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UMÁRIO

CAPíTULO , .
A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO
GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
RIO-GRANDENSE
: ·4--,
~ ~~~--
OS RIOS

7 Os pontos extremos 20 A bacia do Uruguai


8 Os limites e as fronteiras 20 A bacia Atlântica
8 A situação geográfica

, .
AS PAISAGENS VEGETAIS

CAPíTULO

21 Os campos
O RELEVO E OS SOLOS 22 As matas
24 O desmatamento
24 A recuperação florestal
10 A formação do relevo
2S O reflorestamento
26 A preservação ambiental

CAPíTULO
CAPíTULO

O CLIMA

• A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL

16 Os ventos e a temperatura
do ar
28 O extermínio dos índios
17 As chuvas 29 As Missões dos jesuítas
31 O surgimento das estâncias
17 Os fatores regionais
32 Os tropeiros
18 A influência do clima
33 As charqueadas
34 A contribuição do negro
34 Os açorianos
3S A fundação de Porto Alegre
36 Os imigrantes
39 A evolução municipal

____ o ESPAÇO RIO-GRA OENSE



éApíTUlO CAPíTULO

O COMÉRCIO, AS CIDADES E OS
A POPULAÇÃO
TRANSPORTES

41 A distribuição espacial 62 A função comercial das cidades


42 O crescimento demo gráfico e a 63 O comércio externo
urbanização 64 O Mercosul
44 As migrações internas 65 Os transportes
45 A emigração
48 O nível de vida

CAPíTULO
CAPíTULO
A DIVERSIDADE ESPACIAL
O ESPAÇO AGRÁRIO

68 Uma divisão administrativa


49 A agricultura 69 Regiões de planejamento
52 A pecuária 70 O norte e o sul
54 A estrutura fundiária 72 Uma regionalização tradicional

QUESTÕES DE VESTIBULARES

AS ATIVIDADES INDUSTRIAIS
93 Respostas
93 Significado das siglas
57 As indústrias modernas
57 As fontes de energia
60 Os tipos' de indústria e sua
distribuição espacial

BIBLIOGRAFIA

_______________________________________________
IIIIIIIII~----
A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFI~A
DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE

o Rio Grande do Sul é o estado mais


meridional do Brasil. Seu território tem
282 062 krn", o que representa apenas
3,30% da área total do nosso país, mas que é
quase a metade da superfície da região Sul.
Em extensão territorial o Rio Grande do
Sul é o nono estado do Brasil, sendo um
pouco maior que o estado de São Paulo. Seu
território é maior que o de muitos países do
mundo; representa, por exemplo, dez vezes a
área de Israel, seis vezes a da Holanda e três
vezes a de Portugal.

Foto da América do Sul feita pelo satélite NOOA.


Assinalado, o território do Rio Grande do Sul.

Região Sul: composição da área


Ospontos extremos
o território rio-grandense está localizado
na chamada zona temperada do Sul, que é a
extensa faixa da superfície terrestre com-
preendida entre o trópico de Capricórnio e o
círculo polar Antártico. Seus pontos extre-
mos são:
• norte - uma das curvas do rio Uruguai,
a 2JO04' 49" de latitude sul;
• sul - uma curva do arroio Chuí, chama-
da de Volta da Baleia, a 33%4'42" de la-
titude sul, que também é o ponto ex-
tremo sul do Brasil;
I Rio Grande do Sul • leste - barra do rio Mampituba, a
r.I Paraná
Santa Catarina
49°42'22" de longitude oeste (isto é, a
oeste do meridiano de Greenwich);
Fonte: Adaptado de Atlas geográfico
• oeste- barra do rio Quaraí, afluente do rio
escolar. Rio de janeiro, lBGE, 2002. Uruguai, a 57°38'34" de longitude oeste.

Rio Grande do Sul: localização


50"

,+,
Rio Uruguai SANTA CATARINA :
-- - ------- ------.- ------ --------- -- ---,-----------~ --- - - -- - - - - - - - - - - - - - - -. - - - - -- -'
~ocano~o$' j N

'i''-l''--r-----------300-

OCEANO
ATLÂNTICO

"

ESCALA
O 80 160 km
,
~~~~~~~~~~~ ~J~~~~~~~.~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~5q'~ ~~~~~~~~~}
~~~~~~~~ ~~':l~
~~~
~~~~.
Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de janeiro, lBGE, 2002.

-------------------------"----
___ --'_ A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE

Portanto, o Rio Grande do Sul está loca- separa um país de outro. O c~nceito de fron-
lizado em uma latitude média de 30° sul. teira não cabe, pois, no caso de divisão polí-
Isso significa que está mais próximo da linha tica interna de um país.
do Equador (0° de latitude) que do pólo Sul Somando os limites com a Argentina e
(90° de latitude sul). Desse modo o território com o Uruguai, vemos que eles totalizam
rio-grandense tem uma posição subtropical, 52% (1 727 km) das divisas do estado. Por-
ou seja, abaixo e próxima do trópico de Ca- tanto, o Rio Grande do Sul apresenta uma
pricórnio. extensa linha divisória com outros países e,
conseqüentemente, possui uma vasta faixa
de fronteira.
Oslimites e as fronteiras
o Rio Grande do Sul tem os seguintes
Asituação geográfica
limites:
• ao norte e a nordeste - estado de Santa
A situação geográfica de um território é
Catarina;
definida pela sua posição em relação a fatos
• ao sul e a sudoeste - República Oriental ou elementos externos capazes de influir em
do Uruguai;
sua história e em seu desenvolvimento. As-
• a leste - oceano Atlântico; sim, pode-se afirmar que a situação geográfi-
• a oeste e a noroeste - República Argen- ca do Rio Grande do Sul reveste-se de grande
nna. importância geopolítica em razão da extensa
Ao todo, o estado possui 3 307 km de li- fronteira com a Argentina e o Uruguai e da
mites, distribuídos da seguinte maneira: proximidade com o Paraguai.
• 1 003 km com a República Oriental do As fronteiras do estado formaram-se em
Uruguai; meio a intensas disputas entre portugueses e
• 724 km com a República Argentina; espanhóis, às quais se seguiram sucessivos
• 958 km com o estado de Santa Catarina; conflitos entre o Brasil e seus vizinhos plati-
• 622 km com o oceano Atlântico. nos. Ou seja, são áreas nas quais sempre pre-
A maior parte dos limites do estado é for- dominou a preocupação com a preservação e
mada por acidentes naturais. Por exemplo, o a defesa e que por isso marcam de modo
rio Uruguai é o limite entre o Rio Grande do concreto a separação entre o território bra-
Sul e a República Argentina; o rio Quaraí sileiro e o dos países vizinhos. Um exemplo
(afluente do rio Uruguai) e o rio Jaguarão dessa descontinuidade efetiva, historicamen-
(que corre para a lagoa Mirim) separam ter- te constituída, é a ligação entre as cidades de
ras rio-grandenses do território uruguaio. Uruguaiana, em território rio-grandense, e
Mas uma pequena parte dos limites com a Paso de los Libres, na Argentina, unidas por
República Oriental do Uruguai, no sul do uma majestosa ponte sobre o rio Uruguai. A
estado, é do tipo artificial ou convenciona- ferrovia brasileira que vai até Uruguaiana
do, ou seja, foi demarcada através de um tem bitola de um metro, diferente da estrada
acerto entre o Brasil e o país vizinho. de ferro argentina que vai até Paso de los
Não devemos confundir limite com fron- Libres, com bitola de 1,20 metro.
teira: limite é uma linha e fronteira é a faixa Hoje, no estágio do capitalismo globali-
de território sobre a qual passa a linha que zante e sob o patrocínio do Mercosul, as

_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
-------'

fronteiras - que outrora eram elementos de da Integração entre São Borja-Santo Tomé
separação - tendem a se tornar espaços no fim de 1997 constituiu mais uma ligação
onde avança a pretendida integração. terrestre com a Argentina. Além disso a nova
Nesse sentido o Rio Grande do Sul tem ponte também proporcionou ao Paraguai
uma situação potencialmente favorável. O outra saída viária para o oceano Atlântico: de
estado tende a ser o centro geopolítico do Assunção, passando por Encarnación no sul
Cone Sul da América, já que Porto Alegre do país, até o porto gaúcho de Rio Grande.
fica, em linha reta, a 740 km de Monte- Quando estiver concluída uma rodovia
vidéu, 840 km de Assunção, 850 km de São projetada para a região será possível o acesso
Paulo, 940 km de Buenos Aires, 1 150 km ao porto de Antofagasta, no Chile. Uma das
do Rio de Janeiro, 1 615 km de Brasília e conseqüências dessa obra será a aproximação
1 950 km de Santiago. Considerando a orga- dos mercados latino-americanos de toda a
nização do espaço regional na perspectiva da costa do Pacífico aos países da costa atlântica
integração, o Rio Grande do Sul pode ser da América do Sul. Além desses países, a
também seu centro geoeconômico. Oceania e o extremo Oriente, compostos
O Rio Grande do Sul não enfrenta maio- entre outros por países como China e Japão,
res obstáculos às ligações rodoviárias e hidro- estarão mais acessíveis às exportações
viárias com o Uruguai. A conclusão da ponte brasileiras.

o Rio Grande do Sul no MercosuP


I Mercosul (Mercado Comum
do Sul): organização instituída
pelo Tratado de Assunção no fim '
de 1991, reunindo Argentina,
Brasil Paraguai e Uruguai. Cil"
meçou a vigorar em 1995 através
de uma progressiva redução das
tdrifas olfondegárids de um con-
junto cada vez mais amplo de
de Janeiro
produtos, com vista ao livre-co-- Santos I
ritiba ..JI&....
mércio e àformação de um mer-
Paranaguá
cado comum entre ospaíses mem-
bros. Posteriormente associaram-
:..J...... C:=J Região industrial
• Florianópolis
se ao Mercosul o ChiIR (I996) e a Área industrial
Bo/ivia (J997), porém não como
.--. Zona agropecuária
membros efetivos. l.==J melhorada

• Metrópole

@ Capital nacional

• Cidade importante
.L Porto
OCEANO = Ponte

- Rodovia
PAcíFICO
- - - - Rodovia projetada
OCEANO •..•..•..•...
Ferrovia

ESCALA
ATLÂNTICO ç= Hidrovia

O 380 760 km r--.....> Rio


! ! !

1 cm - 380 km

Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.

-----------------------'------
o RELEVO E OS SOLOS

o relevo do Rio Grande do Sul asse- Sob o aspecto geológico, o território rio-
melha-se ao do resto do Brasil, pois possui grandense é constituído por rochas crisrali-
um substrato rochoso muito antigo, que há gas, sedimentares e basálticas.
milhões de anos não sofre manifestações
tectônicas expressivas. A ausência de tecto-
nismo se deve também ao fato de o território
rio-grandense estar fora das áreas de insta- A formação do relevo
bilidade da crosta terrestre, que são as faixas
de descontinuidade existentes entre as pla- No centro-sul do estado afiara um núcleo
cas tectônicas que constituem a litosfera. de rochas cristalinas pré-cambrianas, como
Nessas condições, o Rio Grande está livre de granitos e gnaisses, sob a forma de um pe-
manifestações vulcânicas e dos temíveis ter- queno planalto. Esse núcleo faz parte de uma
remotos. estrutura bem maior, o antigo embasamento
Devido à antiguidade e à estabilidade 00 sobre o qual, em uma grande depressão e du-
embasament0-f.g(;h.oso,.....as-altitudes-São m 0- rante dezenas de milhões de anos, se formou
4estas e o relevo é mais ou menos s ve. I a bacia sedimentar do Paraná. Há cerca de
porque ha, m!·1"· ~ vem re baialxan d o
elllOS a qosao 120 milhões de anos, portanto durante a era
Çl.S--PITfismais elevados e arredondando as Mesozóica, essa bacia 'passou por intenso
fo r1"lli!S-IDais-ahrup.ta$. vulcanismo. Por diversas e sucessivas ocasiões

Grandes unidades de relevo do Rio Grande do Sul


SANTA CATARINA OCEANO
ATLANTICO

D Rochas cristalinas pré-cambrianas


ARGENTINA
D Rochas sedimentares muito antigas
- Era Paleozóica
D Rochas sedimentares antigas
- Era Mesozóica
D Rochas vulcãnicas - Basalto

PERFIL DO RELEVO DO RIO GRANDE DO SUL


(de Jaguarão a Marcelino Ramos)
Altitude PLANALTO
(em metros) NORTE-RIO-GRANDENSE
1000 Marcelino Ramos ---..
PLANALTO
800
o 90km SUL·RIO-GRANDENSE
'--' (ESCUDO)
600

D
N 400 /
Jaguarão DEPRESSÃO
CENTRAL

D
Depressão Central
Planalto Sul-Rio-Grandense
aMirim+ O L 200
D Planicie Costeira oa
- Linha de corte
angueira o~----------~----------------~
+-SUL------------------------
5

Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000.

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Principais formas de relevo do Rio Grande do Sul

OCEANO

ATLÂNTICO

ESCALA
O 75 150km
! I !

1 em - 75 km

Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000.

o magma subiu e se derramou pela superfície circundenudação periférica), rebaixando


através de extensas fraturas abertas na crosta. acentuadamente o terreno e formando uma
Ao se consolidar, a lava vulcânica formou ro- larga faixa de depressão.
chas basálticas que cobriram grande parte da
Desde então os sedimentos oriundos dos
bacia do Paraná, incluindo o que é hoje o
planaltos são transportados, sobretudo por
norte do estado e a maior parte do planalto
rios, e depositados no leste do território.
Meridional do Brasil, também chamado de
planalto da Bacia do Paraná. Ali, juntamente com uma intensa sedimen-
Mais tarde, quando ocorreu a orogenia tação de origem marinha, vão formar uma
andina, isto é, a formação da cordilheira dos larga faixa de terras baixas, com um gran-
Andes, na era Cenozóica, a bacia do Paraná de número de lagoas e lagunas de variadas
foi soerguida, sofrendo em conseqüência inú- dimensões.
meras juntas ou diáclases (fissuras) e grandes
Dessa maneira o relevo do Rio Grande do
falhas em suas bordas; Sobre as juntas muitos
Sul possui diferentes unidades, cada qual com
rios se encaixaram e, graças à erosão facilita-
da, deram origem a gargantas e vales pro- suas altitudes, tipos de rocha e formas pre-
fundos. Nos terrenos sedimentares periféricos dominantes: o planalto Sul-Rio-Grandense, o
ao planalto da Bacia do Paraná, ocorreu a se- planalto Norte-Rio-Grandense, a depressão

.
guir intenso processo de erosão (chamado de Central e a planície Litorânea.
o RELEVO E OS SOLOS

o planalto Sul-Rio-Grandense o planalto


No centro-sul do estado encontramos Norte-Rio-Grandense
uma área de rochas muito antigas, que se for-
maram na primeira fase da história da Terra. A parte norte do Rio Grande do Sul é
Trata-se do escudo cristalino, que constitui o constituída por terrenos mais ou menos ele-
planalto Sul- Rio-Grandense. vados, que formam o planalto Norte-Rio-
Por serem muito amigas as rochas desse Grandense. Esse planalto nada mais é que a
planalto já foram bastante atacadas pela ero- extremidade sul do planalto Meridional do
são. Por esse motivo as paisagens geralmente Brasil, que se estende desde o sul de Goiás
apresentam morros arredondados e somente até o Rio Grande do Sul. Em classificação
em alguns lugares as altitudes ultrapassam moderna essa grande unidade do relevo bra-
300 metros. sileiro é denominada planaltos e chapadas da
Nessas partes mais altas os morros são Bacia do Parand.
mais salientes e aparecem agrupados, for- O planalto Norte-Rio-Grandense é for-
mando serras - são as serras Sul-Rio-Gran- mado por rochas sedimentares relativamente
denses. Por estarem localizadas no sudeste do antigas, principalmente o arenito, que estão
estado, elas são conhecidas como serras de cobertas por espessas camadas de rochas vul-
Sudeste. Planalto Sul-Rio-Grandense, serras cânicas, sobretudo o basalto. Por isso dize-
de Sudeste ou simplesmente escudo são ex- mos que esse planalto é arenítico-basáltico.
pressões usadas para designar a mesma uni-
As maiores elevações do planalto estão na
dade geomorfológica.
sua parte leste e nordeste, onde chegam' a
As principais serras de Sudeste são: de
mais de mil metros de altitude. É nessa parte
Caçapava, de Encruzilhada, dos Tapes e do
que se encontra o pomo mais elevado do ter-
Herval.
ritório rio-grandense: o monte Negro, com
Os solos do escudo não são muito bons
1 398 metros, localizado em um trecho da
para a agricultura, pois geralmente são are-
serra Geral conhecido como serra do Realen-
nosos e pouco férteis. Por isso seu aproveita-
go, no município de São José dos Ausentes,
mento agrícola exige o emprego de adubos.
próximo à divisa com Santa Catarina.
No entanto, alguns vales fluviais da-região
têm solo de melhor qualidade. As altitudes do planalto Norte-Rio-Cran-
dense diminuem aos poucos de leste para
Se, por um lado, os solos não são muito
oeste. Na sua parte leste e sudeste o planalto
favoráveis, por outro, o subsolo da região das
termina em uma descida brusca, isto é, em
serras de Sudeste oferece alguns minerais me-
tálicos: cobre, ouro, estanho, chumbo, zinco uma encosta.
e prata. Esses minerais, porém, aparecem em Devido a antigas fraturas e sobretudo à
pequena quantidade e misturados às rochas. intensa erosão sob clima úmido, a encosta
Por isso sua exploração não desperta grande apresenta-se muito acidentada, notadamente
interesse. em sua parte leste. Aí aparecem escarpas
Entre os minerais metálicos do estado, o abruptas e morros com declives acentuados
cobre é o mais importante, pois aparece em que oferecem belas paisagens. É nessa área
maior quantidade que os outros. Ele é en- que está localizado o famoso Itaimbezinho
contrado sobretudo no município de Caça- - um profundo e escarpado vale (um canyon),
pava do Sul. de grande atração turística.

111m O ESPAÇO RIO-GRANDENSE


A encosta do planalto Norte-Rio-Cran- erosão, sobretudo nos terrenos inclinados


dense tem o nome de serra Geral. Ela repre- onde a mata foi derrubada.
senta o relevo mais acidentado do Rio Gran-
Além do basalto, usado na construção ci-
de do Sul. vil e no calçamento de ruas, o principal re-
Os solos do planalto Norte-Rio-Gran- curso mineral do planalto são as gemas, isto
dense - formados pela decomposição do é, cristais de rocha que constituem pedras
basalto - são os melhores do estado para o preciosas e semipreciosas. Formaram-se pela
aproveitamento agrícola. Hoje em dia, po- cristalização de minerais no interior de pe-
rém, eles estão empobrecidos, devido à ex- quenas cavidades, originadas por gases conti-
ploração continuada, à compactação causada dos na lava vulcânica que se derramou sobre
pelo peso das máquinas agrícolas e, princi- a bacia do Paraná na era Mesozóica.
palmente, ao emprego excessivo de fertili- O Rio Grande do Sul é um dos maiores
zantes químicos. produtores nacionais de gemas, destacando-
Em numerosos vales da serra Geral os so- se os municípios de Encantado, Soledade e
los também são propícios para a agricultura. Salto do Jacuí. Guaporé notabilizou-se por
No entanto, estão muito desgastados pela sua indústria de lapidação de pedras.

Aspecto do relevo da serra Geral no planalto Norte-Rio-Crandcnse. Na foto o Parque Nacional da Serra Geral, no
nordeste do estado.
______ ~~==I~~ __
O_R_E_L_E_V_O __ E_O_S__ S_O_L_O_S _

A depressão Central Nas partes central e sul, porém, a planície


Litorânea é bastante larga.
Separando as terras altas do planalto No interior de toda a planície Litorânea
Norte-Rio-Crandense dos terrenos menos existem numerosas lagoas, cuja água é salo-
elevados do planalto Sul-Rio-Crandense há bra, isto é, salgada. Por se comunicarem dire-
uma faixa de terras relativamente baixas, pla- tamente com o oceano algumas delas têm o
nas ou levemente onduladas, que constitui a nome de lagunas, em vez de lagoas. Esse é o
depressão periférica Sul-Rio-Grandense. Ao caso da laguna dos Patos, a maior do Brasil,
contrário do que ocorre no sudoeste do esta- que se comunica com o Atlântico através do
do, na conhecida Campanha, onde as altitu- canal de Rio Grande.
des e formas exteriores não apresentam gran- Além da laguna dos Patos, a lagoa Mirim
des diferenças em relação aos planaltos contí- e a lagoa Mangueira também merecem
guos, essa unidade de relevo é mais indivi- destaque por sua extensão. A lagoa Mirim
dualizada e facilmente perceptível na faixa serve de fronteira com o Uruguai, pois parte
central do estado. Por isso ela é mais co- de suas águas pertence a esse país vizinho.
nhecida como depressão Central.
Por serem muito arenosos os solos da pla-
A depressão Central assemelha-se a uma
nície Litorânea não são favoráveis à agricul-
planície, que se estende de leste a oeste e
tura. Perto do mar a paisagem apresenta
sobre a qual corre o rio mais importante do
muitas dunas ou côrnoros de areia. No en-
estado: o Jacuí. É formada por rochas sedi-
tanto, graças ao uso de fertilizantes, uma boa
mentares antigas, nas quais são encontrados o
produção de cebola é obtida no município
calcário, o xisto e o principal recurso mineral
litorâneo de São José do Norte.
do Rio Grande do Sul: o carvão mineral.

