Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAPíTULO , .
A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO
GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
RIO-GRANDENSE
: ·4--,
~ ~~~--
OS RIOS
, .
AS PAISAGENS VEGETAIS
CAPíTULO
21 Os campos
O RELEVO E OS SOLOS 22 As matas
24 O desmatamento
24 A recuperação florestal
10 A formação do relevo
2S O reflorestamento
26 A preservação ambiental
CAPíTULO
CAPíTULO
O CLIMA
• A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL
16 Os ventos e a temperatura
do ar
28 O extermínio dos índios
17 As chuvas 29 As Missões dos jesuítas
31 O surgimento das estâncias
17 Os fatores regionais
32 Os tropeiros
18 A influência do clima
33 As charqueadas
34 A contribuição do negro
34 Os açorianos
3S A fundação de Porto Alegre
36 Os imigrantes
39 A evolução municipal
O COMÉRCIO, AS CIDADES E OS
A POPULAÇÃO
TRANSPORTES
CAPíTULO
CAPíTULO
A DIVERSIDADE ESPACIAL
O ESPAÇO AGRÁRIO
QUESTÕES DE VESTIBULARES
AS ATIVIDADES INDUSTRIAIS
93 Respostas
93 Significado das siglas
57 As indústrias modernas
57 As fontes de energia
60 Os tipos' de indústria e sua
distribuição espacial
BIBLIOGRAFIA
_______________________________________________
IIIIIIIII~----
A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFI~A
DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE
,+,
Rio Uruguai SANTA CATARINA :
-- - ------- ------.- ------ --------- -- ---,-----------~ --- - - -- - - - - - - - - - - - - - - -. - - - - -- -'
~ocano~o$' j N
'i''-l''--r-----------300-
OCEANO
ATLÂNTICO
"
ESCALA
O 80 160 km
,
~~~~~~~~~~~ ~J~~~~~~~.~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~5q'~ ~~~~~~~~~}
~~~~~~~~ ~~':l~
~~~
~~~~.
Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de janeiro, lBGE, 2002.
-------------------------"----
___ --'_ A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE
Portanto, o Rio Grande do Sul está loca- separa um país de outro. O c~nceito de fron-
lizado em uma latitude média de 30° sul. teira não cabe, pois, no caso de divisão polí-
Isso significa que está mais próximo da linha tica interna de um país.
do Equador (0° de latitude) que do pólo Sul Somando os limites com a Argentina e
(90° de latitude sul). Desse modo o território com o Uruguai, vemos que eles totalizam
rio-grandense tem uma posição subtropical, 52% (1 727 km) das divisas do estado. Por-
ou seja, abaixo e próxima do trópico de Ca- tanto, o Rio Grande do Sul apresenta uma
pricórnio. extensa linha divisória com outros países e,
conseqüentemente, possui uma vasta faixa
de fronteira.
Oslimites e as fronteiras
o Rio Grande do Sul tem os seguintes
Asituação geográfica
limites:
• ao norte e a nordeste - estado de Santa
A situação geográfica de um território é
Catarina;
definida pela sua posição em relação a fatos
• ao sul e a sudoeste - República Oriental ou elementos externos capazes de influir em
do Uruguai;
sua história e em seu desenvolvimento. As-
• a leste - oceano Atlântico; sim, pode-se afirmar que a situação geográfi-
• a oeste e a noroeste - República Argen- ca do Rio Grande do Sul reveste-se de grande
nna. importância geopolítica em razão da extensa
Ao todo, o estado possui 3 307 km de li- fronteira com a Argentina e o Uruguai e da
mites, distribuídos da seguinte maneira: proximidade com o Paraguai.
• 1 003 km com a República Oriental do As fronteiras do estado formaram-se em
Uruguai; meio a intensas disputas entre portugueses e
• 724 km com a República Argentina; espanhóis, às quais se seguiram sucessivos
• 958 km com o estado de Santa Catarina; conflitos entre o Brasil e seus vizinhos plati-
• 622 km com o oceano Atlântico. nos. Ou seja, são áreas nas quais sempre pre-
A maior parte dos limites do estado é for- dominou a preocupação com a preservação e
mada por acidentes naturais. Por exemplo, o a defesa e que por isso marcam de modo
rio Uruguai é o limite entre o Rio Grande do concreto a separação entre o território bra-
Sul e a República Argentina; o rio Quaraí sileiro e o dos países vizinhos. Um exemplo
(afluente do rio Uruguai) e o rio Jaguarão dessa descontinuidade efetiva, historicamen-
(que corre para a lagoa Mirim) separam ter- te constituída, é a ligação entre as cidades de
ras rio-grandenses do território uruguaio. Uruguaiana, em território rio-grandense, e
Mas uma pequena parte dos limites com a Paso de los Libres, na Argentina, unidas por
República Oriental do Uruguai, no sul do uma majestosa ponte sobre o rio Uruguai. A
estado, é do tipo artificial ou convenciona- ferrovia brasileira que vai até Uruguaiana
do, ou seja, foi demarcada através de um tem bitola de um metro, diferente da estrada
acerto entre o Brasil e o país vizinho. de ferro argentina que vai até Paso de los
Não devemos confundir limite com fron- Libres, com bitola de 1,20 metro.
