleton, Major
Dean. Você se aposentou há dois anos, com todas as honras.”
Confusão rodou no cérebro de Josie. Ela tinha esquecido Malloy.
“Não, não, isso não está certo. Ele permaneceu na marinha. Eu sempre
assumi que ele tinha partido em uma missão.” E que voltaria para ela
algum dia.
“Ele se aposentou em primeiro de Junho, dois anos atrás, Sra.
Dean.” Malloy estudou os dois, a arma na cintura delineada através de
sua jaqueta barata.
Traição a atingiu como um soco no estômago. Shane tinha partido
em agosto — dois meses depois de se aposentar. Onde ele tinha ido
todos os dias quando dizia que estava indo para o trabalho? Quem
diabos era seu marido?
Shane exalou. Nenhuma expressão se mostrou em seu rosto
machucado. “Alguma ideia de onde estive por dois anos?”
“Não. Seu comandante disse que você saiu sem uma palavra,
apenas decolou. Embora ele primeiro tenha dito que você era um herói.
Que salvou várias vidas.” A voz de Malloy permaneceu estável e sem
inflexão. Voz de policial.
Josie sacudiu a cabeça. Ela tinha acreditado nas mentiras.
Exatamente como uma vítima de violência doméstica. Tom podia estar
certo. Talvez ela devesse sair da cidade. Inferno, talvez ela deveria dar
uma chance a um cara que confiava nela... Um cara que a deixava
entrar e não mentia. “Você mentiu para mim, Shane.” Sua voz saiu baixa
e fraca.
Shane exalou. “Nós não sabemos disso, querida. Deixe-me
descobrir o que estava acontecendo. Possivelmente eu estava disfarçado
ou algo assim.”
Sua visão ficou turva. Talvez a granada de atordoamento tivesse
lhe dado uma concussão. Ela piscou para limpar a cabeça.
Malloy rabiscou em seu caderno esfarrapado. “Sra. Dean, por
favor relate o que aconteceu aqui esta noite.”
Josie respirou fundo e contou sobre a granada e ver a luta. “Mas
estava tudo nebuloso. Eu não entendia o que estava acontecendo.” Sua
voz tremeu. Ela não ia chorar.
Shane pegou-a, cobertor e tudo, e a puxou para seu peito nu.
Cicatrizes se alinhavam em sua forma angular, ferimentos de bala e faca
agora parcialmente camuflados pelas novas contusões. Calor irradiava
de seu corpo duro, um oásis de calor no frio do quarto.
Ela não confiava nele, e ela certo como o inferno não deveria estar
em seu colo. Mas a ilusão calorosa de segurança era tentadora demais
para lutar — por agora. Por um momento, ela precisava fingir. Ela
molhou os lábios secos e o deixou abrigá-la — temporariamente.
“Quanto tempo estive fora?”
“Quinze minutos.”
Ele tinha matado dois homens em menos de meia hora. Ela
estremeceu e ele a aninhou mais perto. Seu aroma familiar de cedro
aquecido a rodeando. Ele tinha matado. Para protegê-la, mas ainda
assim, ele tinha acabado com a vida desses dois homens. Sim. Isso a
assustava.
Malloy fechou seu caderno. “Vocês fiquem aqui.” Ele saiu do
quarto em direção ao quarto de hóspedes.
Shane se deslocou, descansando-a contra a cabeceira e subiu na
cama. Seu olhar vagou por todo o quarto, estudando cada canto, cada
recanto. “Que diabos é esse zumbido?” Ele parou e pareceu centrar-se
em absoluta concentração.
Josie franziu a testa, o quarto esfriando novamente sem o calor de
seu corpo perto. “Não há nenhum zumbido.” Teria ele sido atingido na
cabeça outra vez?
Finalmente, com o cenho franzido, ele caminhou até a base do
telefone em sua mesa de cabeceira.
“O que está acontecendo?” Ela puxou o cobertor mais acima.
Shane balançou a cabeça, levantando a base e olhando para o
fundo. Sua mandíbula apertou. Suas narinas chamejaram, e ele arrancou
um disco de prata arredondado e o jogou no chão.
“O que é isso?”
Shane levantou a mão e agarrou sua bota de cowboy do armário.
Com movimentos rápidos ele bateu o calcanhar e quebrou o disco em
pedaços. “A porra de um grampo.”
Um grampo? Alguém tinha grampeado seu quarto? “Do que você
está falando?”
“Eles jogaram a granada no quarto de hóspedes. Onde eu estava
dormindo. Como eles sabiam?” Shane varreu as peças para debaixo de
sua cômoda com o pé descalço. “Não diga nada para Malloy. Algo
aconteceu quando fui atingido... Minha audição está inacreditável, de
repente.” Ele andou em direção a ela, os olhos cinzentos girando como
uma tempestade de inverno. “Minha audição sempre foi além do
normal?”
Ela deu de ombros. “Não que eu saiba.” É claro, ela não saberia
agora, não é mesmo?
Ele deu um aceno curto. “Você precisa de um médico?”
“Não.” Um psiquiatra talvez.
“Bom. Empacote uma bolsa.” Ele olhou para o peito nu. “Droga.
Tenho certeza que eles não vão deixar minha camisa da cena do crime.”
Josie corou, lutando para sair da cama. “Eu, uh... Pode ter outra
de suas camisas no fundo da gaveta do minha cômoda.” Ele não fez
comentários, apenas puxou a gaveta e pegou uma camiseta desbotada
do Corpo de Fuzileiros Navais. “Obrigada.”
Ela entrou em pânico e se vestiu rapidamente. Se eles iam discutir,
ela precisava estar completamente vestida. “Eu não vou sair daqui com
você.”
Abrindo seu armário, ele jogou suas roupas em uma bolsa. “Você
está em perigo... Mais do que eu pensava. Você vai sair.”
Ele falava sério. Ele ia fazer e ia levá-la, independente dos policiais
no outro quarto. As chances eram, ele teria sucesso. O que ela deveria
fazer? Ela não podia confiar nele, mas ele sabia como lutar e vencer. Por
que não deixá-lo tranquilizá-la? “Os policiais vão atirar em você.”
Seu dar de ombros o fez estremecer enquanto ele olhava para o
torso. “Eu já fui baleado antes.”
Ela se esgueirou para o corredor.
Ele agarrou seu braço, a mão firme. “Josie, eu sei que as coisas
são complicadas. Mas três assassinos acabaram de invadir sua casa.
Você precisa de proteção, e eu sou melhor do que a polícia.”
Seus pensamentos deslizavam por sua mente em câmera lenta.
Ela deveria sair com ele? E quanto a polícia? Mas ele estava certo — ele
tinha cuidado da ameaça. O que havia de errado com ela? Ela não
confiava nele, mas não conseguia se afastar. Seus pulmões
comprimiram. Se não fosse com ele, ela poderia nunca mais vê-lo de
novo? Talvez não, e ela não podia correr esse risco. Ela tinha que saber
quem ele era — com quem ela tinha se casado. E ela queria viver. Por
enquanto, ele era sua melhor aposta. Tantas emoções conflitantes
rasgando através dela que seu estômago doeu.
Ele a conduziu pelo corredor e entrou na cozinha.
Malloy encontrou com eles na porta. “Onde vocês pensam que
vão?”
As narinas de Shane chamejaram. “O hospital. A ambulância está
demorando demais, e eu vou levar minha esposa para fazer um check-
up.”
Malloy franziu a testa. “Eu te encontro lá quando terminamos com
a cena.”
Confusão nublava o cérebro de Josie, mas o instinto a empurrava
para ir. Rapidamente. Ela tropeçou ao lado de Shane enquanto ele a
levava para a garagem e a colocava dentro do SUV.
“Coloque o cinto de segurança.” Passos rápidos o colocou atrás do
volante, e ele saiu da garagem.
“Por que você não contou a Malloy sobre o grampo?” Ela juntou as
mãos congeladas no colo.
A iluminação fora jogava através dos ângulos perigosos do rosto
de Shane. “O detetive não está preparado para o que está acontecendo
aqui.”
“E você está?” Ok. Isso a assustava.
“Sim.” Ele contornou a quadra, examinando as casas de volta à
vida com o amanhecer. “Em seu bairro, há uma casa vazia, e outra para
venda, ou os proprietários estão tirando férias?”
“Por quê?”
“Porque esse grampo era merda. O dispositivo tinha um raio de
uma quadra, no máximo.”
“Como você sabe do raio só de olhar para o grampo?”
Ele parou. “Eu não sei.” O veículo desacelerou no final do bloco.
Josie sacudiu a cabeça. Ele sabia coisas que não deveria e era
além de treinado. Treinado para matar qualquer um no seu caminho. E
se ela de repente estivesse em seu caminho? Um calafrio deslizou por
sua espinha.
“Josie?”
Ela endureceu e apontou para um pequeno bangalô. “Aquela casa
estava à venda. Quero dizer, a placa se foi, então talvez eles tenham
vendido.” Ela sabia que ele tinha formação como um soldado, mas que
tipo de habilidades ele teria desenvolvido? Sua audição deveria ser
realmente excelente para ter detectado aquele grampo debaixo do
telefone. O que ele era realmente capaz de fazer? Exceto combate
corpo-a-corpo, que resultara em outro cara morto.
Shane assentiu, virou a esquina, e estacionou ao lado do mirante
da comunidade. “Por que você não gosta de hospitais?”
Pelo amor de Pete. Ela sabia que ele não ia esquecer isso. “Eu não
acho que este seja o momento para falar sobre isso.”
“Nós não vamos sair até que falemos sobre isso.” Um músculo
saltou em sua mandíbula.
Ela tinha lhe contado toda a história de sua vida antes, e ele ainda
não tinha lhe contado nada. Durante dois meses, eles tinham
compartilhado uma casa e dividido uma cama. E ela não fazia ideia de
que ele era um assassino. Seu casamento tinha sido uma mentira, que
ela tinha saltado dentro com todo o coração. Ela tinha amado alguém
que não existia, e a perda desse sonho tinha perfurado seu peito com
uma lâmina mais afiada do que ela teria imaginado.
Um estranho estava sentado ao lado dela.
“Josie. Responda-me sobre o hospital,” ele disse calmamente.
Ela deu um pulo. Pressionada pela manhã. Um senso de urgência
a teve se deslocando no banco. Eles não podiam simplesmente ficar lá
sentados, e apaziguá-lo agora parecia sábio. “Bem. Eu cresci em lares
adotivos. Uma das casas tinha um bêbado que batia. Ele me levou para
o hospital, e eu associei o cheiro do lugar com, ah, a dor.”
As mãos de Shane apertaram no volante, os nós dos dedos
ficando brancos. “Eu já o matei?”
“Não.” Josie tossiu. “Embora você quisesse.”
“Ainda faço.” Raiva e dor enrugou sua boca.
Sim. Amnésia ou não, Shane era Shane. A menos que fosse tudo
um truque. “Acabou sendo uma coisa boa. Os médicos fizeram um
relatório, e eu fui viver com Arthur e Claire. Eles eram pais adotivos, mas
planejavam me adotar.” Sua voz soava melancólica, mesmo para ela.
Quando tinha caído de sua bicicleta, ela até mesmo tinha se sentido
segura no hospital com Arthur a carregando.
“Por que não fizeram?”
“Claire morreu.” Josie deu de ombros contra o banho de tristeza
do que poderia ter sido. “Embolia. Um dia ela estava lá, no dia seguinte
ela não estava.” Arthur tinha começado a beber, quase perdendo seu
negócio de contabilidade. O serviço social a levara embora de novo, e
provavelmente teriam mesmo que Arthur não tivesse entrado em
depressão. Eles não podiam deixá-la ficar com um homem sozinho
afligido pelo luto.
Sua primeira chance de uma vida normal tinha sido arrebatada
rapidamente. Sua segunda, com Shane, tinha desaparecido também.
Talvez algumas pessoas estivessem destinadas a viver sozinhas. Meu,
esse era um pensamento deprimente.
Shane soltou o volante. “Sinto muito.” Ele abriu a porta. “O que
Claire fazia?”
“Ela era dona de casa. Arthur era contador. Ele amava números.”
Josie olhou pela janela. Chega de lembranças tristes. A vida seguiu em
frente. “E agora?”
Shane saltou do veículo. “Fique aqui.”
Porra nenhuma. Ela podia ou correr de volta para a polícia, ou
seguir Shane até o bangalô. Se alguém tinha grampeado sua casa, ela
queria ver quem e como. Ela saltou do carro, cambaleando até que
recuperou o equilíbrio. Passos rápidos a teve no encalço de Shane.
“Eu te disse para ficar no carro,” ele murmurou, o olhar
esquadrinhando ambos os lados da estrada.
“Eu estou com medo.” Ela realmente deveria se sentir mal sobre
manipulá-lo. “Eu não quero ficar sozinha no carro.” Além do mais,
qualquer um que já tinha visto um filme de terror sabia que a pessoa
esperando no carro sempre acabava morta. Ela ia direto na jugular. “Por
favor, deixe-me ficar com você.”
Ele hesitou e então suspirou. “Ok. Mas fique atrás de mim.” Ele
pegou sua mão, correndo ao redor do bangalô para abrir o portão da
cerca na parte de trás. O pátio traseiro tinha ficado marrom, ervas
daninhas brotando em tudo. O cheiro de decomposição rescendia o ar.
Ele olhou pela janela da cozinha. “Vazio.”
Olhando em volta, Shane agarrou uma pedra de tamanho médio e
quebrou a porta de vidro perto da maçaneta. Josie se encolheu. Um
cachorro latiu à distância. Mas ninguém se moveu.
Shane alcançou dentro e abriu a alavanca, deslizando a porta e
entrando no interior. Ele olhou em volta e fez sinal para ela se juntar a
ele. Ela cautelosamente passou por cima do vidro quebrado, o coração
martelando em seus ouvidos. O que ela estava fazendo? Isso era tão
ilegal.
A área da cozinha estava vazia, nem mesmo uma mesa.
Movimentos rápidos os enviou apressadamente através da sala de jantar
sem mobília. Seus passos ecoando através do espaço empoeirado até
chegarem à sala de estar.
As pernas de Josie congelaram no lugar.
Seus olhos a encaravam de volta a partir de um retrato na parede.
O momento a capturara sorrindo brilhantemente contra o sol, um
daiquiri na mão. Ela olhou para a próxima foto, tirada dela em um jogo
de beisebol. Várias outras fotos dela adornavam as paredes. Fotos dela
voltando para casa depois do trabalho. Indo ao ginásio. De fazendo a
jardinagem fora de sua casa. No valor de meses. Todas pregadas junto
a uma expansão de equipamentos de vigilância.
Shane grunhiu, correndo em direção ao equipamento. “Mas que
diabos?”
Josie franziu a testa. Sua foto do casamento chamou sua atenção.
A oficial naquela moldura de prata impressionante. Aquela que ela havia
deixado para ele em sua base quando se mudara para Washington.
Apenas no caso de ele querer as lembranças. Ele se sentou na ponta da
mesa. Ela olhou mais de perto algumas da fotos. Seu cabelo estava mais
curto. Com luzes. Algumas das fotos eram da Califórnia. De antes dela
conhecer Shane. De três, talvez quatro anos atrás.
Ela tropeçou um passo atrás.
Uma garrafa de Guinness vazia assentada no balcão.
Guinness.
A foto.
Com um grito suave, ela correu para o quarto. O cheiro de cedro
aquecido encheu suas narinas. A cama com seu edredom da marinha
arrumada, os cantos dobrados. Passos instáveis a levaram até a
pequena cômoda no canto. Ela puxou a primeira gaveta. Meias.
Perfeitamente dobradas, em ordem de cor. Exatamente como Shane as
organizava. Sua única concessão de ser um soldado, se permitir uma
peculiaridade.
Ela pegou uma camisa descartada no chão e levou o material até o
nariz. O cheiro masculino de Shane encheu suas narinas. Seus dedos
apertaram no material enquanto ela se virava lentamente.
Ele dominava a porta. Ela deu um passo atrás, endireitando os
ombros. Nada de choro.
Ele franziu a testa, olhando para a camisa. “O que está errado?”
“Nada.” Ela jogou a camisa no chão, escondendo o logotipo
desbotado do Marine Corps. Pânico ameaçou parar sua respiração. O
que ela deveria fazer? Ele tinha mentido para ela — ele a espreitava.
Mesmo antes de se conhecerem, ele a observava. Traição revestiu sua
garganta até que ela queria sufocar. Ela tinha confiado nele. Raiva
queria rugir, mas a autopreservação ganhou. Ela não podia vencê-lo, e
ela tinha uma chance de se libertar. Então, ela se forçou a dar de
ombros e caminhar em direção a ele. “Eu só não gosto de
arrombamento e invasão.” Sua voz tremeu. “Podemos ir agora?”
Ela passou por ele em direção à porta.
Uma mão disparou e agarrou seu braço. Pupilas escuras se
estreitaram e se concentraram nela. Questionando. “Ainda não. Preciso
verificar mais do equipamento.”
Ela não era uma vítima. Seu sorriso doía quando ela se virou para
encará-lo. “Ok.” O impulso de fugir a atirou em plena ação. Ela se
preparou, e com toda a força que possuía, deu uma joelhada em suas
bolas.
Os olhos dele se arregalaram em choque.
Ele caiu no chão com um oomph abafado, ambas as mãos
segurando a virilha.
Oh Deus, oh Deus, oh Deus. Suas mãos tremiam e ela partiu para
o próximo movimento. Girando, ela acertou um chute lateral em sua
têmpora e o derrubou.
Ela gritou enquanto se virava e corria.
Vidro cortou seu braço quando ela pulou para fora da porta de
correr, saltando através do portão aberto da cerca. Um farfalhar soou
atrás dela. Ela atravessou o gramado da frente, gritando pelo Detetive
Malloy. O detetive olhou para cima de sua varanda, uma carranca no
rosto. Ela correu como se o próprio diabo a perseguisse, seus passos
batendo no asfalto.
“Droga, Josie. Pare!” Shane gritou.
Ela se empurrou com mais força. Quem era Shane Dean? Ela
alcançou Malloy em uma corrida, quase caindo em seus braços. Ele a
firmou.
Virando-se, ela prendeu a respiração com o que veria. Nada. Uma
rua tranquila e escura.
Shane tinha desaparecido.
Capítulo 7

O café da delegacia de polícia era uma merda. Josie se debruçou


sobre o copo de isopor, seu dedo sondando as marcas de mordida que
ela tinha deixado no topo esponjoso. Como ela pôde ter estado tão
errada? Mas, realmente, o que ela alguma vez soube sobre Shane?
Algumas daquelas fotos tinham sido de antes de ela sequer conhecê-lo.
Ele teria estado espreitando-a? Nesse caso, por que a teria deixado por
dois anos? Se ele já a tinha.
Que tipo de jogo louco ele tinha estado jogando?
O calor aumentou na pequena sala, mas não conseguia penetrar
sua pele gelada.
O detetive Malloy se sentou do outro lado da mesa maltratada da
sala de entrevistas, as olheiras sob seus olhos aumentando conforme o
dia avançava. “Sinto muito, Sra. Dean.” Ele bateu levemente em uma
foto dela saindo de um ginásio na Califórnia segurando uma esteira de
yoga enrolada debaixo do braço. “Assim que estiver pronta para
continuar, vamos examinar mais algumas fotografias que meus homens
trouxeram da casa onde seu marido, aparentemente, estava ficando.
Você se lembra dessa foto?”
Considerando que ela não sabia que o instantâneo estava sendo
tirado, não. “Eu nunca vi esta foto antes.” Ela lutou contra o arrepio com
o fato assustador de que tinha sido fotografada sem seu conhecimento.
“Embora eu ainda não tivesse conhecido Shane quando esta foto foi
tirada.”
“Você tem certeza?” O olhar de Malloy afiou.
“Sim. Minha instrutora de ioga na Califórnia abriu seu próprio lugar
do outro lado da cidade, e eu a segui. Parei de ir a este local, pelo
menos, um mês antes de conhecer Shane.” Ela continuava usando o
nome dele. De jeito nenhum ela iria se referir a Shane Dean como seu
marido. Nunca mais.
Malloy rabiscou em um caderno, deslizando outra fotografia na
frente dela. “Seu cabelo está mais longo nesta aqui.”
“Sim.” Josie olhou por um momento. A foto a tinha capturado
saindo de seu prédio de escritórios na Califórnia usando seu terninho de
seda verde favorito. “Esta foi tirada antes mesmo daquela da ioga. Eu
cortei meu cabelo logo depois dessa foto, eu acho.” Medo fez sua
respiração sair em rajadas curtas.
“Você trabalhava para a Montgomery and Associates?”
“Sim. Eu me mudei para a filial local aqui quando eu, ah, deixei
Shane.” Aparentemente, seus instintos estavam certos dessa vez.
“Por que Snowville? Quero dizer, essa empresa tem filiais em todo
o país.”
“Eu não sei.” Josie esfregou os olhos. “Snowville é uma cidade de
tamanho decente, não uma metrópole, com quatro estações, lagos e
montanhas. Parecia um bom lugar para construir um lar.” E seu único
amigo de infância estava enterrado no cemitério local.
“Sim. Eu gosto de viver aqui, também.” Malloy sacudiu uma foto
de lado. Poeira escura voou de onde a polícia tinha tentado tirar uma
impressão digital do papel. Ele deslizou a foto na frente dela. “Esta foi
tirada na frente de seu prédio de escritórios aqui em Snowville.”
“Sim.” Medo capotou seu estômago ainda mais. A foto mostrava
ela sorrindo para Tom, a mão dele em seu cotovelo enquanto eles saíam
no final do dia. Provavelmente antes de saírem para jantar, ou para uma
de suas casas, onde poderiam cozinhar e economizar dinheiro. Ela
deveria alertar Tom sobre Shane. “O casaco que estou usando na foto —
eu o comprei na semana passada.”
Malloy fez uma anotação. “O que eu acho interessante é que não
conseguimos encontrar uma única impressão digital em nenhuma destas
fotos. Tenho homens analisando a casa no momento, e até agora...
Nada.”
“Shane tirou todas elas.” A garrafa de Guinness, as meias
enroladas, a camisa com o cheiro dele, tudo provava que Shane tinha
estado observando-a. Por anos. Medo aguçou a sala em um foco claro.
Onde ele estava agora? Ele tinha levado sua SUV e desaparecido.
Malloy juntou as fotografias em uma pilha arrumada. “Eu fiz outra
chamada para Pendleton para descobrir mais sobre o major.”
O cheiro de suor, café queimado e medo giravam em torno da
congelação da sala. Josie lutou contra um espirro, olhando para a
parede desbotada. A ideia de ser espreitada por tanto tempo a fazendo
se sentir pequena e vulnerável. “Eu ainda continuo esperando um
espelho de duas faces.” Dessa vez Malloy a havia trazido mais para
dentro da estação, ignorando outros detetives latindo em telefones e
bicando computadores enquanto trabalhavam em suas mesas.
Os cantos dos lábios finos de Malloy se curvaram. “Os espelhos de
duas faces são geralmente apenas na televisão, Sra. Dean.” Ele bateu a
caneta em seu notebook. “Assim como heróis protegendo-o para o seu
próprio bem e o felizes-para-sempre-depois.”
“Isso é verdade.” Até mesmo seus olhos se sentiam doloridos.
“Isso não faz sentido. Por que Shane me observava? Então, por que me
deixar e depois voltar?” Por que fingir amá-la? Por que fazê-la amá-lo?
“Não sei. Talvez seja tudo sobre a perseguição. Quero dizer, talvez
ele gosta de espreitar, e uma vez que conseguiu tão bem da última vez,
Dean queria tentar de novo.” Malloy deu de ombros. “Estou esperando
que tenhamos sorte e possamos ver sua avaliação psicológica. Talvez
podemos descobrir por que ele deixou os marines dois anos atrás.”
“Eu gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta.” Ela mexeu na
cutícula rasgada em seu dedo mindinho. “Ele nunca falou sobre seu
passado, sobre sua vida antes de nos conhecermos. Tudo o que ele
disse era que era sozinho e que não tinha família.” Ela tinha acreditado
nele. Deus, ela tinha sido tão estúpida. “Eu imaginei que ele tinha tido
uma infância difícil e queria deixar o passado para trás. Eu podia
entender isso.”
Malloy assentiu. “No entanto, você descobriu que ele tinha
irmãos.”
“Sim.” Ela nunca esqueceria aquela noite. Ela tinha encontrado
Shane no apartamento depois do trabalho para jantar e ele estava...
Diferente. Distante e quase frio. Não encontrando seus olhos. No
entanto, quando eles foram para a cama, ele quase a queimara de
paixão. Tão duro e rápido. Quase desesperado. A noite tinha lhe dado
aquela esperança de que ela estava conseguindo alcançá-lo... Que ele
estava se abrindo para ela. Que ele finalmente ia deixá-la conhecê-lo.
“Eu acordei no meio da noite, e Shane estava gritando o nome Jory.”
“Jory?”
“Sim.” Ela tinha sacudido o braço de Shane e ele tinha sentado,
afastando-se dela e soltando a cabeça nas mãos com um soluço baixo.
Ela tinha lhe perguntado quem era Jory, colocando a mão ternamente
em suas costas aquecidas. Tentando oferecer conforto quando nenhum
seria aceito.
Todo o corpo de Shane tinha estremecido. “Meu irmão. Jory era
um de meus irmãos. Ele está morto.”
Dois anos depois, sentada na sala de conferências fria de uma
delegacia, ela ainda podia sentir as vibrações de dor de Shane quando
ele disse essas palavras.
Ele a havia deixado no dia seguinte.
Malloy ajeitou a gravata. “Vou pesquisar o nome Jory Dean,
também.”
Josie mordeu o lábio. Será que Jory sequer existia, ou tinha sido
tudo uma espécie de truque bizarro? “Nada disso faz sentido. Quero
dizer, Shane estar me perseguindo, por qualquer motivo. O que isso tem
a ver com os caras encontrados mortos no rio? Eles tinham a minha
foto.”
Malloy franziu a testa. “Eu diria que seu marido está envolvido em
algumas coisas muito ruim. Alguém está atrás dele, e parece que eles
estão dispostos a usar você para pegá-lo.”
Então, agora ela tinha Shane e assassinos desconhecidos atrás
dela. Seus pés realmente se contorceram com a necessidade de fugir.
Um tremor sacudiu seus ombros e calafrios arrepiaram sua pele. Ela
pegou a bolsa do chão, e um novelo de lã caiu. “Já terminamos aqui?”
Malloy exalou. “O que é com o fio?”
“Eu tricoto.” Ela pegou a bola e a jogou dentro da bolsa.
“Oh.” Ele coçou o queixo, os olhos aquecendo. “Minha avó
tricotava.”
“Isso me relaxa.”
“Você provavelmente precisa relaxar.” Levantando-se, ele
contornou a mesa e abriu a porta.
Não haveria nenhum relaxante até que Shane estivesse atrás das
grades. Ela se atirou de pé e saiu para o corredor, atravessando a
estação surpreendentemente tranquila e no lobby.
Tom jogou uma revista sobre a mesa de centro e estendeu-se de
pé e longe de uma das cadeiras laranjas hediondas que se alinhavam à
parede com painéis. Estavam todas vazias, exceto por ele.
Alívio a inundou. Ela tinha ligado para ele mais cedo, esperando
que ele pudesse buscá-la. Graças a Deus. Ela entrou em seus braços. Ele
tinha vindo para ela. Ela tinha chamado, e ele tinha largado tudo para
ajudá-la.
Tom a envolveu em um abraço masculino limpo e perfumado.
“Josie.” Ele se inclinou para trás, os olhos castanhos claros contrastando
bem com sua camisa de flanela azul desgastada. “Nunca pensei que eu
estaria te buscando em uma prisão.”
Josie bufou uma risada. “Engraçado. Muito engraçado.”
Tom recuou para estudar seu rosto, e ela estudou o dele.
Profundos olhos castanhos brilhavam com preocupação, enquanto as
pequenas linhas que se espalhavam ao redor deles assinalava um cara
que ria frequentemente. Lábios cheios se curvavam em preocupação, e
seu cabelo castanho claro estava amassado, como se ele tivesse estado
passando as mãos sobre ele. Seus jeans rasgado cobriam músculos
tonificados e ombros largos preenchiam a camisa de flanela. Engraçado,
ela não tinha percebido que Tom era tão alto quanto Shane. Ninguém
parecia tão grande e poderoso quanto seu marido. Ela estava tão
errada. Um longo arrepio lhe escapou.
“Você está com frio.” Tom olhou para a sala e colocou um braço
em torno de seu ombro enquanto se focava em Malloy. “Ela está livre
para ir?”
“O detetive Connelly já terminou com sua declaração?” Malloy
perguntou.
“Declaração?” Josie piscou os olhos para Tom.
“Sim.” Tom alisou uma mecha de cabelo fora de seu rosto. “Eu
vim por você, e eles me fizeram algumas perguntas. Onde estive nos
últimos dias, quanto tempo eu te conheço, se eu tenho uma câmera.”
Ele sorriu com tristeza na questão final.
Josie se virou para o policial, seu fôlego aquecido. “Você
questionou meu amigo?”
Tom puxou sua bolsa drapejada em seu braço. “Eu suponho que
seja normal, e eu não tive nenhum problema em responder às
perguntas. Temos que ajudar a polícia a descobrir tudo isso.”
Malloy assentiu. “Nós apreciamos.”
Tom a levou para a saída. “Vamos levá-la para um lugar seguro.”
Seguro? Segurança era uma ilusão. Ela olhou para os cabelos
despenteados de Tom e feições retas. Tão diferente das escarpadas de
Shane. Ela estremeceu e Tom apertou o abraço.
“Eu posso colocá-la em algum lugar seguro, Sra. Dean,” o detetive
Malloy disse.
“Você deve deixar a polícia ajudar.” Tom esfregou seu ombro.
“Eu não vou me esconder.” Sua voz tremeu e ela endireitou sua
postura. Ela merecia respostas, e ela ia obtê-las. Além disso, algo, lá no
fundo, lhe sussurrou que a polícia não poderia escondê-la de Shane. Ele
tinha habilidades que nenhum deles se dera conta. Então, ela precisava
estar pronta quando ele aparecesse novamente. E ela precisava alertar
Tom.
Malloy assentiu. “Tenho suas informações comigo, Sra. Dean.
Manteremos contato.”
Eles se apressaram para fora da estação. A luz do sol se pondo
falhando para aquecer seu rosto enquanto Tom a guiava para seu
caminhão maltratado. Uma caixa de ferramentas toda arranhada se
estendia na frente do banco, contendo todas as ferramentas que ele
tinha trazido do Texas.
O cabelo na parte de trás de seu pescoço subiu. Seu corpo
instintivamente parou. Ela olhou ao redor do estacionamento. Nada
parecia fora do normal. Nenhum olhar em cima dela. Mas ela saltou para
o banco da frente e se recostou contra o material limpo com um suspiro.
Tom galopou ao redor da frente, entrou e ligou o motor para sair
da estação. “Então. Mas que confusão, hein?” Suas covinhas brilharam.
Josie sacudiu a cabeça. Só mesmo Tom para tentar animá-la.
“Pode-se dizer isso.”
“Que tal dirigirmos para algum lugar seguro? Qualquer lugar onde
você queira ir.” Tom os levou para a interestadual em direção à casa
dele nos arredores da cidade.
“Estou tentada, mas não posso. Você sabe que tenho aquela
auditoria com todos na próxima semana.” Os livros não eram somados
no trabalho, fato que deveria consumi-la. Enquanto corrigia uma conta,
ela tinha várias outras para verificar. Além disso, ela teve que começar
de baixo na filial em Washington quando se mudou da Califórnia. Ela era
uma boa CPA7. De jeito nenhum ela deixaria Shane Dean estragar seu
trabalho ou sua vida. De novo não. Além disso, no fundo, ela sabia que
ele a encontraria. Não importava o quê.
Eles viajaram em silêncio por um tempo. Tom finalmente tomou a
saída leste, serpenteando ao redor do lago em direção a sua casa.
“Eu não creio que ele assinou os papéis do divórcio antes de você
descobriu que Dean era um perseguidor.” Mãos ásperas de trabalho
apertaram no volante, mas a voz de Tom permaneceu estável enquanto
ele parava na entrada da garagem e apertava o botão para abrir a porta.
Ela deixou escapar um suspiro. “Isso tornaria a vida muito fácil.
Sinto muito.” Nada disso era justo com ele. Um dia no mundo de Shane
e ela quase tinha dormido com ele. Ele tinha tomado seu coração três
anos atrás, e ela não o tinha obtido de volta. “Eu realmente fiz merda
dessa vez.” Ela não tinha ideia do que Shane estava fazendo, por que
ele tinha estado observando-a. Mas mesmo agora parte dela esperava
por uma boa explicação. Ela o amava. “Eu sou uma boba.”
Tom esperou que a porta automática da garagem subisse. “Nós
vamos descobrir, Josie. Eu prometo.”
7
Certified Public Accountant – Certificado de Contador Público
Seu tom foi suave e gentil, e ela já o ouvira usá-lo antes,
enquanto o telefone. Ela sorriu. “Você está usando sua voz de 'eu estou
lidando com minhas irmãs mais novas' agora.”
Ele arrancou, os olhos brilhando. “Eu tenho uma voz com minhas
irmãs?”
Oh, sim. Como o irmão mais velho de o que parecia ser três irmãs
mais novas selvagens, ele tinha um tom que ele usava. “Eu te escutei
falando com elas ao telefone. No mês passado, quando Sylvia queria
deixar seu grande negócio e estudar peças de cerâmica, você realmente
usou uma voz.”
Tom bufou. “Isso foi uma loucura. Graças a Deus ela mudou de
ideia. Por enquanto, de qualquer maneira.”
Como teria sido crescer com irmãos? Com pessoas que se
importavam com o que acontecia em sua vida? Josie suspirou, seu olhar
se concentrando na casa de rancho semiacabada de Tom. Uma lona
prensada cobria parte da casa enquanto ele esperava tempo e dinheiro
para terminá-la. Cedro forrava os lados da parte acabada da casa — um
lugar perfeito para uma família de verdade. Ela sabia que Tom queria
essa família. “Eu não sei o que fazer. Nada parece real.”
Tom entrou com o carro na garagem e desligou a ignição. Então
pegou sua mão, a dele maior aquecendo a dela. “A vida é bagunçada,
querida.” Ela olhou para seu sorriso. “Mas você é uma mulher muito
inteligente. E não tenho nenhuma dúvida de que você vai resolver isso.”
Alívio e gratidão fluíram através dela até seus joelhos vacilarem.
Lágrimas picaram seus olhos. Tom acreditava nela. Ela era inteligente e
mais resistente do que qualquer um podia imaginar. Era hora de
acordar. Um cara ótimo estava sentado na frente dela — um que era
honesto com ela. Um homem que queria o que ela precisava na vida —
um lar estável e uma família amorosa. Filhos. Às vezes, seus braços
vazios doíam com a necessidade de um bebê, quando ela pudesse
manter um seguro, seria isso. “Eu preciso te avisar. Shane é perigoso, e
ele pode estar vindo atrás de você. Havia várias fotos de você e de mim
em sua casa.” Se Shane ferisse Tom, ela nunca se perdoaria.
Tom olhou para ela, depois assentiu. “Eu sei. A polícia me avisou.”
“Então, eu provavelmente não deveria estar aqui.” Mas para onde
ela poderia ir?
“Aqui é exatamente onde você deveria estar.” Tom afastou uma
mecha errante de sua bochecha. “Nós somos mais fortes juntos, e não
se preocupe, eu posso lutar.”
Sim, ele tinha lhe contado sobre o boxe para dias de diversão.
Josie suspirou. “Você não o viu lutar — não o viu matar. Ele é dotado de
uma maneira ruim.”
Tom assentiu e abriu a porta. “Nós vamos ficar seguros, Josie.
Venha. É sábado à noite. Vamos torná-la selvagem e assistir um filme.”
Tom a puxou do carro, envolvendo-a em um abraço. “A vida vai se
acertar. Eu prometo.”

*****

Shane correu ao redor do perímetro, a arma confortavelmente em


sua mão. Ele tinha recuperado a nove milímetros do bangalô antes de
fugir. Seu bangalô, ele percebera. O que ele estava fazendo espionando
sua própria esposa? Ele se desviou de um abeto espesso. Legal do
Marsh viver na extremidade da floresta. Muitos lugares para se
esconder. Se o bastardo não tirasse as mãos de Josie, o homem
morreria na extremidade da floresta. Shane fez uma pausa. Ele tinha
matado antes. E não apenas naquele dia. Ele era um assassino?
Regularmente ou apenas para os militares? E isso importava? Seu torso
e costelas já tinham curado, o que parecia estranho. Muito rápido.
A floresta se espalhava vazia e segura em volta dele. Incerteza o
teve fazendo uma pausa. Ele deveria fugir. Apenas dar o fora dali e
deixar Josie reconstruir sua vida. Ele deveria ir encontrar esses irmãos
dos quais não conseguia se lembrar.
A ideia de deixá-la, mesmo pelas razões certas, apertou seu peito
até que ele não conseguia respirar. Memórias ou não, ela era seu ar. O
fato não fazia absolutamente nenhum sentido, mas ele se agarrava a ele
com um desespero que o assustava. Ele não conseguia se lembrar dela e
certamente a tinha machucado. No entanto, ele não podia deixá-la
novamente. Seria alguma mentalidade perseguidora estranha? Ou Deus,
poderia ser algo bom? Algo certo?
As chances não eram boas nesse aspecto. Mas ele não ia partir até
que descobrisse.
Ele escalou uma árvore, empoleirando-se no topo para olhar
dentro da escassa sala do Marsh. O homem comeu pipoca e assistiu dois
filmes com sua esposa. Shane podia ouvir a televisão tão claramente
como se estivesse sentado na sala. Talvez ele devesse fazer uma
ressonância magnética e ver se havia algum tipo de implante ou
dispositivo em sua cabeça. De maneira nenhuma sua audição era
normal.
Umas covinhas muito bonitas brilharam quando Josie riu de uma
cena. Suas mãos trabalhando graciosamente com o tricô enquanto ela
assistia o filme. Parecia que ela estava fazendo um cachecol.
Um calor aqueceu em seu peito. Ela tinha chutado seu traseiro.
Um chute na virilha era fácil de se esperar de uma mulher pequena para
se defender. Mas a pancada na cabeça. Bom demais. Isso foi
impressionante. Sem hesitação, sem medo. Ela tinha visado sua têmpora
e quase o nocauteado. Antes de correr para o policial.
Ele tinha pensado em persegui-la, nocauteando o policial, e
recuperando sua esposa. Muitos homens ainda estavam na casa. Ele não
precisava lutar contra toda a força policial. Ainda não, de qualquer
maneira.
Seu olhar vagou sobre a pele pálida e feições delicadas dela. Sua
mulher. Admirava-o sua possessividade. Teria ele sempre se sentindo
assim? Ou era novo, florescente já que ela era a única ligação com a
vida que ele levava antes? O homem que ele era?
Enquanto a observava, ele se estabeleceu em uma resposta. Ele
sempre tinha sentido. Ela era sua. Embora o motivo ainda não fosse
claro, ele não poderia descobrir isso enquanto eles permanecessem
separados. Ele precisava recuperá-la e logo.
O filme terminou. Tom e Josie se retiraram para quartos
separados. Bom. Alívio que ele provavelmente não merecia fluiu através
dele. Ele esquadrinhou a área novamente. A propriedade do Marsh era
de um acre cercada em dois lados por extensivas terras federais.
Pinheiros, árvores de abetos e álamo se erguiam como sentinelas
silenciosas oferecendo abrigo. A vida selvagem avançava naturalmente.
Todos os predadores por perto eram exclusivamente da variedade de
quatro patas. Tudo era seguro. Josie estava segura por um tempo.
Shane se virou para galopar de volta através da floresta em
direção à van escondida. Ele tinha negociado o veículo pelo SUV de
Josie, deixando o carro dela onde poderia ser encontrado. Ela precisava
de seu carro.
Agora ele precisava interrogar o cara no hospital e depois ir até a
casa de Josie e conferir os grampos. Quantos ele tinha plantado? Onde e
por quê? Ele esperava que não tivesse que invadir a delegacia para ver
todas as evidências. Mas se tivesse, então ele o faria. De alguma forma,
ele imaginou que tinha as habilidades. Sabia que tinha, na verdade.
Ele precisava lembrar. Escuro e branco, o interior de sua cabeça o
mantinha fora. Talvez para sua própria proteção. Não conhecer a si
mesmo o estava deixando louco. Por que ele tinha estado vigiando
Josie? Seus punhos cerraram e afrouxaram. Quem eram seus irmãos?
Ele os machucara, também? Eles queriam vê-lo, ou não? Ele tinha que
se lembrar de seu passado. Talvez, não importando o quão ruim ele
tinha sido, apenas talvez, ele pudesse resolver tudo?
Algo lhe dizia que ele não ia gostar do que descobrisse. Quem ele
era. O pensamento pesava sobre ele, e bílis subiu de seu estômago.
Ele entrou no carro e dirigiu pela estrada, tentando forçar as
memórias em sua consciência. Apenas uma folha em branco se levantou
de sua busca interna. Um buraco preto grande e vazio. Frustração se
assentou como uma rocha em seu intestino. Ou talvez fosse medo. Se
ele não conseguisse descobrir quem ele era, como no mundo que ele
poderia proteger Josie?
Se ele tinha irmãos, eles não deveriam estar procurando por ele?
O nome Jory causou algo doloroso em seu plexo solar. Um peso apertou
seus pulmões.
As luzes do hospital rapidamente apareceram, e ele inspecionou o
estacionamento pelo melhor espaço no caso de precisar fazer uma saída
rápida. Encontrando um perto do meio-fio, ele estacionou e saiu, indo
em direção à porta de funcionários como se tivesse todo o direito de
fazê-lo. Era muito cedo para procurar a casa de Josie, então ele faria
bom uso de seu tempo antes de ir descobrir os segredos dela, e talvez
alguns dele próprio.
Uma enfermeira em um uniforme verde passou o cartão através
do controle deslizante, e ele abriu a porta para ela, devolvendo o sorriso
quando ela entrou e correu para um grande salão à direita.
Dois passos dentro e o cheiro de água sanitária o atingiu. Faíscas
brilharam por trás de seus olhos. Ele cambaleou contra a parede quando
memórias o golpearam fundo. Uma imagem turva dele sentado em uma
maca em um quarto de hospital sombrio com um homem cavando algo
fora de sua perna. Concreto desmoronando compunham as paredes. Dor
explodiu ao longo de sua canela. Uma bala. O homem tinha estado
cavando uma bala.
Quase em câmera lenta, o cara se levantou, sorrindo. “Consegui.”
O homem tinha olhos cinzentos. A cor exata dos olhos de Shane.
O suspiro estrangulado que ele soltou quando voltou ao presente
ecoou pela sala vazia. Jesus Cristo. Inclinando-se, ele esfregou uma
cicatriz ao longo de sua perna esquerda. Náuseas rodou em seu
intestino. Suas mãos tremiam. Finalmente, mais memórias estavam
fluindo de volta. Alívio e medo o atingiu. Ele tinha sido baleado, e seu
irmão o havia ajudado. A primeira visão de sua família fez sua mente
rodar. Mas agora não era o momento.
Droga. Ele tinha um trabalho a fazer.
Os primeiros passos foram mais como tropeços, e, depois, ele
encontrou o ritmo. Foco. Esqueça as imagens do passado e se
concentre. A voz em sua cabeça não era dele, mas ele confiava nela
implicitamente. Ele continuou pelo corredor, parando na frente de uma
sala que abrigava vários ditafones junto com os computadores.
Esquivando-se para dentro, ele se sentou e deixou seus dedos
voarem através do teclado. Interessante. Ele sabia como digitar e
rapidamente. Ele não sabia o nome do programa de computador, mas
sabia como usá-lo. Vários códigos o levaram a uma tela que listava
todas as novas internações. Duas páginas no banco de dados, e Shane
encontrou seu homem.
O mundo se centrou novamente. Ele sentia nada. Talento estranho
e assustador, esse.
Calma reinava ao longo do corredor quando ele saiu da sala de
computador, olhando dentro dos armários de abastecimento até que
encontrou uma bata azul leve de hospital e algumas ataduras.
Concentrando-se, ele forçou os milhões de sons rodopiando em sua
cabeça em um borrão de ruído branco que não iria incomodá-lo.
Agarrando o que precisava, ele se apressou fora da área de funcionários
e passou a sala de emergência, pegando o elevador até o andar correto.
Desembarcando, ele encontrou um banheiro e entrou para colocar a
bata.
A brisa fresca filtrava através de sua bunda quando ele saiu. Ele
lutou contra um rosnado.
Um quarto vazio continha uma IV meio-cheia de soro, e ele
agarrou a tubulação, enterrando o cabo ao seu pulso. Em seguida, ele
caminhou pelo corredor. O quarto 700 logo veio à vista. O policial
cochilando fora da porta poderia estar atento a um cara de uniforme. Ou
a vestimenta de um médico.
Mas não de um paciente.
Não é um paciente ferido, machucado e cambaleando em chinelos
maltratados puxando seu carrinho de IV atrás dele. Quando Shane
passou mancando, o policial olhou para cima, lhe dando um aceno de
cabeça. Shane fez uma careta e continuou andando. Ele rodou todo o
piso, e dessa vez quando se aproximou, o queixo do policial repousava
sobre o peito, os roncos ecoando através do corredor.
Shane deslizou dentro do quarto. A porta se fechando atrás dele.
O paciente estava em uma cama de hospital arrumada, muito mais limpa
do que aquela que tinha chamejado recentemente através de sua
memória.
Ele abandonou o carrinho de IV e foi em direção à cama, foleando
o prontuário do cara. Seu nome era Ray. O pontapé de Shane em seu
intestino tinha quebrado cinco costelas; uma costela perfurou um
pulmão. Ui. Shane coçou a cabeça. Ele conseguia decifrar as anotações
do médico. Mas algo lhe dizia que ele não era um médico.
Ray preenchido cama em, provavelmente, um metro e oitenta e
três centímetros, cento e treze quilos. Cabelo preto emaranhado colado
na cabeça. Círculos escuros cortavam sob seus olhos. A cirurgia
provavelmente tinha sido uma cadela. Shane pressionou a mão sobre a
boca do paciente. Ray arrancou, os olhos voando abertos. Ele lutou,
depois parou.
Shane sorriu. “Desculpe sobre as costelas.”
Nenhuma resposta.
“Então. Você entende que eu poderia matá-lo em segundos?”
Um aceno de cabeça.
“Bom.” Shane tirou a mão. “Por quê?”
A testa de Ray enrugou. “Porque o quê?” Ele sussurrou, um bom
sinal.
“Por que você tentou me matar?”
Ray deu de ombros. “O trabalho paga bem. Nós deveríamos
acabar com vocês dois e incendiar a casa. Eu tenho pensão alimentícia
para pagar —”
“Eu não me importo.” Shane observou a respiração lenta. O cara
estava drogado. “Você estava me vigiando de uma van azul no outro
dia?”
“Sim. Nós deveríamos apenas vigiá-lo — bem, até que veio a
ordem para matá-lo.”
“Quem te contratou?”
“Denny me contratou.” Os olhos azuis de Ray endureceram. “Ele é
o cara que você esfaqueou até a morte.”
“Eu não o esfaqueei. Eu cortei sua jugular.” Uma diferença
significativa. O fato de que o idiota do Ray não sabia disso mostrava que
ele era apenas um contratado musculoso. Um imbecil. Certamente não
era treinado bem o suficiente para ir contra um assassino. Shane podia
não ter nenhuma pista sobre sua identidade, mas algo lhe dizia que seus
inimigos sabiam exatamente quem ele era. Eles não deveriam enviar
alguém melhor? “Quem contratou Denny?”
“Sem porra nenhuma de pista, cara. Pagaram dez grandes para
cada um de nós.”
Dez mil. A vida de Josie valia menos de dez mil para esse imbecil.
Algo deve ter se mostrado em seu rosto porque Ray encolheu, o queixo
tremendo. Shane o perfurou com um olhar. “Você vai me dar mais do
que isso, Ray. Porque eu realmente quero matá-lo agora — com muita
dor.”
Medo arregalou os olhos de Ray. “Ok, eu digo, ok. Denny disse
que tínhamos que nos certificar de que todos na casa morressem, e que
a coisa toda queimava até o chão.”
Assim eles não poderiam ser identificados? Quem queria ele
apagado da face da terra? Shane fez uma careta. “Qual é o sobrenome
de Denny?”
“Clinton. Denny Clinton. Ele trabalha para agenciadores na área e
para qualquer um que precisa, bem...”
Precisa de alguém morto. Nenhuma boa pista, embora o fato de
que Denny era local criava possibilidades. Alguém poderia ter seguido
Shane até Snowville e depois contratado músculos locais. Denny poderia
vir a trabalhar para qualquer um. “Eu não vou te matar hoje, Ray.”
Embora todos os seus instintos estivessem sussurrado que era um erro.
Mas até que pudesse descobrir seu passado, ele não ia fazer algo
tão permanente quanto assassinato, quando havia uma escolha. Algo lhe
dizia que uma vez que se lembrasse de sua vida, ele mudaria essa
teoria. Talvez ele até mesmo caçasse o bom e velho Ray.
No entanto, mesmo agora com seu cérebro uma folha em branco,
não havia dúvidas de que ele mataria por Josie. Ele se inclinou para
frente, lotando a cama com sua massa. “Mas se você chegar perto de
minha esposa de novo, se eu sequer te ver na mesma vizinhança...”
Ray levantou as mãos machucadas, as palmas para fora. “Eu
entendi, cara. Eu entendi.”

Capítulo 8

Josie forçou um sorriso educado no rosto, deixando o cheiro de


jasmim suave de seu escritório acalmá-la. Ela tinha passado a noite na
casa de Tom, e ele a havia trazido para o trabalho de manhã depois que
ela mais uma vez recusara a oferta de fugir da cidade. De jeito nenhum
ela abandonaria esta vida que tinha construído nos últimos dois anos.
Além disso, ela precisava descobrir a discrepância em suas contas.
Números e ordem fazerem sentido. Quando Shane tinha partido, seu
trabalho tinha lhe dado uma razão para sair da cama — e não havia
nada que ela gostasse mais do que resolver um bom quebra-cabeça.
Não havia dúvida de que ela estivera distraída nos últimos meses desde
que enviara os papéis do divórcio para Shane. Se ela tivesse cometido
um erro com a matemática, ela não sabia o que faria.
Ela acompanhou seu cliente, o CEO da Trenton Industries, até a
porta do seu escritório, apertando sua mão novamente. A empresa
construía unidades flash USB e era um grande sucesso nisso.
Oitenta anos de idade Joe Trenton deu um tapinha em seu ombro.
“O golfe me espera, minha querida. Excelente trabalho sobre a
auditoria.”
Sim, ela tinha passado horas trabalhando em seus livros. O sorriso
profissional de Josie relaxou em um sorriso natural. “Boa sorte hoje, Sr.
Trenton.”
“A mágica está toda no balanço, Josie. Toda no balanço.” O
homem quase saltitava pelo corredor em direção ao elevador.
Ter essa quantidade de energia tão tarde na vida teria que ser
uma verdadeira bênção. Ela manteve o sorriso no lugar até que a porta
do elevador se fechou para levar o idoso gênio da tecnologia para longe.
De olho no relógio, ela abriu o arquivo da Larson Corporation, um
nome fantasia para uma loja de conveniência local. Seus dedos
dançavam sobre a calculadora, e ela franziu a testa. A receita era
exatamente de treze mil dólares fora. Agora esse era mesmo um
número de azar.
Ela somou novamente.
Sim. Parecia que a loja tinha feito treze mil dólares a mais do que
as contas a pagar mostravam... Mas não havia nenhum dinheiro
sobrando. Então era um erro com as receitas, ou haveria falta de
dinheiro?
Seu calendário apitou de seu computador.
Hora de ir. Ela pegou o arquivo azul fora de sua mesa e se
apressou para o escritório de canto de seu chefe para sua reunião
regular toda segunda-feira de manhã. Eli Johnston estava esperando por
ela atrás de sua enorme mesa de madeira de cerejeira, a gravata de
cerca de 1980 já torta. Ele apontou para o assento vazio.
Ela se sentou e seu coração afundou com o grande homem
enchendo o outro assento. Descobrindo que sua principal concorrência
para a promoção estaria lá. Exatamente o que ela precisava. “Olá,
Daniel.”
Daniel Mission acenou, empurrando os óculos de grife acima do
nariz. Como sempre, ele parecia no controle e sereno, seu terno Armani
adaptado perfeitamente ao seu corpo duro. Um corpo conquistado
jogando basquete e malhando no ginásio do edifício.
“Como está Trenton?” Johnston inclinou sua massa impressionante
contra a cadeira. Cerca de cinquenta com um desbaste rápido dos
cabelos grisalhos, ele a fazia lembrar de um pit bull.
“Ótimo. A auditoria foi fantástica, todos os patos nadando em uma
fileira.” Eles converteriam as notas para a IRS 8 e Trenton teria mais um
ano bom. Por que diabos Daniel estava presente para a reunião? Era
suposto ser estritamente de rotina.
“Bom. Bom.” Os olhos redondos de Johnston se estreitaram. “Há
rumores de que você passou o fim de semana na delegacia depois de
dois homens morrerem em sua casa.”
Fale sobre sem meias-palavras. “Os rumores são corretos.” Ela
tinha se casado com um soldado, um assassino. Um que aparentemente
vinha espionando-a há algum tempo. Embaraço em sua própria
estupidez aqueceu seu rosto. Seu sorriso vacilou, e ela olhou para
Daniel.
8
Internal Revenue Service – Receita Federal
Ele deu de ombros, os olhos castanhos não revelando nada.
“Temos problemas de relações públicas suficientes no momento. Manter
segredos é sempre uma má ideia.”
Daniel jogava basquete com Tom, e os dois homens pareciam se
dar bem. Infelizmente, Daniel e ela estavam abertos para a posição de
vice-presidente para a filial, e Daniel não tinha aparentemente nenhum
problema em jogar sujo. Ele certamente tinha conseguido a notícia de
Tom.
Johnston limpou a garganta. “Apenas mantenha isso fora do
negócio, Josie. Você sabe que não podemos lidar com mais nenhuma má
imprensa.”
Sim, sobre isso. Ela tocou o arquivo. “Eu ainda estou fazendo
pesquisas, mas acho que há uma discrepância com a conta Larson
Corporation, além de um par de outras contas.”
Johnston franziu o cenho. “Que outras contas?”
“Davis Bakery, Agers Hardware, e a Hall Funeral Home.”
As narinas de seu chefe chamejaram. “OK. Quais são as
diferenças?”
Josie deu de ombros. “Não tenho certeza. Os ativos não estavam
alinhados com renda declarada. Meu palpite é que Billy acabou perdendo
o controle da matemática. É provavelmente algo simples. Eu encontrei
um lugar no arquivo Hall que relatava uma venda fixa onde era na
verdade distribuída por vários meses. Fácil de corrigir.” Ela abriu o
arquivo. “Eu gostaria que Billy tivesse deixado algumas anotações suas
ao lidar com eles. Tenho certeza de que tudo vai fazer sentido.” Billy
tinha sido seu contador e principal contato com a loja especializada até o
mês anterior — embora ela o estivesse ajudando.
Daniel se inclinou para frente. “Se os arquivos são demais para
você, eu posso verificá-los. Você está passando por um momento difícil,
pessoalmente, no momento.”
Josie engoliu uma réplica. O homem era muito bonito e charmoso.
Os clientes o amavam. Ela nem tanto. “Obrigada, mas isso é comigo.”
Daniel deu de ombros. “Eu já acabei com os arquivos que eu
trouxe de Salt Lake e posso assumir mais, se necessário.”
Josie forçou um sorriso calmo. O contador não tinha escondido o
motivo de sua transferência três meses atrás — ele queria o cargo de
vice-presidente. “Meus arquivos estão cobertos. Embora você possa
sempre buscar novos clientes na área.”
Um sorriso lento inclinou seus lábios. “Eu acabei de assinar com o
Snowville School District. Então, sim, boa ideia. “
Maldito seja. Este era um grande cliente. Ela forçou uma risada.
“Fantástico. Parabéns.”
Johnston olhou para o relógio. “Billy deve sair da reabilitação em
mais um mês. Talvez. Eu ouvi que a metanfetamina é quase impossível
de vencer. Ele pode ter que ficar mais tempo.” Sua mão carnuda se
fechou em um punho sobre a mesa. “É por isso que não precisamos de
mais nenhuma má publicidade, Sra. Dean.”
Provavelmente era verdade. O colapso de Billy os havia colocado
em uma luz ruim com vários clientes de grande porte. Ele tinha perdido
deduções. Errado em adições. E até mesmo colocado um cliente em
apuros com a Receita Federal. Josie só conhecia Billy profissionalmente,
mas o cara sempre tinha sido cheio de energia.
“Eu odeio perguntar isso desde que Billy é meu amigo, mas
considerando seu problema com drogas, você acha que ele estava
desfalcando?” Daniel perguntou.
Josie estudou o bom triturador de números. “Você é amigo de
Billy?”
“Sim. Nós trabalhamos juntos, principalmente via Internet e
Skype, por cerca de cinco anos.” Daniel inclinou a cabeça. “Desfalque?”
“Talvez, e eu sempre olho por isso. Mas acho que até agora tem
sido uma questão de erros simples. Erros que precisamos corrigir antes
da temporada fiscal.” Ela tinha visto o que as drogas podiam fazer com
as pessoas e percebido que Billy tinha acabado fazendo um péssimo
trabalho. Com tempo e dedicação suficiente, ela poderia colocar os
arquivos de volta em ordem sem que haja problemas com a Receita.
“Não se preocupe — eu vou verificar tudo.”
“Eu poderia assumir os arquivos, se você quiser,” Johnston
ofereceu.
“Não.” Josie sacudiu a cabeça. Chega com todos os homens da
sua vida tentando aliviar seu caminho. As tentativas sempre saíam pela
culatra. “Agradeço a oferta, mas tenho que assumir os clientes de Billy
até que ele volte.” Se ele voltasse. E se ela tivesse cometido o erro,
enquanto estava aprendendo o arquivo, ela os corrigiria. Se Billy tivesse
cometido o erro, por causa das drogas, ela os corrigiria. “Não se
preocupe. Eu dou conta disso.”
Johnston deu de ombros. “Justo. Apenas me mantenha informado.
Como eu disse, nós não precisamos de mais publicidade ruim.”
Josie assentiu, levantou e foi para a porta. “É claro.” Pobre Billy.
Crescendo em um orfanato, ela tinha feito amizade com muitas crianças
perdidas que tinham lidado com a vida tomando drogas. Tinham lhe
oferecido maconha aos dez anos de idade, metanfetamina aos doze, e
cocaína aos quinze. Mas ela sempre soube que havia um caminho fora
do sistema, e que tomar drogas ia mantê-la lá dentro. Era um tiro
certeiro de um orfanato para um reformatório e para a cadeia. Então,
ela sempre tinha dito não às drogas. Infelizmente, sua melhor amiga
tinha dito sim à cocaína e tinha morrido de overdose. Josie precisava ir
logo visitá-la no cemitério local.
Drogas matavam.
Por hora, ela tinha que se concentrar no presente e não no
passado. Essa confusão atual com Shane poderia lhe custar a promoção
que ela desejava.
Um carpete industrial azul marinho amortecia seus passos
enquanto ela atravessava o corredor tranquilo para o principal centro do
andar. Várias secretárias ocupadas digitavam à distância em fileiras de
cubículos que preenchiam o espaço do centro enquanto telefones
tocavam e impressoras trabalhavam. Um trinado de riso se enroscou
entre o ranger de cadeiras de mesa. O aroma de perfume floral e café
de baunilha perfumava o ar.
Ela chegou a seu escritório, se apressando para dentro e fechando
a porta para manter o ruído fora. Ela não tinha tempo para mexer em
nada — agora ela precisava ir em busca de um monte de novos clientes
para competir com o cretino Daniel.
Correndo para sua mesa, ela olhou para a agenda de
compromissos.
“Olá, anjo.” A pesada porta de carvalho chiou fechada atrás dela,
a trava se encaixando com um clique.
Ela congelou. Em câmera lenta, ela se virou. Os arquivos
tremendo em suas mãos.
“Sente-se.” Shane estava recostado contra a parede. Ele inclinou a
cabeça em direção a uma cadeira de couro para convidados. Ela tinha
escolhido aquele castanho claro cuidadosamente para combinar com as
cadeiras que seu pai adotivo Arthur tinha em seu escritório, tantos anos
atrás. Elegante e luxuosa.
O telefone. Ela poderia chegar até ele, ou ela poderia gritar. Mas
se ela gritasse, quem viria correndo? Sua secretária, Vicki? Vicki não
podia lidar com Shane. Merda. Provavelmente ela daria uma boa olhada
no soldado e rasgaria as roupas.
“Agora.” Ele usava uma camisa preta limpa e jeans novo, botas
boas de chutar-traseiros cobriam seu tamanho quarenta e quatro.
“Belas botas.” Ela jogou o arquivo sobre a mesa e deslizou em
uma cadeira. Ela usava saltos de sete centímetros em seus pés; eles
podiam causar uma séria dor, se necessário.
“Acontece que eu tinha dinheiro escondido no bangalô. Fui fazer
compras mais cedo.” Ele veio para frente e caiu na cadeira
correspondente, girando a cadeira dela para encará-lo. Ambas as pernas
esticadas em cada lado, prendendo-a. “Sentiu minha falta?”
“Não.” Ela endireitou as costas com um estalo afiado. Então, ele
admitia que estava espreitando-a a partir do bangalô. Isso era um bom
ou mal sinal? De qualquer maneira, seu peito doeu. “Como está a
cabeça?” Uma nova contusão cobria sua têmpora esquerda. Do pé dela.
O sorriso que ela deu nunca lhe pareceu mais maldoso.
“Excelente chute, anjo.” Ele se inclinou para frente, as mãos
apertando seus joelhos acima da saia, o cheiro de cedro aquecido
lavando sobre ela. “Eu te ensinei bem.” Ele usava o rosto de soldado
hoje, nenhuma expressão se mostrava. Mas aqueles olhos. Escuros,
cinzentos, e rodando com emoção. Ele normalmente encobria, melhor.
Seu abdômen começou a cantarolar... Em advertência e algo mais
escuro. Um desejo feminino para que ele explicasse tudo — para que ele
dissesse que aquilo era real. Mas a única coisa real era o desejo que eles
tinham sentido. Ainda sentiam. “Não me faça chutá-lo de novo.”
Um sorriso deslizou lento e seguro em seu rosto. Perigoso. “Ah,
querida, eu adoraria que você tentasse de novo.” As mãos mergulharam
debaixo de sua saia, empurrando a seda para cima, as palmas
aquecendo suas coxas. “Algo me ocorreu ontem à noite.”
Desejo a percorreu com lembranças do que aquelas mãos podiam
fazer. Mesmo mentindo para ela, ele explodia seu mundo. Ela agarrou
suas mãos, interrompendo sua viagem. Muito perto de onde seu corpo
estava começando a doer. O homem conhecia seu corpo e exatamente
como jogar com ela. O pensamento lhe trouxe mal-estar e a intrigou. “E
o que foi?” Sua voz saiu rouca.
“Eu tenho sido muito fácil com você.” Ele virou uma mão,
facilmente prendendo as dela. “Tratando-a com luvas de pelica,
mantendo-a fora da minha vida.”
Ela franziu a testa, as pálpebras baixando. “Você se lembrou.”
“Não.” Ele suspirou, a mão livre curvando-se para o lado de sua
coxa e indo em direção a seu quadril. “Estive pensando sobre o que você
disse. O que você foi capaz de fazer chutando minha cara.” Ele traçou
um caminho sobre sua coxa em direção a seu centro, o olhar caindo
para seus seios. “Deixe-me sentir você, Josie.” Três dedos pressionaram
contra o lado de fora de sua calcinha. “Só uma vez. Antes de tudo ir à
merda. Abra-se para mim, bebê.”
Choques elétricos cascateavam fora daqueles dedos. Lava
derretida. Fogo chicoteou através dela até que ela inclinou contra sua
mão. Ela conhecia o prazer que ele podia lhe dar. Mesmo com a dor que
se seguiria, aquele prazer era tão sedutor. Poder se perder assim
novamente. Às vezes, para sentir aquele fogo, você tem que se queimar.
Ela engoliu em seco. Eles estavam em seu escritório, pelo amor de Deus.
A tentação a fez recuperar o fôlego. Tanta tentação.
Tão errado.
Desta vez, o fogo poderia consumi-la. Ela simplesmente sabia
disso. Então, ela puxou os pulsos livres, fugindo para trás e alisando a
saia. “Mantenha suas mãos longe de mim.”
Shane se recostou, desejo lavando vermelho através das maçãs
salientes de seu rosto. “Nunca.”
“Pare com isso, Shane.” Ela apertou sua jaqueta fechada sobre os
seios palpitantes. Seios necessitados. Havia algo seriamente errado com
ela. “A polícia está te procurando. De jeito nenhum você conseguir me
tirar deste edifício.”
Seu lábio se curvou. “Você acha que estou aqui para levá-la?”
Bem, sim. Seu rosto aqueceu. É claro que ele estava lá por causa
dela. O homem a queria, não queria? Temperamento ergueu sua
cabeça. “Eu suponho que a maioria dos assediadores tentam levar sua
presa em algum ponto.”
Seus dentes brilharam em um sorriso. “Você é minha presa
agora?”
Oh, a maioria dos assassinos na televisão tinha charme, também.
“Você está me vigiando. Me perseguindo. Algumas daquelas fotos no seu
bangalô são de três anos e meio.” Sua voz se elevou no final.
“Fale baixo.” Ele coçou o queixo. “Eu não posso explicar as fotos
agora. Não há nenhuma razão lógica para eu ter te espreitado, e você
sabe disso. Eu tinha você.” Seus olhos aqueceram. “Eu vou te ter de
novo.”
Calor encheu seu corpo, enquanto confusão enchia sua mente. Ele
estava jogando com ela, droga. E como qualquer vítima, ela estava
permitindo. “Então, de onde as fotos vêm?”
“Eu vou descobrir, embora meu melhor palpite é que eu estava te
observando para mantê-la segura, se alguém está atrás de você.” Ele se
inclinou para frente, o restolho áspero em sua mandíbula fazendo-o
parecer mais do que nunca como um pirata em busca de saque. “Agora
você precisa confiar em si mesma, Josie. Acredite em seus instintos, em
tudo o que te fez confiar em mim em primeiro lugar. Dê-me uma chance
de descobrir isso, anjo.” Seus olhos suavizaram com a súplica.
“Nem uma maldita chance.” As palavras saíram mais fracas do que
ela pretendia. Tom estaria certo? Teria ela sido pega em algum vórtice
abusivo onde ela continuava a confiar quando deveria apenas fugir?
“Somos uma família, anjo. Temos sido desde que dissemos nossos
votos.” Shane olhou para sua mão sem o anel.
“Direto na jugular, huh?” Típico de Shane cortar direto em seu
coração. No coração de uma criança criada em um orfanato que tinha
rezado por uma família. Mas ela tinha desenvolvido excelentes instintos
nesse sistema, e tinha se casou com o homem com os olhos bem
abertos. Então isso só poderia significar que ele era melhor do que a
maioria dos predadores — muito melhor. Ela nunca tinha visto ele
chegar até que fosse tarde demais. Agora era a hora de ser inteligente.
“Eu não vou embora com você.”
“Eu sei.”
Sua aceitação fácil a incomodou mais do que deveria. Ela mordeu
o lábio. “Por que você está aqui?”
“Havia sete grampos plantados em sua casa, anjo.”
Mas que completo idiota. “Você plantou sete grampos?”
“Não. Três combinavam com meu equipamento no bangalô.” Seu
olhar permaneceu firme e atento sobre ela.
Ela franziu a testa. “Eu não entendo.”
“Alguém plantou os outros quatro — o que faz a minha teoria de
que eu estava te vigiando mais credível. Talvez eu estivesse tentando
descobrir quem tinha grampeado sua casa.”
Pânico teve sua mente zunindo. “Quem está atrás de você?” Ela
não via o homem há dois anos. Quem teria o trabalho de grampear sua
casa na chance de que ele aparecesse depois de tanto tempo? Ou
estaria ela em algum tipo de problema? Ninguém estava atrás dela,
embora. Ela era uma contadora, pelo amor de Deus. “Bem, pelo menos
sabemos como esses homens sabiam onde lançar a granada.” Ela
mordeu o lábio, contorcendo-se na cadeira. “Havia algum grampo no
banheiro?”
Shane soltou uma gargalhada. “Não. Nada no banheiro.” Ele
esticou o pescoço. “Embora eu acho que esses caras estavam atrás de
mim, precisamos ter certeza de que eles não estavam atrás de você. Há
alguém que poderia querer machucá-la?”
“Além de você?” ela sussurrou.
Seus olhos escureceram. “Eu sou um idiota, eu sei. Mas eu
arrancaria meu próprio braço antes de feri-la.”
Ele simplesmente não entendia. Ela balançou a cabeça. “Ninguém
quer me machucar.”
“Está tudo bem no trabalho?”
“Sim.” Ela se inclinou para trás, cutucando em um fiapo em sua
saia. “Eu tenho algumas contas que não estão batendo, mas eles eram
os arquivos de um viciado em drogas, e ele está em reabilitação agora.”
Shane se inclinou para frente. “Que tipo de contas? Algo que as
pessoas gostariam de esconder?”
“Não.” Ela apertou os lábios em pensamento. “Nada ilegal ou
perigoso. Se alguma coisa, eles têm uma boa reclamação contra a
empresa pelo dinheiro. A maioria das pessoas só querem dinheiro.” Ela
descobriria onde Billy tinha errado, e talvez quando ele voltasse da
reabilitação, ela poderia ajudá-lo a se reerguer.
Shane assentiu. “Quem é o viciado?”
“Bill Johnson — ele foi contador por cerca de vinte anos. Parecia
ser um cara decente.”
“Então você não o conhece bem?”
Josie revirou os olhos. “Não, eu só o conheço profissionalmente.
Eu nem sabia que ele tinha problema com drogas até que ele foi
internado no hospital, e me atribuíram seus arquivos.”
Shane assentiu lentamente. “Devemos checá-lo, apenas no caso.
Por agora, eu falei com o homem que sobreviveu à invasão em sua casa.
Alguém chamado Denny o contratou, mas ele não sabia por quê. Eles
deveriam nos matar.”
Pavor bateu em seu estômago. Matar? Ela estreitou os olhos. “A
polícia deixou você falar com o cara no hospital?”
“Não exatamente.”
Medo. Ele vibrava em sua cabeça até que seus ouvidos
badalavam. “Você o matou?”
“Não.” Shane olhou direto em seus olhos.
Ele estava mentindo? Ela não tinha nenhuma pista.
Sua mente voltou para o dia do casamento, e como ele olhou
direto em seus olhos enquanto dizia os votos. Aquele momento tinha
sido o mais feliz em toda sua vida. Como ela podia estar apaixonada por
um homem que ela não conseguia ler? Ele era um mentiroso
consumado... E ainda assim ela queria confiar nele. Mas ela não o faria,
e o desejo de fazê-lo a irritava. Sua cabeça começou a doer. Ela olhou
para o relógio. “Bem, obrigada pela atualização.”
“Eu disse que não a forçaria a vir comigo hoje, mas eu gostaria
que você viesse comigo voluntariamente. Para algum lugar seguro até
que eu possa descobrir o que está acontecendo aqui. Até eu me
lembrar.”
“Não.” Curiosidade a teve inclinando a cabeça. Teria ele dito a
verdade? Ele tentaria forçá-la? Ela queria que ele o fizesse?
Ele suspirou. “No momento você está razoavelmente segura no
Marsh. Posso manter a vigilância periodicamente, mas preciso fazer
alguma pesquisas.” Ele se levantou e perambulou para a porta. “Faça-
me um favor, sim? Ligue para o Detetive Malloy por uma atualização e
veja se ele descobriu alguma coisa sobre mim. Sobre meu passado.”
“Vou ligar para ele depois do almoço.”
“Agora... Por favor, Josie,”
Ela revirou os olhos e deu um soco no número.
“Malloy.”
Ela limpou as mãos suadas na saia. “Detetive. É Josie Dean
pedindo uma atualização.”
“Ah, sim. Bem, Sra. Dean, posso te dizer que o exército está
bastante silencioso sobre seu marido. Arquivos selados. Quatro anos de
serviço. Mas tem uma coisa entre interessante...”
Ela levantou o olhar para Shane. “E o que é, detetive?”
“Sua unidade trabalhava dentro dos Estados Unidos. Quando você
disse que ele estava fora do país, bem, ele não estava.”
Ela franziu a testa. “É claro que ele estava. Enquanto estávamos
casados, ele deixava o país o tempo todo.”
“Não de acordo com meu amigo, a única pessoa que tem me dito
alguma coisa. Aparentemente, seu marido trabalhava exclusivamente
dentro de nossas fronteiras. Eles nem sequer me disseram o que é que
ele fazia. Ele mentiu para você.”
“Entendo.” A notícia não deveria surpreendê-la. Também não
deveria doer. Porém, seu estômago doía. “Alguma ideia de onde ele
está?” Ela olhou para o homem quieto perto da porta. Uma palavra dela
e Malloy saberia exatamente onde o bastardo mentiroso estava.
“Não. Meu palpite é que ele se mandou.” Um farfalhar de papéis
ecoou através da linha.
Josie suspirou. “Você não acredita nisso.”
Malloy tossiu. “Não, eu acho que não. Ele teve um monte de
trabalho para rastreá-la e grampear sua casa, Sra. Dean. Ele está aqui
por você. Duvido que ele vai desistir tão facilmente.” Mais papéis
farfalharam. “Eu posso colocá-la em algum lugar seguro, se você me
deixar.”
Temor se reuniu em seu abdômen. O que ela deveria fazer?
“Obrigada, Detetive. Eu posso cuidar de mim mesma. Por favor, ligue-
me com todas as atualizações.” Ela fechou o telefone, focada em seu
marido. “Você é um mentiroso.”
Ele arqueou uma sobrancelha.
“Você nunca deixou o país. Não houve missões no exterior.
Apenas aqui.”
“Você tem certeza?”
Josie deu de ombros. “Malloy está certo.” Raiva aumentou seus
batimentos cardíacos. Sobre o que mais Shane tinha mentido?
“Vou ter que verificar isso — embora eu esteja começando a me
lembrar de missões fora do país.” Ele abriu a porta.
“Talvez você não trabalhava apenas para nosso exército.” ele
poderia ser algum tipo de espião? Seu estômago revirou.
Ele endureceu. “Talvez.”
Deus. Quem era este homem?
“Não vá a nenhum lugar sozinha, anjo. Mantenha-se em um grupo
e fique segura.”
Ela estava segura, enquanto ele estivesse fora de sua vida. Ambos
sabiam disso. Agora, se seu corpo e coração pudessem entender o
recado. Ela deveria ter dito a Malloy a verdade. Mas e se ele estivesse
errado? Os militares mantinham segredos, certo? Não havia dúvidas de
que Shane era um soldado. Mas ele manteve segredos também. Famílias
jamais poderiam sobreviver a segredos, até onde ela sabia.
“Adeus, Shane.”