A planície litorânea
o litoral rio-grandense, isto é, a faixa de
terra que fica junto ao oceano Atlântico, é
uma planície, pois seus terrenos são baixos e
planos. É a planície Litorânea ou planície
Costeira, formada por sedimentos recentes,
depositados sobretudo pelo trabalho do mar.
No litoral norte a planície é estreita, já
que as escarpas da serra Geral estão a poucos
quilômetros de distância do oceano. Bem ao
norte aparecem junto ao mar elevações
rochosas que são blocos remanescentes dos
grandes falhamentos sofridos no passado
geológico pela bacia do Paraná. No lado do
Atlântico essas elevações têm encostas com a
forma de grandes paredões, que se parecem As torres do litoral norte gaúcho são formadas por
fragmentos e blocos remanescentes da antiga bacia
com torres. Foram elas que deram nome ao
sedimentar do Paraná.
município de Torres.

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE

As coxilhas são uma característica marcante do relevo rio-grandense, particularmente na região da Campanha.

A Campanha cem, embora com menor freqüência, em ou-


tras áreas do estado: nos terrenos cristalinos
A região do oeste e do sudoeste do Rio do sul e até nas partes elevadas do norte. Por
Grande do Sul tem o nome de Campanha. serem encontradas em quase todo o território
Embora pertençam a distintas unidades do rio-grandense as coxilhas são a forma mais
relevo - ao planalto arenítico-basãltico e à conhecida do relevo do Rio Grande do Sul.
depressão periférica -, seus terrenos têm Os solos da Campanha são mais propí-
cios à pecuária, embora possam ser cultiva-
certa semelhança, pois neles predominam
dos, particularmente lias vales dos rios e nas
elevações suaves e alongadas.
baixadas, onde a lavoura de arroz tem grande
Vistas de longe essas elevações se asseme-
destaque. Em terrenos onde aflora um deter-
lham à curva que existe perto da ponta de
minado arenito da era Mesozóica - da épo-
um facão. Antigamente essa parte do facão ca chamada de série Botucatu - há grandes
era chamada de coxilha, e por isso as eleva- áreas intensamente desertificadas. Ali solos
ções suaves e compridas do estado receberam originalmente arenosos sofreram uso inade-
o nome de coxilhas. quado, com ação continuada de máquinas
As coxilhas, primitivamente cobertas por agrícolas, adubos químicos em excesso e
uma vegetação rasteira, de campos limpos, pisoteio do gado. As áreas mais conhecidas
são os elementos predominantes nas paisa- são o deserto de São João, em Alegrete, e o
.
gens da Campanha. Mas elas também apare- deserto de Puitã, em São Borja.
o CLIMA
No Rio Grande do Sul o ar atmosférico do é seco o vento frio vindo do sul é chama-
varia muito no decorrer do ano. Isso acon- do de minuano.
tece devido à posição geográfica do estado, Desse modo o ar atmosférico no Rio
que o torna ora dominado por massas de ar Grande do Sul é quente no verão e frio no
tropicais, ora por massas de ar polares. inverno. Mas nem todos os dias de inverno ./

são frios, pois em alguns períodos dessa


estação a influência de ventos vindos do
Osventos e a temperatura norte ocasiona temperaturas moderadas e,
em algumas ocasiões, até elevadas. Por ter
do ar verões quentes e invernos nem sempre frios o
clima do Rio Grande do Sul é classificado
Nos meses de verão o território rio-grau- como subtropical.
dense é geralmente dominado por ventos Na primavera e no ourono as tempera-
vindos do norte. Por se originarem em lati- turas são variáveis, dependendo da origem
tudes baixas esses ventos são quentes e, em do ar que chega ao estado: se faz frio é por-
conseqüência, ocasionam altas temperaturas, que o ar é de origem polar; se faz calor ele
sobretudo nos meses de dezembro e janeiro. certamente veio do norte. No entanto, essas
Nos meses de inverno o estado é freqüen- estações apresentam em grande parte tem-
temente invadido por ventos frios de origem peraturas amenas, embora quase sempre a-
I· • r-'" I •

polar. Eles provocam baixas temperaturas, corram sensrveis vanaçoes terrrucas entre o
sobretudo nos meses de junho e julho. Quan- dia e a noite.

Verão Inverno

SANTA
CATARINA

o 112km
'--------J
Fonte: Adaptado de Atlas geogrdfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
As chuvas cada como úmido. Portanto, o clima do Rio
Grande do Sul é subtropical úmido.

Ocorrem chuvas em todos os meses do


ano. Na maior parte das vezes elas se devem
à influência do ar polar. Osfatores regionais
A superfície de descontinuidade ou zona
de contato entre o ar quente, de origem tro- Embora seja semelhante em toda a exten-
pical, e o ar frio, de origem polar, chama-se são do território, o clima do estado apresen-
frente. Ela se caracteriza geralmente pela
ta algumas pequenas diferenças, devido à
ocorrência de chuvas, pois o ar frio provoca
influência dos chamados fatores regionais: a
o resfriamento, a condensação e a conse-
latitude, o relevo, a distância do mar e prin-
qüente precipitação do vapor de água conti-
cipalmente a altitude.
do no ar quente.
Por isso, ao se deslocarem, as frentes ocasio- Assim, por causa da latitude, as temperatu-
nam chuvas nos lugares por onde passam - ras do litoral norte são ligeiramente mais altas
são as chuvasfrontais. Se o ar frio estiver avan- que as temperaturas registradas no litoral sul.
çando e o ar quente estiver recuando, como O município de Torres, por exemplo, de lati-
acontece no Rio Grande do Sul, a frente será tude mais baixa, tem temperatura mais alta
fria. Se ocorrer o contrário, a frente será quente. que o de Chuí, que fica bem ao sul do estado.
Em grande parte do ano, sobretudo nos Devido à influência do relevo chove um
meses de inverno, o Rio Grande do Sul é se-
pouco mais nas partes elevadas da serra Geral
guidamente atingido por frentes frias, que
que nas demais regiões do estado, já que a
provocam chuvas e, em seguida, a diminui-
encosta aumenta a turbulência dos ventos
ção da temperatura. No verão, porém, mui-
úmidos vindos do oceano.
tas chuvas são causadas pela grande umidade
trazida por ventos quentes, geralmente de A distância do mar, por sua vez, é respon-
origem tropical atlântica, eventualmente de sável pelos verões muito quentes e pelos dias
origem equatorial continental. de inverno muito frios que ocorrem no oeste
Por apresentar chuvas bem distribuídas do estado; no litoral as variações de tempe-
por todo o ano o clima do estado é classifi- ratura não são tão grandes. Isso acontece

ar fria -_ ••••~

••• ••• ••• Frente fria

A frente provoca chuvas na área por onde passa.


Fonte: Adaptado de Manual de meteorologia para aeronavegantes. Ministério da Aeronáutica, 1969.

______________ lfi:.i.'"'",;~"-,,,:I__
o CLIMA

porque as diferenças de temperatura entre o


inverno e o verão variam na mesma pro-
A influência do clima
porção que aumenta a distância do mar. Esse A existência de duas estações climáticas
fator é chamado continentalidade. bem diferentes representa um fator favorável
O fator regional que mais influi no clima à agricultura no Rio Grande do Sul. Assim,
do Rio Grande do Sul é a altitude. Como se o calor do verão e do fim da primavera
sabe, a temperatura do ar é mais baixa nos favorece o cultivo de muitos produtos tropi-
lugares mais altos. Por isso, nas partes ele- cais, cujo desenvolvimento exige altas tem-
vadas do planalto Norte-Rio-Crandense, no peraturas: arroz, milho, soja, fumo e outros.
nordeste do estado, registram-se tempera- Também são praticadas no estado algu-
turas muito baixas no inverno, com fre- mas culturas de inverno, como a do centeio,
qüente formação de geada ou até mesmo do linho e, sobretudo, do trigo.
ocasionais quedas de neve. Na mesma região Nos declives menos acentuados da encos-
os verões são menos quentes que no resto do ta do nordeste, onde a geada é fenômeno ra-
estado. Também devido à altitude, os inver- ro, cultivam-se cana-de-açúcar e banana, que
nos são mais frios e os verões menos quentes são plantas tropicais semipermanentes (que
nos lugares mais altos do escudo. permitem sucessivas colheitas durante alguns
Por esses motivos podemos identificar anos, sem necessidade de replantio). A cultu-
dois subtipos de clima subtropical úmido no ra do pêssego, planta permanente de clima
estado: um, nas regiões de relevo mais alto, temperado, tem destaque na parte oriental do
com invernos muito frios e verões brandos; escudo, particularmente na área de Pelotas,
outro, na maior parte do território, com Alguns acontecimentos climáticos cau-
verões quentes e invernos menos frios. sam efeitos negativos. É o caso, por exemplo,
do granizo (chuva de pedra), da geada e even-
tualmente da neve, que podem danificar as
Rio Grande do Sul: clima
plantações. Às vezes chove demais no inver-
no ou no início da primavera, em conse-
qüência de frentes estacionárias. Outras ve~
zes a pluviosidade excessiva ocorre na prima-
vera e início do verão, provocada pelo EI Ni-
fioz. Nessas ocasiões os rios podem transbor-
dar e provocar enchentes, que trazem sérios
prejuízos. .

2 El Nino: fenômeno que consiste no


aquecimento acima do normal das águas
do Pacífico equatorial, o que provoca
alterações no clima de várias partes do
mundo, como chuvas excessivasno sul do
Brasil.
Clima subtropical OCEANO
úmido com:
ATLANTICO
c:=J Verões quentes
c:=J Verões brandos
oL....--.....J
102 km

Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.

:1 O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
~~_OS_R_IO_S _
Graças a uma pluviosidade intensa e bem Devido à influência decisiva do relevo, os
distribuída por todo o ano, o Rio Grande do rios do território rio-grandense correm em
Sul tem uma farta rede hidrográfica. É um duas direções. Uns dirigem-se para o rio Uru-
dos estados brasileiros mais bem servidos de guai, formando seu conjunto a bacia do Uru-
águas internas, já que, além dos rios, possui guai. Outros encaminham-se para leste, desa-
um número considerável de lagoas e lagunas guando nas lagoas costeiras ou indo diretamen-
costeiras, algumas de grande extensão. te para o oceano: eles formam a bacia Aclântica.

Rio Grande do Sul: hidrografia

SANTA CATARINA

-'9/0 Canoas

ARGENTINA

URUGUAI
OCEANO
ATLÂNTICO

ESCALA
o 54 108 km c=:J Bacia do Uruguai
! I

1 cm-54km
f
c=:J Bacia Atlântica

Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.

__________________________________________
~IIIIIIIII~--
OS RIOS

A bacia do Uruguai represa. A maior hidrelétri~a do Jacuí é a de


Itaúba.
Depois de descer a encosta do planalto o
É formada pelo rio Uruguai e seus afluentes.
Jacuí dirige-se para leste, correndo sobre a
No Rio Grande do Sul encontramos apenas
afluentes da margem esquerda. depressão Central. Torna-se então um rio de
O rio Uruguai é o mais extenso do esta- planície, sendo navegável por barcos de por-
do. É formado pela junção dos rios Pelotas e te médio e pequeno. Além disso fornece água
Canoas, e seu curso serve de limite com o para a irrigação de numerosas lavouras de
estado de Santa Catarina e, mais adiante, arroz da região.
com a Argentina. Depois separa a Argentina Os principais afluentes do Jacuí são o rio
do Uruguai e, por fim, desemboca no Pardo e o rio Taquari, que também descem
estuário do rio da Prata, cujas águas vão para do planalto em direção à depressão Central.
o oceano Atlântico. Este último é navegável a partir de Estrela.
Em seu curso médio e superior o Uruguai O rio Jacuí deságua no lago Guaíba, onde
é um rio de planalto. Daí o seu bom poten-
três outros rios também despejam suas águas:
cial hidráulico, que está sendo aproveitado
o rio Caí, o rio dos Sinos e o rio GravataÍ. O
pelas usinas hidrelétricas de há e
lago Guaíba tem ampla ligação com a laguna
Machadinho.
dos Patos, que por sua vez se comunica com
Na época das cheias o rio Uruguai torna-
o oceano Atlântico através do canal de Rio
se navegável em grande extensão. Com a
Grande.
construção de barragens, paralelamente ao
aproveitamento do seu potencial hidrelétri- Além do Jacuí e dos demais rios que con-
co, ele poderá constituir-se numa grande via vergem para o Guaíba, merecem referência
permanentemente navegável. os rios Camaquã e Jaguarão. O Camaquã de-
Entre os numerosos afluentes do rio Uru- ságua diretamente na laguna dos Patos, vin-
guai destacam-se no território rio-grandense do do planalto Sul-Rio-Grandense; o Jagua-
os rios Passo Fundo, Ijuí e Ibicuí. Este últi- râo desemboca na lagoa Mirim. O canal São
mo, o mais extenso, é um rio de planície. Gonçalo, que recebe as águas do rio Piratini,
liga a lagoa Mirim à laguna dos Patos.

A bacia Atlântica
Na verdade, a bacia Atlântica (ou do
Leste) é um conjunto de bacias hidrográficas
que têm em comum o fato de suas águas cor-
rerem em direção ao Atlântico.
O Jacuí é o rio mais importante dessa
bacia e também do estado. Nasce no planal-
to Norte-Rio-Grandense, nas proximidades
de Passo Fundo. Inicialmente corre para o
sul como um rio de planalto. Para aproveitar
o potencial hidráulico dessa parte inicial do
curso foram construídas diversas usinas
o lago Guaíba é marca característica da paisagem de
Porto Alegre.
hidrelétricas, cada qual abastecidapor uma

___ ----'_ O ESPAÇO RIO·GRANDENSE



AS PAISAGENS VEGETAIS

A vegetação natural depende das caracte- baixas e arbustos, adaptados ao ambiente em


rísticas do solo e do clima. que VIvem.
Por exemplo, as matas ou florestas neces-
sitam de solos mais ou menos profundos
para que as raízes das árvores possam se de- Os campos
senvolver. Os solos rasos normalmente são
cobertos por plantas de pequeno porte, que Antigamente mais da metade do ter-
em geral constituem os campos. Ao mesmo ritório rio-grandense era coberta por cam-
tempo, as matas precisam de boa quantidade pos. Hoje em dia a atividade humana
de água, suficiente para satisfazer as necessi- transformou grande parte dos campos em
dades vitais das árvores. Por isso ocorrem flo- lavouras.
restas em regiões de clima úmido com chu- Há dois tipos de campos no Rio Grande
vas abundantes. . do Sul: as campinas e os campos do planalto.
No Rio Grande do Sul as condições de As campinas são campos limpos, que
clima e solo favoreceram tanto a formação de cobriam quase toda a metade sul e o oeste do
matas quanto a de campos. No litoral, po- estado. Nas áreas remanescentes dessa vege-
rém, a vegetação é escassa e pobre devido à tação no Rio Grande do Sul forma-se um
presença de solos arenosos e com muito sal. verdadeiro tapete de gramíneas, que se
A vegetação litorânea é formada por plantas estende pelas terras onduladas das coxilhas.

As campinas dominam a paisagem da região da Campanha.

________________________---------------------IIIIIIIII~---
______ AS PAISAGENS VEGETAIS

A ocorrência das campinas está ligada à exis- em comparação aos solos rico~'de origem vul-
tência de solos rasos e à ação do vento frio do cânica do planalto Norte-Rio-Grandense. No
inverno (o minuano), que dificulta o desen- nordeste do estado, nos campos de Bom Jesus
volvimento de uma vegetação de maior porte. e de Vacaria, os solos são arenosos. Além
A paisagem natural da região das campi- disso o frio rigoroso do inverno contribui pa-
nas é diferente nas proximidades do leito dos ra a ocorrência de vegetação campestre.
rios; aí geralmente aparecem as chamadas Por possuírem muitos arbustos mistura-
matas-galerias. dos às gramíneas os campos do planalto
Nos lugares mais baixos do terreno, onde eram chamados de campos sujos; eles sempre
a umidade do solo também é maior, ocorrem tiveram uma qualidade pastoril inferior às
manchas de mata, conhecidas como capões campinas. Atualmente a maior parte desses
de mato. campos foi transformada em lavouras de
As campinas representam a maior área trigo e soja, especialmente na área de Passo
contínua de campos do Brasil. Elas são uma
Fundo, e em plantações de frutas (maçã) na
continuação dos campos da Argentina e do
zona de Vacaria.
Uruguai, cujo conjunto é chamado de pampa.
As campinas têm grande valor para a cria-
ção de gado, particularmente no oeste do es-
tado, onde estão as melhores pastagens natu- As matas
rais do Brasil.
Os campos do planalto, ou de cima da ser- Há dois tipos de florestas no Rio Grande do
ra, aparecem em solos relativamente pobres, Sul: a mata Subtropical e a mata dos Pinhais.

Rio Grande do Sul: vegetação natural

ARGENTINA

OCEANO

ATLÂNTICO

URUGUAI

CJ Campos

ESCALA
CJ Mata Subtropical

o 83 166km CJ Mata dos Pinhais


ti!

1 cm-83km CJ Vegetação litorânea

Fonte: Atlas nacional do Brasil. IBGE. Rio de Janeiro, 2000.

_____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE



Exemplares remanescentes da mata de Araucária, ou dos Pinhais, outrora predominante na paisagem do planalto
Norte-Rio-Grandense.

A mata Subtropical ocupava a encosta do de móveis. Entre elas destacam-se o cedro, a


planalto e o alto vale do rio Uruguai, onde a cabreúva, o ipê e a canela.
pluviosidade é farta e o inverno não é muito A devastação da floresta Subtropical co-
frio. Ela é parecida com as florestas tropicais: meçou no início do século XIX, para· a ex-
possui grande variedade de árvores, de folhas tração da madeira, e prosseguiu com a vinda
largas e perenes, que estão entrelaçadas por dos imigrantes europeus, que passaram a cul-
cipós. No entanto, as árvores são de menor tivar as áreas que receberam para colonizar.
porte que as das florestas tropicais, e algumas A mata dos Pinhais é formada pelo pi-
delas perdem as folhas durante o inverno. nheiro-do-paraná, cujo nome científico é
Por isso é do tipo subtropical. Araucaria angustifolia. Por isso ela é também
Na encosta nordeste do estado a mata chamada de floresta ou mata de Araucária.
Subtropical é uma continuação da mata Os pinheiros são árvores que preferem as
Atlântica, que antigamente cobria as escar- baixas temperaturas. Por esse motivo, sua
pas orientais do planalto Brasileiro, desde o área de ocorrência é o planalto, no norte e no
Rio Grande do Norte até o Rio Grande do nordeste do estado.
Sul, no município de Osório. A mata de Araucária era um dos muitos
A mata Subtropical possui muitas árvores recursos naturais do Rio Grande do Sul,
de grande valor econômico, pois servem para pois a madeira do pinheiro é utilizada para a
a extração de madeiras de lei, isto é, madeiras fabricação de instrumentos musicais, mó-
duras e resistentes, ótimas para a fabricação veis, casas; na produção de celulose, papel e

______
~ ~BIIIIIII~_
_------ AS PAISAGENS VEGETAIS

papelão. Além do uso da madeira, o fruto da a colonização, as matas começaram aser der-
araucária, mais conhecido como pinhão, e rubadas para a produção de madeira e princi-
bastante apreciado na culinária de toda a palmente para a ocupação agrícola. Devido ao
região Sul do Brasil. contínuo desmatamento o Rio Grande do Sul
Antigamente os pinhais cobriam boa par- chegou a uma grave situação: no início da
te do território rio-grandense. No entanto, década de 1980, pouco mais de 6% do seu
devido ao intenso desmatamento para explo- território estava coberto por florestas.
ração madeireira, restam hoje poucos lugares
onde as araucárias podem ser encontradas.
Na região dos pinheirais havia também a A recuperação florestal
erva-mate - pequena árvore de cujas folhas
se produz a erva para o chimarrão. Atual- Nas duas últimas décadas houve uma no-
mente não existem mais ervais nativos no es- tável recuperação das áreas florestais do esta-
tado: a produção rio-grandense de erva-mate do. O desmatamento praticamente cessou e,
é obtida de ervais cultivados. sobretudo, o abandono de terras original-
mente florestadas permitiu que a vegetação

o desmatamento nativa aos poucos se reconstituísse: nos solos


desprezados surge a capoeira, que ganha por-
te e se transforma em mata secundária com o
As florestas têm um papel importantíssi- passar dos anos.
mo no chamado equilíbrio ecológico. O des- A causa principal da recuperação florestal
matamento de grandes áreas provoca enor-
do Rio Grande do Sul reside nas dificuldades
mes alterações no meio ambiente e traz mui-
de cultivo e na impossibilidade de mecaniza-
tas conseqüências negativas ao homem. Po-
ção dos minifúndios em terrenos acidenta-
demos destacar as seguintes:
dos, levando pequenos produtores rurais a
• as chuvas tornam-se irregulares, havendo
renunciar à prática agrícola. Mas outros fa-
períodos secos seguidos de dias com plu-
tores contribuíram para o ressurgimento de -
viosidade excessiva;
matas no estado:
• a erosão torna-se mais intensa, sobretu-
• o êxodo rural reduziu significativamente a
do quando o desmatamento é feito nas
mão-de-obra no campo, diminuindo a
encostas;
pressão por terras para a subsistência;
• os solos, antes mantidos pelas raízes das
plantas, são carregados pelas enxurradas; • o advento de uma legislação ambiental ri-'
gorosa, inibindo ações predatórias;
• o material transportado pelas enxurradas
- os solos - acaba sendo depositado em • o despertar da consciência dos proprietá-
grandes quantidades nos leitos dos rios, rios sobre a importância das florestas.
que se tornam mais rasos e, em época de Por esses motivos as áreas de mata do es-
chuvas excessivas, transbordam com mais tado triplicaram em vinte anos: no início do
facilidade, provocando enchentes de con- novo milênio mais de 18% do território rio-
seqüências desastrosas. grandense aparece coberto por florestas,
Quando os primeiros europeus chegaram em sua maior parte com espécies nativas.
ao extremo sul do Brasil cerca de 40% do ter- Essa restauração ocorreu principalmente na-
ritório rio-grandense era coberto por florestas. região da encosta do planalto Norte-Rio-
A partir do século XIX, com o povoamento e Grandense.