teira: limite é uma linha e fronteira é a faixa Hoje, no estágio do capitalismo globali-
de território sobre a qual passa a linha que zante e sob o patrocínio do Mercosul, as
_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
-------'
•
•
fronteiras - que outrora eram elementos de da Integração entre São Borja-Santo Tomé
separação - tendem a se tornar espaços no fim de 1997 constituiu mais uma ligação
onde avança a pretendida integração. terrestre com a Argentina. Além disso a nova
Nesse sentido o Rio Grande do Sul tem ponte também proporcionou ao Paraguai
uma situação potencialmente favorável. O outra saída viária para o oceano Atlântico: de
estado tende a ser o centro geopolítico do Assunção, passando por Encarnación no sul
Cone Sul da América, já que Porto Alegre do país, até o porto gaúcho de Rio Grande.
fica, em linha reta, a 740 km de Monte- Quando estiver concluída uma rodovia
vidéu, 840 km de Assunção, 850 km de São projetada para a região será possível o acesso
Paulo, 940 km de Buenos Aires, 1 150 km ao porto de Antofagasta, no Chile. Uma das
do Rio de Janeiro, 1 615 km de Brasília e conseqüências dessa obra será a aproximação
1 950 km de Santiago. Considerando a orga- dos mercados latino-americanos de toda a
nização do espaço regional na perspectiva da costa do Pacífico aos países da costa atlântica
integração, o Rio Grande do Sul pode ser da América do Sul. Além desses países, a
também seu centro geoeconômico. Oceania e o extremo Oriente, compostos
O Rio Grande do Sul não enfrenta maio- entre outros por países como China e Japão,
res obstáculos às ligações rodoviárias e hidro- estarão mais acessíveis às exportações
viárias com o Uruguai. A conclusão da ponte brasileiras.
• Metrópole
@ Capital nacional
• Cidade importante
.L Porto
OCEANO = Ponte
- Rodovia
PAcíFICO
- - - - Rodovia projetada
OCEANO •..•..•..•...
Ferrovia
ESCALA
ATLÂNTICO ç= Hidrovia
1 cm - 380 km
-----------------------'------
o RELEVO E OS SOLOS
o relevo do Rio Grande do Sul asse- Sob o aspecto geológico, o território rio-
melha-se ao do resto do Brasil, pois possui grandense é constituído por rochas crisrali-
um substrato rochoso muito antigo, que há gas, sedimentares e basálticas.
milhões de anos não sofre manifestações
tectônicas expressivas. A ausência de tecto-
nismo se deve também ao fato de o território
rio-grandense estar fora das áreas de insta- A formação do relevo
bilidade da crosta terrestre, que são as faixas
de descontinuidade existentes entre as pla- No centro-sul do estado afiara um núcleo
cas tectônicas que constituem a litosfera. de rochas cristalinas pré-cambrianas, como
Nessas condições, o Rio Grande está livre de granitos e gnaisses, sob a forma de um pe-
manifestações vulcânicas e dos temíveis ter- queno planalto. Esse núcleo faz parte de uma
remotos. estrutura bem maior, o antigo embasamento
Devido à antiguidade e à estabilidade 00 sobre o qual, em uma grande depressão e du-
embasament0-f.g(;h.oso,.....as-altitudes-São m 0- rante dezenas de milhões de anos, se formou
4estas e o relevo é mais ou menos s ve. I a bacia sedimentar do Paraná. Há cerca de
porque ha, m!·1"· ~ vem re baialxan d o
elllOS a qosao 120 milhões de anos, portanto durante a era
Çl.S--PITfismais elevados e arredondando as Mesozóica, essa bacia 'passou por intenso
fo r1"lli!S-IDais-ahrup.ta$. vulcanismo. Por diversas e sucessivas ocasiões
D
N 400 /
Jaguarão DEPRESSÃO
CENTRAL
D
Depressão Central
Planalto Sul-Rio-Grandense
aMirim+ O L 200
D Planicie Costeira oa
- Linha de corte
angueira o~----------~----------------~
+-SUL------------------------
5
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Principais formas de relevo do Rio Grande do Sul
OCEANO
ATLÂNTICO
ESCALA
O 75 150km
! I !
1 em - 75 km
.
guir intenso processo de erosão (chamado de Central e a planície Litorânea.
o RELEVO E OS SOLOS
Aspecto do relevo da serra Geral no planalto Norte-Rio-Crandcnse. Na foto o Parque Nacional da Serra Geral, no
nordeste do estado.
______ ~~==I~~ __
O_R_E_L_E_V_O __ E_O_S__ S_O_L_O_S _
A planície litorânea
o litoral rio-grandense, isto é, a faixa de
terra que fica junto ao oceano Atlântico, é
uma planície, pois seus terrenos são baixos e
planos. É a planície Litorânea ou planície
Costeira, formada por sedimentos recentes,
depositados sobretudo pelo trabalho do mar.
No litoral norte a planície é estreita, já
que as escarpas da serra Geral estão a poucos
quilômetros de distância do oceano. Bem ao
norte aparecem junto ao mar elevações
rochosas que são blocos remanescentes dos
grandes falhamentos sofridos no passado
geológico pela bacia do Paraná. No lado do
Atlântico essas elevações têm encostas com a
forma de grandes paredões, que se parecem As torres do litoral norte gaúcho são formadas por
fragmentos e blocos remanescentes da antiga bacia
com torres. Foram elas que deram nome ao
sedimentar do Paraná.
município de Torres.