Capítulo 9

Josie agarrou o buquê de flores ao peito, o doce aroma de rosas


agitando seu estômago. Ela se recostou no banco da frente do Chevy de
Tom, seu olhar no anoitecer chuvoso lá fora. “Obrigada pela condução.”
Tom assentiu, sua concentração na estrada molhada. “Sem
problema. Não há razão para trabalhar até tarde esta noite, de qualquer
maneira. “
Talvez ela devesse dizer a Tom que Shane tinha ido ao escritório.
Mas para que preocupar seu amigo? Ótimo. Agora ela estava mentindo e
escondendo fatos das pessoas a fim de proteger o marido assassino. Sua
vida se tornara um filme. E não um bom. “Nenhum trabalho, huh?”
Tom fez uma careta e encolheu os ombros cobertos com a camisa
de flanela. “Não muito. E é estranho estar sozinho agora. Quer dizer, eu
tinha uma empresa com seis pessoas lá no Texas. Quando eu caí, eu
pensei que iria acabar contratando pessoas aqui quando o negócio
decolasse. Até agora, está só comigo.”
“O negócio de construção está pegando, finalmente.” Ela forçou
seus problemas para o fundo de sua cabeça. “Certo?”
“Sim.” Tom lhe lançou um sorriso pateta, bom-humor se
estabelecendo mais uma vez em seu rosto atraente. Seu cabelo
despenteado o tornava ainda mais juvenilmente bonito. “Ainda assim, eu
gostaria que você pudesse ter visto nossos escritórios e minha empresa
quando as coisas estavam boas. Eu era um bom partido.” Ele bufou,
voltando-se para a estrada.
“Você ainda é um bom partido.” E ele era. Boa aparência,
inteligente, trabalhador, e ainda melhor, ele a fazia rir. No início, a
incomodava que ele fosse um par de anos mais jovem, mas agora ela
geralmente esquecia a diferença de idade.
“Você acha que eu poderia ganhá-la?” Ele parou de sorrir e sua
voz se aprofundou, mas ele continuou olhando para frente.
Ela endureceu. “Eu, ah, eu acho que você é grande.”
Os ombros dele sacudiram, e então ele jogou a cabeça para trás e
riu, profundo e alto.
Incapaz de se conter, ela se juntou a ele. “Quero dizer, eu...” Ela
ofegou, tentando falar. Seus ombros tremiam enquanto ela ria, tensão
escapando pela primeira vez em dias.
Tom limpou o canto do olho. “Sim, ok. Você descobre o negócio
com seu futuro ex, e então eu vou fazer minha jogada.” Ele riu
novamente e depois ficou sério. “Mas, falando sério, se você estiver em
perigo, eu vou balançar o martelo. Eu posso te manter segura.”
Era seu tamanho menor que tinha os homens lhe assegurando que
a manteriam segura? Ela estivera sozinha toda a sua vida, e ainda ali
estava ela. Perfeitamente capaz de manter-se segura. Mesmo com
medo, ela podia pensar e planejar. “Obrigada.”
Tom assentiu. “Você e Daniel ainda brigam?”
Josie endureceu. “Nós estamos competindo pela mesma
promoção. Além disso, o cara é um idiota.” Um idiota condescendente.
Culpa encolheu seus ombros. “Sinto muito. Sei que você são amigos.”
Tom deu de ombros. “Vocês dois iam gostar um do outro, se a
situação fosse diferente.”
“Improvável.” Os faróis do carro brilharam nos pilares de pedra
que ladeavam a entrada do cemitério. “Vire à direita, uma vez dentro
dos portões.” Ela odiava ter que pedir Tom um favor tão pessoal,
especialmente desde que Shane provavelmente o queria morto. Mas
sem seu carro, ela precisava de uma carona até o cemitério para visitar
Mona no aniversário de sua morte. Ela não tinha conseguido estar lá
para sua amiga em vida... Ela não ia faltar na morte de Mona, também.
Tom manobrou o caminhão através da entrada, curvando ao longo
da estrada bem cuidada. “Tudo bem. Quem estamos visitando?” Ele
olhou para a folhagem coberta de mato.
O papel em torno das flores ondulando enquanto seu aperto
aumentava. “Uma amiga chamada Mona Wilson. Nós ficávamos em um
orfanato na Califórnia juntas.” O tempo raramente curava todas as
feridas.
“Quando ela morreu?” Tom seguiu pela estrada, galhos crescidos
raspando na cabine do caminhão.
“Quando tinha dezessete anos.” Josie apontou para uma
bifurcação na estrada. “Vá para a esquerda.”
Tom assentiu, manobrando o caminhão ao longo de vários
buracos. “Como?”
Drogas. Eles a mataram. “Quando tínhamos dezesseis anos, ela foi
enviada para cá para Northridge, que é um centro de reabilitação de
drogas que recebe crianças indigentes, como também pessoas que
podem pagar. Depois de um ano, ela saiu e foi colocada no sistema de
adoção aqui. Ela voltou às drogas e teve uma overdose.” Mona tinha
ficado no mesmo centro de reabilitação de drogas que Billy estava agora
porque supostamente era o melhor do Noroeste. Esperançosamente Billy
teria sucesso e venceria as drogas.
Tom parou o caminhão quando uma parede de pedra acabou com
a estrada. “Foi por causa de Mona que você se mudou para Snowville?”
Josie deu de ombros. “Talvez parte disso.” Todos devem ter flores
colocadas em sua sepultura, em seu aniversário de morte. “Você acha
que nossas infâncias criam nossa maturidade?”
“Com certeza. Cem por cento... Quem fomos como crianças nos
molda como adultos.” O rosto de Tom segurava uma nova seriedade.
Josie assentiu. Ela esteve sozinha quando criança, e talvez essa
fosse a única maneira que ela sabia viver. Seus ombros caíram com o
pensamento. Ela abriu a porta e deslizou para o chão. “Eu volto em um
minuto.” Silenciosamente fechando a porta, ela passou por cima de uma
poça de lama e sobre a grama.
Curvando em torno de várias lápides, ela chegou na de Mona.
Chuva descia, emplastando seu cabelo no pescoço. “Oi, Mona.”
Gentilmente, ela se inclinou e colocou as flores ao lado da lápide
resistente. “Eu trouxe rosas vermelhas dessa vez. Algo para iluminar o
dia.”
Memórias da morena alta e curvilínea lavaram por sua mente. Ela
e Mona tinham vivido juntos em um pequeno apartamento pertencente
a uma senhora chamada Judy, que trabalhava em dois empregos. Judy
era boa, mas raramente estava por perto. Josie tinha perdido Arthur e
Claire, e Mona tinha tentado animá-la. Mas Mona já era viciada em crack
naquele tempo, e depois de três meses tinha sido enviada para
Northridge. Mesmo assim, durante o breve tempo juntas, elas tinham se
ligado como aspirantes a irmãs. “Eu sinto sua falta.”
O vento aumentou, espalhando agulhas de pinheiro através das
rosas. Josie as limpou. “Eu tenho outro amigo que está tendo problema
com drogas. Não se preocupe, eu vou ajudá-lo.” Como ela deveria ter
ajudado Mona. De alguma forma. Ela limpou a garganta. “Estou
realmente assustada, Mona.” Dizer as palavras fez a realidade ainda
mais gritante. Enquanto ela não podia admitir a verdade para todos os
homens durões que queriam protegê-la, aqui ela estaria segura. “Eu não
tenho certeza em quem confiar. Ou quem está atrás de mim. Ou Shane.
É tão confuso — tão aterrorizante.”
A pequena lápide a olhou de volta silenciosamente.
Josie tremeu na chuva. Fazer Tom esperar no caminhão
provavelmente não era legal. Além disso, ela precisava resolver sua vida
lá fora. “Eu não tenho certeza de onde você está, ou se você pode me
ouvir. Mas se puder, você vai, não é? Eu poderia usar toda a ajuda que
posso conseguir. Especialmente com o homem que posso confiar. Tom é
seguro e confia em mim, mas eu estou colocando-o em perigo. Shane,
bem...”
Ela não conseguia encontrar as palavras certas. “Você conhece
Shane, se está me assistindo. E... Diga oi para Claire por mim. Quero
dizer, se o céu funciona assim. Eu voltarei.” Girando na grama úmida,
ela se empurrou através da chuva.
Alcançando o caminhão, ela subiu no calor e segurança, onde o
aroma limpo do sabonete irlandês de Tom a acalmou. Ela lhe deu um
sorriso. “Eu vou escolher o filme esta noite.”
*****

Shane se estabeleceram no saco de dormir curvado perto do


espesso toldo de ramos de pinheiro. A lua filtrava através de um
punhado de nuvens. A vida selvagem sussurrava ao redor dele. Nada na
floresta era tão perigoso quanto ele. Ele sabia a verdade em seus ossos,
mesmo que seu cérebro não tivesse retrocedido ainda.
Desde que despertara, ele queria suas memórias de volta. Agora,
ele não tinha certeza. As novas, da bela Josie e seu espírito forte...
Aquelas eram boas e certas. Mas e se suas memórias provassem que ele
a havia usado? E se o velho ele não a amasse? Uma vez que o novo
Shane o fazia. Essa batida em seu peito tinha que significar algo real —
mesmo se fosse novo.
Ele tinha socado seus sentidos extras pelo momento. Ouvir
buzinas a milhas de distância era simplesmente irritante. Ele olhou para
casa tranquila do Marsh. Josie tinha ido para a cama meia hora antes.
Sozinha. Segura pelo momento. Embora ele provavelmente deveria tirá-
la da cidade. Se ele achasse que estariam seguros, ele seguiria em
frente e começaria de novo com ela. Mas quem estava atrás dele ia
continuar. A única maneira de lutar de volta era se lembrar deles, mas
isso poderia levar à perda de Josie. Ele queria um pouco de tempo com
ela antes do mundo desabar. Ele precisava lhe mostrar o lado bom dele
— mesmo que fosse novo e temporário. Apenas o pensamento dela
apertou sua virilha. Fez seu coração bater mais rápido.
Não tinha havido tempo para dormir desde que tinha sido ferido, e
apesar de suas preocupações, seus olhos se fecharam, a mão na
coronha do revólver.
Seus sonhos flutuaram dentro e fora até que um entrou em foco.
Seu braço doía. Ele franziu a testa para o molde preto que cobria
seu pulso esquerdo. Seu pulso pequeno e infantil. Ele não podia ter mais
que nove anos. Talvez oito.
“Droga, Shane.”
De seu poleiro na cama, ele olhou para um menino, um menino
grande, elevando-se sobre ele. Constrangimento aqueceu seu rosto.
“Não foi minha culpa, Mattie.”
Os olhos cinzentos de Matt brilharam assim que outro menino de
cerca de dez anos apareceu, contornando as camas. “Ele quebrou o
braço?”
“Nathan, Shane quebrou o pulso. Lutando com Emery.” Matt caiu
sobre uma cama ao lado, uma das várias espalhadas dentro de uma sala
de paredes de blocos de concreto. Um quartel.
“Merda, Matt.” Nathan sentou ao lado de Matt, seu olhar cinza
sério sobre o molde. “O comandante sabe?”
“Sim.” Pavor deslizou pela espinha de Shane. O cheiro de poeira e
pinho de limpeza o fez morder de volta um espirro. “Ele sabe.” Ele olhou
para seus irmãos, armando os ombros. “Está tudo bem. A luta foi boa e
eu o feri, também. Eles não vão me levar embora.” Provavelmente. Ele
ia ficar dessa vez. A menos que se permitisse ferir novamente. “Sinto
muito.”
Seus irmãos trocaram um olhar.
“Precisamos de uma distração apenas no caso,” Nathan
murmurou.
“Já estou nisso.” Matt olhou para o relógio grande pendurado
sobre a porta. “Jory vai falhar o sistema de computador em cerca de
dois minutos.”
Shane relaxou os ombros. “Bom. Isso manterá o comandante
ocupado.”
“Dessa vez.” O rosto jovem de Matt endureceu. “Precisamos de
nosso próprio cronograma de treinamento.”
“Estamos treinando o tempo todo.” Shane balançou a cabeça. “Já
basta.”
“Você vai fazer aquilo que lhe dizem.” Os olhos de Nathan viraram
o cinza mais escuro que significava que ele estava prestes a bater em
alguém.
Shane olhou para seu irmão mais velho. “Você sempre fica do lado
de Matt.”
Nathan assentiu. “Sim. Porque se você se machucar...”
“Você desaparece,” Shane terminou calmamente. Pânico e medo
agarrando seu coração e doendo pior do que seu braço. “Você está
certo. Vou fazer melhor da próxima vez.”
De repente Shane arrancou acordado. O que diabos? Um quartel?
Quem era o comandante? Se aqueles eram seus irmãos, onde estavam?
Um farfalhar soou nos bosques tranquilos, e ele olhou para a
moita. Algum tipo de animal pequeno. Mas a floresta estava totalmente
quieta. O cabelo na parte de trás do seu pescoço subiu.
Deslizando fora do saco, ele calçou as botas e enfiou a arma na
cintura. Arrastando-se até a beirada das árvores onde a casa estava
silenciosa. Muito silenciosa. Uma sombra se moveu em direção a
garagem. Em seguida outra. Ele circulou ao redor, os olhos sobre os
alvos. Eles usaram sinais com as mãos — militares. Esses caras eram
mais bem treinados do que os outros.
Ele escutou. Ninguém mais. Uma equipe de dois. Aparentemente,
dois eram suficientes para Marsh e Josie. Isso é o que eles pensavam. A
ideia de alguém caçando sua esposa, seu intestino rolou. Ele parou, e
forçou toda a emoção para nada. Embora a capacidade de fazê-lo não
fosse normal, ele ia usar a habilidade para salvar Josie e questionar isso
mais tarde.
Tão quieto quanto a morte, ele se arrastou para frente. Saltou no
primeiro homem, visando um cotovelo logo abaixo do pescoço do cara.
O homem caiu no chão, inconsciente.
O outro se virou, puxando a arma do colete.
Shane chutou a mão do cara e a arma saiu voando. Então chutou
para o rosto e o soldado o bloqueou, saltando para frente e o
derrubando no chão. Juntos, eles bateram no concreto com um ruído
surdo. Pedregulhos cavaram em suas costas, dando a seus ombros um
ponto de apoio. Mal jogada. Ele rolou o atacante e disparou três socos
fortes em seu rosto, que bateu o soldado inconsciente.
Shane saltou de pé. Cara, ele nem sequer estava respirando
pesadamente. Na verdade, todo o seu corpo estava calmo e relaxado. O
que diabos estava errado com ele?
Agora provavelmente não era o momento para descobrir isso.
Jogando as armas dos homens na floresta, ele correu para bater
na porta da frente. Então tocou a campainha. Uma luz se acendeu, e
logo Marsh parou na entrada, nu da cintura para cima com uma
carranca irritada no rosto. Músculos forravam seu peito e abdominais. O
cara trabalhava — provavelmente praticava balançando marretas.
Josie desceu as escadas atapetadas usando uma camiseta
desbotada, os cabelos uma desordem selvagem. “Shane? Mas que
diabos?”
Ele se virou para Marsh. “Dois homens, mais para o lado da
garagem. Eles estão nocauteados, provavelmente por meia hora. Chame
a polícia.”
Marsh virou a cabeça para olhar ao redor de Shane. “Eu acho que
não, Major.” Ele puxou uma arma e encostou o cano no peito de Shane.
“De alguma maneira eu achei que você ia aparecer. A maioria dos
espreitadores fazem.”
Josie se apressou através do azulejos ásperos. “Tom! Abaixe a
arma.”
Shane ficou tenso, os músculos se aglomerando. Ela estava
ficando muito perto da arma. “Dê um passo atrás, anjo.”
Marsh ampliou sua postura. “Chame a polícia, Josie. Diga-lhes que
o major está aqui.”
Shane relaxou os ombros. “Pode chamar a polícia. Antes que os
homens acordem.”
Pálida, os lábios trêmulos, ela assentiu e correu por um corredor
forrado com placas de gesso para cumprir suas ordens.
Shane manteve seu olhar sobre o construtor, fazendo um
inventário da porta de entrada. As paredes estavam na maior parte
nuas, recém-pintadas. Uma aquarela de uma cena da floresta cobria a
parede mais distante. A armação daria uma excelente arma, caso ele
precisasse de uma. Ele se concentrou no exterior. Os homens lá fora
permaneciam em silêncio, a floresta estava em paz. Ele sorriu para
Marsh. “Você é um bom rapaz, Tom?”
“Sim.” Uma sobrancelha subiu. “Muito melhor do que você.”
Provavelmente. Shane concordou, olhando por trás de Marsh.
Rápido como um sussurro, ele se esquivou para frente, pegou a arma, e
enganchou uma perna em torno do joelho do homem. Eles caíram no
chão. Shane nivelou seu antebraço contra a traquéia de Marsh, cavando
os joelhos no azulejo, enquanto o homem lutava para respirar.
Finalmente, Marsh amoleceu.
Shane assobiou um suspiro. O cara tinha lutado mais do que ele
teria pensado. Ele se levantou, correndo pela casa na direção da
garagem. A porta estava à direita da geladeira, levando a um espaço
grande e bem-organizado. Ele pegou uma corda de esqui aquático da
parede oposta e pegou a saída exterior, rapidamente amarrando os
soldados inconscientes.
Ele deveria amarrar Tom? Ele queria. Provavelmente
desnecessário, embora. Ele reuniu um comprimento extra de corda e
voltou para a porta de entrada.
Sua esposa esperava, as pernas nuas separadas. Ele correu o
olhar por suas coxas lisas, barriga plana, e se focou na arma em suas
mãos. Seu anjo segurava a arma com confiança, destinando o barril
direto para seu peito.
“Solte a corda,” ela disse calmamente.

Capítulo 10

Shane soltou a corda, e passos medidos o levou para dentro da


casa. Próximo ao corpo de bruços de Tom.
“Afaste-se, Shane.” Josie manteve um aperto firme na arma. Para
uma coisinha minúscula, a mulher tinha pernas longas e sexy-como-o-
inferno. Merda. Ela era toda pernas. A camisa chegava no meio-das-
coxas, deixando muito para ser apreciado. Ela tinha pintado as unhas
dos pés com um bonito vermelho profundo. A cor da paixão.
“Eu gosto de seus dedos dos pés.”
Ela apertou os lábios enquanto alargava sua postura. “Eu não
quero atirar em você, mas eu vou.” Ela olhou para Tom antes de
levantar o olhar. “Ele vai ficar bem?”
“Sim.” Credo. Shane não ia prejudicar o cara tentando protegê-la.
Bem, não muito de qualquer maneira. “Nós precisamos ir, anjo. Dê-me a
arma.” Ele estendeu a mão e se aproximou dela.
“Se você alguma vez machucá-lo, eu nunca vou perdoá-lo.” Ela
deu um passo atrás, levantando o barril para seu rosto. “Vamos esperar
aqui pela polícia. Eu não te conheço. E nem confio em você.”
“Não posso culpá-la.” Esta era uma má ideia, mas ele não
conseguia pensar em outra maneira de mantê-la segura.
Ou talvez ele não quisesse outra maneira.
Ele deu outro passo, colocando-a a uma curta distância. Neste
ponto, ele não confiava em ninguém. Sua cabeça doía. Algo em seu
intestino revirou. Mesmo que ele fosse o cara mau, ele precisava mantê-
la segura. Isso tinha que torná-lo de certa forma um pouco bom, certo?
Ele sacudiu a cabeça. Provavelmente não. Com essa percepção,
ele se entregou ao inevitável. Nada o faria abandoná-la neste momento.
“Nós vamos sair daqui, Josie. Venha fácil ou difícil, mas nós vamos.”
Os braços dela tremiam. “Por favor, não me faça atirar em você.”
“Eu não vou.” Ele serpenteou a mão para fora, batendo a arma de
sua mão. A arma bateu contra a parede. Sirenes rugiram ao longe.
Pulando para frente, ele a agarrou pelos braços e abaixou um ombro,
subindo quando ela tombou.
“Ei!” ela gritou, chutando-o no estômago.
Dor ecoou em seu intestino. Ele passou um braço em torno de
suas coxas, virou e correu para a noite. Ela lutou, mas ele manobrou
entre as árvores e galhos. Então parou em sua cama improvisada e
pegou o saco de dormir com uma mão, não perdendo o passo.
Ela moveu o corpo inteiro enquanto sugava por ar e depois soltava
um berro estridente que silenciou a floresta.
Maldição do inferno. Ele girou em torno dela e a apertou contra
uma árvore, a mão cobrindo sua boca. Olhos azuis dispararam dardos
furiosos, então ele se aproximou. “Uma chance, anjo.” Veículos
guincharam em uma parada alta lá na casa. Ela mordeu sua palma.
“Josie.” Ele pressionou mais forte contra seu rosto. Ele se mataria se a
machucasse. “Precisamos sair daqui,” ele sussurrou enquanto fúria subia
dentro dele. “Você pode lidar comigo, ou eu vou levá-la inconsciente.
Mas de qualquer maneira, nós vamos.” Ele deixou cada onça de
determinação e ameaça vazar em seus olhos.
Um joelho disparou na direção de seus testículos. Oh não, dessa
vez, não. Ele deslizou a perna entre as dela, imobilizando-a. Se ela
precisava de uma competição de força para obedecê-lo, ela teria. Ele
pressionou a coxa vestida-com-o-jeans contra sua calcinha fina. “Você
tem certeza que quer lutar comigo?” Uma carranca estreitou os olhos
dela. “Eu não acho que você vai me nocautear.”
Seu coração parou. Não era o que ele estava esperando. Isso
significava que ela confiava nele? Em algum nível? “Você está errada.”
Ele flexionou os dedos. “Para te afastar do perigo, para levá-la para
segurança, eu vou fazer o que tiver que fazer.” Ele lutou para manter a
expressão em branco.
Ela sorriu. “Faça, então.” Ar encheu em seus pulmões, e ela abriu
a boca para gritar.
Ele esmagou os lábios nos dela. Capturando o grito em sua
garganta, dirigindo o ar de volta para dentro. Então sua língua tomou a
dela, dominando-a, tomando o que ele queria. Desejo acendeu como
fogo. Seu pênis saltou para vida, lutando contra o zíper para se libertar.
Para chegar nela. Agora.
Ele ia tê-la. Prová-la, domá-la, senti-la quebrar em seus braços.
Tomando o beijo mais profundamente, ele explorou, procurando
respostas e alívio. Alívio dessa necessidade primitiva por essa pequena
mulher que parecia um anjo e o transformava em um demônio. Lá no
fundo, se ele a tomasse, não importava o quê, mocinho ou bandido, ele
sabia que nunca mais a deixaria ir. De repente, ele não se importava
mais.
Gritos ecoaram lá na casa, arrancando-o de volta à realidade.
Perigo os rodeava.
Ele levantou a cabeça. “Não temos tempo para isso.” Um dedo
deslizou para um pequeno furo em sua camisa e ele puxou. Tecido
rasgou.
Ela franziu a testa. “Ei —”
Uma tira do algodão foi arrancado, e ele a virou, amarrando seus
pulsos juntos.
Seu pequeno corpo saltou ao redor. Ela atirou um pontapé visando
seu joelho. Ele rasgou outro pedaço da camisa para enfiar entre seus
dentes, amarrando o material irregular atrás de sua cabeça. Seus olhos
se arregalaram em surpresa, e depois fúria pura e crua.
Ele mergulhou e a jogou por cima do ombro. Ela chutou para fora.
Um “Oof” abafado escapou dele. A mulher tinha fibra. Ela chutou
novamente, e ele virou a cabeça, afundando os dentes em sua coxa. Ela
tinha gosto de morangos. “Pare com isso.” Ele apertou o braço sobre
suas pernas, garantindo que não haveria mais chutes.
A mordaça suavizou sua resposta, mas a raiva ecoou no tom
baixo.
Agarrando seu saco de dormir, ele correu para dentro da floresta
em direção à velha estrada de registo. Um caminhão que ele tinha
roubado no início do dia esperava.
Ela continuou a lutar, maldições abafadas vazando por trás da
mordaça. Possivelmente uma ameaça de morte ou duas.
Mulheres. Difíceis de lidar. Uma memória filtrou através de seu
consciente. Uma voz de mulher. Ao lidar com mulheres, disfarçado ou
não, sedução é uma técnica válida. Para obter informações, para ganhar
a confiança. Sedução? Shane teve a sensação desconfortável de que ele
tinha sido treinado em mais do que combate corpo-a-corpo.
Seu braço afrouxou com o pensamento. Ele teria usado essas
habilidades com sua esposa? Ela era apenas um emprego para quem ele
costumava ser? Josie mirou um chute duro no baixo de sua barriga.
Dor atravessou seu abdômen. Talvez ele devesse tê-la batido fora.

*****

“Você vai desejar que tivesse me nocauteado.” Josie navegou


sobre a cama como um peixe, lutando para sair do saco de dormir. O
bastardo tinha deixado suas mãos amarradas e a fechado dentro do
saco, afivelando-a no banco de um grande Ford por uma viagem de
duas horas. Para essa espelunca de motel três condados depois.
Ela arrancou o saco, não se importando que suas pernas nuas
aparecessem. “Você rasgou minha camisa.”
Shane abriu uma mochila e jogou outra em sua cabeça. “Você
pode usar uma minha.” Ele girou, o olhar indo para suas pernas, as
narinas dilatadas. A tensão no quarto aumentou. Dois passos e ele
estava na cama, virando-a e rapidamente desatando suas mãos antes de
virá-la de volta. “Aqui está o acordo. Você se comporta. Sem gritos, sem
fuga, e vai ficar desamarrada e sem mordaça.” Ele se inclinou para ela,
as duas mãos sobre o edredom berrante em ambos os lados de suas
pernas.
Calor se derramou fora dele para esquentá-la. O quarto era
pequeno e íntimo, e o cheiro de macho tentou seus sentidos. O homem
a tinha levado tão facilmente, tomando o controle sem sequer um
pensamento. Ela suspirou, e o olhar dele caiu para seus seios. “De jeito
nenhum, Shane.” Sua voz saiu mais rouca do que ela esperava. “Você
não pode me manter aqui.”
Ele se inclinou dentro de seu espaço. “Fode comigo, anjo, e você
vai se arrepender.”
O calor em seus olhos tinha sumido. Linhas duras cortavam seu
rosto áspero, e um músculo flexionou em sua mandíbula. Talvez o último
chute em seu estômago tinha realmente o irritado. Um tremor sacudiu
os ombros dela. Ela não o conhecia desse jeito. Pela primeira vez, ela se
perguntou se realmente queria conhecer o verdadeiro Shane. “Apenas
me deixe ir.”
“Não.” Ele se endireitou e recuou. “Tudo o que está acontecendo é
culpa minha. Eu os trouxe aqui... Direto para você.” Sua grande mão
agarrou uma arma da segunda cama, e ele verificou o barril. “Esta noite,
no Marsh, eles estavam indo atrás de você. Não de mim, de você.”
“Por quê?” Ela odiou que sua voz tremia.
Shane deu de ombros. “Para chegar a mim, eu suponho.” Ele a
perfurou com um olhar cinzento duro. “Eu não vou deixar nada te
acontecer. Você pode não confiar em mim, mas pode confiar nisso. Você
está segura.”
Segura? Ela estava sozinha em um quarto de motel de merda com
um assassino que tinha partido seu coração. O quão segura ela poderia
estar? Mesmo assumindo que ele não ia matá-la, o que, francamente,
ela acreditava que ele não faria, como ela poderia sobreviver ficando
com ele? Nenhuma maldita chance de que ele não ia beijá-la de novo.
Nenhuma maldita chance de que ela fosse pará-lo. Era fogo demais
entre eles.
Paixão era uma droga perigosa.
Ela sabia disso em primeira mão.
Ela tinha passado dois anos inteiros em abstinência.
Ele fez um gesto em direção à cama. “Durma um pouco. Vamos
nos mover novamente ao amanhecer.”
“Não. Você tinha fotos minhas — de anos atrás.” Raiva bater
através dela muito mais forte do que o medo. “Você disse que ia me dar
uma explicação.”
Ele balançou a cabeça. “Eu ainda estou tentando descobrir. Pense
logicamente, Josie.”
Logicamente? O homem ia ser chutado na cabeça novamente.
Mesmo assim, ela precisava de uma boa explicação para as fotos. Viver
com medo era muito cansativo. O medo tinha que ir. Ela poderia ser
qualquer coisa, menos burra? “O que você quer dizer?”
“Eu não tirei aquelas primeiras fotos, isso simplesmente não faz
sentido.” Ele passou a mão áspera pelo cabelo espesso. “Por que mantê-
las? Por que deixá-la se eu sou um perseguidor maluco e te tenho
casada comigo?”
Ela tinha se perguntado a mesma coisa. Esperança era tão
cretinamente destrutivo. “Se você não as tirou, quem fez?”
“Eu não sei. Estou presumindo que foi quem plantou os outros
grampos em sua casa.” Ele se concentrou nela, o olhar cinzento
sombrio. “Eu preciso de sua confiança, anjo. Você é tudo que tenho.”
A vulnerabilidade de um homem tão forte era muito tentador. O
Shane que ela pensava que conhecia teria ido atrás de qualquer um que
a ameaçasse com uma vingança comparável apenas à de predadores
furiosos. Mas ele nunca tinha lhe demostrado nem uma pitada de
vulnerabilidade. “O que você quer de mim?” Sua voz saiu cansada.
Exaustão se arrastando por seus membros.
“Você confiou em mim uma vez.” Ele enfiou as mãos nos bolsos.
“Confie em si mesma e acredite que seus instintos estavam certos
comigo. Dê-me a chance de desvendar isso.”
Ele era a única família que ela tinha conhecido. A única pessoa
que ela já tinha amado. Como ela poderia não lhe dar uma chance?
Além disso, ela não conseguiria escapar dele sozinha — ele era muito
bom. Apaziguá-lo parecia sábio. “Vou pensar sobre isso.”
Triunfo brilhou em seus olhos. “Bom o bastante. Vamos nos mover
novamente amanhã.”
Ela saltou de pé, fazendo uma careta quando seus dedos dos pés
cavaram no tapete felpudo áspero. Vai saber o que teria naquela tela
alaranjada horrorosa? “Eu tenho que trabalhar. Estou no meio de duas
auditorias.” Ele tinha que acreditar nela. Por mais que odiasse admitir,
ela provavelmente não poderia se libertar sozinha. “Eu gosto da minha
vida.” Geralmente. Ela tinha sentido falta dele. Muita. Mas o trabalho
tinha ajudado.
Ele esfregou as duas mãos no rosto. “Você não estará segura.”
“Eu não me importo.” Ela o tinha chutado em sua bunda, não
tinha? “Eu quero te ajudar, eu realmente quero. Mas não vou estragar
minha vida novamente por sua causa.” Não importava o que
acontecesse, ele partiria de novo. Para perseguir o que quer que
estivesse lá fora que ele precisava perseguir. Agora era ela. Mas isso ia
mudar.
Ele baixou as mãos. “Novamente?”
Ela suspirou. “Sim. Doeu tanto quando você partiu, que eu tive
que sair, também. Eu não podia ficar onde nós tínhamos vivido juntos,
vendo todos os lugares que compartilhamos.” Sua voz travou. Lágrimas
picaram a parte de trás de seus olhos. Ela também estava muito
cansada de esconder a verdade.
Os olhos dele suavizaram. “Eu sinto muito. Eu quero muito me
lembrar o que aconteceu.”
“O que aconteceu foi que você precisava de mais. Mais do que eu.
Algo mais para mantê-lo em marcha.” Ele tinha sido sempre tão dirigido.
Sempre olhando para trás por uma ameaça e para frente por... Alguma
coisa. “Eu não te conheço bem o suficiente. Eu nunca fiz.”
Como sua esposa, ela deveria ter as respostas que ele agora
precisava. Mas ela não tinha. “Eu não posso fazer isso de novo, Shane.”
Começar novamente seria demais. Ela tinha lhe dado tudo, e ele a havia
deixado... Exatamente como Arthur. E Claire. E Mona.
Todos a haviam deixado.
Ela não ia conseguir se reerguer novamente. Uma vez, ela tinha
pensado que Shane era diferente do resto. Então, quando ele a
abandonou, isso a tinha ferido mais do que todas as outras vezes
combinadas. Já era suficiente.
O relógio de painel de madeira na mesa de cabeceira tiquetaqueou
no silêncio. “Eu tenho uma discrepância em um par de minhas contas,
elas são novas, e eu preciso corrigi-las.” Algo dentro dela precisava
deixar Arthur orgulhoso. Claro, ela nunca mais o veria, mas ele tinha
sido um contador incrível. Ele nunca tinha cometido um erro — pelo
menos ele não tinha até a morte de Claire destruí-lo — e ele tinha lhe
ensinado o amor pelos números. Além disso, ela tinha que salvar Billy.
Ela não tinha conseguido ajudar Mona, mas Billy estava aqui e agora. Ela
poderia ajudá-lo e conseguir aquela promoção que ela merecia.
“Por favor, Shane.” Ela sustentou seu olhar, procurando uma
maneira de convencê-lo. “Você quer que eu confie em você, mas você
precisa conquistar isso. Você não pode me tirar da minha vida. Eu vou
lutar com você a cada passo do caminho, e você precisa se concentrar
em quem está atrás de você.”
Dúvida o teve sacudindo a cabeça. “Eu não quero lutar com você
em absoluto.” Ele chupou no ar, caindo para se sentar na outra cama.
Os minutos passaram. “Eu não posso te esconder, também. Tudo bem.
Vou levá-la para o trabalho e buscá-la. Nada de sair do edifício. Por
qualquer razão. Você vai precisar dizer ao Detetive Malloy alguma coisa.
Sobre por que eu te soltei.”
“Eu vou.” Ela piscou para manter a calma. Shane estava confiando
nela. Não só para manter-se segura, mas para protegê-lo. Esperança
queimou quente dentro dela. Assim como a precaução. Ela precisava se
proteger de ter seu coração partido mais uma vez. Embora a indecisão
nos olhos dele fosse novo. “Você mudou.”
“Já faz dois anos. Acredito que ambos o fizemos.” Ele se estendeu
na cama, fechando os olhos. “Vá dormir. A manhã vai chegar bem
cedo.”
Menos de um minuto e a respiração dele igualou. Ela sorriu
quando lembranças a assaltaram. Ele sempre adormecia tão facilmente,
quase como se pudesse controlá-lo. Quase como se tivesse que
descansar quando disponível.
O sorriso deslizou longe.
Quando se conheceram, eles tinham a falta de família em comum.
Ela tinha pensado que ele era como ela, criado em diferentes lares
adotivos, nunca se encaixando. Então, com o pesadelo, ele tinha deixado
a verdade deslizar. Ele tinha irmãos que ela nunca conhecera. Quando
ela lhe perguntara sobre eles, ele tinha dito que eles não estavam perto,
e isso tinha sido o final do assunto.
Ela deveria ter empurrado mais para compreendê-lo. Mas estar
sozinha, confiando em si mesma, era tudo o que sabia. Talvez ele não
fosse o único que tinha se fechado. Talvez confiança ganhasse
confiança. Jogue duas pessoas quebradas juntas que não sabem como
viver um com o outro, e você conhece a dor. Um desastre.
Luz suave filtrava através das cortinas baratas, acariciando os
planos duros de seu rosto. Tão bonito. Nariz reto, maçãs do rosto
acidentadas, e aqueles lábios sensuais. Mas seus olhos. Magia e fogo
viviam em sua estranha cor cinza. Ela ainda os via em seus sonhos.
Com a amnésia, mais de seu verdadeiro eu tinha emergido. Partes
dele que ele mantinha escondido, ela finalmente podia ver. Haveria uma
chance de que ele pudesse deixá-la entrar em sua vida? Na verdade, ele
até mesmo estava confiando nela. Mas... O que aconteceria quando suas
memórias voltassem? Ele se afastaria e quebraria seu coração de novo?
Ou ele ficaria?
Ele endureceu. Em seguida, deu um gemido baixo. Dor se
impregnava do som.
Seu coração balançou. Sua mente girou.
Durante seu breve casamento, embora ele nem tivesse ideia, ela
tinha aprendido a acalmar seus pesadelos. Para ajudá-lo a descansar e
dormir o necessário. Era tão fácil e natural — e só precisava de um
sussurro suave e um toque. Não importa quem ele era, ela ainda podia
ser ela mesma. Se ele estava com dor, ela não podia se sentar lá e
assistir. Ela não queria ser uma pessoa que se sentava lá e assistia.
Um rugido agonizante retumbou de seu peito.
Oh, isso era realmente uma má ideia. Ela rastejou para frente,
cautelosamente descansando um joelho na cama. Alcançando seu lado,
ela se aconchegou, a cabeça em seu braço estendido. Cedro quente
encheu seus sentidos. Ela colocou a mão sobre o coração dele. “Está
tudo bem, Shane. Apenas bons sonhos esta noite,” ela sussurrou. Com
um suspiro, ela fechou os olhos e deixou a escuridão tomar conta.

*****

Shane manteve sua respiração nivelada, o corpo relaxado. O


coração batendo contra sua palma. Despertando, ele a ouvira se mover
da cama e ficou se perguntando. Será que ela iria para a porta? Não. Ela
não tinha. A mulher tinha se abraçado com o perigo para proporcionar
conforto a ele. Segurança. Amor.
Seu coração aqueceu até que doía. Vulnerabilidade e necessidade
filtrava através dele, seguido por determinação. Ele não sabia como
diabos a tinha perdido antes. Não importava o que fosse preciso, não
importava quem ele teria que atravessar, ele não a perderia novamente.
Um caminhão passou na interestadual, e ele calculou a carga de
peso e velocidade. Um grilo piou lá fora, e ele identificou a espécie. Uma
mulher respirou fundo ao lado dele, e ele mediu sua frequência cardíaca.
Com a audição.
Ele conhecia todas as formas de matar uma pessoa, e ele podia
fazê-lo sem hesitar. De fato, hesitar não parecia ser parte de sua
composição. Que tipo de monstro não sentia nada quando matava? As
pessoas deveria temer monstros. Até agora, nada o assustava —
ninguém podia detê-lo. Ele fechou os olhos contra a realidade de que, se
suas memórias voltassem, ele seria a única coisa que ele temia.
Josie suspirou ao seu lado, e ele pôde ouvir seus pulmões se
encherem de ar.
Jesus. Quem era ele?

Capítulo 11

Josie murmurou para si mesma, a cabeça inclinada sobre os


números dispostos em sua mesa. Sua cabeça doía. Ela precisava de um
dispositivo para variar o brilho das luzes em seu escritório. A sala estava
quase perfeita com a mesa grossa que ela tinha escolhido para combinar
com as cadeiras. Cópias das famosas pinturas petrolíferas ocidentais
cobriam as paredes.
Embora tivesse levado todo o dia e vários potes de café, ela tinha
encontrado um dos problemas no arquivo da Larson Corporation — um
erro nos valores das receitas. O quão malditamente alto Billy estava ano
passado ao fazer os livros da corporação? Isto era negligência e não
alguns pequenos erros de matemática. Ela teria que se reunir com o
cliente assim que possível.
Ela puxou a saia cinza suave. Graças a Deus ela tinha uma muda
de roupa e maquiagem na bolsa de trabalho.
Uma cabeça loira cutucou na porta. “Eu estou indo para casa,
chefe.”
Josie olhou para cima e forçou um sorriso para sua secretária.
“Para casa ou sair para algum divertimento?”
Vicki sorriu e entrou. Ela tinha tirado a jaqueta azul para revelar
um vestido preto elegante. “Sair para algum divertimento. Quer ir?”
Nem em um milhão de anos. Elas podiam ter mais ou menos a
mesma idade, mas Josie se sentia décadas mais velha. “Não, obrigada.”
Shane viria buscá-la. Embora ela ainda não confiasse nele, ele podia
mantê-la segura de quem estava atrás dele — e assim, manter Tom
seguro. Os dois homens que tinham tentado atacar sua casa o teriam
matado, e ela não podia deixar isso acontecer. Ele se concentrou em sua
secretária. “Acho que vou trabalhar até tarde.”
Vicki encolheu um ombro curvilíneo. “Eu imaginei.” Seus olhos
pesadamente maquiados se arregalaram. “Aquele policial estava bravo
anteriormente ou o quê?”
“Isso é dizer pouco.” O detetive Malloy não era nenhum idiota. A
história de que ela tinha ido com Shane de boa vontade tinha soado
ridícula, até para seus ouvidos. Mas não havia nada que ele pudesse
fazer, senão levá-la sob custódia. O que, aparentemente, ele não estava
preparado para fazer. Embora ela não ficasse surpresa ao encontrar-se
sob vigilância. O policial tinha ainda mais dúvidas sobre os dois homens
que Shane tinha deixado amarrados para a polícia. Porque
aparentemente eles não estavam cooperando com Malloy.
Vicki enrugou a testa, preocupação brilhando em seus olhos.
“Então você realmente está ficando com Tom Marsh? Quero dizer, agora
que seu marido está na cidade?”
Josie se ajeitou na cadeira. “Eu não contei a ninguém sobre meu
marido porque estou pedindo um divórcio.” Tudo o que ela precisava
agora era de um sentimento de culpa para com sua secretária. “Começar
do zero parecia uma boa ideia, sabe?”
Vicki concordou. “Sim, eu entendo. Embora ficar em Tom agora é
meio arriscado, chefe.”
Josie revirou os olhos. “Escutando às escondidas o detetive, é?”
Vicki riu. “Ele estava gritando com você. Era difícil não ouvir.”
Sim, ela tinha mentido para o detetive. Seria isso contra a lei? Ela
precisava ver no Google “falsas declarações a funcionários da polícia.”
Não seria crime apenas se eles fossem agentes federais, em vez de
oficiais do condado? “Eu não vou mais ficar com Tom. Divirta-se hoje à
noite, Vicki.” Boa caçada.
Vicki assentiu e depois olhou para o lado. “oh, oi Tom.” Ela piscou
para Josie e foi em direção aos elevadores.
Tom assentiu distraidamente e entrou na sala indo cair em uma
cadeira de convidado. Um rasgo estragava sua camisa de trabalho que
lhe cabia muito bem. O cara era religioso sobre como utilizar o ginásio
do edifício. “Tem certeza de que está tudo bem?”
Josie concordou. Eles tinha tido esta discussão via telefone várias
vezes durante o dia. “Sim. Eu já te disse, Shane saiu da cidade.” A
mentira caiu facilmente de seus lábios. Crescendo em um orfanato, ela
tinha aprendido a mentir cedo e bem. Apenas para manter as pessoas
felizes. “O detetive Malloy está me preparando algum lugar seguro até
que saibamos com certeza.” Outra mentira.
Tom chutou as pernas para frente, cruzando botas de trabalho
arranhadas nos tornozelos. “Por que você está no trabalho?”
“Eu não posso me esconder. Além disso, eu preciso corrigir esses
livros.”
O sorriso de Tom iluminou a sala. “Eu tenho certeza que não vai
bem.”
Josie riu, seus ombros relaxando pela primeira vez naquele dia.
“Bom ponto. Eu não quis dizer isso, e você está acima de piadinhas de
contador.”
Ele deu de ombros. “Foi fácil. Desculpe eu não poder estar aqui
mais cedo — dia áspero. Estou em licitação de três trabalhos diferentes
agora.”
“Eu sei o que dizer sobre ter um dia difícil.”
Tom olhou para o relógio, uma carranca se estabelecendo em seu
belo rosto.
“Você precisa ir, Tom?” Ele tinha que ir. Shane logo estaria lá.
Tom fez uma careta. “Tenho uma reunião com um cliente pé-no-
saco que quer construir um restaurante de fast-food, mas eu não quero
te deixar sozinha.”
“Por que ele é um pé-no-saco?” Josie esticou o pescoço.
Tom corou. “Ela. Ela é um pé-no-saco.”
“Oh?” Josie reprimiu um sorriso. “Ela está flertando com você?”
“Sim.” Tom limpou a garganta. “A mulher é toda mãos.”
“Você gosta dela?”
“Talvez.” Seus olhos aqueceram. “Apesar de eu estar esperando
por você.”
Josie deu de ombros, mal-estar filtrando em sua espinha. “Eu sou
uma bagunça. Não perca algo bom por minha causa.”
Lamento brilhou nos olhos dele, seguido de humor. “Bom o
bastante. Então, quando Malloy vai estar aqui?”
“Ele está a caminho.” Ela odiava mentir. “Além disso, o escritório
de Johnston é logo ali no final do corredor. Ele é sempre o último a sair.”
O que geralmente era verdade. Mas hoje ele tinha ido se encontrar com
o conselho de diretores do maior banco da cidade. Ganhar o banco
como cliente seria imenso para a empresa de contabilidade.
Um telefone tocou. Tom tirou seu celular do bolso, lendo a tela
com uma careta. “Ok. Tenho que ir. Ligue-me esta noite, assim vou
saber que você está segura.” Seu sorriso não alcançou os olhos.
Droga. Ela realmente estava estragando sua vida. O cara tinha
sido nocauteado na noite passada. Josie suspirou. Por que ela não podia
ter se apaixonado por um cara ótimo como Tom?
“Eu ligo. Boa sorte com seu cliente.”
Ele assentiu e se empurrou para a porta, dando de cara com
Daniel.
“Ei. Eu estava indo lá em cima para ver se você queria sair para
uma bebida,” Daniel disse. Ele tinha tirado seu casaco extravagante e
enrolado sua camisa monogramada até os cotovelos. Até mesmo sua
gravata Burberry parecia torta.
Tom sacudiu a cabeça. “Tenho uma reunião com um cliente. Além
disso, temos um jogo de basquete amanhã à noite.”
Daniel revirou os olhos. “Beber não afeta meu jogo, Sally.”
Tom bufou. “Te vejo amanhã.” Ele se apressou pelo corredor.
Daniel esfregou o queixo barbeado, olhando para Josie. “Você está
trabalhando até tarde.”
Ela levantou um ombro. “Estou tentando me manter com você. Há
rumores de que você conseguiu a conta do distrito escolar no campo de
golfe.” Aparentemente, jogar golfe com o superintendente levava a
negócios.
“Sim. Um monte de negócios são feitos no campo de golfe.” Ele
franziu a testa.
“Eu não jogo golfe.” Especialmente com homens. A vida era uma
merda.
Daniel exalou, exaustão escurecendo seus olhos por um momento.
“Então você não joga golfe com os caras. Muitas mulheres possuem
negócios na área — junte-se à câmara de comércio e conheça algumas.
Junte-se a grupos de mulheres como PTO9 e conheça algumas. Use o
que você tem, Josie.”
9
Power Take-Off – é um termo na língua inglesa de um eixo propulsor, também conhecido como tomada de força ou TF.
Por que Dan estava lhe dando ideias? Ela arqueou as
sobrancelhas. “Este é realmente um bom conselho.”
Ele deu de ombros. “Eu gosto da igualdade de condições. Simples
assim.” Ele se virou em seus mocassins italiano e desapareceu de vista.
Interessante. Talvez Dan não fosse tão idiota quanto ela pensava.
Ela voltou sua atenção para a calculadora, somando e lendo os dados na
planilha diante dela da Agers Hardware. Por que eles não batiam? Ela
mordeu o lábio, pegando o resto do arquivo do fundo da gaveta.
Sua porta se fechou.
Ela sibilou um suspiro, empurrando-se para trás da mesa. “Shane.
Eu não te ouvi.”
Ele encolheu os ombros. “Bom. Esperemos que mais ninguém fez,
também.” Um clique ecoou. Ele tinha trancado a porta. Avançando, ele
parou ao lado de sua cadeira, as mãos vindo para amassar seu pescoço.
“Há um carro de patrulha na frente, sem dúvida, vigiando por mim.”
Josie baixou o queixo para o peito. Céus. O homem tinha dedos
mágicos, e ela deveria realmente se afastar. “Sim. O detetive não
comprou minha história.” Ela lutou contra um gemido enquanto Shane
trabalhava os nós em seu pescoço.
Suas coxas começaram a amolecer.
Calor aqueceu seu abdômen.
Ela limpou a garganta e se afastou, girando a cadeira para encará-
lo. “E agora?”
Shane enfiou as mãos nos bolsos de seu jeans gasto. Uma
camiseta escura cobria seu peito espesso e destacava as profundas
manchas cinzentas em seus olhos. “Agora, me empresta seu
computador.”
Com um dar de ombros, ela saiu da cadeira, puxando seus
cadernos para o outro lado da mesa. “O que você está procurando?”
Shane tinha sentado, apertando teclas no computador. “Primeiro
eu quero invadir meus registros militares. Então eu quero encontrar
meus irmãos.” Ele franziu a testa, os olhos escuros se virando para ela.
“Eu tive um sonho. Eu os vi. Matt e Nathan — se eu tivesse que
adivinhar, diria que eles eram ambos mais velhos do que eu. Nós
estávamos em algum tipo de acampamento — talvez um militar?”
Intrigada, seu coração acelerou. Ela nunca tinha conhecido seus
nomes. “Quantos anos você tinha?”
Shane deu de ombros. “Não sei. Talvez oito?”
Josie torceu o nariz. “Um acampamento militar com a idade de
oito anos? Parece jovem demais.” Ela limpou a garganta. “Quando você
teve o pesadelo sobre a perda de seu irmão, você gritou o nome Jory.”
A mandíbula de Shane endureceu. “Jory. Sim. Mattie mencionou
esse nome no sonho.” Shane esfregou o peito. “Jory.” Ele virou o foco
de volta para o computador.
Josie retornou a seus arquivos, trabalhando com as deduções da
Fuller Labs. Seu cliente favorito. Sempre pagando pontualmente, sempre
mantendo bons registros. Desde que tinham laboratórios em todo os
Estados Unidos, ela tinha conseguido manter o cliente quando se
mudara para Washington. Por que todos os clientes não podiam ser
assim tão bons?
Ela pediu uma pizza e encontrou a garota da pizza no elevador,
trazendo a grande torta para seu escritório e fechando a porta.
Shane olhou para cima e sorriu. “Eu gosto de pizza?”
O quão estranho era não se lembrar. Josie devolveu o sorriso,
colocando a caixa na mesa e abrindo a tampa. “Sim. Você gosta de pizza
com pepperoni e abacaxi.”
Shane franziu o cenho, seu olhar sobre o bolo colorido. “Sério?”
Humor surpreendente borbulhou através dela. “Bem, mais ou
menos. Você gosta de pepperoni, e eu sempre gostei de abacaxi, então,
fizemos um acordo no nosso primeiro mês de casamento de pedi-las
dessa forma.” Ela lhe entregou um pedaço.
“Obrigada.” Ele deu uma mordida, mastigou lentamente, e depois
sorriu. “Tudo bem. A combinação funciona para mim.”
“Eu lembro.” Ela deu uma mordida. Eles tinham sido felizes como
recém-casados. Ela tinha se mudado para o apartamento dele,
imediatamente repintando as paredes de um bege acolhedor com
acabamento branco. Fora da base, assim eles teriam privacidade. “Nós
nos casamos em Las Vegas.”
Ele apertou os olhos, um sorriso brincando em seu rosto. “Só nós
dois?”
“Sim.” Ela deu outra mordida, o abacaxi arrefecendo o pepperoni
em sua língua. Fazia dois anos desde que ela tinha apreciado a
combinação de sabores. “Você estava de licença, e como nova
contadora na empresa, eu só tinha um dia de folga.” As lembranças
correram através dela, trazendo prazer e a dor eventual da perda. “Você
me comprou um vestido.” Ele já tinha tomado seu coração, mas com o
vestido branco, ele tinha roubado sua alma. A seda branca tinha ficado
perfeita, melhor do que ela jamais teria sonhado.
Ele inalou. “Eu mal posso esperar para me lembrar desse dia.
Embora meu cérebro esteja distorcido, minhas emoções são claras,
Josie. Eu sei que te amei.”
Um formigamento começou em seu coração e se espalhou por
todo o seu peito. Ela empurrou o sentimento de lado. Ele não podia
fazer tal afirmação sem suas memórias. Não importava o quanto ela
queria acreditar nele. Mesmo que ela tivesse aprendido a confiar que o
amor era real, ele ainda a havia deixado sozinha. Ela limpou a garganta.
“Então, como está a pesquisa?”
Ele deu um aceno curto, deixando-a fora do gancho. “Nada bom.
Mas eu vou encontrar o que preciso.”
“Bom.” Eles precisavam de respostas antes que outro ataque
ocorresse. Ela empurrou a caixa de pizza para o lado e pegou o arquivo
da Agers Hardware, uma loja pequena de hardware cujos proprietários
não eram tão bons em manutenção de registos quanto alguns de seus
outros clientes. Ainda bem que ela sabia seu trabalho. Ela encontraria as
deduções que o jovem casal precisava para pagar menos IRS.
Shane voltou à digitação. Horas se passaram. Finalmente, ele
olhou para ela e franziu a testa, pensativo.
Ela teria molho de pizza no rosto? “O quê?”
Ele a estudou, os olhos da cor de um céu tempestuoso. Não se
movendo nem um centímetro, ele manteve o foco totalmente nela, como
se ela fosse a única coisa em seu mundo. A tensão engrossou o ar em
torno dele, sua quietude predatória um aviso de que ele logo investiria.
Lembranças a assaltaram. Ela tinha esquecido a sensação de ser
tudo. Seu coração pegou ritmo, e calor deslizou por suas veias como um
bom uísque. Desejo bateu em seu abdômen. Com apenas aquele olhar,
eletricidade bombardeou através de seu corpo para pulsar entre suas
pernas.
As narinas dele chamejaram. “Eu me lembro de você.”