______ o ESPAÇO RIO-GRANDENSE


Rio Grande do Sul: uso do solo

SANTA CATARINA

ARGENTINA

o mapa mostra que mais de


18% do território OCEANO
rio-grandense está coberto
por matas, das quais menos
URUGUAI ATLÂNTICO
de 1% é plantado.
Destaca-se a área de
campos e pastagens,
refletindo a tradição pastoril
do estado. Merece referência
a extensão das lagunas e
c::::J Florestas ( 18.49%)

lagoas, cujo conjunto forma o


c=:J lavouras (25,25%)

que já foi chamado de c=:J Campos e pastagens (46,73%)

"segundo litoral" ou "costa O


ESCALA
55
c=:J lâminas de água (7.09%)
doce".
, !
_ Dunas, banhados e outros (2,44%)
1cm-55km

Fonte: Adaptado de Zero Hora, 6 jun. 2001, p. 34.

o reflorestamento les e áreas de solos pobres, pedregosos ou a-


renosos. As espécies preferidas para o reflo-
restamento têm sido o euca1ipto, o Pinus eliot-
Simultaneamente à restauração de matas
ti e a acácia-negra, diferentes das que forma-
nativas, e graças sobretudo aos incentivos go-
vam as antigas matas gaúchas.
vernamentais concedidos ao reflorestamen-
Do ponto de vista econômico o reflo-
to, houve o desenvolvimento da silvicultura,
restamento tem trazido bons resultados. O
voltada para a produção de matéria-prima Pinus eliotti, por exemplo, cresce mais rapi-
. para as fábricas de papel, papelão, resinas, damente que o pinheiro-do-paraná e sua
madeira aglomerada e móveis. Geralmente o madeira dá bons lucros aos produtores. O
plantio de árvores é feito em terrenos desfa- município de Encruzilhada do Sul destaca-se
voráveis à agricultura, como encostas de va- por seu pólo madeireiro. A acácia-negra, ár-

--------------------------
. ---'_ AS PAISAGENS VEGETAIS

me o alcance da restrição' estabelecida: par-


que, reserva, estação ecológica, etc.
No Rio Grande do Sul há diversas uni-
dades de conservação criadas pela União e
outras, em maior número, pelo governo esta-
dual. O maior parque federal é o Parque Na-
cional da Lagoa do Peixe, com 34 400 hec-
tares de área. Essa enorme área está localizada
na restinga que separa a laguna dos Patos do
oceano Atlântico, entre os municípios de
Tavares, Mostardas e São José do Norte.
Entre as unidades de conservação esta-
duais as mais extensas são o recém-criado
Reflorestamento com Pinus eliotti. A silvicultura Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos
ocasiona matas homogêneas que, embora de inegável
Pachecos, com 2 543 hectares, e o Parque
importância econômica, não restauram o antigo
ambiente natural. Estadual do Turvo, com 17 491 hectares, à
semelhança do Parque Estadual do Delta do
Jacuí, com mais de 17 mil hectares.
vore da qual se extrai o tanino, empregado
para curtir couro, é uma das principais ri- Algumas dessas unidades ainda não saíram
quezas dos municípios de Brochier e Maratá, do papel, como é o caso do Parque Nacional da
no vale do Rio Caí. Serra Geral, com 17 300 hectares, nos municí-
No entanto, esse tipo de reflorestamento pios de Cambará do Sul e São Francisco de
não restaura o antigo ambiente ecológico, ri- Paula, no Rio Grande do Sul, e Jacinto
co em espécies vegetais e animais. Numa Machado e Praia Grande, em Santa Catarina.
grande área de plantação de eucaliptos, por O parque foi criado em 1992, mas até
exemplo, não se ouve o canto de passarinhos. hoje nada foi feito para que se tornasse reali-
dade, já que as terras não foram desapropria-
das e os proprietários continuam residindo
na área. Outras, no entanto, como o pionei-
A preservação ambiental ro Parque Estadual do Turvo, localizado no
município de Derrubadas, estão devidamen-
Depois de mais de um século de devasta-
te regularizadas.
ção o poder público, tanto federal quanto es-
O mapa a seguir mostra um expressivo
tadual, começou a se preocupar com a pre-
número de unidades de conservação locali-
servação do meio ambiente. A partir dos
zadas no nordeste do estado. Isso reflete as
anos 1940, mais precisamente em 1947, foi
preocupações com uma área complexa do
criada a primeira unidade de conservação da
ponto de vista ambiental, pois nela a passagem
natureza no Rio Grande do Sul: o Parque
abrupta do planalto Norte-Rio-Crandense
Estadual do Turvo.
para a planície Litorânea permite o contato
As unidades de conservação da natureza muito próximo entre diferentes ecossistemas,
são áreas onde a ação humana sofre restrições Com efeito, a mata Atlântica, de característica
legais, de forma parcial ou total. subtropical, ocupa as encostas da serra Geral,
Há diversos tipos de unidades de conser- confrontando-se a oeste com os antigos dorní-
vação, que podem ser federais, estaduais ou nios dos campos de cima da serra e da mata de
municipais, cuja denominação varia confor- Araucária, hoje praticamente extinta. A leste,

_____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE



••

Rio Grande do Sul: unidades federais e estaduais de conservação da natureza

SANTA CATARINA

• 25

•15
.5
Passo
Fundo

Bento.
Gonçalves

.o?"" carflaquã
OCEANO

ATLÂNTICO

13, Turvo
14, Delta do
Jacuí
'1 em - 67 km 15, Rondinha
16, Espigão Alto
17. Itapuã
Fontes: Ibama e Sema-RS. 18. Espirilho
19. Tainhas
20. Camaquã
21. Itapeva
22, Podocarpus
23. Ibiritiá
24, Guarita
o sistema mata Atlântica está em contato com 25. Nonoai

o delicado sistema litorâneo. 26. Mata


Paludosa
Além das áreas públicas de preservação 27, Serra Geral
ambiental, existem também as reservas par- 28. Ibirapuitã
29. Banhado
ticulares do patrimônio natural (RPPNs). As São Donato
30. Ibicuí-
RPPNs - como também são conhecidas- Mirim
representam hoje um importante instrumen- 31. Mato
Grande
to no esforço para envolver a sociedade na
conservação do meio ambiente. 32, Aratinga

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio 33. Banhado dos


Pachecos
Ambiente e dos Recursos Naturais Reno-
34. Litoral
váveis (Ibama), no início de 2003 o total das Norte
áreas protegidas por essas reservas no Rio
Grande do, Sul chegou a 3 944 hectares.

_______________________________________________
EIIIIIIII~ _
CAPíTULO

__ IIL-A_FO_RM_A_Ç_ÃO_S_O_CI_OE_S_PA_C_IA_L _

oterritório rio-grandense era habitado tório rio-grandense, pertencentes a três anti-


primitivamente por povos indígenas. A par- gas etnias, cada uma com vários grupos -
tir do' século XVII começou a ser ocupado ao norte, os jês (kaingangs, guaianás, etc.): na
por europeus, sobretudo portugueses. faixa central, os tapes; no sul e no oeste, os
No início o território que começava a ser chands (minuanos, charruas, guenoas, etc.)
ocupado pelos europeus deveria pertencer à -, bem como à grande nação guarani, cujos
Espanha, pois ficava a oeste da linha de Tor- grupos haviam invadido a região e "guarani-
desilhas. Mas aos poucos, e depois de muitas zado" muitas tribos nativas.
disputas com os espanhóis estabelecidos na
Depois de quase três séculos de domina-
região do Prata, os portugueses conquista-
ção branca, durante os quais os índios foram
ram o território rio-grandense, formando o
submetidos a variadas formas de extermínio,
estado mais meridional do Brasil.
restam hoje cerca de 13 mil remanescentes
daqueles que eram os donos originais da terra.
o extermínio dos índios A maior parte deles é do grupo kaingang;
os demais são guaranis.
Antes da chegada dos europeus calcula-se Os índios atuais vivem em áreas especiais,
que havia cerca de 300 mil índios no terri- oficialmente denominadas terras indígenas,

Rio Grande do Sul: terras indígenas


-~
-rg-. If. SANTA CATARINA I
10.16• ·11-2
ARGENTINA

13
12.
24 22 ·20•
.4 Terra indigen • Etnia Municipio Área (em hectares)

1. Agua Grande Guarani Camaquã 165


7· • 21 2, Barra do Ouro Guarani Maquiné; Riozinho 2266
·14 3. Borboleta Espumoso A definir

•23•3 -'7
4, Cacique Doble
5, Canta Galo
Kaingang/Guarani
Guarani
Cacique Doble
Vlamão
4426
286
2 6. Capivari Guarani Pai mares do Sul 43

25. • 7. Carreteiro Kaingang Água Santa 239


8. Nonoai Kaingang Nonoai 14909
·15 5
6 9, Coxilha da Cruz Guarani Barra do Ribeiro 202
9.
Tenente Portei.; Redentora;
27. 10. Guarita KainganglGuarani
Erval Seco
23406
17\-1 11. Guarani Votouro Guarani Ben'amin Constant do Sul 717
1 t2. Rio da Várzea Kainoano Liberato Salzano 16415
13.lnhacorá Kainoana São Valéria do Sul 2843
URUGUAI 14.lnhacapetum Guarani São Miguel das Missões 36

o 15.lrapuá Guarani Cachoeira do Sul 220

0+'
16.1. Kainoana lrai 279
N
OCEANO 17,Pameca Guarani Camaquã 1852
18. Riozinho Camaquã

];
Kainoano 12
ATLÂNTICO 19. Rio dos Indios Kaingang Camaauã A definir
20. Ligeiro Kainaana Charrua 4552
21. Monte Caseiros Kainaana Mulitemo; Ibiraiaras 1112

S 22. Ventara Kaingang Erebango 772


23. Safio Grande do Jacui Guarani Safio do Jacul 234
24. Serrinha Kaingang Ronda Alta; Três Palmeiras;
Constantina; Engenho Velho 11950

• Áreas demareadas
ou homologadas
O,
ESCALA
130 260, km
25. Varzinha/Três
26, Votouro
Forquilhas Guarani
Kaingang
Caraá
Benjamin Constant do Sul
795
3361
,
• Áreas não demareadas
1 em -130 km 27. Acampamentos Guarani Guarani
Palmares do Sul; Barra do
Ribeiro; São Miguel; Tapes
-

Fonte: Funai, 2002.

_____ '----=-O--=-:ES~PA Ç~O~R .;I O_-_G_R_A_N_D_E_N_S_E ._-------


que no Rio Grande do Sul são em número
de 27; mas apenas treze delas estão devida-
As Missões dos jesuítas
mente demarcadas.
A ocupação do Rio Grande do Sul pelos
Os indígenas deixaram sua contribuição
europeus começou com padres jesuítas vin-
na formação étnica e cultural do Rio Grande
do Sul, especialmente na região das campi- dos do Paraguai. Eles se estabeleceram na
nas. Os charruas, por exemplo, índios cava- margem oriental (leste) do rio Uruguai com
leiros que viviam no sudoeste do estado, co- a finalidade principal de catequizar os índios.
miam carne assada no espeto e usavam indu- Os jesuítas fundaram várias aldeias ou
mentária de couro, constituíram o principal povoados, que eram chamados de Missões
contingente do qual foi recrutada a mão-de- ou reduções. A primeira delas foi fundada
obra necessária ao estabelecimento da ativi- em 1626 pelo padre Roque Gonzales. O
dade pecuária na região. conjunto de povoados de maior importância
Talvez seja na toporiímia, isto é, na deno- histórica foram os Sete Povos das Missões:
minação de lugares e acidentes fisiográficos, São Nicolau, São Miguel, São Luís Gonzaga,
que a influência indígena é mais facilmente São Borja, São Lourenço, São João Batista e
identificada: lbicuí, Coroados, ltaimbé e Santo Ângelo. Localizavam-se no noroeste
inúmeros outros nomes remetem aos habi- do atual Rio Grande do Sul, numa área que
tantes originais do estado. ficou conhecida como região das Missões.

Rio Grande do Sul: região das Missões

SANTA CATARINA
São Luís
ARGENTINA Gonzaga
1" t T Santo Ângelo
São t São Lourenço
Nicolau
1" São João Batista
T São Miguel Arcanjo

OCEANO

ATLÂNTICO
URUGUAI

ESCALA
O 71 142 km
t r !

1 em -71 km

Fonte: Adaptado de Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro, MEC, 1988.

----------------------~--
/'

____ -'_ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL

Os jesuítas introduziram a criação de ani- deveria deixar a áre;, que passaria ao


mais no Rio Grande do Sul: ovinos, muares, domínio dos portugueses, e transferir-se para
eqüinos e principalmente bovinos. Junto o outro lado do rio Uruguai, que pertencia
com a pecuária e valendo-se do trabalho in- aos espanhóis. Liderados pelo cacique Sepé
dígena, desenvolveram também a agricultura Tiaraju, os índios missioneiros recusaram-se
e a extração da erva-mate. a abandonar suas aldeias e perder suas terras.
Sob a direção dos jesuítas, as Missões reu- Seguiu-se então uma longa resistência arma-
niam milhares de índios em uma vida comu- da contra tropas portuguesas e espanholas -
nitária, na qual as atividades eram distribuí- as Guerras Guaraníticas.
das entre todos, que trabalhavam tendo em Embora o Tratado de Madri tenha sido
vista o bem comum. anulado em 1761, e os índios missioneiros
Ainda no século XVII as Missões come-
tenham obtido o direito de permanecer na
çaram a ser invadidas por bandeirantes -
região, as guerras causaram a destruição dos
homens vindos de São Paulo, que atacavam
Sete Povos. Os habitantes das Missões que
as aldeias com a finalidade de aprisionar os
não morreram em combate fugiram para ou-
índios para vendê-Ias como escravos. Devido
tros lugares ou foram escravizados por ban-
aos seguidos ataques dos bandeirantes as
Missões entraram em decadência. deirantes. Os rebanhos de sua criação sol-
Em 1750, pelo Tratado de Madri, Portu- taram-se pelos campos do estado.
gal e Espanha determinaram que a popula- Em 1768 os jesuítas abandonaram o Rio
ção dos Sete Povos - cerca de 30 mil índios Grande do Sul.

Detalhe das ruínas de São Miguel, no interior do município de mesmo nome. As ruínas das Missões são testemunhos
históricos da atuação dos jesuítas no território rio-grandense.

____ ---'_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE


o surgimento das estâncias Atlântico. Ao lado do forte formou-se uma


povoação, que deu origem à atual cidade de
Rio Grande. O domínio português se expan-
Encontrando condições favoráveis de
diu pelas áreas vizinhas, que no seu conjun-
clima, de relevo e principalmente de vege-
to eram chamadas de Continente do Rio
tação, o gado missioneiro dispersou-se pelos
Grande de São Pedro. Esse foi o primeiro
campos rio-grandenses, reproduziu-se livre-
nome do atual estado do Rio Grande do Sul.
mente e tornou-se bravio. No século XVIII
numerosos rebanhos vagavam pelos campos Nessa época - ainda no século XVIII -
do planalto Norte-Rio-Grandense, conheci- desenvolveu-se a mineração em Minas Ge-
dos como Vacaria dos Pinhais, e sobretudo rais, atraindo milhares de pessoas para a re-
pelas campinas, chamadas de Vacaria do Mar. gião. Assim se formou um mercado de consu-
A notícia da existência no Rio Grande do mo para os produtos da pecuária: couro, car-
Sul de rebanhos sem dono atraiu o interesse ne, leite e animais para transporte. Em conse-
de muitas pessoas, principalmente de São qüência a atividade de caça foi sendo substi-
Paulo. As reses eram abatidas em pleno cam- tuída pela criação de gado, pois os animais
po e delas se aproveitavam apenas o couro e passaram a ser reunidos em locais destinados
o sebo. a tal finalidade - as estâncias ou fazendas.
Em 1737, para garantir os interesses dos Estimulada pelo mercado do sudeste do
portugueses instalados na região, foi cons- país, principalmente de Minas Gerais, desen-
truído o forte Jesus-Maria-José, junto ao ca- volveu-se a pecuária no Rio Grande do Sul.
nal que liga a laguna dos Patos ao oceano Portugueses, paulistas e catarinenses - estes

Estância no município de Bagé onde a principal atividade econômica é a pecuária.

________________________________________
~IIIIIIIIL_ _
____ -'_ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAl

particularmente de Laguna - ganhavam do originalmente o homem que trabalhava na


governo grandes extensões de campo, onde fazenda, cuidando do gado. Bem mais tarde
instalavam suas fazendas de criação de gado. todas as pessoas nascidas no Rio Grande do
Muitos dos novos fazendeiros tinham com- Sul passaram a ser chamadas de gaúchos.
batido contra os platinas, que eram os inimi-
gos dos portugueses na disputa pela posse da
região. Com o passar do tempo as áreas cam-
pestres, principalmente as da Campanha,
Ostropeiros
ficaram povoadas de fazendeiros. Junto a al- A tarefa de conduzir o gado dos campos
gumas estâncias surgiram povoados, que mais rio-grandenses para ser vendido no sudeste
tarde se tornaram cidades. do Brasil era feita pelos tropeiros, vindos de
Portanto, a formação do Rio Grande do São Paulo e principalmente de Laguna, no
Sul teve início com o surgimento das estân- litoral catarinense.
cias. Foi na atividade pastoril, particularmente As tropas de gado eram conduzidas a pé e
na Campanha, que surgiu a figura do gaúcho, levavam meses até chegar ao seu destino. Na

Os caminhos do gado

MS

OCEANO

ATLÂNTICO

5 ----. Caminhos do gado

ESCALA D Vacaria dos Pinhais


o 153 306 km
! I

1 cm-153 km
!
D Vacaria do Mar

Fonte: Adaptado de Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro, MEC, 1988.

____ -'_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE


zaaior parte das vezes o gado era vendido na Desse modo os tropeiros contribuíram
~ de Sorocaba, perto da capital paulista, de bastante para o povoamento do estado e para
de era levado para as áreas de consumo, que o Rio Grande do Sul ficasse integrado a
sobretudo em Minas Gerais. No início os tro- São Paulo e demais regiões do Brasil.
~os apanhavam o gado sem dono, que vivia
campinas. Depois muitos tropeiros orga-
nizaram estâncias e tornaram-se fazendeiros. As charqueadas
O gado era conduzido pelo litoral. Em
~s lugares do caminho dos rebanhos sur- A mineração provocou a transferência do
ziram povoados, como São José do Norte, centro econômico do nordeste para o sudeste
ivari, Santo Antônio da Patrulha e ou- do Brasil, ocasionando a mudança da capital
. Alguns povoados cresceram e se torna- do país, de Salvador para o Rio de Janeiro .
cidades. Devido a migrações a população de Mi-
Mais tarde foram abertos caminhos pelo nas Gerais, do Rio de Janeiro e de São Paulo
alto Norte-Rio-Grandense. Esses novos cresceu bastante. À medida que essa popula-
caminhos permitiram que o gado da região ção crescia aumentava o mercado de con-
Missões e da Vacaria dos Pinhais também sumo para os produtos da pecuária gaúcha
esse ser vendido em São Paulo. Pelos ca- - o couro e principalmente a carne.
os do planalto começaram a surgir es- Aos poucos o transporte do gado passou a
cias, chácaras e povoados. Alguns povoa- ser feito também por barcos e navios, pois
transformaram-se em cidades: São Borja, desenvolveu-se a navegação pelo rio jacuí, pe-
ruz Alta e Vacaria. la laguna dos Patos e pelo oceano Atlântico,

queada no início do século XX no interior do Rio Grande do Sul. Nas charqueadas onde o gado era abatido se
ricava o charque, ou seja, a carne bovina era salgada e seca em fatias e, posteriormente, comercializada.