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
•
As coxilhas são uma característica marcante do relevo rio-grandense, particularmente na região da Campanha.
polar. Eles provocam baixas temperaturas, corram sensrveis vanaçoes terrrucas entre o
sobretudo nos meses de junho e julho. Quan- dia e a noite.
Verão Inverno
SANTA
CATARINA
o 112km
'--------J
Fonte: Adaptado de Atlas geogrdfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
As chuvas cada como úmido. Portanto, o clima do Rio
Grande do Sul é subtropical úmido.
ar fria -_ ••••~
______________ lfi:.i.'"'",;~"-,,,:I__
o CLIMA
:1 O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
~~_OS_R_IO_S _
Graças a uma pluviosidade intensa e bem Devido à influência decisiva do relevo, os
distribuída por todo o ano, o Rio Grande do rios do território rio-grandense correm em
Sul tem uma farta rede hidrográfica. É um duas direções. Uns dirigem-se para o rio Uru-
dos estados brasileiros mais bem servidos de guai, formando seu conjunto a bacia do Uru-
águas internas, já que, além dos rios, possui guai. Outros encaminham-se para leste, desa-
um número considerável de lagoas e lagunas guando nas lagoas costeiras ou indo diretamen-
costeiras, algumas de grande extensão. te para o oceano: eles formam a bacia Aclântica.
SANTA CATARINA
-'9/0 Canoas
ARGENTINA
URUGUAI
OCEANO
ATLÂNTICO
ESCALA
o 54 108 km c=:J Bacia do Uruguai
! I
1 cm-54km
f
c=:J Bacia Atlântica
__________________________________________
~IIIIIIIII~--
OS RIOS
A bacia Atlântica
Na verdade, a bacia Atlântica (ou do
Leste) é um conjunto de bacias hidrográficas
que têm em comum o fato de suas águas cor-
rerem em direção ao Atlântico.
O Jacuí é o rio mais importante dessa
bacia e também do estado. Nasce no planal-
to Norte-Rio-Grandense, nas proximidades
de Passo Fundo. Inicialmente corre para o
sul como um rio de planalto. Para aproveitar
o potencial hidráulico dessa parte inicial do
curso foram construídas diversas usinas
o lago Guaíba é marca característica da paisagem de
Porto Alegre.
hidrelétricas, cada qual abastecidapor uma
________________________---------------------IIIIIIIII~---
______ AS PAISAGENS VEGETAIS
A ocorrência das campinas está ligada à exis- em comparação aos solos rico~'de origem vul-
tência de solos rasos e à ação do vento frio do cânica do planalto Norte-Rio-Grandense. No
inverno (o minuano), que dificulta o desen- nordeste do estado, nos campos de Bom Jesus
volvimento de uma vegetação de maior porte. e de Vacaria, os solos são arenosos. Além
A paisagem natural da região das campi- disso o frio rigoroso do inverno contribui pa-
nas é diferente nas proximidades do leito dos ra a ocorrência de vegetação campestre.
rios; aí geralmente aparecem as chamadas Por possuírem muitos arbustos mistura-
matas-galerias. dos às gramíneas os campos do planalto
Nos lugares mais baixos do terreno, onde eram chamados de campos sujos; eles sempre
a umidade do solo também é maior, ocorrem tiveram uma qualidade pastoril inferior às
manchas de mata, conhecidas como capões campinas. Atualmente a maior parte desses
de mato. campos foi transformada em lavouras de
As campinas representam a maior área trigo e soja, especialmente na área de Passo
contínua de campos do Brasil. Elas são uma
Fundo, e em plantações de frutas (maçã) na
continuação dos campos da Argentina e do
zona de Vacaria.
Uruguai, cujo conjunto é chamado de pampa.
As campinas têm grande valor para a cria-
ção de gado, particularmente no oeste do es-
tado, onde estão as melhores pastagens natu- As matas
rais do Brasil.
Os campos do planalto, ou de cima da ser- Há dois tipos de florestas no Rio Grande do
ra, aparecem em solos relativamente pobres, Sul: a mata Subtropical e a mata dos Pinhais.
ARGENTINA
OCEANO
ATLÂNTICO
URUGUAI
CJ Campos
ESCALA
CJ Mata Subtropical
Exemplares remanescentes da mata de Araucária, ou dos Pinhais, outrora predominante na paisagem do planalto
Norte-Rio-Grandense.
______
~ ~BIIIIIII~_
_------ AS PAISAGENS VEGETAIS
papelão. Além do uso da madeira, o fruto da a colonização, as matas começaram aser der-
araucária, mais conhecido como pinhão, e rubadas para a produção de madeira e princi-
bastante apreciado na culinária de toda a palmente para a ocupação agrícola. Devido ao
região Sul do Brasil. contínuo desmatamento o Rio Grande do Sul
Antigamente os pinhais cobriam boa par- chegou a uma grave situação: no início da
te do território rio-grandense. No entanto, década de 1980, pouco mais de 6% do seu
devido ao intenso desmatamento para explo- território estava coberto por florestas.
ração madeireira, restam hoje poucos lugares
onde as araucárias podem ser encontradas.