Capítulo 12

Josie se esforçou para manter a calma enquanto olhava para


Shane. “Você se lembra de mim?”
Ele franziu a testa ainda mais e se recostou na cadeira. “Sim. Em
uma loja de café. Você estava usando uma roupa azul de yoga que
mostrava sua bunda.”
Josie bufou uma risada. “O dia em que nos conhecemos.”
“Sim.” Shane se focou em seu rosto, seu suave sotaque sulista se
aprofundando. “Um cara estava te incomodando. Eu perguntei se você
precisava de ajuda.”
“Eu disse que sim.” Ela torceu o nariz. “Eu senti como uma
covarde. Mas você ajudou.” Seu herói. Desde o primeiro momento. Ele
tinha intervido e arrastado o idiota para fora. Depois ele tinha voltado e
lhe comprado um café gelado. “Você disse que eu era inteligente, não
covarde.”
“Eu me lembro.” Ele deslizou o olhar por seu rosto. “Seu cabelo
estava mais curto e você estava bronzeada.”
“Foi da Califórnia. Você tinha um bronzeado mais escuro,
também.” E bíceps que a fez querer dar uma mordida. Então, talvez
agora ele pudesse explicar por que a estava espreitando antes desse
dia. Ela limpou a garganta. “Lembra de mais alguma coisa?”
“Ainda não.”
Mas ele o faria. O que aconteceria então? “Você encontrou algo
sobre seu passado?”
Shane chutou para trás em sua cadeira, sobrecarregando o couro
cinza. “Na verdade, não. Meu registro militar é bom; muitas missões que
lidam com problemas em nosso solo. Um par de problemas biológicos
em fábricas.” Ele franziu a testa. “Tem mais. Eu sei que tem. Mas não
consegui acesso ainda.”
“E seus irmãos?”
Seu rosto virou pedra.
Josie o estudou. Ele parecia ser um bastardo frio. Mas ele não era.
Fogo ardia quente através dele, tão quente que ele forçava gelo em si
mesmo. Para manter o controle. Deus, ela costumava querer fazê-lo
perder. Completamente. Apenas com ela. Só com ela. Ela lambeu os
lábios.
Faíscas brilharam em seus olhos em resposta. Ele baixou o olhar
para seus seios.
Seus mamilos endureceram em pontos afiados. Ela lambeu os
lábios novamente e engoliu. Seus nervos disparando. Oh, meu, isso era
uma má ideia. “Shane. Mantenha o foco.” Sua voz saiu ofegante.
“Esse tom. Eu me lembro.” A voz baixou para um ronco que
enrolou em seu coração. “Sexy como o inferno. Quase como se estivesse
sussurrando, seu fôlego aquecendo meu pau.”
Jesus. A forma como ele falou. Rouca. Masculina. Ele costumava
sussurrar seu nome em seu ouvido quando gozava. Como se ela fosse a
única corda que o mantinha a esta vida. Como se ela fosse tudo o que
ele precisava.
Desejo deslizou para temperamento. Ela não era tudo o que ele
precisava. Ele a tinha deixado. “Pare com isso. Não vai acontecer.”
Mentirosa. A palavra ecoou em sua cabeça. Ela era tão mentirosa.
“Sim, vai.” Seus olhos escureceram até quase pretos. “Talvez, não
agora. Vou esperar até que descobrirmos tudo.” Ele se inclinou para
frente, os antebraços sobre a mesa. “Mas não se engane. Vai
acontecer.”
Seu sexo apertou. “O que você descobriu sobre seus irmãos?”
“Nada. Absolutamente nada.” Raiva apertou sua mandíbula. “Eu
encontrei um par de academias militares com fotos; nada parecido com
o lugar que vi em meus sonhos. Procurei seus nomes, meu nome,
registros hospitalares. registros de morte.” Seus olhos rodaram com
emoção no último. “Nada.” Ele jogou um lápis sobre a mesa. “E isso não
é tudo.” Levantando-se, ele estendeu uma mão debaixo da mesa de
carvalho pesada e casualmente a levantou um pé do chão. “Estou
seriamente forte.”
Josie se levantou. Seu coração batendo contra as costelas.
Ninguém deveria ser capaz de levantar aquela mesa tão facilmente.
“Pelo visto.”
Ele deixou cair a mesa com um baque. “Você sabia disso sobre
mim?”
Ela tentou dar um dar de ombros indiferente. “Eu sabia que você
era forte. Não tão forte.” Aparentemente o cara tinha escondido mais
isso de seu passado. Quem era ele? Raiva começou a escorrer por suas
veias. O que ela estava fazendo, de sequer pensar em confiar nele
novamente?
“Feche os olhos. O que você ouve?”
Ela manteve os olhos abertos. “O zumbido do aquecedor.” Fora
isso, silêncio ecoava pela noite.
Shane balançou a cabeça. “Um quarteirão daqui um casal está
tendo uma discussão sobre a gorjeta que o homem deu no jantar.” Ele
andou em volta da mesa. Em direção a ela. “O elevador subiu vinte e
três vezes nas últimas duas horas; descendo vinte e sete vezes.” Ele
estendeu as mãos as mãos e agarrou seus antebraços. “Eu preciso de
trinta e três passos para ir daqui até o elevador. Há três saídas deste
edifício onde eu não seria visto.” Ele desceu o olhar para seu pescoço.
“Seu batimento cardíaco aumentou quando eu agarrei seus braços. Eu
posso ouvi-los.” As grandes mãos apertaram ao redor de seus bíceps. “E
você é uma mentirosa. Quando diz que não vai acontecer, você está
mentindo.”
Ele a puxou para sua dureza masculina, em seu calor incrível.
A palma deslizou por seu pescoço até que os dedos se enredaram
em seu cabelo — lenta e deliberadamente. Mantendo-a no lugar, as
pálpebras caindo para meio mastro.
Arrepios subiram em sua pele. Cuidado guerreou com o desejo.
Ela empurrou a cabeça para trás — ou tentou. O agarre apertou,
segurando-a onde ele a queria. Ela não podia se mover. Choque, e
depois chamas lamberam através dela.
Lábios tomaram os seus, firmes e determinados. Suas coxas
umedeceram. Ele gemeu baixo, curvando-a para trás, sua fome
inflamando a dela.
Sua mente afiou. Ele não estava pedindo. Foi-se o cuidado com
que ele sempre a tratara. Paixão pura e crua substituiu o pensamento.
Tudo dentro dela derreteu enquanto desejo acendia seu fogo.
Embora ele sempre tivesse sido apaixonado, isso era novo. Intenso e
perigoso, a seu agarre não mostrava misericórdia.
Ele a empurrou contra a mesa, o comprimento duro de seu corpo
deslizando contra o dela. Segurando a parte de trás de sua cabeça, ele
moveu a boca sobre a dela. Um beliscão acentuado forçando-a a abrir os
lábios em sinal de protesto, e ele mergulhou, seu corpo prendendo-a no
lugar.
Fome rasgou através de suas veias.
Sua língua acariciou a dela. A mesa pressionou em suas costas e
ela endureceu. Ele a ergueu e a esparramou em cima da mesa, seus
joelhos de cada lado daqueles quadris rígidos, a saia subindo. Calor
encheu seu sexo. Seu centro esfregando contra a ereção.
“Veja o que você faz comigo,” ele rugiu contra sua boca, lhe
dando um indulto para respirar. “Desde o primeiro segundo que te vi
naquele café, você fez isso comigo.”
Ela se agarrou a seus antebraços duros para se manter ereta. Um
protesto ficando preso em sua garganta quando ele levantou a cabeça
para poder prendê-la com um olhar. Perigo brilhava naqueles olhos cinza
escuro. Posse. Promessa. Um rubor duro cobria o rosto áspero. “Diga
sim, Josie.”
“Sim.” A palavra escapou antes que ela pudesse pensar.
Ele não esperou uma qualificação, não que sua mente estivesse
trabalhando rápido o suficiente para inventar uma. Alcançando atrás
dela, ele varreu arquivos e papéis para o chão. Mãos largas circularam
seus pulsos, e ele a deitou de costas. Achatando seus dedos de cada
lado de sua cabeça, palmas para cima. “Mantenha as mãos aqui.”
Seus dedos se curvaram até que as unhas apertaram nas palmas.
Ele deslizou o olhar para os botões de sua blusa. Abrindo-os
rapidamente e puxando a blusa para revelar seu sutiã de algodão
simples. Fome queimou em seus olhos.
Tanto que não conseguia falar. Ela mal conseguia pensar.
“Ah, Josie.” Ele abriu o fecho e o material saltou longe.
“Finalmente, algo que eu me lembro. Você, e nós. Isto. Os mais belos
mamilos rosados do mundo.” Ele deslizou as mãos sobre as dela,
segurando-as contra o carvalho maciço enquanto baixava a cabeça para
seus seios.
Fogo. Ele engolido um mamilo no calor de sua boca. Ela fechou os
olhos, e pressionou contra ele. Ela tinha esquecido. Como ela pôde ter
esquecido o quão quente ele podia ser? O inferno naquela boca
perigosa? Tão irreal. Reforçada como sua força? Ela levantou as pernas
para cercá-lo, apertando os pés em sua bunda. Pressionando-o mais
forte contra ela. Suas mãos doíam com a necessidade de tocá-lo, e ela
tentou soltá-las.
Ele as manteve no lugar.
A boca vagou para a parte inferior de seu seio, onde ele mordeu
antes de tomar o outro mamilo. Um zumbido baixo de apreciação
ecoando contra sua carne.
“Shane,” ela gemeu, movendo-se contra ele.
“Deixe-me jogar.” Ele deslizou beijos molhados de boca aberta de
seu seio até sua garganta. “Se bem me lembro... Há um lugar bem
aqui...” A língua estalou na base de seu pescoço. O oco perto de seu
ombro. Ela estremeceu. “Sim. Lembro-me bem.” Lábios aquecidos se
fecharam sobre sua carne e ele amamentou.
Sua ideia de jogar sempre a destruíra. De uma maneira
seriamente boa. O sotaque sulista que ele deixava solto brilhando desejo
através de cada nervo que ela possuía. “Por favor. Solte minhas mãos.”
O apelo veio espontaneamente. Ela precisava tocá-lo.
“Dessa vez,” ele murmurou contra seu pescoço, levantando as
mãos para movê-la rapidamente e tirar toda a sua roupa, exceto a
calcinha. As mãos foram para seus seios enquanto a boca encontrou o
lóbulo de sua orelha.
Ela agarrou a parte inferior de sua camisa e a puxou sobre sua
cabeça, espalhando as palmas por todos aqueles músculos em seu peito.
Tanta força. Ela tinha sentido sua falta. Tinha sentido falta disso. Ela
mordeu o lábio. Poder a infundido. Ele não tinha sido a única a lembrar.
Traçando uma longa cicatriz ao longo de seus abdominais, ela
amou a forma como a pele mexeu. Tremendo. Ela vagou em torno da
base de suas costas para acariciar um ponto logo acima do cóccix. Ele
rosnou contra seu pescoço. Oh, sim. Ela se lembrava desse local. Ela
mergulhou as mãos em seu jeans. Certo. Nada de boxers ou cuecas para
seu homem. Algumas coisas nunca mudavam.
Ele quicou as botas, e abriu o fecho da calça para deixá-la ir ao
chão. As tiras nas laterais de sua calcinha se partiram em dois. Ele
agarrou uma nádega e a levantou da mesa, posicionando-se em sua
entrada. “Josie.” Com um mergulho rápido, ele a empalou, até as bolas.
Seu corpo apertou em torno dele. Suas costas arquearam. Jesus.
Ela tinha esquecido o quão grande ele era.
A boca caiu para a dela, tomando, mergulhando, esmagadora. As
mãos moldaram seus seios. Ele beliscou um mamilo. Fogo a atravessou
até onde seus corpos se juntavam. Ela pressionou os pés em sua bunda
e começou a se contorcer contra ele.
“Espere.” Ele sussurrou contra seus lábios. “Espere um minuto.
Você não está pronta.”
Uma ânsia preenchia cada poro em seu corpo. Seu sexo estava
molhado, seu clitóris pulsava com uma necessidade tão grande que ela
queria chorar. “Eu estou pronta. Deus, eu estou pronta. Mova-se ou eu
vou te matar.”
Uma mão algemou em torno de seu quadril, levantando-a para
ele. A outra deslizou por suas costas, apertando seu pescoço.
Segurando-a no lugar. Tomando-a.
Ele se retirou, então, se empurrou dentro. Lentamente, como se
testando o terreno. Então mergulhou fundo. O nome dele escapou de
seus lábios. Fogo rasgando ao longo de seus nervos internos. Tecido
inchado. “Mais rápido.”
Ele moveu mais rápido.
Mais duro.
Mergulhando dentro e fora, consumindo tudo na sala, até mesmo
o oxigênio. Ela não conseguia respirar. Ela não se importava. Ela
pressionou os pés em sua bunda, apertando as coxas ao redor dele.
Cavando as unhas em seus ombros, mordendo sua pele até sua boca
tomou a dela novamente. A língua empurrando no tempo com seus
corpos. Muito. Definitivamente demais.
Seu coração inchou. Não, não, não, não seu coração. Ela centrou-
se na sensação espiralando por dentro. O físico. O calor esmagador.
Ele inclinou o corpo para cima. O pênis deslizou sobre seu clitóris.
Ela explodiu.
Sua boca abriu em um grito áspero, e ele mergulhou dentro,
tomando o som em seu próprio corpo. De seus seios até os dedões dos
pés, ela convulsionou, cavalgando as ondas. Enquanto ele a montava.
De alguma forma, mais e mais rápido, os impulsos cheios de fúria e
necessidade. Com um grunhido rouco contra sua boca, ele gozou. Calor
a encheu.
Memórias ameaçaram sufocá-la. Os pensamentos deslizando para
longe quando o clímax dele desencadeou outra nela, e seu corpo inteiro
ficou rígido. Ela jogou a cabeça para trás, apertando as coxas ao redor
dele, o tamborilar de sua corrente sanguínea sussurrando em seus
ouvidos.
Prazer. Tão profundo e duro, esgotava.
Seu corpo amoleceu. Um suspiro suave escapou quando ela
relaxou, soltando os quadris dele. Os pés deslizando de seu corpo. Ela
ofegou por ar, tentando encher os pulmões. Uma dor se instalou em
volta de sua boca.
Tomada.
Ela lambeu os lábios.
Inchados.
Seu corpo inteiro estava inchado.
Latejando.
Mas, meu, ela se sentia tão bem.
Pânico seguiu a bem-aventurança. Mais ou menos. Ela não tinha a
energia para um pânico completo. Muito para seu coração. Ela o amava
desde o momento que aqueles olhos cinzentos únicos brilharam para ela
naquele café. Shane a havia resgatado naquele dia, assim como em um
romance. Assim como os membros de uma família fazem pelo outro.
Quando ela dera seus votos, tinha sido de verdade. Em sua vida
abandonada e solitária, ela tinha dado seu coração uma vez e apenas
uma vez.
Ela nunca o obteria de volta.

Capítulo 13

Do outro lado do estado, o tinir do telefone acordou Matt de um


sonho, onde ele finalmente tinha encontrado segurança para seus
irmãos. Eles só tinham três meses restantes, e já era hora de atacar. “O
quê?” Ele rosnou na peça de mão.
“Matt. Nós temos um problema,” Nathan disse, a voz saindo num
sotaque sulista que o fez apertar os dentes. Todos eles tinham
trabalhado duro para eliminar a dica, e o som se liberava exatamente
quando algo dava errado.
“Você encontrou a mulher?” Já não era sem tempo, porra.
“Não. E você?”
“Não, mas estou mais perto.” Ele tinha se tornado um U.S.
Marshals10 com o único propósito de encontrar uma pequena
testemunha que não podia ser encontrada. Matt girou fora da cama,
alcançando seu jeans. A chuva suave em Seattle tamborilando contra a
janela. Ele tinha sentido uma coceira na base do pescoço há quase uma
semana agora, advertindo-o que algo estava por vir. “O que está
acontecendo?”
“É ruim,” Nathan pausou, os sons de suas mãos trabalhando em
um teclado atravessou a linha. “Meus alarmes iluminaram na noite
passada com alguém realizando uma pesquisa na Internet sobre você,
Shane, eu, e, uh, Jory, como também academias militares para
crianças.”
Quem seria tão óbvio? Matt puxou o jeans, abrindo a gaveta da
mesa de cabeceira por sua arma. Ignorando a dor que bateu em suas
entranhas com a menção do nome de Jory.
Nathan limpou a garganta. “Eu acho que foi Shane.”
Matt fez uma pausa. “Shane? Sem chance.” Shane era um gênio.
De jeito nenhum ele o irritaria desse jeito. “Onde ele está?”
“Ele quebrou a cobertura um mês atrás, aparentemente.”
10
A United States Marshals Service (USMS) também conhecida como U.S. Marshals, é uma agência de aplicação da lei e uma
unidade da polícia federal dos EUA, pertencente ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
“Um mês atrás?” Por quê? Onde diabos estava seu irmão? Shane
não quebraria a cobertura. De jeito nenhum. “Onde ele está?”
“Estou trabalhando nisso. Até agora só descobri que ele quebrou a
cobertura sem alertar nenhum de nós — ele não é devido para se
apresentar até a próxima semana. Ao invés, Shane foi para Snowville
por algum motivo.”
“Ele está em Snowville agora?”
“De acordo com o BOLO11 nele, ele está em Snowville.”
Matt caiu de costas na cama. “BOLO?”
“Bem, em Shane Dean, de qualquer maneira. Por agora, isso é
ele.” Nate pigarreou. “Os registros hospitalares mostram que um Shane
Dean foi internado no Mercy Hospital com ferimentos na cabeça, no
sábado, resultando em amnésia temporária.”
Pavor ricocheteou através do intestino de Matt. “Você está me
dizendo que alguém chegou perto o suficiente para ferir Shane?” Shane
tinha olhos na parte de trás da cabeça. “E agora, sem memória, ele está
tentando descobrir quem diabos ele é?” Isso era pior do que ruim. “Ele
vai levar o comandante direto para ele.”
“Sem dúvida,” Nathan disse. “Shane sequestrou Josie Dean, o que
explica o BOLO.”

11
Normalmente em uso policial, referindo-se a um suspeito criminoso ou pessoa desaparecida, estar em vigia.
“Josie?” Oh, isso estava ficando pior a cada minuto. “Eu vou matá-
lo.”
O sotaque sulista de Nathan se aprofundou. “Eu te avisei que ele
não tinha finalizado com ela. De jeito nenhum. De maneira nenhuma.”
Matt empurrou a raiva para baixo atrás da preocupação. Ele
precisava pensar. “Você vai voar para Snowville. Me mande um texto
com sua informação de voo, e eu te encontro no aeroporto — eu vou
dirigindo, assim teremos transporte.” Matt pegou uma camisa e a puxou
sobre os ombros. Seus irmãos. Uma bomba-relógio pairava sobre suas
cabeças, e o tempo estava em contagem regressiva. “Ah, traga uma
identidade como um advogado, caso precisemos de um.”
“Matt.” A voz geralmente bem-humorada de Nathan ficou séria.
“Você pode sair? Nós temos você no lugar há menos de um ano.”
“Eu tenho tempo. Vou fazer isso uma situação de emergência.” O
que essa porra era. “Você tem suas ordens.”
Ele desligou o telefone. Raiva e determinação rodando em seu
intestino até que sua respiração ficou presa. Ele chegaria a Shane antes
que o comandante o fizesse?
Ele não podia perder outro irmão.

*****
Um lobo uivou ao longe. Chuva e vento batiam contra o vidro de
folha-única da janela. Josie se aconchegou ainda mais sob as mantas
puídas do quarto de motel barato. Calor a envolvia a partir do corpo de
Shane. Pelo amor de tudo que era santo, o que ela estava pensando?
Dormindo com ele novamente.
Dormindo? Mais para fodendo. Bolas batendo duro em sua bunda,
fodendo. O homem fazia isso bem. Sua mente ainda podia estar de
molho, mas seu corpo se lembrava bem dela. Exatamente do que fazer
com ela.
Ainda bem que ela estava tomando pílulas para lidar com as
cólicas menstruais.
Eles sempre tinham usado proteção. Nenhum deles queria um
bebê durante o breve casamento. É claro, um dia ela acreditava que eles
teriam filhos. Mas ele a tinha deixado. Sem filhos.
A ideia de ter um bebê a enviou em uma espiral. Ela sempre tinha
planejado criar uma grande família... Um monte para amar. Mas, lá no
fundo, vivia o medo. E se ela morresse? Deixar seus bebês sozinhos na
vida assustava a merda fora dela. E se eles acabassem em um orfanato,
também?
Ela não estava pronta para tomar essa decisão.
Os números vermelhos do relógio de cabeceira iluminavam os
arquivos assentados na mesa barata. Talvez ela devesse levantar e
trabalhar.
“Você está pensando demais,” Shane retumbou em seu ouvido,
correndo a mão por seu braço. Arrepios subiram em reação.
“Eu sou uma pensadora, Shane.” Mais uma coisa que ele não se
lembrava dela.
Ele assentiu. “Sem brincadeiras. Eu tenho que perguntar... Eu não
deveria, porque estávamos separados, mas eu preciso saber. “
“Sabe o quê?”
“Você dormiu com o Marsh?”
A pergunta deveria tê-la surpreendido. Mas ela se lembrava bem
da possessividade de Shane. Ele precisava saber a verdade.
É claro que ela não tinha dormido com ninguém enquanto ainda
casada com ele. “Não, eu não dormi com Tom.” Shane tinha sido o único
para ela.
O corpo dele relaxou atrás dela. “Isso me agrada.”
Ela suspirou. Agradá-lo não estava no alto de sua lista. “Que
fantástico.”
Ele riu. “Então. Diga-me o que eu não me lembro sobre você.”
O quê? Oh, meu. Ela odiava conversa de travesseiro. Ela era uma
merda em intimidade verbal. Estar nua com Shane já a tornava
vulnerável o suficiente, e agora ele queria que ela se expusesse ainda
mais relatando sua vida estranha? Ninguém nunca tinha lhe ensinado
como compartilhar, como confiar. Não realmente.
Ela suspirou. “Você já sabe que eu cresci em casas de adoção —
mudando aos montes.” Chuva caía fora da janela. “Minha infância foi
bem. A maioria das pessoas eram gente boa, mas ninguém era meu.”
Ele suspirou, agitando seu cabelo. “Até eu.”
“Até você. Aí você me deixou.” Dor prendeu a respiração em seu
peito. Como podia seu desaparecimento, possivelmente, ainda doer?
Lábios macios pressionaram um beijo no topo de sua cabeça.
“Sinto muito.”
Emoção demais para ela. Ela não podia lidar com mais. “Mais cedo
no meu escritório. Nós não usamos preservativo.”
Ele parou. “Huh.” Um braço deslizou ao redor de sua cintura para
puxá-la longe do calor. Uma ereção assentou contra sua bunda. “Eu não
acho que há a possibilidade de, hum, ah...”
“Sem brincadeiras.” Calor se reuniu em seu núcleo. Ela lutou para
controlar a respiração, para manter seu diafragma relaxado. “Embora eu
esteja tomando pílula — para cólicas menstruais.”
“Oh. Eu acho que está tudo bem. Mas sobre crianças, nós somos
casados.”
“Estamos prestes a nos divorciar.” Ele nem se lembrava de si
mesmo.
“Não.” Ele lambeu sua orelha para morder na concha.
Ela estremeceu em resposta. “Sim.”
“Não.” Ele espalhou a palma por toda ao sua barriga à mostra. “Eu
posso ter estragado tudo, e nós vamos descobrir o porquê, mas eu não
vou te machucar novamente. Você é minha, anjo. A única coisa na vida
que me importa.” Um tremor de desespero filtrou através de sua voz.
Os dedos roçaram a parte inferior de seu seio. Ela soltou um
gemido baixo. “Eu sou a única coisa que você se lembra agora. O resto
vai voltar.” Então ela não importaria mais. Alguma outra coisa o levaria
embora novamente, e ele a deixaria despedaçada. Reconstruir quase a
havia matado da última vez. Ela não podia fazer isso de novo.
“Eu te amo, anjo. É a única coisa que me lembro, sem nenhuma
dúvida.” O sotaque sulista se enrolou em torno de seu coração. “Eu não
vou te deixar ir.”
“Por favor, Shane.” Ela não podia aceitar essa promessa. Não
mais. “Isto é apenas sexo.”
Ele riu em seu ouvido. Então a virou de costas, o corpo prendendo
o dela. Tensão desfiava em seus músculos. “Isso soa como uma oferta.”
Seu coração ficou preso em seu peito. Um zumbido chiou em seu
sangue. Aviso lavou através dela, junto com desejo. “Isso não foi uma
oferta.”
Ele acomodou a ereção no ápice de suas pernas. “Meu erro.” O
cabelo áspero de suas coxas fazendo cócegas na pele dela. Ele abaixou
a cabeça para plantar beijos quentes ao longo do cordão de seu
pescoço, uma mão deslizando para afagar sua bunda e apertar, a
pressão implacável. “Tem certeza de que não estava oferecendo?”
Orgulho obstinado lutou com necessidade básica. A necessidade
desesperada que apenas aquele homem em cima dela poderia cumprir.
“Não.”
“Não para sexo? Ou não, você não tem certeza sobre a oferta?” O
sotaque aprofundou. Ele puxou um mamilo, a mordida de dor enviando
necessidade crua para seu clitóris. A mão em sua bunda a ergueu,
esfregando-a contra ele.
Sua respiração ficou presa na garganta. Ela levantou o olhar e o
encontrou focado em seus olhos. Não o corpo, mas seus olhos.
Observando-a. Medindo suas reações. Aprendendo seus segredos,
mergulhando mais fundo dentro dela, não lhe permitindo esconder nada.
Na compreensão, algo se desenrolou dentro dela. Algo escuro,
algo ousado.
Os dedos continuaram a se mover, puxando seus mamilos pra lá e
pra cá — até que ela queria implorar. Tantas sensações de uma só vez a
mantendo na borda. O corpo duro sobre o dela, a ereção pulsante, os
dedos exigentes — e aquele olhar sabedor. Como se ela estivesse
completamente nua para ele.
Seu núcleo doía com uma necessidade muito grande de lutar. Ela
emaranhou ambas as mãos em seu cabelo escuro. Puxou sua boca para
a dela, e lambeu seu lábio inferior com a língua. Os olhos dele brilharam
prata através da escuridão, tão famintos que ela se sentiu devorada. Ele
beliscou seu outro mamilo, e a mão serpenteou o emaranhado em seu
cabelo e puxou para trás. “Diga as palavras, Josie.”
Ele a tinha enredado, deixando-a imóvel. Se ela pudesse se mover,
ela o atiraria de costas e o tomaria. Duro e rápido. Ela receava lhe dar
quaisquer que fossem as palavras que ele exigia. “Isto é apenas sexo.”
“Não é isso o que eu quero ouvir.” A mão amassou seu traseiro, os
dedos deixando marcas. Marcas dele. “Você mencionou uma oferta.
Faça.”
“Eu odeio isso sobre você,” ela sussurrou, mesmo enquanto seu
corpo deslizava contra o dele. Tanto sentimento. Tanta dor.
O sorriso dele não tinha bondade. “Não é verdade. Você ama isso.
Você precisa disso.” A mão em seu cabelo agarrou mais apertado, uma
dor erótica se espalhando ao longo de seu couro cabeludo.” Eu não vou
deixar você se esconder. Eu não vou te deixar ir.”
Seus olhos tinham muito conhecimento. Será que ele se lembrava,
ou era ela que era tão fácil de ler? Seu coração doía, mesmo enquanto
seu corpo se movia contra o dele. “Shane —”
“Este é o seu lugar, pequena. Tome-o.” A boca vagou sobre a
dela, beijando nos cantos, e depois no centro de seus lábios, inclinando-
a para mergulhar fundo. Bem fundo. A língua deslizou contra o céu de
sua boca, enquanto ele a mantinha imóvel. Segurando-a onde a queria.
Ele levantou a cabeça. “Faça a oferta.”
Maldito seja. Ela mordeu o lábio, sabendo que estava lutando
contra o inevitável. “Tudo bem.”
“Não é bom o suficiente.” A boca se fechou na carne macia onde
seu pescoço encontrava o ombro. Ela gemeu do fundo da garganta,
esperando até que ele levantou a cabeça e o olhar cinza se fixar nela.
“Tudo bem. Eu ofereço sexo.” Por favor. Que seja suficiente.
Deus. Deixe-a com algo.
“Insuficiente.”
Ela empurrou contra ele. Chegando a lugar nenhum. “O que
diabos você quer?”
Uma sobrancelha subiu. Perfeito controle. Ela queria fazê-lo perder
isso. “Tudo, Josie. Você já sabia a resposta.”
Ela sabia. Ela sabia exatamente o que ele exigiria no segundo em
que o deixou tomá-la no escritório. Ela poderia arriscar seu coração de
novo? Cavalgar a onda até que terminasse. Seu corpo ansiava. Seu
coração precisava. E se? E se o relacionamento deles funcionasse dessa
vez?
“Confie em mim. Por favor.” Seus olhos escureceram para um tom
nem sequer perto de cinza.
Algumas coisas eram inevitáveis. Ela enfrentava sua maior
esperança e sua possível queda. Ela se conhecia. Por Shane, e só Shane,
ela arriscaria. Um risco terrível de assumir, e o único com uma
recompensa que valeria a pena. Ela nunca tinha tido nenhuma chance
com ele. “Ok. Tome tudo.” Ele o faria de qualquer maneira. Ele sempre
tinha mantido seu coração. Por que fingir o contrário?
Triunfo ergueu seu queixo. Ele encontrou seus lábios em um beijo
tão cheio de emoção que lágrimas brotaram de seus olhos. Lentamente,
muito lentamente, ele a penetrou, seu corpo fundindo-se com o dela.
Tomando-a. Protegendo-a.
Ela prendeu as coxas em seus quadris, as mãos cavando em seus
braços. Ele começou a mergulhar mais rápido, empurrando com perfeito
controle. Sem chance, amigo. Ela agarrou sua bunda, puxando-o em
direção a ela, enquanto se erguia para morder seu peito. Deixando sua
marca.
Ele parou, no meio do impulso.
Seus dentes o soltaram, e desceu a cabeça para o travesseiro.
Uma veia pulsava em seu pescoço. Carmesim se espalhou pelas
maçãs salientes de seu rosto. Aqueles olhos perigosos escureceram para
a meia-noite enquanto a perfuravam. Seus bíceps ondulava como os
músculos de um garanhão querendo correr, e seu pau inchou dentro
dela.
Ela prendeu o fôlego. Ela nunca o tinha visto assim tão no limite.
Então, sabendo muito bem o que estava fazendo, ela permitiu que um
sorriso desafiador curvasse seus lábios.
Seu controle estalou.
Dedos duros cavaram em seu quadril enquanto ele empurrava
duro e até o cabo. Fogo queimou dentro dela, faiscando em cada nervo.
Ela gritou, arqueando contra ele, os olhos largos nos dele.
As narinas dele chamejavam. Sua respiração ofegante. Ele deslizou
fora e bateu de volta, os olhos cintilando, a mão agarrada em seu
cabelo. Mantendo-a no lugar. A cabeceira esmagando contra a parede.
Ele bombeou duro e rápido, enviando ambos mais alto e mais
quente do que ele jamais tinha se permitido ir com ela, levando-o além
de sua rédea afiada. Uma bola inacreditável de calor se desenrolou
ferozmente dentro dela. Isto era mais do que sexo — mais do que
homem e mulher. Ele era todo macho, tomando uma fêmea. Seu
coração martelou com o conhecimento, e ela apertou os tornozelos em
suas costas.
Perto, ela estava tão perto. Ela fechou os olhos. Eletricidade
disparando através dela. Com um grito agudo, ela caiu, rasgando as
ondas.
Ele bateu mais forte, mais rápido, finalmente moendo contra ela e
murmurando seu nome em um profundo sotaque sulista enquanto
gozava.
Ela relaxou de volta para a cama, sua mente girando. Ele tinha
perdido o controle. A escuridão escondeu seus lábios trêmulos. Talvez as
coisas pudesse ser diferente dessa vez. Porém, quando seus batimentos
cardíacos desaceleraram e a realidade voltou, ela se perguntou. Isso era
mesmo uma coisa boa?

Capítulo 14

Como se sua vida pessoal já não fosse uma bagunça grande o


suficiente, sua vida profissional foi explodida em pedaços na manhã
seguinte. Um tornado tinha rasgado seu escritório de lado a lado. Josie
sugou o ar, sua cabeça latejando. “Como isso aconteceu?” Papéis
picados cobriam o chão. Pastas de arquivos tinham sido despedaçadas,
planilhas rasgadas em dois. Armários balançavam vazios e capotados.
Tudo quebrável... Quebrado. Ela se abaixou para dedilhar os cacos de
um vaso de cerâmica que ela tinha feito durante um passeio com Vicki.
É claro, Vicki tinha ido para o estúdio de arte flertar com o proprietário,
mas ela tinha apreciado a criação do vaso, e depois pintar as cores
dramáticas em todo os lados.
Ela evitou a mesa. O que ela tinha deixado Shane fazer com ela
naquela mesa —
“Eu não sei. A polícia esteve aqui por horas mais cedo para
processar tudo e procurar por impressões.” Shelia se abaixou para pegar
uma pilha de papéis. “Eles disseram que podemos limpar agora.”
Josie olhou para trás em Vicki. O resto do décimo andar não
parecia melhor. Quem tinha rasgado através do espaço da empresa CPA
tinha feito isso com uma vingança. “Obrigada por me ligar.” Ela tinha
estado na Trenton Industries repassando todos os arquivos durante toda
a manhã.
Johnston avançou pelo corredor, o rosto normalmente agradável
em linhas duras. “Alguma coisa faltando?”
Josie deu de ombros. “Ainda não sei.”
Ele balançou a cabeça, um músculo flexionando em sua mandíbula
maciça. “Temos registros financeiros de algumas das maiores empresas
do país. Se qualquer dessas informações forem a público —”
“Mas esses ficam trancados, não ficam?” Josie franziu a testa. Isso
parecia ser vandalismo.
Seu chefe suspirou. “Eles entraram em tudo. O cofre, os
computadores... Eles até mesmo levaram três laptops.” Ele inclinou a
cabeça para alguém atrás dela. “Detetive.”
Oh, vamos. Não pode ser. Josie girou, rebocando um sorriso no
rosto. “Detetive Malloy. Que bom vê-lo.”
O detetive arqueou uma sobrancelha espessa. “Sra. Dean.” Ele
gesticulou em direção a pequena sala de conferências. “Você é a única
com quem não falei ainda. Podemos?”
Ela ajeitou seu terninho de seda cor pêssego e seguiu Malloy para
a outra sala. Graças a Deus seu marido era um mestre em
arrombamento e invasão. Ele tinha recuperado mais roupas para ela
naquela manhã de sua casa. Talvez fosse hora de voltar para casa.
Malloy fechou a porta, esperando até que Josie sentasse em uma
cadeira de couro almofadada antes de fazer o mesmo. “Você já sabe se
está faltando alguma coisa?” Ele abriu seu notebook esfarrapado sobre a
brilhante mesa de mogno escuro.
“Não.” Ela estudou o policial. Ele tinha que ter, o quê? Quarenta e
poucos anos? Hoje ele estava usando outro terno marrom amassado, a
gravata um rosa listrado. “Eu gosto de sua gravata.”
Ele olhou para cima, um leve toque de cor deslizando através de
sua pele pálida. “Obrigada. Foi um presente.” Círculos escuros
ensacavam sob seus olhos, e Josie lutou contra a culpa. O cara estava
privado de sono perseguindo Shane. Ele não ia encontrar Shane.
“Bem, as cores são muito agradáveis.” Ela juntou as mãos sobre a
mesa. “Então, hum, você investiga todos os crimes que surge?”
“Não.” Apenas tudo relacionado a você agora.” O sorriso de Malloy
carecia de charme.
Bem, não era isso simplesmente ótimo? “Isso não tem nada a ver
com Shane.”
“Veremos sobre isso, não é?” Malloy bateu a caneta contra o
notebook.
Sim, eles iam ver sobre isso. Josie cruzou as pernas. “Meu chefe
disse que os computadores foram invadidos e o cofre arrombado.”
“Sim. Quem fez isso estava à procura de alguma coisa.” Olhos
castanhos inteligentes se focaram em seu rosto. “Alguma ideia do que?”
“Não.” Ela deu de ombros. “Nós temos variadas informações
financeiras de bancos, corporações, organizações sem fins lucrativos...
Você nomeia isso. Eu acho que eles poderiam estar procurando por
isso.”
“E eu acho que isso tem algo a ver com seu marido.”
Um arrepio a percorreu. “Eu não vejo o que.” Ela falava a verdade.
O momento era uma merda, mas Shane não tinha nada a ver com seus
negócios. Nunca teve.
“Eu mesmo gostaria de verificar isso.”
Ela arregalou os olhos, fazendo-se de inocente. Provavelmente
parecia uma palhaça. “Shane se foi, detetive. Presumo que tenha
voltado para seus companheiros militares.” O relógio no aparador
assinalava uma contagem regressiva silenciosa até que os clientes
irritados aparecessem exigindo respostas. Ela esperava que isso não
tivesse nada a ver com Shane. Ou com ela. “Se eu pudesse ajudá-lo, eu
o faria. Além disso, ele não me sequestrou. Ele não quebrou nenhuma
lei.” O sorriso que ela brilhou tremeu em seus lábios.
“Então, o Major Dean assinou os papéis do divórcio?”
Trovão rolou lá fora. Josie respirou fundo. “Não. Ele não assinou.
Eu vou ter que ir em frente com isso por minha conta.” Mas ela o faria?
E se eles tivessem uma chance dessa vez? Preocupação a teve
mordendo o lábio. E se ela estivesse cometendo um grande erro? Seu
estômago apertou. E se toda aquela confusão tivesse algo a ver com
Shane? Ela engoliu várias vezes.
“Entendo.” O detetive se empurrou para trás da mesa grossa e se
levantou. “Eu apreciaria se você me contatasse uma vez que descobrir
se estão faltando quaisquer arquivos.” Três passos largos teve seu corpo
volumoso na porta. “Ou se você tiver notícias de seu marido, é claro.”
“É claro.” Josie se levantou em pernas trêmulas, alisando o rosto
em uma expressão agradável. A capacidade de fazer isso a ajudara a
navegar o sistema de assistência social sem muitos problemas. Sua
mente girava, em busca de respostas. Isso tinha que ser aleatório. Mas
era uma estranha coincidência que Shane estivesse na cidade e as
coisas começassem a ir para o sul.
Ela tinha dado apenas um passo para o corredor quando o Sr.
Johnston a chamou. “Josie, o Dr. Phillips da Fuller Labs e sua colega
estão na sala grande de conferências esperando por você.”
Josie assentiu, girando e se apressando em direção a parede
oeste. Ela entrou na sala de conferência, sorrindo e estendendo a mão
para o quinquagésimo cientista de alguma coisa. Ele pegou sua mão em
um aperto forte, seus olhos verdes desbotados brilhando. “Então. Você
precisa de uma nova governanta.”
Josie riu, movendo-se para se sentar à cabeceira da mesa de
mármore, seu olhar sobre a mulher sentada em silêncio ao lado de Dr.
Phillips. “Oi, eu sou Josie Dean.”
“Dra. Madison. “ Baixo e culto, o tom falava de graus de Ivy
League12. Ela poderia estar em qualquer lugar entre doze e quinze com a
12
Um grupo a muito estabelecido de faculdades e universidades no leste dos EUA com elevado prestígio académico e social.
Isso inclui Harvard, Yale, Princeton, Columbia, Dartmouth, Cornel, Brown e a Universidade da Pensilvânia.
pele impecável de porcelana, cabelos escuros e os olhos mais profundos
de azul. Olhos inteligentes miraram os de Josie em todas as medidas.
“Estou na cidade de nossa filial em DC.”
Dr. Phillips caiu em uma cadeira com um gemido.
Josie alisou o cabelo para trás. “Receio que alguém tenha
saqueado nossos escritórios à procura de algum tipo de informações
financeiras sobre nossos clientes.”
A Dra. Madison cheirou. “Foi isso o que nós entendemos. Como
você pode imaginar, estamos muito preocupados com a
confidencialidade do cliente.”
“Sim.” Josie calculou os materiais em seus arquivos. O laboratório
trabalhava em tudo, desde tecnologia de reprodução para pesquisa
celular até doenças genéticas. “Mas todas as minhas informações são
financeiras. Nós não temos acesso aos nomes de pacientes, dados
médicos, ou qualquer coisa protegida pelas novas leis de privacidade.
Apenas seus pedidos de subsídios, pagamentos e linha de fundos.”
“Então, mesmo se houvesse pagamentos dos pacientes, esses
pagamentos seriam listados anonimamente?” A Dra. Madison franziu a
testa, erguendo o queixo, seu tom culto e condescendente.
Josie socou abaixo a irritação. “Sim. Sua organização atribui um
número a um paciente, e nós apenas obtemos esse número em nossos
arquivos.” A doutora parecia familiarizada com o processo. “Se você não
se importa de eu perguntar, qual campo você trabalha com a Fuller
Labs?”
Uma sobrancelha fina arqueou. “Eu sou uma neuropsicóloga com
especialização em psiconeuroimunologia.”
Bem, agora. Isso sim era um bocado. “Então. Cérebro. Psicologia.
A interação do sistema nervoso central, os processos psicológicos com o
sistema imunológico do corpo.” A médica não era a única na sala que
tinha ido à faculdade.
Madison sorriu uma linha perfeita de pequenos dentes brancos.
“Em poucas palavras simples, sim.”
Aborrecimento rodou nas têmporas de Josie, então ela ampliou
seu sorriso. “Parece fascinante.” Arrogante e imprestável sabichona. Ela
encontrou o olhar da médica de frente, permitindo que tanto confiança
quanto humor se mostrasse em seu rosto. Anos de lidar com pessoas
que se consideravam melhores do que uma criança perdida, muitas
vezes vinha a calhar com manipular intimidadores. “Fico surpresa que
você ainda tenha tempo para se aprofundar no lado da contabilidade da
empresa.”
O sorriso deslizou do rosto da médica. “Embora meu trabalho seja
muito mais importante do que simplesmente adicionar números, eu
quero proteger nossos clientes.” Ela puxou fiapos invisíveis fora de seu
terno de grife. “Que é por isso que estou muito preocupada com a
violação óbvia de protocolo aqui.”
Josie se obrigou a manter a calma. “Violação?”
“Sim.” Madison estalou a língua. “Esperamos que nossas
informações financeiras sejam protegidas e seguras. Aparentemente,
sua empresa não está à altura da tarefa.”
Dr. Phillips acariciou a mão de boneca de porcelana de Madison
com a sua grande e retorcida. “Agora, Dra. Madison, não sejamos
precipitados.” Ele limpou a garganta. “Tenho certeza que nossos
registros estão seguros.”
Josie assentiu, deslocando seu foco para ele. “É claro. Uma vez
que não temos quaisquer informações dos clientes, para começar, não
há absolutamente nenhum risco de violação. Além disso, estou confiante
de que a polícia vai descobrir quem invadiu nossos escritórios.” Algo
dentro dela realmente gostaria de socar a mulher imprestável na cara.
Só uma vez. Ou talvez duas.
Um sussurro de som ecoou antes de Daniel enfiar a cabeça na
porta espessa. “Desculpa. È que eu vou precisar da sala de conferência
quando você tiver acabado.” Seu cabelo castanho aparado parecia
ligeiramente despenteado, mas seu olhar era calmo.
Dra. Madison se inclinou para frente. “Você é Daniel Mission.”
Dan franziu a testa, dando um passo para dentro e alisando sua
gravata poderosa. O laço vermelho contrastando bem com o terno azul-
marinho. “Sim, er...”
“Dra. Madison do Fuller Labs.” A mulher deu um sorriso. “Você lida
com as contas de Genevieve Trogart, que é uma amiga minha.”
Compreensão suavizou a carranca de Dan. “Sim. O Trogart
Corporation tem sido meu cliente por cerca de dois anos.” Ele sorriu,
todo charme. “Na verdade, eu acabei de desligar o telefone com Genny
— ela estava ansiosa sobre o arrombamento.”
Os olhos da Dra. Madison se arregalaram. “Não me diga que os
arquivos Trogart foram levados?”
“Não.” Dan sacudiu a cabeça. “Eu mantenho meus arquivos em
um pendrive que está comigo em todos os momentos. Não há cópias
impressas, nada em laptops que eu deixo no trabalho. Claro.”
Irritação teve as mãos de Josie se fechando em punhos. “Esta não
é a política da empresa.”
“No entanto, foi bom no momento, não é?” A Dra. Madison falou
pausadamente, seu olhar praticamente cintilando em Dan. “Aposto que
todos os seus clientes estão muito felizes agora.”
“Sim.” Dan devolveu o olhar de admiração. “Foi bom conhecê-la.”
Com um aceno para Josie, ele girou e desapareceu de vista.
Dr. Phillips empurrou a cadeira para trás e se levantou, ajudando
Madison. “Devemos ir. Não se preocupe, Josie. Estou certo de que vão
encontrar os criminosos. Por favor, mantenha-nos informados.”
Josie se levantou, pavor se misturando com irritação ao longo de
seus ombros. “Bem, espero que eu tenha sido capaz de lhe assegurar
um pouco. Nós, é claro, entraremos em contato quando descobrirmos se
algo foi levado.”
Dra. Madison deslizou em direção à porta. “Espero que sim. Até
essa altura, devo informá-la que eu estarei discutindo empresas
alternativas com nosso Conselho Administrativo. Ou talvez apenas
diferentes contadores.” Ela seguiu pelo corredor em direção ao elevador.
“Ignore-a,” Dr. Phillips sussurrou com uma piscadela. “Ela deve
retornar para DC a qualquer dia.” Ele apertou sua mão em um agarre
quente.
Josie o acompanhou até o elevador. Se Dan tivesse acabado de
roubar seu cliente, ela ia bater nele sem-sentido. Ele conseguiria a
promoção com certeza se isso tiver acontecido. Dúvidas giraram em seu
cérebro. Não havia nenhuma dúvida de que a maioria deles perderia
clientes agora... todos, exceto Daniel. Ela sacudiu a cabeça com o
pensamento bizarro. Agora ela estava vendo conspirações por toda
parte.
Com um bufo, ela voltou para seu escritório, onde Vicki ainda
tentava colocar tudo em ordem.
“Josie,” Tom disse, vindo da área de recepção para segurar seus
braços. “Você está bem?”
“Sim.” Ela olhou para seu rosto carrancudo. “Eu estou bem. Eles
destruíram todo o piso, no entanto.” E ela podia ter acabado de perder
seu maior cliente para o companheiro de basquete dele.
Ele recuou, passando a mão áspera pelo cabelo castanho espesso.
“Acabei de saber. A polícia está no meu andar perguntando se alguém
viu alguma coisa.” Seu suspiro agitou o ar com hortelã. “Você trabalhou
até tarde na noite passada, e eu estava receoso —”
“Não, não.” Ela estendeu a mão para segurar seus braços fortes.
“Eu já tinha saído há muito tempo. Realmente. Eu estou bem.” Ele era
um cara tão bom. Por que ela não podia ter sentido algo mais por ele?
“Eu agradeço sua preocupação, no entanto.”
Ele assentiu, os olhos estreitando. “Como você veio pro trabalho?
A polícia te trouxe?”
“Não.” Ela odiava mentir para ele. “A polícia encontrou meu carro
e me devolveu.”
Ele deu um passo atrás. “Você não disse um tempo atrás que
Dean tinha roubado seu carro?”
Um rubor rastejou em seu rosto, aquecendo sua pele. “Não. Eu
disse que eu o deixei levar emprestado.”
“Josie.” Tom sacudiu a cabeça, os lábios apertando. “Dean é
perigoso. Você sabe. Liberte-se agora, antes que seja tarde demais.”
Preocupação aprofundou as linhas agrupadas em sua boca.
Josie forçou um sorriso. “Eu tenho. Ele se foi.” A mentira quase
ficou presa em sua garganta, ainda mais agora que ela sabia que não
havia nenhuma possibilidade de futuro com Tom. Certo ou errado, ela
sempre amaria Shane.
Tom suspirou, alcançando para correr um dedo no lado de seu
rosto. “Eu me preocupo com você. Deixa-me ajudar.”
Tom. Tão sólido e forte. Ela recuou, dessa vez. “Eu sou uma
menina grande. Obrigada pela preocupação, embora. Isso realmente
significa muito para mim.”
“Ei, chefe,” Vicki a interrompeu de seu poleiro perto do telefone de
Josie. “Você tem cerca de trinta mensagens. A notícia se espalhou, e os
clientes precisam ser tranquilizados.”
Josie assentiu. “Eu tenho que ir, Tom.”
O sorriso dele foi tingido com tristeza. “Eu sei. Tchau, Josie.”

*****
Perto das sete da noite, a cabeça de Josie latejava, seus pés
doíam, e ela tinha ruído as unhas até o sabugo. Ela precisava de uma
manicure, muito. Ela tinha se encontrado com cinco clientes e passado o
resto do tempo no telefone tranquilizando os outros de que suas
informações financeiras estavam seguras. Esperançosamente.
Ela apertou a mão no aparelho do telefone. “Eu entendo, Sr.
Larson.” Primeiro Billy tinha feito merda com suas deduções e agora
isso. “Você precisa entender, eu tinha seu arquivo comigo ontem à
noite. As pessoas que destruíram nossos escritórios não estão com
nenhuma de suas informações.”
“Eu tenho sua garantia sobre isso?” O tom do homem acelerou em
agitação.
“É claro.” Ela suspirou. “Nós provavelmente deveríamos nos reunir
na próxima semana e repassar os documentos.” Havia uma boa chance
da Larson poder processar a empresa de CPA, uma vez que ela tinha
levado os erros de Billy à sua atenção. Eles provavelmente ganhariam.
“Eu te ligo para que possamos definir alguma coisa.” Ela desligou depois
de despedidas tensas.
Ela pegou os arquivos Manilha do The Pound para rever as
deduções, um bar local que ela esperava que pudessem mantê-la como
sua contadora. O proprietário tinha ficado muito preocupado com o
arrombamento, e ela tinha passado quinze minutos tranquilizando-o
através do telefone. Ela também tinha prometido verificar as deduções
pelas notas que havia rabiscado para a criação de um novo plano de
benefícios para seus empregados.
Seu celular tocou e ela leu a tela. Shane esperava lá fora. Hora de
ir. Ele tinha lhe assegurado que eles só teriam que ficar no motel por
mais algumas noites, e então ela podia voltar para casa. Aparentemente,
ele achava que seria capaz de descobrir quem estava atrás dele até lá.
Ele iria querer ficar em sua casa, então? Ela queria que ele
ficasse? A questão realmente se resumia em se ou não ela confiava nele,
e se ou não ele queria tentar fazer isso dar certo. Como eles poderiam
fazer isso, até que suas memórias voltassem? Sua cabeça começou a
doer.
Agarrando seus arquivos e bolsa, ela se apressou em direção ao
elevador, acenando para Johnston em seu escritório quando passou.
Meu, ele estava com raiva. Ninguém mexia com seus clientes.
O elevador rodou suavemente até o piso inferior. Ela saiu para o
frio do anoitecer, e apertou o casaco, tomando uma respiração
profunda. O cheiro de folhas em decomposição contrastava com a cor
alaranjada vibrante das folhas ainda nos ramos das árvores.
Porém, o ar cheirava a mortos.
Ela não pôde evitar o longo tremor que sacudiu seus ombros. O
mundo de repente ficou muito quieto. Fortalecendo os ombros, ela
forçou-se a se mover em direção a sua vaga de estacionamento, o
cabelo na parte de trás de seu pescoço em pé. Shane estava lá em
algum lugar, olhando para ela. Seu corpo respondendo simplesmente
porque ele estava perto. Quem diria que desejo e alerta poderiam se
misturar?
Uma figura se afastou do prédio e agarrou seu braço. Ela gritou,
puxando de volta. “Tom. O que você está fazendo?”
Ele franziu a testa. “Desculpe, Josie. Realmente.” O vento tinha
desgrenhado seu cabelo ainda mais do que o habitual. Ele apertou a
mão e começou a arrastá-la de volta para a porta principal do edifício de
escritórios.
Daniel tinha acabado de abrir a porta e ele congelou, as
sobrancelhas arqueadas.
Ela lutou. “O que está acontecendo? Solte-me.”
“Eu vou em um minuto,” Tom sussurrou, puxando mais forte. “Eu
juro, você é tão má quanto minhas irmãs. Vocês garotas nunca
pensam?”
Outra figura saiu das sombras. “Solte-a, Marsh.”
Shane. Obrigada Senhor. Tom a puxou para trás de suas costas.
Ela tropeçou em seus saltos, agarrando sua camisa de flanela para
não cair no concreto.
“Parado!” Uma voz masculina gritou quando um homem vestindo
um colete preto marcado SWAT saltou dentro da área. Veículos
guincharam, e sirenes chiaram enquanto veículos de emergência
derrapavam no estacionamento.
Malloy saiu de um carro preto sem marcação, a arma apontada
para Shane. “Major Dean. Você está preso.”
Shane olhou para o detetive e a miríade de armas apontadas para
ele. “Um monte de poder de fogo que você trouxe, Malloy.”
“Sim, bem. Eu vi o que acontece com os homens que atravessam
seu caminho.” Malloy gesticulou. “Vire-se e coloque as mãos sobre o
edifício.”
Josie acotovelou Tom fora do caminho. “Detetive! Eu disse que
Shane não me sequestrou. Você não pode prendê-lo.”
Tom se virou para ela. “Eu prestei queixa. Ele invadiu minha casa
e me nocauteou antes de levá-la. Isso é crime.”
Shane rosnou. “Você tinha uma arma apontada para mim, idiota.”
Tom deu de ombros. “Era minha casa e você estava invadindo. Eu
tinha o direito de defender Josie.”
Pânico elevou a respiração de Josie para ofegos curtos. “Tom. Não
faça isso. Por favor.” Sua mente girava. O que ela poderia fazer?
“Sinto muito.” Seus olhos escureceram na luz suave, seu queixo
endureceu e sua voz baixou para o tom que ele costumava usar quando
lidava com suas irmãs mais novas. “Você não sabe o que está fazendo.
Você não está pensando claramente.”
Filho da puta. Malloy agarrou Shane, o virou e o algemou em
segundos. Porque Shane permitiu. Graças a Deus seu marido não estava
lutando de volta. Neste momento, de qualquer maneira.
Malloy inclinou a cabeça, resignação em seus olhos. “Sra. Dean,
provavelmente você vai poder tirá-lo em algumas horas.” Ele levou seu
marido para uma viatura.
“Josie.” Shane a olhou, as mãos atrás das costas, os olhos um
matiz de cinza seriamente puto. “Fique de olho em sua retaguarda e vá
para casa. Não saia de lá até que te ligue.” Malloy empurrou sua cabeça
para baixo antes de enfiá-lo no carro.
Segundos depois, eles foram embora. A equipe da SWAT logo
atrás. O estacionamento ficou vazio.
Tom segurou seu braço, puxando-a para encará-lo. “Venha para
casa comigo. Eu posso te proteger.”
Fúria lavou através de seu sistema. Ela atirou o joelho em sua
virilha.
Tom se curvou com um oomph abafado, caindo sobre um joelho.
“Maldição.”
Ela se virou e olhou para Daniel, que tinha permanecido imóvel na
porta.
Ele sacudiu a cabeça. “Você vai arruinar sua carreira.”
Sem outro olhar, ela girou e correu para a Toyota, ligou a ignição
e rasgou fora do lote. Shane tinha dito para ela ficar de olho em sua
retaguarda e ir para casa. Provavelmente, o motel de merda. Ela sabia
que ele tinha dinheiro escondido em uma grande mochila. Ela precisava
do dinheiro para soltá-lo.
Os arquivos deslizaram fora de sua pasta. Ela certamente perderia
o bar como cliente se não fosse fazer as deduções como prometido. Ok.
Novo plano. Ela faria as deduções dos arquivos e voltaria para o motel
para pegar o dinheiro para resgatar Shane. A polícia precisava de tempo
para processá-lo, né?
Ela mordeu o lábio. Qual era o procedimento de fiança? Ela tinha
que para a delegacia? Meu, ela nem fazia ideia.
Capítulo 15

Josie manteve um olho no espelho retrovisor enquanto dirigia


através da cidade. Shane tinha lhe dito para ficar de olho em sua
retaguarda. Será que alguém realmente a seguia? Carros se
abarrotavam atrás dela, provavelmente pessoas voltando para casa
depois de um dia de trabalho duro. Como ela deveria estar fazendo. Mas
não. Primeiro, ela tinha que apaziguar um cliente chateado, e depois
resgatar seu marido da cadeia. Ela tinha se tornado uma daquelas
mulheres de televisão que socorriam seus homens. A risada que escapou
dela tinha uma borda de histeria bem elevada.
Ela estacionou na rua em frente ao The Pound, enfiando os
arquivos de volta na pasta. Trovão rolou acima. A primeira tempestade
de inverno estava prestes a cair.
Heavy metal martelava quando ela correu para dentro do clube. O
fedor de suor misturado com perfume vencido e fumaça encheu seus
pulmões. Luzes piscavam. Corpos giravam na pista de dança. Um monte
de corpos, considerando que era apenas oito horas de uma noite de
terça-feira. Olhando em volta, ela fez um caminho mais curto até o
garçom corpulento que estava atrás um grande bar de mármore.
Ele sorriu, um dente de ouro brilhando sob a luz fraca. “Oi,
senhora bonita. O que posso fazer por você?”
“Eu tenho alguns papéis para Paul,” ela gritou acima da música
alta.
“Ele está em uma reunião.” O barman acenou para um tamborete
cintilante. O vozeirão combinava com seu grande volume. “Sente-se,
tome uma bebida, e ele estará aqui em alguns minutos.”
Ela não tinha tempo para isso, mas também não tinha escolha. Ela
certamente não podia perder mais clientes. Com um dar de ombros, ela
deslizou em cima do banco. “Rolling Rock, por favor.”
O cara deslizou a cerveja através do balcão. “Em casa.” Ele piscou.
“Obrigada.” Ela tomou um longo gole. A cerveja era leve com um
acabamento suave, e ela se permitiu relaxar. O barman galopou até a
outra extremidade do bar para servir duas mulheres em tops apertados
e saias curtas. Saias muito curtas.
A porta da entrada abriu e fechou. Uma brisa fresca soprou
através de sua pele e o cabelo na parte de trás de seu pescoço arrepiou.
Ela se virou, observando a porta.
Um homem, um homem grande, parou logo no interior. Leve e
gracioso, ele andou até uma mesa perto da porta. Avançando como uma
pantera na caça. A camiseta escura cobria um peito espesso, enquanto o
jeans desbotado montava seus quadris. Cabelo preto caía até os
ombros, lhe dando um olhar de bad-boy que combinava com as botas de
motociclista em seus pés.
Duas garçonetes quase se chocaram numa corrida para servi-lo. A
loira peituda chegou primeiro, e sua bunda realmente se contraiu
enquanto ela anotava seu pedido.
Ele não deveria estar lá. Adrenalina chicoteou através de suas
veias. O clube atendia um público jovem, uma multidão festiva que
gostava de dançar. O cara sentado do outro lado da sala não era
festeiro. Ainda mais alarmante, ele não fazia nada para esconder o fato
de que ele não pertencia ali. Arrogância e um ar de apatia filtrava em
torno dele numa combinação mortal e assustadora.
O olhar dele para ela aumentou sua descarga de adrenalina. Ele o
desviou quando a garçonete deixou uma cerveja diante dele. Long-neck.
A mulher tropeçou em seus saltos quando seguiu em frente.
A respiração de Josie ficou presa na garganta. Um senso de
consciência puxou seu olhar do homem na mesa para a entrada traseira
perto dos banheiros. Outro homem, tão grande quanto o primeiro, se
apoiava contra a parede, uma cerveja na mão. Seu olhar pousou sobre
ela. Nenhuma expressão. Apenas foco.
Perigo. Entre os dois homens, uma sensação de perigo filtrou
através do clube.
Josie estremeceu. Eles a estavam seguindo? Quem diabos eles
eram? Eles não tinham feito mais do que reconhecer um ao outro, mas
eles não se encaixavam. Não neste clube.
Ela tinha deixado a arma no porta-luvas do carro. Sem dúvida, ela
precisava de uma arma. Eles tinham que ser os homens atrás de Shane.
Talvez. Ou talvez ela estivesse ficando louca, e esses caras estavam
apenas à procura de diversão.
Não. O de pé ignorou uma aprendiz-de-prostituta em uma roupa
sumária para manter o olhar sobre ela. Eles não estavam à procura de
diversão. A garota fez beicinho e pavoneou de volta para a pista de
dança.
“Ei, Paul está livre,” o barman gritou, levantando uma abertura no
bar. Josie saltou, quase derramando sua cerveja.
“Obrigada.” Ela passou apressadamente por dele, praticamente
correndo pelo corredor estreito para os escritórios na parte de trás. Um
olhar em direção ao bar lhe mostrou um corredor vazio. Com um
profundo suspiro para acalmar seus nervos saltando, ela bateu na porta.
“Entre,” disse uma voz masculina.
Calma. Ela precisava ter calma. Abrindo a porta, ela entrou com
um sorriso. “Oi, Paul. Tenho o conjunto de benefícios alinhados para
seus funcionários.” Ela avançou e sentou em uma cadeira de napa-
sintética para convidado para enfrentar seu cliente do outro lado de sua
enorme mesa de mármore.
Paul se inclinou para frente. “Ótimo.” Em seus primeiros vinte
anos, Paul tinha herdado um bom punhado de seu avô e rapidamente
construído seu clube dos sonhos. Sendo inteligente o suficiente para
contratar a empresa de contabilidade para ajudá-lo. Ele empurrou
cachos loiros grossos longe do rosto. “Desculpe ter sido tão chato mais
cedo. Eu só não gosto de ninguém sabendo sobre minhas finanças.”
Josie assentiu. Especialmente seu irmão traficante de drogas, que
ficou bastante irritado quando Paul herdou todo o dinheiro. Ela fez uma
nota mental para deixar Malloy saber sobre o irmão. Poderia ter uma
ligação com o arrombamento nos escritórios. “Eu sei. E te asseguro que
estamos fazendo tudo que podemos para descobrir o que foi levado e
por quem.”
Paul assentiu. “Eu sei. Então, quais papéis você trouxe para mim?”
Ela empurrou os arquivos Manilha em direção a ele. “O primeiro é
um plano de benefícios para empregados, o segundo é uma lista de
deduções que eu acho que você pode usar ao longo do ano.” Agora ela
tinha uma preocupação mais imediata. Estariam os homens ainda no
bar? Ela esperava que não. “As deduções deve lhe poupar cerca de dez
mil dólares a cada trimestre.”
“Ótimo.” Paul olhou para o relógio. “Que tal eu dar uma olhada
nisso mais tarde esta noite e te ligar amanhã? Eu, huh, tenho um
encontro.”
Josie sorriu e se levantou. “Sem problemas.” Alívio a encheu. Paul
não ia contratar outra empresa. Excelente.
Ela o seguiu pelo corredor até o bar, seus sentidos em alerta
máximo. Suas mãos apertadas em punhos. O cara contra a parede tinha
desaparecido. O homem na mesa continuava no mesmo lugar, o olhar
nela enquanto ela se esquivava através do bar. Raiva e medo bateram
juntos. Ela não ia engolir isso. Com um acesso de raiva, ela pegou sua
cerveja de onde a havia deixado no bar.
Levantando o queixo, ela caminhou em direção a ele,
arremessando sua cerveja sobre a mesa. O líquido borbulhou e
derramou sobre o topo. O bartender e dois seguranças estavam perto o
suficiente para ela chamar se fosse preciso. “O que você quer?”
O cara arqueou uma sobrancelha e tomou outro gole de cerveja.
“No geral ou neste momento?”
Ele parecia casual, mas um músculo flexionou em sua mandíbula.
As palavras podiam ter um duplo sentido, mas nem uma gota de
insinuação sexual ecoou nelas. “No geral.”
Surpresa brilhou em seus olhos escuros. A luz era muito fraca para
ela determinar a cor. “Uma vida tranquila.” Ele assentou sua cerveja. “O
que você quer?”
Ela deu de ombros. “O que aconteceu com seu amigo do outro
lado da sala?”
Um sorriso curvou o canto de sua boca. Familiar. Havia algo muito
familiar sobre aquele cara. Ele era um cliente da empresa? “Que amigo?”
“Que seja.” Ela revirou os olhos. “Eu tive um longo dia e não estou
a fim de jogar. Me deixe em paz ou você vai se arrepender.”
“Você se aproximou de mim, boneca.”
Ela precisava ir para o motel e depois salvar Shane. “Meu erro.”
Ela se virou, seu olhar em busca de refúgio. Emplastando seu sorriso
flertador, ela se aproximou do barman. “Ei, você me faria um grande
favor?”
Um sorriso dividiu o rosto dele. “A qualquer hora, senhora.”
“Tem um cara em uma mesa atrás de mim, um cara grande. Você
o distrairia por alguns minutos depois que eu sair?”
O barman olhou atrás dela. “Que cara?”
Josie virou. Ele tinha ido. Apenas duas garrafas de cerveja
permanecia sobre a mesa brilhante. Inquietação prendeu sua respiração
na garganta. “Bem, que tal me escoltar até meu carro? Apenas no caso.”
O barman saltou o balcão e estendeu um braço. “Eu ficaria
encantado.”
A chuva os encharcou quando eles saíram apressadamente, e ela
verificou o banco de trás antes de entrar. Vazio. Com um aceno para seu
herói temporário, ela entrou no tráfego, mantendo um olho atrás dela.
A escuridão desceu enquanto ela tomava estradas laterais,
dirigindo na direção oposta de onde precisava ir várias vezes. Ninguém a
seguia. Que ela pudesse ver, pelo menos.
Finalmente, ela chegou no motel e estacionou em frente ao lote de
seu quarto, observando. Esperando. Nada se moveu. Ela pegou o
revólver do porta-luvas e enfiou a arma pesada na parte de trás da
calça. A bolsa oferecendo um pequeno conforto em seu lado enquanto
ela atravessava a frente do lote mal cuidado e abria a porta.
Silêncio.
Obrigada, Senhor. Ela entrou e trancou a porta, acendendo a luz.
Vazio.
Esse sim foi um dia de cão. Ela se esquivou direto para o banheiro,
tomando um momento para lavar o rosto e usar as instalações. O que
ela deveria fazer?
Resgatar Shane. Era isso o que ela deveria fazer. Ele até podia ter
nocauteado Tom, mas ele estava apenas tentando protegê-la. Além
disso, os dois homens no bar estavam lá atrás dela. Ela não podia lidar
com eles, e eles tinham que ter algo a ver com Shane. É claro, ela
poderia contar à polícia sobre eles, mas eles não tinham feito nada
ainda, e ela não tinha ideia de quem eles eram.
Shane podia lidar com a dupla do bar. Cada instinto nela gritava
que eles iam voltar. Ela podia não confiar em Shane, mas ele era sua
melhor aposta para sobreviver ao que quer que estivesse acontecendo.
Então ela tinha que descobrir como fazê-lo sobreviver. Uma coisa de
cada vez.
Ok. Bom plano. Ela saiu do banheiro.
E parou congelada. Medo bateu seu coração contra as costelas.
Suas orelhas queimaram. Adrenalina rasgou através de seu sangue.
Os dois homens estavam sentados no sofá esfarrapado, olhos
cinzas focados nela.