-------------------------------v.
______ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAl

até o Rio de Janeiro. Só bem mais tarde fo- número chegou a ser esti~ado em 80 mil
ram construídas as primeiras ferrovias em ter- indivíduos, por volta de 1860.
ritório rio-grandense, cujo traçado obedeceu A dispersão espacial do negro deu-se do
aos interesses do transporte de gado. litoral para o interior, atingindo a Campa-
Mesmo após o surgimento da navegação, nha e a depressão Central a partir de dois ei-
o Rio Grande do Sul continuou vendendo os xos de irradiação com base em Rio Grande.
animais vivos, pois naquela época não havia No principal deles os escravos eram levados
maneira de conservar a carne fresca por mui- para Pelotas, Canguçu, Piratini e Jaguarão.
to tempo. No entanto, como a parte vendida O outro incluía São José do Norte, Viamão,
era somente o couro e a carne, os fazendeiros Triunfo e Taquari.
resolveram enviar, em vez de bois vivos, a A influência do negro na formação étni-
carne já seca e salgada, que se chama charque. co-cultural do Rio Grande do Sul freqüente-
Dessa forma barateavam o transporte e mente tem sido subestimada. No entanto,
aumentavam seus ganhos. Foi assim que sur- ela aparece de modo significativo em alguns
giram as charqueadas, estabelecimentos onde aspectos da vida rio-grandense, como o es-
se fabricava o charque. porte, a música e de modo especial a religião.
A primeira charqueada foi fundada em
1780, junto ao arroio Pelotas, próximo a Rio
Grande. Em seguida, muitas outras foram Os açorianos
criadas na mesma região e também junto a
diversas fazendas. O povoamento oficial do Rio Grande do
O Rio Grande do Sul tornou-se grande Sul teve início em 19 de fevereiro de 1737,
vendedor de charque. Sua produção e seu co- com a fundação do forte ou presídio (na ver-
mércio atraíram muitas pessoas ao estado. dade uma praça de guerra) que deu origem à
Grandes levas de escravos negros foram trazi- atual cidade de Rio Grande e foi o núcleo
das para trabalhar na atividade saladeiril, isto irradiado r da ocupação do território.
é, na indústria do charque. Junto a muitas O governo português percebia a necessi-
charqueadas surgiram povoações, algumas dade de garantir a posse das áreas em dispu-
das quais mais tarde se tornaram cidades. ta com os platinas, mediante uma ocupação
Dessa forma pode-se dizer que o Rio em bases estáveis através do uso agrícola do
Grande do Sul "nasceu com as estâncias e solo. Para isso promoveu a vinda de habi-
cresceu com as charqueadas". tantes dos Açores, arquipélago localizado em
pleno oceano Atlântico, que ainda hoje per-
tence a Portugal.
A contribuição do negro A partir de 1751 centenas de casais de
açorianos foram encaminhados para o sul do
Embora tenha sido usado como carrega- Brasil. Cada um recebeu um lote de terra
dor por bandeirantes e tropeiros e aproveita- para cultivar, com o propósito de expandir o
do como serviçal doméstico nas fazendas, foi povoamento a partir de Rio Grande. Os aço-
com o desenvolvimento das charqueadas que rianos participaram do desenvolvimento ini-
se deu o ingresso mais expressivo do negro cial de povoados, vilas e cidades, principal-
no Rio Grande do Sul. mente no litoral e na depressão Central: São
Para trabalhar na atividade saladeiril fo- José do Norte, Tavares, Mostardas, Gravataí,
ram trazidas para o estado grandes e sucessi- Santo Antônio da Patrulha e Osório, em um
vas levas de escravos de origem africana, cujo primeiro momento, e posteriormente Triun-

-,-- __ --"_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE



..

fo, General Câmara, Rio Pardo e Cachoeira hoje um bairro de Porto Alegre. Para servir
do Sul. Nessas cidades percebe-se a influência ao comércio de Viamão, havia sido construí-
dos açorianos, especialmente na arquitetura. do um pequeno porto sobre o Guaíba - o
Além do tipo de construção os açorianos porto de Viamão. Marinheiros, comerciantes
legaram ao Rio Grande alguns costumes e tra- e outras pessoas fixaram-se junto a esse
dições que perduram em certas comunidades porto. A população cresceu e o lugar passou
das áreas por eles colonizadas. O sotaque ca- a ser chamado de Porto do Dorneles (que
racterístico e o linguajar do litoral, por exem- vem de Ornelas).
plo, são uma herança cultural dos ilhéus. Em 1752 dezenas de casais açorianos de-
sembarcaram no Porto do Dorneles e recebe-
ram terras do governo, nas quais começaram
A fundação de Porto Alegre a plantar trigo e outros produtos. Eles orga-
nizaram um povoado, onde hoje fica o bair-
Em 1732 Jerônimo de Ornelas Menezes e ro Gasômetro, e construíram uma capela em
Vasconcelos ganhou uma grande extensão de homenagem a São Francisco. Depois da che-
terras do governo português. Situadas a leste do gada dos açorianos o Porto do Dorneles pas-
lago Guaíba, essas terras pertenciam ao municí- sou a ser chamado de Porto dos Casais.
pio de Viamão, que na época era um dos prin- A posição do Porto dos Casais era muito
cipais povoados do Rio Grande do Sul. favorável ao comércio, e ali eram embarcados
Jerônimo de Ornelas organizou uma es- e desembarcados numerosos produtos. As ati-
tância, cuja sede ficava no morro Santana, vidades comerciais e portuárias atraíam rnui-

Porto Alegre, a capital gaúcha, antigo Porto dos Casais, é uma das metrópoles mais importantes do Brasil.
____ - A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL

Caxias do Sul, fundada por imigrantes italianos, conta atualmente com mais de 360 mil habitantes, sendo um destaca-
do pólo industrial e comercial do Rio Grande do Sul.

tas pessoas, fazendo com que a população do


povoado crescesserapidamente. No dia 26 de
Os imigrantes
março de 1772 o povoado foi separado do
São consideradas imigrantes as pessoas
município de Viamão, com o nome de São
que vieram para o Brasil depois da Indepen-
Francisco do Porto dos Casais. Esse dia é con-
dência. Em 1822 os campos do Rio Grande
siderado a data oficial da fundação de Porto
já estavam ocupados, mas as áreas de mata
Alegre.
do planalto Norte-Rio-Grandense e da serra
No ano seguinte o povoado recebeu o
Geral permaneciam despovoadas. Para po-
nome de Freguesia de Nossa Senhora Madre
de Deus de Porto Alegre e tornou-se a capi- voá-Ias, o governo brasileiro resolveu promo-
tal do Rio Grande do Sul. Antes disso a capi- ver a imigração.
tal tinha sido Rio Grande e, por pouco tem- Com o correr dos anos, milhares de imi-
po, Viamão. grantes vieram para o Rio Grande do Sul.
Em 1810 Porto Alegre foi elevada à cate- Com base na agricultura eles ocuparam áreas
goria de vila e, em 1822, tornou-se cidade. de mata, ou seja, colonizaram lugares despo-
Atualmente, segundo o Censo Demográfico voados do estado. Por isso foram chamados
2000, a cidade ocupa o nono lugar em popu- de colonos, e as áreas por eles ocupadas fica-
lação no Brasil com mais de 1,3 milhão de ram conhecidas como zonas coloniais. Ainda
habitantes. hoje, mesmo depois de grandes transforma-

_____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE


ções socioespaciais, o conjunto dessas zonas Por serem donos das terras que ocupavam
não raro é chamado de região colonial do e por ficarem com toda a produção obtida, os
Rio Grande do Sul. colonos sentiam-se estimulados a trabalhar e a
Ao chegar ao estado cada colono recebeu produzir cada vez mais. Dessa forma, as zonas
coloniais do estado progrediram bastante.
um lote de terra, que passou a cultivar com a
No início os colonos produziam para sua
ajuda dos membros da família. Os colonos
subsistência, mas logo passaram a obter exce-
introduziram a policultura no estado, pois
dentes. Com o dinheiro ganho na venda des-
dedicavam-se ao cultivo de vários produtos: ses excedentes podiam comprar outros pro-
trigo, milho, batata, frutas, verduras e legu- dutos. Dessa forma desenvolveu-se o comér-
mes. Juntamente com a agricultura, criavam cio, ao mesmo tempo que se formavam mer-
animais: vacas leiteiras, porcos e galinhas. cados de consumo nas zonas coloniais.

Rio Grande do Sul: áreas de colonização

SANTA CATARINA

OCEANO

ATLÂNTICO

c:J Alemã

D Italiana

c:J Mista (expansão)

O Poloneses

Açorianos (século XVIII)

Fonte: Adaptado de Brasil: 500 anos de povoamento. IBGE, 2003.

____________________________________________IIIIIIIII~-----
----
lIIIIIí,iijJ!i . J A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL

-.
Entre os imigrantes vieram muitos arte- região é Novo Hamburgo, que também pos-
sãos, que instalaram pequenas oficinas, co- sui muitas outras indústrias.
mo tecelagens, serralherias, marcenarias, cur- Quando as primeiras zonas ocupadas já
tumes, etc. Havendo compradores para seus estavam bastante povoadas os alemães subiram
produtos, muitas oficinas cresceram e, mais o planalto e foram para o norte e noroeste do
tarde, transformaram-se em indústrias: têx- estado. Aí também se estabeleceram colonos
teis, mecânicas, de móveis, de calçados, etc. poloneses e imigrantes de outras origens.
Diversos grupos de imigrantes vieram Em 1875 chegaram ao Rio Grande do
para o Rio Grande do Sul: os principais fo- Sul os primeiros italianos, que colonizaram a
ram alemães, italianos e poloneses. Os que parte superior da encosta e a borda do pla-
vieram em maior número foram os alemães e nalto. O primeiro povoado organizado pelos
os italianos. italianos transformou-se na maior cidade do
Os alemães começaram a chegar ao esta- interior do estado: Caxias do Sul. Os italia-
do em 1824, desembarcando no lugar onde nos fundaram outros povoados, que origina-
hoje fica a cidade de São Leopoldo. Eles co- ram as cidades de Bento Gonçalves, Farrou-
lonizaram a parte inferior da encosta do pla- pilha, Garibaldi, entre outras.
nalto Norte-Rio-Crandense, sobretudo os Junto com a policultura os italianos in-
vales dos rios Caí, dos Sinos, Pardo e Taqua- troduziram no Rio Grande do Sul o cultivo
ri. Fundaram vários povoados, alguns dos da uva e a fabricação do vinho - a vitivini-
quais se tornaram cidades, como Novo cultura. A região colonial italiana é famosa
Hamburgo, São Leopoldo, Lajeado e São Se- no Brasil inteiro pela qualidade das uvas e
bastião do Caí, entre outras. Hoje em dia o dos vinhos que produz. As cidades que eles
vale do Rio dos Sinos é famoso por sua in- fundaram, em particular Caxias do Sul,'
dústria de produtos de couro, com destaque possuem muitas indústrias: metalúrgicas,
para o setor de calçados. A maior cidade da mecânicas, malharias, fábricas de móveis, etc.

Grupo de danças típicas em Dois Irmãos (RS), município de colonização alemã.

O ESPAÇO RIO·GRANDENSE
Assim, os imigrantes europeus, sobretudo Rio Grande do Sul: evolução municipal
alemães e italianos, contribuíram de maneira
significativa para a formação do estado. Tal
contribuição ocorreu especialmente nas zo-
nas coloniais, onde a maioria da população
atual é formada por descendentes de imi-
grantes. Na parte inferior da encosta do pla-
nalto, por exemplo, a influência alemã é visí-
vel nas características étnicas e culturais da
maioria das pessoas; ela está presente nos há-
bitos, nas tradições e até na maneira de falar.
A influência italiana é marcante nos habitan-
tes da parte superior da encosta. 1809
4 municípios

A evolução municipal
A unidade básica da organização político- /.. . . ..
administrativa do Brasil é o município, dota-
do de autonomia e poderes próprios, nos ter-
. "

mos da Constituição federal. A sede de um ... . " ... .


"
'

município é, por definição, uma cidade. Por


conveniência administrativa, o município
pode dividir-se em subunidades, os distritos.
No início do século XIX o Rio Grande
do Sul tinha apenas quatro municípios: Rio
Grande (o mais antigo), Santo Antônio da
1900
64 municípios
Patrulha, Rio Pardo e Porto Alegre. Em
1900 tinha 64 e, em meados do século XX,
esse número chegava a 112. A partir do fim
......
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dos anos 1980 ocorreu um surto de emanci- ~., "
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pações municipais no estado, como em todo

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o país. Nem sempre em condições recomen-


dáveis, mas favorecidos por uma legislação
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pouco exigente, inúmeros distritos consegui- . • ' •:" .....:
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ram se emancipar, tornando-se municípios.


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'. . ":iV
.
.. e

Em 1987, quando o estado tinha 244


municípios, ocorreram 29 emancipações.
o ano seguinte, mais sessenta, perfazendo
333. Com mais 94 emancipações em 1992, 2001
497 municipios
outras 40 em 1996 e 30 em 2001, o estado
chegou a 497 municípios.
Fonte: Governo do Rio Grande do Sul.

____________________________________________
~EIIIIIIII~ ~
CAPíTULO

A POPULAÇÃO

Assim como a do Brasil, a população rio- Brasil: composição étnica da população


grandense foi formada por diferentes grupos 0,5%

humanos, com predomínio de europeus. No


estado, contudo, esse predomínio é mais for-
te, principalmente porque houve expressiva
participação não só de portugueses -- o ele-
mento dominante --, mas também de outros
povos de origem européia, sobretudo ale-
mães e italianos.
A participação dos negros na formação da
população gaúcha não foi tão grande como a
que ocorreu, por exemplo, no litoral do Nor-
deste brasileiro. A contribuição dos índios
-- mesmo que modesta, principalmente se Negros
for comparada com a que aconteceu em al-
gumas regiões do Brasil, como a Amazônia Indígenas
-- foi significativa nas áreas de formação
pastoril do estado. Muitos gaúchos de hoje Brancos
têm sangue indígena. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
De qualquer maneira, a miscigenação pro-
duziu uma razoável porcentagem de mesti- Rio Grande do Sul:
ços, sobretudo mulatos. Juntamente com os composição étnica da população
negros, a imensa maioria deles vive nos bair- _0,04%
ros pobres dos maiores centros urbanos do
estado, principalmente na capital e nas cida-
des vizinhas. Isso acontece porque, de modo
mais evidente que no resto do Brasil, a con-
dição de cor está muito ligada à condição
econômica e social: por falta de melhores
oportunidades a população não-branca ge-
ralmente exerce atividades menos valorizadas
e, portanto, de remuneração mais baixa. Se-
gundo o Censo Demográfico 2000, conside-
rando as pessoas com 10 ou mais anos de
idade, enquanto o analfabetismo atinge 7%
da população branca, chega a 12% entre os o Negros
III--AJn-=M--el-o-s-------------------------
negros e a 15% entre os pardos ou mestiços.
A população do Rio Grande do Sul apre- Outros
senta uma porcentagem de brancos bem mais
elevada do que a população brasileira em geral, Brancos
enquanto a proporção de negros e sobretudo Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 .

. tl O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Rio Grande do Sul: descendência européia pulação depende de fatores naturais, históri-
cos e sobretudo econômicos. Assim, as áreas
menos povoadas são o litoral sul e médio,
onde a ocupação produtiva do solo é pouco
expressiva, e aquelas originalmente cobertas
por campos, onde se deu uma formação
socioespacial com base na criação de gado.
No oeste e no sudoeste do estado ainda
hoje a pecuária é predominante, praticada em
grandes propriedades. A agricultura, desen-
volvida nas últimas décadas, geralmente é
mecanizada. A lavoura com emprego de má-
• Portuguesa quinas e principalmente a atividade criatória
Italiana não requerem muita mão-de-obra. Por isso a
Alemã região da Campanha é pouco povoada, com
Outras menos de 10 hab.zkm': só as áreas em torno
das principais cidades apresentam densidades
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
um pouco maiores. Por motivos semelhantes
os antigos campos do planalto, no nordeste
de mestiços é bem inferior. Estima-se que a po- do estado, hoje dominados pela agricultura
pulação branca do estado tenha aproximada- mecanizada e pela fruticultura, também têm
mente a seguinte descendência: portuguesa: baixas densidades de população.
35%; alemã: 25%; italiana: 25%; outras: 15%. Por outro lado, as áreas do planalto e da
encosta, de formação socioespacial assentada
na agricultura, têm densidades médias, altas
A distribuição espacial ou muito altas. De modo geral as densidades
médias são encontradas no planalto, onde
Com cerca de 10,2 milhões de habitan-
tes, que representam 6% da população brasi- Região Sul: distribuição da população
leira, o Rio Grande do Sul é o quinto estado
mais populoso do país (depois de São Paulo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia). Entre
os estados da região Sul, a população gaúcha
é levemente superior à do Paraná.
O Rio Grande do Sul tem uma média de
36 hab.zkrrr' - quase o dobro da densidade
demográfica do Brasil. Portanto, o estado é
relativamente bem povoado. Todavia, não é
dos mais povoados do país, estando abaixo
inclusive de Santa Catarina (55 hab.rkm") e
do Paraná (47 hab.Zkm-).
A distribuição da população pelo espaço
-o-grandense é irregular, pois a densidade
demográfica varia de uma região para outra. Santa Catarina
Como se sabe" a distribuição espacial da po- Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
A POPULAÇÃO

dominam lavouras mecanizadas em proprie- ciais e de serviços. A região metropolitana de


dades também médias, e com uma rede de Porto Alegre concentra um terço da popula-
cidades de razoável porte, nas quais se desta- ção total do estado.
ca a agroindústria.
As densidades são maiores nos vales que
entalham a encosta devido ao histórico pre-
domínio da policultura realizada em peque-
o crescimento demográfico
nas propriedades, que empregam bastante
mão-de-obra. Hoje o desenvolvimento in-
e a urbanização
dustrial e a conseqüente urbanização confe-
Desde que a imigração no país foi subs-
rem altas densidades demo gráficas aos vales
tancialmente restringida, em 1934, a popu-
dos rios Caí, Taquari e Pardo.
De outra parte, a região industrial de Ca- lação do Rio Grande do Sul cresce segundo
xias do Sul, na borda do planalto, e notada- taxas menores que as verificadas na popula-
mente a de Porto Alegre, que inclui o vale do ção brasileira. Isso se deve fundamentalmen-
rio dos Sinos, possuem densidades demográ- te a menores índices de natalidade ocorrentes
ficas muito altas numa escala brasileira. São no estado, em conseqüência de um nível mé-
espaços fortemente urbanizados, nos quais dio de vida mais elevado da população gaú-
dominam as atividades industriais, comer- cha em relação ao da população do país.

Rio Grande do Sul: densidade demográfica

SANTA CATARINA

ARGENTINA

OCEANO
ATLÂNTICO
URUGUAI

Habitantes por km2


[=:J 1-10

ESCALA
[=:J 11-25
o 75 150 km 26-100
! ! ,

100 ou mais
1 em - 75 km

Fonte: Adaptado de Atlas geogrdfico escolar. IBGE, Rio de Janeiro, 2002.