Na região dos pinheirais havia também a A recuperação florestal
erva-mate - pequena árvore de cujas folhas
se produz a erva para o chimarrão. Atual- Nas duas últimas décadas houve uma no-
mente não existem mais ervais nativos no es- tável recuperação das áreas florestais do esta-
tado: a produção rio-grandense de erva-mate do. O desmatamento praticamente cessou e,
é obtida de ervais cultivados. sobretudo, o abandono de terras original-
mente florestadas permitiu que a vegetação
SANTA CATARINA
ARGENTINA
--------------------------
. ---'_ AS PAISAGENS VEGETAIS
SANTA CATARINA
• 25
•15
.5
Passo
Fundo
Bento.
Gonçalves
.o?"" carflaquã
OCEANO
ATLÂNTICO
13, Turvo
14, Delta do
Jacuí
'1 em - 67 km 15, Rondinha
16, Espigão Alto
17. Itapuã
Fontes: Ibama e Sema-RS. 18. Espirilho
19. Tainhas
20. Camaquã
21. Itapeva
22, Podocarpus
23. Ibiritiá
24, Guarita
o sistema mata Atlântica está em contato com 25. Nonoai
_______________________________________________
EIIIIIIII~ _
CAPíTULO
__ IIL-A_FO_RM_A_Ç_ÃO_S_O_CI_OE_S_PA_C_IA_L _
•23•3 -'7
4, Cacique Doble
5, Canta Galo
Kaingang/Guarani
Guarani
Cacique Doble
Vlamão
4426
286
2 6. Capivari Guarani Pai mares do Sul 43
0+'
16.1. Kainoana lrai 279
N
OCEANO 17,Pameca Guarani Camaquã 1852
18. Riozinho Camaquã
];
Kainoano 12
ATLÂNTICO 19. Rio dos Indios Kaingang Camaauã A definir
20. Ligeiro Kainaana Charrua 4552
21. Monte Caseiros Kainaana Mulitemo; Ibiraiaras 1112
• Áreas demareadas
ou homologadas
O,
ESCALA
130 260, km
25. Varzinha/Três
26, Votouro
Forquilhas Guarani
Kaingang
Caraá
Benjamin Constant do Sul
795
3361
,
• Áreas não demareadas
1 em -130 km 27. Acampamentos Guarani Guarani
Palmares do Sul; Barra do
Ribeiro; São Miguel; Tapes
-
SANTA CATARINA
São Luís
ARGENTINA Gonzaga
1" t T Santo Ângelo
São t São Lourenço
Nicolau
1" São João Batista
T São Miguel Arcanjo
OCEANO
ATLÂNTICO
URUGUAI
ESCALA
O 71 142 km
t r !
1 em -71 km
----------------------~--
/'
Detalhe das ruínas de São Miguel, no interior do município de mesmo nome. As ruínas das Missões são testemunhos
históricos da atuação dos jesuítas no território rio-grandense.
________________________________________
~IIIIIIIIL_ _
____ -'_ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAl
Os caminhos do gado
MS
OCEANO
ATLÂNTICO
1 cm-153 km
!
D Vacaria do Mar
zaaior parte das vezes o gado era vendido na Desse modo os tropeiros contribuíram
~ de Sorocaba, perto da capital paulista, de bastante para o povoamento do estado e para
de era levado para as áreas de consumo, que o Rio Grande do Sul ficasse integrado a
sobretudo em Minas Gerais. No início os tro- São Paulo e demais regiões do Brasil.
~os apanhavam o gado sem dono, que vivia
campinas. Depois muitos tropeiros orga-
nizaram estâncias e tornaram-se fazendeiros. As charqueadas
O gado era conduzido pelo litoral. Em
~s lugares do caminho dos rebanhos sur- A mineração provocou a transferência do
ziram povoados, como São José do Norte, centro econômico do nordeste para o sudeste
ivari, Santo Antônio da Patrulha e ou- do Brasil, ocasionando a mudança da capital
. Alguns povoados cresceram e se torna- do país, de Salvador para o Rio de Janeiro .
cidades. Devido a migrações a população de Mi-
Mais tarde foram abertos caminhos pelo nas Gerais, do Rio de Janeiro e de São Paulo
alto Norte-Rio-Grandense. Esses novos cresceu bastante. À medida que essa popula-
caminhos permitiram que o gado da região ção crescia aumentava o mercado de con-
Missões e da Vacaria dos Pinhais também sumo para os produtos da pecuária gaúcha
esse ser vendido em São Paulo. Pelos ca- - o couro e principalmente a carne.
os do planalto começaram a surgir es- Aos poucos o transporte do gado passou a
cias, chácaras e povoados. Alguns povoa- ser feito também por barcos e navios, pois
transformaram-se em cidades: São Borja, desenvolveu-se a navegação pelo rio jacuí, pe-
ruz Alta e Vacaria. la laguna dos Patos e pelo oceano Atlântico,
queada no início do século XX no interior do Rio Grande do Sul. Nas charqueadas onde o gado era abatido se
ricava o charque, ou seja, a carne bovina era salgada e seca em fatias e, posteriormente, comercializada.
-------------------------------v.
______ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAl
até o Rio de Janeiro. Só bem mais tarde fo- número chegou a ser esti~ado em 80 mil
ram construídas as primeiras ferrovias em ter- indivíduos, por volta de 1860.
ritório rio-grandense, cujo traçado obedeceu A dispersão espacial do negro deu-se do
aos interesses do transporte de gado. litoral para o interior, atingindo a Campa-
Mesmo após o surgimento da navegação, nha e a depressão Central a partir de dois ei-
o Rio Grande do Sul continuou vendendo os xos de irradiação com base em Rio Grande.
animais vivos, pois naquela época não havia No principal deles os escravos eram levados
maneira de conservar a carne fresca por mui- para Pelotas, Canguçu, Piratini e Jaguarão.
to tempo. No entanto, como a parte vendida O outro incluía São José do Norte, Viamão,
era somente o couro e a carne, os fazendeiros Triunfo e Taquari.
resolveram enviar, em vez de bois vivos, a A influência do negro na formação étni-
carne já seca e salgada, que se chama charque. co-cultural do Rio Grande do Sul freqüente-
Dessa forma barateavam o transporte e mente tem sido subestimada. No entanto,
aumentavam seus ganhos. Foi assim que sur- ela aparece de modo significativo em alguns
giram as charqueadas, estabelecimentos onde aspectos da vida rio-grandense, como o es-
se fabricava o charque. porte, a música e de modo especial a religião.
A primeira charqueada foi fundada em
1780, junto ao arroio Pelotas, próximo a Rio
Grande. Em seguida, muitas outras foram Os açorianos
criadas na mesma região e também junto a
diversas fazendas. O povoamento oficial do Rio Grande do
O Rio Grande do Sul tornou-se grande Sul teve início em 19 de fevereiro de 1737,
vendedor de charque. Sua produção e seu co- com a fundação do forte ou presídio (na ver-
mércio atraíram muitas pessoas ao estado. dade uma praça de guerra) que deu origem à
Grandes levas de escravos negros foram trazi- atual cidade de Rio Grande e foi o núcleo
das para trabalhar na atividade saladeiril, isto irradiado r da ocupação do território.
é, na indústria do charque. Junto a muitas O governo português percebia a necessi-
charqueadas surgiram povoações, algumas dade de garantir a posse das áreas em dispu-
das quais mais tarde se tornaram cidades. ta com os platinas, mediante uma ocupação
Dessa forma pode-se dizer que o Rio em bases estáveis através do uso agrícola do
Grande do Sul "nasceu com as estâncias e solo. Para isso promoveu a vinda de habi-
cresceu com as charqueadas". tantes dos Açores, arquipélago localizado em
pleno oceano Atlântico, que ainda hoje per-
tence a Portugal.
A contribuição do negro A partir de 1751 centenas de casais de
açorianos foram encaminhados para o sul do
Embora tenha sido usado como carrega- Brasil. Cada um recebeu um lote de terra
dor por bandeirantes e tropeiros e aproveita- para cultivar, com o propósito de expandir o
do como serviçal doméstico nas fazendas, foi povoamento a partir de Rio Grande. Os aço-
com o desenvolvimento das charqueadas que rianos participaram do desenvolvimento ini-
se deu o ingresso mais expressivo do negro cial de povoados, vilas e cidades, principal-
no Rio Grande do Sul. mente no litoral e na depressão Central: São
Para trabalhar na atividade saladeiril fo- José do Norte, Tavares, Mostardas, Gravataí,
ram trazidas para o estado grandes e sucessi- Santo Antônio da Patrulha e Osório, em um
vas levas de escravos de origem africana, cujo primeiro momento, e posteriormente Triun-
fo, General Câmara, Rio Pardo e Cachoeira hoje um bairro de Porto Alegre. Para servir
do Sul. Nessas cidades percebe-se a influência ao comércio de Viamão, havia sido construí-
dos açorianos, especialmente na arquitetura. do um pequeno porto sobre o Guaíba - o
Além do tipo de construção os açorianos porto de Viamão. Marinheiros, comerciantes
legaram ao Rio Grande alguns costumes e tra- e outras pessoas fixaram-se junto a esse
dições que perduram em certas comunidades porto. A população cresceu e o lugar passou
das áreas por eles colonizadas. O sotaque ca- a ser chamado de Porto do Dorneles (que
racterístico e o linguajar do litoral, por exem- vem de Ornelas).
plo, são uma herança cultural dos ilhéus. Em 1752 dezenas de casais açorianos de-
sembarcaram no Porto do Dorneles e recebe-
ram terras do governo, nas quais começaram
A fundação de Porto Alegre a plantar trigo e outros produtos. Eles orga-
nizaram um povoado, onde hoje fica o bair-
Em 1732 Jerônimo de Ornelas Menezes e ro Gasômetro, e construíram uma capela em
Vasconcelos ganhou uma grande extensão de homenagem a São Francisco. Depois da che-
terras do governo português. Situadas a leste do gada dos açorianos o Porto do Dorneles pas-
lago Guaíba, essas terras pertenciam ao municí- sou a ser chamado de Porto dos Casais.
pio de Viamão, que na época era um dos prin- A posição do Porto dos Casais era muito
cipais povoados do Rio Grande do Sul. favorável ao comércio, e ali eram embarcados
Jerônimo de Ornelas organizou uma es- e desembarcados numerosos produtos. As ati-
tância, cuja sede ficava no morro Santana, vidades comerciais e portuárias atraíam rnui-
Porto Alegre, a capital gaúcha, antigo Porto dos Casais, é uma das metrópoles mais importantes do Brasil.