Capítulo 16
Ela puxou a arma, firmando os pés no tapete feio. Ela deveria
apontar para um deles ou entre eles? Entre eles.
Os dois homens no sofá não vacilaram. Ou se moveram. O de
cabelos castanhos que tinha ficado de pé contra a parede mais longe no
bar arqueou uma sobrancelha. “Você imaginou que ela tivesse uma
arma?” Ele inclinou a cabeça para o lado, torcendo os lábios como se
num pensamento profundo.
“Não.” O homem de cabelo preto esticou as pernas longas. “Ela
jogou a bolsa sobre a cama.”
Familiar. Havia algo tão familiar sobre estes dois. Ela piscou os
olhos. “Quem diabos são vocês?”
O primeiro homem coçou a cabeça, olhando para o outro. “Bem?”
Com um aceno curto, o segundo homem falou. “Eu sou Matt e
este é Nathan.” Ele inclinou a cabeça. “Irmãos de Shane.”
Irmãos de Shane. Choque lavou através dela, e ela estampou
reconhecimento familiar no rosto. “Bem. Isso explica a cor dos olhos.”
Cinza. Cinza puro, assim como Shane. “Como vocês me acharam?”
“Nós te seguimos até o bar de seu trabalho e do bar até aqui,”
Matt disse, seu grande corpo relaxado no sofá.
“Não, vocês não fizeram. Eu verifiquei atrás de mim.”
Ele sorriu. “Eu sei. Você fez um bom trabalho, também. Quase te
perdemos na Pine Street.”
Quase não era bom o suficiente. De jeito nenhum ela poderia
enfrentar estes dois. Eles se esticavam bem mais de um metro e oitenta
e três centímetros, duramente embalados, e vibravam com a mesma
quietude sobrenatural assim como Shane. E eram tão grandes quanto
Shane. Provavelmente tão perigosos quanto. “Então, por que me
seguiram? Por que não foram tirar seu irmão da cadeia?”
“Nós vamos. Shane está seguro agora. Você não,” Nathan disse,
esfregando o queixo.
Ela trocou seu alvo para ele. “Isso é uma ameaça?”
Confusão torceu seu nariz. “Hum, não. Eu nunca ameaçaria
alguém tão suave. Isso soou como uma ameaça?” Ele arqueou uma
sobrancelha para o irmão.
Matt sacudiu a cabeça. “Eu acho que não. Eu achei uma
constatação de um fato.”
Ela endireitou os ombros. “Escuta, Laurel e Hardy13. Parem com
isso. Vocês não estão ao menos um pouquinho preocupados de eu atirar
em vocês?”
Um sorriso curvou os lábios de Matt. “Querida, você tem a
segurança presa.”
13
Dupla de comediantes norte-americanos, que levaram sua distinta comédia pastelão para muitos filmes de 1927.
Maldição. Seu polegar clicou a alavanca solta. “Não agora, não
mais.”
O sorriso se alargou. “Shane estava certo. Ela é uma coisa.”
Prazer veio espontaneamente. Ele tinha falado sobre ela para seus
irmãos? De uma maneira boa? Então irritação disparou totalmente. “Ele
nunca mencionou vocês. Nem uma única palavra.”
Os olhos cinzentos de Nathan suavizaram. “Ele não podia, Josie.
Confie em mim.”
“Eu não confio em nenhum de vocês.” Triste, mas verdade. Nem
mesmo Shane. Quem eram essas pessoas?
“Garota esperta,” Matt disse. “Então, ah, você se importaria de nos
dizer quais são as acusações contra Shane? Eu sei que houve um BOLO
sobre ele pelo seu sequestro, mas a polícia o cancelou hoje mais cedo.”
Ela apertou os dentes. “Estou apontando uma arma para vocês.” O
quão estúpido eram esses caras? “Saiam.” Casa. Ela arrumaria as malas
e voltaria para casa. Se Shane ficasse bem longe, ela ficaria segura. Para
continuar com sua vida. Sua longa, e chata, vida solitária.
“Na verdade, você está apontando a arma para Nathan,” Matt
disse. “Ele já levou um tiro antes. Vá em frente.”
“Você é um idiota,” Nathan murmurou.
Suas conversetas beirava ao cômico, mas uma tensão espessa
flutuava pelo quarto. Perigo eriçava através do ar.
“Vocês, por favor, poderiam sair?” Por que ela estava pedindo? Era
ela quem segurava a arma.
Os olhos de Matt suavizaram. “Não. Shane aparentemente quer
que você fique segura. Isso significa que vamos mantê-la segura.”
“Por quanto tempo? Até que ele me deixe de novo?” Sua voz
falhou.
“Ah, Josie.” Matt se inclinou para frente, o olhar sério. “Ele não
tinha escolha. Jory foi morto, e tivemos que nos mover. Deixá-la era a
única maneira de mantê-la segura e fazer o que ele precisava fazer.”
Fogo chicoteou através dela. “Mentira. Desculpe, Matt. A velha
história 'eu te machuquei para te proteger’ não funciona mais comigo.”
Ela trocou seu alvo para ele. “Como Jory morreu?” A pergunta era
arriscada e ela sabia disso.
Ambos endureceram. Já duros, seus rostos endureceram ainda
mais. Matt segurou seu olhar, enquanto Nathan baixou o dele para o
chão. Dor engrossou o ar.
Matt limpou a garganta. “Precisamos soltar Shane. Você vai nos
ajudar ou não?”
Ok. Então, eles compartilhavam informações tão livremente
quanto Shane fazia. De jeito nenhum. “Se eu ajudar, vocês vão embora?
Todos vocês?”
Matt fez uma careta. “Nate e eu vamos embora. Você está por sua
conta com Shane.”
“Shane vai embora,” Nathan disse.
Matt lhe cortou um olhar, “Nate —”
“Shane vai embora.” O queixo de Nathan estalou fechado. “Eu
tenho um irmão na sepultura, e todos próximos de nós morrem. Shane
vai embora. Ele vai seguir em frente nem que eu tenha que batê-lo sem
sentido para fazer isso.” Ele exalou alto. “Sinto muito, Josie. Mas você
deve cortar suas perdas e seguir em frente. Não há futuro com nenhum
de nós.”
Ela já tinha imaginado isso, mas ouvir as palavras proferidas tão
friamente deslizou gelo por sua espinha. Josie abaixou a arma. Sua mão
doía, mas ela continuou a segurá-la de qualquer maneira. “Quantos
irmãos existem?”
Matt tomou sua medida. “Quatro.”
Surpresa brilhou no rosto de Nathan. Aparentemente Matt não era
geralmente tão acessível. Nathan limpou a garganta. “Quatro contando
Jory.”
Três irmãos ainda vivia. Uma família de verdade. “Shane pode não
se lembrar de vocês.”
O sofá balançou quando Matt empurrou sua massa fora dele. “Eu
sei. Temos seus registros médicos.” Ele esticou o pescoço. “Por que
Shane foi preso?”
Ela não se preocupou em perguntar como ele tinha conseguido
colocar as mãos nos registros médicos de Shane. “Eu fui ficar com um
amigo, e dois homens tentaram invadir a casa. Shane os deteve e
nocauteou meu amigo para, ah, me levar.”
Nathan se esticou de pé. “Tom Marsh?”
Esses caras podiam mesmo obter informações, não podiam? “Sim.
Tom tinha uma arma apontada para Shane, então Shane se defendeu. Aí
Tom prestou queixas.”
Nathan sorriu. “Eu te ouvi defender seu homem.”
“É a verdade.” Ela torceu o nariz para ele. Tão familiar. Deveria
ser a semelhança com Shane. Seu homem. Pelo menos
temporariamente.
“Bem. Devo mostrar meu distintivo?” Nathan puxou uma carteira
do bolso de trás e abriu a parte superior.
Aquilo era um distintivo do FBI?
“Não.” Matt alcançou uma caixa ao lado da cama que tinha estado
escondida por suas longas pernas. Ele tirou uma carteira, que ele jogou
para seu irmão. “Você é Nathan Jones, advogado na lei. Parabéns.”
Josie limpou a garganta. “O distintivo do FBI funcionaria melhor.
Ele poderia levar Shane em custódia federal.”
Nathan olhou para ela. “Eu gosto de como você pensa... E você
realmente parece um anjo.”
Ela endureceu. O apelido. Shane tinha discutido ela com seus
irmãos. O que ele tinha dito? “Obrigada.”
Matt sacudiu a cabeça. “O distintivo é autêntico. Eu prefiro não ter
a conexão entre Nathan e Shane no registro. Ainda não, de qualquer
maneira.”
“Por que não?” Sua mão apertou em torno da arma. Ela deveria
colocar a arma em sua bolsa, mas isso parecia imprudente. Apenas no
caso.
Matt deu de ombros. De pé, ele parecia ainda mais alto do que
Shane, que tinha um metro e noventa centímetros.
Ela enfrentou Nathan. “Você é realmente do FBI?”
“Não.” Nathan pegou uma carteira de motorista da Califórnia da
carteira e estudou o plástico.
“Eu não entendo. Por que vocês têm tantas credenciais falsas?”
Inquietação começou a fazer sua cabeça latejar. Quem eram esses
caras?
Nathan puxou uma grande arma na parte de trás da cintura e a
jogou para Matt. “Eu não deveria estar armado.”
Matt a colocou sobre a mesa arranhada mantendo a televisão
desgastada. “Nós realmente não podemos explicar. Shane confia em
você, por isso estamos te deixando saber tanto. Mas quanto menos você
souber, mais Shane estará seguro.” Ele se virou para Nathan. “Boa
sorte.”
Nathan assentiu. “Eu trouxe um terno — está no carro.” Com uma
piscadela para Josie, ele se esquivou para fora da porta.
Silêncio. Sozinha com Matt, Josie se virou para observá-lo. “Então,
você é Mattie.”
Ele cruzou os braços sobre o peito largo. “Este sou eu.”
“E aí, Shane me ama, ou o quê?”

*****

O cheiro da sala de interrogatório deixou os neurônios disparando


no cérebro de Shane. Antisséptico. Medo. Sangue. Ele apoiou os
cotovelos sobre o metal duro da mesa aparafusada embaixo, as mãos
algemadas diante dele. Em menos de um minuto, ele poderia tê-las
tirado.
As paredes verdes encardidas se fechavam sobre ele, e ele
novamente contou a velocidade do zumbido da luz fluorescente acima
dele. Duas câmeras estavam escondidas no teto, também emitindo uma
frequência baixa.
Recordações.
Uma sala como esta. Um homem grande, cabelo bem-curto, olhos
mortos. Dizendo que se ele perdesse de novo, ele iria para o outro
acampamento. Desapareceria como as outras crianças.
Um campo de treinamento. Duramente embalado e empoeirado.
Meninos, da sua idade, lutando lado a lado. Com facas.
Barracões. Camas para meninos em crescimento. Seu irmão Matt
lhe ensinando a bloquear um ataque pelo lado.
A porta se abriu, arrancando Shane de volta ao presente. Malloy
entrou, seguido por outro homem vestindo um terno azul-marinho e
gravata em negrito.
Malloy inclinou a cabeça. “Seu advogado está aqui, Major Dean.”
Shane arqueou uma sobrancelha, mantendo o rosto em branco.
Seu estômago apertou com força. Memórias dispararam como estilhaços
de vidro através de seu cérebro. Seu irmão não era advogado. Mas seu
irmão estava lá.
Seu irmão passou pelo detetive, tomando um assento ao lado de
Shane. “Tudo que meu cliente disse sem advogado é irrelevante.”
Malloy bufou, mastigando seu chiclete. Ele estendeu a mão e abriu
as algemas, girando-as no ar. “Não se preocupe, conselheiro. Seu cliente
não disse um pio desde que o trouxemos três horas atrás.” A porta se
fechou quando ele saiu.
Shane se virou para o homem. O passado batendo duro em seu
intestino. Seu irmão. Respirar doía de repente. “Nathan.”
Nathan assentiu. “Sim. Nathan Jones, seu advogado.” Ele olhou
mais de perto. “Major Dean, como está a cabeça?”
Memórias percorreram o cérebro de Shane — tantas, tão rápido.
Desencadeadas por seu irmão. Ele cambaleou. “Ótima.” Nathan lhe
ensinando a arrombar uma fechadura. Momentos em que eles tinham
passado juntos crescendo, uma vez em que ele tinha ajudado Nathan
em uma briga de faca. Sangue borrifando. Por um segundo Shane se
perguntou se podia confiar em Nathan. Instinto e memórias se
misturaram em um sim desesperado. Seus irmãos eram as únicas
pessoas em quem ele podia confiar. “Memórias estão filtrando muito
rápido.”
Os olhos de Nathan iluminaram. “Ótimo. Bom saber.” Ele olhou
para o teto. “Então. Eu verifiquei na recepção, e você não foi
formalmente processado ainda.”
Shane assentiu. Isso era bom considerando que eles teriam que
roubar suas impressões de volta se ele tivesse sido. Seu crânio
martelava conforme a barragem segurando sua vida para trás desabou.
“Eu presumo que seja apenas uma questão de tempo?”
“Não.” Nathan abriu um pequeno smartphone para ler na tela.
“Minha empresa está em contato com o escritório do advogado de
acusação. Eles não têm um caso, e você deve ser liberado logo.”
“Você acha?”
Nathan fechou o telefone. “Bem, você salvou o Sr. Marsh e a Sra.
Dean de dois atacantes. Você estava defendendo o seu cônjuge quando
tirou a arma do Sr. Marsh e foi obrigado a deixá-lo inconsciente.
Temporariamente, é claro.”
“É claro.” Flashbacks. Nathan sempre tinha sido um muito bom em
girar uma merda com o melhor deles. Calor se assentou debaixo de sua
caixa torácica que ele se lembrava de seu irmão. Sua vida estava
voltando. “Onde está minha esposa?”
Nathan se empurrou para trás da mesa, as mãos tocando no braço
da cadeira. “Sinto muito. Não tenho conhecimento de sua esposa.”
Shane contou as batidas. Código Morse. Josie estava segura com
Matt.
Matt?
Sim, Matt. Seu irmão mais velho, aquele que o havia ensinado a
lutar. Sua respiração acelerou, e ele piscou contra as vertigens. Lágrimas
tentaram picar a parte de trás de seus olhos. Ele se lembrava. Ele não
estava sozinho.
Então, ele limpou a garganta, tentando limpar a cabeça. “Sim,
bem, eu acho que ela está prestes a me deixar. Depois dessa prisão e
tudo mais.” Ele relaxou os ombros e deu um pequeno encolher de
ombros. Era melhor a mulher nem sequer pensar em deixá-lo. Ela era
sua vida, e de jeito nenhum ele a deixaria novamente.
Nathan estreitou os olhos, parando a batida. “Sim, bem, isso
provavelmente seria melhor. Considerando o perigo em que você a
colocou.”
Se Shane tinha um sorriso “vá se ferrar”, ele o deu a seu irmão.
“Falando nisso, algum indício de porque o perigo está me seguindo?”
“Não, desculpe.” Nathan tinha um bem decente sorriso de “vá se
ferrar” também. “É claro, eu sou apenas seu advogado. Você não me
conta tudo.” A porta se abriu, e ele limpou a garganta, endireitando-se
quando uma mulher alta em um vestido vermelho sexy semiformal clicou
seus estiletes pelo chão.
Ela se sentou em frente a eles. “Cavalheiros.” Seus cabelos negros
tinham sido varridos longe da pele clara salpicada com sardas. “Eu sou
Cynthia Miller, advogada de acusação. O chefe de polícia me arrastou
fora de um inferno de uma festa.”
Nathan alisou a gravata de seda. “Nathan Jones aqui pelo Major
Dean. Peço desculpas, Sra. Miller. Nosso cliente aqui, bem, ele deve ser
liberado. Ou acusado.” O sorriso que Nathan brilhou era todo dentes e
ousadia.
Malloy se arrastou para dentro, baixando sua massa em uma
cadeira ao lado da promotora. “Eu tenho uma vítima disposta a
apresentar queixa.”
Nathan estalou a língua. “Você tem um amante rejeitado que
estava puto que meu cliente salvou a garota, enquanto Marsh acabava
em sua bunda.” Ele limpou a garganta. “Perdoe-me, Senhora.”
Olhos verdes brilharam. “Eu sei o que é uma 'bunda', Sr. Jones.”
Seu tom deixou perfeitamente claro que ela o considerava um. Ela
limpou a garganta. “Presumo que a mulher está disposta a depor?”
Nathan se sentou para frente. “Ela está disposta a depor que Tom
apontou uma arma para Shane, que apenas se defendeu. Depois, ela foi
de boa vontade com ele.”
Cynthia estreitou seu olhar sobre Shane. “Major?”
Ele limpou a garganta. “Os dois homens que eu extrai significavam
dano. Eu não os matei e apenas os amarrei para a polícia.” Ele alfinetou
Malloy com um olhar duro. “Marsh puxou uma arma. Josie estava muito
perto do barril; Eu pensei que ela pudesse se machucar. Eu o desarmei,
ele lutou, e eu o nocauteei por um breve tempo. Nenhum dano, nem
mesmo uma contusão.”
Cynthia suspirou. “Não há nenhum caso aqui, Detetive.” Ela se
levantou e olhou para um relógio antigo em volta de um pulso bastante
delicado. “Deixe-o ir.”
“Mas —” Malloy se empurrou para trás da mesa, a cadeira
raspando o concreto duro.
“Mas nada.” Ela abriu a porta. “Você quer levar um fuzileiro naval
condecorado a julgamento por salvar sua esposa de dois atacantes e um
namorado rejeitado com uma arma. Se alguma outra coisa aparecer,
acuse-o. Neste momento, não há nada aqui para levar a julgamento.
Deixe-o ir.”
Malloy se levantou, seu olhar duro em Shane. “Parece que você
teve sorte novamente, Dean.” Ele bateu os arquivos contra a mão. “Saia
da cidade. De uma vez, seja um cara decente e deixe aquela garota em
paz. Ela está melhor sem você.” Sua mandíbula endureceu.
Shane endireitou os ombros e se levantou. “Eu nunca vou deixá-la,
Malloy.” Ele girou e seguiu seu irmão para fora da sala.
Capítulo 17

Josie lutou contra a vontade de bater a cabeça contra a mesa.


Agora ela tinha que convencer três imbecis maiores-do-que-a-vida que
ela precisava ir trabalhar. Havia de repente demasiada testosterona em
sua vida.
A boa notícia era que desde que Shane tinha sido libertado, ele
poderia levá-la abertamente para o trabalho. Sem mais se esconder. O
que era bom, porque ela não gostava de mentir para seus colegas de
trabalho. Mas o ruim era porque o homem estava sentado esparramado
em sua cadeira de convidados, os olhos cinzentos focados
exclusivamente nela.
“Shane. Você precisa sair para que eu possa fazer algum
trabalho.” Isso, ou atirar aquela bunda sexy sobre a mesa e ter seu
caminho com ele. Mais uma vez.
Ele juntou os dedos sob o queixo. “Então. Você e Mattie tiveram
uma boa discussão, não foi?”
Calor encheu seu rosto. “Eu tinha algumas perguntas.” Ela se
inclinou para frente, os cotovelos sobre a mesa. “Você está se
lembrando de sua vida?”
“Sim.” Seus olhos não traíram nada. “Há muitos espaços em
branco, mas os buracos estão se preenchendo — embora meus irmãos
tenham que dar algumas explicações.”
A expressão velada era uma que ela conhecia muito bem.
Aparentemente, o verdadeiro Shane estava voltando... Aquele que não
podia confiar nela com a realidade ou com a verdade. Ela sufocou um
suspiro de dor. “Eles não explicaram tudo?”
“Ainda não. Estamos todos lutando agora, mas eu pretendo
questioná-los logo.”
Ela assentiu. “Você não tem uma consulta agendada com os
médicos?”
“Não.” Ele esticou as longas pernas e as cruzou na altura dos
tornozelos. “Sobre o que você conversou com Matt?”
“Eu lhe perguntei se você me amava e por que você tinha me
deixado.” Ela não tinha dúvidas de que Matt já tinha dado a Shane o
resumo. Ela não tinha absolutamente nenhuma razão para mentir.
“Eu te disse que te amava.”
“Você me disse um monte de coisas.”
Ele exalou, dando um pequeno aceno de cabeça. “Isso eu fiz.”
“Matt também disse que você era uma má aposta, que todos
vocês eram más apostas.” Ele tinha feito essa declaração com tristeza e
uma mandíbula determinada.
“Nós somos.” Shane estendeu a mão, enrolando os dedos para
cima. “Mas isso não significa que você não vai rolar os dados, anjo.”
“Desculpe-me?”
“Dessa vez, eu não vou te deixar.” A voz dele permaneceu estável
e segura, enquanto a mandíbula apertou.
Seu coração bateu forte contra suas costelas. “Por que você me
deixou, então? Por que você mentiu sobre permanecer na Marinha?”
Ele suspirou. “Não tenho certeza. Mas vou descobrir a verdade, eu
prometo.”
Dor filtrou através de sua pele até que seu coração doía. “Por que
você não confia em mim? Por que você não pode simplesmente me
dizer?”
“Eu confio em você, e eu vou te dizer, assim que as memórias
voltarem.” Determinação brilhou naqueles olhos perigosos. Cedro áspero
e masculino perfumou o espaço. Ele suspirou. “Você está prestes a ficar
chateada comigo, e antes que faça, eu gostaria que você entendesse
que eu te amo. Desde o segundo em que você piscou esses bebês azuis
para mim.”
Oh, isso assim não soava bem. “Eu já estou chateada com você.”
Ela puxou fechado o arquivo que tinha estado fingindo trabalhar. “O que
você tem a dizer?”
Ele limpou a garganta. “Eu quero que você deixe seu trabalho e
venha para o nosso, ah, quartel-general. Onde posso mantê-la segura.”
“E onde é seu quartel-general?”
“Eu não posso te dizer.”
Descrença a teve tomando fôlego. “Você nem mesmo confia em
mim o suficiente para me explicar o que está acontecendo, e quer que
eu faça as malas e me mude com você para algum lugar que você não
pode revelar?” Raiva lutou com uma tentação que ela nunca admitiria
em voz alta. Ele a queria com ele. Como seria fácil chutar a realidade
fora do caminho e ir? “Eu quero tentar e confiar em você, Shane, eu
realmente quero.” Ela agarrou uma caneta tão apertado que os nós de
seus dedos ficaram brancos. “Mas eu não te conheço. Você nunca me
deixou fazê-lo.” De jeito nenhum ela desistiria dessa vida que ela
trabalhara tão duro para construir nos dois últimos anos. Não sem saber
tudo.
“Você sabe o que você precisa saber.” Ele deixou cair os cotovelos
sobre os joelhos, inclinando-se para frente. “Você é tudo para mim, e eu
vou mantê-la segura. Eu prometo.”
Ele não entendia. “Eu não quero segurança.”
Uma expressão intrigada se assentou entre seus olhos. “É claro
que você quer. Uma mulher como você, precisa de segurança. Eu posso
te fornecer isso agora.” Ele coçou o queixo. “Ou serei capaz disso em
breve.”
“Uma mulher como eu?” Com quem diabos ele pensava que tinha
se casado? É claro, ela queria estar segura, mas ela não era nenhuma
vítima assustada.
“Sim. Suave, inteligente, sexy.” Ele lambeu os lábios. “Frágil.”
Frágil? Não nesta vida. De onde vinha essa percepção distorcida
das mulheres? “Como era sua mãe, Shane?”
Ele arrancou. “Ah, eu tenho certeza que não tive uma.”
“Assim como você não tinha irmãos? Ou você honestamente não
teve uma?” Ele podia se esquivar com o melhor dele. Ele fez uma careta.
“Não. Eu meio que me lembro querendo uma mãe, mas não obtive
uma.”
“Pai?”
“Acho que não.”
Então grande parte disso podia ser verdade. Ele era um órfão
como ela. “Você conhece seus irmãos. Quem ficaria com quatro
rapazes?”
Shane sacudiu a cabeça. “Essa é uma história que eu não estou
pronto para contar hoje.” Ele colocou as duas mãos sobre a mesa. “Eu o
farei, eu prometo. Assim que você estiver em algum lugar seguro e eu
possa me lembrar de tudo.” Ele franziu a testa. “Algumas coisas do meu
passado ainda estão muito nebulosas.”
Suas memórias estavam voltando. Quando o fizesse, ele poderia
partir novamente. “Você se lembra por que me deixou?” Fogo percorreu
seu sangue.
Um fogo correspondente brilhou nos olhos dele. “Eu sinto muito.
Eu sei que Jory morreu por volta desse tempo. Talvez eu tenha partido
porque eu não queria que nada acontecesse com você. Matt disse que
eu fui disfarçado para tentar descobrir o que tinha acontecido com Jory.”
Tantas perguntas. “Como Jory morreu?”
Ele esticou o pescoço, exalando alto. “Nós ainda estamos tentando
imaginando quem foi, anjo. Eu estive disfarçado por dois anos tentando
descobrir. Infelizmente, as memórias dos últimos dois anos não
voltaram.”
“Você acha que descobriu quem o matou?”
“Eu suponho que sim, considerando que alguém está atrás de
mim. Alguém ficou sabendo o suficiente sobre mim para grampear sua
casa.” Ele se levantou e se inclinou mais perto, as mãos ainda sobre a
mesa. “Matt e eu vamos nos encontrar mais tarde para repassar os
arquivos e tentar dar sentido a toda essa situação. Aparentemente eu fui
tão fundo que não podia fazer contato, e ele não sabe muito mais do
que eu.” Ele se inclinou ainda mais perto. “Mas, obviamente, eles
descobriram sobre você, então, manter distância não é mais necessário.
Você está em perigo a partir de quem está me caçando, e eu tenho a
sensação de que eles iriam usá-la para chegar até mim sem pestanejar.
Eu vou fazer o que for necessário para mantê-la segura.”
E quanto a seu coração? Ele não ia mantê-lo seguro. Ele se
elevava sobre ela. Mesmo com a mesa entre eles, ele exalava promessa
mortal. Ela estremeceu. “Eu me recuso a tomar uma decisão sobre o
resto da minha vida sem todos os fatos.” Ela era uma CPA pelo amor de
Deus. O que mais ele poderia esperar?
“Eu entendo, e eu vou te contar tudo.” Ele se endireitou,
deslizando as mãos nos bolsos do jeans desgastado. “Porém, você vai
estar em segurança primeiro. Goste ou não.”
Fúria estabeleceu um chiado em seu crânio. “Você tenta me levar
de novo, e eu vou prestar queixa por sequestro.” Ela ficou de pé,
batendo as mãos sobre a mesa e se inclinando em direção a ele. “Eu me
pergunto o quão bem você pode me incomodar de uma cela.”
O lábio superior dele se curvou. “Você fica tão bonitinha quando
está me ameaçando.”
Raiva disparou através dela até que ela temia que sua cabeça
fosse explodir. “Não se atreva a tentar ser condescendente comigo. Eu
mandei um babaca direto para o chão com um chute certeiro ontem, eu
não tenho nenhum problema em fazer isso de novo.”
Ele arqueou ambas as sobrancelhas. “Você esteve em perigo?
Quem exatamente você precisou chutar?” Tensão rasgou pelo ar.
Ela limpou a garganta, ignorando a onda de mal-estar que
atravessou sua pele. De jeito nenhum ela deveria ter falado sobre isso.
O detetive Malloy já tinha levado Shane quando ela chutou as bolas de
Tom para o céu de sua boca. “Eu não estou preparada para discutir isso
com você.” Veja o quanto ele ia gostar de não ter o apuramento correto
da verdade.
Ele baixou o queixo, as pálpebras semicerradas. “Tá querendo
jogar comigo, anjo?”
Fale sobre intimidante. Ela endireitou sua postura. “Manda ver,
Major.”
“Nada sábio, pequena.” O sorriso revelou uma covinha e uma
estranha luz em seus olhos. “Eu conheço algumas regras para jogos que
você nunca ouviu falar. Eu prometo.”
Um delicioso arrepio percorreu suas costas. Apenas orgulho a
manteve no lugar. “Conhece, é? Interessante.” Alguma coisa tinha
acontecido nos dois anos que eles ficaram separados. Ou enquanto sua
memória tinha fugido. Shane estava diferente. Ele finalmente estava
revelando partes de si mesmo. Ela queria tanto conhecê-lo. Tudo dele.
“Onde no mundo você aprendeu esses jogos?”
“Oh, bebê,” ele exalou. “Alguns dos pensamentos que se espalham
pela minha cabeça iriam assustá-la até a morte.” Ele balançou a cabeça,
lamento torcendo seus lábios. “Você não quer me desafiar, Josie. Você
não vai ganhar.”
Não mesmo? A tentação de ver até onde ele iria a incitou. A
sensação de perigo umedecendo seu sexo. “Que pensamentos se
espalham por sua cabeça?”
“Não.” Ele umedeceu os lábios, e ela lutou contra um gemido.
Então ele abriu o telefone, lendo na tela. “Nós vamos terminar essa
discussão mais tarde, querida.”
Por que isso tinha soado como uma ameaça? “É mesmo?”
Ele fechou o telefone, o olhar prendendo o dela. “Eu garanto.”
Duas passadas o levaram até a porta, onde ele parou quando se
deparou com Vicki. A mulher arregalou os olhos para ele, a boca pintada
de vermelho aberta. Shane deu um passo atrás.
Josie lutou contra um bufo. “Shane, esta é minha assistente,
Vicki.”
Vicki estendeu a mão, os cílios vibrando rapidamente. “Você deve
ser o marido.”
“Sim.” Shane brevemente apertou sua mão, deslizando em torno
de Vicki para a porta, dando à mulher um amplo espaço. Uma vez em
segurança fora de alcance, ele enfrentou Josie acima da cabeça de Vicki.
“Fique no prédio até eu voltar. Vou te dar o resto da semana para
empacotar suas coisas aqui. Depois partimos.” Ele saiu antes que ela
pudesse responder.
Josie caiu para trás em sua cadeira. As mãos tremendo. O que
aquele homem fazia com ela.
Vicki ventilou seu peito bem-dotado. “Aquele homem é seriamente
quente.”
Josie bufou. “Isso é dizer pouco.” Ela se empurrou de volta para a
mesa. “O que está acontecendo?”
“Tom Marsh ligou.” Ela revirou os olhos. “Eu não te culpo por
ignorá-lo com o marido sexy-como-o-pecado de volta na parada.”
“Obrigada, Vicki.” Josie mordeu o lábio. “Eu vou cuidar de Tom.”
Vicki assentiu e se dirigiu de volta para o corredor, mascando seu
chiclete no caminho.
Josie endireitou os papéis sobre a mesa, culpa rodando em seu
abdômen. Tom era um bom amigo e tinha sido desde que ela chegara
na cidade. Embora ele estivesse errado por entregar Shane, ele tinha
feito isso para protegê-la. Para ajudá-la.
Ela olhou para o relógio. Talvez ela pudesse correr até a
lanchonete no primeiro andar e pegar cappuccinos para ambos, como
uma espécie de pedido de desculpas. Escapar de seu escritório, mesmo
que para apenas um café, era muito atraente. Ela ficaria no edifício, de
modo que Shane não ficaria chateado, mas ela precisava de um pouco
de cafeína, bem como a chance de concertar as coisas com Tom.
Ela esticou as pernas a caminho do elevador. Já tinha bastante
tempo que ela tinha saído para uma corrida. Algo que ela e Shane
faziam juntos durante seu breve casamento. Ela tinha amado correr com
ele.
Seu cartão pagou o café no primeiro andar, e ela tomou outro
elevador para cima. Será que Tom estaria com raiva? Ela realmente o
havia golpeado.
O andar de Tom consistia em várias empresas menores, todo o
espaço dividido. A bandeja se equilibrou facilmente em suas mãos
quando ela sorriu para a recepcionista no piso compartilhado. A jovem
morena disse algo em um telefone e olhou para cima com um sorriso.
“Tom disse para ir na parte de trás.”
Bem, pelo menos ele a veria. Josie assentiu, seguindo pelo
corredor minuciosamente decorado, passando por portas fechadas, até o
pequeno escritório de Tom. Ela entrou sem bater. “Eu te trouxe café.”
Movimentos cuidadosos e ela colocou um copo na frente dele, ficando
com o outro e indo para um assento.
Tom estava sentado atrás de sua mesa toda arranhada, a camisa
de flanela enrolada mostrando antebraços musculosos. Planos de
construção empoleirados contra uma parede oposta, e um conjunto de
ferramentas antigas decorando a parede lateral. “Isto é um pedido de
desculpas?” Seu cabelo castanho estava despenteado, como se ele
tivesse passado as mãos por ele. Um leque de papéis estavam
espalhados por sua mesa, todos contratos de licitação.
Josie lutou contra um rubor, concentrando-se em seu amigo e não
na vista espetacular das montanhas da pequena janela. “Sim. Desculpe-
me pela joelhada. Embora você estivesse errado em entregar Shane
para a polícia.”
Um sorriso brincou nos lábios de Tom. “Ainda assim, você não
precisava me transformar em um eunuco.”
Ela limpou a garganta. “Ah, bem, você está bem?” Ela, na
verdade, não queria ter uma discussão sobre suas bolas. Não que ele
não fosse quente, porque boa aparência era pouco. Mas seu coração
estava em outro lugar.
“Eu estou bem. Foi uma bom movimento — um que eu espero que
minhas irmãs saibam usar se alguém alguma vez as ameaçar.” Ele
tomou um gole do café. Sua garganta se movendo quando ele engoliu,
um movimento masculino em um homem apto.
Alívio a encheu. Ela não tinha muitos amigos e certamente não
queria perdê-lo. “Sinto muito. Realmente.”
Tom colocou o copo sobre a mesa. “Existe algo que eu possa fazer
para ajudar?”
“Não.” Ela tomou outro gole. “Eu vou descobrir meu caminho. Eu
vou.” Ela iria, né?
Ele balançou a cabeça. “Espero que sim.” Ele se recostou e ela foi
atingida novamente pelo uniformidade perfeita de suas feições. Nariz
reto, maçãs do rosto salientes, lábios carnudos.
“Você é um homem de boa-aparência, Tom.”
Ele revirou seus profundos olhos castanhos. “Obrigada.” Uma
fileira de números passando através da tela chamou a atenção dele. Ele
se voltou para ela. “Alguma notícia de quem destruiu seus escritórios?”
“Não.”
“Isso é tão esquisito.” A tela chamou sua atenção novamente
antes de ele se concentrar de volta nela. “Eles tinham que estar à
procura de algo. O que você acha que eles queriam?”
“Nenhum indício. Possivelmente informações financeiras, sobre
aleatórios grandes clientes. Vai saber.” Os números brilharam amarelo.
“O que está segurando sua atenção?”
Tom deu de ombros. “O município está concedendo lances em três
projetos, e todos os prêmios de subcontratação está passando.”
“Espero que você consiga um par.” O homem tinha um trabalho a
fazer, e ela o estava distraindo, então ela se levantou. “De qualquer
forma, obrigada por ser tão compreensivo sobre toda a situação. Eu
aprecio sua amizade.”
Ele se inclinou para trás, os olhos escuros avaliando e o fazendo
parecer mais velho. “Eu quero mais.”
Ela abriu a boca para falar, mas nada saiu. Então, ela limpou a
garganta. “Eu sei —”
“Não, eu não acho que você faz.” Os números brilharam sobre a
tela, mas dessa vez Tom ignorou. “Eu não vou deixá-la arruinar sua
vida.”
Ela deu um passo atrás. “Eu, uh, eu não estou arruinando minha
vida.”
“Não. Você não está.” Determinação ergueu seu queixo.
Irritação rodou através dela. Chega de homens prepotentes. “Eu
não te prometi nada.”
“Não mesmo?” Ele inclinou a cabeça para o lado. “Isso é discutível.
Independente disso, eu vou descobrir o que está acontecendo com seu
futuro-ex-marido. Ele não é o único com contatos no departamento de
polícia.”
Isso não poderia ser nada bom. Shane precisava se manter
discreto, assim como seus irmãos. “Eu agradeceria se você me deixasse
lidar com isso.”
Tom se virou de volta para a tela. “Obrigada pelo café.”
Como uma descartada, essa foi uma boa. Girando nos
calcanhares, ela foi direto para o elevador. Como Tom podia pensar que
ela tinha lhe prometido alguma coisa? Culpa a fez ruborizar. Ela tinha
discutido o divórcio com ele.
Sua mente rodava quando ela entrou no elevador lotado. Ótimo.
Ia demorar uma eternidade para voltar ao seu andar, e ela tinha
trabalho a fazer. Depois de várias paradas lentas, a maioria das pessoas
tinham desembarcado. Ela olhou para o relógio. Só ela e outra pessoa
permaneceram, e ele sairia primeiro.
A porta se abriu no nono andar. Uma grande mão entre suas
omoplatas a empurrou fora do elevador. “Ei,” ela protestou, girando.
O homem a empurrou longe do elevador. As portas se fecharam.
Silêncio.
Josie se virou. Todo o nono andar do prédio estava sendo
reformado para uma empresa de advocacia assumir no final do ano. Na
verdade, Tom tinha licitado para o trabalho. Serragem cobria o chão,
embora tivesse ferramentas espalhadas.
Ela girou e deu um passo atrás, seu olhar cintilando para o homem
que a havia empurrado. Pouco menos de um metro e oitenta
centímetros, largo nos ombros, ele tinha um nariz que ostentava várias
antigas rupturas. “Hum...”
“Sra. Dean, eu sugiro que você coopere comigo.” Áspera e dura,
sua voz prometia dor.
Pânico aqueceu o ar em seus pulmões. O cara sabia seu nome.
Memórias de Shane lhe ensinando os movimentos de autodefesa
atravessaram seu cérebro em rápida sucessão. Ela iria para as bolas
novamente. “O que você quer?”
O olhar do homem deslizou até seus dedos dos pés e voltou.
Medo ficou preso em sua garganta.
Ele suspirou, dando de ombros. “Infelizmente, não o que você
pensa. Dessa vez, pelo menos. “ Ele serpenteou a mão e a algemou em
torno de seu braço antes de arrastá-la para uma sala parcialmente
terminada. “Por favor, sente-se.” Embora as palavras fossem educadas,
o empurrão que ele lhe deu para a cadeira dobrável segurava uma
violência mal controlada.
Ela bateu no metal duro, lutando para ficar no lugar. “O-o que
você quer?” Ela ajeitou a saia risca de giz sobre os joelhos, em busca de
um plano.
Agachando-se na frente dela, ele levou as mãos para seus joelhos.
“Aqui está o negócio, olhos azuis. Nós vamos esperar aqui até a hora de
fechar, e depois ir até lá e pegar alguns arquivos de sua empresa.”
Consciência filtrou através do zumbido de medo em seu cérebro.
“Você saqueou meu escritório.”
Ele apertou as mãos sobre seus joelhos. “Não eu. Meu chefe
saqueou todo o andar procurando pelos arquivos que ele precisava.”
Ela puxou as pernas para o lado, desalojando as mãos corpulentas
e tentando se concentrar através do medo. “Quais arquivos ele precisa?”
O sorriso do cara revelou uma grande lacuna entre os dentes da
frente. “Oh, vamos encontrá-los quando formos até lá mais tarde, não
se preocupe.”
“Eu não entendo. O que está acontecendo?” Será que Shane
estava procurando por ela? Embora por que ele iria verificar o nono
andar vazio?
O homem se levantou, estendendo a mão para uma serra elétrica.
“Se eu fosse você, não faria tantas perguntas, Sra. Dean. Pessoas com
muitas respostas acabam mortas.”
Uma ameaça de morte. Silêncio ecoou pelo piso. Não tinha
acabado o expediente ainda, então ou o cara tinha poder suficiente para
enviar a equipe de construção para casa pelo dia, ou ele conhecia sua
programação. Eram seus arquivos ou os de Daniel que eles queriam?
Entretanto, uma vez que o cara tivesse os arquivos, ele iria matá-la?
Talvez ela pudesse mantê-lo falando. “Diga-me quais são os arquivos, e
talvez eu possa te dar a informação agora.”
“Não.” Ele bateu a lâmina contra a palma, lambendo os lábios
enquanto corria o olhar por suas pernas. “Embora você possa me
chamar de George.”
O cara era provavelmente um assassino. Seu coração batia forte o
suficiente para machucar suas costelas. Poderia ela tomar a serra dele?
Se a ferramenta fosse ligada, ela poderia lhe causar alguns danos
graves. Será que ela conseguiria uma chance? “Esse é o seu nome?”
“Claro.” Ele torceu o pulso para olhar para um relógio esportivo
maltratado. “Temos cerca de duas horas para passar juntos.” Ele sorriu
novamente. “Depois vamos pegar meus arquivos, e você pode continuar
com sua vidinha.”
Ele tinha que estar mentindo. Se esse era o nome verdadeiro dele,
ele não tinha nenhuma intenção de deixá-la ir. Ela forçou seu sorriso de
lar-adotivo no rosto, sua respiração aquecendo. “Parece bom para mim.
Seu chefe é um cliente meu?”
Ele deu de ombros. “Acho que não.”
Se ela conseguisse mantê-lo falando, talvez ela pudesse distraí-lo
de alguma forma. Era hábito de Dan manter todos os seus arquivos em
um pendrive com ele o problema aqui? “Ele é cliente de Daniel Mission?”
“Não. Ele só quer seus registros — de ninguém mais. Então cale a
boca e espere a hora de ir.”
O chefe queria seus arquivos — não os de Daniel. Provavelmente
os arquivos que ela tinha levado para casa naquela noite. Quatro contas,
quatro clientes. Teria Billy estado envolvido em algo ilegal? Se então, o
quê? “Por que levar os laptops?”
“Nós os penhoramos no próximo estado. Depois de limpá-los.”
Alívio ecoou no fundo de sua mente. Atrás do terror. Crescendo
em lares adotivos, ela sempre estava de fora, e raramente era confiável.
Agora, ela sabia segredos, e era realmente confiável. O que importava.
As informações confidenciais de seus clientes estavam seguras, e ela
estava satisfeita.
“Depois que fizemos cópias de tudo, é claro.” George bufou. “Meu
chefe tem um amigo que pode descobrir esse tipo de coisa. Talvez nós
vamos fazer algum dinheiro extra de lado.” Uma sobrancelha preta
espessa se contorceu. “Eu suponho que você não ensina como esconder
coisas do IRS?”
“Não. Eu as ensino a fazer as deduções legais para que elas não
acabem na prisão.” Ela ergueu o queixo. “Você já esteve na prisão,
George?”
Vincos cortaram fundo ao lado de sua boca quando ele franziu a
testa. “Eu passei um tempo.” Ele se inclinou para ela, o cheiro velho de
tacos flutuando dele. “E vou te matar antes de voltar, Sra. Dean. Você
pode querer se lembrar desse fato.”
Seus joelhos vacilaram. “Aparentemente você não deixou sua vida
de crime.”
Ele torceu a boca, mordendo o lábio. “Verdade. Às vezes você
entra numa vida, e não há como sair. Você é quem você é.” Ele fez um
gesto com a serra enquanto falava.
Matar era uma filosofia para o cara. Pânico aqueceu seus pulmões
— ela tinha que sair de lá antes que ele a matasse. Grandes alicates
empoleirados em um cavalete à sua esquerda. Uma furadeira deitada no
chão à sua frente. George segurava a serra. Ela tirou os saltos de sete
centímetros enquanto admirava a serra elétrica em suas mãos. Ele
estava imaginando usar a lâmina irregular nela? Ela estremeceu. Os
músculos de suas coxas se agruparam enquanto ela calculava a melhor
maneira de derrubá-lo. Nada parecia bom.
Mas era agora ou nunca. Fortalecendo sua coluna, ela tentou
concentrar sua energia. Então ela saltou para frente e pegou o alicate,
balançando-o em direção a George.
Ele saltou para trás, fora do caminho.
O metal pendeu pesadamente em suas mãos. A extremidade da
ferramenta batendo contra o chão quando a gravidade assumiu. Ela
arfou um suspiro.
George sacudiu a cabeça. “Agora eu vou ter que te ensinar uma
lição. Eu realmente não queria ter que te machucar.” Seu sorriso deu a
entender que ele estava mentindo. “Solte o alicate, Sra. Dean.”
“Nem pensar, idiota.” Pânico nublou sua visão. O homem ia matá-
la. Sua mente girou, e ela olhou para o elevador.
“Ok.” Ele pulou em sua direção, serra na mão.
Ela gritou e girou novamente com a ferramenta pesada, errando
mais uma vez. Mas, quando George deu outro passo para correr, seus
pés se emaranharam no cabo da serra elétrica. Ele caiu. O piso
retumbou em protesto.
Gritando, Josie bateu o alicate em sua cabeça.
Crack.
Sangue se espalhou pelo chão grosso.
“Cadela.” Sangue escorria por sua têmpora. Ele arrancou o alicate
de sua mão e o jogou no chão. “Eu vou te matar.” Ele estendeu a mão
para desembaraçar as pernas.
Corre. Josie se esquivou para o lado e correu.
Oh, Deus.
Capítulo 18

Suas meias engajavam no piso-grosso enquanto Josie corria para


o elevador. Lascas cortavam seus pés. Soluçando, ela socou os botões
para cima e para baixo.
Atrás dela, algo bateu contra a parede. George tinha jogado a
serra.
“Depressa, depressa, depressa,” ela gritava, apertando os botões.
Sangue corria através de seus ouvidos. Seus joelhos tremiam. Ela olhou
para o escritório improvisado. George cambaleou de pé com um rugido,
tropeçando em sua direção.
Sem tempo. Ela girou e correu em direção à parede oposta. Em
direção às escadas. Seus pés deslizaram sobre os novos azulejos de
mármore.Com um grito, ela abriu a porta e correu para dentro.
Merda. Ela não estava na escada. O espaço era um grande
armário, provavelmente, a área de armazenamento de um zelador. Um
quarto fedido. Fileiras de prateleiras de metal se erguiam ao lado da
porta, aguardando algum tipo de ordem.
Passos se aproximaram. A razão fugiu, e ela ofegou medo.
Sobrevivência era tudo que importava. Ela bateu a porta, engatando a
fechadura. George teria a chave?
Alguém tinha deixado a luz acesa, graças a Deus. Ela saltou para
frente e puxou uma prateleira na frente da porta. Depois, outra. Pilhas
de azulejos de mármore descansavam contra a parede oposta. Com
dedos trêmulos, ela pegou vários azulejos e os empilhou entre as
prateleiras derrubadas. Suas unhas partiram. As arestas ásperas dos
azulejos cortando nas pontas de seus dedos.
George esmurrou a porta. “Sua putinha. Eu vou te matar.”
Ela sufocou um soluço e continuou a empilhar azulejos. De lá para
cá. Azulejos. Até que eles estavam todos entre as prateleiras, mantendo
a porta fechada. Mesmo que ele tivesse uma chave e pudesse abrir a
porta, não conseguiria empurrá-la aberta.
Ofegando agora, ela se afastou da porta. E agora? Como ela
mandaria uma mensagem para Shane?
Ela fungou, lágrimas queimando seus olhos.
George continuava a bater.
Ela examinou a sala freneticamente por uma arma. Perto dos
azulejos. Um cortador de caixa. Ela saltou para a grande lâmina
cortante, segurando a ferramenta na sua frente em direção a porta.
Suas mãos tremiam. O sangue de seus dedos machucados escorrendo
para o chão.
George continuava a bater.
Ele não tinha uma chave. Ela precisava se concentrar.
O que fedia? Será que os novos azulejos cheiravam como tomates
podres? Ela olhou para o pequeno espaço. Pilhas de pisos de madeira
estavam alinhados na parede distante. Ela avançou na direção deles.
Haveria um rato morto no canto?
Segurando o nariz, ela contornou a borda da madeira e olhou
atrás da pilha.
Ela gritou. Billy estava deitado de costas, os olhos arregalados e
cegos para o teto, um buraco no centro de sua cabeça. Suas mãos
estavam amarradas na frente dele, seus pulsos em carne viva.
Morto.
Tossindo, Josie forçou a bile abaixo. Sua mente se encheu de
branco, e ela tropeçou para trás. Por que ele não estava na reabilitação?
Ela sacudiu a cabeça. Foco. Ela precisava se focar. Eles tinham
matado Billy.
Silêncio desceu fora do quarto sufocante.
Ela se virou lentamente, o coração batendo forte. Ela olhou para
cima. Onde estava um respiradouro? Lá em cima, na parede. De jeito
nenhum ela conseguiria chegar tão alto.
Sua mente se revolveu.
Algo bateu na parede externa. Duro. Ela gritou, saltando para trás.
Em direção a Billy.
“Isso mesmo, pequena. Estou indo,” George gritou. Algo bateu de
novo contra a parede, e poeira voou.
Ele ia derrubar a parede. Talvez ele atingisse alguns fios elétricos
e se fritasse. Isso era mesmo possível?
Ela precisava pensar. Pense, droga.
Seus dedos doíam. Respiração entrava e saía de seus pulmões. Ela
olhou para Billy.
Uma grande pancada ecoou, e uma placa de gesso empoeirada
voou em direção a ela. Pânico a fez ofegar. George logo estaria lá
dentro. Por que ela não tinha passado dois anos aprendendo karate em
vez de yoga?
Ela deslizou a navalha fechada e colocou a ferramenta no bolso.
Com um gole em seco, ela caiu de joelhos, alcançando nos bolsos de
Billy. Esperando que ele tivesse uma arma.
Nada nos bolsos da frente.
Fechando os olhos e respirando pelo nariz, ela o puxou de lado
para verificar os bolsos de trás.
Um telefone!
Ela pegou o celular, perfurou os números de seu escritório com os
dedos escorregadios. Esperançosamente Shane estaria lá. Se não, Vicki
ia atender. Billy caiu para trás com um baque inanimado.
“O quê?” Shane grunhiu em resposta.
“Shane!” Josie sibilou, obrigando-se a abaixar a voz.
“Josie. Onde diabos você está? De quem é esse número? Estou no
seu escritório —”
“Ouça. Estou no nono andar em um quarto de manutenção. Billy
está morto. George vai me matar —”
A cabeça de uma marreta atravessou a placa de gesso perto da
porta. Josie gritou e pulou para trás, tropeçando sobre o corpo de Billy e
caindo no chão. Sua bunda saltou contra os azulejos, causando
contusões frescas. O telefone voou de sua mão sangrenta, saltando pelo
quarto.
Eca. Ela chutou contra as pernas de Billy, lutando para se afastar
do corpo morto. Mão sobre cópia de mão sangrenta, ela rastejou pela
parede para se levantar sobre pernas trêmulas.
Ela pegou o cortador de caixa do bolso, trabalhando tremulamente
para deslizar a lâmina. Seus dedos sangrentos escorregavam, seus
nervos gritavam de dor. Segurando a ferramenta com ambas as mãos,
ela finalmente empurrou forte o suficiente para expor a lâmina.
George quebrou o buraco na parede mais amplo, batendo ambos
os lados da abertura e enviando pedaços de gesso empoeirados voando.
Ele enfiou uma bota grossa através do fundo, chutando uma placa em
sua direção. Ambas as mãos corpulentas puxado na parede quebrada
para abrir um buraco do tamanho do homem.
Ele entrou, sangue escorrendo pelo rosto, os olhos castanhos
arregalados e loucos.
Arrepios rasgaram por suas costas. Ela levantou a lâmina de um
centímetro de comprimento na direção dele. “Eu liguei por ajuda.” Sua
voz tremia mais do que suas mãos. “Você deveria fugir. Agora.”
Ele fez uma careta, o olhar em sua escassa arma. “Você não ligou
para ninguém.”
Ela empurrou o medo para o fundo de sua mente. Pensar. Focar.
As palavras de Shane de há muito tempo voaram de volta. Aceite que
você está sendo atacado, respire, e encare a realidade. Sua postura se
estabeleceu.
George saltou para a frente, as mãos agarrando seu pulso e
balançando-a em direção à parede. Os nós de seus dedos bateram na
placa de gesso dura, e ela gritou, a lâmina caindo no chão. Ela atirou o
pé para chutar. George recuou e deu um soco em seu queixo.
Dor explodiu em seu rosto. Ela desceu.
Ele a agarrou pelos cabelos, arrastando-a através do buraco e fora
do armário. Agonia queimando ao longo de seu couro cabeludo.
Cerrando o punho, ela o enterrou na parte de trás de seu joelho.
Ele gritou, afrouxando a mão e voltando-se para dela. Lutando para se
levantar, ela o golpeou na virilha em seu caminho para cima.
Alguém o arrancou para longe. Ele a soltou, gritando em protesto.
Josie caiu no chão, sua visão turva, suas orelhas soando.
“Anjo,” Shane exalou, reunindo-a em uma posição sentada. Ele
ergueu seu queixo. “Onde você está ferida, querida?” Preocupação e
fúria se misturavam em seus olhos.
Josie estremeceu. “Minhas mãos.” Seu corpo inteiro começou a
tremer. “Meu queixo.” Onde George estava? Ela olhou em volta
aterrorizada.
O ar ficou preso em seu estômago. Matt segurava George pela
cabeça, uma faca malévola de dois-cortes na garganta de seu
sequestrador. Os olhos de George estavam arregalados, seu corpo
frouxo. Nathan estava ao lado de Matt, uma arma na mão. Eles tinham
vindo por ela.
Como uma verdadeira família faria.
Shane olhou para seu queixo, e estalou. Girando em toda a sua
altura, ele atirou um soco na cara de George. Um estalo alto dividiu o ar.
George amoleceu, e Matt o deixou cair no chão. Shane imediatamente
pisou na mão de George. O som nauseante de juntas se rompendo
destruiu o silêncio. Ele se moveu para os outros dedos.
“Espere.” Matt levantou a mão.
Shane circulou George como uma águia faminta para atacar. “Não.
Ele bateu nela.”
“Eu sei.” Nathan se colocou entre Shane e George, ignorando
grunhido de advertência de seu irmão. “Nós precisamos de respostas,
Shane.” Ele olhou para Josie, seu olhar suavizando. “O quão mal você
está ferida, querida?”
Ela se empurrou de pé. “Eu não estou. Eu estou bem.” Seu queixo
estava em chamas, e falar forçava lágrimas em seus olhos. Ela as bateu
de volta.
O lábio superior de Nathan curvou. “Bem para você.” Ele arqueou
uma sobrancelha. “Por que ele te levou? Ele sabe sobre Shane?”
Josie franziu a testa, esfregando as pontas de seus dedos
ardendo. Manchados de sangue. “Não. Seu chefe foi quem destruiu
nossos escritórios, porque eles querem alguns dos meus registros.”
Shane franziu o cenho. “Quais registros?”
Josie deu de ombros, tentando recuperar o fôlego. “George não
disse. Deve ser um dos quatro arquivos que que eu levei para casa na
outra noite. São os únicos arquivos que eles não conseguiram encontrar
no escritório.”
George gemeu, rolando para o lado.
Shane agarrou os pulsos dela e virou suas palmas. “O que diabos
aconteceu com suas mãos?”
“Eu carreguei os azulejos para bloquear a porta.” Ela mordeu o
lábio contra as lágrimas. Agora que o perigo tinha passado, medo a
agarrava pela garganta. Sem choro. Ela não ia chorar.
“Garota esperta,” Shane murmurou, as mãos quente sob as dela.
“Você vai com Mattie, anjo. E logo estaremos lá.” Ele a empurrou
gentilmente para Matt, que colocou um braço reconfortante em torno de
seus ombros.
“Oh, mas —” Realidade bateu de volta. “Billy está morto. Quero
dizer, seu corpo está no quarto de depósito.” Pobre Billy.
Nathan arqueou uma sobrancelha e se enfiou através do buraco
na parede, mergulhando de volta depois de alguns instantes. “Trinta e
cinco na cabeça. À queima-roupa.”
Seus joelhos cambalearam. George definitivamente a teria
matado. “Todas as quatro contas que eu levei para casa comigo foram
clientes de Billy primeiro.” Eles eram bons clientes. O que George
esperava ganhar ao obter suas informações financeiras? Ou ele estava
tentando encobrir os erros de Billy? Teria ele roubado das empresas?
Nesse caso, para quem?
O rosto de Shane virou pedra. “Bem, então. Precisamos descobrir
o que esse cara estava procurando, não é?” Antecipação e promessa
mortal sussurraram em seu tom profundo. “Matt, por favor, leve minha
esposa daqui. Nós os encontraremos daqui a pouco.”
Josie estremeceu. “Não, Shane. Acho que devemos chamar a
polícia.”
O sorriso que ele brilhou foi um que ela nunca tinha visto. Duro e
sombrio. “Nós vamos. Depois que eu tiver as respostas que preciso.” Ele
acenou para Matt. “A polícia já viu eu e Nathan — vamos mantê-lo fora
disso. Tire-a daqui.”
“Eu consigo descobrir a partir da papelada — não precisamos
desse cara.” Ela lutou contra Matt.
Shane sacudiu a cabeça. “Não — precisamos das respostas agora.”
Ela vacilou. “Mas, quero dizer, e se ele não te disser?” Shane não
iria realmente matar George, iria?
Shane deixou o sorriso morrer, tristeza enrolando seu lábio. “Ele
vai. Eu prometo.”
Matt a puxou em direção ao elevador, gentilmente, mas não
cedendo nem um milímetro.
Josie tropeçou, olhando para seu marido. “Você sabe como fazer
isso, Shane? Quero dizer, o interrogatório.”
Seus olhos se tornaram ardilosos. “Eu sei como fazer isso, anjo.”
Ela hesitou, afastando-se de Matt.
Shane desviou o olhar para o homem se contorcendo no chão.
“Agora, Matt.”
Sem uma palavra, Matt a pegou em seus braços musculosos. O
cheiro do homem e especiarias a rodeando. Ela começou a lutar, mesmo
enquanto ele caminhava para o canto mais distante, as botas batendo
nos azulejos. Ela disparou o cotovelo tentativamente em seu intestino, e
se contorceu em seus braços.
Matt apertou os braços e baixou a cabeça. “Pare com isso. Você
vai chatear Shane se ele achar que estou te machucando.” Ele abriu a
porta, entrando em uma grande escadaria.
Frustração brotou. Como Shane podia simplesmente deixar seu
irmão levá-la? Matt era seriamente forte, e ela não conseguia se libertar.
“Solte-me.”
“Não.”
“Pare, Matt. Shane vai matar George.”
Matt deu de ombros. “Eu não me importaria se Shane matar o
idiota que te atacou, querida. Mas ele disse que não iria matar George.
Então, ele não vai.” Matt volveu escada abaixo até que chutou aberta
uma porta exterior. Vento soprou forte a chuva neles, e Matt curvou o
corpo sobre ela, lhe dando abrigo. Passos rápidos os levou até seu carro,
onde ele a afivelou antes de saltar para o banco do motorista e
manobrar fora do estacionamento.
Matt dirigiu rapidamente pela cidade, tomando uma saída
desconhecida fora da interestadual. Empresas e depois casas passaram
até que árvores e campos preencheram a vista. A chuva batia contra a
janela de sua Toyota, e ela se enterrou mais abaixo no banco do
passageiro. “Nós não deveríamos ter deixado Shane torturar aquele
cara.”
O queixo de Matt apertou. “Shane vai ficar bem.”
Então, por que a tensão de repente, encheu a cabine? Josie
suspirou. Matt não ia voltar, e de jeito nenhum ela poderia ajudar Shane
agora. Mas seus clientes eram outra história. “Eu deveria ter voltado ao
meu escritório e pegado aqueles arquivos.”
Ele manteve o olhar na estrada estreita, as mãos grandes
relaxadas no volante. “Seu rosto está muito machucado. É sexta-feira —
certamente você sai mais cedo na sexta-feira, às vezes.”
O Hércules não tinha lhe dado uma escolha. Apenas a empurrado
para fora do edifício. “Por que você não gosta de mim?”
Ele virou a cabeça. Os músculos de seu peito grande se
deslocando quando ele exalou. “Eu gosto de você.”
“Não gosta.”
Uma covinha brilhou em sua bochecha. Assim como a de Shane.
“Claro que eu gosto.” O olhar de Matt se focou em seu maxilar
machucado, e ele apertou o dele próprio, voltando-se para a estrada. “O
suficiente para saber que você não pertence ao nosso mundo. Você é
muito —”
“Suave.” Ela suspirou isso. “Vocês três têm usado esse termo.”
Não fazia nenhum sentido. “Talvez vocês estejam errados. O que quer
que vocês imaginam, o que que que vocês pensam sobre as mulheres...
Talvez vocês estejam errados.” Nevoeiro encheu as janelas, então ela
estendeu a mão e acendeu o degelo. “Eu posso ser muito durona.”
“Eu sei.” Ele assentiu. “Não há dúvidas de que você é uma
coisinha durona.”
Por que isso não soou como se ele estivesse concordando? “Você
não sabe nada sobre mim.”
Matt tinha uma risada profunda. “Eu sei tudo sobre você.”
“É mesmo? Tipo o quê?
Ele inalou. “Eu li seus registros, querida. Seus relatórios
hospitalares, seus relatórios escolares, tudo que a assistência social
relatou. Seus históricos escolares, tudo que você já enviou por e-mail.
Os documentos judiciais, quando Arthur e Claire Bomont iniciaram os
procedimentos de adoção.”
O quê? Ele a tinha investigado? “O processo de adoção não foi.”
Matt olhou para o espelho retrovisor, os ombros relaxando
enquanto ele tomava outra direção. “Eu sei. Claire morreu, e Arthur
demorou mais de seis meses para pressionar novamente.”
Surpresa teve Josie apertando as mãos juntas. “Mais de seis
meses? O que você quer dizer com pressionar novamente?”
Matt lhe lançou um olhar, as sobrancelhas arqueadas. “Ah. Bem,
ele tentou continuar com a adoção. Escreveu cartas, e até mesmo
escreveu para o governador pedindo ajuda. Mas os oficiais não podiam
permitir que um viúvo, um homem solteiro, te mantivesse.”
Calor, surpresa, tristeza tudo lavou através de Josie que Arthur
ainda quisesse ficar com ela, que ele tivesse feito tanto esforço para
recuperá-la. “Eu pensei que ele tivesse esquecido de mim.” Talvez ela
devesse procurá-lo — ele era a coisa mais próxima que ela tinha de um
pai.
“Não. Ele queria ficar com você, querida.” Matt esfregou o queixo,
um mão casualmente no volante. “Arthur se casou novamente há mais
de uma década. A mulher tinha três filhos, e ele parece ter construído
uma boa vida. Tenho suas informações de contato, se você quiser.”
“Talvez.” Ela precisava pensar sobre isso e colocar sua vida em
ordem primeiro. “Então você sabe tudo sobre minha infância. Shane tem
memórias de vocês quando garotos em algum acampamento. Um
acampamento militar.”
As juntas de Matt apertaram no volante. “Sim. Nós estivemos num
acampamento militar.” Ele aumentou a velocidade dos limpadores de
para-brisas com um movimento do pulso. “O que Shane te contou?”
“Tudo.” Ela poderia conseguir mais informações do grande irmão
de Shane?
“Ah.” Matt acendeu as luzes enquanto a floresta corria ao redor
deles. Eles estavam indo para lugar nenhum da terra. “Entendo.”
OK. Então ele não ia morder a isca e revelar tudo. “Onde estamos
indo?”
Matt deu de ombros. “Alugamos uma cabana por um tempo. É
segura e podemos ficar de olho em quem se aproxima.”
“Acho que prefiro ir para minha casa.” Chega de se esconder.
“Quero dizer, essa coisa toda era sobre mim e não Shane, certo?” Ela
esteve pensando sobre isso. Aparentemente, Billy tinha feito algo ou
sabia de algo que o matara. Dar outra olhada naqueles registros
contábeis era uma boa ideia. “Minha casa estava grampeada por causa
de um cliente, não o passado de Shane.”
“Está começando a parecer que sim.” Matt virou para uma estrada
de terra pouco visível. “Alguma ideia de qual cliente? Ou por quê?”
“Talvez. Os números de algumas das contas não estavam batendo,
mas eu ainda não descobri para onde o dinheiro foi. Eu preciso olhar
novamente.”
“Você acha que alguém estava extorquindo? Ou lavando
dinheiro?”
“Não sei.” As palavras clicaram antes que ela pudesse pesar a
pergunta. “Eu acho que é possível que Billy estivesse roubando para
sustentar seu vício de drogas.” E ela deveria verificar as outras vinte
contas de Billy que ela tinha assumido. As chances eram de que ele
tivesse feito um bom trabalho para esconder o roubo, mas
provavelmente também tinha burlado nos outros arquivos. Negligência e
má conduta do viciado em drogas. A Toyota saltou ao longo de buracos
irregulares. “Estamos no meio do nada.”
“Essa é a ideia.”
Ela deveria ter medo? Por alguma razão, Matt transpirava
segurança e conforto. “Você sabe que eu ainda estou casada com
Shane.”
“Eu sei.”
“Isso faz de você meu irmão.”
Matt ficou tenso. Seus olhos se fecharam brevemente, e ele
levantou a cabeça para reabri-los. “Sim. Eu acho que faz.”
Ah, tão parecido com Shane. A necessidade de proteger estava
enraizada. “Eu sempre quis ter um irmão.” Ela ignorou o exalar alto de
Matt. “Sozinha nos lares adotivos, às vezes com medo, sempre solitária.
Eu rezei tanto por irmãos.” Era verdade. Quantas vezes ela tinha
esperado que um irmão aparecesse para protegê-la. Amá-la. Apenas ser
dela.
“Você está me matando.” A voz de Matt tinha caído para um
estrondo que parecia exatamente como o de Shane.
“Eu sei,” ela sussurrou. No segundo em que todos eles
apareceram quando ela precisava de ajuda a conquistara. Ela queria
uma família — não importava o quão danificada ela pudesse ser. “Mas
eu não vou deixá-lo ir dessa vez. Assim você pode começar a ir a bordo
disso agora.” Perceber a verdade e admiti-la em voz alta, a encheu de
determinação. “Eu quis uma família minha vida inteira. Agora eu tenho
uma.” Quem quer que eles fossem, o que quer que eles tenham feito,
eles eram dela. Certo ou errado, ela ia mantê-los. “Isso inclui você,
Matt.”
O som que ele deu podia ter sido um gemido. Um gemido
estrangulado. “Você não sabe o que está dizendo.”
“É claro que eu sei. O perigo acabou. Sabemos que um dos meus
clientes grampeou minha casa. Isto não é sobre Shane. Ele está seguro.”
“Ah, querida. Shane nunca estará seguro. E se ele nos alertou
sobre a presença dele, ele alertou o —”
“O?”
Matt limpou a garganta. “Jesus. Você é boa.” Ele tomou um rumo
entre dois grandes pinheiros azuis para um caminho cheio de mato. A
Toyota sacudiu e mergulhou ao longo da estrada irregular. “Você precisa
entender que temos inimigos, e agora eles provavelmente sabem
exatamente onde Shane está.”
“Você poderia levá-lo para a segurança.”
Matt assentiu. “Sim. Vou levá-lo para a segurança — quer ele
goste ou não.”
Alívio teve os ombros de Josie relaxando. “Obrigada. Agora me
fale sobre esse acampamento militar onde todos vocês foram quando
eram crianças. Parece ruim.”
“Não.” Matt apertou os olhos para a chuva forte.
“Ok. Então me fale sobre você. O que você faz?”
“Hum, eu sou um U.S. Marshal.”
Agora sim que isso não fazia sentido. Do contrário, ele teria
chamado a polícia e não deixado que Shane torturasse George por
informações. “Não, você não é.”
Matt deu um sorriso. “Sim, eu sou. Por enquanto, de qualquer
maneira.”
“Por quê?” Ela realmente se sentia como uma irmã mais nova
importunando. Calor filtrou através dela junto com curiosidade. “Eu vou
te incomodar até você me dizer.”
Ele revirou os olhos. “Eu preciso encontrar alguém, e os Marshals
encontram pessoas.”
“Quem você está tentando encontrar?”
“Uma mulher que tem as respostas que eu preciso.” Sua
mandíbula endureceu.
“Parece que você não gosta muito dela.” Josie estremeceu. Ter
Matt como inimigo parecia absolutamente aterrorizante.
“Não. Vamos apenas dizer que ela não é uma sentimental como
você.”
Frustração rasgou seus nervos. “Conte-me algo. O que diabos
aconteceu com vocês e mulheres suaves? Quero dizer, o que te faz
pensar que a maioria de nós não pode enfrentar este mundo?”
“Ah, Josie. Há partes desse mundo que você não pode sequer
imaginar. Eu não quero isso para você.” Ele balançou a cabeça. “Mais
importante, eu não gostaria que alguém te machucasse para chegar a
Shane. Há pessoas lá fora que ficariam muito felizes em lhe fazer mal.”
Tanta responsabilidade e determinação no conjunto de ombros de
Matt. “Você é o mais velho, não é?”
“Sim.”
“Responsável por todo mundo?”
“Sim.”
“Este é um grande fardo, Matt. Três irmãos para ser responsável.”
Ele parou ao lado de uma grande cabana de madeira, desligou a
ignição e se voltou para encará-la. “Dois irmãos hoje em dia. E agora
uma irmã.”
Capítulo 19

Shane saiu do SUV, o olhar na cabana silenciosa. Sangue cobria


suas roupas do interrogatório. Josie já estaria dormindo? “Eu só preciso
andar por um minuto.”
Nathan fechou a porta e jogou um frasco para ele. “Beba.”
Destacado pela lua, ele se inclinou contra a grade do Jeep, os braços
cruzados. Amplo e perigoso, mesmo pretendendo ele não parecia nem
remotamente relaxado.
Shane tirou a tampa e tomou uma golada de Bourbon. A mistura
queimou até seu intestino.
“Agora, fale.” Nathan não mexeu nem um centímetro de sua
posição.
Shane arrastou os pés e jogou de volta o frasco. “Você fala.
Preciso saber sobre meu passado.”
Nathan se virou, prendendo-o com um olhar sombrio. “Como está
seu intestino? Sua cabeça? Suas pernas?”
Seu intestino doía, sua cabeça girava, e suas pernas tremiam.
“Bem. Por quê?”
“Eu vou bater em você se eu tiver que fazer, Shane. Eu prefiro
não.” Nathan inclinou a cabeça para trás e bebeu.
Shane sacudiu a cabeça. “Eu me sinto doente.” Agora. Mas,
enquanto interrogava George, ele estava calmo como um lago morto.
“Eu sabia exatamente como obter respostas daquele bastardo.”
Francamente, ele tinha assustado a merda fora de si mesmo. Bem,
depois. Durante, ele não tinha sentido nenhuma maldita coisa.
Nathan limpou o lábio inferior. “Nosso treinamento foi bom.”
“Nós não somos normais.” De jeito nenhum eles eram normais.
Deus. As coisas que ele podia fazer — as coisas que ele conseguia fazer.
Ele era uma maldita abominação.
“Nem mesmo perto.”
“Conte-me.” Shane se preparou para o golpe.
“Tome um banho, limpe o sangue, e depois Matt e eu vamos te
contar tudo.” Nathan deslizou o frasco em sua bota. “Você deveria
passar mais tempo com sua esposa antes de ter que deixá-la
novamente.”
Calor rugiu através dele. “Eu não vou. Não vou deixá-la
novamente.”
“Sim, você vai.” Nate sacudiu a cabeça. “Nossa guerra está apenas
começando, e ela vai ser morta. E aí, você não vai ser capaz de
funcionar direito.”
Shane tossiu. “Então, nunca foi destinado a ser permanente?”
Nate suspirou, e olhou para as botas. “Eu acho que foi — eu acho
que você queria ter uma chance do para sempre.”
“Eu continuo querendo,” Shane disse suavemente. Mas a que
custo? Pessoas ruins estavam atrás dele, e eles provavelmente iriam
direto através dela para chegar até ele. E quanto a seus irmãos?
“Sempre foi apenas nós quatro, não é?”
“Exceto por um curto período de tempo, sim.” Nathan se afastou
do jipe. “Nós lutamos uns pelos outros, nós matamos uns pelo outros, e
nós morreríamos uns pelos outros. Às vezes, isso é tudo que você tem.”
Shane ergueu a cabeça quando suas memórias finalmente
clarearam. “Se eu perdê-la, eu enfraqueço e coloco todos em perigo.”
Eles eram o ponto fraco de cada um. Sempre tinha sido.
“Sim.”
“Foi por isso que eu a deixei?” O pensamento de deixá-la
novamente o fez querer socar o Jeep. Duro.
“Não. Você a deixou para descobrir o que tinha acontecido com
Jory.” Nathan girou e caminhou em direção à cabana. “Nós precisamos
desbloquear suas memórias para saber o que você descobriu.”
“Nathan, eu não acho que posso deixá-la novamente.”
“Você não tem escolha,” seu irmão mais velho disse, sem se virar.
Shane fechou os olhos por um momento. Seu intestino doendo
pior do que quando ele tinha torturado George. Fortalecendo os ombros,
ele abriu os olhos e seguiu seu irmão para a cabana.