O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Comparando as taxas anuais de cresci- Como em todo o Brasil, o crescimento
mento verifica-se que tanto para a população populacional do estado nas últimas décadas
rio-grandense quanto para a brasileira os va- está associado à urbanização, isto é, à passa-
lores máximos ocorreram no final da década gem da população de atividades agrárias para
de 1950 e início dos anos 1960, quando se atividades urbanas.
deu o auge da explosão demo gráfica no país. Em quarenta anos - de 1940 a 1980 -
A desaceleração demo gráfica - a redu- houve uma inversão completa da situação de
ção significativa do ritmo de crescimento po- domicílio da população: de essencialmente
pulacional devido à diminuição da natalida- rural para flagrantemente urbana. Hoje, de
de - iniciou-se primeiro no Rio Grande do cada cinco rio-grandenses, apenas um vive
Sul, nos anos 1970. Apenas na década se- na zona rural.
guinte o fenômeno ocorreu no conjunto do Nos anos 1970 a urbanização do estado
país. Isso significa que há mais tempo o esta- ocorreu sem grandes distorções: apesar do
do viu-se aliviado das pressões demo gráficas maior incremento de cidades próximas à ca-
que agravam muitos problemas do subdesen- pital, houve também um crescimento de ci-
volvimento: carência alimentar, déficit habi- dades médias e pequenas do interior.
tacional, analfabetismo, etc. No último período intercensitário, porém,
Atualmente, segundo estimativas do 60% do crescimento demográfico aconteceu
IBGE, enquanto a população brasileira cres- em municípios com mais de 100 mil habi-
ce cerca de 1,4% ao ano, a população rio- tantes. Os municípios com menos de 10 mil
grandense aumenta 1,0%. residentes tiveram, no conjunto, um decrésci-

Taxa média de incremento anual da população (em %)


%
2,99
3 2,89

2,54
2,48

2 1,93

1,63
1,55 1,48

1,22

1950/1960 1960/1970 1970/1980 1980/1991 1991 /2000

Brasil
LI Rio Grande do Sul

"
Fontes: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil 1999 e Censo Demográfico 2000,
A POPULAÇÃO

Brasil: distribuição da população Rio Grande do Sul; distribuição da população

1940 1950 1950

1970
.:»
67%

1980 1991 1970 1980 1991

2000

Fontes: IBGE, Anuário Estasistico do Brssi :999 e Censo Demográfico 2000.

mo de população. Isso quer dizer que os pe- oeste e sudoeste do estado. As áreas mais de-
quenos centros já não atraem a população que senvolvidas, ou de maior dinamismo econô- .
deixa o campo; ela prefere os centros maiores, mico, são as que apresentam maior cresci-
onde acredita haver melhores oportunidades mento demográfico embora tenham taxas de
de ascensão econômica e social. Com isso o crescimento natural mais baixas. Isso ocorre
crescimento e a urbanização ocorrem não só devido às migrações internas das regiões mais
na região que envolve a capital, mas essencial- pobres para as áreas com maiores perspectivas
mente nas cidades médias e sobretudo gran- socioeconômicas. Essas migrações têm sido
des do interior. A contrapartida é que mais de significativas nas últimas décadas.
70% dos municípios gaúchos possuem menos Nos anos 19 O os grandes pólos de atra-
de 20 mil habitantes. ção de migrames eram as cidades que se in-
dustrializavam: Caxias do Sul, na borda do
planalto; ovo Hamburgo e São Leopoldo,
As migrações internas no vale dos Sinos; Santa Cruz do Sul, no vale
do rio Pardo; Canoas e Guaíba, junto a Por-
Por ser uma média a taxa de crescimento to Alegre. Também atraíam migrantes as ci-
demográfico esconde a dinâmica interna da dades do planalto orte-Rio-Crandense,
população, pois o fenômeno não é homogê- que se desenvolviam graças ao chamado "mi-
neo; ao contrário, varia de uma região para lagre da soja", como Passo Fundo, Ijuí, Santo
outra. Ângelo e Santa Rosa.
Em geral o crescimento vegetativo é maior Nos anos 1980, após a fase áurea da soja,
nas áreas economicamente menos desen- quando os preços no mercado internacional
volvidas, devido à natalidade mais elevada. É deixaram de ser tão compensadores, as áreas
o que acontece, por exemplo, na fronteira produtoras, que outrora atraíam migrantes,

P!I O ESPAÇO RIO-GRANDENSE


passaram a converter-se em expulsaras de Região industrial de Caxias do Sul Em-
população, vindo juntar-se à Campanha, bora o maior crescimento demo gráfico tenha
aos campos de cima da serra - tradicionais ocorrido na década anterior, quando se con-
áreas de emigração - e ao alto e médio vale solidou o pólo metal-mecânico da serra, a
do Uruguai, onde a inviabilidade do mini- industrialização diversificadacontinua atraindo
fúndio causa o êxodo de antigos colonos. migrantes para a região: Caxias, Farroupilha,
No último período intercensitário (1991- Bento Gonçalves, Flores da Cunha.
2000) a população do estado cresceu a uma A chamada zona turística da serra ou re-
média geométrica anual de 1,22%, totalizan- gião das hortênsias, ligada pela proximidade
do 11,4% no período. Essa média, no entan- a Caxias do Sul, apresentou um expressivo
to, encobre sensíveis diferenças, pois algumas crescimento populacional, superior ao dobro
áreas cresceram bem mais que o estado, en- da média estadual.
quanto outras ficaram abaixo da média esta- Por sua vez, os vales do Taquari (Lajeado,
dual, havendo algumas que até diminuíram Estrela) e do Pardo (Santa Cruz do Sul), os
sua população. arredores de Pelotas (no sul) e de Santa Ma-
ria (no centro do estado) ficaram mais ou
As regiões que mais cresceram foram o
menos na média de crescimento demográfi-
litoral norte, a região metropolitana de Porto
co estadual. As demais regiões tiveram cresci-
Alegre e a região industrial de Caxias do Sul,
mento abaixo da média. Algumas delas che-
sobretudo por causa das migrações internas.
garam a apresentar taxas negativas, isto é,
Litoral norte. Ao lado da atração exercida perderam população em números absolutos:
pelas atividades ligadas ao tradicional turis- Missões (Santo Ângelo), planalto Médio ou
mo de verão, a migração de aposentados, fu- zona da produção (Passo Fundo), fronteira
gindo das grandes cidades, ocasionou um noroeste (Santa Rosa) e região celeiro ou no-
forte incremento demo gráfico da região, ex- roeste colonial (Ijuí, Três Passos).
presso em taxas anuais muito acima da mé-
dia estadual: Balneário Pinhal (10,64%), Ar-
roio do Sal (5,71 %), Torres (4,61 %), Ca- A emigração
pão da Canoa (4,35%), Xangri-Ia (4,32%).
Região metropolitana de Porto Alegre. A Como se sabe, o planalto e a encosta fo-
média anual de crescimento (1,69%) resulta ram colonizados por imigrantes europeus e
principalmente do incremento populacional seus descendentes, com base na pequena
da periferia da capital (2,17%), porquanto o propriedade, no uso de mão-de-obra familiar
núcleo, já saturado demograficamente, cres- e na policultura associada à criação de ani-
ceu apenas 0,93% ao ano. Principalmente mais. Esse sistema econômico-social em que
por serem mais antigos, os centros de maior o produtor é o dono dos frutos do seu traba-
expressão econômica da periferia, como No- lho estimulou o maior desenvolvimento das
vo Hamburgo e São Leopoldo, crescem me- regiões coloniais, particularmente em com-
nos que as cidades incorporadas posterior- paração com a região de grandes proprie-
mente ao processo de metropolização, como dades da Campanha.
Triunfo, onde foi instalado o pólo petroquí- No entanto, com o passar das gerações, as
mico do estado. Mesmo industrializada há terras foram sendo sucessivamente partilha-
mais tempo, Gravataí teve um crescimento das, de maneira que muitas propriedades ru-
médio anual de 3%, depois de acolher o rais se tornaram minifúndios, incapazes de
complexo automotivo da General Motors. sustentar uma família sequer. Nessas condi-
A POPULAÇÃO

ções, a antiga rotação de terras, em que sem- Miguel do Oeste, etc. Na década seguinte
pre há uma parcela em descanso, não pôde novas levas de colonos povoaram o sudoeste
mais ser mantida, obrigando cada família ao do Paraná, na região de Pato Branco. A emi-
uso continuado de toda a extensão da pro- gração continuou e, na década de 1950, ocor-
priedade. Com isso os solos esgotam-se rapi- reu o povoamento do sul de Mato Grosso do
damente. Ao mesmo tempo, tornou-se ne- Sul (região de Dourados). Nos anos 1960, co-
cessário desmatar e incorporar ao cultivo lonos não só gaúchos, mas também descen-
áreas antes preservadas, geralmente nos terre- dentes dos primeiros colonizadores do oeste
nos mais inclinados. Na encosta e principal- catarinense e do sudoeste do Paraná, esten-
mente nos vales esse fenômeno ocasionou deram o fluxo migratório para o norte, po-
sérios problemas de erosão dos solos e asso- voando áreas próximas a Campo Grande.
reamento dos cursos de água. Até então os migrantes gaúchos coloniza-
Por tudo isso as regiões coloniais, em par- vam as novas terras em moldes semelhantes
ticular o médio e o alto vale do Uruguai, tor- aos de seus ancestrais: culturas diversificadas
naram-se áreas de emigração. Já na década de em pequenas propriedades.
1930 descendentes de colonos rio-grandenses Nos anos 1970 persistiu o que alguns
abandonaram o estado e foram povoar o oeste chamam de "diáspora gaúcha", só que agora
de Santa Catarina: Chapecó, Concórdia, São em busca de terras baratas preferentemente

A partir do território gaúcho, a emigração tem disseminado alguns hábitos tipicamente gaúchos, como o do chimar-
rão, por diversas áreas do interior do Brasil.

O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
para o cultivo da soja - que, por ser uma chos povoando áreas do noroeste de Mato
monocultura, demanda propriedades maio- Grosso (Aripuanã), Acre (Xapuri), sul do A-
res. Assim, o fluxo migratório avançou pou- mazonas (Humaitá) e até no longínquo esta-
co a pouco, ocasionando a presença de rio- do de Roraima.
grandenses no norte de Mato Grosso do Sul Desse modo, há dezenas de anos o Rio
(Rio Verde de Mato Grosso), no sul de Goiás Grande do Sul vem contribuindo para o
(Rio Verde), em diversas áreas de Mato Gros- povoamento de regiões desabitadas do inte-
so (Rondonópolis, no sul; Novo Oeste, no rior do Brasil. Embora alguns entendam que
oeste; Sinop, no norte; São Félix do Araguaia, a emigração é prejudicial ao estado, que com
no nordeste), em Rondônia (ji-Paraná) e no ela perde recursos humanos geralmente qua-
Pará (Altamira). lificados para a prática agrícola, não se pode
Nos anos 1980 e 1990 agricultores gaú- ignorar que o processo apresenta pelo
chos estabeleceram-se no Triângulo Mineiro menos dois aspectos positivos:
(Uberaba), em regiões de cerrado do Tocan- • alivia a pressão demo gráfica em áreas
tins, no oeste da Bahia (Barreiras), no sul do onde não há mais terras a explorar;
Piauí (Monte Alegre do Piauí) e no Mara- • amplia o espaço agrário do país, pela in-
nhão (Balsas). Simultaneamente continuou a corporação de novas áreas produtivas ao
corrente migratória para o norte, com gaú- mercado nacional, beneficiando o Brasil.

Rio Grande do Sul: emigração

OCEANO
ATLÂNTICO

OCEANO
PAcíFICO
Década de
---+ 1930

---+ 1940

---+ 1950

---+ 1960
ESCALA
o 440 880 km ---+ 1970
---+
! ! !

1 cm-440km 1980/1990

Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000.


A POPULAÇÃO

o nível de vida Renda média per capita (em R$)

A formação socioespacial do Rio Grande 10000


9457
do Sul, especialmente o sistema econômico-
social que presidiu a colonização realizada
8000
por imigrantes europeus, ocasionou vários
6961
condicionamentos históricos em que se for-
jou a população rio-grandense:
6000
• dieta alimentar diversificada e rica em nu-
trientes - proteínas, sais minerais e vita-
minas -, proporcionada pela prática da 4000
policultura colonial associada com a cria-
ção de animais; dessa forma, generalizou-
se o hábito de consumir, sempre que pos- 2000
sível, carne, laticínios, frutas e hortaliças;
• preocupação com a educação e com a cul-
tura, o que levou ao desenvolvimento do o
ensino e ao compromisso com os estudos,
Brasil
se necessário com iniciação doméstica;
• desenvolvimento econômico do estado em
LJ Rio Grande do Sul
Fonte: FEE.
geral e de regiões colonizadas por imigran-
tes em particular.
Esses condicionamentos históricos são os
principais fatores que explicam o fato de a po- grama das Nações Unidas para o Desenvol-
pulação rio-grandense ter um nível de vida vimento (Pnud) e pelo Instituto de Pesquisa
superior ao da média da população brasileira. Econômica e Aplicada (Ipea), aponta o Rio
O desenvolvimento gaúcho se expressaatravés Grande do Sul como o terceiro estado brasi-
de diversos indicadores. Assim, enquanto a leiro de maior Índice de Desenvolvimento
expectativade vida da população brasileiraé de Humano (IDH) entre todas as unidades da
68 anos, a da população rio-grandense é de 75
anos. Enquanto a mortalidade infantil no
Federação. Esse índice, que varia de a 1 e
consiste numa combinação entre renda per
°
Brasilé de cerca de 29,6%0, no Rio Grande do capita, escolaridade e expectativa de vida, é de
Sul é de 15%0. O analfabetismo, por sua vez, é 0,809 no estado, enquanto no Brasil é de
maior no Brasil (12,8%) do que no estado 0,753. Segundo a ONU, portanto, o Rio
(6,1%). A vantagem do estado aparece ainda Grande do Sul apresenta um alto índice de
nas taxas de escolaridade e em outros indi- desenvolvimento humano, comparável ao de
cadores. Na renda per capita o estado supera alguns países da Europa, como a Croácia e a
folgadamente o país - 9 457 reais anuais no Lituânia, por exemplo. No entanto, como
Rio Grande do Sul contra 6961 reaisno Brasil. acontece com qualquer indicador, esse índice
O Relatôrio sobre o Desenvolvimento Hu- elevado omite diferenças existentes no estado
mano no Brasil, publicado em 2002 pelo Pro- quanto ao nível de vida da população.

; O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
o ESPAÇO AGRÁRIO
Em conseqüência da sua formação socioes- do nacional integrado e da inserção mais
pacial o Rio Grande do Sul é um estado pre- profunda do país na economia internacional.
dominantemente agropastoril, ou seja, a base Tais modificações, que constituem um pro-
de sua economia está na agricultura e na cesso de modernização agrícola, estão ligadas
pecuária. à expansão da agricultura empresarial ou co-
Graças a condições naturais e históricas mercial, em detrimento da tradicional agri-
favoráveis o estado possui uma agropecuária cultura colonial ou familiar. As lavouras co-
diversificada, na qual se destacam numerosos merciais se instalam no planalto Norte-Rio-
produtos; muitos deles têm no Rio Grande Grandense, invadem as tradicionais regiões
do Sul o maior produtor nacional ou, pelo pastoris e adentram os vales da encosta, onde
menos, um dos grandes produtores do país. dominava a agricultura colonial.
O estado é o maior produtor brasileiro de A agricultura colonial, historicamente
arroz, centeio, cevada, linho, fumo, batata- destinada em parte à subsistência, caracteri-
doce, ervilha e frutas temperadas, como uva, za-se pela policultura: milho, trigo, batata,
pêssego, pêra e noz. E é o segundo produtor mandioca, feijão, frutas e hortaliças. É prati-
de milho, trigo, maçã, aveia, figo e tangerina. cada em pequenas propriedades, com mão-
Além de ter o maior rebanho ovino do de-obra familiar e associada à criação de ga-
país, o Rio Grande do Sul destaca-se por sua do leiteiro, suínos e aves.
criação de bovinos, suínos, aves e eqüinos. É Além de levar ao mercado os excedentes
o maior produtor brasileiro de lã e um dos do consumo doméstico, esse tipo de agricul-
grandes produtores de carne bovina, de por- tura apresenta quase sempre um ou outro
co e de frango, além de ovos, cavalos de raça produto especialmente destinado à venda.
e couro. Por isso a agricultura familiar tem sido a prin-
Antigamente, devido a sua grande produ- cipal responsável pela produção de alimentos,
ção agropecuária, que lhe permitia abastecer sobretudo os de consumo popular, como fei-
o incipiente mercado nacional, o Rio Gran- jão, mandioca e batata.
de do Sul era chamado de celeiro do Brasil. Alguns produtos comercializáveis ganha-
Hoje, porém, depois da ampliação das fron- ram destaque e acabaram notabilizando de-
teiras agrícolas do país, com a incorporação terminadas áreas coloniais. Esse foi o caso da
de novas e variadas áreas produtivas ao espa- laranja, no vale do Caí, de colonização ale-
ço nacional, o estado já não tem a mesma mã; e, com maior expressão, da uva e do
importância relativa que teve no passado. vinho - a vitivinicultura -, na zona de colo-
nização italiana, como Caxias do Sul, Bento
Gonçalves e Garibaldi.
A agricultura Em algumas áreas de colonização alemã,
particularmente no vale do Rio Pardo, o fu-
Nas últimas décadas, principalmente nos mo tornou-se o principal produto, sendo Ve-
anos 1970, o espaço agrário rio-grandense nâncio Aires, Candelária e Sobradinho os
sofreu grandes modificações, em conseqüên- municípios de maior produção. Em Santa
cia do avanço das relações capitalistas de pro- Cruz do Sul, principal centro urbano regio-
dução, ao lado da constituição de um rnerca- nal, está localizada a maior indústria de be-

___________________________________________________
I~,~·
~~ __~ _
___ ---'~ I : I o ESPAÇO AGRÁRIO

-.
neficiamento de fumo da América Latina, no alto vale do Uruguai, causando o êxodo
cuja produção se destina à exportação. O Rio de descendentes de antigos colonos.
Grande do Sul participa com cerca de 50% A agricultura empresarial tornou-se domi-
da produção nacional de fumo. nante no estado. Ela emprega máquinas e in-
A lavoura de fumo constitui um exemplo sumos químicos, o que demanda razoáveis
do que se chama agricultura industrial, na investimentos e a existência de propriedades
qual a indústria rigorosamente comanda a médias e grandes. Os principais produtos de
atividade agrícola. Embora não seja um em- cultivo comercial são o arroz, a soja, o trigo
pregado, o colono ou pequeno agricultor é e o milho.
completamente subordinado à empresa, que
lhe fornece os insumos, dá-lhe as orientações
técnicas e compra-lhe a produção pelo preço Arroz e soja
que ela própria estabelece.
Hoje a policultura colonial não tem mais O cultivo de arroz foi a primeira lavoura
a presença que teve no passado, pois especia- moderna a se desenvolver no estado. Cultura
lizou-se, tornou-se agricultura industrial ou mecanizada e irrigada, aparece em terrenos
foi substituída pela lavoura empresarial. De planos e baixos, próximos a rios ou lagoas.
forma desfigurada e empobrecida, subsiste As áreas de cultivo mais antigas são a depres-
em áreas de relevo acidentado, solos erodidos são Central, principalmente o vale do jacuí,
e minifúndios - fatores que dificultam a a margem oeste das lagunas e lagoas costeiras
modernização. Isso acontece, por exemplo, e o médio vale do Uruguai. Posteriormente,

Ao contrário do que ocorre em grande parte do Brasil, no Rio Grande do Sul - maior produtor nacional - cultiva-se
o arroz de várzea ou irrigado, que constitui a principal lavoura da metade sul do estado.

___ ---"~~ @lI O ESPAÇO RIO-GRANDENSE


a lavoura expandiu-se por quase todos os va- acabaram marginalizados. Com isso ocor-
les fluviais da metade sul do estado, por ini- reu uma "favelização" até em pequenos e
ciativa de empresários nem sempre locais - médios centros urbanos, onde antes era
muitos de origem urbana -, em terras ar- muito reduzida a presença de pessoas em
rendadas de fazendeiros. O Rio Grande do situação de miséria; ao mesmo tempo,
Sul é responsável por cerca de 40% da pro- deu-se uma concentração da propriedade
dução nacional de arroz, e os maiores produ- fundiária, devido à reaglutinação de pe-
tores são Uruguaiana, Santa Vitória do Pal- quenos imóveis.
mar, ltaqui, Alegrete e Arroio Grande. • O uso abundante e excessivo de produtos
A lavoura de soja foi o principal agente químicos na lavoura, como fertilizantes e
modernizado r da agricultura rio-grandense. pesticidas, provocou o esgotamento do
O desenvolvimento da indústria de óleos solo e a poluição de riachos e rios.
vegetais e sobretudo os altos preços alcança- Embora possa ser encontrada em outras
dos pelo produto no mercado internacional regiões do estado, a cultura da soja está con-
propiciaram uma grande expansão da soji- centrada no planalto Norte-Rio-Grandense,
cultura a partir dos anos 1970. Nessa década onde é uma das bases da economia, particu-
a soja ocupou as terras até então cultivadas larmente na região das Missões (Giruá, São
com outros produtos, chegando em algumas Miguel das Missões, São Luís Gonzaga), no
áreas a ocorrer a monocultura. conhecido planalto Médio, onde fica a
O cultivo da soja é feito no verão, em la- chamada zona da produção (Palmeira das
vouras mecanizadas, geralmente em médias e Missões, Passo Fundo e Carazinho), no alto
grandes propriedades. Os pequenos imóveis Jacuí (Cruz Alta, Santa Bárbara do Sul, For-
rurais não comportam os altos investimentos taleza dos Vales) e em parte da região central
necessários à obtenção da desejada produti- do estado (Tupanciretã).
vidade. A produção destina-se em grande
parte à exportação, sob a forma de grãos e fa-
relo e, principalmente, de óleo. Trigo e milho
A enorme expansão da lavoura de soja
ocasionou grandes alterações no espaço rio- O trigo geralmente aparece associado
grandense, entre as quais se destacam: com a soja, como cultura de inverno. Portan-
• Muitos agricultores trocaram o cultivo de to seu cultivo também é feito no planalto,
produtos alimentares pelo plantio da soja, destacando-se a produção de Giruá, Palmei-
contribuindo com isso para a escassez de ra das Missões, São Borja, Ijuí e Cruz Alta.
alguns alimentos, como o feijão. As lavouras são altamente mecanizadas, e
• Ao abandonarem a policultura, descenden- boa parte da produção gaúcha é vendida a
tes de antigos colonos passaram a depender outros estados.
exclusivamente da soja; a redução dos pre- O milho é plantado em muitas áreas do
ços do produto nos anos 1980 deixou-os Rio Grande do Sul, sobretudo no planalto e
em situação de difícil sobrevivência. na encosta, tradicionalmente como cultivo
• Pressionados por dívidas ou seduzidos de subsistência. É cultivado também nas
por preços atraentes oferecidos por suas áreas coloniais, associado à suinocultura.
terras, pequenos proprietários venderam Nos anos 1970 o milho perdeu parte da
seus imóveis a grandes plantadores ou a sua importância, pois muitas plantações fo-
empresas rurais, abandonando o campo e ram substituídas por soja. Mas já na década
indo pa~a as cidades, onde muitos deles seguinte, com o desenvolvimento da avicul-
___ ---'~ o ESPAÇO AGRÁRIO

tura, da pecuária leiteira e da suinocultura No entanto, quanto à qualidade do reba-


empresarial, esse cereal nativo da América nho, o Rio Grande do Sul é o estado que
voltou a merecer a preferência de numerosos mais se destaca, pois é o único onde predomi-
agricultores. Trata-se agora de lavoura mo- na a criação de raças de origem européia. Nos
derna, quase sempre mecanizada e voltada demais estados são criados animais de raças
para a alimentação animal, seja para consu- de origem indiana, que, apesar dos avanços
mo direto, seja para o abastecimento da in- técnicos, dão menor rendimento de carne e
dústria de rações. fornecem couro de qualidade inferior.
Muitos municípios do estado destacam- Por influência de fatores naturais e histó-
se na produção de milho, notadamente Ere- ricos a criação de bovinos é característica da re-
chim (no norte), Canguçu (no sul), Sanan- gião das campinas, existindo uma forte con-
duva (no nordeste), Chapada, Casca e Ma- centração da pecuária no oeste e no sudoeste
rau (na chamada zona da produção, no pla- do estado, isto é, na Campanha, onde está a
nalto Médio). maior parte do rebanho gaúcho. A pecuária
Arroz, soja, trigo e milho, junto com o das áreas campestres é essencialmente destina-
fumo, representam mais de 90% do valor da da ao corte. Parte da produção de carne e
produção agrícola do Rio Grande do Sul. couro é vendida a outros estados ou exportada.
Mas há outros cultivos comerciais de menor A criação é em sua maior parte extensiva,
expressão. Entre eles cabe destacar o da ma- pois os animais vivem soltos nas grandes fa-
zendas. No entanto, além de se praticar a ro-
çã, que se desenvolveu admiravelmente nos
tação de campos, o gado recebe alguns cui-
terrenos elevados e planos dos campos de
dados especiais: realiza-se inseminação artifi-
cima da serra, onde se verificam as tempera-
cial, os animais são vacinados e banhados
turas mais baixas do estado. Constitui ativi-
com carrapaticidas, etc, Ultimamente tem
dade empresarial, em que se destacam os
havido uma preocupação com a melhoria da
municípios de Vacaria, Bom Jesus e São
qualidade do rebanho, por meio do cruza-
Francisco de Paula.
mento de raças. Ao mesmo tempo os campos
Ainda merece referência a vitivinicultura
naturais têm sido melhorados com o plantio
introduzida em Santana do Livramento como
de espécies forrageiras, e já existem muitas
empreendimento empresarial moderno de
pastagens inteiramente cultivadas.
origem multinacional, atraído para a região A partir dos anos 1980 desenvolveu-se a
graças a condições favoráveis de clima, espe- pecuária leiteira nas zonas de origem colonial
cialmente de insolação. e nos campos mais próximos de Porto Alegre.
Esse desenvolvimento foi motivado pela
grande expansão da indústria de laticínios, em
A pecuária' parte pertencente a empresas multinacionais.
Os ovinos formam o segundo rebanho do
o Rio Grande do Sul tem uma forte Rio Grande do Sul, com cerca de 5 milhões
tradição pastoril, pois foi através da pecuária de cabeças, que representam mais de um ter-
que teve início a formação do estado. ço do rebanho brasileiro. Eles são criados
O principal rebanho gaúcho é o de bovi- principalmente na região da Campanha, jun-
nos, com mais de 13 milhões de cabeças. Esse to com os bovinos de corte, na proporção de
número coloca o estado em quinto lugar no um boi e três ovinos por hectare de campo. É
Brasil, após Mato Grosso do Sul, Minas Ge- também nessa região que se encontram os
rais, Goiás e Mato Grosso. animais de melhor qualidade e rendimento.