____ - A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL
Caxias do Sul, fundada por imigrantes italianos, conta atualmente com mais de 360 mil habitantes, sendo um destaca-
do pólo industrial e comercial do Rio Grande do Sul.
ções socioespaciais, o conjunto dessas zonas Por serem donos das terras que ocupavam
não raro é chamado de região colonial do e por ficarem com toda a produção obtida, os
Rio Grande do Sul. colonos sentiam-se estimulados a trabalhar e a
Ao chegar ao estado cada colono recebeu produzir cada vez mais. Dessa forma, as zonas
coloniais do estado progrediram bastante.
um lote de terra, que passou a cultivar com a
No início os colonos produziam para sua
ajuda dos membros da família. Os colonos
subsistência, mas logo passaram a obter exce-
introduziram a policultura no estado, pois
dentes. Com o dinheiro ganho na venda des-
dedicavam-se ao cultivo de vários produtos: ses excedentes podiam comprar outros pro-
trigo, milho, batata, frutas, verduras e legu- dutos. Dessa forma desenvolveu-se o comér-
mes. Juntamente com a agricultura, criavam cio, ao mesmo tempo que se formavam mer-
animais: vacas leiteiras, porcos e galinhas. cados de consumo nas zonas coloniais.
SANTA CATARINA
OCEANO
ATLÂNTICO
c:J Alemã
D Italiana
O Poloneses
____________________________________________IIIIIIIII~-----
----
lIIIIIí,iijJ!i . J A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL
-.
Entre os imigrantes vieram muitos arte- região é Novo Hamburgo, que também pos-
sãos, que instalaram pequenas oficinas, co- sui muitas outras indústrias.
mo tecelagens, serralherias, marcenarias, cur- Quando as primeiras zonas ocupadas já
tumes, etc. Havendo compradores para seus estavam bastante povoadas os alemães subiram
produtos, muitas oficinas cresceram e, mais o planalto e foram para o norte e noroeste do
tarde, transformaram-se em indústrias: têx- estado. Aí também se estabeleceram colonos
teis, mecânicas, de móveis, de calçados, etc. poloneses e imigrantes de outras origens.
Diversos grupos de imigrantes vieram Em 1875 chegaram ao Rio Grande do
para o Rio Grande do Sul: os principais fo- Sul os primeiros italianos, que colonizaram a
ram alemães, italianos e poloneses. Os que parte superior da encosta e a borda do pla-
vieram em maior número foram os alemães e nalto. O primeiro povoado organizado pelos
os italianos. italianos transformou-se na maior cidade do
Os alemães começaram a chegar ao esta- interior do estado: Caxias do Sul. Os italia-
do em 1824, desembarcando no lugar onde nos fundaram outros povoados, que origina-
hoje fica a cidade de São Leopoldo. Eles co- ram as cidades de Bento Gonçalves, Farrou-
lonizaram a parte inferior da encosta do pla- pilha, Garibaldi, entre outras.
nalto Norte-Rio-Crandense, sobretudo os Junto com a policultura os italianos in-
vales dos rios Caí, dos Sinos, Pardo e Taqua- troduziram no Rio Grande do Sul o cultivo
ri. Fundaram vários povoados, alguns dos da uva e a fabricação do vinho - a vitivini-
quais se tornaram cidades, como Novo cultura. A região colonial italiana é famosa
Hamburgo, São Leopoldo, Lajeado e São Se- no Brasil inteiro pela qualidade das uvas e
bastião do Caí, entre outras. Hoje em dia o dos vinhos que produz. As cidades que eles
vale do Rio dos Sinos é famoso por sua in- fundaram, em particular Caxias do Sul,'
dústria de produtos de couro, com destaque possuem muitas indústrias: metalúrgicas,
para o setor de calçados. A maior cidade da mecânicas, malharias, fábricas de móveis, etc.
O ESPAÇO RIO·GRANDENSE
Assim, os imigrantes europeus, sobretudo Rio Grande do Sul: evolução municipal
alemães e italianos, contribuíram de maneira
significativa para a formação do estado. Tal
contribuição ocorreu especialmente nas zo-
nas coloniais, onde a maioria da população
atual é formada por descendentes de imi-
grantes. Na parte inferior da encosta do pla-
nalto, por exemplo, a influência alemã é visí-
vel nas características étnicas e culturais da
maioria das pessoas; ela está presente nos há-
bitos, nas tradições e até na maneira de falar.
A influência italiana é marcante nos habitan-
tes da parte superior da encosta. 1809
4 municípios
A evolução municipal
A unidade básica da organização político- /.. . . ..
administrativa do Brasil é o município, dota-
do de autonomia e poderes próprios, nos ter-
. "
. .
...~
•.•••• :p' •
'. . ":iV
.
.. e
____________________________________________
~EIIIIIIII~ ~
CAPíTULO
A POPULAÇÃO
. tl O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Rio Grande do Sul: descendência européia pulação depende de fatores naturais, históri-
cos e sobretudo econômicos. Assim, as áreas
menos povoadas são o litoral sul e médio,
onde a ocupação produtiva do solo é pouco
expressiva, e aquelas originalmente cobertas
por campos, onde se deu uma formação
socioespacial com base na criação de gado.