*****

A chuva batia contra a janela do quarto de Josie, e ela se


aconchegou mais sob o pesado edredom. Ela e Matt tinham rapidamente
comido sanduíches para o jantar antes de passarem várias horas
reunindo uma impressionante variedade de computadores e
equipamentos de vigilância. Depois que Matt tinha cuidadosamente
enfaixado seus dedos feridos, é claro.
A cabana alastrada era luxuosa em vez de rústica e ostentava
cinco quartos com banheiros anexos, bem como uma grande sala de
jogos. A mesa de bilhar tinha acenado para ela, mas ela decidiu ir para a
cama. Seu queixo doía.
Ela ouviu uma porta em algum lugar da casa abrir e fechar. Vozes
masculinas ecoaram. Shane e Nathan tinham chegado. Eles conversaram
durante vários momentos com Matt antes de passos pesados soarem
pelo corredor. Cada vez mais perto. A porta se abriu.
Ela se sentou na cama. “Oi.”
Shane fechou a porta, tirando as botas. “Oi.” Ele entrou no
banheiro. O chuveiro ligou.
Inquietação feriu através dela. Por que ele precisava de um
banho? Ela saiu da cama, correndo para o banheiro. Deslizando para
dentro, ela estudou as roupas deitadas no tapete de banho bem-tecido.
A camisa preta parecia bem, mas manchas escuras marcavam a calça
jeans desbotada. Sangue.
Ela abriu mais a porta, entrando. Pedra grossa forrava o grande
chuveiro atrás de uma porta de vidro. Shane estava de pé, de costas
para ela, uma mão contra os azulejos, a cabeça abaixada enquanto a
água batia contra seu pescoço. Vapor subia. “Ou entra comigo, ou saia.”
Nenhum calor, nenhuma gentileza existia em seu tom prático. Um
tremor percorreu suas pernas. Ela ignorou o medo, pisando em cima da
roupa. “Você matou George?”
“Não.”
“Bom. Você ligou para a polícia?”
“Não.” Shane não se moveu.
Eles precisavam ligar para a polícia. Alguém tinha matado Billy,
provavelmente George. “Eu vou ligar para eles, então.” Ela girou para
sair.
A porta de vidro se abriu, e duas mãos fortes agarraram seus
bíceps, puxando-a contra um peito molhado. Shane baixou a cabeça
mais perto de seu ouvido. “Sem polícia.”
Ela lutou, virando para encará-lo. Seu rosto áspero parecia cortado
em granito, os olhos um cinza duro e frio. “O que você fez?” Sua voz
saiu um coaxar. Ela tentou dar um passo atrás, mas ele a manteve no
lugar.
“O que eu tinha que fazer.” Nenhuma emoção, nenhuma
expressão tomou seu tom. Nenhuma preocupação também com sua
nudez.
“Você o matou?” Ela tinha que saber. Era Shane um assassino a
sangue frio?
Ele suspirou. “Não. Eu não o matei.” As pontas dos dedos
acariciaram seus braços enquanto desciam até suas mãos. “Nós o
deixamos ir.”
Ela franziu o cenho. “Mentira.” As roupas manchadas em seus pés
sussurravam outra história. “Há sangue em suas roupas.”
O sorriso de Shane carecia de calor. “Eu não disse que ele não
estava sangrando. Ele sangrou.” Ele estendeu a mão e correu uma junta
suave ao longo de seu queixo machucado. “Por isso sozinho, ele merecia
sangrar.”
Um tremor sacudiu seu corpo inteiro. “Eu não entendo.” Mesmo
através do medo, desejo despertou.
“Eu sei.” O chuveiro vaporizava atrás dele, enviando vapor e
revestindo o espelho sobre a pia. “Tortura não é um jogo à distância,
querida. É perto e pessoal — até íntimo. Acredite em mim. George me
contou tudo que sabia. Então eu o deixei ir.”
Náuseas rodou em seu estômago. Quem era esse homem? Ela
balançou a cabeça. “Eu não acredito que você deixou George ir. Não há
nenhuma razão para você deixá-lo ir.”
Shane se aproximou ainda mais, o corpo quase tocando o dela.
“Eu prometi que não ia matá-lo, então eu não fiz. Eu o deixei ir porque
ele viu Nathan. Meu suposto advogado. E também viu Mattie. Se nós
chamássemos a polícia, teríamos que explicar. Haveria registros, e neste
momento não podemos ter isso.”
“E Billy?”
“Ele será descoberto.”
“Quem é você, Shane?” Ele estava lá diante dela. Nu, forte, e
seguro. Ela tinha reivindicado a Matt que queria ficar com Shane. Mas
você poderia ficar com alguém que você não conhecia? Mais uma vez,
ela estava de fora olhando para dentro. Olhando para um mundo
incrivelmente escuro. O mundo de Shane.
“Eu sou o cara com quem você se casou, anjo. O cara que você
ama.” Seus lábios tomaram os dela. Macios, sedutores, tão sexy.
Provocante e tentador. A frieza fugiu, para ser substituída por calor. Ele
levantou a cabeça, os olhos brilhando com fome.
Ela sacudiu a cabeça contra a tentação. Necessidade presa num
gemido em sua garganta. “Mas George matou Billy.”
“Não.” O olhar de Shane caiu para seus lábios palpitantes. “Ele
ficou tão chocado quanto você com o cadáver.”
“Ele mentiu para você, Shane.”
“Ele não mentiu. Acredite em mim, ele me disse a verdade.”
Certeza morta coloriu as palavras de Shane. “Interrogatório é uma das
minhas especialidades, querida.”
Suas mãos ficaram úmidas. “Então, quem matou Billy?”
“George foi contratado por um homem chamado Max. Meus
irmãos estão tentando descobrir quem é Max agora. Max provavelmente
matou Billy, e eu te prometo, eu vou encontrá-lo.”
“Qual o arquivo que George queria?” Sua mente estava girando e
ela não conseguia encontrar uma resposta.
“Ele não sabia qual era o arquivo. George era para chamar seu
chefe, quando vocês dois estivessem no escritório por mais direção.”
Maldito seja. Não havia como ela descobrir qual arquivo todos
queriam. Sua cabeça começou a doer. “Eu tenho que descobrir.”
“Eu vou ver isso.”
“Não. Eu vou.” Seu cérebro começou a clicar fatos em ordem.
“Então, George falhou.”
Os olhos de Shane estreitaram. “O trabalho de George era subir e
descer o elevador o dia todo, esperando uma chance de chegar até
você. Você lhe deu essa chance.” Sua mandíbula apertou. “Da próxima
vez que eu te disser para ficar em algum lugar, você malditamente bem
é melhor fazê-lo.”
“Ou o quê?”
Shane empurrou a cabeça para trás, surpresa brilhando em seus
olhos profundos. “Desculpe-me?”
“Você está sempre me dizendo o que fazer, Shane. Estou cansada
disso.” Ela se empurrou fora de seu agarre. Para o melhor ou o pior, ela
lhe tinha feito um voto. O mundo dele era escuro, e talvez ela pudesse
lhe trazer alguma luz. Mesmo que um pouco. “Estou cansada de você
pensar que eu sou muito suave. Que eu não posso cuidar de mim
mesma.”
“Então, você pode cuidar de si mesma, não é?” Uma advertência
baixa atravessou seu tom profundo.
Alfinetadas se espalharam ao longo de sua pele. Ela sentiu uma
armadilha escondida nas palavras inócuas. Mas ela ainda ergueu o
queixo. “Sim. Eu posso.”
“Bom.” Aquele sorriso nunca poderia ser considerado gentil.
“Vamos ver se você pode cuidar de si mesma.” Ele agarrou seus braços,
levantou-a contra ele, e entrou no chuveiro.
“Ei —” ela protestou enquanto deslizava por seu corpo duro e
umedecia o pijama.
Ele girou e o spray do chuveiro encharcou suas costas.
Fogo bateu em seu abdômen. Ela lutou. “Porra, Shane.” Ele queria
ver suas habilidades? Tudo bem. Dedos feridos enrolados em um punho,
que ela disparou em direção a sua garganta.
Shane se esquivou, permitindo que o golpe raspasse o lado de seu
pescoço. “Impressionante.” Um braço envolveu sua cintura nua,
enquanto o outro arrancava sua blusa. Seus seios saltaram livres, os
mamilos já eriçados com necessidade.
Ela lutou contra Shane e o desejo, esmurrando-o no ombro. Dor
ricocheteou em seu braço.
Shane a colocou de pés. “Se você se machucar, eu vou ficar
seriamente puto.” Ele puxou sua calça do pijama e calcinha
encharcadas, levantando-a com um braço e as empurrando fora do
caminho.
Oh, isso não deveria excitá-la. Sua respiração acelerou. Seu
coração bateu mais forte. Temperamento batalhou com necessidade.
Seu corpo lutou com sua mente, com sua vontade obstinada. “Quem
diabos você pensa que é?” Talvez ela devesse visar seu joelho. A
tentação de derrubá-lo em sua bunda, só uma vez, estreitou seu foco
em pura determinação.
“Seu marido.” Ele a puxou para ele, o corpo duro contra o dela.
Tomando sua boca, ele disparou a língua através de seus lábios,
exigindo uma resposta.
Um gemido se alojou em sua garganta.
Uma mão grossa se emaranhou em seus cabelos, puxando sua
cabeça para a posição que ele queria. Ele foi mais fundo. A boca
alegando, a língua possuindo. Uma estranha sensação de desespero se
insinuou em seu beijo.
Sem aviso, ele a virou, achatando suas mãos sobre os azulejos
lisos. A língua lambendo a concha de sua orelha. “Seu queixo está
bem?” Áspera e rouca, a voz desencadeou necessidade líquida para
revestir suas coxas.
“Bem.” Ela empurrou de volta contra ele, sua bunda nua contra a
ereção. Suas pálpebras se fecharam.
Ele agarrou seu quadril, mantendo-a quieta. A outra mão achatou
contra sua barriga, deslizando através de seus seios até sua garganta.
Chamas lambiam sua pele. Ele segurou o lado não-machucado de seu
queixo, e puxou para trás, esticando seu pescoço. “Mantenha as mãos
no azulejo.”
Ele a segurou imóvel, apoiando sua cabeça no ombro dele e
mergulhando a boca em sua jugular exposta. A mão quente curvando
em torno de seu pescoço, segurando-a onde ele a queria. Os dentes
afundaram na área macia de seu ombro. Marcando-a.
Suas coxas tremeram. Uma espiral começou lá no fundo, e ela
empurrou de volta contra ele.
Um bofetão afiado contra sua bunda a fez gritar. “Fique quieta.”
Ela endureceu, emoções demais chicoteando através dela para se
concentrar em apenas uma. Uma borda sempre existira em Shane,
especialmente no quarto. Mas algo tinha sido solto. Uma selvageria, uma
escuridão que ela sempre suspeitara que ele se escondia. Suas
memórias estavam voltando, e ainda assim ele não tinha recuado para
trás daquela parede.
Talvez as coisas pudessem ser diferentes dessa vez.
A boca encontrou sua orelha e mordiscou o lóbulo. Arrepios
subiram em sua pele quando ele cobriu seus seios, beliscando ambos os
mamilos antes de deslizar para o sul. Separando-a, ele escorregou dois
dedos dentro de seu calor. “Você está tão quente para mim.”
Seus joelhos amoleceram. Ela apertou as mãos achatadas com
mais força contra os azulejos, tentando manter o equilíbrio. Para manter
o controle. Inclinando a palma, ele a esfregou contra seu clitóris. Ela
gritou. Muito. Ela precisava dele agora.
Ele deu uma risada quente contra seu ouvido, o som perverso e
arrogante. “Nós ficamos em um hotel com uma pequena piscina uma
vez. Certo?”
Seu sexo apertou em torno dos dedos perigosos. “Sim? Você se
lembra?”
“A água, você, o vapor... Uma memória está voltando.” A ereção
empurrou contra sua bunda. Os dedos brincaram, cruzando dentro dela.
A outra mão amassou seu seio, concentrando-se em rolar o mamilo
entre dois dedos. “Fizemos um bom uso daquela piscina. Você gritou
meu nome enquanto me ordenhava.”
Sim, mas ele tinha sido tão gentil, até então. Ela não queria
gentileza. Ela queria ele. Memórias correram por sua mente, mostrando
o quanto ele estava diferente agora. Meu, ela o queria desse jeito.
“Shane, por favor.”
“Ah, anjo. Eu amo o quão docemente você pede.” Inclinando-se
sobre ela, ele deslizou uma palma áspera para seu quadril e perna,
levantando seu joelho para colocar seu pé no banco estreito. Um tremor
começou em torno dos dedos dele. Ele os retirou e ela sussurrou em
protesto. “Ainda não,” ele murmurou,” Nós temos algumas coisas para
resolver primeiro.”
Foco. Sua mente girava enquanto seu corpo pulsava. “Do que
você está falando?”
“Você está em perigo, e você vai me deixar lidar com isso.” Ele
pressionou contra sua entrada, deslizando para frente lentamente, muito
lentamente. Ela empurrou para trás contra ele, gritando quando ele a
encheu. Ambos os olhos bem abertos.
Músculos vibraram em seus ombros quando ela endireitou os
braços, tomando mais dele. Tomando tudo dele.
Ele gemeu contra seu ouvido, o corpo protegendo suas costas do
spray quente. “Você é uma mulher perigosa, Sra. Dean.”
Sua risada saiu estrangulada. “Eu aprecio isso, Major Dean.” Ela se
inclinou para frente, depois bateu para trás.
As mãos imediatamente agarraram seus quadris, mantendo-a no
lugar. “Calma, querida.”
“Não.” Ela lutou contra as mãos, causando faíscas de puro prazer
ondulando ao longo dos nervos sensíveis segurando-o cativo.
Uma respiração funda a fez sorrir em triunfo. Ela fez novamente.
“Droga, Josie. Eu quero conversar.” Mas ele deslizou para fora e
depois a empalou.
Ela fechou os olhos. Fogo cobrindo de branco por trás de suas
pálpebras. Usando a parede para alavancar, ela empurrou para trás,
jogando a cabeça no ombro dele, mordendo os lábios.
Shane estalou. Com um grunhido, ele cravou os dedos em seus
quadris, puxando-a contra ele. Então começou a bater. Mais duro e mais
rápido do que nunca. Furioso e contundente, ele pousou a boca na base
de seu pescoço. Finalmente ele estava sendo ele mesmo, finalmente
tomando-a como ela precisava. Pela primeira vez, ela sentiu que ele era
dela — completamente. Todo ele pertencia a ela e a ela somente.
Ela gritou, a fricção deliciosa tão feroz que sua respiração ficou
presa no grito. Prazer a esfaqueando através de seus golpes
implacáveis. Necessidade chicoteou ao longo de seus nervos ao ponto da
dor. O pináculo que ela precisava alcançar ou morrer.
Ele escorregou uma mão abaixo e encontrou seu clitóris.
Fogo rasgou seus nervos. Ela quebrou, tombando. Sua boca se
abrindo em um grito silencioso enquanto arqueava as costas, deixando o
prazer esmagador ondular através dela. Ela soluçou o nome dele.
Com um aperto em seu agarre, ele bateu mais duro. Mais rápido.
Seu grande corpo apertando ao redor dela enquanto ele gozava, o hálito
quente em seu ouvido. Finalmente, ele parou de se mover, mantendo-se
dentro dela, o coração batendo num ritmo rápido contra suas costas.
“Eu te amo, anjo.”
As palavras foram suaves.
O tom possessivo.
A promessa absoluta.

*****
Shane rolou na cama grande, vagando pelo crepúsculo entre
sonho e realidade. Seu cérebro relaxou, e ele deixou as lembranças lavar
sobre ele.
Dois anos atrás, ele assobiava uma melodia country, voltando
para casa da padaria para sua mulher. Josie. Dúvida ainda o assaltava,
mas talvez ele tivesse uma chance de uma vida normal. Claro, o que
tinha acontecido com seu irmão Nathan era uma tragédia, e quando
Nathan tinha sido traído por Audrey, sua vida praticamente parara. Mas
Nate nunca tinha falado sobre a história toda. Alguma outra coisa tinha
acontecido, e ele não quis discutir o assunto. Mas agora, talvez Shane
pudesse encontrar um final melhor.
O cabelo na parte de trás de seu pescoço havia formigado. Ele
tinha mudado as baguetes recém-assadas para a outra mão,
estendendo a mão para a faca no bolso de trás.
“Não é necessário,” uma voz baixa murmurou do beco.
Alívio relaxou seus ombros enquanto ele se desviava para o beco
para enfrentar seus irmãos. “Matt, Nate. Por que estamos em um beco?”
Humor curvou seus lábios. Matt odiava drama, enquanto Nate já tinha
vivido uma vez isso. Quando ele vivera para alguma coisa.
Matt não retornou o sorriso, apenas o olhou com aqueles olhos
cinza escuro.
Medo sussurrou ao longo de sua pele. Suas costelas
instantaneamente doeram. Não. “O que foi?”
“Jory está morto.”
Dois anos depois, as palavras o fizeram sentar na cama, seu
intestino revirando. Dor enchendo seu corpo. Jory. O mais novo, o
menor, o que tinha tentado muito mais duro do que o resto deles. Até
que ele cresceu e arrebentou.
Shane respirou, olhando para a trouxinha adormecida ao lado
dele. Minúscula. Ela era tão pequena, enrolada como um gatinho. Seus
lábios amuaram em seu sono, e ele voltou no tempo para as muitas
vezes em que tinha ficado ao lado da cama. Observando-a. Ele tinha a
intenção de colocar algum sentido para ela no chuveiro. E lhe mostrar
quem era o chefe. Ela o havia levado. Envolvendo seu pequeno corpo
em torno dele tão firmemente quanto tinha amarrado seu coração.
Jesus. Ele não pôde manter seu próprio irmão seguro. Como ele
poderia manter Josie segura? Embora as memórias estivessem voltando
aos poucos, havia mais que ele precisava descobrir. Ele tinha dito a Josie
que ficaria com ela, mas e se isso fosse uma sentença de morte? Talvez
amá-la realmente significasse deixá-la. Mas ele poderia?
Sua mão tremia quando ele alcançou e alisou seu cabelo ralo da
testa. Sua pele parecia a mais fina das sedas. Embora o hematoma se
espalhando através de seu queixo o fizesse desejar ter matado George.
Como ele podia ver tão bem no escuro?
Hora para algumas respostas.
Ele rolou da cama e vestiu a calça, indo descalço pelo corredor até
a sala.
Nathan olhou feio para ele da mesa, onde tinha montado um
scanner. Seu cabelo molhado estava agarrado ao pescoço. “Você usou
toda a água quente, idiota.”
“Desculpa.” Ele passou a mão pelo cabelo. “Por que eu consigo ver
no escuro? Como eu posso saber a velocidade de um veículo a trinta
milhas de distância? Merda, como eu posso ouvir um veículo tão
distante?” Raiva lutou com a razão pelo domínio em seu cérebro. “Como
é que eu sabia como interrogar aquele bastardo mais cedo?”
Nathan se endireitou, os olhos pensativos. “O que você lembra?”
Shane grunhiu e se dirigiu para a cozinha, pegando duas cervejas
da geladeira. Guinness. Ele entregou uma para Nathan e caiu em uma
cadeira de couro grosso. “Lembro-me de uma academia militar e de
quebrar o meu braço. Então me lembro de Matt me dizendo que Jory
estava morto.” Mesmo agora, dor prendeu o ar em sua garganta. “Cenas
pequenas, pequenas memórias espalhadas por toda parte. Estou
começando a me lembrar de tudo sobre Josie.” Ele apertou os olhos,
olhando para o passado. “Eu sei que nós não temos pais. Eu não sei
como eu sei disso, mas eu me lembro de querer pais.”
“Dois anos mais velho do que eu, Matt é a coisa mais próxima que
já tivemos,” Nathan disse suavemente. Ele coçou o queixo. “Pode ser
mais fácil não saber. Mas você está certo. Nós não temos pais.”
“Por que não?”
Nathan exalou. “Somos experimentos, Shane. Genética, psicologia
e tubos de ensaio.”

Capítulo 20

Shane estendeu as pernas, esticando-se. Quanto mais sua mente


girava, mais relaxado seu corpo se tornava. Reação interessante. “Tubos
de ensaio?”
“Sim.” Nathan tomou um profundo gole da cerveja escura. “Somos
parte de uma experiência militar. Treinados para lutar, treinados para
matar desde o nascimento.”
Um tamborilar suave soou pelo corredor. Shane inclinou a cabeça
para ouvir. Josie tinha rastejado mais perto. A pequena espiã. Ele
poderia levá-la de volta para a cama ou permitir que ela ouvisse tudo. Já
era hora de colocar suas cartas na mesa. Ele prendeu seu irmão com um
olhar. “Então, nós não somos irmãos?”
Nathan cortou os olhos para o corredor e depois de volta para
Shane. Com um dar de ombros, ele sacudiu a cabeça. “Nós somos
irmãos. Parte do experimento era ver como nos relacionaríamos, como
treinaríamos, o que nos motivaria.” Uma luz de advertência entrou em
seus olhos. “Nós não éramos a única equipe. Havia vários.” Ele meneou
a cabeça para o corredor.
Que pena. Deixe que ela descubra a verdade. “Isso explica a cor
dos olhos.”
A mandíbula de Nathan apertou, mas ele continuou. “Sim. O
mesmo pai. Algum ultra soldado, do que Jory conseguiu hackear. Tome
uma fêmea que é um gênio e seu ventre, alguma engenharia genética
séria, e eles nos criaram.”
“Diferentes fêmeas?”
Nathan deu de ombros. “Sim. Esperançosamente com todo o DNA
humano — mas quem sabe. Se existem documentos sobre isso, não
conseguimos encontrá-los.”
“Josie acha que eu tenho um problema com mulheres amáveis.”
“Sim.” Nathan tomou outro gole. “As mulheres que conhecíamos
ou eram cientistas frias-como-pedra ou soldados realmente ásperos.
Principalmente.” Seu olhar deslizou para suas botas.
O cabelo na parte de trás do pescoço de Shane arrepiou.
“Principalmente?”
“Sim, ah,” — Nathan limpou a garganta — “vamos apenas dizer
que eles enviaram outras mulheres para nós enquanto estávamos na
adolescência.” Um músculo pulsou em sua mandíbula. “Não há muito
que não sabemos sobre manipulação sexual.”
Jesus. Shane cavou a palma em seu olho. “O quartel que eu me
lembro. Nós vivíamos naquele lugar?”
“Sim.” Diferentes grupos foram designados divisões, todos criados
com DNA semelhante. Irmãos.”
“Nenhuma garota?”
“Inferno, não.” Nathan exalou. “Até Audrey.”
O nome filtrou mal-estar pelo cérebro de Shane. “Audrey. Sua
Audrey.” Dor lá, também.
“Sim. Ela era a filha do médico chefe. Eles queriam que eu a
treinasse em autodefesa.”
“Por quê?” Uma imagem de olhos azuis enganosamente inocentes
e cabelos pretos longos bateram atrás dos olhos de Shane.
Nathan rosnou. “Eu não sei. Se você me perguntar, foi outra
experiência. Mas eu me apaixonei por ela. Eu queria uma vida normal
tão desesperadamente.”
“Você foi traído.” Certeza assentou um fardo pesado em volta do
coração de Shane. “Eu me lembro. Ela, ah, acabou por não ser do nosso
lado?” Nathan danificado — quase destruído.
“Sim. Eles trabalharam comigo mais e bem — matando vários de
nossos amigos no processo. Pessoas em volta de nós acabam mortas.”
Nathan falou para o corredor escuro. “Foi quando decidimos sair.”
Uma explosão encheu as lembranças de Shane. Ele colocando
detonações, matando de propósito. Os fogos queimando alto e quente...
Os gritos ecoando e depois morrendo. “Nós explodimos o lugar.”
“Sim. Nós tínhamos que nos livrar dessas pessoas para que
pudéssemos buscar vingança. Nós sopramos tudo e nos espalhamos.
Quase cinco anos atrás.” Nathan olhou para o telefone celular
descartável. “Sabíamos que eles precisariam de mais ou menos uns
cinco anos para se reagruparem e virem atrás de nós.”
“Reagruparem?”
“Tenho certeza que nós somos apenas a primeira onda de
experimentos. Então, nós queríamos tempo para fugir, nos posicionar, e
depois derrubá-los.” Os olhos de Nate endureceram. “É claro, nós
pensamos que estaríamos mais à frente do que estamos agora —
considerando que temos três meses de vida.”
Shane parou. “Desculpe-me?”
O sorriso lento de Nate carecia de humor. “Você não achou que
gênios inteligentes o suficiente para nos criar geneticamente não teriam
salvaguardas no lugar, não é?”
O olhar de Shane caiu para suas mãos. Um medo familiar, mas
não-lembrado lavou por toda sua volta. “Acho que não. Qual é a
salvaguarda?”
“Morte do chip em sua espinha.” Nathan coçou o pescoço. “Precisa
ser reprogramado a cada cinco anos, ou sopra.”
“Sopra?”
“Sim. A coisa sopra e você morre.” Nathan cutucou um fio em seu
jeans. “Se tentarmos removê-lo...”
“Sopra.” Shane olhou para a porta muito silenciosa. Ele deveria ter
mandado ela de volta para a cama. “Qual é o plano?”
“Jory estava procurando o código ou como removê-lo, assim como
Matt. Nós vamos encontrá-lo. Por agora, precisamos nos concentrar no
problema atual.”
“Matt disse que ele é um U.S. Marshal,” Shane disse.
“Sim. E eu sou o chefe da Sins Security, que é uma corporação de
propriedade de nós quatro. Quero dizer, nós três.” Nathan franziu o
cenho. “Nós fornecemos suporte, proteção, e coisa e tal quando
necessário. Estivemos montando recursos para quando atacarmos — o
que tem que ser logo.”
“Qual o grupo que eu estava com os marines?”
“Uma unidade de especialidades nos Estados Unidos que lida com
o bioterrorismo.”
Bioterrorismo? “O que isso tem a ver com nossa infância?”
“Alguns dos maiores cientistas do nosso governo nos criaram em
primeiro lugar. Você os estava caçando.”
“Eu sai quando Jory morreu.” Uma afirmação. Ele tinha deixado
mais do que os marines, e ele sabia disso.
“Sim. Nós achamos que ele tinha chegado muito perto do
comandante.”
O nome enviou uma rocha de puro ódio explodindo sob a pele de
Shane. “Eu me lembro dele. Ele precisa morrer.”
“Sim, ele faz,” Matt disse, entrando na sala.
Shane coçou a cabeça. “O que há com minha super audição? E a
visão?”
Matt deu de ombros. “Junto com a força anormal e reflexos, todos
nós temos dons especiais. Pode ser hereditário e experimental, ou
apenas um acaso de tudo isso. Todos nós temos hiper sentidos, mas o
seu é o melhor.”
“Qual é o seu dom?” Shane perguntou.
Aproximando-se do sofá, Matt girou, seu olhar no corredor escuro.
“Sua mulher está espionando,” ele sussurrou.
“Eu sei.” Shane se pôs de pé. “Dons?”
“Eu sinto o movimento antes sequer que aconteça. Pode ser meio
psíquico, empático, ou apenas notar a mudança do ar. Eles nunca foram
capazes de explicar isso.” Matt olhou para o corredor.
“Deve ser útil em uma luta.” Shane empurrou a cabeça para
Nathan.
“Eu leio pessoas. Expressões faciais, movimentos, tudo. Eu sou um
detector de mentiras humano.” Nathan sorriu, todo velhaco. “Muito útil
com as mulheres.”
Matt baixou o tom. “Josie não deveria saber de tudo isso.”
Shane assentiu. “Vou discutir o assunto com ela, e depois você e
eu podemos repassar a morte de Jory. Talvez descobrir onde eu estive
nos últimos dois anos.”
“Parece bom. E precisamos sair da cidade assim que resolvermos
o problema dela.” Nathan pegou o celular novamente. “Meus contatos
devem apresentar qualquer nova informação.”
Shane assentiu, esticando o pescoço enquanto caminhava em
direção ao corredor. Uma corridinha soou antes que uma porta clicasse.
Ah, anjo. Boa tentativa.

*****
O coração de Josie martelava em seu peito. Ela manteve seu olhar
na entrada escura do quarto. A porta se abriu. Luz fraca do fundo do
corredor filtrou dentro, mostrando a forma forte de Shane na porta.
Ela prendeu o fôlego na garganta. Quieta. Ficar muito quieta.
“Você ouviu tudo que precisava ouvir?” ele grunhiu, entrando e
fechando a porta. Um sussurro soou e seu jeans bateu no chão antes
que ele puxasse as cobertas e deslizasse dentro.
O aroma de cedro quente e masculino encheu suas narinas. Calor
a engolfou.
Ele puxou sua bunda para a virilha, curvando um braço em volta
de sua cintura. “Bem, e aí?”
Ela deu de ombros, sua mente girando. “Sua infância foi uma
merda.”
Uma risada latida agitou seu cabelo. “Sim, é o que parece.” Ele
suspirou. “Embora a explicação científica pareça verdadeira. Quero dizer,
alguns dos meus sentidos não são normais.”
“Nem sequer perto.” Ela se contorceu para ficar mais confortável,
sua peito doendo. “Você acha que Nathan está certo? Vocês vão morrer
em três meses?” As palavras doíam dizer.
“Eu acho que Nate está certo sobre ter um chip de morte em
minha espinha, mas não, eu não vou morrer. Nós vamos descobrir isso.”
Uma calma razão enchia seu tom — calma demais.
Essa era uma promessa que ele não podia fazer. Ele parecia tão
invencível — como ele poderia morrer? Lágrimas brotaram em seus
olhos, e ela as empurrou de volta. Chorar não ajudaria em nada. “Como
é possível manipulação genética? Quero dizer, eu posso entender tirar
esperma de um soldado e fazer bebês, mas como você explica o
aumento da audição? A visão? A força?”
“Não sei.” Ele correu as pontas ásperas dos dedos ao longo de seu
braço nu. Arrepios subiram. “Podemos clonar vacas. Eliminar doenças
genéticas em culturas. Acho que a ideia não é improvável de pensar que
podemos manipular genes que lidam com força e sentidos.”
“Especialmente se financiado pelo governo. Pense no dinheiro
envolvido.”
“Sim. Dinheiro.” Seu corpo apertou ao redor dela. “Sabe, uma
coisa era eu ter certeza sobre minha capacidade de matar. Que eu tinha
treinamento. Mas descobrir que fui criado em um tubo de ensaio para
ser um assassino, bem agora...” Seu tom foi duro e plano, mas dor
ecoou.
Tristeza filtrou através dela. A necessidade de confortá-lo, de curá-
lo, fez seu coração realmente doer. Ele deveria ter sido um menino tão
assustado para ter se transformado em um homem tão duro. “Você não
sabe disso. Claro, você é treinado. Mas é estranhamente inteligente,
também. Talvez você tenha sido criado para fazer algo grande. Curar
uma doença. Corrigir a economia.” Ela se virou em seus braços para
encará-lo. Apenas o brilho profundo de seus olhos incríveis encheu sua
visão. “O que você faz com suas habilidades... Bem, isso é com você.
Não eles.”
Ele exalou. “Agora eu quero descobrir quem matou meu irmão. Na
verdade, eu gostaria de me lembrar do meu irmão.” A grande mão de
Shane se espalhou entre suas omoplatas, e ele acariciou abaixo para
pressionar a parte inferior de suas costas para ele. A ereção saltando
contra seu clitóris. “Depois de me certificar que você está segura.”
Ele beijou sua têmpora. Muita emoção subiu nela, e ela fechou os
dedos sobre seus ombros. Ele então vagou a boca aquecida pelo lado de
seu rosto para tomar sua boca.
Segurança era uma ilusão que ela não queria — e não acreditava.
Isso, isso ela queria. Ele era o que ela acreditava. Com um suspiro, ela
se afundou no beijo.

*****

Várias horas depois, Nathan lançou um olhar para Matt. “Acha que
ele vai voltar?”
“Você voltaria?” Matt abriu uma pasta de arquivo, irritação
rodopiando através de seus pensamentos.
“Provavelmente não.” Nathan socou nas teclas do laptop. “Ele está
perdido, Matt. Ele não entende que precisa deixá-la ir.”
“É mais provável que ela não o deixe ir dessa vez,” Matt retornou.
No que, bem, ele não podia culpá-la. Enquanto examinava o arquivo
dela novamente, ele entendeu sua necessidade de uma família. Embora
morte sempre tivesse pairado sobre sua infância, pelo menos ele tinha
compartilhado seus dias com seus irmãos. Família. Eles lutavam uns com
os outros. Merda, eles lutavam uns pelos outros. A pequena Josie tinha
estado completamente sozinha.
“Talvez. Se ela descobrir toda a verdade, ela pode chutá-lo para
longe.” Nathan pegou um saco de batatas fritas meio amassado debaixo
de outro monitor.
“Sim.” Matt se recostou no sofá. Ele estava tão fodidamente
cansado. Mas sono tinha se tornado um luxo. “Você já conseguiu invadir
seus arquivos de trabalho? Precisamos descobrir quem grampeou a casa
dela.”
“Você acha que a situação tem a ver com o comandante?”
“Não. Eu acho que isso tem algo a ver com seu trabalho. Não nós.
Mas ela é da família, e precisamos descobrir quem está armando para
ela.”
Nathan arrancou, balançando um olhar assustado para seu irmão
mais velho. “Uau. Ela chegou até você.”
Sim. A pequena atrevida de olhos-azuis pouco tinha rastejado
direito para dentro do pequeno círculo de pessoas por quem ele dava a
mínima. Matt lutou contra um rosnado. “Ela é a esposa de Shane. Goste
ou não, nós a colocamos em perigo há dois anos, e ainda é pior agora.
Shane pode ter alertado o comandante quando tentou pesquisar seu
passado.”
“Sim. Cada instinto que tenho diz que eles estão vindo atrás de
nós agora.” Nathan esfregou o pescoço. “O comandante está perto.
Posso sentir sua presença.” Ele limpou a garganta. “Você acha que
Shane descobriu quem matou Jory?”
Matt exalou, forçando a pesada carga de culpa fora de seu corpo.
Por agora. “Espero que sim.” A necessidade de tirar sangue rugiu como
uma tempestade entre seus ouvidos. “Eu não deveria ter deixado Jory
ir.”
“Você não tinha escolha. Jory era bom em seu trabalho e fez o
que precisava ser feito. Se ele tinha uma vantagem, nada poderia tê-lo
parado de persegui-la.” Nathan olhou para o telefone com uma
carranca. “Nem mesmo você, Mattie.”
O sabor espesso da cerveja estrangeira não conseguiu lavar a bile
em sua garganta. “Eu falhei com ele.”
“Não. Era meu trabalho manter o controle de vocês três em campo
— eu falhei com ele.” Nathan pegou um arquivo plano de manilha
contendo uma lista dos clientes atuais de Josie.
O jogo de culpa era inútil, e eles não tinham tempo para isso. Matt
jogou o arquivo na mesa de centro. Não havia necessidade de ler mais
nada — ele conhecia a vida de Josie de cor, desde que Shane tinha se
casado com a mulher. “Shane recebeu bem a notícia de sua morte
iminente.”
“Que escolha ele tinha?” Nate suspirou. “Nós vamos encontrar o
médico. Eu prometo.”
“É melhor que seja logo.” Matt balançou a cabeça. Como a mulher
tinha conseguido se esconder dele por tanto tempo era um mistério.
Um monitor buzinou. Nathan socou nas teclas. “Meus resultados
estão dentro. Eu hackeei o escritório do ME para os resultados da
autópsia sobre os três homens encontrados no rio. Nenhuma evidência
deixada nos corpos.”
“Como eles morreram?” Matt perguntou.
“Todos tiveram lacerações de uma boa luta, mas morreram de
ossos quebrados no pescoço.” Nathan arqueou uma sobrancelha. “Estilo
militar. Os policiais encontraram um bastão de metal perto dos corpos,
mas o rio lavou todo e qualquer DNA.”
Jesus. Matt deixou escapar um suspiro. Três caras tinham chegado
a Shane com um bastão. “Como eles chegaram tão perto?”
“Meu melhor palpite é que nosso irmão estava distraído.” O rosto
de Nate permaneceu impassível, como de costume. Nenhuma emoção
há um maldito longo tempo. Pelo menos, nenhuma que Matt pudesse
ver. Deus ajude a todos quando ele finalmente explodisse. “Eu já tracei
os movimentos de Shane e invadi os arquivos de alguns de seus antigos
contatos. E já confirmei sua teoria de que ele tinha grampeado a casa de
Josie.”
“Por quê?” De jeito nenhum Shane ia grampear a casa de sua
esposa só porque ela estava namorando algum trabalhador da
construção civil. Ele seria mais provável quebrar a porta da frente e
bater o cara em uma polpa.
“Meu palpite é que ele descobriu os outros grampos e imaginou
que o comandante estava vigiando Josie. Conhecendo Shane, ele queria
rastrear os grampos de volta para o bastardo.” Nate mastigou uma
batata. “Então, qual é nosso plano aqui?”
“Primeiro, descobrir quem está atrás de Josie, enquanto Shane
recupera sua memória. Rapidamente, considerando que estamos
sentados feito patos aqui. Então eu suponho que ele vai tentar enviar
Josie para o complexo com você enquanto lidamos com o assassino de
Jory.”
Nate saltou visivelmente. “Ele não vai ficar com ela, Mattie. Ele
não pode.”
“Eu sei. Logo, logo ele vai descobrir isso.” Matt manteve o rosto
inexpressivo. E endureceu os ombros. “Você vai voar para casa em
Montana amanhã.”
Nathan jogou o arquivo para baixo. “Eu não vou embora.”
Exatamente o que Matt esperava. Ele endureceu o rosto no
verdadeiro modo de irmão mais velho. “Sim, você vai. Não sabemos
quanto tempo vai demorar para Shane recuperar a memória, e eu certo
como o inferno não preciso de ajuda com quem está atrás de Josie. Vá
para casa e faça seu trabalho.”
Shane entrou descalço na sala, puxando uma camiseta sobre a
cabeça, usando um jeans rasgado. E uma mandíbula relaxada. Filho da
puta.
Ele olhou para Matt. “Preciso preencher os espaços em branco.
Agora.”
Matt assentiu. “Vamos ao que interessa.”
Capítulo 21

De manhã cedo, Josie prendeu o cabelo molhado para cima,


limpando o brilho dos lábios em seu rosto. Shane tinha pego roupas e
artigos de higiene pessoal de sua casa. Obrigada, Senhor. Embora o
isolamento estivesse começando a incomodá-la. Ela precisava voltar ao
trabalho. Agora isso poderia ser uma batalha.
As meias grossas mascaravam seus passos enquanto ela
serpenteava pelo corredor em direção ao cheiro de café.
Na sala, ela parou.
Matt e Shane estavam recostados no sofá lendo arquivos enquanto
Nathan estava perto da porta, um boné de bola na cabeça e óculos
escuros sobre os olhos.
O coração de Josie começou a bater. “Belos óculos.”
Nathan deu de ombros. “Sim. Ajuda com as câmeras de segurança
em todos os lugares. Padrão quando eu viajo.”
Sua respiração ficou presa na garganta.
Shane olhou para cima, uma carranca se estabelecendo entre os
olhos. “Anjo?”
Memórias atravessaram sua cabeça em rápida sucessão. Ela deu
um passo atrás, seu olhar se arregalando em Nathan. “É você.”
Ele inclinou a cabeça para o lado. “O que é eu?”
Ela respirou. Duro. “Na cafeteria. Boné de bola. Óculos de sol.”
Seu olhar voou para Shane e depois de volta. “É você.” Ela sabia que ele
parecia familiar. Raiva e medo ferveram em um nó na boca de seu
estômago.
Shane desdobrou de pé, seu olhar se movendo de Josie para
Nathan e vice-versa. “Querida, um monte de gente tem óculos estilo
aviador.”
Pura fúria crua a atravessou tão rápido que sua respiração
acalorou. “Não minta para mim. Ele era tão grande quanto você.
Construído como você.” Ela se virou para Nathan. “Foi você. O idiota na
cafeteria.”
Dor espirrou gelo sobre a fúria. Ela se virou para Shane. “Você não
me salvou. Você armou para mim.” Dois anos atrás. A cena em que
Shane havia sido seu herói. Quando tudo começou. Eles tinham
planejado o confronto. Não admira que o fanfarrão tivesse saído tão
facilmente sem discutir. O fanfarrão era Nathan.
Ele cortou os olhos para Shane.
Josie saltou para a arma preta na mesa, soltando a segurança e
recuando. Ela manteve os três homens em sua visão. “A segurança está
fora dessa vez, Matt.” Sua voz tremia de fúria. Suas mãos balançavam.
Ele permaneceu relaxado de seu poleiro no sofá. “Sabe, esta é a
segunda vez que você aponta uma arma para mim esta semana,
irmãzinha.” Ele limpou a garganta. “Se um desses dois fizesse isso, eu
quebraria suas mãos.”
“Você podia tentar,” Shane e Nathan disseram em uníssono, os
olhos fixos nela.
Matt inclinou a cabeça em reconhecimento. “Abaixe a arma, Josie.
Vamos conversar.”
As chaves de sua Toyota estava na mesa de café. “Jogue-me as
chaves, Matt.”
Shane se colocou entre a mesa e Josie. “Não vai acontecer. Agora
abaixe essa arma antes que você realmente me irrite.”
Ela alargou sua postura, balançando o alvo para o centro de seu
peito. “E aí, menino geneticamente melhorado. Você pode parar uma
bala?”
“Não.” Raiva começou a arder ardósia através de seus olhos.
“Agora, Josie.”
“É verdade, não é? Você armou para mim.”
“Sim.” Ele manteve o olhar fixo em seus olhos, e não na arma.
“A coisa toda... Encontrar comigo, casar comigo... Você armou a
porra toda para mim.” Sua mão apertou na arma.
“Não.” Ele deu um passo em direção a ela. “O encontro foi uma
armadilha. O resto foi real.”
“Mentira.” Ela abaixou o alvo para seu joelho. Sua própria
estupidez esbofeteando seu rosto. “Dê mais um passo, e você vai
mancar pro resto da vida, Shane. Se esse é mesmo o seu nome.”
“É,” Nathan entrou na conversa. “Sempre foi.”
Sua respiração começou a sair em ofegos. “Me dê minhas chaves.”
Ela precisava sair da cabana. Confusão desordenava sua mente.
“Não,” Shane disse.
Teria ele se aproximado de alguma forma?
Josie recuou até que encontrou a parede. “Por quê? Porque eu?”
Ele precisava de um disfarce por um par de meses? Se fosse, por que
ele tinha voltado?
“Você tinha algo que eu queria.” Ele varreu o olhar por seu corpo,
um leve sorriso curvando seus lábios.
Mesmo estando com medo e chateada, seu corpo respondeu a ele.
Aqueceu e formigou. Ela ergueu o queixo. “O que você queria?”
Ele arqueou uma sobrancelha. “Dê-me a arma, e vamos discutir o
assunto.”
Nathan aliviou para a porta. “Vou te dar algum espaço. Boa sorte
com isso, Shane.” Ele se esquivou para fora, assobiando “Ready to
Run14“ do Dixie Chicks15.
Josie ofegou, começando a virar a arma para a porta, e então
reorientando-a de volta para Shane.
Ele sorriu. Estudando-a. Conhecendo-a. “Matt? Cai fora, sim?
Preciso de um momento com minha esposa.” Ele enfatizou a palavra
esposa apenas o suficiente para estalar sua espinha em atenção.
Ela manteve o olhar fixo em seu marido. Traição queimando como
cinzas de cigarro em seu esôfago. “Você se move, Matt, e eu vou atirar
nele. Observe-me.”
Matt se esticou de pé. “Tudo bem. Ele provavelmente merece.”
Então ele abriu a porta. “Vou sair para uma corrida. Vejo vocês mais
tarde.” A porta se fechou atrás dele.
Um grito estrangulado encheu a garganta de Josie. A arma não
assustava nem mesmo remotamente esses caras.
Shane soltou um suspiro. “Josie —” Rápido como um chicote, ele
atacou, prendendo seu braço contra a parede. O corpo a encaixotando,
enquanto o aperto em seu pulso aumentava. “Solte a arma.”
Ela mordeu o lábio, segurando com toda a teimosia que possuía.
14
https://www.youtube.com/watch?v=L2ksenLQ_RE – Pronto para Correr.
15
Um trio norte-americano de música country formado em 1989 em Dallas/Texas, composto por Emily Robison, Martie
Maguire e Natalie Maines. É um dos grupos femininos de maior sucesso de todos os tempos, tendo vendido um pouco mais de
trinta milhões de álbuns em sua terra natal.
Com um grunhido, Shane puxou a arma de seu aperto. Ele deu um
passo atrás, puxando a segurança. “Eu tenho que falar sobre seu
desafio, anjo.”
Fúria. Pura, crua, e mortal, raiva correu através dela e acendeu
suas veias em chamas. Ela viu vermelho. Saltando para frente, ela girou
e disparou um chute duro em seu intestino. Ele a bloqueou com um
golpe casual da mão em seu pé.
Uma sobrancelha subiu. “Sente-se, ou eu mesmo vou te sentar.”
O tom. Baixo, perigoso, e autoritário. Ele nunca o havia usado com
ela antes. Nunca. Ela hesitou, seu olhar no sofá.
Bem, não faria nenhum mal ouvir a verdade. Finalmente. “Eu vou
escutar. Depois eu vou embora.” Com um bufo, ela esperneou para o
sofá e sentou.
“Você não vai a lugar nenhum.” Ele foi até os armários de
cerejeira na cozinha e colocou a arma em cima de um. Onde ela não
poderia alcançá-la. Então, ele voltou. “Você quer que eu pare de tratá-la
como algo frágil? Certifique-se bem de entender o que você está
pedindo.” As almofadas afundaram quando ele se sentou ao lado dela no
sofá. Mãos largas envolveram seus braços e a levantaram do sofá.
Ela gritou, empurrando as mãos contra o peito dele, lutando.
“Pare.” Ele a sentou em seu colo de frente para ele, as pernas
espalhadas sobre as dele. As mãos algemando seus braços, segurando-a
no lugar. “Você quer a verdade. Sente-se aqui e pegue-a.”
Os olhos dele brilhavam com um cinza irritado. As coxas duras
debaixo dela aquecendo seu bumbum.
Desejo, involuntário e indesejado, causou um turbilhão abaixo de
seu estômago. “Tudo bem. Dê-me isso, então.” Ele não era o único que
podia fazer joguinhos de palavras.
“Nós te escolhemos por causa da Fuller Labs.”
Ela parou. Nem em um milhão de anos ela esperava essa
resposta. “Por quê?”
“Cientistas da Fuller costumavam trabalhar com o comandante.
Nós pensamos. Algumas das pesquisas da Fuller inclui engenharia
genética.”
Sua mente girou. “Quem é o comandante?”
“O monstro que nos treinou desde o nascimento. O homem
responsável pelo nosso programa.”
“Você se lembrou?”
“Sim. Tudo, menos os últimos dois anos.”
Sua infância tinha sido triste e o havia danificado. Mas ele tinha
feito a escolha como adulto de usá-la — de machucá-la. Agora ela
precisava esquecer seu sonho de um final feliz. “Então você me usou
para obter os registros financeiros deles?”
“Sim.” A voz de Shane permaneceu firme. “Eu monitorava as
finanças deles antes e depois durante nosso casamento.”
Facas afiadas atravessaram suas entranhas. Apenas uma
verdadeira força de vontade a impedia de dobrar. Ainda assim, lágrimas
picaram a parte de trás de seus olhos. “Espere um minuto. Todos os
meus problemas no computador — os que você me ajudou a corrigir... “
Ele se deslocou. “Sim. Eu baguncei com seu computador para ter
acesso aos arquivos.”
Não admira que seu laptop estava sempre tendo problemas. Ela
tinha ficado tão grata a Shane por resolver os problemas. O bastardo
tinha criado os problemas.
Calor ardeu entre suas orelhas. Memórias seguiram o exemplo.
Todos aqueles fins de tarde em que ele deveria estar trabalhando, onde
ele estava? Todas aquelas pequenas coincidências de seus arquivos
estarem ligeiramente reorganizados em seu escritório lhe deu uma pista.
“Você entrou em meu escritório, também?”
“Sim.”
Ela sacudiu a cabeça. “Como? Quero dizer, eles tinham câmeras.”
“Eu cuidei das câmeras. Aparentemente, ninguém realmente as
verificava, porque nunca houve nenhum alarde.”
Nunca houve nenhum alarde porque nada tinha sido levado. Não
havia nenhum evento.
Outra lembrança quase a teve arranhando seu rosto. “E quando eu
desmaiei na noite em que fomos pegar as pastas de arquivo que eu
achava que tinha esquecido?” Ela nunca tinha desmaiado antes — e ela
estava certa de que tinha levado as pastas certas para casa.
Ele corou um vermelho escuro. “Eu escondi os arquivos, então
tivemos que voltar ao seu escritório, e ah, você não desmaiou.”
Ela estava deitada no sofá em seu escritório quando voltara a si, e
Shane tinha estado tão preocupado, tão gentil. “Você me nocauteou?”
“Sim.” Os olhos dele escureceram. “Sinto muito.”
Ele sentia fodidamente muito? Raiva a tinha quase vendo em
dobro, enquanto dor batia através de seu corpo. “Seu imbecil. Por que
você se casou comigo?” Ela lutou para impedir seus lábios de tremer.
“Por que apenas não continuou a me ferrar?”
Shane deu um breve aceno de cabeça. “Casar com você não fazia
parte do plano. Acredite em mim, meu casamento deixou meus irmãos
imensamente putos.” Emoção aprofundou sua voz. “Eu te queria, Josie.
Ainda quero. Com tudo o que sou.” Ele a puxou para mais perto. Dor
torceu os lábios dele, e seus olhos cintilaram. “Eu sabia que não deveria
me casar com você. Eu sabia o que o perigo significava. Mas eu me
convenci de que poderia mantê-la a salvo.”
Palavras tão bonitas. “Você mentiu para mim. Durante todo o
tempo em que estivemos casamos.”
“Sim. Eu te abandonei, pensando que isso a manteria segura.” Ele
olhou para cima e balançou a cabeça, suas narinas chamejando. “Eu não
sabia o quanto isso iria machucá-la, e eu sinto muito.” Sua voz baixou
para gutural, a dor palpável.
O quarto nublou. Ela desviou o olhar, tentando dissipar a dor em
seu peito. Tranquilizá-lo não era seu trabalho. “Eu não acredito que você
realmente me queria. Quando você já tinha terminado o trabalho, você
me descartou. Como um casaco velho, que não tem mais utilidade.”
“Não é verdade. Jory morreu, e nós sabíamos que havia pouco
tempo para obtermos informações. Eu tive que ir e rápido.” Seu agarre
aumentou. “Eu não achei que a investigação levaria dois anos. Eu tinha
planejado voltar para você. De jeito nenhum eu poderia ficar longe para
sempre.”
Incredulidade a teve prendendo o fôlego. Raiva lavou a dor para o
chão. “Espere um minuto. Você recebeu os papéis do divórcio, veio até
aqui para me ver, e em vez de bater na minha porta com um “Oi
querida, bom te ver', você grampeou minha casa?”
“Bem... Eu não me lembro disso ainda, mas presumo que chequei
sua casa, encontrei os grampos, e decidi descobrir o que estava
acontecendo.” Dúvida franziu sua testa, mas foi rapidamente suavizada.
“Então você me usou como isca. No caso de o comandante ter me
encontrado.” Dor brilhou duro e brilhante. Ela não podia acreditar.
“Não. Eu posso não me lembrar, mas de jeito nenhum eu a usaria
como isca.” Ele apertou as mãos em seus quadris. “Das fotos que
encontramos na pequena casa, eu a estava mantendo em minha vista
em todos os momentos — e eu tinha uma bolsa embalada já pronta para
você.”
“Então é isso?” Se ela ficasse mais puta, sua cabeça poderia
explodir. “Sequestro era uma possibilidade.”
“Claro.”
Realidade se instalou em seu estômago como um raio de luz.
“Não. Nós começamos em uma mentira, e acabamos em uma mentira.”
Ela encontrou seu olhar de frente. Sem vacilar. “Já terminamos.”
Os olhos dele suavizaram. “Eu sei que te machuquei, bebê. Eu
sinto muito.”
“Você não pode me manter aqui.”
Ele bufou uma risadinha baixa, cansaço apertando seu rosto.
“Você não faz ideia do que posso fazer, anjo. Do que farei para mantê-la
aqui. Para mantê-la segura.”
“Eu tenho uma boa ideia do quão longe você vai descer.” Ela
apontou as palavras com intenção de cortar. “Nada mais me
surpreenderia agora.” Seus músculos das coxas se agruparam para
saltar fora dele. Ele apertou as mãos para imobilizá-la, e sua raiva
explodiu de volta à superfície. “Solte-me.”
Auto-desgosto enrolou seu lábio. “Eu não posso.” Calor correu de
suas palmas para as coxas dela. “Agora precisamos descobrir quem está
atrás de seus arquivos, e eu preciso mantê-la segura.” Longos dedos se
curvaram para segurar suas pernas.
Mesmo agora, com dor e raiva montando-a duramente, ela
ansiava por aquilo que poderia ter sido. Mas ela já tinha escutado seu
coração o suficiente com Shane. Ela era uma mulher inteligente, e era
hora de deixar seu cérebro assumir. “Não. Nós já acabamos aqui.”
Surpresa genuína brilhou nos olhos dele.
Seu foco clareou. “Você realmente acha que eu vou te deixar me
tratar assim? Que você é tão irresistível que eu não vou embora?” Ela
baixou o queixo. “Observe-me.” Determinação endireitou seus ombros. A
arrogância do homem. Sim, ela tinha sido estúpida por sequer pensar
em confiar nele novamente, e agora estava pagando o preço. Mas já
chega.
“Eu parti porque sabia que você estava a salvo. Ou pelo menos eu
pensei que estivesse.”
“Eu não me importo.” Raiva filtrou através dos olhos dele, mas ela
realmente não se importava. “Não importa por que você mentiu, por
que você partiu. O que importa é o fato de que você mentiu, e que você
partiu. Como pode você não entender?”
“Você me ama.” Ele apertou os lábios em uma linha reta. “Para
uma mulher boa, para uma mulher suave, isso significa tudo.”
Ela estalou os dentes fechados, quase aliviada quando seu cérebro
assumiu. Quando foco se tornou mais fácil do que dor. “Eu te amo,
Shane.” Franzir o cenho realmente fez sua testa doer. “Mas você
realmente acha que é o único capaz de se afastar? Você estava certo ao
partir. Foi melhor assim.” Ela soltou um suspiro. “Eu posso me afastar,
também.”
Simpatia por ele quase parou suas palavras. Quase. Ele realmente
não entendia. Pobre garoto criado sem mãe, com alguma visão
idealizada de como as mulheres deveriam ser. Ela tinha estado sozinha
por toda a sua vida. Mesmo durante seu casamento. Ver o verdadeiro
Shane nesta última semana só tornou essa verdade mais clara. Ela se
inclinou mais perto, seus olhos um centímetro dos dele. “Eu. Posso. Te.
Deixar. E eu vou.”
Dessa vez, ele a soltou.

*****
Matt pisou os pés na varanda, apenas no caso de seu irmão estar
ficando ocupado. Ele esperava que Shane descobrisse o caminho certo
— longe de Josie. Embora ele entendesse. Desde a tenra idade, todos
eles tinham uma fantasia sobre como eram as verdadeiras famílias. Eles
se perguntavam o que tinham feito de errado para estarem tão
sozinhos. Talvez terem sido criados por homens em vez de Deus os
tivesse marcado para a vida. No fundo, ele tinha certeza disso.
Ele cutucou a porta aberta, deslizando para dentro.
Shane estava sentado no sofá, um caderno na mão, o olhar fixo
na parede distante.
“Ah, onde está Josie?” Matt tirou a camisa e enxugou a testa. Ele
tinha se sentido bem correndo pela floresta no frio do outono
novamente. Ouvindo a vida selvagem e sendo beijado pelo sol.
“No quarto.” Shane olhou para cima com olhos vazios. “Eu acho
que ela me despejou.” Incredulidade lavou um rubor sobre as maçãs de
seu rosto.
Matt arqueou uma sobrancelha. “Despejou você?” As palavras
inócuas provaram estranhas em sua língua. “Como em um tipo de
relacionamento regular de despejar você?”
“Sim.” Shane franziu a testa para o corredor vazio.
“Hã.” Matt tirou as botas de combate. “Eu não acho que qualquer
um de nós já foi despejado.” Claro, eles tinham tido amantes tentando
matá-los. Mas nunca apenas... despejá-los. “Então, ah, o que você vai
fazer?”
Shane deu de ombros. “Eu não faço ideia.”
Talvez fosse melhor assim. Embora a carranca no rosto de Shane
revogasse esse pensamento. “Shane, nós fomos treinados pelos
melhores psicólogos do mundo para manipular as pessoas. Você pode
reconquistá-la.”
“Não.” Seu irmão jogou o caderno no sofá. “Isso é real. Não é o
mesmo.”
Bem, agora. Isso era verdade. Matt esfregou o queixo. “Eu vou
falar com ela.”
Shane bufou. “Você não pode consertar tudo.” Ele se levantou,
esticando o pescoço. “Eu posso não me lembrar de toda a minha
infância, mas você, eu me lembro. Sempre presente, sempre tentando
nos proteger.” Seus olhos escureceram. “Obrigada.”
Matt sacudiu a cabeça. Ele não merecia a gratidão. Nathan tinha
passado muito mais tempo criando Shane e Jory do que ele. Além disso,
se ele tivesse feito seu trabalho, Jory estaria vivo. “Vou tomar banho.”
Shane assentiu e se dirigiu para a porta. “Eu preciso de um pouco
de ar fresco.”
Matt suspirou. “Nós devemos sair daqui. Sua esposa precisa pegar
os arquivos de seu trabalho amanhã.”
Shane assentiu, de costas para Matt. “Ela vai.”