___ -r::~~_ oESPAÇO RIO-GRANDENSE


No Rio Grande do Sul predomina a criação de raças bovinas de origem européia, como o gado visto na foto.

A criação de ovinos também é praticada gar de raças do chamado porco-banha. Com


nos campos próximos às lagoas costeiras do essa modificação a suinocultura recuperou
sul do estado, onde muitas vezes é mais im- sua importância, sendo atualmente uma des-
portante do que a bovinocultura. tacada e moderna atividade econômica das
A ovinocultura é uma atividade em declí- zonas de origem colonial.
nio no Rio Grande do Sul, a ponto de o re- O aumento da criação de porcos está re-
banho gaúcho ter se reduzido à metade nos lacionado com o surgimento de muitos fri-
últimos vinte anos. Isso se deve à forte retra- goríficos voltados para a industrialização de
ção do mercado de lã diante da concorrência carne (presunto, lingüiça e outros produtos).
vantajosa das fibras sintéticas. A tentativa de
Ao mesmo tempo que a suinocultura re-
superação desse problema, mesmo que par-
cuperava sua importância, desenvolveu-se
cial, consiste em criar raças mais produtoras
muito a avicultura, principalmente nas zonas
de carne em lugar dos tradicionais ovinos la-
coloniais e nas proximidades de Porto Alegre.
nígeros. De qualquer modo, em muitas fa-
A criação de aves deixou de ser uma atividade
zendas a criação é mantida apenas para o
de fundo de quintal e passou a ser feita em
abate e o consumo doméstico de carne.
modernos estabelecimentos, que permitiram
O Rio Grande do Sul possui mais de 4
ao Rio Grande do Sul tornar-se um grande
milhões de suínos, que formam o maior reba-
nho do país, superando o do Paraná. A cria- produtor e exportador de carne de frango.
ção de suínos esteve muito ligada à agricul- A avicultura gaúcha tem semelhança com
tura colonial do planalto e da encosta. Anti- a fumicultura praticada no estado: geralmen-
gamente ela se destinava sobretudo à produ- te praticada por pequenos produtores em sis-
ção de gordura animal. Com o desenvolvi- tema de forte subordinação à indústria, que
mento da indústria de óleos vegetais, a pro- lhes fornece as aves recém-nascidas, além de
cura pela banha diminuiu, e a suinocultura ditar-lhes as regras de procedimento técnico
teve de se reorientar para a criação de ani- e recolher os frangos na data oportuna, pa-
mais destinados à produção de carne, em lu- gando o preço por ela arbitrado.
o ESPAÇO AGRÁRIO

<.

Rio Grande do Sul: composição fundiária*


A estrutura tundiária
No que se refere à estrutura fundiária, a
situação do Rio Grande do Sul não é tão
séria quanto a do Brasil, um dos países de
maior concentração de terras do mundo.
No quadro comparativo entre o estado e
o país verifica-se que no Brasil as terras im-
produtivas correspondem a 60% da área total
dos imóveis rurais, reunindo pequenas, mé-
dias e grandes propriedades; no Rio Grande
do Sul essa porcentagem é de 29,9%. Por íI Minifúndio
outro lado, 54,9% da mesma área constitui Pequena propriedade
terras produtivas no estado, enquanto no país Média propriedade
a porcentagem cai para 30,5%. Grande propriedade
Ao contrário do que acontece no Brasil,
Fonte: Incra/SN CR, posição da base de
particularmente nas regiões Centro-Oeste e dados em jun. 2001.
sobretudo Norte, onde a concentração de ter- * Pelo art. 4!? da Lei Federal n!? 8 629, de 25/2/1993, é
ras é muito acentuada, o maior problema fun- considerado pequena propriedade o imóvel rural com
diário do Rio Grande do Sul é o minifúndio, área compreendida entre 1 e 4 módulos fiscais; média
isto é, imóvel rural que, por definição do Es- propriedade, aquele com área entre 4 e 15 módulos
fiscais; e grande propriedade os imóveis que têm área
tatuto da Terra, é incapaz de sustentar sequer
maior que 15 módulos fiscais. Se a área for inferior a um
uma família, devido a sua diminuta extensão. módulo, o imóvel será classificado corno minifúndio.
No Rio Grande do Sul, conforme os da-
dos indicados na tabela abaixo, 65% dos do-
nos de terra no estado são minifundiários. Genericamente, o minifúndio é produto
Isso significa que quase dois terços das famí- da fragmentação das pequenas propriedades
lias rurais não só vivem em condições difí- recebidas pelos antigos colonos em virtude
ceis, como a atividade agrária em sua pro- de sucessivas partilhas por herança, agravada
priedade não lhes oferece perspectivas de pela redução da produtividade da terra cau-
melhoria. Nessas condições ocorre com esse sada pela erosão e pelo esgotamento dos so-
pequeno proprietário a venda da terra, a mi- los. Esse problema é mais comum na encos-
gração para outros estados ou, como regra, o ta do planalto e nos vales que o entalham, es-
êxodo rural. pecialmente o do médio e alto Uruguai.

USO DA TERRA (em %)

Brasil Rio Grande do Sul


Imóveis Área Imóveis Área
Minifúndios 63,0 9,5 65,0 15,2
Terras improdutivas 22,7 60,0 15,9 29,9
Terras produtivas 14,3 30,5 19,1 54,9
Fonte: Incra/SNCR, posição da base de dados em jun. 2001.

O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
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::;
o
~

Como acontece em outras regiões do país, a luta pela posse da terra também ocorre no Rio Grande do Sul. Na foto,
manifestação de trabalhadores rurais sem terra pela reforma agrária.

Por sua vez, a reaglutinação das proprie- o principal agente de luta por uma reforma
dades rurais, ocorrida principalmente no agrária que, no Brasil, implica necessaria-
planalto em conseqüência da modernização mente modificações na estrutura fundiária,
agrícola, ocasiona considerável liberação de de modo a proporcionar terra a quem nela
mão-de-obra rural. quer trabalhar.
Minifundização e reaglutinação de imó- No Rio Grande do Sul o MST é muito
veis são fatores que se combinam para criar organizado e bastante ativo, tendo alcançado
um grande contingente de agricultores des- algumas expressivas conquistas: muitas desa-
providos do fundamental bem de produção propriações já foram realizadas pelo governo
- a terra. Nos anos 1980, com a e promovidos os correspondentes assenta-
redemocratização do país, o desenvolvimen- mentos de sem-terra. No entanto, milhares
to da consciência cívica e a progressiva orga- de agricultores permanecem em acampa-
nização da sociedade, surgiu o Movimento mentos espalhados pelo território rio-grau-
dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). dense àespera da almejada terra onde pos-
Desde que entrou em cena, o MST tem sido sam trabalhar.

____________ ----'L ia,----


AS ATIVIDADES INDUSTRIAIS

A indústria fabril ou de transformação tavam relacionadas ao aproveitamento da


surgiu no Rio Grande do Sul no fim do sécu- produção agropecuária (indústria alimentí-
lo XIX e início do século XX. Antes dessa cia, têxtil, de couros, etc.). Desde o princípio
época, merecem referência apenas a ativida- do século XX o surgimento de indústrias
de saladeiril, localizada principalmente na passou a ser mais intenso em Porto Alegre do
zona de Pelotas, e diversas oficinas instaladas que nas outras cidades, e a capital tornou-se
nas zonas coloniais. aos poucos o centro fornecedor de produtos
O surgimento da indústria foi favorecido industrializados. Em Porto Alegre instalou-
pelo desenvolvimento do comércio de pro- se a maioria das indústrias de bens duráveis
dutos coloniais, pois foi ele que forneceu a do estado, além de grande parte das indús-
maior parte do capital inicial aplicado nos trias de bens de consumo.
empreendimentos fabris. Ao mesmo tempo, Logo, porém, começaram a surgir indús-
a formação de mercados de consumo nas á- trias em muitas cidades do interior, quase
reas coloniais permitiu que a atividade in- todas ligadas ao aproveitamento da produção
dustrial tivesse relativo sucesso. local: grandes frigoríficos (estrangeiros) e
As primeiras indústrias foram instaladas lanifícios na zona sul e na Campanha, desti-
em Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre, Novo nados à industrialização e mesmo à expor-
Hamburgo e Caxias do Sul. Geralmente es- tação dos produtos da pecuária; indústria de

Instalações da Vinícola Miolo no município de Bento Gonçalves, principal pólo de produção e exportação da indústria
vinícola rio-grandense. Na foto, o trabalho de enólogos na degustação do vinho.

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
couros e calçados no vale do rio dos Sinos; gião Sul e Sudeste. Essas indústrias fabricam
indústria vinícola em Caxias do Sul e Bento os bens finais (artigos de plástico, de borra-
Gonçalves; e indústrias de beneficiamento cha, etc.), que em parte são vendidos ao Rio
em cidades do planalto e da encosta (enge- Grande do Sul.
nhos, moinhos, frigoríficos, fábricas de mó- Faltam no pólo rio-grandense as chama-
veis, de produtos alimentícios, etc.). das indústrias de terceira geração, que pro-
Dessa maneira a indústria tornou-se mui- duzem os bens finais. Desse modo, o de-
to importante no Rio Grande do Sul, prin- senvolvimento industrial das últimas déca-
cipalmente como atividade transformadora das trouxe maiores benefícios ao estado de
dos produtos agropecuários. Sua produção São Paulo do que ao Rio Grande do Sul, pois
está voltada em grande parte para o abasteci- os preços dos produtos acabados são mais
mento dos mercados da região Sudeste. elevados que os preços dos bens intermediá-
rios. Ao mesmo tempo, provocou maior de-
pendência do estado em relação ao Sudeste,
As indústrias modernas principalmente a São Paulo, para onde é ven-
dida boa parte da produção industrial gaúcha.
Nas últimas décadas, ao mesmo tempo O crescimento da indústria rio-granden-
. que se expandiam as indústrias tradicionais, se, embora não tenha parado desde que sur-
desenvolveram-se novos, modernos e espe- giram os primeiros estabelecimentos fabris,
cializados ramos da indústria, como a quími- foi menor que o crescimento da indústria
paulista. No início do século XX, quando o
ca, metalúrgica, mecânica, de material de
Rio de Janeiro era o maior centro industrial
transporte, de material elétrico, de comuni-
do país, a indústria gaúcha equiparava-se à de
cações, de informática (software).
São Paulo. Atualmente, enquanto São Paulo
No entanto, em muitos casos; e por força
contribui com 45,3% da produção industrial
da divisão territorial do trabalho, o desenvol-
brasileira, o Rio Grande do Sul participa com
vimento da indústria moderna ocorreu sobre-
apenas 8,3% dessa mesma produção.
tudo na produção de bens intermediários, que
depois são vendidos a indústrias da região
Sudeste. Por exemplo, o Rio Grande do Sul
produz carrocerias e peças de motores. Mas a
As fontes de energia
produção dos ônibus e dos motores é feita por
o Rio Grande do Sul não produz petró-
indústrias paulistas, que compram os bens leo, que é trazido do Rio de Janeiro e do exte-
intermediários das indústrias gaúchas. rior. O produto entra no estado pelo porto
No fim dos anos 1990, graças à formação de Rio Grande e principalmente por um ter-
do Mercosul e às alterações na divisão territo- minal instalado em Tramandaí.
rial do trabalho provocadas pela globalização, A maior parte do petróleo que entra por
o Rio Grande do Sul foi escolhido para se- Rio Grande destina-se à Refinaria Ipiranga,
diar uma moderna montadora de veículos da localizada no mesmo município. Em Tra-
General Motors que se instalou em Gravataí, mandaí está instalado o terminal Soares Du-
Com isso o estado se tornou não só produtor, tra, de onde o petróleo é transportado por
mas também exportador de automóveis. oleoduto até a Refinaria Alberto Pasqualini,
O pólo petroquímico instalado no muni- no município de Canoas. Aí ele é refinado
cípio de Triunfo, perto de Porto Alegre, e re- para dar origem a gasolina, óleos, gás, lubri-
centemente duplicado, produz matérias-pri- ficantes e outros derivados, depois distribuí-
mas que são. vendidas a indústrias de toda re- dos por todo o estado.
AS ATIVIDADES INDUSTRIAIS

Por enquanto, embora tenha as maiores


reservas do país, o Rio Grande do Sul é o se-
gundo produtor nacional de carvão; o pri-
meiro lugar é ocupado por Santa Catarina. A
produção gaúcha - quase toda consumida
dentro do estado - sai das minas de Candio-
ta, no município do mesmo nome, Recreio e
Leão, no município de Butiá, Butiá Leste e
Faxinal, no município de Arroio dos Ratos.
O carvão rio-grandense é empregado
principalmente na geração de eletricidade,
em usinas termelétricas.
Algumas indústrias utilizam o carvão mi-
neral para aquecer suas caldeiras, em vez de
Vista aérea do Terminal Soares Dutra em Tramandaí.
petróleo.
Apesar de não ser produtor de gds natu-
A produção rio-grandense de álcool é ral, o Rio Grande do Sul começa a utilizá-lo
bem menor que as necessidades de consumo em suas indústrias. A Companhia Siderúr-
do estado. Por isso o álcool também vem de gica Rio-Grandense, localizada em Sapucaia
fora, principalmente de São Paulo. do Sul, próxima a Porto Alegre, foi a primei-
O Rio Grande do Sul possui grandes re- ra a usar gás natural para aquecer seus altos-
servas de xisto, uma rocha da qual se pode fornos. Em Uruguaiana já funciona uma usi-
extrair um óleo semelhante ao petróleo. Mas na termelétrica movida a gás importado da
esse recurso ainda não é explorado. As maio- Argentina. Brevemente o gasoduto que con-
res reservas de xisto aparecem nos municí- duz o gás da Bolívia para São Paulo será
pios de São Gabriel e Dom Pedrito, no su- estendido até o Rio Grande do Sul, oferecen-
doeste do estado. do mais uma fonte de energia para o desen-
O carvão-de-pedra é o recurso mineral volvimento do estado.
mais importante do Rio Grande do Sul, que
detém mais de 80% das reservas nacionais
dessa fonte de energia. O carvão é encontra- A energia elétrica
do nas rochas sedimentares antigas que ficam
a oeste do escudo cristalino e na depressão O crescimento da indústria no Rio Gran-
Central. de do Sul foi possívelgraças a um considerável
Até algum tempo atrás não se sabia da aumento da capacidade de geração de energia
enorme quantidade das reservas rio-granden- elétrica ocorrido nos anos 1970. Esse aumen-
ses, e o carvão conhecido era de baixa quali- to foi obtido com a construção de diversas
dade, inadequado para uso na siderurgia. usinas termelétricas e, sobretudo, hidrelétricas.
Nos anos 1980, porém, foram descobertas A partir dos anos 1980 os investimentos
novas e grandes jazidas, localizadas no nor- em geração de energia foram reduzidos, mais
deste do estado. O carvão dessas jazidas de- acentuadamente no estado que no Brasil em
monstrou ser de boa qualidade, prestando-se geral. A produção não acompanhou o au-
em parte para o aproveitamento na indústria mento da demanda, particularmente da in-
siderúrgica. Sua exploração poderá trazer dústria, que é o maior consumidor. Com isso
grandes benefícios à economia gaúcha. o Rio Grande do Sul ficou muito dependeu-

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
te da energia vinda de fora, pois produzia rama energetico do estado: o setor elétrico
apenas a metade do que era consumido no foi privatizado (1997) e os investimentos na
estado. A energia que faltava vinha de Santa geração de energia foram retomados. Com a
Catarina e do Paraná, comprada pela CEEE privatização, a CEEE encolheu bastante,
(Companhia Estadual de Energia Elétrica) pois ficou apenas com uma parte das várias
da Eletrosul (Centrais Elétricas do Sul do em que o setor elétrico foi dividido e que
Brasil S.A.), controladora da rede elétrica do foram entregues à iniciativa privada.
sistema integrado do centro-sul do país. No início dos anos 2000 entrou em ope-
Na segunda metade da década de 1990 ração a termelétrica de Uruguaiana e final-
ocorreram significativas mudanças no pano- mente foi concluída a hidrelétrica de Dona

Rio Grande do Sul: energia

SANTA CATARINA

ARGENTINA

1. Candiota

2. Hulha Negra
URUGUAI 3. São Se pé

4. Iruí (Cachoeira do Sul)


• Hidrelétrica

* Termelétrica
5. Leão - Butiá

6. Arroio dos Ratos


Jll. Refinaria 7. Charqueadas
• Jazida de carvão
8. Morungava (Gravata i)
.: Jazida de xisto ESCALA 9. Chico Lomã (Santo Antônio)
O 52 104 km
~ Termelétrica em construção
! ! !
10. Santa Teresinha (Imbé)
1 em - 52 km

Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.