No oeste e no sudoeste do estado ainda
hoje a pecuária é predominante, praticada em
grandes propriedades. A agricultura, desen-
volvida nas últimas décadas, geralmente é
mecanizada. A lavoura com emprego de má-
• Portuguesa quinas e principalmente a atividade criatória
Italiana não requerem muita mão-de-obra. Por isso a
Alemã região da Campanha é pouco povoada, com
Outras menos de 10 hab.zkm': só as áreas em torno
das principais cidades apresentam densidades
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
um pouco maiores. Por motivos semelhantes
os antigos campos do planalto, no nordeste
de mestiços é bem inferior. Estima-se que a po- do estado, hoje dominados pela agricultura
pulação branca do estado tenha aproximada- mecanizada e pela fruticultura, também têm
mente a seguinte descendência: portuguesa: baixas densidades de população.
35%; alemã: 25%; italiana: 25%; outras: 15%. Por outro lado, as áreas do planalto e da
encosta, de formação socioespacial assentada
na agricultura, têm densidades médias, altas
A distribuição espacial ou muito altas. De modo geral as densidades
médias são encontradas no planalto, onde
Com cerca de 10,2 milhões de habitan-
tes, que representam 6% da população brasi- Região Sul: distribuição da população
leira, o Rio Grande do Sul é o quinto estado
mais populoso do país (depois de São Paulo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia). Entre
os estados da região Sul, a população gaúcha
é levemente superior à do Paraná.
O Rio Grande do Sul tem uma média de
36 hab.zkrrr' - quase o dobro da densidade
demográfica do Brasil. Portanto, o estado é
relativamente bem povoado. Todavia, não é
dos mais povoados do país, estando abaixo
inclusive de Santa Catarina (55 hab.rkm") e
do Paraná (47 hab.Zkm-).
A distribuição da população pelo espaço
-o-grandense é irregular, pois a densidade
demográfica varia de uma região para outra. Santa Catarina
Como se sabe" a distribuição espacial da po- Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
A POPULAÇÃO
SANTA CATARINA
ARGENTINA
OCEANO
ATLÂNTICO
URUGUAI
ESCALA
[=:J 11-25
o 75 150 km 26-100
! ! ,
100 ou mais
1 em - 75 km
O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Comparando as taxas anuais de cresci- Como em todo o Brasil, o crescimento
mento verifica-se que tanto para a população populacional do estado nas últimas décadas
rio-grandense quanto para a brasileira os va- está associado à urbanização, isto é, à passa-
lores máximos ocorreram no final da década gem da população de atividades agrárias para
de 1950 e início dos anos 1960, quando se atividades urbanas.
deu o auge da explosão demo gráfica no país. Em quarenta anos - de 1940 a 1980 -
A desaceleração demo gráfica - a redu- houve uma inversão completa da situação de
ção significativa do ritmo de crescimento po- domicílio da população: de essencialmente
pulacional devido à diminuição da natalida- rural para flagrantemente urbana. Hoje, de
de - iniciou-se primeiro no Rio Grande do cada cinco rio-grandenses, apenas um vive
Sul, nos anos 1970. Apenas na década se- na zona rural.
guinte o fenômeno ocorreu no conjunto do Nos anos 1970 a urbanização do estado
país. Isso significa que há mais tempo o esta- ocorreu sem grandes distorções: apesar do
do viu-se aliviado das pressões demo gráficas maior incremento de cidades próximas à ca-
que agravam muitos problemas do subdesen- pital, houve também um crescimento de ci-
volvimento: carência alimentar, déficit habi- dades médias e pequenas do interior.
tacional, analfabetismo, etc. No último período intercensitário, porém,
Atualmente, segundo estimativas do 60% do crescimento demográfico aconteceu
IBGE, enquanto a população brasileira cres- em municípios com mais de 100 mil habi-
ce cerca de 1,4% ao ano, a população rio- tantes. Os municípios com menos de 10 mil
grandense aumenta 1,0%. residentes tiveram, no conjunto, um decrésci-
2,54
2,48
2 1,93
1,63
1,55 1,48
1,22
Brasil
LI Rio Grande do Sul
"
Fontes: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil 1999 e Censo Demográfico 2000,
A POPULAÇÃO
1970
.:»
67%
2000
mo de população. Isso quer dizer que os pe- oeste e sudoeste do estado. As áreas mais de-
quenos centros já não atraem a população que senvolvidas, ou de maior dinamismo econô- .
deixa o campo; ela prefere os centros maiores, mico, são as que apresentam maior cresci-
onde acredita haver melhores oportunidades mento demográfico embora tenham taxas de
de ascensão econômica e social. Com isso o crescimento natural mais baixas. Isso ocorre
crescimento e a urbanização ocorrem não só devido às migrações internas das regiões mais
na região que envolve a capital, mas essencial- pobres para as áreas com maiores perspectivas
mente nas cidades médias e sobretudo gran- socioeconômicas. Essas migrações têm sido
des do interior. A contrapartida é que mais de significativas nas últimas décadas.