Capítulo 22

Shane se sentou no degrau da varanda e atirou pedras do outro


lado do campo, sua mente girando. Trovões rolavam pelo céu, uma
combinação perfeita para o seu humor. Josie tinha falado seriamente —
ela realmente tinha terminado com ele. Talvez fosse o melhor.
A ideia de perdê-la o despedaçava, e o pensamento de trair seus
irmãos o cortava profundamente. Por que permanecer casado trairia
seus irmãos? Porque isso acrescentava ainda mais perigo para todos eles
— especialmente para ele. Como irmãos, eles sempre foram o ponto
fraco uns dos outros. Ele balançou a cabeça. Tudo isso era tão fodido.
O céu se abriu, e chuva desceu.
Nathan saiu da floresta, lançando uma grande sombra. Ele
estivera andando o dia todo.
Shane esticou as pernas. Irritação esquentando através dele.
“Onde diabos você estava?”
“Por aí.” Nathan olhou para as nuvens que cobriam a lua. “Meu
voo sai em uma hora, e eu pensei que tinha pego meu laptop.”
“Boa ideia,” Shane estalou.
Nathan arqueou uma sobrancelha. “Há algo que você gostaria de
dizer?”
“Não.” Suas mãos se fecharam em punhos.
Nathan limpou a sujeira de suas botas, esmagando folhas
molhadas. “Cospe isso, Shane.”
Shane saltou de pé e entrou na chuva. “Minhas memórias não
voltaram todas, mas você sempre foi um bastardo mandão, não é?”
As pálpebras de Nathan se ergueram lentamente, enquanto seu
queixo baixava. “Cuidado, irmãozinho. Essa lesão na cabeça te dá
alguma imunidade, mas não muita.”
“Dane-se.” A frustração precisava de um escape, e Shane estava
olhando para um bom.
Nathan lentamente tirou o casaco, dobrou-o e o colocou dentro do
SUV, seu olhar nunca deixando Shane. Chuva emplastando seu cabelo
na cabeça. “Qual é a porra do seu problema?” Curiosidade, não calor,
montava sua voz profunda.
Shane mirou seu irmão. “Oh, você é sempre tão malditamente
calmo, tão indiferente, não é?” O clarão imediato nos olhos de Nate o
agradou. O instinto dizia a Shane exatamente onde atacar. “Você não
pôde manter uma mulher, aí ninguém consegue uma? Sério?”
Nathan sorriu, e seu punho disparou.
O cruzado de direita jogou Shane contra o parapeito da varanda.
Satisfação brotou dele junto com a dor. “Foi o que eu pensei.” Ele
abaixou a cabeça e atacou seu irmão, atingindo-o no meio. Metal rangeu
quando eles caíram contra o jipe molhado.
Ele atirou um soco duro na mandíbula de Nate.
Sua cabeça bateu para trás, e ele os rolou, escarranchando Shane.
Agulhas molhadas de pinheiro picaram seu pescoço. Dois socos duros no
rosto, e ele viu estrelas.
Droga.
Ele empurrou Nathan fora dele e pulou de pé, chutando-o no
peito. Seu irmão rolou para trás e se girou de pé.
Shane deu um passo atrás e então se estabeleceu em posição.
Nate limpou o sangue da boca. “Não importa o quão duro você
bate, ou o quão duro eu bato em você, a dor não vai embora. Lide com
isso.”
O sino da verdade fez Shane ver vermelho. Ele correu para frente
em um guincho, e Nathan caiu para trás, jogando-o sobre sua cabeça.
Shane torceu, virou e moveu para atacar novamente, e deu de cara com
Matt.
Nenhuma expressão se mostrava em seu rosto duro. Nathan
cuspiu sangue nas folhas atrás dele.
Shane recuou. Chuva encharcando suas roupas. “Saia do meu
caminho.”
Uma sobrancelha de Matt arqueou. “Por quê? Você está bravo com
você, não com Nate.”
Nate deu um passo para o lado. “Tudo bem, Mattie. Eu não me
importo de bater algum sentido nesse idiota.”
Matt cortou um olhar duro para Nate. “Pare com isso.”
Nate hesitou e depois suspirou. “Tudo bem.”
Shane rosnou. “Sempre o soldado obediente, não é?”
O soco de Matt em seu queixo o pegou de surpresa e doer como o
inferno. “Eu disse, pare com isso.” Matt apontou para Nate. “Pegue suas
coisas e vá para o aeroporto.”
Nate olhou para Shane. “Nós não podemos deixá-lo assim.”
“Nós lidaremos com isso mais tarde. Por agora, estamos em um
prazo.” Matt se virou para Shane. “Agora, Nate.”
Resmungando, Nate se virou e foi em direção à cabine.
Shane deu um passo para o lado. Ele tinha que fazer seu irmão
ver a razão. “Nate? Isso tudo vai dar certo, você sabe.”
Nate se virou lentamente, um homem enorme de pé na chuva,
puro pesar em seus olhos escuros. “Nós vamos cair lutando, Shane. Esse
sempre foi o plano.” Ele passou a mão pelo cabelo, enviando gotas
voando.
“Eu sei. Nós vamos vencer a luta,” Shane disse.
Nate sacudiu a cabeça. “A luta termina sangrenta, e a luta termina
triste. Sinto muito.” Ele se moveu para a cabana.
Shane fez uma careta. “Ele está certo?”
Matt chutou uma pedra fora do caminho. “Provavelmente.”
“Ele sempre faz exatamente o que você diz.” Nate era um soldado
ou um irmão?
Matt suspirou. Emoção obscureceu seus olhos. “Nossa infância nos
molda. Nate aprendeu da maneira mais difícil que ordena a matéria — e
que a maioria das coisas acabam sangrentas e triste.”
“Um dia você vai ter que explicar isso para mim.”
Matt o fixou com um olhar duro. “Lutar um contra o outro não
ajuda.”
Shane arrastou os pés. “Ele me bateu primeiro.”
Matt soltou uma gargalhada. “Nós não somos adolescentes. Você
está lutando porque não consegue resolver sua vida. E se você ainda
está de pé, Nate seriamente segurou seus socos.”
Assim como Shane. “Eu sei.” Seu peito doía. Ele olhou para os nós
dos dedos sangrentos. “Você acha que ele está certo? Josie me deixa
fraco?”
“Sim.” Matt enfiou as mãos nos bolsos, permitindo que a chuva o
atingisse. “E não.”
“O que diabos isso significa?”
“Qualquer pessoa que você ama é uma fraqueza, que o
comandante usará. Foi assim que eles nos manteve na linha por tanto
tempo — eles usavam a ameaça de morte sobre um irmão.” Matt limpou
a chuva do rosto. “Eles vão usar Josie.”
Desespero se sentia como facas cortando seu intestino. “Eu posso
mantê-la segura.”
“Talvez. E daqui a três meses, quando os chips ativarem?” Matt
pisou cansadamente para subir as escadas. “Ou quando finalmente nós
conseguirmos encontrá-los e morrermos desmantelando-os?”
Shane parou. “Você não acha que vamos encontrar o código a
tempo?”
Matt se virou. “Não. Onde é que isso deixa Josie, então?” Ele
balançou sua cabeça. “Deixe-a ir, faça-a acreditar que você a está
deixando, assim todo mundo vai acreditar nisso, também. Se você a
ama, você vai deixá-la encontrar uma vida.” Ele abriu a porta. “Nós
precisamos começar a trabalhar agora.” Escorregando para dentro, ele
fechou a porta.
Shane ficou lá de pé na chuva, seus pensamentos girando. O que
diabos ele ia fazer?

*****

Ele a tinha deixado sozinha. Dando-lhe espaço. Enquanto ela


dormia na grande cama na noite passada, Shane tinha trabalhado com
Matt no computador. Tentando descobrir onde ele esteve nos últimos
dois anos. Aqueles homens nunca precisavam dormir? Josie bateu o
calcanhar no assoalho do seu Toyota, recusando-se a olhar para o
marido no banco do motorista. Deus me livre ele a deixar dirigir seu
próprio carro.
Uma nova dureza cortava linhas nas laterais de sua boca. “Vamos
entrar e pegar os arquivos, anjo. Depois saímos.”
Ela continuou estudando as árvores lá fora. Sentindo-se
entorpecida por dentro. “Não. Eu tenho trinta clientes, Shane. Preciso
trabalhar.” Especialmente desde que agora parecia que sua nova vida
era permanente. Sem ele.
O SUV saltou ao longo de profundos buracos. “Eu não sou
completamente irracional.” Ele ignorou seu bufo de descrença e
continuou, “Eu entendo seu trabalho. Se você precisa finalizar com seus
clientes atuais, podemos trabalhar em algo.” Profunda, sincera, e tão
cheia de compromisso, sua voz a irritou além da crença.
“Não temos nada para trabalhar.” Depois que ele partisse, ela
ficaria bem. E sozinha. Totalmente sozinha. Ela esfregou os braços
gelados.
“Ouça, estou tentando fazer concessões aqui. Se eu fizesse do
meu jeito, você estaria segura na cabana bem neste segundo. Você
disse que precisava empacotar as coisas no trabalho, e eu estou indo
contra meus instintos em concordar.” Shane estendeu a mão e ligou o
aquecedor. Ele limpou a garganta. “Eu realmente me lembro da minha
infância. De tudo.”
Ela parou. “Como?”
Uma exalação masculina encheu o veículo. “Matt. Uma vez que ele
começou a falar, as memórias vieram à tona. Muitas.” Suas mãos
apertaram no volante. “Minha primeira missão foi assassinar um
traficante de drogas em Nova York.”
Ela prendeu o fôlego. Ela realmente queria saber isso? “Quantos
anos você tinha?”
“Doze.” Sua inflexão não se alterou.
Tão jovem. Josie endireitou os ombros. Ela não sentiria pena dele.
“Você fez?”
“Sim.”
Ela não queria os detalhes. “Oh. Você quer falar sobre isso?”
“Merda, não.” Sua voz suavizou. “Há coisas que você não deve
saber. Coisas contra as quais eu posso protegê-la. Por favor, deixe-me
fazê-lo.”
A súplica de um homem tão forte a tentava demais. Embora o
pedestal no qual ele queria prendê-la não era um bom ajuste. “Eu não
posso ser a garota indefesa que você quer esconder atrás de você.” O
cenário não era o que ele precisava, também. “Sinto muito.”
Ele suspirou. “Eu te treinei para lutar, querida. É claro que eu não
quero que você seja impotente.” Seu agarre apertou. “Falando nisso...
Por que você não continuou o treinamento?”
“Eu não quis.” Ela queria viver em paz, e só havia aquele tempo
no dia. Era ioga ou karate... E ela escolheu paz.
“Seu treinamento vai continuar a partir de amanhã.”
“Não, não vai.” Ele tinha perdido o lugar em sua vida e não podia
ditar nada disso. Ela cruzou as mãos no colo. “Você se lembrou onde
esteve nos últimos dois anos?”
Ele esticou os braços, mostrando bíceps sólidos e músculos rígidos
como granito. “Não. Matt vai tentar alguns métodos de relaxamento
profundo comigo esta noite.”
Relaxamento profundo? “Quer dizer, tipo hipnotismo?” Matt era
um psicólogo?
“Sim, algo assim. Nosso treinamento em interrogatório inclui mais
do que administrar dor.” Ele virou da estrada de terra para a estrada
asfaltada do condado. “Existem métodos para obter informações de
amigos, bem como inimigos.”
Ela limpou a garganta. “Então, ah, interrogatório. Uma
especialidade sua, certo?” Maldita curiosidade. O pensamento estava tão
longe de seu reino de experiência, e, de alguma forma, mesmo que ela
não estivesse orgulhosa sobre isso, o pensamento de Shane ser tão
valente a intrigava.
Ele balançou sua cabeça. “Não romantize a ideia.” Trovão rolou
acima deles. “'Interrogatório' é um eufemismo militar para tortura.” Ele
suspirou. “E sim, eu sou bom nisso.”
“Por que você se casou comigo?” Seus pulmões apreenderam. Ela
não tinha a intenção de fazer essa pergunta.
Ele manteve o olhar na estrada vazia diante deles. “Você me fez
acreditar que eu poderia ter uma vida. Uma boa. Algum dia.” Ele virou a
cabeça, os olhos cinzentos tempestuosos. “A ideia de não me casar com
você doía mais do que qualquer dor que eu já senti.” Ele olhou de volta
para a estrada, o perfil de seu rosto áspero tão forte. Tão persistente.
“Eu não acho que você é fraca, querida. Eu acho que você é amável... E
boa.” Ele se mexeu no assento.
Tanto anseio. Algo dentro dela se libertou. Com suas palavras no
dia anterior, ela quis machucá-lo. Não só isso, ela precisava saber que
podia machucá-lo — que ela importava muito para ele. O quanto ferrado
foi isso? “Eu não acho que posso tentar novamente.”
Ele torceu os lábios. “Eu sei. Mas lembre-se sempre que você é
forte, bebê. Muito forte.” Ele puxou para a interestadual em direção à
cidade. “Aço envolto em pétalas de flores.”
Sua aceitação machucou, mesmo com palavras tão doces. Pena já
ser muito tarde para eles. Além disso, o homem não fazia sentido.
“Então por que você se esforça tanto para ficar na minha frente?”
Ele girou em direção a ela, as mãos seguras no volante, a
velocidade constante. “Porque você é minha.” Seu cabelo escuro voou
quando ele balançou a cabeça. “Eu nunca tive muito, mas o que tenho,
eu protejo. Com tudo que sou.” Ele se concentrou de volta na estrada.
“Mesmo que não estejamos mais juntos.”
Puta merda. Ele estava concordando em deixá-la. A dor quase a
dobrou — mesmo que isso fosse o que ela queria. Ela balançou a
cabeça. Muito para lidar agora.
Shane saiu da estrada, indo em direção a seu edifício no centro.
Ele parou no estacionamento e desligou o motor. “Quais são as regras
hoje?”
Tão irritante. “Não fale comigo como se eu trabalhasse para você.
Eu não faço.”
Ele lambeu os lábios, limpando a parte inferior com o polegar e
indicador.
Calor rodou em seu abdômen. Ela lutou contra um gemido.
Ele a fixou com um olhar duro. “Isto não é um trabalho. Se você
não pode fazer isso direito, se não pode seguir minha liderança, vamos
voltar para a cabana.”
“Não me ameace.” Ela se virou para pegar a maçaneta da porta,
parando apenas quando ele enrolou uma mão em seu braço.
Ele a puxou pelo banco para pousar sobre suas pernas. “Do meu
jeito. Sem nenhuma outra escolha.” Ele apertou a mão, a voz áspera.
“Concorda ou nós vamos embora.” Ele segurou seu rosto com a mão
livre, segurando-a no lugar em seu colo, o sotaque sulista se libertando.
A intensidade de um soldado encheu a cabine. Ela encontrou seu
olhar, mordendo o lábio para não falar. Tão paciente quanto qualquer
predador, ele esperou. Ela o conhecia. Ele podia e esperaria o dia todo.
Debater seria um esforço inútil. “Tudo bem.”
Seu rosto enrugou como se ele fosse sorrir. “Quais são as regras
hoje?”
Ele a deixava louca. Ela revirou os olhos. “Vamos para o meu
escritório. Eu me encontro com os clientes em meu escritório. Eu não
saio do meu escritório a menos que você esteja comigo.”
“Onde eu vou estar?”
“Ou no meu escritório ou na sala de espera se eu me encontrar
com um cliente.”
“Bom.” Seu sotaque aprofundou. “O que acontece se você ignorar
alguma dessas regras?”
Chega dessa porcaria. “Bem, a última vez que segui meu próprio
caminho, eu acabei tropeçando em um cadáver com um idiota raivoso
quebrando placas de gesso para chegar até mim. Então, eu prefiro não
pensar nisso.”
Os longos dedos de Shane acariciaram o lado de seu rosto. “Ah,
Josie. Isso não é nada comparado ao que você vai enfrentar de mim se
você se colocar em perigo de novo.”
Ela estremeceu de desejo. De qualquer outro homem a ameaça
seria tola, mas de Shane. Bem. Sexual. Dane-se se sua calcinha não
umedeceu em resposta. “Vou manter isso em mente.”
Ele a puxou para fora pelo lado do motorista, mantendo-a dobrada
contra seu corpo enquanto atravessavam o estacionamento e até o
elevador. Uma vez no seu andar, ele a seguiu até o escritório, caindo
sobre uma cadeira de convidado. “Por que você não me dá os arquivos
da Fuller Labs?”
Ela não conseguiu evitar empalidecer enquanto deslizava em seu
assento. “Eu não posso te dar esses arquivos aqui no meu escritório.”
Ele estava querendo que ela fosse demitida ou o quê? Ela tinha
concordado em ajudá-lo a descobrir o que havia acontecido com seu
irmão, e depois ele precisava deixá-la para sempre dessa vez. “Quero
dizer, eu não deveria sequer tirá-los do escritório esta noite e deixá-lo
vê-los. O laboratório é um cliente e tem o direito a confidencialidade.”
“Eu não dou a mínima.”
Exasperação a teve agarrando um lápis com muita força. “Eu sei.
E se você estiver errado?” Ela firmou o queixo. “No tempo em que você
passou me traindo e espionando o laboratório, você encontrou alguma
coisa?”
Sua mandíbula estalou fechada. “Não, e eu não estava te traindo.”
“Certo.” Ela socou o computador. “Vou levar os arquivos comigo
esta noite, e você vai poder dar uma olhada. Mas isso é o máximo que
você vai conseguir.”
Vicki enfiou a cabeça no escritório. “Você tem uma agenda cheia
hoje, chefe.” Ela sorriu. “Você pode dizer a época do imposto
trimestral?” Seu olhar percorreu a impressionante forma de Shane antes
de ela olhar para Josie. “Os oficiais da Hanson Industries são os
primeiros, e trouxeram três caixas de recibos.” Ela torceu o nariz. “Eles
até estão querendo cancelar um passeio a um clube de strip.”
Josie suspirou. “Ah não. De novo não.”
Shane assentiu, estirando-se de pé. “Essa é minha deixa. Vou
estar no lobby. Tenha em mente nossa discussão.”
Qual? Mais uma vez, sua mente estava cheia com Shane Dean.

*****

A sopa de batata que Josie tinha comido no almoço pesava em


seu estômago. Ela esticou o pescoço, esperando por mais um cliente.
Fale sobre estressada. Além disso, o olhar de advertência de seu marido
não tinha aliviado nenhuma das mentes de seus clientes as várias vezes
que ele tinha ido ao seu escritório, enfiando o rosto carrancudo através
da porta. Ela ia matá-lo quando o dia acabasse.
Daniel espreitou através de sua porta, parando de repente para se
inclinar contra a moldura da mesma. “Dia difícil?”
Ela estava cansada demais para discutir. “Sim.”
Ele assentiu, os olhos escuros sérios. “Eu falei sério sobre ajudar
se você precisar. Acredite ou não, eu entendo o conceito de trabalho em
equipe.” Diversão curvou seu lábio superior.
Josie sorriu. “Bom saber. Embora eu ainda quero a promoção.”
Ele assentiu, o sorriso se alargando. “Idem. Mas, de qualquer
forma, estou aqui se precisar de ajuda.”
“Obrigada.” Talvez ele não fosse um cara tão ruim assim.
“Sempre.” Ele se virou, assobiando enquanto manobrava de volta
para seu escritório.
Josie voltou a abrir a pasta de arquivos da Hall’s Funeral Home.
Algo estava puro e simplesmente a incomodando sobre essas contas, e
ela não conseguia entender o quê. O cliente tinha comprado vários tipos
diferentes de caixões de diferentes vendedores, e as informações tinham
sido todas mal arquivadas.
Ela as catalogou cuidadosamente no lugar certo e depois subtraiu
os custos do orçamento operacional. Dias atrás, ela pretendera fazê-lo,
mas desde que pensara que já tinha encontrado o problema, ela se
concentrara em outro lugar. E, claro, entre encontrar corpos, ser
sequestrada e tentar resolver sua vida... Ela tinha andado ocupada.
O número brilhou em sua calculadora. Havia um excedente de
treze mil dólares.
Exatamente.
O valor exato que faltava à Larson Corporation. Filho da puta. Ela
verificou duas vezes a figura, sua mente girando. Sim. O azarado treze.
Billy estivera lavando dinheiro de várias empresas. Ela não tinha
pensado em comparar as diferentes contas umas com as outras.
Excitação acelerou sua respiração. Ela podia resolver isso.
Vicki escoltou uma jovem para dentro. “A Sra. Ager da Agers
Hardware está aqui.”
Josie respirou fundo, fechando o arquivo. Ela resolveria isso depois
da reunião.
Ela se levantou, um sorriso genuíno deslizando em seu rosto.
Esperançosamente Billy não teria roubado da Agers. Mas as chances
eram boas de que ele tivesse. Ela deveria dizer a sua cliente ou esperar
até que tivesse tudo resolvido? Ela definitivamente tinha o dever de
informar ao cliente. Meu, ela ia fazer com que a empresa fosse
processada. “Madge. É bom te ver.”
Madge sorriu de volta, limpando as mãos no jeans escuro e
sentando. “Obrigada por me receber. Eu não tenho certeza sobre os
impostos e se podemos ou não eliminar a viagem que fizemos para o
leste.” Ela tinha puxado o cabelo escuro para trás em um rabo de
cavalo, e seu rosto estava livre de maquiagem. Seu marido, Sam, tinha
herdado o negócio da família junto com seu irmão uns dois anos atrás.
“Você sabe que temos que fazer tudo certo desde que o irmão de Sam é
um promotor que é dono de metade do negócio.” Olhos castanhos
injetados olharam para as paredes. “Oh, eu gosto de sua pintura do
cavalo.”
“Obrigada. Arte ocidental sempre foi um de seus interesses.
“Então, você trouxe os recibos?”
“Sim.” Madge cavou em uma grande mochila, puxando uma pilha
de recibos esfarrapados. “Uh, eles não estão em ordem.”
“Tudo bem.” Em comparação com os papéis esfarrapados do clube
de strip mais cedo, estes estavam ótimos. Josie os bateu em uma pilha
arrumada. Ela precisava encontrar as palavras certas para dizer a Madge
sobre as discrepâncias nos arquivos.
“Então,” — Madge se inclinou para frente — “Eu, uh, tenho uma
pergunta estranha para você.”
Contanto que não fosse lidar com strippers ou dispensar clubes de
golfe, não seria a pergunta mais estranha do dia. “Manda ver.”
Madge limpou a garganta. “Hipoteticamente, se Sam e eu nos
separássemos, eu ficaria com metade do negócio?”
Josie se recostou, a mente girando. O tic-tac do antigo relógio em
sua mesa afiou. “Oh, Madge. Está tudo bem?”
“Sim.” Madge cruzou as pernas e se acomodou no assento. “Mas
uma garota deve sempre planejar.”
Não é que era verdade? Josie alisou o cabelo longe do rosto.
“Bem, a resposta é não. Washington é um estado de propriedade de
comunidade. Uma herança é uma propriedade separada — não-
comunidade — e uma vez que Sam herdou a metade do negócio,
tecnicamente não é sua.”
Madge fez uma careta. “Sim, isso explica.” Ela rolou o pescoço.
“Então, já descobriram quem invadiu seus escritórios?”
“Não, ainda não.” Josie continuava esperando o telefone tocar ou
a polícia aparecer. Alguém já tinha que ter descoberto Billy a esta altura.
Um corpo não começava a cheirar muito mal em algum ponto? Não que
ele já não estivesse cheirando.
Josie focada em Madge, tentando esquecer aquele dia terrível.
“Mas quero te assegurar que seus arquivos estavam comigo naquela
noite, assim como meu laptop, então ninguém obteve seus registros
financeiros.”
“Obrigada, Senhor.” Madge se recostou com um suspiro. “As
coisas são tão estressantes entre Sam e seu irmão, sabe? Quero dizer,
se alguma dessas coisas financeiras saísse, estaríamos ferrados.”
Josie franziu a testa. “Então você está ciente de que existem
questões financeiras com sua conta.”
Madge assentiu, alcançando a bolsa. “Bem, sim. É meio que por
isso que estou aqui.” Ela levantou um pequeno revólver prateado. Seu
nariz enrugou. “Eu realmente sinto muito sobre isso.” Ela dobrou o
cotovelo em seu estômago e manteve a arma escondida de qualquer
pessoa no corredor.
Medo apertou o estômago de Josie. Ela se inclinou para trás e
longe da arma. “Mas que diabos?”
Os olhos de Madge brilharam. “Bem, nós estávamos trabalhando
com Billy, e estava indo tudo bem, até que ele foi para a reabilitação.”
Seus lábios apertaram brancos. “Eu acho que ele encontrou a religião.
Ou uma consciência ou algo assim.” Ela bateu o pé e cacarejou uma
risada. “Idiota.”
Josie sacudiu a cabeça. “Eu não entendo.”
“Sim, bem... Antes de Sam e eu herdarmos a loja de ferragens,
nós, uh, tipo que estávamos ajudando esse cara chamado Max Penton
com seu negócio.” Os olhos de Madge cintilaram em um azul selvagem.
“Que era?” Josie poderia gritar e se esconder debaixo da mesa,
mas Madge atiraria em Vicki se ela viesse correndo? Ou Shane?
“Ele vende metanfetamina. Um monte disso.” Madge coçou em
uma crosta na mão segurando a arma. “Mas não para crianças. Nunca
para crianças. “
A mulher estava dopada? Josie forçou a cólera para longe. Ela
precisava se concentrar. Shane não ficaria preocupado com a
aparentemente-doce Madge; Ele não viria ver como ela estava. A
rechonchuda Madge parecia mais suave do que Josie. “Então, Billy
ajudava vocês a infringir a lei?”
A arma vacilou. “Sim. O cara faria qualquer coisa por
metanfetamina. Na verdade, ele nos mostrou como poderíamos tirar o
dinheiro de ajudar Max e fazer parecer que veio através do negócio.
Uma maneira de manter o dinheiro do irmão de Sam.” Ela rosnou. “Você
não faz ideia de como é trabalhar seu traseiro todos os dias. E tudo ir
para seu irmão. O favorito — o promotor. Idiota.”
Louca. A mulher era uma louca varrida de merda. “Então, Billy
ensinou vocês a lavar dinheiro.” Qual a profundidade do ressentimento
de Madge em relação a seu cunhado?
“Sim. Billy tinha o livro extra para que pudéssemos acompanhar e
dar os recibos bons para o irmão. Nós escondemos o dinheiro extra em
contas no exterior — e Billy usava as contas de seus outros clientes sem
o conhecimento deles.” Madge sibilou e saliva borbulhou nos cantos de
sua boca. “Mas, então, Billy foi para a reabilitação, e você está com os
livros.” Luz brilhou no cano de aço da arma quando ela gesticulou. “Eu
quero esse dinheiro. Eu mereço.”
Os ombros de Josie apertaram com a necessidade de se abaixar
para o chão. As agulhas de tricô em sua gaveta inferior não seriam
suficiente proteção contra uma arma. Teria que haver alguma maneira
de raciocinar com a lunática. “Você sabe que Billy está morto, certo?”
“Sim. Max atirou nele. Então George deveria pegar os arquivos de
você, mas ele não fez.” Ela inclinou a cabeça, ajustando a arma para
apontar para o peito de Josie. Círculos escuros de suor manchavam sua
blusa florida. “O que aconteceu com George, afinal?”
O peito de Josie martelou. “Eu ainda não estou certa sobre
George.” Ela examinou o corredor vazio. “Qual é o seu plano?”
Madge suspirou, pesar brilhando em seu rosto. Falso pesar. “Eu
sou uma boa pessoa, você sabe.”
“Em minha experiência, as pessoas que passam muito tempo
tentando convencer outras pessoas de que é uma boa pessoa está
realmente tentando convencer a si mesmas.” Onde estava Shane? “Você
sabe que não é uma boa pessoa.”
A cabeça de Madge se ergueu, os olhos de um azul largo e louco.
“Vamos ver sobre isso agora, não é? Dê-me os arquivos.”
Josie os empurrou para Madge junto com o livro-razão.
“Obrigada.” Ela enfiou todos eles na bolsa enorme. “Agora, aqui
está a coisa. Eu vou atirar em você.” Seu olhar endureceu. “Eu
realmente vou.”
Josie acreditou nela. “Isso não vai funcionar.”
“É claro que vai. Nós vamos levantar, ir para a sala de conferência
na parte de trás, e descer a escada leste. “ Madge sorriu enquanto se
levantava.
Josie engoliu em seco. “E depois?”
“Depois vamos encontrar Max e lhe dar o livro-razão. Ele vai
resolver o que fazer.” Madge fez um gesto para que ela se levantasse.
“Ele vai me matar. Você sabe disso, certo?” Josie rodeou a mesa,
seu olhar na arma. Madge tinha cerca de seis centímetros e mais ou
menos uns 20 quilos acima de Josie.
“Talvez não. Quer dizer, talvez possamos convencê-lo de que você
não vai contar nada.”
Se Madge a tirasse do prédio, ela estava morta. “Ok.” Josie se
dirigiu para a porta.
Madge agarrou a bolsa. “Eu tenho a arma bem atrás da minha
bolsa. E vou atirar em você, se precisar.”
“Eu sei.” Josie entrou no corredor, olhando para o lobby ao longe.
Deus, por favor deixe Shane estar em guarda.
Shane estava sentado, as pernas para fora diante dele, um bloco
de notas na mão. Ele olhou para cima.
Ela inclinou a cabeça para Madge e se virou para o lado oposto.
Vicki olhou para cima de sua tela de computador. “Como estão as
coisas?”
“Ótimas.” Josie continuou andando. Ela não queria que Vicki se
machucasse. “Madge e eu vamos para a sala de conferência para
espairecer.”
“Josie,” Shane disse, de repente bem atrás dela.
Ela deu um pulo, virando-se parcialmente. “Oi, Shane.” Ela fez um
gesto em direção a Madge. A respiração presa. “Esta é Madge, minha
cliente. Estamos indo para a sala de conferências.”
Shane sorriu, todo dentes. Ele estendeu a mão. “Prazer em
conhecê-la, Madge.”
Madge olhou para Josie e depois para Shane. Com um silvo, ela
abaixou a bolsa e apontou a arma para Shane. “Droga.” Ela endireitou o
ombro, o olhar examinando Shane. “Você parece com perigo.”
“Obrigada.” Shane mudou sua postura como um puma prestes a
atacar.
Madge endureceu os ombros. “Sim. Só há uma maneira de lidar
com um cara como você.”
Oh, Deus. Ela ia atirar! Sem pensar, Josie disparou um chute na
mão de Madge.
A arma disparou.
Shane se dobrou na cintura, as mãos indo para seu estômago.
Sangue escorreu.
“Shane!” Josie ofegou.
Os olhos dele se arregalaram.
Madge a agarrou e pressionou a arma em seu pescoço. “Você é a
próxima.” Ela puxou Josie em direção ao elevador, afastando-se de
Shane e uma Vicki de olhos arregalados. Contabilistas e secretários
olharam para fora de seus escritórios, vários com telefones celulares
presos a seus ouvidos. Chamando a polícia, esperançosamente.
“Solte-a e eu não vou te matar,” Shane sussurrou entre dentes.
Sua pele pálida, mas ele se ergueu, uma mão ainda cobrindo a ferida.
Ele tinha sido baleado. O quão mal? Josie tentou deter seus
movimentos. Madge cavou a arma com mais força, e Josie estremeceu.
Madge apertou o botão do elevador. “Se alguém se aproximar de
nós, eu vou matá-la. Você sabe que vou.” A porta se abriu e ela a
arrastou para dentro.
Josie mordeu o lábio. Shane estava perto da porta; a mandíbula
dura, um brilho assassino nos olhos. Sangue continuava a encharcar sua
camisa. O quão ruim era a ferida? Ela lutou para se focar, mas não pôde
dizer.
A porta se fechou.

Capítulo 23
“Você não tinha que atirar nele.” Josie tentou inclinar a cabeça
longe da arma fria perfurando sua jugular enquanto o elevador descia.
Raiva fazendo estrelas dançarem em frente a seus olhos.
Madge deu de ombros atrás dela. “Sim, eu tinha. Eu poderia dizer,
de apenas um olhar para aquele cara — ele é um caçador. Ele vai
continuar vindo. Belo chute, a propósito. Quem você pensa que é?
Rambo?” Ela cravou as unhas afiadas em seu braço, seus seis
centímetros extras de altura vindo a calhar.
Josie piscou rapidamente. Seu chute tinha sido inútil. Talvez Shane
estivesse certo. Talvez ela fosse uma bola de penugem. Medo filtrou
através da raiva. E se a bala tivesse atingido algo importante? E se
Shane estivesse realmente ferido? Sem dúvida ele não ia procurar ajuda
médica, enquanto uma mulher louca a mantinha refém. Ele viria atrás
dela.
Era isso o que família fazia.
As portas se abriram. Dois guardas de segurança, suas posições
abaixadas, apontaram armas para elas.
Madge a puxou para a porta. “Façam um movimento, rapazes, e
eu vou atirar no pescoço dela.”
Eles não se moveram, mas uma gota de suor deslizou pelo rosto
rechonchudo do homem mais próximo delas.
Josie se apressou para acompanhar as pernas mais longas de
Madge atravessando a porta de entrada e para fora, numa chuva forte,
seu pescoço ardendo da raspagem do barril. Ela não ia pensar sobre
isso. Se Madge tropeçasse...
Sirenes soaram à distância.
“Depressa.” Madge mordeu o lábio, parando atrás de uma van
branca desbotada. Ela abriu as portas de trás e puxou Josie para dentro,
então a seguiu e bateu as portas atrás delas. Empurrando-a contra a
parede oposta, Madge se sentou, a arma apontada para seu peito. “Vá.”
O marido dela se virou, os olhos injetados arregalados. “Jesus,
Madge. O que você fez?”
Josie se afundou em um tapete áspero. “Sequestro, tentativa de
assassinato, assalto para começar.” Ela olhou para o homem calvo de
vinte-e-cinco-anos que ela tinha tentado ajudar. Talvez ela pudesse
colocar algum sentido nele. “Isso é ruim, Sam. Muito ruim.”
Sam tirou a van do estacionamento e dentro do tráfego. “Madge?”
Ele olhou para o espelho retrovisor.
Madge deu de ombros. “Eu tinha que sair de lá e pensei que
poderia. Mas agora, todo mundo me viu com uma arma, e eu
simplesmente entrei em pânico.”
Josie olhou para a arma. O fedor de suor e desespero assaltando
seus sentidos. Será que eles iam matá-la? “A polícia está vindo.”
Sam puxou o volante e voou para um beco, dirigindo até que
guinchou em uma parada dentro de uma garagem estreita. Rapidamente
ele saltou da van e abriu a porta de trás.
Josie se preparou para atacar, então congelou na Glock que Sam
apontava para ela. Pelo menos parecia uma Glock, semelhante em
tamanho e forma com a arma que Shane tinha lhe ensinado a atirar
anos atrás.
“Saia.” Sam a agarrou pelos cabelos e a puxou para fora ao lado
de um Cadillac velho amassado. Dor lanceou em seu couro cabeludo.
“Pegue a corda, Madge.”
Josie lutou, tentando argumentar com ele. “Max vai matá-lo. Você
sabe disso, certo?”
Sam a esbofeteou com as costas da mão, fazendo sua cabeça
girar. Dor formigou através de sua bochecha. Deus. Ela não o conhecia
em absoluto. Ele realmente ia matá-la. Ele entregou a arma para Madge
e girou Josie. A corda áspera arranhou seus pulsos quando Sam a
enrolou e depois deu um nó bem apertado.
Josie estremeceu. E se ela não conseguisse fugir? “Todo mundo
sabe que foram vocês. Eles viram Madge com a arma; na verdade, ela
atirou em meu marido.”
Sam a girou de volta, inclinando o rosto para ela. Um rosto jovem
e bonito com um cavanhaque pitoresco que sempre a encantara. “Então,
nós vamos sair da cidade por um tempo. Max precisa de nós. De jeito
nenhum ele vai nos matar.” Ele agarrou a parte superior de seus braços,
os dedos longos certamente deixando contusões. “Você, por outro
lado...”
Movimentos rápidos a tiveram amarrada e Sam a empurrou para o
porta-malas do Cadillac. Segundos depois o motor acelerou, e eles
estavam na estrada novamente. Eles tinham trocado de veículo. Alguém
estava direcionando Madge e Sam.
O tapete áspero do porta-malas arranhava seu rosto. Um tapete
mofado e malcheiroso. Ela espirrou.
Ela tinha que se libertar antes que eles a levassem para Max. Não
havia um programa de televisão que ela tinha assistido ano passado
sobre sair de um porta-malas? Ela realmente não tinha prestando
atenção. O carro bateu em uma saliência, e náuseas rodaram em seu
estômago.
Ela rolou de costas, arrastando a bunda debaixo dela para chutar
os calcanhares. Escuridão. Nenhuma luz filtrava para dentro. Quanto ar
ela ainda tinha? Seus braços doíam, amarrados no centro de suas
costas. Virando de lado, ela dançou, puxando os joelhos até que suas
mãos pegaram o fundo de seus pés. Seus músculos do ombro esticaram
em protesto.
Ela precisava de ajuda. Ela precisava de Shane.
Ela flexionou os dedos dos pés, e suas mãos deslizaram para
frente de suas panturrilhas em direção a suas coxas. Obrigada, Senhor.
Ela suspirou de alívio, seus ombros relaxaram. Puxando contra as
cordas, ela franziu o cenho. Então ela levou as mãos amarradas à boca,
ignorando todos os germes que provavelmente estavam na corda velha.
Seus dentes afundaram, tentando afrouxar o nó.
Nada.
Ela não conseguia libertar as mãos com os dentes. O carro saltou
novamente e ela gritou, voando em direção ao metal para aterrissar com
um baque de volta no tapete áspero. Contusões começaram a formar
manchas escuras em músculos e tecidos.
De alguma forma, ela não achava que muitas mulheres fossem
levadas cativas com tanta frequência. Ela tinha nascido sob um mau
sinal, ou o quê?
Movendo os ombros em direção ao banco traseiro, ela se inclinou
na altura dos joelhos e chutou em direção onde a luz traseira
provavelmente era. Seus dedos dos pés bateram em metal duro. Dor
ricocheteou através de sua perna.
Sua cabeça estava cavada no tapete, agarrando seu cabelo. Ela
chutou novamente, apenas para machucar ainda mais os pés. Pense. Ela
precisava pensar. Medo retardava seus pensamentos com nebulosidade.
Se ela empurrasse o banco traseiro, assumindo que conseguisse, Madge
e Sam estariam lá com armas. Se ela esperasse até que eles abrisse o
porta-malas, mesmo problema.
O carro fez uma curva e ela rolou em direção ao banco traseiro. O
som de seu ofego encheu o pequeno espaço. Havia ar suficiente no
porta-malas? Por quanto tempo ela seria capaz de respirar? Talvez eles
simplesmente a deixassem lá para morrer. Um soluço subiu. Ela fungou.
Por que ela não tinha escutado Shane e ficado em casa?
Ela soluçou novamente. O quão mal Shane estava ferido? Por que
ela tinha lhe dito que eles não tinham nenhuma chance? A ideia de viver
sem ele machucava um inferno de muito pior do que a ideia de tentar
fazer isso dar certo. Mas eles poderiam? Deus. Ela estava tão ferrada.
O carro parou com um guinchar de freios. Josie rolou para frente e
depois para trás, o tapete áspero arranhando seus braços nus. Ela cavou
o ombro no chão, se deslocando até que seus pés se inclinaram para
trás.
Portas bateram.
A tampa do porta-malas se abriu, e ela atirou os pés na direção da
abertura, estremecendo quando luz cortou em seus olhos.
Sam bateu seus pés para longe, alcançando com uma mão esbelta
para agarrar seus pulsos amarrados e arrastá-la fora do porta-malas.
O metal enferrujado arranhou sua barriga.
Ele a levantou, deixando-a de pé.
O cheiro de leite estragado e comida podre encheu suas narinas.
Um beco. Escuro e molhado entre edifícios de tijolos desbotados. Josie
franziu a testa. Onde no mundo ela estava?
Madge abriu uma porta roxa toda riscada. A batida de música
flutuando para fora.
“Vamos.” Sam a puxou para dentro do corredor estreito.
De jeito nenhum. “The Pound?” Outro cliente que ela tinha
herdado de Billy. Ela tinha razão em suspeitar do irmão do traficante de
drogas. “Paul também está metido nisso?”
“Sim.” Sam abriu a porta do escritório de Paul e a empurrou para
dentro.
Paul estava do outro lado de sua grande mesa, o cabelo
encaracolado selvagem e os olhos arregalados. “O que ela está fazendo
aqui?”
Sam a empurrou para uma cadeira. “Ela descobriu sobre Billy.”
“Eu pensei que ele tivesse arrumado todas as contas.”
“Não. Não a tempo.”
“Bem, ele arrumou a minha antes de ir para a reabilitação.” Paul
se recostou em sua cadeira. “Você deveria ter se certificado de que ele
tinha alterado a sua, também.”
Sam deu de ombros. “Eu não tive a chance. E Max está puto.”
Paul ficou branco. “Onde está Billy?”
Josie se ajeitou na cadeira. “Billy está morto. Um tiro na cabeça.
Fazer negócios com um cara como Max fará com que todos vocês sejam
mortos.” Ela assumiu. Não era como se ela conhecesse Max, mas a
prova estava bastante clara. “Solte-me, Paul. Eu posso ajudá-lo a
conseguir proteção da polícia.”
Sam bufou. “Sim, certo.”
Raiva ferveu sob sua pele. “Ok. Então solte-me, ou meu marido
vai rasgar a pele de seu corpo com as próprias mãos.” Ela se inclinou
para frente, as palavras se derramando. “Você não o conhece. Você não
faz ideia do treinamento que ele teve. Se alguma coisa me acontecer,
ele vai te matar bem lentamente.” As palavras a fez tremer porque eram
a absoluta verdade.
Paul de alguma forma empalideceu ainda mais, sardas claras se
destacando contra a pele branca gritante.
Madge se deixou cair na cadeira ao lado. “Não, não vai. Eu atirei
nele.”
Josie sacudiu a cabeça freneticamente. “Uma bala não vai parar
Shane. Confie em mim.”
Um movimento soou atrás dela antes que a porta se fechasse. “Eu
não estou preocupado com um homem ferido, Sra. Dean.” Baixa e
acentuada, a voz profunda encheu a sala.
Josie girou, olhando para o homem alto. Cabelos negros varridos
longe de uma pele morena que se destacava estranhamente, olhos azuis
claros. Ele usava um terno de seda preta com uma gravata vermelha-
listrada. Josie respirou fundo. “Você deve ser o traficante de drogas.”
Ele sorriu uma linha perfeita de dentes brancos reluzentes. “Não.
O irmão de Paul é um simples traficante de drogas — para mim. Eu sou
um homem de negócios.”
“Você matou Billy?”
“Sim.” Max olhou para Sam, que engoliu audivelmente. “Billy
precisava aprender o quão tolo é cruzar meu caminho.” Ele espanou
fiapos invisíveis de sua lapela. “Claro, eu não imaginei que a equipe de
construção em seu edifício seria chamada para o lado norte de Snowville
no início dessa semana.” Seus lábios cheios se curvaram. “Eu suponho
que Billy está fedendo todo o lugar agora. Espero que eles o encontrem
logo.”
Uma bola de terror se desenrolou em seu intestino. Confissão
completa do criminoso raivoso. Obviamente, ele não estava planejando
soltá-la. Medo assentou um chiado entre seus ouvidos, e suas mãos
tremeram. Como ela poderia fugir? Ela se virou para um trêmulo Paul.
“Você realmente vai deixar que ele me mate?”
Paul sugou o ar, seu olhar se erguendo para Max. “Você não vai
matá-la, não é? Quero dizer, ela é uma boa moça.”
Max lhe deu um aceno de aprovação. “Inteligente, também.” Ele
se virou para Paul. “Ela sabe sobre seu negócio, sobre como temos não
só vendido metanfetamina aqui para os clientes, mas também filtrando o
produto através de várias outras empresas para acabar limpo. Lavagem
de dinheiro é um crime federal. Ela vai te ferrar pra toda a vida.”
Josie endireitou os ombros. “Isso não é nada comparado ao que
Shane vai fazer com você. Confie em mim.”
As mãos de Paul tremeram em cima da mesa.
Max suspirou. “Sam, Madge, levem o Cadillac para a cabana e
esperem por mim lá. Vamos precisar tirá-los da cidade por um tempo.”
Ele puxou um celular do bolso do paletó. “Eu vou trazer o dinheiro.”
Os olhos de Madge brilharam, e ela deu a Josie um olhar
arrogante antes de espernear para fora da porta. Sam a seguiu sem
olhar para trás.
Alguns segundos depois, a porta exterior se fechou.
Max apertou um botão e colocou o telefone no ouvido. “Oi. Haverá
dois problemas chegando na cabana em trinta minutos. Cuide deles.” Ele
clicou o telefone fechado.
Paul meio que se levantou da cadeira. “Você vai matá-los?” Sua
voz subiu uma oitava.
Max torceu os lábios. “Claro. Testemunhas viram eles atirar em um
homem e depois sequestrar esta linda senhora.” Ele correu a mão pelo
cabelo de Josie.
Medo quase a fez engasgar, e ela se afastou. “Toque-me
novamente, e você perde a mão.”
Ele se moveu, colocando ambas as mãos nos braços da cadeira
para prendê-la. Ele se inclinou, seu hálito de menta soprando em seus
lábios. “Você pode querer mudar de tom comigo, Sra. Dean.” Ele baixou
o olhar para seus seios. “Ou eu vou mudá-lo para você.” Ele se inclinou
para trás. “Quanto divertimento nós poderíamos ter juntos.”
Medo se reuniu em seu estômago. Pânico a teve mudando seu
foco. “Você grampeou minha casa?”
“Sim.” Max tirou um lenço do bolso, limpando as mãos. “Quando
Billy entrou em reabilitação, nós percebemos que ele não tinha
terminado de limpar todos os livros. Você assumiu para ele, então
grampeamos sua casa para nos certificar de que você não tinha
descoberto nada antes de corrigirmos os arquivos.”
A ideia de pessoas escutando sua vida a fez sentir náuseas. Ela
lutou para se concentrar e não vomitar. “Todos aqueles homens que
Shane cuidou ultimamente? Eles eram seus?”
Max bufou um suspiro irritado. “Sim. Eu não sei da história
completa lá, tampouco. Eu os enviei para esperá-la em sua casa para
podermos conversar um pouco. A próxima coisa que ouvi foi que eles
estavam no necrotério.”
“Eu já te disse que mexer com Shane é definitivamente uma
péssima ideia.” Então, todos os problemas foram por causa dela, e não o
passado de Shane. De qualquer forma, o quão mal seu marido tinha sido
baleado? Ele tinha que ficar bem.
“Vamos ver sobre isso.” Max tirou uma arma de um coldre no
ombro.
Paul se empurrou longe da mesa, a cadeira raspando pelo chão.
“Você não pode matá-la aqui.”
Oh, Deus. Ele realmente ia matá-la. Josie olhou para a arma. Se
ela desse uma joelhadas nas bolas de Max, ele soltaria a arma?
Max sorriu. “Eu não vou matá-la.”
O suspiro de alívio de Josie combinou com o de Paul.
Max deu mais um passo longe. “Você vai, Paul.”

Capítulo 24

Paul saltou de pé. “O quê? De jeito nenhum. Por que eu iria matá-
la?” Ele olhou para Josie e depois de volta para Max. “Eu não sou
nenhum assassino.”
Max levantou a arma. “Ocorreu-me mais cedo que eu estou
assumindo todos os riscos aqui. Se você decidir me entregar, você
certamente poderia chegar a um acordo, considerando que eu matei
Billy.” Um ombro perfeitamente vincado encolhei. “Então você a mata.”
Ele olhou para o jovem dono do bar. “Ou eu vou matá-lo. De qualquer
maneira, eu não vou mais me preocupar com isso.”
Paul engoliu em seco. “Não podemos apenas deixá-la ir e todos
nós saímos da cidade?”
Josie deslizou para a beirada da cadeira. A música pesada através
das paredes se tornando sinistra, a batida balançando seus sapatos.
“Deixe-me ir.” A mesa de Paul tinha um grampeador, um computador e
canetas. Nenhuma arma boa.
Max riu, um som baixo e perigoso que provocou arrepios em sua
pele. Ele enfiou a mão no bolso por um cilindro de prata que ele torceu
na ponta da arma. “Eu gosto de você, Sra. Dean.”
Um silenciador. Ela se fixou no pequeno buraco na extremidade,
incapaz de desviar o olhar. “Como exatamente você pretende tirar meu
corpo daqui?” Ela apontou a pergunta para Paul, sentindo alguma
satisfação quando ele ofegou.
Um profundo suspiro masculino sibilou por entre os lábios de Max.
“Pela porta dos fundos. É claro.” Movimentos rápidos o tiveram
agarrando Paul e puxando o jovem de detrás da mesa.
Max enfiou a arma em sua mão trêmula e apontou o cano para
Josie. “Isso pode fazer uma bagunça, mas tudo bem.”
Paul recuou até que a mesa o deteve, seus olhos se encheram de
lágrimas, sua mão tremendo tão violentamente que ele acidentalmente
poderia puxar o gatilho.
A respiração dela ficou presa na garganta, e a sala se estreitou
para um foco afiado.
Max se afastou de Paul. “Mate-a, Paul.”
“Sinto muito.” Paul fechou os olhos e puxou o gatilho.
Josie se abaixou antes de saltar para frente e esmagar a cabeça
na barriga de Paul. As costas dele atingiram a mesa. A bala sibilou
acertando uma pintura. O ar de Paul fugiu de seus pulmões. Ele se
dobrou, e Josie pegou a arma, as mãos suadas escorregando sobre o
metal frio.
Max se atirou para frente, agarrando seu ombro. Ela gritou. Então
girou, e bateu o cotovelo para cima em sua virilha. Ele fez um som
cruzado entre um porco guinchando e unhas raspando um quadro-
negro. Depois se dobrou na cintura, ainda agarrando a arma.
Oh, Deus. Isso não estava acontecendo. Ela dobrou a mão em
torno do painel de aperto da arma, rolou para o outro lado e se
levantou. O cheiro de madeira lascada e pólvora encheu a sala. Ela
apontou a arma para Max. Paul caiu de joelhos, lágrimas e ranho
escorrendo por seu rosto.
Max se endireitou, o rosto um púrpura malhado, a mão
pressionada contra seu baixo ventre. “Sua cadela. Tudo bem, eu vou te
matar.”
Josie assentou sua postura. Ela realmente tinha tomado a arma
dele. Ao contrário de Paul, sua mão se manteve estável. Sua mente
nublou, na sequência da descarga de adrenalina. A sala e tornando uma
névoa surreal, mas ela manteve o olhar na ameaça. “Eu tenho a arma,
idiota.”
Seu sorriso parecia o de um monstro do Halloween. “Você não vai
atirar em mim. Nós dois sabemos disso.” Ele deu dois passos rápidos
para frente.
Josie puxou o gatilho.
Um pequeno boom ecoou. Mais alto do que o primeiro tiro. Max
bateu contra a parede. Sangue borrifou de seu ombro, e ele levou a mão
para cobrir a ferida, escoando vermelho por entre os dedos. “Você atirou
em mim.” Os olhos dele brilhavam arregalados e incrédulos.
“É claro.” Ela lutou para manter a mão firme. “Você tem sorte que
sou uma péssima atiradora. Eu estava apontando para o meio de seu
peito.” Puta merda. Ela realmente tinha acabado de atirar nele. “Você
achou que eu ia te deixar me matar? Que eu não ia atirar em você?”
Realmente inacreditável. Ela tinha sido uma sobrevivente desde o
primeiro dia nesta vida. Aparentemente parecia realmente enganador.
A porta caiu aberta.
Shane correu para dentro com Matt em seus calcanhares, ambos
segurando armas largas e aparentemente perigosas. Ele parou na cena,
os olhos cinzentos inexpressivos. “Anjo.” Ele olhou de lá para cá entre os
dois homens machucados e ela. “Você está bem?”
“Tudo bem.” Embora agora que o perigo tivesse diminuído, seus
joelhos pareciam borracha. Uma batida começou na base de seu crânio.
Adrenalina louca. “Você está?” Ela olhou para o vermelho manchando
sua camisa.
Ele assentiu, o rosto pálido se contraindo. “Sim. A bala passou de
raspão em meus abdominais. Sangrento, mas não perigoso.”
Sirenes cortaram o final de tarde.
Matt enfiou a arma na parte de trás da calça. “Parece que você
cuidou de tudo aqui.” O sorriso alcançou seus olhos. “Você é mesmo
uma coisa, querida.”
Josie tentou sorrir em resposta, mas seus lábios se recusaram a
cooperar. Ela tinha atirado em um homem.
Shane se colocou entre Josie e Max, a arma apontada para o
coração do cara. “Obrigada pela ajuda. Vejo você mais tarde.”
Matt deu uma última olhada ao redor da sala. Com um aceno de
cabeça, ele correu para fora da porta.
Max sugou o ar. “Eu tenho dinheiro. Um monte disso.”
A postura de Shane não se alterou. “Eu não dou a mínima. Na
verdade, estou tendo um debate mental, sobre se devo ou não matá-lo.”
Paul soluçou mais alto de onde ele estava enrolado no chão.
Shane olhou para baixo, endireitando os ombros. “Saia do chão,
imbecil.”
Sem aviso, Max pegou uma arma de detrás da cintura e apontou
para Shane, puxando o gatilho. A explosão sacudiu ao redor da sala.
Shane caiu para trás. Josie o agarrou, segurando-o e o levando
para o chão. Ela arregalou os olhos na quantidade de sangue, e ofegou.
“Shane.”
Batida de botas correndo ecoou. Três policiais uniformizados
entraram na sala, armas em punho. “Larguem as armas,” o primeiro
gritou.
Max soltou a arma, levantando as mãos.
Shane pousou de joelhos, parcialmente dobrado, mas ainda
trocando seu peso para protegê-la do alvo dos policiais.
Josie agarrou seu braço. “O quão mal?” Sangue jorrava de seu
estômago.
“Ruim.” Shane empalideceu. “Cirurgia ruim.”
Medo pegou um soluço em sua garganta. Ela olhou para cima.
“Consiga uma ambulância.”
“Está a caminho,” o primeiro policial disse. “O que aconteceu?”
“Eu sou Josie Dean e esses caras me sequestraram.” Ela apontou
para Max. “Ele ia me matar, mas eu tomei sua arma.” Sua mão vacilou
quando ela estendeu a arma para o policial. “Eu atirei nele.”
O policial assentiu, pegando a arma. “Sim. Toda a força está
procurando por você.” Ele acenou para os outros dois policiais. “Algeme-
os.” Os outros dois se apressaram para Max e Paul e os algemaram.
“Primeiro levaremos os feridos para o hospital.”
Josie agarrou o braço de Shane como uma tábua de salvação.
Mais sirenes sibilaram.
Shane limpou a garganta. “Você pegou os dois amarrados em seu
carro?”
“Sim.” O oficial olhou para Max e depois voltar. “Eles mal podiam
esperar para começar a falar sobre Max, o famoso traficante de drogas
aqui.”
“Bom.” Shane deixou escapar um suspiro. “Havia outro homem no
beco, o que me ajudou a amarrá-los, mas ele não quis dizer quem ele
era.”
Josie manteve o rosto em branco. Então, ninguém deveria saber
sobre Matt. Ela jogaria junto. Mas seus ouvidos badalavam, e suas mãos
tremiam.
“Vamos obter descrições de ambos.” O bigode espesso do policial
se contorceu quando ele falou. “Você pode responder às perguntas no
hospital, Sra. Dean.”

*****

Josie descansou a cabeça contra a parede rosa claro. Quem fazia


paredes de hospital rosa, afinal? Ela mudou seu peso para o couro duro
do assento. Esperando. Ela odiava esperar. Shane estava em cirurgia há
uma hora. Talvez mais.
Matt aparecia de vez em quando para uma atualização, do
contrário, ficava no fundo. Apenas sua presença em algum lugar no
hospital lhe trazia algum alívio. Ela respirou fundo. Chega de fazer e
desfazer planos para seu futuro. Ela tinha visto o pior de Shane, e tinha
visto o melhor. Já era hora de tomar uma decisão e mantê-la — não
importava o quê. Uma experiência de quase-morte tendia a colocar as
coisas em perspectiva, não é?
Ela poderia seguir seu próprio caminho e construir uma boa vida
para si mesma. Talvez até encontrar um homem bom e ter um casal de
belos filhos.
Mas algo sempre estaria faltando. Ela sempre sonharia com Shane,
e com o que eles poderiam ter tido. A expectativa de vida para ele não
era grande, mas ele tinha algum tempo. E ela queria fazer parte desse
tempo — tomar o que eles pudessem. Talvez eles até vencessem e
encontrassem uma vida feliz. Mas ela nunca queria olhar para trás e se
perguntar — e ela não podia mais hesitar. A decisão que ela tomasse, ali
sentada naquele hospital assustador, seria uma que ela se prenderia
completamente.
Pela primeira vez, ela tinha pessoas que eram dela. A sensação de
posse superava o sentimento de pertencer que ela sempre tinha
desejado. Não admirava que as pessoas morressem ou matassem por
sua família. Não havia no mundo outro sentimento igual a estar ligado e
não sozinho. Certo ou errado, ela se sentia segura.
Ela escolhia Shane. O risco valia a pena. Paz se instalou em seu
corpo.
O médico, ainda em roupas cirúrgicas, veio em seu volume
impressionante pelo corredor em direção a ela. Sobrancelhas espessas
subindo acima dos óculos grossos . “Sra. Dean?”
“Sim.” Ela se endireitou na cadeira, fazendo uma careta quando as
contusões de sua jornada no porta-malas chamejaram para a vida.
“Seu marido passou muito bem pela cirurgia.”
Sua respiração exalou em uma lufada de alívio. Ela não tinha
percebido que a estava segurando. Seus pulmões choravam por mais
oxigênio, e ela respirou fundo. “Ele está bem?”
“Sim, bastante.” O médico apertou os lábios carnudos. “Ele está
em excelente forma. A bala causou um dano mínimo, embora eu
gostaria de ficar de olho nele esta noite para garantir que não haja
nenhuma hemorragia interna.” Ele acenou para um médico que passava
usando um longo jaleco branco. “Seu marido deve acordar da cirurgia
em aproximadamente trinta minutos, e então você poderá vê-lo.”
Lágrimas picaram a parte de trás de seus olhos. Shane estava
bem. “Obrigada, doutor.”
Com um aceno de cabeça ausente, o médico se virou e seguiu seu
colega.
O detetive Malloy se aproximou do canto.
Josie suspirou. “Há algum caso na cidade no qual você não é
atribuído?”
Malloy sorriu, girando um palito na boca. “Muitos deles. Mas você
e seu marido, Sra. Dean, bem... Você é minha. Sempre que seu nome
surge, eu recebo a chamada.”
“Sorte sua,” Josie respirou, empurrando o cabelo emaranhado da
testa. “Suponho que você acabou de ouvir?”
“Sim.” Malloy caiu no assento ao lado dela. As almofadas
protestando com um chiado de ar. “O major está em excelente forma e
vai ficar bem. Bom saber.” Ele pegou o caderno surrado. “Então. Passe-
me o que aconteceu.”
Josie contou a história, deixando de fora as partes sobre encontrar
o corpo de Billy, como também o nome de Matt. Ela explicou em
detalhes quem era Billy e o que ele esteve fazendo para seus clientes.
Ela suspirou. “Max, o traficante, disse que matou Billy no nono andar do
meu prédio. Você deveria dar uma olhada.”
Malloy arqueou uma sobrancelha, agarrando seu celular e dando
ordens. “Enviei dois policiais para investigar.” Ele se recostou. “Então.
Fale-me sobre este homem misterioso que ajudou seu marido.”
Josie esfregou os olhos. “Eu não posso. Shane disse que o
conheceu no beco, e o cara ajudou. Talvez ele fosse um ex-militar ou
algo assim. Esses caras ficam juntos, você sabe.”
Malloy assentiu, um sorriso lento se espalhando por seu rosto
ressequido. “Só por curiosidade, o quão estúpido você acha que eu
sou?”
“Eu não acho que você seja nada estúpido.” E ela não achava. Ela
sabia que o detetive não compraria a história manca de Shane sobre
Matt. Mas ela igualmente sabia que Malloy não podia provar que era
mentira, também. Se ela e Shane seguissem à história, mesmo que
todos soubessem que era mentira, não havia nada que Malloy pudesse
fazer a respeito. “O que os Agers disseram?”
“Isso é irrelevante.” Pela primeira vez, Malloy permitiu que
irritação brilhasse em suas feições grossas. “Descreva o homem.”
Ela deu de ombros. “Eu não dei uma boa olhada nele. Eu atirei em
Max, Shane apareceu, Max atirou em Shane... Tudo é um borrão.”
“Tente.”
“Bem, eu acho que ele tinha um tamanho médio? Talvez cabelo
castanho claro e, eu não sei, talvez olhos castanhos?” Ela se inclinou
para frente, seu olhar percorrendo o comprimento do corredor limpo e
brilhante. “Eu só o vi pelo canto do olho. Meu foco estava em todas
aquelas armas.”
“Esse homem misterioso tinha uma arma?”
“Eu acho que não, mas eu não tenho certeza.” Ela rebocou sua
melhor expressão inocente no rosto antes de se virar para ele. Ela tinha
aprendido isso bem cedo na infância. “Eu realmente gostaria de poder
ajudá-lo. Mas todo o sequestro foi bastante difícil, e meu cérebro estava
totalmente confuso.”
Olhos castanhos injetados se estreitaram. “Você precisa de
atenção médica, Sra. Dean?”
“Não.” Ela suspirou, inclinando a cabeça para trás novamente.
“Estou apenas dolorida e cansada, Detetive.” A ideia de que Shane não
conseguisse passar pela cirurgia tinha deixado seu coração doendo.
Entretanto, ainda assim, ela tinha fé de que ele iria sobreviver. Shane
era um verdadeiro guerreiro, aprimorado. Uma simples bala não poderia
derrubá-lo. Claro, aquele maldito chip em sua coluna tinha um relógio
com contagem regressiva.
Ela balançou a cabeça em sua própria ingenuidade. É claro que ele
poderia morrer. Mas, se alguém era maior que a vida, esse era Shane.
“Já terminamos?”
“Nem mesmo perto.” O detetive bateu seu caderno fechado.
“Estou assumindo que não há mais em sua história?”
“Não.” Oops. Ela também tinha deixado de fora o fato de que Max
acreditava que Shane tivesse matado os bandidos que a estavam
esperando em casa. “Você terá que perguntar a Shane depois que ele
descansar da cirurgia, se é que ele tenha mais alguma coisa a
acrescentar.”
“Eu vou me certificar de fazê-lo.” Malloy se levantou, esticando o
pescoço.
Uma enfermeira em um jaleco roxo brilhante se aproximou pelo
canto. “Sra. Dean? Você pode ver seu marido agora.”
Malloy caiu para trás na cadeira. “Vou esperar para que possamos
terminar nossa conversa.”
Josie se levantou. “Eu pensei que tivéssemos terminado.”
“Nem mesmo perto.” O detetive sorriu.