AS ATIVIDADES INDUSTRIAIS

e;
Francisca, junto ao rio jacuí, integrando-se burgo, GravataÍ e São Leopoldo: mecânica,
ao sistema hidrelétrico que aproveita o maior metalúrgica, material elétrico e de comuni-
curso de água inteiramente estadual. As obras cações, etc, A petroquímica está concentrada
mais expressivas, contudo, foram as de duas em Triunfo, enquanto a químico-farmacêu-
grandes hidrelétricas - Irá e Machadinho -, tica, bem como a de informática, localizam-
as maiores do estado, construídas no alto se em Porto Alegre. A indústria siderúrgica
curso do rio Uruguai. Quando elas estiverem aparece em Sapucaia do Sul (Siderúrgica
operando com sua capacidade máxima tor- Rio-Grandense) e em Charqueadas (Aços
narão o Rio Grande do Sul auto-suficiente Finos Piratini). Pertencem ao mesmo grupo
em matéria de geração de energia elétrica. (Grupo Gerdau), de atuação internacional
Ao mesmo tempo foi retomada a cons- mas com sede na capital do estado.
trução de duas usinas, cujas obras estiveram A indústria automobilística, representada
pela General Motors e suas fornecedoras,
paralisadas por muitos anos: a terceira ter-
está instalada em Gravataí.
melétrica do complexo de Candiota e a ter-
A indústria coureiro-calçadista, setor de
melétrica Jacuí I, em Charqueadas, ambas
grande importância econômica para o estado
movidas a carvão extraído nas proximidades
tanto no valor de sua produção como tam-
de cada uma delas.
bém no elevado número de empregos que
Atualmente, cerca de 70% da produção proporciona, está concentrada no vale do rio
de eletricidade no estado é obtida de gera- dos Sinos (e do Paranhana, seu afluente):
dores hidráulicos. Os 30% restantes são con- Novo Hamburgo, Sapiranga, Campo Bom,
seguidos de geradores térmicos, movidos Parobé, São Leopoldo, Três Coroas, etc.
principalmente a carvão. A zona de Caxias do Sul forma a segunda
concentração industrial do estado. Trata-se
de uma drea industrial formada por diversos
municípios, entre os quais Bento Gonçalves,
Ostipos de indústria e sua Farroupilha, Flores da Cunha e Garibaldi,
cujo pólo é Caxias do Sul (terceiro municí-
distribuição espacial .pio industrial do estado, depois de Porto
Alegre e Canoas), por isso chamada de cen-
Quase a metade das atividades industriais tro industrial.
no Rio Grande do Sul está concentrada em Embora menor e muito menos diversifi-
Porto Alegre e nos municípios próximos à ca- cada que a região de Porto Alegre e conheci-
pital. No conjunto essa região forma um gran- da nacionalmente por seus vinhos e pelas ati-
de centro poliindustrial, pois apresenta muitas vidades metal-mecânicas, essa área apresenta
indústrias de variados ramos: bebidas, têxtil
indústrias e de ramos diversos, tanto de bens
(malharias), calçados, mobiliário e material
de consumo quanto de bens de capital e de
de transporte, além de mecânica e metalúrgi-
bens de produção ou de base, como a de
ca, que têm maior destaque.
cimento, a petroquímica e a de aços especiais.
Regiões próximas entre si, Porto Alegre e
Além das tradicionais indústrias alimen- a área de Caxias do Sul respondem por cerca
tar e têxtil, diversos ramos industriais têm de 70% da produção industrial do estado.
destaque na região de Porto Alegre, notada- A geografia do estado apresenta alguns
mente na capital, em Canoas, Novo Ham- centros industriais incompletos.
Assim, em

.1 O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Pelotas, Rio Grande, Santa Maria, Passo Finalmente, merecem ser citados alguns
Fundo e Santa Cruz do Sul, a atividade in- centros agroindustriais, ou seja, cidades com
dustrial tem relativa importância. Pelotas, indústrias ligadas à produção agropecuária.
por exemplo, é um centro especializado na A maior parte deles está localizada no planal-
indústria alimentícia, com destaque para a to e na encosta. Lajeado e Estrela possuem
da carne e para as indústrias de conservas de indústrias de laticínios e de processamento
frutas. Rio Grande, por sua vez, possui in- de carne de porco e aves. Também nas
dústria química (petróleo, fertilizantes e in- maiores cidades da Campanha encontramos
seticidas) e um importante parque de indus- indústrias envolvidas com o aproveitamento
trialização do pescado. da produção primária.

Rio Grande do Sul: atividade industrial

SANTA CATARINA

• Santa Rosa •Erechim


Santo Ângelo • Passo Fundo
• • Ijuí
• Cruz Alta

Caxias do Sul

Santa Maria
• •
Santa Cruz
do Sul

Cachoeira
do Sul

• Bagé
OCEANO
Pelotas
ATLÂNTICO

D Região industrial

tli'§ Área industrial

@ Grande centro poliindustrial

@ Centro industrial

• Centro industrial incompleto

• Centro agroindustrial

Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000.


o COMÉRCIO, AS CIDADES E OS TRANSPORTES

o comércio é relativamente bem desen- cidades mais ou menos próximas, bem como
volvido no Rio Grande do Sul. Isso acontece de eventuais turistas ou viajantes. Dessa
por três motivos principais: maneira a função comercial é importantíssi-
• O estado tem uma economia variada na ma para a vida das cidades. A importância de
qual se destacam numerosos produtos, uma cidade depende em grande parte de sua
tanto industriais quanto agropecuários. função comercial (e de prestação de servi-
• Comparada com a dos demais estados bra- ços). O desenvolvimento do comércio no
sileiros, a população rio-grandense possui Rio Grande do Sul permitiu a formação de
um bom poder de consumo, pois tem uma numerosas cidades; umas cresceram mais
renda per capita bem acima da média bra- que as outras, tornando-se mais importantes
sileira. Além disso há uma camada social por terem atividade comercial mais intensa.
com renda muito elevada, que lhe permite O maior centro comercial do estado é a
altos gastos com produtos e serviços supér- cidade de Porto Alegre, pois ela é metrópole
fluos. Por outro lado, a parcela dos excluí- nacional. A capital rio-grandense possui ati-
dos - fora do mercado de consumo - é vidades comerciais e de serviços muito de-
relativamente modesta no estado. senvolvidas, com área de influência que se
• O Rio Grande do Sul acha-se plenamente estende por boa parte do Brasil, particular-
inserido no processo de globalização da mente o sul do país.
economia e da sociedade, de tal modo Além da sua grande metrópole, o Rio
que é cada vez mais forte a adesão aos va- Grande do Sul possui várias cidades que são
lores que envolvem o consumismo. centros regionais. Cada centro é uma espécie de
As atividades comerciais e de serviços são capital comercial e de serviços de uma região.
realizadas principalmente nos centros urba- Existem ainda muitas cidades do estado que
nos. Daí a existência de numerosas cidades são centros regionais incompletos. Elas têm vá-
no Rio Grande do Sul, nas quais as funções rias casas de comércio, mas faltam-lhes alguns
terciárias são muito importantes. ramos especializados de produtos e serviços.
O comércio depende dos meios de trans- Mesmo assim possuem uma função comercial
porte para levar as mercadorias de um lugar destacada, cada qual na sua área de atuação.
para outro. O Rio Grande do Sul está razoa- Finalmente, para que os produtos circu-
velmente integrado por vias de transporte, lem de uma região para a outra e cheguem
em especial se comparado com os estados do até os consumidores distantes das cidades
Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. maiores, existem os centros locais. São cidades
geralmente pequenas ou médias, que pos-
suem um comércio de bens e serviços de
A função comercial consumo mais simples.
Essa hierarquia urbana, isto é, ordem de
das cidades importância das cidades umas em relação às
outras, tende a ser subvertida pelo desenvol-
O comércio é uma atividade tipicamente vimento do comércio eletrônico. De qual-
urbana, que atende às necessidades da popu- quer centro urbano pode haver oferta e de-
lação da própria cidade, da zona rural e de manda de mercadorias. Com isso aumen-

_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
-----'
Cidades de maior importância comercial no Rio Grande do Sul

SANTA CATARINA
O
Erechim

Carazinho
~ I
S anto A nge o
o ~Passo Fundo
ARGENTINA
O O
O São Luís Ijuí O Bento
Gonzaga Cruz Alta Gonçalves
O • Caxias do Sul

O Lajeado

Santa Maria o Novo Hamburg


o
Santa Cruz do Sul

São Gabriel O
O Cachoeira
do Sul OCEANO

ATLÂNTICO

O Bagé

Pelotas. o População urbana


URUGUAI em mil habitantes
O
Rio Grande
CJ 50a 100
CJ 100a 150
Função urbana CJ 150a200
O Metrópole O 200a250
ESCALA _ 250a400
O Centro regional
O 67 134km
O Centro regional incompleto
! ! ,
_ Mais de 1 200
1 em - 67 km

Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, lBGE, 2000.

tam OS negoclOs diretos entre empresas e 10 de soja, da carne de frango, dos calçados e
usuários da rede mundial de computadores do fumo.
- a internet. Em contrapartida, o Rio Grande do Sul
compra de outros estados muitos produtos:
petróleo, café, açúcar, sal, automóveis, pro-
o comércio externo dutos siderúrgicos e químicos, aparelhos elé-
tricos e eletrônicos e diversos outros produ-
o Rio Grande do Sul vende muitos pro- tos industrializados.
dutos a outros estados do Brasil, tais como Como se vê, o estado vende sobretudo
arroz, trigo, carne, madeira, couro, lã, óleos produtos agropecuários, matérias-primas e
vegetais, fumo, vinho, alimentos em con- bens serni-acabados, que são relativamente
serva, calçados, artigos de vestuário, móveis, baratos em comparação com muitos produ-
máquinas agrícolas, produtos petroquími- tos industrializados que vêm de fora. Isso
cos, autopeças, automóveis e outros bens in- mostra que a economia rio-grandense é em
termediários para a indústria. grande parte complementar da economia da
Alguns produtos são exportados para ou- região Sudeste, com a qual é realizada a maior
tros países, co.mo é o caso do óleo e do fare- parte do intercâmbio comercial gaúcho.

-----------------------'-'-----
___ ----'_ o COMÉRCIO, AS CIDADES E OS TRANSPORTES

Ao vender produtos alimentares, matérias- zem benefícios indiretos ao Rio Grande: es-
primas e bens intermediários, ao mesmo timulam numerosos serviços e o comércio de
tempo que compra bens duráveis e acabados apoio ao transporte das mercadorias e à ad-
- bem como os equipamentos de que ne- ministração dos negócios. Graças à sua loca-
cessita -, o Rio Grande do Sul permanece lização, Porto Alegre pleiteia a condição de
em uma situação de dependência em relação capital do Mercosul, o que significaria o de-
aos estados mais industrializados, sobretudo senvolvimento de um conjunto de funções
São Paulo. envolvendo os crescentes intercâmbios entre
os países membros da organização.
Contudo, a concorrência uruguaia e
o Mercosul principalmente argentina a certos produtos
gaúchos, até mesmo no mercado interno es-
tadual, tem causado problemas a alguns seto-
Com as facilidades e isenções alfandegá-
res produtivos do estado, como o de vinhos,
rias inerentes aos acordos do Mercosul, o Rio
de frutas industrializadas e de laticínios. Por
Grande do Sul tem aumentado suas relações
exemplo, um produto estrangeiro de melhor
com os parceiros desse bloco. Além do seu
qualidade e mais barato que o similar pro-
próprio território, os empresários gaúchos
duzido no estado, graças à isenção alfan-
têm investido no Uruguai e na Argentina, degária, impõe ao produtor gaúcho um dile-
diretamente ou em associação a empresários ma cada vez mais presente no atual mundo
desses países. A situação inversa também da globalização: investir em tecnologia tendo
ocorre, já que muitas empresas platinas têm em vista diminuir custos para produzir mais
se estabelecido no estado. Essa reciprocidade e melhor, ou simplesmente desaparecer do
conduz a um aumento de fluxos, não só de mercado, eliminado pela concorrência.
produtos, mas também de capitais e mesmo
de pessoas.
No entanto, por sua formação socioespa- Ostransportes
cial, o Rio Grande do Sul apresenta maiores
semelhanças econômicas com os vizinhos o RioGrande do Sul é um estado relati-
platinos do que com o Brasil tropical - a vamente bem servido por transportes, pois
começar pelo fato de serem espaços produzi- tem numerosas vias que percorrem as dife-
dos em latitudes subtropicais. Disso resulta
que a maioria dos produtos de exportação do
Rio Grande do Sul são os mesmos do Uru-
guai e da Argentina: carne, couro, lã, laticí-
nios, trigo, soja. Logo, o mercado platino não
é muito promissor para os produtos gaúchos.
Comercialmente os grandes beneficiados
com o Mercosul devem ser os estados brasi-
leiros que exportam bens não produzidos
nos países platinos - produtos tropicais, al-
gumas matérias-primas e certos produtos in-
dustrializados. Não obstante, ao circularem Com o aumento do intercâmbio entre o Brasil e a
pelas estradas gaúchas com destino aos vizi- Argentina, a ponte internacional que liga Uruguaiana a
nhos do Mercosul, os produtos exportados Paso de los Libres, sobre o rio Uruguai, tem sido cada
por terra, principalmente pelo Sudeste, tra- vez mais utilizada.

__ --'_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE


rentes regiões do seu território, embora algu- portados, dificultando o aumento do comér-
mas delas careçam de melhor conservação. cio edo consumo.
Algumas vias ligam o estado ao resto do Bra- As maiores estradas do estado foram cons-
sil e aos países vizinhos. truídas pelo governo federal, principalmente
O transporte rodovidrio é o mais utilizado, nos anos 1970 - as chamadas BRs (BR-
apesar de ser mais caro em comparação com 116, BR-290, etc.). Outras são do governo
o navio e o trem. Além disso, o estado não estadual - as RS (RS-030, RS-040, etc.).
produz petróleo. Essa situação contribui para Há ainda numerosas estradas mUlllClpalS,
encarecer o preço final dos produtos trans- geralmente de terra batida.

Rio Grande do Sul: transportes

SANTA CATARINA

ARGENTINA

URUGUAI

ESCALA OCEANO
54
, 108 km
1cm-54km
ATLÂNTICO
Rodovia
+r+ Ferrovia
+ Aeroporto internacional
Hidrovia
= Ponte internacional

Fonte: Adaptado de Atlas geogrdfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.

----------------------'-'----
______ o COMÉRCIO, AS CIDADES E OS TRANSPORTES

Depois de mais de uma década de quase O transporte hidroviário ta~bém foi mui-
abandono, sem receber o necessário trabalho to importante no passado. Na primeira me-
de conservação, a malha rodoviária rio-gran- tade do século XIX os rios tiveram um papel
dense tornou-se precária em numerosos tre- de destaque na colonização de boa parte do
chos. Além disso, com o aumento do núme- estado. Até as primeiras décadas do século
ro de veículos, ficou insuficiente para aten- XX o rio Jacuí representava um grande eixo
der às necessidades do desenvolvimento do de transporte, pelo qual eram escoados mui-
estado. Nessas condições, a recuperação das tos produtos da agropecuária gaúcha.
rodovias gaúchas passou a demandar um Mas sobretudo a partir de 1950, tal como
grande volume de recursos, de que o poder as ferrovias, as hidrovias foram sendo despre-
público não pode dispor. Assim, em 1996, zadas em benefício das rodovias. Por isso elas
em doze áreas estrategicamente escolhidas - têm uma participação muito pequena no
chamadas de pólos rodoviários -, as estra- conjunto dos meios de transporte no Rio
das foram entregues a empresas privadas a tí- Grande do Sul.
tulo de concessão. Essas empresas assumiram Por ser o mais barato para o deslocamen-
o compromisso de recuperar e conservar as to de cargas, o transporte hidroviário poderia
respectivas rodovias em troca de um pedágio ser mais utilizado. Até porque o estado dis-
cobrado dos usuários. põe de uma grande hidrovia, formada pelo
Cabe destacar a construção da ponte da rio Jacuí, pelo lago Guaíba e pela laguna dos
Integração sobre o rio Uruguai, entre São Patos. Com 1 300 km de extensão, essa via
Borja e Santo Tomé, na Argentina. Inaugu- navegável começa em Cachoeira do Sul, pas-
rada em dezembro de 1997, a nova ponte sa por Porto Alegre e vai até Rio Grande. De-
oferece mais uma ligação rodoviária com o ve-se acrescentar a ela o trecho navegável do
país vizinho, já que a de Uruguaiana-Paso de rio Taquari: desde Estrela - importante nó
Los Libres permanece em plenas condições rodo-hidroferroviário - até o ponto onde
de uso. ele deságua no rio Jacuí, do qual é o maior
O transporte ferroviário começou a ser es- afluente.
tabelecido no Rio Grande do Sul no fim do Nos últimos anos essa hidrovia começou
século XIX, desempenhando um papel im- a ser mais aproveitada, servindo hoje para o
portantíssimo no crescimento da economia escoamento de cerca de 20% das cargas esta-
estadual até as primeiras décadas do século duais transportadas até o porto de Rio Gran-
XX. A partir de então, as ferrovias foram ra- de, incluindo produtos petroquímicos ex-
pidamente perdendo importância em relação portados pelo pólo de Triunfo.
às rodovias. Em conseqüência, toda a rede Por ser o mais caro, o transporte aéreo é o
ferroviária gaúcha é muito antiga e deficiente, menos utilizado. Até o início dos anos 1970
tanto em quantidade quanto em qualidade. ele tinha importância apenas nas ligações de
Com o objetivo de estimular a recupera- Porto Alegre com São Paulo e Rio de Janeiro.
ção e a melhoria do transporte ferroviário no Nas últimas décadas, com a consolidação de
estado, a chamada Malha Sul, pertencente a um mercado nacional integrado, o transpor-
uma empresa pública (Rede Ferroviária te aeroviário desenvolveu-se bastante, não só
Federal S.A.), foi vendida em 1996 à inicia- entre a capital e algumas cidades do interior
tiva privada. Até hoje, no entanto, não hou- e entre as capitais do Cone Sul da América,
ve melhora expressiva do transporte ferroviá- mas também entre as principais cidades inte-
rio no Rio Grande do Sul. rioranas da região Sul do Brasil, com linhas

~ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
muitas vezes articuladas diretamente com • Por ser o único porto marítimo do estado,
São Paulo. Rio Grande tornou-se o local de saída da
O aeroporto internacional Salgado Filho, maior parte da produção que é exportada
em Porto Alegre, após a inauguração de seu
por mar, como trigo, soja, óleos vegetais,
novo terminal, junto ao antigo, conta com
carne, autopeças. Ao mesmo tempo, de-
os mais modernos equipamentos. Com o
senvolveu a importação de cargas volu-
novo Salgado Filho, a capital gaúcha pôde
mosas ou pesadas, cujo transporte a gran-
dispor de um aeroporto à altura de uma me-
trópole em posição privilegiada no Cone Sul des distâncias deve ser feito por navio. Pa-
da América, ponto de escala nas rotas para ra atender às necessidades da função por-
Montevidéu, Buenos Aires e Santiago. tuária foi construído um superporto em
Caxias do Sul possui um movimentado Rio Grande, no qual se destacam diversos
aeroporto de nível nacional. As principais terminais especializados: de trigo e soja;
cidades do interior dispõem de aeroportos de contêineres; de líquidos a granel, etc.
para pequenas aeronaves, como Pelotas, Pas- Em 1996 ocorreu a privatização do porto
so Fundo e Santo Ângelo. Santa Maria tem de Rio Grande. Cada terminal foi concedido
uma importante base e aeroporto militar. à iniciativa privada pelo prazo de 25 anos. As
Em conjunto, a rede de vias de transporte
concessionárias devem equipar e modernizar
do estado tem dois pontos de convergência:
as instalações em troca da exploração dos
Porto Alegre e Rio Grande. As explicações
serviços portuários em moldes capitalistas.
para isso são as seguintes:
Essa iniciativa do governo teve a finalidade
• Porto Alegre é a metrópole do extremo
sul do país e, como tal, é o centro dos de baratear os custos de embarque e desem-
transportes no Rio Grande do Sul, tanto barque de mercadorias, de modo a permitir
no recebimento como na saída de cargas e maior competitividade aos produtos gaúchos
passagelfos. vendidos para fora do estado.

Vista da cidade de Rio Grande, por cujo porto passa a maior parte das exportações do estado.