Capítulo 25

Shane deixou o silêncio pairar sobre sua pele, filtrar através de


seus poros para seu cérebro confuso. Drogas. Ele odiava ficar
entorpecido. Dor batia sem sentir nada qualquer dia da semana. Um
tique-taque de relógio pontuava o silêncio. Em seguida, passos, solas
macias, fora do quarto. No azulejo duro. O bipar de uma máquina
filtrando e finalmente respirando. Suave, sexy, ele conhecia aquela
respiração. Ele abriu os olhos.
Josie.
Calor explodiu em seu peito. Determinação endireitou sua espinha.
Anjo. Seu, e somente seu. “Ei, querida.” Sua voz saiu rouca.
Ela se aproximou da cama, deslizando sua pequena mão sob o
dele. “Oi.” Círculos escuros marcavam a pele macia sob seus olhos
deslumbrantes. Um hematoma ainda se espalhava por seu rosto. Seu
cabelo brilhava por todo o lugar. Até mesmo seus lábios estavam
pálidos.
Porra, ela era linda.
Ele forçou a voz a trabalhar. “Você impressionou o inferno fora de
mim hoje.”
Um sorriso ergueu os cantos de seus olhos. “Eu apenas usei os
movimentos que você me ensinou.” Uma risada escapou. “Você deveria
ter visto Max quase bater no chão, embora.”
Perigo. Shane não tinha conseguido protegê-la. Dessa vez, ela se
protegera. Orgulho o encheu, seguido de determinação. De jeito
nenhum ela estaria novamente em perigo sozinha. Ele não permitiria.
Seu mundo era Josie. Ponto. Nada mais de se perguntar, e nada mais de
mudar sua mente. Seu caminho estava claro. “Estou orgulhoso de você.”
Um belo rubor encheu seu rosto. “Obrigada. Fiquei feliz que você
chegou quando você fez.” Ela franziu o cenho. “Desculpe eu ter feito
você ser baleado duas vezes... Hoje.” Um dente branco afundou em seu
lábio inferior.
“Não foi sua culpa.” Ele olhou para o final da cama. “Passe-me o
gráfico, sim?”
Ela assentiu, e lhe entregou. Ele abriu a tampa, examinando
rapidamente as anotações do médico. “Eu estou bem.” Ele agarrou os
cobertores para afastá-los.
As mãos de Josie na dele parou seus movimentos. “Oh não, você
não vai. Você vai passar a noite aqui. Ponto.” Ela endireitou o queixo.
Ele arqueou uma sobrancelha. “Quem disse?”
“Eu e o médico.”
Shane balançou a cabeça e náuseas brotaram dentro de sua
barriga. O que eles tinham lhe dado, afinal? “Se eu vou ficar, você
também vai.” Ele a puxou para a cama, se arrastando para o outro lado.
Aqueles lindos olhos azuis se arregalaram com tentação e
necessidade. Vulnerabilidade brilhou e praticamente quebrou seu
coração em dois.
Ele suspirou. O garoto dentro dele que uma vez gritara em solidão
e confusão, se perguntando por que ele tinha que lutar e morrer, agora
uivava com esperança. Por causa de Josie Dean. Durante os dois meses
de seu casamento, ele tinha sido inteiro pela primeira vez em sua vida.
Ele amava seus irmãos completa e absolutamente. Sem dúvidas,
ele morreria por eles. Ele tinha matado por eles, e o faria novamente.
Mas ele estava tendo a chance do para sempre com Josie, mesmo que
ele tivesse que viver longe deles. Eles o amavam, e eles entenderiam.
Ele apertou os braços em esperança. “Este é o seu lugar, querida.
Pegue.”
Com uma risadinha, ela assentiu e escorregou para a cama. Ela se
aconchegou em seu lado bom, a respiração em seu ombro. “Eu poderia
dormir.”
Ele se acomodou. “Você falou com a polícia?”
Seu bocejo sacudiu todo o corpo dele. “Sim. Malloy mal podia
esperar para falar comigo.”
“Malloy? O que somos — seus projetos favoritos?” O policial
parecia ser um bom sujeito. Shane não queria ter que machucá-lo.
“Acho que sim.” A voz de Josie se arrastava com fadiga. “Ele
realmente quer saber sobre o homem misterioso com você no bar. Eu
joguei mudo.”
“Enquanto mantivermos a mesma história, estamos bem.” De jeito
nenhum ele deixaria Matt ser pego na merda desastrosa que ele tinha
feito de sua própria vida. Eles finalmente tinham posicionado Matt em
Seattle, um lugar seguro para seu irmão mais velho. Por enquanto. O
comandante queria muito Matt, e todos eles sabiam disso. Uma memória
se deslocou por trás da névoa de drogas em seu cérebro. Jory. Algo lá.
Ele ficou tenso.
“O que há de errado?” Josie murmurou.
“Nada.” Ele não conseguia capturar o pensamento. Mas estava lá.
Talvez quando as drogas se dissipassem, os últimos dois anos
finalmente se tornariam claros. Ele precisa colocar Josie em segurança
antes de ir atrás das pessoas que tinham matado seu irmão. Mas ele os
caçaria, sem dúvidas.
Ele mudou seus pensamentos para permitir que seu subconsciente
assumisse. “Lembra do chapéu que você tricotou para mim para o
Natal?” Seu primeiro presente de Natal caseiro, assim como as famílias
faziam na televisão. Preto e cinza, ela tinha entrelaçado os fios em algo
garantido para mantê-lo aquecido quando eles passassem férias nas
pistas de esqui.
Ela riu. “Sim. Eu tive que me esgueirar e tricotar à noite quando
você dormia.”
Ele a sentira sair da cama todas as noite e sabia o porquê. “Eu
ainda o tenho.”
Seus ombros se acalmaram. “É mesmo?”
“Sim. Meu chapéu, sua foto, eles estão em um cofre na Califórnia.
Os itens mais importantes que tenho.” Ele queria aquele chapéu. Agora.
Queria sentir o amor e o cuidado que ela tinha nisso ao fazê-lo para ele.
“Isso é doce.” Sua voz engrossou. “O colar que você me deu do
anjo de prata — eu preciso pegá-lo em minha casa.”
“Nós vamos.” Ele não deveria perguntar. Ele realmente não
deveria. “Onde está seu anel de casamento?” O dele estava em
segurança com o chapéu.
“Mesma caixa de jóias.”
Bem, pelo menos ela manteve o anel. Ele teria tempo depois para
convencê-la a colocar o belíssimo solitário de volta em seu dedo. “Você
manteve o tricô?”
“Sim.” Ela sorriu contra sua pele. “Eu abri uma loja no eBay 16 e
vendo algumas coisas às vezes.”
Orgulho. Ela era uma coisa. “Lembro-me que era seu sonho.
Largar os números e vender suas criações.”
“É apenas um sonho. Números pagam as contas.”
“Eu tenho dinheiro, Josie.” Muito mais do que ele jamais esperava.
Nate era um gênio financeiro ao investir os lucros da Sins Security —
provavelmente porque ele não se importava e ficava feliz em assumir
riscos. “Você pode fazer o que quiser na vida. Viva seu Sonho.” Com ele.
Deus, por favor deixe-a ficar com ele.
“E você, Shane? Qual é o seu sonho de viver?”
Ele suspirou. “Você é meu sonho, anjo. Só você.” O aroma de
frutos silvestres dela encheu suas narinas enquanto ela enchia seu
coração. Sua alma. Se ele tivesse uma, era dela. Criado em tubos de
16
Comprar e vender (bens) através do site eBay.
ensaio, ensinado a matar, ele muitas vezes duvidava da possibilidade.
Mas com Josie abraçada em seu lado, ele sentiu que tinha uma alma.
Mesmo que manchada, sua alma existia.
A respiração dela nivelou quando deslizou no sono.
Ele fechou os olhos e ouviu sua respiração estável. Nos recessos
sombrios de seu cérebro, ele catalogou os ruídos fora do quarto, no
corredor, e fora do edifício. Mas por este momento no tempo, paz
estabilizou sua frequência cardíaca.
Passos familiares ecoou perto da entrada em seu quarto. Ele abriu
os olhos, sorrindo para seu irmão. Matt estava vestido com um jaleco
cirúrgico desbotado e de alguma forma tinha encontrado um bigode e
óculos grossos de cobre. “Doutor.”
Os olhos de Matt suavizaram quando ele olhou para Josie antes e
pegar o gráfico de Shane para uma rápida leitura. “A bala não afetou
nada importante. Você está bem.”
“Eu sei disso.”
O gráfico tiniu contra a extremidade da cama. “Ela é uma coisa,
Shane. Derrubar aqueles dois homens.” Matt esfregou o queixo.
Sim, ela era. Ele entendia o risco que estava tomando, e deixar
seus irmãos o cortaria em dois. Mas o risco era dele, e ele tinha que
mantê-los seguros. Mas ele tinha que escolher Josie — ela precisava
dele mais do que eles. Qualquer vida que ele tivesse não valeria a pena
sem ela. “Eu quero ficar com ela, Mattie.”
“Eu tinha medo disso, irmãozinho.” Matt se aproximou pelo lado
da cama, deixando-se cair em uma cadeira de convidado. “Todo esse
felizes para sempre com uma família... É impossível. Ela sabe, quero
dizer, ah...”
“Podemos ter filhos, Matt.” Se ele não pudesse, e Josie quisesse
filhos, eles podiam adotar. Talvez. Algum dia, quando ele tivesse
cuidado do perigo.
Matt franziu o cenho. “Eles tentaram, Shane. Os cientistas
tentaram criar pequenos bebês-de-proveta com nosso material genético.
Você sabe disso. Eles nunca conseguiram.”
“Talvez tubos de ensaio não funcionem para nossos filhos.”
“Talvez.” Matt se inclinou para trás, esticando o pescoço. “É mais
provável que eles tenham fodido nosso DNA de modo que não podemos
reproduzir.” Raiva filtrou através de suas palavras tranquilas. “Algo sobre
o que pensar.”
Ele faria. “Além disso, não estamos exatamente seguros agora,
Matt. Não estaremos até que o comandante e seus principais cientistas
estejam no chão.” Isso era se descobrissem uma maneira de desativar
os chips de matar. Se fosse uma pessoa melhor, ele pensaria em
mandar essas pessoas para a prisão. Mas ele não era. A única maneira
de sua família ficar segura era se as pessoas que os tinham criado
morressem. Ponto.
“Verdade.” Matt olhou para Josie. “Passei o dia invadindo o banco
de dados da polícia local. Aparentemente, os grampos na casa de Josie
foram plantados pelos homens de Max.”
“Sim, eu sei.” Shane respirou fundo. “Eu encontrei os grampos,
imaginei que o comandante tivesse encontrado Josie e grampeei sua
casa eu mesmo. Então, quando descobri que não tinha nada a ver
comigo, eu fui atrás dos idiotas armando para ela.” É claro, ele não tinha
planejado ser atingido na cabeça com um bastão.
“Então você conduziu pesquisas na Internet que poderiam ter nos
derrubado. Graças a Deus que não. Tivemos sorte dessa vez. A partir de
agora, vamos checar com Nathan uma vez por semana para que nada
disso aconteça novamente.” Passos soaram e Matt endureceu, seus
ombros relaxando quando uma enfermeira passando perto da porta.
“Apesar de estarmos seguros, precisamos sair da cidade.”
“Sim. Preciso que Josie vá para o rancho — apenas pelos próximos
três meses. Se descobrirmos o código para o chip de matar, vou levá-la
para outro lugar para manter todos a salvo.” O rancho era cem acres
nas montanhas de Montana, onde Nate tinha criado um espaço
protegido para todos eles viverem, se necessário.
“Precisamos ficar juntos, Shane.”
“Não se isso coloca todos nós em mais perigo.” Shane balançou a
cabeça.
“Nós não vamos nos separar.”
“Deixá-la mais uma vez é impossível, e eu não vou deixar minhas
escolhas colocá-los no chão.” Shane estremeceu quando seu abdômen
protestou. “Sinto muito, Matt.”
“Não sinta.” Seu irmão mais velho se inclinou para trás, o olhar
sério. “Tudo o que eu sempre quis foi uma vida boa para você. Se você
acha que é possível, eu vou fazer o que tenho que fazer para ajudar.”
Gratidão e amor sufocou Shane. “Eu não posso deixá-lo correr
esse risco.”
“Essa é uma luta que você não vai ganhar — uma luta por outro
dia.” Matt juntou os dedos sob o queixo. “Então, sua memória está
voltando?”
“Sim.” Shane procurou no fundo de sua cabeça onde algo ecoou.
“Eu estou quase lá. Posso sentir.” Talvez ele não quisesse saber o que
tinha acontecido com seu irmão. “Diga-me o que você sabe.”
A mandíbula de Matt apertou. “Nós colocamos Jory dentro de uma
empresa chamada Millennia Investments.”
“Eu lembro. A empresa tem seus dedos em tudo, desde contratos
militares até laboratórios de genética e fabricação de medicamentos.”
Shane tinha se passado por um pesquisador para entrar rapidamente.
“Jory era além de um gênio com computadores, não era?”
“Sim.” Matt suspirou, soltando as mãos para o colo e esticando as
pernas. “O QI de Jory o manteve vivo quando criança.”
Memórias de um garoto magricela com pés enormes filtraram pela
mente de Shane. “Eu me lembro. Você o manteve vivo quando criança.
Foi você.”
“Não.” Matt sacudiu a cabeça. “O QI de Jory era incrivelmente
alto. Muito alto para medir, na verdade. Isso o manteve vivo até que ele
cresceu naqueles pés.” Ele riu. “Então ele se tornou absolutamente letal,
lembra?”
“Sim.” Shane assentiu. Jory lutava com uma lógica fria e dura.
Sem emoção, sem raiva. Seus membros bem treinados faziam o que seu
poderoso cérebro ditava. Ele normalmente vencia. “E se ele não tivesse?
Quero dizer, você já se perguntou o que realmente aconteceu com
aquelas crianças que deixaram o acampamento?”
Matt parou. “Você nunca me perguntou isso antes.”
Talvez Shane não quisesse saber. “Você sabe?”
“Não. Eu presumo que eles foram para um acampamento
diferente.” Dor crua atravessou os olhos de Matt para ser rapidamente
velada. Ele estava mentindo. Não havia dúvida de que ele estava
escondendo algo. “De qualquer maneira, neste momento precisamos
descobrir o que aconteceu com Jory.”
Shane podia deixar passar. Por agora. “Então, Jory foi disfarçado
para filtrar se o comandante e seus cientistas tinham dedos na
Millennia.”
“Não. Nós já sabíamos que tinham. Jory entrou para encontrar o
comandante e os nomes dos outros investidores. As pessoas brincando
de Deus.” Matt estalou a mandíbula fechada.
Shane expirou. “Certo. O que ele encontrou?”
Matt baixou o tom, seu olhar em Josie. “Não sei. Seis meses
depois, recebemos uma mensagem urgente de que ele tinha sido
descoberto e estava saindo.”
Algo doeu no intestino de Shane. Mau. E não eram os buracos de
bala. “E então, Mattie?”
Matt baixou o olhar. Linhas cavadas em seu rosto. “Nate invadiu o
sistema de computador, e encontramos um arquivo de vídeo mostrando
que Jory estava sendo torturado.”
“O comandante?”
“Não sei. Só vimos Jory.”
Shane não se lembrava da fita. “Eu vi o vídeo?”
“Não. Nate e eu o vimos antes que um vírus fosse carregado e
praticamente explodir seu sistema. Uma bagunça.” Ele chupou o ar, dor
enchendo o oxigênio em torno deles. “Eu vi Jory morrer. Ou melhor, um
vídeo de sua morte.”
“Você tem certeza?” Shane sussurrou. Vídeos podiam ser
adulterados.
“Sim. Uma mulher atirou à queima-roupa em seu peito.”
“Uma mulher?” Dor encheu o corpo de Shane, junto com o ar
enquanto ele respirava. “Apenas um tiro?”
“Não. Vários.” Matt esfregou o rosto. “Eu o vi cair. Vi seus olhos
em branco.” Ele tossiu, fechando os olhos. “Eu o perdi.”
“Não é sua culpa.” Shane se moveu, escondendo uma careta de
dor. “Aí eu fui disfarçado para descobrir quem o matou — e o que ele
tinha encontrado antes de morrer. Eu chequei?”
“Sim. Não com informações, mas deixando Nate saber que estava
vivo a cada dois meses. Até um mês atrás. Então você decolou — sem
uma palavra. Nós nem sequer sabíamos que você tinha quebrado o
disfarce até que você acionou os alertas na Internet à procura de nós.”
Shane suspirou, sua cabeça doendo. Algo lá... Uma memória.
Realidade flamejou, dura e brilhante. “Eu estava indo para Seattle, para
encontrá-lo, Matt.” Ele se lembrou de passar por sua antiga base para
pegar suas correspondências e encontrou os papéis do divórcio. “Eu
parei aqui no caminho para lidar com o divórcio.” Ele tinha esperado
Josie em sua casa, o zumbido dos grampos plantados lá imediatamente
o alertaram que ela estava em perigo. “Achando que o comandante a
tivesse encontrado, eu coloquei meus próprios grampos para encontrá-
lo, e no dia seguinte eu tive um confronto com os homens de Max.” Que
resultou com ele tendo amnésia. “Mas eu estava vindo para você. Algo
aconteceu, eu sabia alguma coisa.” Ele agarrou a cabeça. O que diabos
era?
“Precisamos descobrir o que você encontrou.” Matt baixou a voz.
“Feche os olhos e relaxe.”
Shane fechou os olhos, forçando seu coração a abrandar. Sua
respiração a nivelar. Tal controle físico que os cientistas lhe dera. Uma
explosão rasgou atrás de suas pálpebras. “Jesus.”
“O que foi?”
“Eu me lembro de explodir a instalação cinco anos atrás.” Ele abriu
os olhos. “Nós escapamos. O quartel, a base... Nós explodimos e
corremos.” O lugar horrível onde eles foram criados, o lugar horrível
onde eles foram treinados para matar. Destruído. Foi fácil explodir o
lugar para o inferno. Mas eles tinham permanecido seguros todo esse
tempo por causa de Jory. Ele tinha descoberto como corromper o
sistema de computador — com a maioria de seus registros — o que os
tornava mais difíceis de rastrear e ainda mais difíceis de encontrar. Jory
era de longe o mais inteligente deles.
“Talvez você devesse dormir. Ver se alguma coisa volta em seus
sonhos.” A voz de Matt baixou para um ruído rouco.
Soou como uma boa ideia. “Qual é o seu plano?” Shane
perguntou.
“Vou esperar até que você consiga suas memórias de volta, e
descobrirmos o que você descobriu.”
Dúvida fez Shane limpar a garganta. “Você pode ficar longe de seu
trabalho por mais tempo?” Outra lembrança... De Matt procurando uma
testemunha. “Você está caçando alguém?”
“Sim.” Matt se levantou. De perfil, seu rosto parecia ainda mais
duro do que o normal. Duas passadas o teve na porta. “Durma um
pouco, Shane. Estarei de volta amanhã.”
Seu irmão. Aquele que o havia conduzido tão duramente para
treinar, tão duramente para lutar. Assim ele sobreviveria à sua infância.
Mas eles não eram mais crianças. Era hora de alguém proteger
Matt. Shane passou a mão pelo cabelo sedoso de Josie. Ele tinha sido
treinado pelo melhor, e sabia como sobreviver. Sobrevivência significava
que Josie e seus irmãos viveriam. Então, ele tinha que se certificar de
que eles venceriam. Não importava o custo.
Capítulo 26

Josie se esticou acordada na cama do hospital, o rosto escondido


no ombro de Shane. A respiração constante dele levantou seu peito, e
ela se contorceu fora da cama para ficar ao lado de sua forma tranquila.
Ela enfiou os pés em seus tênis, correndo o olhar sobre ele. Mesmo
durante o sono, uma intensidade vivia em seu rosto.
Nenhuma suavidade, mesmo agora.
Esta era a primeira vez que ela tinha oportunidade de vê-lo
dormir. Ele sempre estivera alerta, pronto para entrar em ação antes
mesmo de ela deixar a cama. O médico certamente receitara algo
incrivelmente forte na sua IV.
O início da manhã filtrava através das cortinas, dispersando os
ácaros de poeira pelo ar. O cheiro de alvejante e roupa recém-lavadas
encheu suas narinas. O murmúrio baixo de vozes atravessando o
corredor lá fora.
Seu coração doeu. Amor não deveria machucar, e ela supunha que
não. A dor vinha da incerteza de onde ela estava com o soldado
dormindo, e o chip de matar. Isso realmente o abateria?
O cheiro de café no corredor fez seu estômago roncar.
Ela pegou seu celular sobre o balcão e o enfiou no bolso de trás.
Correndo as mãos pelo cabelo emaranhado, ela saiu na ponta dos pés
para o corredor e se dirigiu para a máquina de venda automática no
final.
“Sra. Dean.” O detective Malloy ergueu os olhos de seu poleiro em
uma cadeira desgastada, onde ele estava rabiscando em seu caderno.
“Dormiu bem?”
Josie vacilou. “Sim, obrigada.” O que diabos ele estava fazendo
ali?
“Bom.” Malloy se levantou, deslizando o caderno no bolso da
jaqueta amarotada. “Precisamos ir até a delegacia e terminar com a
papelada.”
Uma enfermeira enfiou algumas moedas na máquina de venda
automática, e uma barra de chocolate caiu da abertura. Ela a pegou e
foi até um grande balcão. Josie a observou ir, depois se virou para
Malloy. “Por quê? Já dei minha declaração.”
“Eu sei.” Malloy fez um gesto em direção ao elevador. “Mas você
não apenas atirou em um homem, há buracos suficientes em sua
história que estão fazendo meus superiores quererem me enviar de volta
para a escola de detetives. Eu só preciso de mais uma entrevista para
deixar todo este assunto para trás.”
“Mas meu marido...” Josie tropeçou em direção ao elevador.
“Vai ficar bem.” Malloy apertou o botão para baixo, seu rosto
suavizando. “Eu já verifiquei com os médicos. Devemos tê-la de volta no
momento em que ele acordar mais tarde.”
A porta se abriu, e Josie suspirou antes de entrar. “Minha história
não vai mudar.”
Malloy arqueou uma sobrancelha espessa, cutucando o botão para
a garagem. Seu terno cinza antiquado e enrugado em seu quadro
grande, mas uma gravata verde brilhante iluminava toda a sua
aparência. Mas nada iluminava seu rosto abatido.
“Você nunca dorme?” Josie franziu a testa.
“Assim que arquivarmos a papelada sobre o tiroteio, eu vou tirar
algum tempo livre. Graças a você, nós resolvemos um caso enorme, e
eu mereço um descanso.” A porta se abriu e ele gesticulou em direção a
um carro marrom indefinível estacionado duplamente em uma zona de
carga.
Josie hesitou perto do carro.
Malloy abriu a porta de passageiro dianteiro. “Está mais limpo
aqui.”
Ela passou por ele e se sentou, esperando até que ele circulasse o
carro e estabelecesse seu corpanzil no banco do motorista. “Você vai
sair de férias sozinho?”
Ele sorriu, o sorriso o fazendo parecer anos mais jovem. “Não.”
Ligando a ignição, ele saiu do espaço, seu olhar no para-brisas. “Mas
não há nada de errado em ficar sozinho.”
O cheiro de hortelã-pimenta e tabaco flutuava pelo carro em um
ambiente ímpar de conforto. “Você está tentando me dizer alguma
coisa?” Ela clicou o cinto no lugar.
“Mais ou menos. Eu gosto de você.” Ele manobrou o carro grande
fora da garagem para a estrada principal. “Você é inteligente e corajosa
de uma maneira muito engraçada.” Ele virou à esquerda em direção à
delegacia.
Por que os hospitais eram sempre perto de delegacias de polícia?
Josie se mexeu em seu assento. “Hum, obrigada?”
“De nada.” Ele voltou sua atenção para a estrada movimentada,
mal contornando um carro esportivo vermelho mudando de faixa. “As
mulheres raramente escutam meus conselhos, mas eu sinto a
necessidade de dá-los de qualquer maneira. Eu acho que você deve
deixar o passado no passado... E seguir em frente. Longe do perigo.”
O grande urso estava tentando protegê-la. “Você é muito doce.”
“Eu não sou.” O detetive bufou.
“Você é.” Mas o homem não podia ver que Shane e seus irmãos
eram o lugar seguro para ela pousar. Ela amava e confiava em Shane
mais do que teria pensado ser possível. A percepção disso a colocara
firmemente em seu rumo. Não importava o que eles tivessem feito, ou
quem eles eram, ela queria mantê-los. Ela precisava deles. Família
importava, e ela finalmente tinha uma. “Por favor, não se preocupe
comigo, Malloy. Eu prometo que sei o que estou fazendo.”
Ele assentiu. “Justo. Você parece ser uma garota inteligente. Nós
vamos finalizar com a papelada, e então eu me certifico de que você
terá uma carona de volta para o hospital. Mas se precisar de alguma
coisa, prometa que você vai me ligar.”
“Eu prometo.” Ela o olhou pelo canto do olho. “Bela gravata. Outro
presente?”
Um leve rubor filtrou pelo rosto casado do detetive. “Sim.”
“Sério. De quem?”
Malloy realmente corou.
Ele puxou para uma vaga de estacionamento em frente ao prédio
de tijolos de dois andares. “Vamos entrar, Sra. Dean.”
Ela saiu do carro e seguiu Malloy através da entrada
movimentada, passado por vários jovens uniformizados para a mesma
sala de conferência da entrevista anterior. O metal frio da cadeira
instantaneamente gelou seu bumbum. “Você me deu café da última
vez.”
Malloy sorriu. “A recepcionista vai trazer um pouco depois que
desligar o telefone.” Ele bateu o caderno sobre a mesa toda arranhada.
A cadeira raspando pelo chão quando ele puxou a pesada moldura fora
da mesa antes de baixar seu volume sobre ela. Pousando o profundo
olhar castanho em seu rosto. “Então. Por favor, explique-me como suas
impressões digitais acabaram no corpo de Billy Jones.”

*****

Shane lutou para subir à consciência. Alvejante e plástico


medicinal perfumava o ar. Drogas. Seu sangue bombeava mais lento,
seu cérebro flutuava. Os médicos o haviam drogado. Provavelmente
narcóticos classe A — bons analgésicos. Mas algo na parte de trás de
sua cabeça insistia que ele acordasse. Ele precisava acordar.
Mas as drogas o puxavam para baixo. O sonho o pegou
inconsciente, e ele deslizou dentro dele, aceitando o retorno de
memórias.
Nesse sonho ele era um adulto.
Ele estava sentado contra o tronco de um velho pinheiro, as
pernas esticadas diante dele, o olhar fixo no campo de treinamento. O
campo empoeirado do inferno onde ele aprendera a lutar, onde
aprendera a matar.
Matt e Jory estavam sentados com ele, os olhares duros em
Nathan enquanto ele batia o inferno fora de outro soldado. Punho em
carne viva, sangue pulverizando e manchando a poeira de vermelho.
“Temos certeza de que Audrey estava trabalhando com o
comandante?” Jory perguntou, limpando o sangue do queixo de sua
sessão de treinamento.
Matt assentiu. “Sim. Nate encontrou provas — e ela confirmou
pouco antes de vários da equipe azul serem eliminados.”
Alguns desses homens tinham se tornado bons amigos —
especialmente para Nate.
Jory arrancou um fiapo solitário de grama da terra batida. “Nós
precisamos ir. Agora.” Seu rosto apertou quando Nathan jogou o outro
soldado uns bons seis pés através do campo. Raiva e dor cruas cortando
fundo nas linhas duras de seu rosto. “Alguma coisa ruim está chegando,
e todos nós podemos sentir isso.”
“Esta é a primeira vez que todos nós estamos aqui ao mesmo
tempo em anos.” A primeira vez que o maldito comandante e seus
cientistas não podiam forçá-los a matar a fim de manter os outros
irmãos vivos. Normalmente, pelo menos dois deles estavam em missões,
em determinado momento.
Shane estudou seus irmãos. De todos eles, Jory e Matt eram os
mais parecidos. Enquanto todos tinham os olhos cinzentos ímpar,
apenas Jory e Matt tinham cabelos negros. Ele se perguntou mais uma
vez se os dois tinham a mesma mãe. Ou se algum deles o faziam. Ele se
concentrou em Jory. “Você pode fazê-lo?”
“Sim.” Jory pulou ao seu tamanho quarenta e seis de pé. Seus
ombros bloqueando o sol. Muito maior do que o magricela
excepcionalmente inteligente que Shane tinha protegido tantos anos
atrás. “Eu posso cuidar de todo o sistema de computador, se você puder
explodir este lugar para o inferno.”
“O comandante virá atrás de nós.” Matt se esticou de pé, seu foco
na forma firme do homem em posição na beirada do campo observando
Nathan. “Eu cuido do comandante, mas e o Emery?”
Pavor deslizou através de Shane. “Você vai matar o comandante?”
Matt poderia matar o homem que os treinou? Mesmo agora, mesmo
como um adulto com tantas mortes atrás dele, Shane ainda, por vezes,
achava que o comandante era invencível. A pura maldade.
“Sim.”
Jory sacudiu a cabeça. “Emery merece uma chance. Ele também
foi criado nesse buraco do inferno.”
Shane esfregou a cicatriz no antebraço onde Emery havia cortado
com um clipe de papel dobrado quando ele tinha seis anos. Dois anos
mais velho, e simplesmente malvado, o Emery de olhos-castanhos era o
favorito do comandante. “Emery é louco e do mal. Eu digo para
acabarmos com ele, também.”
“Não.” Como sempre, Jory olhava pelo lado da justiça. “Nenhum
de nós foi dada uma escolha. Nós lutamos ou nossos irmãos morrem.”
Ele olhou em direção ao centro de computação perto do quartel. “Emery
merece uma chance de liberdade. Para obter seus irmãos à liberdade.”
Matt revirou os ombros. “Provavelmente é um erro, mas eu
concordo. Deixamos Emery viver.”
“Por enquanto,” Shane concordou. “Você sabe que eles virão atrás
de nós, certo?”
Matt se virou para ele, pura dureza em um rosto já duro. “Bom,
foi estúpido eles terem nos treinado tão bem agora, não é?”
Antecipação iluminou seus olhos em chamas.
“Jesus.” Shane ficou de pé. “Você acha mesmo que um de nós
pode matar o comandante?”
Mattie ergueu o queixo. “Eu comecei a planejar sua morte no dia
em que completei doze anos.” Sem outra palavra, ele voltou para o
campo para impedir Nate de matar outro soldado. Dessa vez.
Shane estremeceu acordado na cama de hospital. Sua cabeça
latejava. Jory. Tão malditamente inteligente, como diabos ele tinha
morrido?
O aroma de frutos silvestres encheu suas narinas. Josie. Ele olhou
ao redor do quarto. Um sol espesso se derramava através das cortinas,
mostrando que deveria ser cerca de meio-dia. O barulho de carrinhos
soou lá fora, no corredor. Onde Josie tinha ido?

*****

Josie limpou a garganta, esticando o pescoço. “Como você


conseguiu minhas impressões digitais, detetive?” Sua mente girava. E
agora? Ela deveria pedir um advogado? Nathan já tinha voado da cidade
para Deus sabe-se lá onde. Não que ele fosse um advogado de verdade.
O detetive Malloy se recostou na cadeira. “Eu a tirei de seu copo
de café da última vez que você se sentou nesse banco.”
“Uma ova. Isso não é legal.”
“Claro que é.” Ele se inclinou para frente, batendo uma caneta
dourada em seu bloco de notas. “Sra. Dean, eu sei que você não matou
Billy. Eu sou um policial tempo suficiente para saber que você está do
lado dos bons. Apenas seja honesta comigo, sim? Deixe-me ajudá-la a
sair dessa bagunça.”
Josie estudou seus olhos sinceros. Ela respirou fundo. Onde diabos
ela tinha deixado suas impressões digitais? No telefone, mas Shane o
havia levado. No cinto de Billy quando ela o virara? Talvez. “Onde
estavam as impressões?”
Malloy suspirou. “Não importa. Apenas me diga o que aconteceu
para que eu possa te tirar daqui e de alguma forma manter meu
emprego.”
“Bem. Um homem chamado George me empurrou fora do
elevador até o nono andar do meu prédio de escritórios. Ele estava
trabalhando para Max Penton e queria meus arquivos. Eu consegui
escapar dele e me esconder no quarto com o corpo de Billy.” Josie
sugou o ar. “Então ele veio atrás de mim, aí eu bati nele e corri.” De
jeito nenhum ela ia colocar Shane e seus irmãos no meio disso.
Inteligência iluminou os olhos escuros do detetive. “Você está
bem?”
Sua preocupação a aqueceu. “Sim.”
“Por que você não relatou o sequestro ou o cadáver?”
“Eu estava com medo.” Talvez Malloy tivesse o mesmo instinto
enraizado para ajudar como Shane tinha. Por que não lhe dar uma
chance? “Eu fugi, mas sabia que George ia vir atrás de mim. Eu pensei
que Shane já tivesse deixado a cidade. Estou sozinha, detetive.” Ela
ergueu o queixo e encontrou seu olhar enquanto mentia. “Você está
atrás de meu marido desde o primeiro dia. Eu pensei que Billy seria
encontrado pela equipe de construção, e que eu simplesmente poderia
ficar fora disso.”
Malloy soltou um suspiro frustrado. “Seu marido estava com você
no nono andar naquele dia?”
“Não. Shane não estava envolvido em nada disso, Detetive.”
“Caramba, eu gostaria que você me deixasse ajudá-la.” O lábio
superior de Malloy se curvou. “Sim, bem. Billy claramente lavava
dinheiro para um traficante de drogas, e, como você disse, Max admitiu
que matou o cara.” Uma batida soou na porta, e Malloy gritou, “Entre.”
A recepcionista, uma ruiva de quarenta e poucos anos de quadris
curvilíneos sob uma saia lápis apertada, se apressou dentro da sala para
colocar duas canecas de café fumegantes na mesa. Ela puxou um
arquivo de debaixo do braço. “Detetive Malloy. Aqui está o arquivo que
você solicitou.”
O cheiro do perfume de gardênia competiu com o cheiro de café
quente.
Malloy se inclinou para frente, aceitando o arquivo. Ele puxou a
gravata, enquanto um belo rubor lavava seu rosto corpulento.
“Obrigada, Sra. Smyth.”
“De nada.” Ela deu um tapinha em seu ombro, girou sobre seus
saltos de sete centímetros, foi para a porta, e a fechou com um estalo
nítido.
Malloy abriu o arquivo.
Interessante. Josie se recostou, deixando um sorriso brincar em
seu rosto. “A Sra. Smyth é bonita.”
Malloy arrancou, levantando a cabeça. “Hmm. Eu não tinha
notado.” Ele olhou para os papéis espalhados diante dele.
Oh, ele era tão fofo. “Mentiroso. Ela tem bom gosto para
gravatas.”
Malloy arqueou uma sobrancelha, e depois um largo sorriso
deslizou em seu rosto. “Ela tem gosto ainda melhor para homens.”
“Sim, ela faz.” Josie sorriu de volta.
“Você acha que talvez esteja se apegando a uma vida que não
existe? Quero dizer, você está jogando sua vida fora por um homem que
vai destruí-la?” Os olhos de Malloy suavizaram.
A semente de verdade na possibilidade a cortou fundo. “Você está
pretendendo me intimidar, Detetive Malloy?”
Sua expressão não mudou. Mas a mandíbula apertou. Ah. Ele não
gostava desse pensamento. No entanto, o policial não era o único na
sala que poderia cavar sob a superfície. Ela tinha navegado um mundo
assustador por si só durante toda a sua infância.
“Definitivamente não. Eu não pretendo te intimidar, Sra. Dean.”
Malloy descansou os cotovelos sobre a mesa e exalou alto. “Eu
realmente quero te proteger. Eu posso. Deixa-me ajudar.”
“Como?”
“Diga-me a verdade sobre seu marido — ele estava lá naquele
dia?”
Ela deu de ombros. “Não. George veio atrás de mim por causa dos
arquivos de Max, e me disse que Max tinha matado Billy. Eu acreditei
nele.”
“Como você conseguiu se livrar de um assassino?”
Ela sorriu tristemente. “Eu sou uma sobrevivente, Detetive, e me
livrei dele da mesma forma que consegui impedir Max de me matar.”
Malloy fez um breve aceno de reconhecimento. “Conte-me sobre
seu marido.”
“Você sabe tanto quanto eu.” Josie olhou para o relógio. “Shane
foi um marine, e desapareceu durante os últimos dois anos.” De jeito
nenhum ela ia dizer ao detetive sobre a vida de Shane ou o perigo que o
espreitava. “Eu não sei onde.” Ironicamente, nem Shane. Ainda. Ela
também tinha falado sério quando disse a Matt que eles eram família.
Seu conceito da palavra podia ser colorido por necessidade, mas ela
protegeria tanto ele quanto Nathan da descoberta. “Não tenho nada de
novo a acrescentar.”
Malloy a estudou e depois sacudiu a cabeça. Sua cadeira raspou o
concreto quando ele se levantou. “Bom o bastante. Tem certeza de que
quer voltar para o hospital? Eu posso ter uma viatura te levando onde
você quiser ir.”
“Tenho certeza.” Ela iluminou seu sorriso para tranquilizá-lo.
“Confie em mim. Eu tenho isso coberto.” E ela tinha. Quase perder
Shane para uma bala a fizera perceber que ela lutaria por ele e por seu
futuro. Eles descobririam sobre o chip de matar, e eles seguiriam juntos.
Era hora de se apossar de seu marido e explicar qual seria o futuro
deles. Ele ia confiar nela, e ela ia amá-lo. Para sempre.
Simples assim.

Capítulo 27

Determinação animou Josie enquanto ela atravessava a delegacia


até a sala de espera, onde ela estacou.
Tom saltou de uma cadeira laranja. Daniel deslizou de pé
lentamente.
Josie sacudiu a cabeça. “Tom? Dan? O que vocês estão fazendo
aqui?”
Tom olhou para o detetive. “Nós passamos no hospital para vê-la,
e a enfermeira de plantão nos disse que você tinha saído com um
detetive.” A porta exterior se abriu e uma mulher curvilínea em tweed 17
clicou Jimmy Choos18 em direção a eles. “Ah. Aqui está minha
advogada,” ele disse com satisfação.
A advogada parou cara a cara com Malloy. “Jennifer Daly da
Thymes, Witherspoon e Craft.” Ela embaralhou panturrilhas musculares,
e lhe entregou um cartão de visitas de cor creme. “Você leu para minha
cliente seus direitos?”
“Não.” Malloy enfiou o cartão no bolso do paletó. “Ela não está sob
prisão e estava livre para ir a qualquer momento.”
Josie endureceu. “Eu não preciso de um advogado. Estávamos
terminando a papelada.”
Malloy sorriu para a advogada. “Sim. Desculpe desperdiçar seu
tempo, senhora.”
Tom passou o braço em volta dos ombros de Josie. “Vou levá-la
para casa, Josie.” Ele a puxou gentilmente para a porta.
“Ligue-me se precisar de alguma coisa, Sra. Dean,” Malloy disse
atrás dela.
17
Um tecido de lã grosso, tipicamente listado com cores misturadas produzido originalmente de Scotland.
18
Um designer de sapatos que trabalha em Londres, mais conhecido por seus trabalhos na Jimmy Choo Ltd.
Calor filtrou através do estômago de Josie quando eles se
apressaram para fora em plena luz do sol do fim de outono. Firme e
friorento. Sua mente girou. Por que Tom e Daniel estavam no hospital?
Eles estavam tentando salvá-la de si mesma, também? Ela era uma
mulher adulta que sabia o que queria. Além disso, ela sempre podia
salvar-se, se necessário. “Como no mundo você pagou um advogado?”
Tom sorriu. “Esta é minha cliente — aquela que quer investir em
restaurantes de fast-food. Ela é advogada.”
“Ah. A mulher com as mãos. A tal que flertou com você?”
Tom deu de ombros. “Eu ainda estou esperando por você.”
Tristeza pelo que poderia ter sido a atravessou. Tom era um cara
bom, que trabalhava duro — que teria se entregado totalmente a
qualquer relacionamento. Ele seria um marido fantástico e um pai ainda
melhor para seus filhos — e ele estaria seguro. Nenhum perigo o
espreitava. Mas seu coração tinha seguido outro caminho. Ela sorriu.
“Obrigada por ter vindo.”
Tom a levou para o caminhão, abrindo a porta para ela. “Claro.
Lamento não ter chegado aqui mais cedo.”
Josie hesitou e depois se ergueu para o assento.
Daniel saltou ao lado dela, e ela escorregou para o centro.
Tom se apressou em torno para subir para o assento do motorista.
“Você comeu?”
“Não. Eu só quero voltar para o hospital. Você me leva até lá?” Ela
sabia o que estava pedindo.
Ele ligou a ignição e saiu do estacionamento. “Não.”
“Nosso jogo é daqui a uma hora.” Daniel esticou o pescoço. “Se
ela quer ir para o hospital, devemos levá-la.”
Josie se virou para ele, surpresa.
Ele deu de ombros. “Já estive apaixonado antes. Sim, terminou
mal. Mas por um tempo, eu me diverti.” Um sorriso levantou seu lábio
superior. “Por um breve tempo, eu até me soltei.”
“Sim, certo,” Tom murmurou.
Josie suspirou. “Tom, você não pode me salvar de mim mesma,
não importa o quanto você queira.” As palavras soaram tão estúpidas
quanto ela se sentia. Mas a verdade era a verdade.
Tom franziu a testa, olhando pelo espelho retrovisor. “É claro que
eu posso.”
Josie girou a cabeça. “O que você está olhando?”
“Uma van. Um furgão preto saiu logo atrás de nós.” Tom deu de
ombros. “Agora estou imaginando coisas de espionagem.”
Daniel franziu a testa, olhando no espelho retrovisor. “Ele está
mantendo o ritmo com a gente.”
A van os seguia, e pavor aqueceu o ar nos pulmões de Josie.
*****

Shane forçou a dor abaixo, caminhando em direção do jipe de


Matt no estacionamento do hospital. “Você pegou minhas amostras de
sangue?”
Matt assentiu, saltando para dentro. “Sim. Todos os seus registros,
também. Não há nenhum vestígio de vocês aqui.”
“Bom.” Shane se arrastou para dentro, dobrando o braço sobre
seu meio dolorido. A bala não tinha causado nenhum dano real, embora
ele ainda estivesse dolorido. Na verdade, seu corpo inteiro doía como
uma ferida aberta. “Eu preciso de umas férias.”
Matt bufou. “Você acabou de passar um dia em uma cama. Isso é
tudo que você tem.” Ele ligou a ignição e saiu do estacionamento. “Sua
memória voltou?”
“Sim. Tudo, exceto os últimos dois anos. As coisas recentes devem
ser o próximo a voltar.” Shane olhou para o tráfego. “A enfermeira disse
que Josie saiu com o Detetive Malloy?” Ele tinha ligado para seu celular
várias vezes, mas ela não tinha atendido. Tomara que ela apenas tivesse
esquecido de ligá-lo. Angústia e raiva rasgaram através de sua pele.
“Sim. Você não pode culpar o cara. Nada está somando para ele.”
“Tudo isso soma, exceto minha parte.” Shane sorriu. “Pobre
detetive.”
Matt franziu o cenho. “Você não acha que Josie lhe contaria sobre
nós, não é?”
“Não.” Lealdade corria através de sua pequena esposa. Mas ela
não deve estar enfrentando o policial sozinha. Inferno, ela não deveria
enfrentar nada sozinha.
“Nem eu.” Matt sinalizou e mudou de faixa. “Embora eu não goste
de Malloy arrastá-la até a delegacia para interrogatório.”
“Não. Apesar dele parecer ser um cara decente. Meu palpite é que
ele queria lhe dar uma chance de se livrar de mim.” Shane ficou tenso,
estremecendo com a dor súbita. “Vou levá-la daqui esta noite. Nós
vamos para o rancho em Montana.”
“Você poderia vir para Seattle, se quiser.”
Seu irmão ia quebrar todas as regras que ele havia criado. “Não.
Há uma razão pela qual estamos todos em cidades diferentes agora,
Matt. Você sabe disso.” O momento estava se aproximando. Eles fariam
seu movimento e derrubaria o comandante, assim como seus cientistas.
“Francamente, estou surpreso que você tenha conseguido manter Nate
no rancho estes últimos quatro anos.”
Matt deu de ombros. “Eu não lhe deu escolha. É claro que eu não
tenho nenhuma dúvida de que ele estava procurando Audrey e sua mãe
perturbada por sua conta.”
Sim. Seu amor e a cientista que os criara. “Como você está certo
de que ele ainda não as encontrou?”
Matt cortou os olhos para Shane. “Porque elas estariam mortas.”
“Então você ainda o quer no rancho?”
“Não. Ele está me aporrinhando para voltar à campo. Se você vai
levar Josie para Montana, então você pode assumir a intel durante os
últimos três meses.” Matt sinalizou e mudou de faixa.
Nate merecia um tempo em campo desde que ele estivera
aprisionado por tanto tempo. Shane limpou a garganta quando seu
irmão se concentrou na estrada. “Há algo que eu nunca perguntei.”
“Então, não faça.”
Seu irmão certamente sabia como cortar uma trilha. No entanto, já
era hora de respostas. “Você realmente acha que Audrey armou para
Nathan e a equipe azul? Ela parecia tão gentil para ter engendrado
tantas mortes.”
“Eu acho que sim.” As mãos de Matt apertaram o volante.
“Por quê? Por que eles fariam isso?”
Matt deu de ombros. “Porque eles podiam? Para colocar Nate de
volta na linha? Para colocar todos nós de volta na linha? Talvez para nos
mostrar que nunca haveria uma vida normal, que nós nunca seríamos
verdadeiramente livres.”
“Eles tinham que saber que sairia pela culatra.”
Edifícios voaram quando Matt acelerou. “Eu suponho que eles
pensavam que Nate ia atacar o comandante ou tentar escapar —
qualquer coisa que lhes daria a desculpa para matá-lo.”
Que era por isso que todos eles estavam localizados no
acampamento base ao mesmo tempo. “Para motivar o resto de nós.
Para nos mostrar as consequências.” Tão torcida quanto parecia, a
interpretação fazia sentido. “Eles calcularam mal.”
“Malditamente certo.”
Shane deslocou seu corpo ferido no banco. “Nate tem vivido para
encontrar Audrey. O que acontece quando finalmente capturarmos ela e
o comandante?”
“Eu não quero nem pensar sobre isso.” Matt virou a esquina e
estacionou ao lado de uma doceria. “Algo com o que nos preocupar
outro dia. Vá buscar sua esposa. Eu vou esperar aqui.”
Shane assentiu e saltou fora do jipe.

*****

Josie apertou as mãos, o olhar no espelho na lateral do caminhão


de Tom. “Eles ainda estão atrás de nós.”
Tom apertou a mandíbula. “OK. Vamos desacelerar e dar uma
olhada neles.”
Pânico prendeu seu fôlego na garganta. Os dois homens no
caminhão não eram treinados. Um contador e um trabalhador da
construção civil... Eles não podiam lidar com as pessoas com quem
Shane tratava. Ela estava prestes a ter seus amigos mortos. “Não.
Apenas saia da estrada — depressa.” O comandante a teria encontrado?
Daniel acenou. “Precisamos ver quem é.”
Tom assentiu. “Confie em mim.” Ele puxou para a pista da direita
e desacelerou.
A van abrandou, depois acelerou, chegando ao lado do veículo
deles.
Josie se encolheu no assento, os olhos arregalados. Um
adolescente dirigia a van, o celular no ouvido. Ele acelerou, e o logotipo
de uma empresa de pão local brilhou ao lado.
“Você tem que tá brincando comigo.” Josie deixou escapar uma
risada, recostando-se no assento. “Sinto-me uma tola.”
“Vê o que Dean está fazendo com você?” Tom sacudiu a cabeça.
“Sim.” Embora não houvesse nada de errado em ser um pouco
paranóica. Assim ninguém poderia se esgueirar sobre ela. Ela duvidava
que os dois homens no caminhão apreciaria essa lógica. “Por favor, leve-
me para o hospital.”
“Você tem que repensar sua dependência de Shane.” Tom
suspirou. “Há alguma chance de você me deixar te comprar o almoço
antes de passar o dia inteiro no hospital?”
“Não. Ela lhe deu um sorriso triste. Ele era um cara tão legal... Ela
precisava encontrar alguém para ele. “Eu sei que você não entende, mas
eu realmente preciso estar com Shane agora.”
“Eu entendo, Josie.” Tom alcançou embaixo do assento.
Prata brilhou.
Dor lanceou através de sua pele quando ele bateu um punho em
torno de seu pulso, enganchando-o a um conjunto de barras entre seus
assentos.
“Mas que diabos?” Fogo rasgou através dela enquanto tentava se
soltar. “Você está de brincadeira comigo?” Primeiro ele tinha feito Shane
ser preso, agora o homem a algemava? “Escuta aqui, idiota. Eu vou ficar
com meu marido.” Ela puxou novamente, batendo os pés contra o
assoalho. Dor atravessou seu ombro. “Solte-me.”
“Eu não posso.” A mandíbula de Tom endureceu.
“Uau. O que diabos é isso, cara?” Daniel alcançou sobre seu colo e
puxou na algema, os olhos arregalados. “Solta essa porra.”
Josie arrancou. Ouvir o contabilista todo moderado praguejar era
quase tão surpreendente quanto as algemas. Quase. Ela respirou fundo.
Ok. “Eu agradeço você tentar me salvar de mim mesma aqui.”
Procurando a razão, ela acalmou a voz. “Mas eu não estou em perigo, e
eu sei o que estou fazendo.”
Os dentes de Tom brilharam em uma paródia de sorriso. “Sua
cadela estúpida.”
Os batimentos cardíacos de Josie aceleraram. Adrenalina rasgando
por suas veias. “Como é que é?”
“Ei, espere um minuto. Pare com isso,” Daniel assobiou. “Solta
ela.”
“Não.” Tom alcançou no lado de sua porta, pegou uma arma e a
apontou para Daniel. “Cala a boca, Danny Boy. Eu não preciso de seu
lixo agora.”
Daniel exalou. “Vamos. Nós concordamos que não íamos
machucá-la. Agora solte-a.”
Eles tinham concordado? Ela virou o olhar para Daniel. “O que está
acontecendo?”
Ele deu de ombros, voltando-se para olhar pela janela. Ela voltou
sua atenção para Tom. Talvez ela o tivesse interpretado mal. Poderia
Tom ser louco? “Saia daqui e corra antes que a polícia te pegue. E me
solte.”
Ele riu. “Não.”
Ok. Ela podia argumentar com ele. “Eu pensei que éramos
amigos.”
O olhar que ele deu a ela gelou o sangue nas veias. “Não. Nós
nunca fomos amigos. Não me interprete mal.” Ele trocou de pista,
olhando pelo espelho retrovisor antes de se concentrar na estrada à
frente. “Eu não teria me importado de te foder.” Ele deu de ombros.
“Embora eu acho que ainda posso.”
Daniel deu um pequeno gemido. “Isso de novo não. Deixe-a em
paz.”
“Sim?” Ela teria que atacá-lo. Ela alavancou para trás e chutou os
pés em direção ao seu rosto.
“Pare com isso.” Tom bateu seus pés de volta para baixo, sem
perder o ritmo. “Eu vou nocauteá-la. Não pense nem por um segundo
que eu não o faria.”
Ela mordeu o lábio. Confusão rodando através de seu cérebro. “Eu
não entendo. O que você acha que vai acontecer entre nós?”
Ele soltou um suspiro. “Sabe, quando eu te vi pela primeira vez,
eu calculei que você era uma loira burra. Acontece que eu estava certo.”
O caminhão acelerou até a rampa para a Interestadual. “Você realmente
acha que eu estive te cobiçando todo esse tempo? Que eu sou um cara
que tomaria um ‘não’ de você e continuaria voltando para mais?”
Músculos flexionaram em seus antebraços enquanto ele apertava o
volante. Por que ela não tinha notado o quanto ele era forte? E grande?
“Não. Eu achei que nós éramos amigos. Que você era um cara legal no
meu prédio que gostava da minha companhia.” Onde diabos ele estava
querendo chegar?
“Droga, Josie.” Ele olhou no espelho lateral e entrou na via rápida.
“Eu não sou um cara legal — nem sou seu amigo.”
Seu corpo inteiro ficou imóvel. Como se congelado em um estado
de alerta. “Quem é você?”
Tom se virou para ela, os olhos castanhos estreitados, e um
sorriso afetado torcendo seus lábios. “Eu sou um soldado, querida. Um
que está à procura de seu marido há bastante tempo.”
Ela ofegou, inclinando-se mais perto de Daniel.
Tom riu, o som irritante na cabine. “Ele também é. O bom e velho
Danny é um dos meus irmãos, querida. Você acha que os irmãos Gray
são os únicos que podem agir disfarçados?”
Lentamente, ela voltou o olhar para Dan.
Ele fez uma careta e deu um aceno curto. “Desculpa.”
Ela balançou a cabeça. Eles a tinham prendido entre eles no
caminhão. “Vocês dois estavam me vigiando? Quero dizer, esperando
Shane aparecer?”
Daniel assentiu lentamente. “Nós te encontramos há cerca de
cinco meses. Nosso pessoal colocou Tom e eu no lugar o mais rápido
possível. Em algum momento, nós achávamos que Shane viria até você.
Pelo menos, nós esperávamos que ele viesse.”
“Por quê?” Ela sussurrou.
“Assim, ele vai poder voltar para casa,” Daniel disse calmamente.
“Nós temos trabalho a fazer.”
“Ou então ele pode morrer.” Tom rosnou. Ele disparou a mão, o
punho se conectando com seu queixo.
Estrelas explodiram atrás de seus olhos. Então escuridão.

Capítulo 28

Uma dor enchia toda a cabeça de Josie. Ela gemeu, piscando os


olhos abertos. Luz ergueu suas pupilas, e ela estremeceu, virando a
cabeça para o lado e fechando os olhos. Respirações profundas. O
aroma acentuado de água sanitária esfaqueou suas narinas. Ela abriu os
olhos de novo.
Ela estava reclinada em uma cadeira de couro em algum tipo de
sala de exame. Um longo balcão de cor-pêssego segurava uma pia de
aço inoxidável, junto com bolas de algodão, abaixadores de língua, e um
manguito de pressão arterial.
Seu braço doía. Olhando para baixo, ela ofegou com a bola de
algodão amarrada no interior de seu cotovelo. Se teriam lhe injetado
alguma coisa?
A porta se abriu. Uma mulher entrou, seus saltos de três
polegadas clicando nos azulejos brancos brilhantes. Ela bateu um
arquivo manilha nas mãos. “Você está acordada.”
Josie lutou por razão. Era a cadela que tinha insultado sua
inteligência na sala de conferência depois do arrombamento em seu
escritório. Qual era o nome dela — “Dra. Madison?”
Olhos azuis penetrantes a avaliaram. Hoje a médica usava um
jaleco branco e tinha puxado o cabelo para trás em um coque apertado.
“Sim.”
“O que você me injetou?” Josie perguntou, sua voz saindo rouca.
Madison franziu as sobrancelhas perfeitamente arqueadas. “Nada.
Tirei seu sangue para ver se meu jovem Shane finalmente tinha
procriado.”
O tom possessivo fez o estômago de Josie revirar. “Eu não estou
grávida.”
Madison fechou a porta. “Não, infelizmente, você não está.” Ela
encolheu os ombros. “Não tivemos absolutamente nenhuma sorte em
continuar sua linhagem.”
“Que pena.” A visão de Josie vacilou, e seu queixo bateu. “Então
me deixe ir.”
“Não. Você é um dos muitos sacrifícios pela ciência.”
“Como você já se sacrificou.” Josie engoliu, saboreando sangue.
“Não é verdade.” Madison fungou. “Eu dei minha única filha para
eles — para Nathan usar temporariamente. Minha pobre Audrey.”
“Audrey?” Fatos correram pela mente de Josie. A mulher que
Nathan tinha amado? “Espere um minuto — a pesquisadora chefe que
era a mãe de Audrey — é você?”
“Sim.”
“Você é psicótica. E sobre o chip de matar?” Talvez isso não fosse
real.
Madison riu. “Eu me perguntava se eles estavam ficando
preocupados. O chip vai cortar suas espinhas em três meses ou assim,
certo?” Ela sacudiu a cabeça. “Eles realmente têm que fazer melhor com
a gente, você não acha?”
Raiva, medo, choque, tudo cascateou através de Josie. “Você é um
monstro.”
A médica sacudiu a cabeça. “Não seja boba. Você pode muito bem
saber que, como não está grávida, mantê-la viva não está no topo da
minha lista de prioridades.” Ela atravessou a sala em direção ao balcão.
Josie se sentou, enfiando os pés nos tênis assentados no azulejo.
Ela não tinha tido a chance de procurar nas gavetas por uma arma.
“Você é má.” Se conseguisse distrair a médica, talvez ela pudesse fazer
uma pausa para isso.
Os olhos azuis de Madison cintilaram. “Não seja tão dramática.”
Seu sorriso revelou dentes perfeitamente retos.
Josie olhou para a porta. “Rumores dizem que Audrey armou para
Nathan, Doutora.”
Madison franziu os lábios. “É isso que eles pensam? Hmm.
Interessante.” Seu olhar se estreitou. “Aparentemente meu Shane
confiou em você. Eu lhe ensinei melhor do que isso.”
“Você conhece Shane?” Tristeza por seu marido filtrou através de
Josie. Ter sido criado por uma cientista louca que nem sequer se
preocupava com sua própria filha deve ter sido terrível. Não era de
admirar que Shane tivesse problemas para lidar com mulheres.
“Não seja modesta, querida. Isso não combina com você.”
Madison olhou fixamente para Josie. “Eu tenho que dizer, você não é o
que eu esperava.”
“Por que isso?” Ela precisava encontrar algum tipo de arma.
Embora ela achasse que poderia vencer a médica num piscar de olhos,
Tom estúpido tinha que estar em algum lugar. Ou Daniel. Talvez ela
pudesse fazer com que Daniel a ajudasse.
O sorriso se tornou malicioso. “O treinamento de Shane. A
escuridão em meu Shane me surpreendeu mesmo.” Sua voz baixou para
um ronronar gutural. “Eu realmente me pergunto o que no mundo meu
menino viu em alguém tão fraca como você.”
“Você está com ciúmes?” Josie permitiu que sua voz baixasse.
“Pelo que ouvi, você era um cão desesperado no cio. Sempre vigiando,
sempre querendo.” Foi um cálculo e uma facada no escuro. Mas algo no
tom da médica tinha insinuado isso. Josie ergueu o olhar para encontrar
o dela. “Mas eles nunca retornaram seu desejo, não é?”
Fogo correu através dos olhos da médica antes que ela os
limpasse. “Isso é o que você pensa.”
“Não.” Satisfação ergueu o queixo de Josie na facada certeira.
“Eles queriam sua bela filha. Sua inocente, doce e jovem filha.”
O sorriso no rosto de Madison torceu. “Sim, bem. O jovem Nathan
queria Audrey. E ele ficou com ela por um curto período de tempo —
embora ela não fosse tão inocente quanto ele esperava.” Madison
atravessou a sala e colocou o arquivo no balcão. “Mas isso não terminou
muito bem, não é?”
“Eles vão te matar.”
“Duvido. Acredite em mim, eu significava muito para alguns
deles.” Satisfação ergueu os lábios vermelhos de Madison.
Josie lutou contra a náusea. De jeito nenhum Shane tinha dormido
com essa malvada cadela médica. Ela esperava que nenhum dos irmãos
tivesse sido apanhado em sua armadilha, também.
“Além disso” — As narinas de Madison chamejaram quando ela
sugou o ar — “eu sou a coisa mais próxima de uma mãe que aqueles
rapazes já conheceram. Eles podem querer me matar, mas os destruiria
fazê-lo.”
Mas eles o fariam. Um pelo outro, se um deles tivesse a chance,
mataria a médica. Quem o fizesse nunca se recuperaria. Josie firmou os
ombros. “Você está certa. Então, acho que sou eu quem vai ter que
matá-la.” Ela manteve o olhar sobre a coisa mais próxima de um
verdadeiro monstro que ela já tinha visto. Para proteger Shane, para
proteger seus irmãos, ela mataria. Ela já tinha atirado em um traficante
de drogas, de fato.
Madison sorriu novamente. “Sabe, estou começando a gostar de
você.” Passos pesados ecoaram do lado de fora da porta. “Acho que vou
dar a Tom a chance de te pegar — ou talvez Danny gostaria de ter sua
vez. Ele me pareceu um tanto irritado que Tom te bateu. Eu me
pergunto se poderia obter alguns ultra soldados desse negócio.”
Náuseas e medo atravessou o estômago de Josie, mas ela
manteve o rosto em branco. “Você é uma idiota.”
A médica balançou a cabeça, estalando a língua. “Insultos agora,
é?” Ela olhou para o braço bom de Josie. “Embora eu não tenha te
injetado com nada, eu certamente posso fazê-lo se você não cooperar
comigo. Qual dos irmãos você já conheceu?”
Josie revirou os olhos. “Não há irmãos. Shane me falou sobre
você, sobre sua filha, mas isso é tudo.”
A médica clicou a língua. “Para uma civil, você não é uma mau
mentirosa.”
“Obrigada. Para uma médica com formação clínica em
neuropsicologia e psiconeuroimunologia, você é estúpida, se acha que
vai viver por me machucar.”
O riso feminino de Madison flutuou ao redor da sala. “Eu vejo o
que Shane gosta em você.”
“Você deve ser muito inteligente para ter os diplomas que tem.”
Josie inclinou a cabeça, estudando a outra mulher.
“Eu sou.” Um sorriso satisfeito iluminou o rosto impecável da
mulher.
“Por que usar esse conhecimento para fazer mal a jovens
garotos?” Algo nela precisava entender. Como podia verdadeiros
monstros viver entre eles?
“Fazer mal?” Madison franziu o cenho. “Não, nós não lhes fizemos
mal. Nós os reforçamos. Nós os tornamos machos supremos, lutadores
supremos.” Seus olhos cintilaram. “Eu os tornei incríveis.”
Raiva apertou o queixo de Josie. “Você fez experimentos com eles.
Como ratos de laboratório.”
Madison deu de ombros. “É claro que fiz. Nós lhes demos a melhor
genética possível, e depois as aprimoramos. Antes de utilizar técnicas
comportamentais para treiná-los enquanto cresciam.”
“Você não está preocupada?” Josie franziu a testa, realmente
tentando entrar na cabeça da médica louca.
“Preocupada? Que eles venham atrás de mim, sem entender?”
Madison sacudiu a cabeça.
“Não. Preocupada com o fato de Deus estar puto, que você está
tentando ser Ele.” Crescer em lares adotivos tinha lhe dado uma visão
fundamental de Deus e da morte, mas isso era uma que ela acreditava.
“Como cientista, você tem que estar aberta às possibilidades, para os o-
que-e-o-ses. E se Deus existe e está seriamente chateada com você,
Dra. Madison?”
Madison ergueu o queixo. “Se Deus existe, Ele pode compartilhar
o espaço comigo.”
Ok, a garota era realmente louca. Sem chance de raciocínio com
ela. Hora da ação. Josie se lançou para frente, atacando a médica em
torno de sua cintura.
Madison girou, quase casualmente batendo o cotovelo na espinha
de Josie. Dor a assolou, e ela caiu sobre um joelho. Sua mente zumbiu.
Seu sistema nervoso central disparou.
A porta se abriu. “O que diabos?” Um soldado corpulento entrou e
agarrou seus braços e a atirou de volta na cadeira. Ela saltou contra o
couro duro antes de se fixar no lugar, suas orelhas tinindo.
Madison riu como uma garotinha. “Eu vivi com soldados durante
os últimos trinta anos, querida. Eu posso lutar.”
O homem deu um passo atrás, seu olhar calculando. “Esta é a
mulher de Shane?”
“Sim.”
O olhar dele percorreu sua forma e Josie lutou contra um arrepio.
Cabelos prateados se misturavam com o castanho em seu corte
extremamente curto. Ele tinha cerca de um metro e oitenta e oito
centímetros e era embalado duramente, seus músculos claramente
visíveis no uniforme de soldado.
Josie respirou profundamente. “Eu suponho que você é o
comandante?”
Ele arqueou uma sobrancelha grisalha sobre olhos quase negros.
“Você já ouviu falar de mim.”
“Meu marido planeja matá-lo.” Nada existia atrás daqueles olhos
muito escuros. Nenhuma emoção, nenhuma faísca. Pura maldade.
“Eu certamente gostaria de vê-lo tentar.” O comandante se
colocou em posição, baixando o olhar para seus seios e subindo
novamente. “Você acha que Shane amadureceu, ou você acha que esse
rostinho bonito esconde uma gata selvagem na cama?”
Madison deu uma risadinha. “Eu acho que Shane decidiu baixar o
nível por um tempo. Embora ela possa valer a pena oferecendo um
pouco de divertimento para você.” Ela lhe enviou um sorriso malicioso.
“Contanto que eu possa assistir.”
Bile rodou no estômago de Josie. “Você me deixa doente.”
Madison deslizou a mão pelo braço do comandante e ignorou a
declaração de Josie. “Devemos gravar seu tempo aqui para darmos a
Shane. Eu sempre imaginei que haveria uma maneira de quebrá-lo.”
O comandante assentiu. “É uma boa ideia.” Ele olhou no relógio.
“Precisamos capturá-lo primeiro.” Avançando, o comandante agarrou
seu queixo e inclinou sua cabeça para cima com dedos calejados. “Quem
está com Shane?”
Ela puxou a cabeça para trás, dor explodindo através de seu
queixo quando ele segurou mais apertado. “Foda-se.”
O aperto aumentou. Agonia explodiu atrás de seus globos
oculares. Mas ela segurou seu olhar.
Ele sorriu, um sorriso lento de antecipação. “Quebrá-la pode ser
tão divertido quanto quebrar Shane.” Com um aperto final que a teve
vendo estrelas, ele a soltou. Uma batida soou na porta.
O comandante abriu a porta pesada de metal e permitiu a entrada
de Tom. “Coloque-a em algum lugar seguro e me encontre na sala de
controle para ligar para Shane.” Ele saiu sem olhar para trás.
Tom assentou sua postura. Ele tinha se trocado para calças de
seda marrom, sapatos italianos, e uma camisa escura Armani — e tinha
alisado o cabelo para trás. Ele olhou para a Dra. Madison, seus olhos
aquecendo. “Eu devo levá-la ou não?”
Madison deu de ombros. “Claro. Eu não tive mais sorte com seu
material genético do que tive com os irmãos Gray, mas que inferno.
Vamos dar um tiro.” Ela pegou o arquivo e bamboleou para abrir a
porta. “Deixe-a instalada e me encontre no escritório do comandante em
quinze minutos.” Ela sorriu para Josie. “Precisamos ligar para seu
marido.” A porta clicou fechada.
Josie olhou para Tom. “Quem diabos é você?”
Ele deu de ombros. “Parte da família Brown. Irmãos de olhos-
castanhos.”
Então, eles usavam a cor dos olhos como marcadores genéticos.
“Por que Shane não te conhece?”
“Alguns de nós fomos selecionados para treinar em outro lugar.
Mas Shane conhece meu irmão, Emery.” Tom sorriu. “Na verdade, eu
acredito que Emery gostaria de ter uma chance com você depois que eu
terminar.”
Como ela pôde ter perdido o mal que vivia em Tom? Ele a havia
enganado tão bem. “E Daniel?”
“Meu irmão mais novo. Bem, meio-irmão.”
“Onde ele está?” Daniel era seu melhor aliado neste lugar maluco.
Tom sorriu, seus olhos se iluminando. “O comandante o enviou em
uma missão, uma vez que ele parecia meio apaixonado por você. O bom
e velho Danny Boy está a caminho de Uganda. Boa viagem.”
Desapontamento enfraqueceu seus joelhos. “Você armou para
mim.”
“Claro.” O olhar de Tom caiu para seus seios. “Nós tivemos você
no radar nos últimos cinco meses — garimpar constantemente a base de
dados militar finalmente valeu a pena. Encontramos vários soldados com
o conjunto de habilidades únicas de Shane... E monitoramos todos até
estreitar nossa busca para ele. Quando não resultou em nada, o
comandante calculou que Shane entraria em contato com você
novamente algum dia, então ficamos te vigiando.”
“O divórcio recente e perder sua empresa?”
“Nenhuma cadela jamais se divorciaria de mim. Ela estaria
enterrada doze pés abaixo. Eu inventei. Para me aproximar de você.” O
sorriso de Tom carecia de humor. “E nada de irmãzinhas. Cara, essa foi
uma tática que chamou sua atenção, não foi? Pobre pequena órfã.”
Sim. Isso tinha funcionado. “Eles te criaram em um ambiente
militar — sob ameaça de morte? Assim como Shane?”
Os olhos de Tom giraram quando ele levantou o olhar. “Sim. Eu
sou um soldado supremo.” Ele lambeu os lábios. “Embora eu tenha tido
um treinamento que você, certamente, vai desfrutar mais tarde.”
Ela arqueou uma sobrancelha. “Eu sempre te considerei meio
chato. Acho que eu estava certa.”
Ele algemou uma grande mão ao redor de seu braço, puxando-a
da cadeira. “De alguma forma eu não acho que você vai me considerar
chato por muito mais tempo.”
Seus pés deslizaram sobre os azulejos enquanto ela tentava cavar
e parar Tom. Ele continuou puxando-a através da sala e no corredor,
passando por portas fechadas de tamanho industrial.
Ela lutou, medo aquecendo seu intestino. “Eu tenho que dizer, eu
gostava mais de você nas camisas de flanela e jeans.”
Ele sorriu. “Cara, eu odiava me vestir nesses últimos dois meses.
Ainda bem que acabou.”
“As linhas de riso ao redor de seu olhos — eu não entendo.”
Bandidos não tinham linhas de riso.
“Vamos apenas dizer que eu amo meu trabalho.” A voz dele
baixou para algo sombrio.
Medo ondulou por sua espinha. O cara era louco. “Deixe-me ir.”
“Não.” Seus passos largos devoravam o piso de concreto, e Josie
tropeçava atrás dele.
Seus passos ecoavam no corredor vazio. Silêncio mortal vinha de
detrás das portas fechadas. “Por que está tão quieto aqui?” Ela
perguntou. “Quero dizer, onde estão todos?”
“Este é o novo edifício da Fuller Labs. Você sabe disso.”
Oh, sim. Ela tinha encontrado alguns excelentes lugares para o
laboratório criar seu mais novo espaço ultra avançado de eficiência
energética. “O local não será ocupado até o próximo mês, quando eles
mudarem de edifícios.” Então, ela estava no lado norte da cidade. Bom
saber.
“Certo. Temos soldados aqui agora. Aposto que isso não estava
em seus documentos.”
“Não. O fato de que a Fuller Labs trabalha fora-da-lei para
geneticamente engendrar uma classe de soldados escravos não constava
nos arquivos.”
“Fora da lei?” Ele parou em frente a um banco de elevadores,
puxando-a para dentro quando a porta se abriu. “Você sabe melhor do
que isso. Talvez todo o nosso governo não esteja envolvido nisso, mas
eu posso te prometer que muitos dos oficiais de alto-escalão nos
financiam.”
Eles subiram um piso. Tinha que haver alguma forma de ela
alcançar sua consciência. “Tom. Você não é essa pessoa. Você não tem
que ser o que eles fizeram de você — você pode ser quem você quiser.”
Ela tentou se afastar quando as portas se abriram.
Ele riu, puxando-a para um longo corredor de concreto que
combinava com o que tinham acabado de sair. “Eu gosto de quem eu
sou. Eu sei lutar, e eu sei matar. Meu QI está fora dos gráficos. Regras
normais não se aplicam a mim.” Ele parou na frente de um teclado ao
lado de uma grande porta marrom.
Ela limpou a garganta. “Oh. Quais, ah, habilidades especiais você
tem?”
“Eu acabei de te dizer.” Ele deu um soco em alguns números e a
empurrou para dentro de um apartamento com área de estar, área de
dormir e pequena cozinha.
Então Tom não tinha nenhum super habilidade como Shane e seus
irmãos. Ele era uma anomalia? Ou talvez apenas a engenharia genética
da família Gray tivesse produzido hiper-habilidades. Não admira que o
comandante os quisesse tanto.
Tom apontou para uma porta de carvalho ao lado da cama. “O
banheiro é ali.”
Ela puxou o braço livre e recuou.
Ele a olhou de seu pé adicional de altura. “Tenho que ir encontrar
com o comandante, mas voltarei logo.” Seus olhos escureceram ainda
mais. “Sugiro que você descubra uma maneira de me fazer feliz.”
Ela forçou seu corpo trêmulo a relaxar. Será que Tom teria algum
sentimento por ela? Certamente um cara como ele não gostaria que um
soldado mais velho entrasse em seu caminho. Talvez ela pudesse de
alguma forma conseguir que Tom a ajudasse. “Você não entende. O
comandante disse que quer me tomar.”
Tom sorriu. “Não seria a primeira vez que o comandante e eu
compartilhamos uma mulher. Quem sabe, talvez Emery venha se juntar
dessa vez.” De volta para o corredor, ele fechou a porta. O som da
fechadura engatando ecoou pelo apartamento tranquilo.
Medo enfraqueceu seus joelhos. Apenas uma vontade obstinada a
mantinha de pé.
E agora?

Capítulo 29

Shane socou no número do telefone de Josie novamente do banco


do passageiro do SUV de Matt enquanto seu irmão quebrava o limite de
velocidade para voltar para a cabana. “Malloy disse que ela saiu de lá
com Marsh. Ela deveria estar atendendo seu celular.” A reviravolta em
seu intestino tinha que ser da cirurgia. De jeito nenhum Josie estava em
perigo. Inferno. Ela provavelmente já estava de volta ao hospital
procurando por ele.
Matt agarrou o volante, esticando o pescoço. “Então porque os
cabelos na parte de trás do meu pescoço estão de pé?”
Boa pergunta. O telefone parou de tocar e silêncio veio através da
linha. Um silêncio pesado com expectativa. Alguém estava ouvindo,
respirando suavemente. Arqueando a sobrancelha, ele apertou o botão
do alto-falante e colocou o telefone no painel. “Josie?”
Uma exalação alta soou. “Shane, meu menino. Que bom ouvir
você.” Suave e sexy, a voz gotejava com falsa doçura.
Raiva rasgou através de cada músculo em seu corpo. “Dra.
Madison. Eu esperava que você estivesse morta.”
Ao seu lado, Matt ficou rígido.
“Oh, Shane. Você sempre foi um garoto tão malvado.” O tom de
menina da psicopata quase fez Shane vomitar.
Matt abriu a boca para falar. Shane sacudiu a cabeça, estreitando
o olhar para seu irmão. Havia uma boa chance de que eles não sabiam
que Matt estava com ele, e eles precisavam de toda a vantagem que
pudessem ter. “Onde está minha esposa?”
“Bem, agora, ela está segura no momento. Embora eu tenha que
te dizer, meu Tom parece ter uma quedinha por ela. Ele acha que pode
engravidá-la e me dar pequenos soldados.” Uma risada estridente
escapou da médica.
Mas que diabos? Tom? Como ele não tinha percebido? Ele tinha
sido jogado.
Shane concentrou sua fúria até que sua pele se arrepiou. Calma
assentou seus membros em um estado de prontidão. Emoção tinha que
ir. Ele sintonizou com sua audição, tentando obter uma localização.
Nenhum som ecoou no fundo. “Diga a Tom que ele vai morrer
lentamente se tocá-la.”
“Oh. Estou ansioso por isso, imbecil.” A voz de Tom veio
claramente através da linha. “Ser nocauteado na outra noite no meu
próprio corredor realmente me deixou puto. Mal posso esperar para te
dar uma luta honesta.” Ele riu. “Depois de foder com sua esposa, é
claro. Mais uma vez, na verdade.”
“Você não chegou nem perto da minha esposa, idiota.” Shane
baixou a voz. “Você até que tentou, no entanto, não é mesmo? Por dois
meses, quando ela pensou que já estava tudo acabado comigo, e ainda
assim ela não se voltou para você. Quem diabos te treinou, afinal?”
“Você tem certeza disso?” Tom perguntou. “Com o passado que
ela tem, ela é uma pequena bem mentirosa. Tem certeza de que ela te
contou a verdade sobre nós?”
“Sim.” Shane bufou. “Você é da liga júnior. Não pense nem por um
segundo que a cadela psicótica de pé ao seu lado agora não vai cortar
sua garganta para chegar até mim. Para chegar até um de meus
irmãos.”
“Sabe,” Tom respirou, “Acho que vou ter sua esposa me
chamando de 'Jory' quando eu fodê-la esta noite.”
Fúria crua ameaçou explodir a fachada de calma de Shane. “Eu
posso matá-lo de maneiras que você não pode sequer imaginar.” Ele
apertou as mãos em punhos, vagamente vendo Matt digitar algo em seu
telefone. Provavelmente pedindo a Nathan para rastrear a chamada.
Tom riu novamente. “Você acha? Bem, eu duvido. Temos o
mesmo treinamento.”
Não, eles não tinham. Nem sequer perto. Matt tinha se certificado
de que seu treinamento superasse qualquer coisa que o comandante
pudesse apresentar. Às vezes, Shane tinha realmente odiado seu irmão
mais velho. Agora, ele agradeceu a Deus que Matt tivesse sido tão
implacável em ensiná-los a sobreviver. “Você vai descobrir o quanto está
errado.” Ele precisava manter a linha aberta para Nate.
“Qual é o problema, Shane?” Madison se intrometeu. “Se bem me
lembro, você compartilhou uma mulher com mais de um de seus
irmãos.”
“As prostitutas psicopatas que você empurrou em nós não
contam.” Ele assentiu quando Matt acenou para mantê-los falando. “É
claro, nós preferíamos muito mais elas do que alguma vez quisemos
você. Não que nós não víamos o quão ruim você precisava. Ou queria.
Mas você nunca entendeu isso, não é? Cadela.” Embora ele não tivesse
dúvidas de que a mulher louca tinha ferrado seu caminho através de
vários dos estagiários ao longo dos anos.
“Você tem certeza disso?” Sua voz baixou para um sussurro que
fez sua pele arrepiar. “Você pode querer checar novamente esse fato
com seus irmãos.”
Shane sacudiu a cabeça. Se um de seus irmãos tivesse caído preso
no trabalho da porca louca, ele certamente não queria saber sobre isso.
“Qual é seu plano aqui, cadela?”
“Insultos? Isso é mais o estilo de Nathan, não seu.” Um farfalhar
de papel veio através da linha. “Como está o bom velho Nathan, afinal?
Matando-se com dor ainda?”
Shane inalou em silêncio, ignorando o puxão em seus pontos
frescos. Forçando a dor em uma caixa distante, ele deslizou calma em
sua voz. “Nathan está casado com uma enfermeira simpática com dois
filhos. Ele seguiu em frente, Madison. Desculpe por desapontá-la.”
“Você sempre foi um bom mentiroso,, Madison murmurou. “Mas
perdeu o toque, eu acho. Então, quem está com você agora? É o meu
Matt?”
“Por que você não vem me pegar e descobre?”
“Ok.” Uma voz áspera de repente comandou a linha. “Você já teve
tempo suficiente para rastrear essa chamada.”
Matt virou o olhar para o telefone em uníssono com Shane. A
porra do comandante. Ele estava lá.
“Comandante. Homem. Achei que o diabo já tivesse te levado a
essa altura.” Shane forçou uma profunda risada em sua voz, mesmo
quando suas mãos se fecharam em punhos trêmulos. “Não me diga que
você ainda está pegando essa desculpa decadente de médica.” Ele os
havia flagrado uma vez no arsenal — Madison sobre uma mesa cheia de
fuzis AK-47, gritando enquanto ela gozava. Pesadelos o haviam
atormentado por meses depois.
“Na verdade,” — a voz do comandante combinava com a de Shane
— “estou pensando em pegar sua jovem esposa. Bem, depois de Tom e
Emery terminarem com ela, é claro. Supondo que haja alguma coisa
sobrando.”
Shane se inclinou para frente, seu corpo inteiro ficando frio. Matt
bateu em suas costas, balançando a cabeça e apontando para a têmpora
de Shane. Sim, certo. O comandante estava bagunçando com sua
cabeça. Eficazmente. Ele assentiu. “Sabe, meu velho, eu acho que é
hora de eu te matar.”
“Traga Matthew com você,” o comandante disse. “Ele e eu temos
assuntos inacabados. Ah, e,” — ele fez uma pausa — “você tem trinta
minutos. Ou eu vou ficar intimamente familiarizado com a loira
balbuciante com quem você se casou. Eu tenho que dizer, estou
bastante surpreso que você tenha se casado com uma mulher que chora
tão facilmente.”
A linha ficou muda.
Oh, Deus. Shane tinha conhecido o monstro durante toda sua vida
— não havia nada que ele não fizesse para obter resultados. Pura
maldade. O diabo como uma figura paterna.
Matt sugou por ar. “Ignore-o. Eles não a machucarão.”
“Eu sei.” Shane se virou lentamente para olhar seu irmão, e
emoção rasgou através dele. Matt tinha se tornado sua figura paterna,
lhe dando a força para lutar contra a tração do comandante. “Obrigada,”
ele sussurrou.
“Certo.”
“Não.” Shane agarrou o braço de Matt. “Obrigada por tudo.
Sempre. Eu nunca pensei —”
Matt arqueou uma sobrancelha. “Agora não é o momento para
desabafo de menina, Shane.”
Shane engoliu em seco. “Nate está certo. Eu não posso colocar
você e Josie em perigo juntos. Vamos resgatá-la, e depois eu vou levá-la
para um lugar seguro.”
Matt franziu o cenho, os olhos escurecendo quando se virou para
Shane. “Nós vamos ficar juntos. Não importa o quê. Se você diz que
Josie está com a gente, então ela está com a gente. Ponto.”
Emoção aqueceu lágrimas atrás dos olhos de Shane. Eles
resolveriam isso mais tarde. Ele pegou o celular. O comandante
machucaria Josie com grande prazer. “Vamos buscar minha esposa.”
Matt parou na frente da ampla cabana. “Bom plano. Precisamos
nos adequar.”
Shane saltou do carro, o olhar na porta da frente, uma vez que se
abriu. Nathan saiu, vestido para o combate com uniformes pretos, um
colete à prova de balas e botas pesadas.
Emoção inundou Shane até que ele mal podia respirar. Nathan.
Família. “O que você está fazendo aqui?” O sotaque do sul se libertando
completamente em sua pergunta. Nate tinha deixado sua opinião bem
clara — e ele estava certo.
Nathan deu um sorriso espertinho. “Você não achou que eu ia
deixar você resgatar a garota sozinho, não é?”
“Mas eu pensei que você tivesse ido para casa.”
“E eu fui.”
Shane girou a cabeça para olhar boquiaberto para Matt. “Você
ligou para ele? Quando?”
“Na noite passada quando você estava em cirurgia.” Matt avançou,
pegando o colete à prova de balas que Nathan atirou para ele. “Eu tive a
sensação de que íamos precisar de apoio.”
Shane balançou a cabeça. “Mas o plano —”
“Planos mudam, irmãozinho,” Nate disse. Ele colocou uma arma
em um coldre na panturrilha. “Eu, ah, estava errado. Josie é família, e se
ela está em apuros, nós entramos.”
Shane procurou as palavras certas, mas não conseguiu encontrar
nenhuma. “Mas você estava certo —”
“Eu estava errado. Vamos mantê-la segura e com a gente, Shane.”
Nathan ergueu o queixo. “Minha raiva não deve mudar sua vida. Se ela é
família, ela está com a gente. Sempre.” Como um voto, era absoluto.
Shane piscou. “Obrigada.”
Nathan assentiu, linhas duras cortando seu rosto áspero. olhos
cinzentos escurecendo para quase preto. Raiva e dor, tudo junto, quase
dançando em sua pele. “A Dra. Madison é minha. Eu vou cuidar da mãe
de Audrey — depois que ela me disser onde está sua filha.”
Shane estudou seu irmão. Algo em sua consciência sussurrou que
seria uma má ideia deixar Nate matar a mãe da mulher que ele uma vez
tinha amado. Memórias de Nate feliz por um breve tempo atravessou
sua mente. Tantos momentos — ainda não suficiente. Nem perto de
suficiente.
Ele assentiu. “É claro.” De jeito nenhum ele deixaria seu irmão
viver com a morte de Madison. Shane cuidaria da cientista.
Matt lhe lançou um olhar duro. Ah. Mattie planejava proteger tanto
Nate quanto Shane de matar a mulher que tinha ajudado a criá-los.
Shane endireitou os ombros, enfrentando o olhar de seu irmão.
Matt piscou uma vez, um rubor escuro cruzando as maçãs
salientes de seu rosto. “Ver todos nós aqui — traz de volta alguma
lembrança sobre Jory?”
“Não.” Mas algo permanecia na base de sua consciência. “As
memórias estão tão perto, — logo ali à minha espera.” Ele examinou
cada um de seus irmãos, por sua vez. Eles estavam arriscando suas
vidas para salvar a mulher que ele amava, e ele não tinha as palavras de
gratidão. Emoção entupiu sua garganta. As palavras certas,
provavelmente, não existiam.
“De nada,” Nate disse, os olhos cinzentos rodando com emoção.
“Entre e se vista — vamos buscar sua esposa.”

Capítulo 30
“Eu não entendo.” Josie torceu os pulsos contra as algemas que a
mantinha presa à barra de apoio acima da porta do grande SUV. Dor
atravessou seu braço. Do assento traseiro, ela olhou para a cabeça de
Tom que dirigia em meio ao tráfego pós-trabalho. “Eu pensei que vocês
queriam que Shane rastreasse a chamada.”
A Dra. Madison suspirou do assento do passageiro na frente.
“Como no mundo meu Shane foi se apaixonar por essa dita-cuja?”
Estendendo a mão com unhas pintada de vermelho, ela a correu pelo
braço de Tom. “Você sempre teve um gosto melhor, não é mesmo,
Tommy?”
Ele assentiu. “Claro. Embora eu quisesse ficar e esperar pelo bom
e velho Shane.”
“Não.” Madison voltou a se recostar e cruzou as pernas.
“Precisamos de você para nos proteger por enquanto. O comandante vai
capturar Shane e qualquer irmão que esteja com ele. Então, não se
preocupe. Vamos deixá-lo entrar no ringue de treinamento com ele.”
“Eu mal posso esperar.” Satisfação escorria na voz profunda de
Tom.
Fúria atravessou Josie. “Ele vai chutar sua bunda.”
Os olhos castanhos de Tom foram para o espelho retrovisor. “Sem
chance. Acredite em mim, uma vez que ele ver o que eu fiz com você, a
raiva vai deixá-lo fácil de bater.” Tom balançou a cabeça. “Você é uma
fraqueza, Josie. Uma bem grande.”
Maldição, ela era sua fraqueza. Nathan estava certo. Ela ia fazer
com que Shane fosse morto. Ela puxou novamente nas algemas. O
metal cortou mais fundo em sua pele, e ela lutou contra um gemido de
dor. Raiva trouxe um foco nítido a sua visão. O ruído de uma buzina a
fez saltar. Medo empurrou a raiva para longe. Seus pulmões querendo
agarrar. “Onde estamos indo?”
Madison alisou a saia lápis para baixo. “Para um lugar seguro até
que Shane esteja contido. Depois vamos para casa. Graças a Deus.”
“Deus?” Josie engasgou. De jeito nenhum essa cadela psicótica
acreditava em Deus. “E onde seria essa casa?”
Madison torceu em seu assento para piscar um sorriso fechado.
“Back East. Não as instalações onde nosso querido Shane cresceu, mas
similar. Altamente avançado, de fato.”
A mulher tinha um monte de parafuso solto. “Você honestamente
acha que vai conseguir capturar Shane, e que ele vai voltar a trabalhar
para você? Que ele vai ser um soldado supremo fazendo seu trabalho
sujo?” A Dra. Madison realmente não conhecia Shane.
O sorriso dela se alargou. “É claro. Agora que temos você, Shane
vai fazer o que eu quiser. E seus irmãos vão fazer o mesmo.” Ela
fungou. “Eles sempre tiveram uma lealdade quase antinatural uns pelos
outros desde o nascimento.” Sua exalação perfumou o carro com
hortelã. “Eu me pergunto se é algo que fizemos com a engenharia
genética.”
Josie sacudiu a cabeça, tentando ignorar a dor pulsando em suas
omoplatas da estranha posição. “O mais provável é um instinto de
sobrevivência. Para sobreviver à sua infância e de ser criado por uma
completa porca louca como você.”
“Teoria interessante.” Madison apertou os lábios, linhas vincando
sua testa quando ela franziu o cenho. “Embora o comandante
mantivesse a morte sobre suas cabeças. Eu apenas os estudava.
Mantinha-os através de testes e assim por diante.” Ela se virou, o olhar
vagando sobre o rosto de Josie. “Então, quem está com Shane? Deve ter
um dos irmãos por perto. Perto o suficiente para pedir ajuda.”
Apenas Matt. Nathan tinha partido para uma nova atribuição.
Poderiam Matt e Shane vencer o comandante e seus soldados? Josie
arqueou uma sobrancelha. “Shane não precisa de ajuda, e você sabe
disso. Que tipo de armadilha faz você achar que vai funcionar, afinal?”
Tinha que haver alguma maneira de enviar uma mensagem para o
marido. Para avisá-lo.
Tom mudou de faixa, permitindo que uma Ferrari amarela quente
o ultrapassasse à esquerda. “Vamos apenas dizer que a armadilha
envolve o gás asfixiante que derrubaria um stegosaurus 19. Antes que seu
garoto perceba, ele vai estar nas novas instalações trabalhando para
atrair seus irmãos de volta.”
Que tipo de gás? Shane tinha acabado de se recuperar de uma
concussão e cirurgia — e nem sequer tinha recuperado toda a sua
memória ainda. Josie tinha que sair dali e avisá-lo. Como as pessoas
saíam de algemas, afinal? Quanto mais ela puxava, mais duramente o
metal frio cavava em seus pulsos. Eles já estavam em carne viva.
Sangue escorria, revestindo o metal. Bile subiu em sua garganta, e ela
engoliu o gosto horrível de volta para baixo.
Tom sinalizou e pegou a rampa de acesso para a Miller’s Strip.
Josie endureceu. “Nós estamos indo para o aeroporto?” Miller era
um pequeno aeroporto privado para os super ricos. Ela já tinha pegado
clientes ricos lá antes. Se ela saísse de Snowville, Shane poderia nunca
encontrá-la. Pânico ameaçou cortar seu fôlego.
“Sim. Para o aeroporto.” Tom manobrou o veículo em torno de um
reboque de cavalo e seguiu pela estrada tranquila vários quilômetros até
parar ao lado de um grande hangar de paredes de metal.
Josie olhou pela janela. A área ao redor do edifício permanecia
calmo e vazio no anoitecer. Nuvens rolavam pelo céu, o vento

19
O estegossauro foi uma espécie de dinossauro herbívoro e quadrúpede que viveu no fim do período Jurássico principalmente
na América do Norte. Também foi encontrado um exemplar fossilizado em Portugal em 2006.
espalhando folhas soltas sobre a pista deserta. Ela estremeceu com o
quão sozinha ela se sentia.
Tom saltou do SUV e abriu a porta, soltando as algemas e
arrastando-a fora do carro. Um cenho franzido marcando seu rosto
bonito quando ele olhou para seus pulsos sangrentos. “Josie,” ele
suspirou. “O que você fez?”
Ela tentou puxar as mãos fora de seu alcance. “Eu faria qualquer
coisa para ficar longe de você, idiota.”
Ele sorriu. “Eu sempre gostei de sua coragem.”
Dois outros SUV Escalades pretos se aproximaram, parando em
cada lado do carro de Tom. Homens vestidos com uniformes pretos de
combate bateram as botas à-prova-de-bala no cimento quando saltaram,
metralhadoras na mão.
Tom olhou para um homem careca musculoso. “Proteja o
perímetro do hangar.”
“Sim, senhor.” O homem começou a latir ordens e apontar
posições para os soldados. Eles não pareciam reais. Nenhum deles
pareceu sequer notar Josie. Ela contou oito soldados armados, bem
como dois homens vestidos com camisas pólo e calças cáqui. Deviam ser
os pilotos.
Virando-se, Tom a arrastou através de uma pequena porta para
um grande hangar com dois jatos elegantes estacionados no meio.
Madison cortou seus saltos altos através do cimento impecável atrás
deles. O som agudo ecoando pelo vasto espaço. Os pilotos caminharam
silenciosamente em direção aos dois aviões, abrindo escotilhas e
começando a trabalhar.
Josie tropeçou para manter o ritmo com Tom, sua mente girando.
Como ela pôde não ter notado o vazio nele? Mesmo enquanto a
ameaçava, ele só parecia metade lá. Como se ele gostasse de atacá-la,
mas poderia tomar ou deixar a possibilidade. “Sabe, a maioria das
pessoas que torturam outras pessoas precisam fazê-lo. Como uma
compulsão.”
Tom a puxou para um escritório espaçoso, empurrando-a em uma
cadeira de couro almofadada. “Oh?” Ele alcançou atrás da cintura e
puxou uma arma grande e quadrada e a colocou sobre a mesa.
“Sim.” Josie se acomodou no assento. ela poderia entrar em sua
cabeça? “Eu acho que sim. Mas você, bem, você não parece realmente
se importar.” Ela baixou a voz. “O que eles fizeram com você?”
Seu sorriso gelou o ar. “Eles me criaram.” Ambas as mãos grandes
agarraram seus braços, e ele se inclinou, o rosto a centímetros do dela.
“E você está errada. A única vez que me sinto vivo é quando tenho
alguém gritando.” Calor queimou em seus olhos. Ele inalou, um rubor
escuro cruzando seu rosto plano. “Você cheira a suavidade e pureza.
Como nuvens.” Ele baixou o olhar de seus olhos para seus seios. “Algo
me diz que você vai ser uma gritadora.”
Havia medo. Porém, ela ergueu o queixo, esperando até que ele
voltasse a encontrar seu olhar. “Se Shane não te matar, eu vou.” Ela se
inclinou mais perto de seu rosto, satisfação a enchendo quando os olhos
dele se arregalaram apenas numa fração de surpresa. “Eu prometo que
você vai morrer,” ela sussurrou.
Seus dentes brilharam em uma paródia de sorriso enquanto ele se
empurrava longe da cadeira. “Eu adoro sua confiança.” Pegando a arma,
ele verificou o clipe.
Sua confiança? Sim, era falsa. Toda a situação era uma merda.
“Eu parei de ter medo de intimidações há muito tempo.” No jardim de
infância, quando ela tinha quebrado a cara de Jason Jones com sua
mochila. De alguma forma, ela duvidava que pudesse cuidar de Tom da
mesma maneira. O que não queria dizer que ela não pudesse tentar,
embora.
Madison entrou na sala com um refrigerante diet na mão. “O
comandante já deu notícias?”
“Não.” Tom revirou os ombros. “Eu deveria estar lá com ele.”
Josie lutou contra o desejo de esfregar os pulsos escorrendo.
“Então, Dra. Madison. Como Jory morreu?”
Madison sorriu, fechando os olhos para inalar. “Meu Jory.” Seus
olhos azuis se abriram e aqueceram. “Que menino inteligente e um
homem ainda mais inteligente.” Ela riu. “Ele era tão pequeno, e então
boom, um dia ele se transformou em um gigante. Com pés enormes.”
“Como ele morreu?” Josie olhou para o grande telefone na beirada
da mesa.
“Ele morreu porque se virou contra nós.” Madison formou seus
lábios em um amuo perfeito. “Ele se virou contra o comandante.” Ela
balançou a cabeça. “Terrível decisão.”
Fogo rasgou através de Josie. “Você o chama de comandante
quando o fode?” Foi um tiro no escuro, mas o instinto assumiu.
A língua de Madison saiu lamber os lábios brilhantes. “Bem,
querida, o comandante é que me fode.” Ela ergueu uma sobrancelha.
“Certamente você entende a diferença.” Outra risada escapou, e essa
rasgou os nervos de Josie como um ralador de queijo. “E, não, o nome
dele é Franklin.”
Tom arrancou, seu olhar voando para Madison.
Josie deixou um sorriso lento deslizar em seu rosto. “Não sabia
disso, não é?”
“Não.” Tom inclinou a cabeça para o lado. “Eu não sabia disso.”
Madison deu de ombros. “Temos sido bem próximos ao longo dos
anos.”
Josie bufou. “Eu sabia o nome dele. Shane me disse.” Ela cruzou
as pernas, pregando a inocente máscara de criança adotiva no rosto.
“Franklin.”
Tom rosnou. “Shane não sabe o nome dele. Nenhum de nós sabe
o nome dele.”
Ah, o babaca não tinha gostado disso, não é? Josie abriu os olhos
mais amplos. “Claro que Shane sabe. Ele me disse há muito tempo.” Ela
baixou a voz. “Talvez Franklin gostava dos irmãos Gray mais do que de
você, Tom. Quero dizer, eles eram seus favoritos, não eram?” Outro
puro palpite, mas que inferno.
Tom se afastou da mesa.
A mão pálida da Dra. Madison no braço dele parou seu
movimento. Ela virou seu foco para Josie. “Ela é uma pequena
manipuladora, não é?”
Josie se recusou a recuar sob o olhar duro. “Assim como sua filha,
então?”
Madison sorriu. “Sim. Embora Audrey tenha um QI de gênio.” O
cabelo escuro brilhante voou quando ela balançou a cabeça. “Ao
contrário de você.”
“Ela era inteligente o suficiente para fazer com que Nathan se
apaixonasse por ela — e não por você.” Josie deixou um filtro de
suavidade calculada em sua voz.
Madison riu novamente. “Essas suas tentativas de cavar em minha
cabeça... Eu amo. Oh, eu gostaria de poder te visto trabalhar em Shane
— aposto que você teve meu menino tão enroscado que ele não
conseguia encontrar seu caminho livre.”
No entanto, ele tinha agora, não tinha? Além disso, ela nunca
tinha tentado manipular Shane. Ela o amava, e tinha lhe dado sua
confiança, junto com seu amor. Josie olhou para a parede cheia de
janelas atrás dela. Os jatos cintilantes esperavam, silenciosos e
vigilantes no grande espaço. “Eu achei que você teria mais soldados
aqui.”
“Os soldados estão todos esperando por seu marido,” Madison
disse, então seu telefone tocou. Ela o pressionou contra o ouvido, saindo
do escritório e fora do alcance da voz.
Tom seguiu a médica com calor em seu olhar. “O comandante vai
trazer Shane e quem estiver com ele para o avião, e depois nós vamos
dar o fora dessa cidade insignificante.” Ele voltou seu foco para Josie.
“Não que eu não tenha gostado de jogar de o-trabalhador-sem-sorte.” O
sorriso de gato Cheshire não tinha nada a ver com o sorriso de Tom.
Ela revirou os olhos. “Você é um idiota.” A arma esperava, pesada
e segura, na grande mesa. Talvez ela devesse enfrentar Tom, então
simplesmente abaixar a cabeça e apontar para seu intestino.
Ele balançou a cabeça, pegou a arma, e a enfiou na parte inferior
das costas. “Não vai acontecer, Josie.”
Era o que ele achava. Ela flexionou os dedos. Seus pulsos quase
berraram de dor. “Então, como isso funciona? Quero dizer, vocês não
têm que apresentar planos de voo e tudo mais?” Não que eles não
tivessem o apoio do governo de qualquer maneira.
“Não.” Tom olhou no relógio. “Este é um aeroporto pequeno. Nós
podemos acender as luzes nós mesmos, e contanto que parecemos estar
voando pelo visual, nós apenas decolamos. Perfeitamente legal e
aceitável.” Ele focalizou nela, deslizando o olhar por suas pernas. “Talvez
devêssemos pensar em algo interessante para passar o tempo.”
Mas que imbecil. “Você é um idiota.”
O rosto dele escureceu com um propósito que a gelou
completamente.
Madison clicou seus saltos altos dentro da sala, uma carranca
enrugando sua pele impecável. “Nós temos um problema.”
Tom endireitou. “Qual é o problema?”
Madison olhou para Josie. “Shane não apareceu. Nem sequer um
palpite dele.” Ela mordeu o lábio. “Talvez tenhamos superestimado seus
sentimentos por ela.”
Josie permitiu que um pequeno sorriso curvasse os cantos de seus
lábios. Adrenalina rasgando através de seu sangue. “Talvez você tenha
subestimado Shane.” Oh, sim. Esperança a encheu. Seu marido estava
chegando.

Capítulo 31

Shane atirou um cotovelo no intestino de Nathan, impedindo seu


avanço. “Volte para a porra do caminhão e espere por mim lá.”
Nathan mergulhou um ombro e bateu o músculo sólido no braço
de Shane. “Não.” Com movimentos suaves, ele abriu a porta da
delegacia. Ele tinha descartado o colete à prova de balas, mas em sua
camisa escura e calças cargo, ele ainda parecia mais um soldado do que
um advogado. “Detective Malloy já me conheceu, e não há nenhuma
razão para fazer isso por si mesmo. Sozinho.”
Um flashback das instalações militares bateu entre os olhos de
Shane. “Nunca sozinho.”
“Nunca sozinho.” Nathan repetiu o mantra que eles tinham
inventado quando crianças assustadas.
Shane seguiu seu irmão na delegacia, as botas batendo em
uníssono sobre o piso de madeira brilhante. Eles deveriam ter trocado
para roupas mais casuais, mas não havia tempo. “Pedir ajuda ao policial
pode seriamente sair pela culatra.”
“Sim.” Nathan estampou um sorriso encantador para uma jovem
loira atrás do vidro à prova de balas. “Olá, querida. Estamos aqui para
ver o detetive Malloy.”
A mulher corou, seus belos olhos brilhando quando ela pegou um
telefone. Mesmo através do vidro, o som de sua respiração acelerada
forçou Shane a morder de volta um sorriso.
Segundos depois Malloy abriu a porta. Ele avaliou Nathan, e
depois Shane com olhos astutos, embora cansados. Seus batimentos
cardíacos permaneceram estáveis e tranquilos. “O que diabos está
acontecendo, senhores?”
Shane girou, meio que protegendo seu irmão. “Nós precisamos
conversar. A sós.”
Malloy inclinou a cabeça. “Você ou seu... Advogado... Está
armado?”
“Não.” Uma faca na bota não contava. Tanto ele quanto Nathan
tinham deixado todas as armas no caminhão.
Malloy assentiu, recuando e segurando a porta aberta. Ele os
levou para a sala de conferência onde Shane tinha sido entrevistado pela
primeira vez. Sentando-se, o detetive olhou para Nathan. “Se você é um
advogado, eu sou a porra de uma dançarina de balé.”
Shane inclinou sobre a mesa, as duas mãos planas. “Ele é meu
irmão. Minha esposa foi levada por um grupo militar que você nunca
ouviu falar, e se não salvá-la, ela vai morrer.”
Malloy arqueou uma sobrancelha. “É mesmo? Ela é provavelmente
está mais segura sem você.”
“Não. Eles vão matá-la.”
“Então por que diabos você está aqui e não vai atrás dela?” A
expressão de Malloy não demostrava nada.
Shane empurrou o pânico para baixo. “Precisamos que você puxe
as novas câmeras de trânsito por toda a cidade para que possamos ver
onde ela está.”
Malloy franziu o cenho. “Como é que é?”
“Identificamos sua localização há pouco tempo. É uma armadilha,
é claro. Precisamos ver para onde eles a levaram depois que nos
permitiram rastrear uma chamada de telefone celular.” Shane tentou
evitar agarrar o detetive pelo pescoço e sacudi-lo. O tempo estava se
esgotando para Josie. Quem sabia o que o comandante faria com ela?
Shane puxou o celular do bolso e repassou a conversa gravada com o
comandante.
Malloy empalideceu. “Eu a vi ir com Marsh. Nem sequer pensei em
detê-la.”
“Então, isso é culpa sua, também.” Shane não tinha nenhum
problema em usar a culpa com Malloy. Isso seria um tiro certeiro no
policial.
O detetive engatou um fôlego. “Por que diabos eu deveria confiar
em você? Você não fez nada além de mentir para mim desde o primeiro
dia.”
“Instintos.” Nathan falou baixo e calmo. Uma sugestão de
desespero estragando seu encanto. “Você os tem. Eu posso ver. Embora
você possa não gostar do que está acontecendo aqui, você acredita na
gente. Agora, por favor, nos ajude.”
Shane subiu para sua altura máxima. Se Malloy recusasse, ele iria
verificar as câmaras de tráfego assim mesmo.

*****

Shane torceu o fone em seu ouvido, seus batimentos cardíacos


abrandando, enquanto sua mente se focava. Ele estava deitado de
bruços no asfalto de cascalhos, suas roupas escuras se misturando com
a noite. Dor ecoou através de seu intestino de sua cirurgia. O cheiro de
sálvia se misturando com as huckleberry 20 selvagens contornando a
floresta e enchendo o ar. “Você acha que Malloy estará seguro com
Nate?”
“Claro. Pare de se preocupar com Malloy. Policiais são
sequestrados por homens armados o tempo todo.”
“Engraçadinho.” Matt era um idiota.
“Eu sei.” Deitado ao seu lado, Matt assentou os óculos de alcance-
noturno nos olhos, focalizando o outro lado do asfalto. O vento levantou
seu cabelo. “Além disso, eu chequei o policial. Experiência de combate.
Ele pode ser útil.”
Malloy tinha surpreendido o inferno fora de Shane, levando-os
direto para as câmaras.
Usando as gravações das câmaras de tráfego, Malloy tinha zerado
na última localização conhecida de Josie, rolando a gravação de volta até
que dois SUVs foram vistos saindo da área. Indo direto para o
aeroporto. Uma vez encontrada, Shane tinha pressionado a arma contra
o lado de Malloy até que todos eles tinham saído calma e serenamente
para o caminhão. Malloy tinha até conversado com dois policiais
uniformizados no caminho. Se Shane não soubesse melhor, ele pensaria
que o detetive queria vir na missão.
20
Uma baga pequena e redonda, azul-preta comestível relacionada ao mirtilo.
Pelo menos agora, nenhum outro policial apareceria — bem, até
que o inferno desabasse.
Nate e Malloy rastejaram no lugar ao lado deles.
Shane olhou para Malloy. “Espero que isso não acabe com sua
carreira.”
O policial deu de ombros. “Eu sou um policial treinado para salvar
a vítima — Josie precisa ser salva. Se acabar com minha carreira, eu não
quero mais saber disso.” Ele sorriu. “Além do mais, não me importe de
ter você me devendo uma.”
Nate bateu nas costas do policial. “Pronto?”
Malloy assentiu. “Em seu sinal.”
“Agora.” Nate rolou fora de vista e se dirigiu ao redor do edifício, o
policial rapidamente o seguindo.
Matt ajustou os óculos com um dedo e pressionou um fone no
ouvido. “Nathan, prepare os dispositivos.”
Shane piscou de volta para outra missão em um pequeno
aeroporto, em algum lugar do Oriente Médio. Imagens terríveis
disparando através de seu cérebro. Ele sacudiu a cabeça para limpá-la;
agora não era o momento.
“Você está bem?” Matt sussurrou. “Você não começou a sangrar
de novo, não é?”
“Não. Eu estou bem.” Esses bastardos tinham pegado sua esposa.
De jeito nenhum ele ficaria de fora. Ele pegou um escudo de sensor-
térmico da bolsa, focando no edifício de metal. “Dois guardas dentro da
porta, dois trabalhando dentro dos aviões, e três pessoas em uma sala
ao lado.” Sua esposa. Provavelmente com Tom e a Dra. Madison. Um
calafrio cortou em seu intestino, e ele descartou qualquer emoção. Foco
frio ganharia o dia, e ele era um bastardo frio.
“Eles estão nos esperando do outro lado da cidade.” Satisfação
revestia a voz de Matt.
“Você tem sido melhor do que o comandante há anos.” Shane
balançou a cabeça. Se não, eles nunca teriam escapado.
“Eu sei.” Matt rolou de pé. “Embora ele vai descobrir nosso plano
logo. Precisamos dar o fora daqui.”
Shane saltou para cima. “Vamos fazer isso, então.”
“Shane, a Dra. Madison é minha.” Um tom de advertência que
Shane nunca tinha ouvido antes cobria a voz profunda de Matt. “Você
salva sua esposa.”
Shane mordeu de volta uma resposta afiada. Seu irmão era o
protetor supremo, tinha sido desde o nascimento de Shane. Matt
ensinara a todos eles, e os treinara até que eles o odiasse. Mas ele tinha
sido o primeiro a atravessar qualquer porta e estivera na frente de
Shane e uma bala mais de uma vez. Shane suspirou. “Você não
consegue matar uma mulher, Matt.” Embora ele se perguntasse. Teria
Matt sido mais próximo da médica lunática do que ele sabia?
“Ela não é uma mulher. Ela é um monstro.” Matt ergueu sua
Beretta e bateu no fone de ouvido. “Em seu sinal, Nate.”
O vento soprou e espalhou folhas sobre as botas de Shane. Ele
preparou sua posição, a Glock armada e pronta.
“Fogo no buraco,” Nathan disse através do fone.
Dois segundos depois, o rugido de uma explosão dividiu o silêncio
em fragmentos. Fogo rolou pelo céu, levantando a porta metálica do
hangar. Calor flamejou pelo ar, e eles correram em direção a chama.
O som do fogo cortando através do oxigênio levou Shane para
outro momento. Sua audição embaçou. Seu intestino rodou. Não. Frieza.
Ele precisava se concentrar. Uma brasa chamuscou seu pescoço. Dor
rasgou através de sua pele. Ele engoliu, permitindo que as vibrações o
centralizasse. Nada como a dor para aguçar a realidade presente.
Um soldado correu ao redor do edifício, disparando um Colt M16
totalmente automática. Shane caiu de uma corrida em um escorregão
que teria deixado Ty Cobb21 orgulhoso, pegando o soldado na altura dos
tornozelos. O homem caiu para frente. Shane apontou para sua jugular
e puxou o gatilho, rolando para o lado e se levantando. O soldado
estava morto antes de bater no chão.
21
Apelidado como ‘The Georgia Peach’, foi um jogador americano de beisebol da MLB.
Ele saltou através do buraco aberto logo atrás de Matt. Metal
queimado perfumava o ar, enquanto a fumaça criava uma névoa sobre
sua visão. O zumbido dos motores de jato se destacaram através dos
ruídos. A aeronave deslizou pela porta aberta do hangar. Ele vislumbrou
cabelos escuros em uma janela lateral. A Dra. Madison virou o rosto, um
sorriso curvando seus lábios. Unhas vermelhas brilharam quando ela
acenou. O som estalado dela apertando os lábios e lhe enviando um
beijo encheu seus ouvidos, mesmo através do metal e vidro.
Raiva rasgou através dele. Ele correu em direção ao jato. Josie
estaria lá? Parando, confiando em seus irmãos para proteger suas
costas, ele fechou os olhos e escutou. Corações batiam ao redor dele,
bombeando rapidamente sangue e adrenalina. Um tamborilar suave
chamou sua atenção... Uma pulsação bem conhecida. Josie.
Graças a Deus por sua super audição.
Ele girou, correndo para o outro lado do ruído do Falcon jet 22.
Josie lutava com Tom, que a golpeou na cabeça e a jogou na escotilha
aberta.
Shane se preparou para saltar para frente. Um soldado bateu um
cano de arma em seu pescoço. “Não se mova.”

22
A Dassault Falcon é uma família de jatos executivos fabricados pela Dassault Aviation.
A arma arrancou longe de Shane, junto com o corpo do soldado
quando Matt o derrubou. O som de ossos batendo contra o concreto
cobriu o som do fogo. Então o fogo rugiu mais alto.
Ele tinha que chegar até Josie. Ela estava ferida? O Falcon
avançou em direção à abertura. Shane saltou para frente, entrando em
uma corrida. Calor chicoteou ao redor dele. Tom sorriu, puxando as
escadas. O motor acelerou mais alto.
Dois soldados imediatamente correram ao redor do avião em
direção a ele.
Rápido como um chicote, Malloy apareceu pelo lado e disparou no
primeiro cara, derrubando-o. Nate atirou no segundo.
Shane deu um curto aceno para Malloy, que assentiu de volta.
Sim, ele devia ao policial por isso.
Alcançando o avião, ele estendeu a mão, puxando a escada. Tom
disparou um chute em seu rosto, e ele se esquivou para o lado. Então
ele mergulhou no avião, aterrissando no tapete felpudo e balançando as
pernas em um círculo.
Tom saltou para trás, alavancando uma pistola M9 entre os olhos
de Shane. Recuando mais um passo para o corredor estreito, Tom fez
um gesto para ele se levantar.
Shane rolou de pé, o olhar fixo numa Josie pálida, que estava
sentada atrás de Tom em um assento marrom almofadado. Seus olhos
azuis se arregalaram. Ela começou a se levantar, olhando para a arma.
Shane deu um leve aceno de cabeça, e ela se sentou novamente.
Os ombros dela tremeram, e Shane sentiu uma fúria que ele
nunca tinha imaginado. Como eles ousavam mexer com sua esposa? Ele
deslocou os ombros, inclinando o corpo para que Tom não pudesse
empurrá-lo para fora do avião. O jato acelerou, rolando em direção à
pista aberta. Ele forçou um sorriso sarcástico no rosto. “Por que você
não larga a arma e luta comigo como um homem? Quero dizer, você é
um pouco treinado, certo?”
Tom devolveu o sorriso. E disparou.
Josie gritou.
Dor explodiu no peito de Shane. A bala o jogou contra a porta da
cabine. Cada costela vibrou como se arrancada, e ele realmente pôde
sentir seus pontos se separando. Ele deslizou para o chão e parou em
um agachamento. “Seu imbecil.” O idiota tinha propositadamente
apontado para o colete à prova de balas. “Não pode me enfrentar em
plena força, huh?”
Tom deu de ombros, colocando a arma na parte de trás da
cintura.
O jato girou, aumentando a velocidade para rolar pela pista,
arbustos piscando lá fora. Josie soltou um grito e pulou para Tom. Ele
girou, empurrando-a para cima no ar e sobre duas filas de assentos. Ela
bateu entre os bancos e caiu para o chão com um baque surdo.
Fúria rugiu através do corpo de Shane com um calor que
combinava com o fogo que eles tinham acabado de deixar. Ele rosnou e
se lançou para enfrentar Tom. Seus ombros eram muito largos para o
corredor estreito e batiam contra os braços das cadeiras quando os
homens caíram. O bastardo atirou um cotovelo em seu rosto. Sangue
espirrou, mas ele segurou Tom.
O golpe em seu rosto sobrepôs toda a outra dor. Ele deslizou para
o estado de soldado, o lugar em que eles o tinham forçado a entrar
tantos anos atrás. Dor fluiu para longe. Consciência desapareceu. Toda a
emoção, todo o pensamento... Se dissipou. Puro instinto assumiu. Ele
apertou, alavancando o antebraço contra a garganta de Tom.
O avião inclinou, subindo para a noite escura. Tom aproveitou a
mudança, batendo as mãos contra as orelhas de Shane. Alavancando o
joelho para cima, ele bateu contra sua barriga sangrando. Outra costela
estalou.
Shane respirou fundo, afrouxando seu aperto. Embora ele pudesse
manter a dor à distância, seu corpo ainda assim reagia ao dano. Tom
lutou pela posição, e então o jogou sobre sua cabeça.
Rolando, Shane ofegou por ar, agarrando o braço da cadeira mais
próxima para lutar para ficar de pé. O vento assobiava fora da escotilha
ainda aberta. Atrás de Tom. Fora de sua visão periférica, Shane viu sua
esposa se arrastar no assento. “Você está bem?”
“Eu estou bem,” ela sussurrou. Um hematoma escuro já tinha
começado a se formar sob seu olho direito. Só por isso, Tom ia morrer.
Engrenagens guincharam quando as rodas foram dobradas para
dentro do avião. Shane assentou sua postura enquanto o avião subia em
plena inclinação, virando de um lado para o outro conforme o piloto
lutava por controle com a escotilha aberta. Ar correu para fora, sugando
papéis do balcão perto da porta. O ar frio da noite filtrando através da
pequena cabine.
Tom puxou a arma. Shane saltou para frente, batendo sua mão
armada contra a parede e enganchando o braço através do dele. Então
ele deu um passo, torceu o braço e puxou para trás, varrendo o joelho
de Tom ao mesmo tempo. O estalo do braço de Tom precedeu o baque
estrondoso dos homens batendo no assoalho, Shane nas costas de Tom.
Que berrou de dor.
O avião pendeu para o lado.
Josie gritou, batendo contra a janela antes de agarrar o encosto
de cabeça à sua frente com as mãos de dedos brancos.
Tom fez um rugido furioso, chutando Shane nas costas e o
desalojando. Os dois homens se levantaram. Shane limpou o sangue dos
olhos, forçando a dor ainda mais fundo. Que estava se tornando mais
persistente.
O avião se estabilizou, a escotilha aberta um buraco de sentença.
Uma garantia de que alguém iria mergulhar por ele antes que o voo
terminasse.
Tom agarrou o braço quebrado, raiva gravada nas linhas de seu
rosto.
Shane sorriu. O cara não tinha a marca especial de treinamento de
Matt para deixar toda essa emoção se mostrar. Bom. “Pronto para
morrer?”
A porta da cabine se abriu atrás de Tom, e o piloto saiu, uma
nove-milímetros apontada para Shane. “Feche a escotilha.”
Josie ofegou. “Quem está pilotando o avião?” O vento assobiou
uma trombeta sinistra pela entrada aberta.
O piloto sorriu com dentes tortos amarelados. Uma luz estranha
brilhava de seus olhos, suas pupilas completamente dilatadas. O cara
estava drogado? “Piloto automático.” Ele levantou o braço, apontou para
Shane, e disparou.
Shane saltou na frente de Josie, forçando-a para o chão. A bala
rasgou o revestimento de madeira na parte traseira da aeronave. Um
metal de cor parda chamou sua atenção. Em um movimento fluido, ele
agarrou a arma caída de Tom, deslizou para o corredor em seus joelhos,
e disparou contra o piloto.
Tom se esquivou para o lado.
A bala atingiu entre os olhos do piloto. Material cinzento salpicou a
porta da cabine. Sangue espirrou por toda a primeira fileira de assentos.
O piloto caiu no chão, a arma batendo no assoalho.
Tom pegou a arma, mas Shane saltou para frente, e pressionou o
pé contra sua mão. Com força. “Isso não é bom, Tommy.” Se ele
deixasse Tom vivo, o homem simplesmente continuaria vindo atrás
deles, junto com o comandante. Hora de acabar com isso — para
sempre.
Tom deslizou até que suas costas descansaram contra a parede
mais distante, sangue escorrendo por seu rosto, o braço quebrado
pendendo inutilmente para o lado. Fúria iluminava seus olhos castanhos.
Ódio franzia seus lábios.
Memórias. Flashes de luz atravessaram a cabeça de Shane como
facas afiadas. Dor se seguiu até que ele tinha certeza de seus ouvidos
sangravam. Ele não conseguia bloqueá-la. Como um milhão de câmeras
de paparazzi piscando ao mesmo tempo, a visão e os sons cresceram
ensurdecedores.
Jory.
Seu irmão, tiro no peito, caindo no chão. Olhos abertos.
As memórias de Shane se derramaram como concreto espesso.
Encoberto. Ele tinha encontrado o vídeo, e tinha assistido. Lágrimas o
havia sufocado com fúria. Mas, então, quase dois anos em sua missão,
ele tinha encontrado o segundo vídeo. Aquele em que Jory piscava
depois de ser baleado. Talvez. Talvez tivesse sido um truque de luz — o
ângulo da câmera. Mas... Talvez tivesse sido mesmo um piscar de olhos.
Shane engasgou, quase se curvando com a memória.
Um movimento soou. Josie gritou. Shane se virou instintivamente
em direção ao som, o movimento salvando sua vida.
Tom o atacou, dirigindo a cabeça em seu estômago. Shane bateu
no balcão a centímetros da escotilha aberta. O avião saltou, e depois
inclinou para a esquerda. Eles estavam caindo.
Shane girou, varrendo a perna debaixo de Tom. E empurrou.
Tom voou para fora da escotilha e na noite escura, seu grito
ecoando atrás deles até desaparecer no silêncio.
Com um grunhido puto, ele se inclinou e puxou a escada para
dentro antes de deslizar a escotilha fechada. Seus ouvidos zumbindo no
silêncio repentino.
Josie se levantou do assento, correndo em sua direção. Ele a
agarrou e a puxou o mais perto possível. O cheiro de frutos silvestres
enchendo seu nariz. “Está tudo bem, Josie. Estamos a salvo.”
Ela ergueu o rosto para ele, lágrimas enchendo seus olhos. “Diga-
me que você sabe como pilotar um avião.”
Ele sorriu, levantando-a sobre o cadáver do piloto para se sentar
na cabine. Acomodando seu corpanzil no assento do piloto, ele agarrou
a alavanca e endireitou o avião. “É claro, querida. Aprendi a voar
quando tinha doze anos.”
“Onde estamos indo?”
“Casa.”
Ela gostasse ou não.

Capítulo 32

O chilrear pacífico dos pássaros encheu as primeiras horas de uma


manhã em Montana. Shane mordeu de volta um estremecimento
quando Nathan terminou de fixar suas costelas. “Você tem a delicadeza
de um buldogue.”
Nate deu um passo atrás, uma carranca no rosto. “Nenhum
treinamento por uma semana porque eu não vou te costurar de novo.”
Ele olhou para a porta quando Matt entrou, batendo as botas na varanda
primeiro.
Matt inclinou a cabeça em direção a Shane. “Ele está bem?”
“Sim.” Nate atirou as bandagens ensanguentadas no lixo. “Você
desmantelou o avião?”
“Bastante. Vamos usá-lo para peças... Não podem ser rastreados.”
Matt abriu a porta da geladeira e pegou uma cerveja, bebendo-a em três
goladas.
Shane se deslocou na cadeira de madeira, os cotovelos apoiados
na mesa redonda. Provavelmente havia uma forma suave de dizer o que
ele precisava dizer, mas ele não conseguia encontrá-la em sua cabeça.
Matt pegou outra cerveja, batendo a porta. “Não posso acreditar
que perdemos o comandante.” Ele caiu em uma cadeira em frente a
Shane. “Embora eu tenho certeza de que o veremos novamente em
breve.” Ele fixou o olhar em suas ataduras. “Onde está sua esposa?”
“Banho.” Shane olhou para o longo corredor. Eles tinham chegado
na fazenda trinta minutos atrás, e ela tinha ido direto para a água
quente. “Diga-me novamente sobre a segurança no rancho.”
Nate assentiu. “Perímetro completo. Sensores, câmeras, até
mesmo armadilhas que eu posso ativar a partir daqui.” Ele se inclinou
contra o balcão. “A sala de controle é lá embaixo e tem túneis que levam
a quilômetros de distância, caso precisemos escapar. Tenho um
helicóptero e três rotas terrestres, mesmo sem os túneis.”
Impressionante. Shane assentiu. “Alguém sabe onde você está?”
“Não.” Nathan se inclinou para trás e pegou uma Guinness da
geladeira. “Temos gerentes de escritório em Nova York e Chicago que
reportam para mim, mas eles não sabem onde nossa sede está
localizada. Ninguém jamais imaginaria Rebel, Montana.” Ele tomou uma
golada e depois assentou a garrafa sobre a mesa. “Você e sua esposa
estão se mudando, Shane?”
“Temporariamente. Então eu vou encontrá-la em um lugar
seguro.”
“Não. Se você está se tornando sua família, então ela é minha
família, também.” Os olhos de Nate escureceram.
“Nunca sozinho,” Matt disse calmamente.
Alívio e uma sensação de casa lavou através dele. “Eu, ah —”
“Você é bem-vindo,” seus irmãos disseram calmamente e em
uníssono.
Nate suspirou. “Espero que saiba o que está fazendo.”
Ele sabia. E ele também sabia, sem dúvidas, que seu irmão
protegeria Josie com sua vida se ele estivesse fora em uma missão.
Nathan esticou os braços. “Chega de emoção — se não daqui a
pouco vamos acabar nos abraçando e falando sobre nossos sentimentos.
Estive monitorando todas as linhas... Nenhum registro da explosão ou
qualquer pessoa caindo de um avião.”
Shane assobiou um suspiro. Malditos conspiradores do governo.
Ele até mesmo tinha deixado o corpo do piloto morto perto do local da
explosão quando tinha ido buscar seus irmãos. Aparentemente, o
comandante tinha ganhado alguma influência séria. “Eu conversei com
Malloy. Ele inventou alguma história sobre uma ponta anônima que ele
teve do aeroporto... E aí encontrou o fogo e os corpos.”
“O policial está nos protegendo?” Matt perguntou, ambas as
sobrancelhas erguidas.
“Sim.” Shane estendeu as mãos. “Malloy é um bom sujeito — e ele
quer que Josie fique segura. Nós somos os únicos que podem garantir
isso.”
Matt olhou para Shane. “Bem?”
“Bem o quê?” Ele lutou contra a vontade de mudar seu peso sob o
olhar atento de seu irmão mais velho.
“Diga o que você não consegue descobrir como dizer.” Matt tomou
outro gole de cerveja.
“Eu acho que talvez Jory esteja vivo.”
O mundo congelou. Ou talvez apenas seus irmãos tivessem parado
de se mover. Parado de respirar.
“O que você disse?” Apenas os lábios de Nate se moveram. Seu
corpo permaneceu imóvel, pronto para atacar.
Shane olhou para cada um de seus irmãos, por sua vez. “Eu disse
que talvez Jory esteja vivo. Ou melhor, talvez ele não tenha morrido por
aqueles ferimentos de bala.” Se seu irmão ainda estivesse vivo, porque
ele não tinha entrado em contato com eles? “Eu vi um segundo vídeo.
Ele pode ter piscado.” Ou era um truque da iluminação.
“Jesus.” Nathan desmoronou em uma cadeira vazia. “Pode ter?
Shane, você está sonhando aqui. Eu entendo, mas você está sonhando.”
A expressão de Matt não se alterou. Pedra pura. Mas aqueles
olhos. Escuros, perigosos, rodavam com emoção suficiente para fazer
um som. “Diga-me que você tem certeza.”
“Eu não tenho certeza.” Shane quadrou sua mandíbula. “Havia um
segundo vídeo, e ele pode ter piscado. Foi por isso que eu quebrei a
cobertura e fui para Seattle. Para vê-lo — ver se algum de seus contatos
poderia conseguir uma melhor imagem do vídeo.” O vídeo que tinha
desaparecido junto com suas memórias — provavelmente no rio.
“O que aconteceu depois que ele piscou?” Matt perguntou.
Shane se concentrou na memória. O ângulo da câmera tinha
estado em direção ao chão, onde Jory tinha caído. “Um par de sapatos,
saltos altos, cruzou na frente da câmera. Mãos femininas agarraram
seus ombros.” Dúvida encheu Shane conforme as memórias caíam de
volta. Ele poderia estar dando a seus irmãos falsas esperanças. “Então o
vídeo ficou branco.”
“Dra. Madison?” Nathan sibilou.
“Eu não sei.” Muitas mulheres usavam sapatos de salto alto. Deus
ajudasse Jory se tivesse sido a médica psicótica.
“Onde está o vídeo?” Ty perguntou.
“Eu não sei,” ele repetiu. “Embora as chances sejam de que eu a
deixei na casa em que eu estava vigiando Josie.”
Matt saltou de pé. “Precisamos revistar esta casa e entrar na sala
de provas da polícia para encontrá-la. Provavelmente está em algum tipo
de flash drive.” Ele olhou para o torso golpeado de Shane. “Bom
trabalho, Shane.”
Shane deu de ombros. “Eu gostaria de poder dizer com certeza.
Nathan está certo. Talvez eu esteja sonhando.” Mas ele moveria o
inferno para descobrir a verdade. “Eu parei para pegar Josie no caminho
para Seattle, encontrei os grampos, e achei que seria melhor ficar lá
para ver se o comandante a havia encontrado — esperando que eu o
encontrasse.” E ter algumas respostas sobre Jory.
Matt assentiu. “Sim, eu entendi. Shane, fique aqui e monitore as
linhas por qualquer informação sobre a explosão em Washington,
enquanto deixa sua esposa estabelecida. Nate vai voltar para Snowville
para encontrar o flash drive.”
Nathan se levantou. “Eu coloquei as coordenadas do Texas em seu
telefone para sua próxima missão.”
“Obrigada.” Matt derramou o resto de sua cerveja no ralo da pia.
Então se virou e saiu da casa.
Shane franziu o cenho. “O que tem no Texas?”
Nathan suspirou. “Esperançosamente mais informações sobre o
comandante e seu financiamento.” Ele pousou a cerveja e olhou para a
porta. “Vou falar com Mattie antes que ele parta.”
Shane se esticou de pé, tomando cuidado com as ataduras ao
redor de seu torso. Passadas longas o tiveram empurrando a pesada
porta de carvalho para o quarto de hóspedes. Josie estava sentada na
cama vestida com um conjunto de moletom, o cabelo molhado
esparramado ao redor de seu rosto. Frágil e suave, ela ocupava um
pequeno espaço na cama enorme.
Seu coração martelou. Forte. “Você está bem?”
Ela arqueou uma sobrancelha. “Claro. Não sou eu quem está
coberta de ataduras.”
Ele sorriu, chutando a porta atrás dele. Passos determinados o
levaram para a cama. “Bem.”
“Bem.” Seu cheiro inebriante de frutos silvestres encheu o quarto,
encheu seu coração. “Hum. Obrigada por minhas roupas. Por pedir a
Matt para pegá-las.”
“Certo. Vamos descansar esta semana. Na verdade, nós vamos
conseguir todos os seus pertences para você.” Ele enfiou as mãos nos
bolsos do jeans para não alcançá-la. Eles precisavam conversar.
“Primeiro, eu acabei de ouvi sobre Malloy, e ele inventou uma explicação
muito criativa de por que estava no aeroporto. Mas ficou calado sobre
porque havia cadáveres por lá. Apenas afirmou que ele pegou só o final
da luta.”
Alívio lavou por seu lindo rosto. “Fico feliz. Ele queria me ajudar.”
“Ele ajudou a todos nós. Nós definitivamente devemos ao detetive
Malloy um favor ou dois.” Shane limpou a garganta. “Segundo, eu não
quero mentir para você.” Tinha que haver uma maneira tranquila de
fazê-la ficar. Mas todo o treinamento, toda a manipulação voava pela
janela quando ele lidava com ela. Ela merecia a verdade.
“Esta seria uma boa mudança.” Uma pequena covinha apareceu
no canto de sua boca. O hematoma cru em seu rosto o fez esperar que
Tom tivesse desembarcado em uma estaca.
“Você me ama?” Ele precisava saber. Ele precisava ouvi-la dizer as
palavras.
Os olhos dela escureceram para quase roxos. “Eu te amo.” Ela
puxou um fio solto no edredom. “Eu sempre amei.”
“Você é a única mulher que eu já amei.” Ele não podia viver sem
ela. Não queria. “Eu sou egoísta, Josie. A vida é dura, e eu não quero
lutar contra tudo isso sem você.” Faíscas cintilaram em seus olhos
deslumbrantes, e ele lutou contra um sorriso. “Porque eu te amo.
Porque eu preciso de você comigo. Quando eu parei em sua casa a
caminho de Seattle, eu ia te pedir outra chance. Pedir que você viesse
comigo para conhecer Matt.” E, claro, ele tinha encontrado os grampos
em sua casa em vez disso.
Ele descansou um joelho na cama. Se ele tivesse que levá-la nua
para ouvi-lo, ele o faria. “Eu poderia mentir e dizer que você precisa ficar
aqui por segurança.” Ele deu de ombros. “Mas você não precisa. Nós
poderíamos te conseguir uma nova identidade. Muito dinheiro, muita
segurança. Você não precisa de minha proteção.”
“Eu sei.”
“Mas eu preciso de você. Somos uma família, e eu preciso de você
na minha vida mais do que preciso de ar. Por favor, fique.”
Josie olhou para o marido. Ela não precisava de sua proteção, mas
era bom que alguém finalmente tivesse suas costas. O mundo era
assustador, e ela tinha navegado por tanto tempo sozinha. “Eu gosto de
sua proteção.” As palavras insinuavam uma vulnerabilidade que ela
nunca se permitira expressar. “Eu gosto de me sentir segura.”
Embora eles pudessem ter apenas três meses juntos, ela queria
cada segundo disso. E ela faria tudo que pudesse para garantir que eles
tivessem mais tempo.
Seus olhos cinzentos cintilaram para prata aquecida. Escorregando
para a cama, ele rolou de costas e a ergueu para sua virilha. Ela se
acomodou longe de suas ataduras. “Eu vou mantê-la segura, anjo.”
“Certo.” Ela lhe lançou um sorriso que até pareceu coquete. “Nós
precisamos apenas capturar o comandante, destruir aquela cadela da
Dra. Madison, e descobrir a verdade sobre Jory. Enquanto
permanecemos a salvo.”
Shane correu as mãos por seus braços para apertar suas mãos.
“Então você vai continuar casado comigo?”
“Sim.” Inferno, sim. Ele era tudo o que ela sempre quis. Família.
Dela. E ainda melhor, ele vinha com irmãos.
Tristeza girou em seus olhos. “Há uma chance de que eu não
possa ter filhos. Não sabemos se isso é possível. Eles podem ter
bagunçado tanto com nosso DNA que talvez não podemos.”
Vulnerabilidade torceu os lábios dele.
Seu coração aqueceu, e ela estendeu a mão para segurar seu
rosto. “Nós vamos passar os próximos três meses nos certificando de
que o chip seja desativado. Então, nós vamos viver esta vida juntos. Se
pudermos ter filhos, e quisermos, nós os teremos. Se não, nós vamos
adotar. Ou será apenas nós. Juntos.” Parceiros iguais. “Mas eu quero
tudo de você. O bom e o mau — nada mais de segredos ou escondidos.”
“E quanto aos seus números e a contabilidade? Eu sei o quanto
isso significa para você.”
Ela sacudiu a cabeça. “Ser necessária e ser valorizada é o que
importa para mim. Eu posso ter isso sem os números, sem os clientes.
Eu tenho isso com você.” Não havia comparação entre um trabalho e o
homem que ela amava. Ele ganhou, mãos para baixo.
“Eu preciso de você.” Ele sorriu. “Você tem tudo de mim. Para
sempre.”
Essas eram as palavras que ela precisou ouvir por tanto tempo.
Seu coração aqueceu, e paz se estabeleceu em seus ombros. “Bom.
Desde que estamos aqui, e eu sou um gênio em contabilidade, como
também em negócios... Que tal eu ajudar Nate com a Sins Security?”
Aprovação iluminou os olhos escuros de Shane. “Excelente ideia. O
cara poderia utilizar essa ajuda.”
“E quando você precisar de uma mulher em uma missão, eu serei
sua garota. Às vezes, os homens não podem ir a todos os lugares.”
“Quando eu precisar de uma mulher, você será a única que eu vou
querer.” Seu sorriso prometia que ele não iria pedir.
Isso era o que ele pensava. “Eu pretendo ajudar.”
“Você irá.” Ele baixou as pálpebras para meio-mastro, o olhar
cinza escurecendo. Suas coxas amoleceram em resposta. Com um
movimento rápido, ele puxou sua blusa sobre a cabeça.
“Ei,” ela protestou. “Você está ferido.”
“Então, seja gentil comigo.” Ele alcançou a cintura de seu
moletom.
“Por quê? Eu não gosto de gentil mais do que você.”
“Eu gosto de você de qualquer jeito que eu possa tê-la.” Ele a
levantou para puxar sua calça. Dedos ágeis correndo ao longo do lado
de sua calcinha. “Eu amo você, Josie Dean.”
“Eu também te amo.” Seu coração derreteu enquanto seu corpo
tremia. “Vou tentar ser bem gentil com você desde que você está tão
obviamente ferido.” Ela revirou os olhos. “Mas eu não quero domesticá-
lo demais, Major Dean.”
O mundo inclinou, e ela gritou, encontrando-se debaixo de um
soldado. Ele aconchegou a ereção entre suas pernas. “Eu não estou
muito preocupado com isso.”
Ela sorriu, enrolando os braços em volta de seu pescoço. “Prove,
Major.”

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