---------------------~---
CAPíTULO

A DIVERSIDADE ESPACIAL

Os elementos da natureza, principalmente Cada uma das situações descritas ocasio-


o relevo, a vegetação e o solo, criaram paisa- na determinado tipo de paisagem, integrante
gens naturais diferentes no antigo Rio Gran- da correspondente porção de espaço produ-
de. Essas paisagens, cada qual com suas carac- zido ao longo da História. Daí a existência,
terísticas, influíram na produção do espaço, em escala maior, de duas grandes unidades
ou seja, na maneira de ocupação e de utiliza- regionais no Rio Grande do Sul: a Campa-
ção do território pelo homem. Na Campa- nha e o planalto.
nha, por exemplo, a natureza e os aconteci- Mas outras porções do território também
mentos históricos facilitaram o surgimento da adquiriram singularidade maior ou menor
pecuária, praticada em grandes propriedades. como resultado de particularidades da for-
Por outro lado, os fatores naturais e históricos mação socioespacial do estado. É o caso da
contribuíram para que a encosta e grande par- região que envolve a capital, conduzida por
te do planalto fossem ocupados com base na seu processo histórico-social à situação de es-
agricultura, praticada em pequenas proprie- paço fortemente urbanizado e industrializa-
dades. Com o passar do tempo, fortaleceu-se do. Em contrapartida, uma combinação di-
a criação de gado na Campanha e a agricultura ferente de fatores ou agentes do mesmo pro-
nas chamadas zonas coloniais. Essas atividades cesso fez do litoral, particularmente suas par-
econômicas,cada uma a seu modo, provocaram tes central e sul, a região menos povoada e
muitas conseqüências.Vejaalgumas delas: mais pobre do estado.
• A pecuária extensiva em grandes proprie- Em escala menor e pela maior influência
dades exige pouca mão-de-obra, ocasio- de um ou outro fator, seja cultural, econômi-
nando baixas densidades demográficas e co ou mesmo natural, podemos identificar
reduzido mercado de consumo, o que não diferenças no interior de uma unidade regio-
estimula o comércio. Densidades popula- nal. O planalto, por exemplo, comporta por-
cionais baixas e comércio reduzido não
ções distintas de espaço, cada qual com suas
favorecem a formação de muitas cidades e
peculiaridades na paisagem.
dificultam o desenvolvimento da indús-
Assim, o espaço rio-grandense não é tão
tria. A falta de indústrias significa peque-
simples de ser dividido, pois a regionalização
na oferta de empregos e desestímulo ao
admite escalas, critérios e fins variados, do
surgimento de novas atividades econômi-
que resultam diferentes propostas de divisão
cas, pois o mercado não se desenvolve.
regional.
• A policultura em pequenas propriedades
está relacionada a altas densidades demo-
gráficas, maior número de consumidores,
comércio mais intenso e formação de po-
Uma divisão
voados e cidades, que estimulam o surgi-
mento da indústria e de novas atividades
administrativa
econômicas. Novas atividades significam Como faz com todo o Brasil, o IBGE di-
mais empregos, aumento de mercado e vidiu o Rio Grande do Sul em pequenas uni-
desenvolvimento da economia. dades territoriais, identificadas segundo cri-

•• O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Rio Grande do Sul: mesorregiões e microrregiões geográficas

SANTA CATARINA

ARGENTINA

URUGUAI ATLÂNTICO

1 cm-58km
Mesorregiões geográficas
Microrregiões geográficas D Noroeste Rio-Grandense
1. Santa Rosa
2. Três Passos
13. Soledade
14. Guaporé
25. São Jerônimo
26. Porto Alegre
D Nordeste Rio-Grandense
3. Frederico Westphalen 15. Vacaria 27.0sório O Centro Ocidental
4. Erechim 16. Caxias do Sul 28. Camaquã Rio-Grandense
5. Sananduva 17. Santiago 29. Campanha ocidental
6. Cerro Largo 18. Santa Maria 30. Campanha central O Centro Oriental
7. Santo ÂngelO 19. Restinga Seca 31. Campanha meridional Rio-Grandense
8. Ijul 20. Santa Cruz do Sul 32. Serras de Sudeste
9. Carazinho 21. Lajeado-Estrela 33. Pelotas D Metropolitana de Porto Alegre
10. Passo Fundo 22. Cachoeira do Sul 34. Jaguarão
11. Cruz Alta 23. Montenegro 35. Litorallagunar
D Sudoeste Rio-Grandense
12. Não-Me-Toque 24. Gramado-Canela D Sudeste Rio-Grandense

Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000.

térios de homogeneidade física, humana ou


econômica. Essas unidades são denominadas
Regiões de planejamento
microrregiões geográficas, que no estado são
Com o objetivo de reunir representantes
em número de 35. Cada uma é constituída
dos vários segmentos da sociedade - uni-
por um conjunto de municípios contíguos e versidades, empresas, sindicatos, clubes de
com alguma homogeneidade espacial. serviço - em órgãos colegiados encarrega-
& microrregiões são agrupadas em áreas de dos de planejar investimentos e orientar o
tamanho médio chamadas de mesorregiões. desenvolvimento na fração de espaço em que
Trata-se de um procedimento essencial- estão inseridos, o governo do estado promo-
mente administrativo, adotado sobrerudo veu a divisão do Rio Grande do Sul em vinte
para fins estatísticos. O estado divide-se em regiões. O critério para a delimitação dessas
sete mesorregiões, cada qual reunindo um regiões foi a existência de problemas comuns
número variado de microrregiões. a municípios vizinhos.
A DIVERSIDADE ESPACIAL

,
Como toda divisão regional é mais ou No entanto, a divisão em vinte regiões tem
menos arbitrária, essa também é passível de validade não só para os fins com que foi rea-
críticas, principalmente porque contém um lizada, mas também como mais um instru-
número elevado de regiões, algumas das mental de referência quando se trabalha com
quais não guardam grandes diferenças entre a divisão espacial do Rio Grande do Sul.
si. Por exemplo, as regiões da produção, do
alto Jacuí, do noroeste colonial (também
chamada de região celeiro) e mesmo a das
Missões e a da fronteira noroeste talvez te-
o norte e o sul
nham mais semelhanças que diferenças entre Uma divisão do estado muito ao gosto de
si, razão pela qual poderiam compor uma economistas, desenvolvida no meio acadêmi-
única região. Pode-se dizer o mesmo das re- co, mas apreciada sobretudo no meio político
giões da fronteira oeste e da Campanha (ou gaúcho, reconhece a existência de duas grandes
fronteira sudoeste), já que ambas integram a frações de espaço bem distintas no Rio Grande
histórica Campanha Gaúcha. do Sul: um norte "rico" e um sul "pobre".

Rio Grande do Sul: áreas de atuação dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento

SANTA CATARINA

ARGENTINA

URUGUAI

[TI Região Central ITIl Região do Alto Jaeu í


[I] Região Noroeste Colonial [g] Região do Médio Uruguai OCEANO
[TI Região da Produção [IT] Região Sul
m Região das Hortênsias [HJ Região da Serra ATLÂNTICO
[I] Região da Fronteira Noroeste B]] Região do Vale do Rio Pardo
m Região do Litoral ~ Região do Vale do Taquari
[I] Região Norte [TI] Região Centro-Sul
[]] Região das Missões [!!] Região do Vale do Cai ESCALA
[]] Região Nordeste ~ Região da Campanha O 67 134km
[!Q] Região
1 ! ,

da Fronteira Oeste ~ Região Metropolitana


1 em -67 km

Fonte: Governo do Rio Grande do Sul.

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Trata-se de um procedimento com forte
Rio Grande do Sul: o norte "rico" e o sul "pobre"
amparo na formação socioespacial do estado.
De modo geral, ela se deu por dois processos
histórico-sociais diferentes, que levaram à
ARGENTINA SANTA CATARINA configuração de duas grandes frações: o sul
centrado na Campanha e o norte identifica-
do com o planalto.
Mesmo não sendo uma divisão rigorosa,
Norte pois despreza diversidades espaciais menos
expressivas, há o problema de estabelecer a
linha divisória entre as duas partes. Deve-se
Sul lembrar que há comunidades "ricas" no sul
(em Candiota, Hulha Negra e Canguçu, por
exemplo) e municípios "pobres" no norte
(no médio e no alto Uruguai e nos campos
URUGUAI de cima da serra). Mas, tomando por base as
áreas de atuação dos Conselhos Regionais de
OCEANO
Desenvolvimento, pode-se dizer que o sul
ATLÂNTICO "pobre" engloba a fronteira oeste, a região
N
central, a Campanha e a região sul; o restante
ESCALA constitui o norte "rico".
o 112 224 km
! !

1 em - 112 km
I
O quadro abaixo revela duas realidades
bem distintas no Rio Grande do Sul: O nor-
Fonte: Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do
Sul, 2001. te "rico" e o sul "pobre". Com superfície a-
proximada à do sul, o norte concentra mais

NORTE SUL
Números Números
Porcentagem Porcentagem
absolutos absolutos
Área territorial (mil km") 137,4 51 131,8 49
Municípios 420 85 77 15
População residente"
7838 77 2341 23
(em milhões de habitantes)
Produto Interno Bruto**
65,1 83 13,3 17
(em bilhões de reais)
Renda per capita
8305 - 5 681 -
(em reais)
Densidade demográfica
57 - 17 -
(habitantes por krrr')

* Segundo o IBGE, Censo Demográfico 2000.


** Segundo a FEE (Fundação de Economia e Estatística), Anudrio Estatístico 2001.
A DIVERSIDADE ESPACiAl

de três quartos da população e mais de qua-


tro quintos da riqueza produzida no estado.
Uma regionalização
Em conseqüência, enquanto a densidade de- tradicional
mográfica do sul é de aproximadamente 17
hab.Zkrrr', a do norte está em torno de 57 Sem invalidar outras propostas de divisão
hab.zkrrr'; ao mesmo tempo, a renda per ca- regional do estado, podemos adotar uma re-
pita dos "nortistas" é quase 50% maior que a gionalização mais tradicional, apoiada em cri-
dos "sulistas". térios combinados de homogeneidade física,

Rio Grande do Sul: unidades regionais

SANTA CATAR INA

ARGENTINA


Santo Carazlnho s
Ângelo

São Luís •
Cruz Alta
Gonzaga
3

•Alegrete

•São Gabriel

URUGUAI
•Bagé
OCEANO
ATLÂNTICO

- Limite de unidade regional

--- Subdivisão do Planalto

D Região Metropolitana de Porto Alegre

D Campanha
O Depressão Central

D Litoral
D Planalto:
1. Serra
5
2. Encosta
3. Planalto Médio ESCALA
4. Campos do Planalto O 52 104 km
! ! I

5. Alto e Médio Uruguai 1 em - 52 km

Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000.

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
histórica, cultural, demo gráfica e econômica. Porto Alegre é uma metrópole porque é a
Temos então as seguintes regiões: região de sede regional (e não raro nacional) de um
Porto Alegre, planalto, Campanha, depressão grande número de empresas comerciais e de
Central e litoral. todo o tipo de serviços: bancos, agências de
publicidade, empresas de comunicação, in-
cluindo rádios, jornais e canais de televisão,
Região metropolitana etc. Possui diversas universidades, centros de
pesquisa, modernos hospitais que atendem
de Porto Alegre pacientes de todo o estado e também de
Santa Catarina. Tem ainda numerosas e va-
A região metropolitana de Porto Alegre é riadas indústrias, que empregam milhares de
a mais importante do estado. Ela concentra trabalhadores.
um terço da população e produz mais de Por oferecerem muitos empregos essas e
40% da riqueza rio-grandense. É a área onde outras atividades atraíam expressivas migra-
está a metrópole do extremo sul do Brasil. ções, em especial nos anos 1960 e 1970, o

A região metropolitana de Porto Alegre

Laguna dos Patos

ESCALA
O 11 22km
I D Mancha urbana I ! !

1cm-11km
I

Fonte: Metroplan-RS. 2001.


, . A DIVERSIDADE ESPACIAL

que ocasionou considerável crescimento de- Com 31 municípios, a Grânde Porto Ale-
mográfico. Ao mesmo tempo, a presença de gre constitui um espaço articulado física e
um grande mercado de consumo e a disponi- funcionalmente, no qual se observa uma cer-
bilidade de mão-de-obra, bem como a cria- ta divisão social e territorial do trabalho: refi-
ção de infra-estrutura (energia, transportes), naria de petróleo em Canoas, petroquímica
funcionaram como estímulo a novas ativi- em Triunfo, metalurgia e mecânica pesada
dades econômicas. Estas demandavam mais junto às BRs 116 e 290, sedes de empresas
mão-de-obra, mais migrações, novas áreas em Porto Alegre, e assim por diante.
residenciais, novos serviços urbanos, etc.
À semelhança das outras regiões metro-
Enfim, o processo de metropolização de
politanas do país, a de Porto Alegre apresen-
Porto Alegre, com a conseqüente escassez e
ta paisagens essencialmente urbanas, com
valorização do solo urbano, levou ao inevitá-
muitas indústrias, centros comerciais, largas
vel "transbordamento" da capital: as cidades
avenidas, tráfego intenso, muitos bairros
vizinhas também cresceram, algumas assen-
residenciais. Desses bairros alguns são luxuo-
tadas mais na função industrial, como Ca-
sos, muitos "remediados", outros pobres, on-
noas e Esteio, outras apoiadas na função resi-
de mais comumente ocorre a violência social
dencial, transformadas em cidades-dormi-
e a degradação ambiental.
tório, como Viamão e Alvorada. Junto com a
metropolização, portanto, verificou-se um
processo de conurbação, isto é, de urbaniza-
ção conjunta. o planalto
O crescimento de várias cidades deu-se
fundamentalmente por indução a partir de o planalto é o norte do estado, no qual
Porto Alegre. No entanto, ao centralizar o fatores naturais e históricos se combinaram
notável desenvolvimento do vale dos Sinos, para conferir alguns aspectos comuns a essa
com base sobretudo nas atividades coureiro- parte do espaço rio-grandense, capazes de
calçadistas, Novo Hamburgo funcionou co- diferenciá-Ia visivelmente das demais regiões.
mo um subpolo da urbanização metropolita-
Contudo, é possível identificar cinco
na. Seu crescimento não só foi influenciado
sub-regiões no planalto: a serra ou região ser-
pelo da capital, como também se tornou ca-
rana, a encosta ou região dos vales, o alto e
paz de induzir o crescimento urbano de cida-
médio vale do Uruguai, os campos do pla-
des próximas.
nalto ou de cima da serra, o planalto Médio.
À medida que Porto Alegre ia ficando
A região serrana ou simplesmente serra lo-
"saturada", novas áreas eram incorporadas ao
caliza-se na borda sudeste do planalto Norte-
espaço urbano que envolve a capital e o eixo
Rio-Grandense e foi colonizada por imi-
que a une a Novo Hamburgo. Nos anos
1980 a cidade de Porto Alegre cresceu bem grantes italianos a partir de 1875. Faz parte
menos que a média da sua região. Nos anos da outrora chamada zona colonial antiga.
1990 essa tendência se manteve. O relevo acidentado que domina a paisa-
O fato é que se constituiu um conjunto gem física não foi empecilho para que a poli-
de cidades praticamente emendadas com a cultura colonial e o artesanato trazido pelos
capital, que forma a área ou região metropo- imigrantes se desenvolvessem, de maneira
litana de Porto Alegre, também chamada de que a região se tornou a segunda em impor-
Grande Porto Alegre. tância econômica no estado. A agricultura

·1 O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Canyon do Itaimbezinho,

colonial cedeu lugar à especialização: uva e Santa Teresa. Em 1997, foram acrescentados
vinho, fruticultura, criação de aves e suínos. os municípios de Antônio Prado, Ipê, Nova
Contudo, a base da economia é a indústria, Roma do Sul, Campestre da Serra, Pinto
já que às atividades tradicionais (mobiliário, Bandeira e Coronel Pilar.
malharias, etc.) somaram-se indústrias mo- Juntamente com a região metropolitana
dernas (mecânicas, metalúrgicas, de material de Porto Alegre, a região da serra compõe o
de transporte, etc.). eixo econômico do Rio Grande do Sul, berço
O pólo regional é Caxias do Sul, em tor- de futura megalópole e responsável por cerca
no do qual outras cidades cresceram e desen- de 60% da riqueza produzida no estado.
volveram atividades industriais. No fim de A encosta do planalto, especialmente os
1994, com o objetivo de permitir a gestão vales que a entalham, foi colonizada basica-
conjunta das questões regionais, foi instituí- mente por imigrantes alemães a partir de
da a Aglomeração Urbana do Nordeste, em- 1824. Inicialmente o vale dos Sinos (que está
brião de uma futura região metropolitana, integrado à região metropolitana de Porto
formada inicialmente pelos seguintes muni- Alegre) e em seguida os vales do Caí, do Par-
cípios: Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Car- do e do Taquari foram ocupados com base
Ias Barbosa, Farroupilha, Flores da Cunha, na policultura e na pequena propriedade de
Garibaldi, Monte Belo do Sul, São Marcos e uso familiar.
, . A DIVERSIDADE ESPACIAL

A região dos vales teve um notável desen- mais tarde, com a disseminação da fruticul-
volvimento econômico e social: a agricultura tura, particularmente da maçã. Isso não im-
se especializou, a avicultura se tornou ativi- pediu que os campos de cima da serra per-
dade empresarial e a industrialização da pro- manecessem como área de emigração e que
dução primária estimulou a formação de seu Índice de Desenvolvimento Social fosse
cidades de expressão regional, como Lajea- inferior ao da média do estado. Como a do
do-Estrela, no vale do Taquari, e Santa Cruz alto e médio Uruguai, sua população dimi-
do Sul, no vale do rio Pardo. nuiu no último período intercensitário.
O alto e médio vale do Uruguai faz parte O planalto Médio é a parte central do pla-
da região antigamente chamada de zona co- nalto Norte-Rio-Crandense, onde as alti-
lonial nova, por ter sido colonizada já no sé- tudes são mais ou menos modestas - nem
culo XX. Não se reproduziram aí as condi- tão baixas quanto no oeste, nem tão acentua-
ções que favoreceram o desenvolvimento da das quanto no leste. Dele fazem parte as cha-
zona colonial antiga. Entre os fatores que ex- madas regiões da produção (Passo Fundo,
plicam essa diferença podemos citar o relevo Carazinho), do alto Jacuí (Cruz Alta), do
mais acidentado, que significa maior erosão noroeste colonial ou região celeiro (Ijuí, Três
dos solos, e principalmente o difícil acesso Passos), da fronteira noroeste (Santa Rosa) e
aos mercados de consumo, limitado, naque- das Missões (São Luís, Santo Ângelo).
la época, às hidrovias que conduziam a Porto
O domínio de terrenos relativamente pla-
Alegre e a Rio Grande.
nos e a presença de solos originalmente férteis
Por esses motivos, em poucas gerações a
favoreceram o desenvolvimento da lavoura de
fragmentação por herança dos imóveis ru-
trigo, tradicionalmente associada com a
rais, o esgotamento e a erosão dos solos con-
pecuária. Quando da modernização agrícola
duziram a região do alto e médio Uruguai a
por que passou o país, o planalto Médio foi a
um processo de minifundização. Esta é a
região do estado atingida em primeiro lugar.
principal razão do êxodo da população e do
As lavouras foram mecanizadas, passaram a
índice de desenvolvimento social abaixo da
receber fertilizantes e defensivos agrícolas em
média estadual.
profusão e, nos anos 1970, a soja tomou conta
Os campos do planalto estão na área mais
da paisagem rural, como cultura de verão. Ao
alta, e por isso mais fria, do estado, o nordes-
mesmo tempo, numerosas cidades se desen-
te. Originalmente coberta por campos sujos,
volveram, apoiadas no beneficiamento da pro-
essa sub-região teve sua história ligada à da
dução local, num ativo comércio de insumos
pecuária (corresponde à antiga Vacaria dos
Pinhais do século XVIII), e seu espaço foi modernos e mesmo na produção de máquinas
produzido com base na grande propriedade e implementos agrícolas.
pastoril. A exploração madeireira contribuiu Nos anos 1980, com a retração dos pre-
para a definição de um quadro espacial de ços da soja no mercado internacional, o mi-
baixas densidades demográficas, inferiores a lho recuperou sua presença na produção re-
10 hab.Zkmz. gional, passando a dividir com a leguminosa
Somente nas últimas décadas a paisagem a preferência dos empresários rurais, agora
se modificou substancialmente, no início em lavouras também mecanizadas, em mé-
com a lavoura mecanizada de trigo e soja e, dias e grandes propriedades. No entanto, a

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
diversificação agrícola que se seguiu à quase Em grande parte dela a paisagem é domi-
monocultura da soja não foi suficiente para nada por dunas ou cômoros de areia.
impedir o êxodo de expressiva parcela da po- O litoral norte é a zona de veraneio do es-
pulação regional, sobretudo rural. tado, onde se destacam os municípios de Ci-
dreira, Tramandaí, Capão da Canoa e Torres,
nos quais existem diversas praias. No verão
o litoral essa área recebe centenas de milhares de tu-
ristas, inclusive de outros estados e da Argen-
o litoral é a faixa de terras corresponden- tina. Nas duas últimas décadas o litoral man-
te à planície Costeira, na qual existem muitas teve um forte crescimento demográfico, gra-
lagoas e lagunas. ças sobretudo a migrações de aposentados
Devido à existência de solos arenosos e de fugindo das grandes cidades.
um relevo sem proteção contra os ventos fre- A faixa de terras que separa a laguna dos
qüentes, a região apresenta um povoamento Patos do oceano Atlântico é uma grande res-
rarefeito, contendo as menores densidades tinga. Ela apresenta uma paisagem quase de-
demo gráficas do estado. sértica, pois a presença humana se destaca

Banhado do Taim, Este importante ecossistema do litoral sul gaúcho é protegido pela Estação Ecológica de mesmo nome.
A DIVERSIDADE ESPACIAL

,
somente na sua extremidade sul, onde en- dução de lavouras mecanizadas: arroz nas
contramos plantações de cebola, algumas baixadas e nos vales dos rios; soja ou milho
criações de ovelhas e a pequena cidade de em algumas coxilhas.
São José do Norte.
No litoral sul, entre as lagoas Mirim e
Mangueira, aparece o banhado do Taim, área
inundável que tem sido alvo de freqüentes A depressão Central
agressões ao ambiente - drenagem de suas
águas por parte de arrozeiros, invasão pelo A depressão Central é uma faixa de terras
gado de fazendeiros, caça e pesca predatórias. planas que separa o planalto Norte-Rio-Cran-
No conjunto, a principal atividade eco- dense, localizado ao norte, do escudo crista-
nômica da região é a pesca, que dá ao estado lino que fica ao sul e está incluído na região
a condição de um dos grandes produtores de
da Campanha. Sobre ela corre o rio Jacuí,
pescado do país. Parte da produção é indus-
um dos elementos característicos da região.
trializada em Rio Grande, que é a segunda
cidade da região; a maior é Pelotas. Trata-se de uma área agropastoril: nas ter-
ras baixas planta-se arroz, em lavouras irriga-
A Campanha das e mecanizadas; nos terrenos mais eleva-
dos geralmente se faz a criação de bovinos.
A Campanha é uma região bem definida,
A chamada zona carbonífera do estado
na qual predomina a criação de gado realiza-
está localizada no leste da depressão Central;
da em grandes propriedades - as fazendas
ou estâncias. O elemento característico da nela estão os municípios de Butiá e Arroio
paisagem são os campos que se estendem dos Ratos, que, juntamente com Candiota,
pelas coxilhas, onde se criam rebanhos de na Campanha, são os grandes produtores de
bovinos e ovinos. Porém, cada vez mais a carvão mineral. Arroio dos Ratos já foi legal-
paisagem vem sendo alterada pela intro- mente integrado à região metropolitana.

o ESPAÇO RIO-GRANDENSE

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