70% dos municípios gaúchos possuem menos Nos anos 19 O os grandes pólos de atra-
de 20 mil habitantes. ção de migrames eram as cidades que se in-
dustrializavam: Caxias do Sul, na borda do
planalto; ovo Hamburgo e São Leopoldo,
As migrações internas no vale dos Sinos; Santa Cruz do Sul, no vale
do rio Pardo; Canoas e Guaíba, junto a Por-
Por ser uma média a taxa de crescimento to Alegre. Também atraíam migrantes as ci-
demográfico esconde a dinâmica interna da dades do planalto orte-Rio-Crandense,
população, pois o fenômeno não é homogê- que se desenvolviam graças ao chamado "mi-
neo; ao contrário, varia de uma região para lagre da soja", como Passo Fundo, Ijuí, Santo
outra. Ângelo e Santa Rosa.
Em geral o crescimento vegetativo é maior Nos anos 1980, após a fase áurea da soja,
nas áreas economicamente menos desen- quando os preços no mercado internacional
volvidas, devido à natalidade mais elevada. É deixaram de ser tão compensadores, as áreas
o que acontece, por exemplo, na fronteira produtoras, que outrora atraíam migrantes,
ções, a antiga rotação de terras, em que sem- Miguel do Oeste, etc. Na década seguinte
pre há uma parcela em descanso, não pôde novas levas de colonos povoaram o sudoeste
mais ser mantida, obrigando cada família ao do Paraná, na região de Pato Branco. A emi-
uso continuado de toda a extensão da pro- gração continuou e, na década de 1950, ocor-
priedade. Com isso os solos esgotam-se rapi- reu o povoamento do sul de Mato Grosso do
damente. Ao mesmo tempo, tornou-se ne- Sul (região de Dourados). Nos anos 1960, co-
cessário desmatar e incorporar ao cultivo lonos não só gaúchos, mas também descen-
áreas antes preservadas, geralmente nos terre- dentes dos primeiros colonizadores do oeste
nos mais inclinados. Na encosta e principal- catarinense e do sudoeste do Paraná, esten-
mente nos vales esse fenômeno ocasionou deram o fluxo migratório para o norte, po-
sérios problemas de erosão dos solos e asso- voando áreas próximas a Campo Grande.
reamento dos cursos de água. Até então os migrantes gaúchos coloniza-
Por tudo isso as regiões coloniais, em par- vam as novas terras em moldes semelhantes
ticular o médio e o alto vale do Uruguai, tor- aos de seus ancestrais: culturas diversificadas
naram-se áreas de emigração. Já na década de em pequenas propriedades.
1930 descendentes de colonos rio-grandenses Nos anos 1970 persistiu o que alguns
abandonaram o estado e foram povoar o oeste chamam de "diáspora gaúcha", só que agora
de Santa Catarina: Chapecó, Concórdia, São em busca de terras baratas preferentemente
A partir do território gaúcho, a emigração tem disseminado alguns hábitos tipicamente gaúchos, como o do chimar-
rão, por diversas áreas do interior do Brasil.
O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
para o cultivo da soja - que, por ser uma chos povoando áreas do noroeste de Mato
monocultura, demanda propriedades maio- Grosso (Aripuanã), Acre (Xapuri), sul do A-
res. Assim, o fluxo migratório avançou pou- mazonas (Humaitá) e até no longínquo esta-
co a pouco, ocasionando a presença de rio- do de Roraima.
grandenses no norte de Mato Grosso do Sul Desse modo, há dezenas de anos o Rio
(Rio Verde de Mato Grosso), no sul de Goiás Grande do Sul vem contribuindo para o
(Rio Verde), em diversas áreas de Mato Gros- povoamento de regiões desabitadas do inte-
so (Rondonópolis, no sul; Novo Oeste, no rior do Brasil. Embora alguns entendam que
oeste; Sinop, no norte; São Félix do Araguaia, a emigração é prejudicial ao estado, que com
no nordeste), em Rondônia (ji-Paraná) e no ela perde recursos humanos geralmente qua-
Pará (Altamira). lificados para a prática agrícola, não se pode
Nos anos 1980 e 1990 agricultores gaú- ignorar que o processo apresenta pelo
chos estabeleceram-se no Triângulo Mineiro menos dois aspectos positivos:
(Uberaba), em regiões de cerrado do Tocan- • alivia a pressão demo gráfica em áreas
tins, no oeste da Bahia (Barreiras), no sul do onde não há mais terras a explorar;
Piauí (Monte Alegre do Piauí) e no Mara- • amplia o espaço agrário do país, pela in-
nhão (Balsas). Simultaneamente continuou a corporação de novas áreas produtivas ao
corrente migratória para o norte, com gaú- mercado nacional, beneficiando o Brasil.
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
PAcíFICO
Década de
---+ 1930
---+ 1940
---+ 1950
---+ 1960
ESCALA
o 440 880 km ---+ 1970
---+
! ! !
1 cm-440km 1980/1990
; O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
o ESPAÇO AGRÁRIO
Em conseqüência da sua formação socioes- do nacional integrado e da inserção mais
pacial o Rio Grande do Sul é um estado pre- profunda do país na economia internacional.
dominantemente agropastoril, ou seja, a base Tais modificações, que constituem um pro-
de sua economia está na agricultura e na cesso de modernização agrícola, estão ligadas
pecuária. à expansão da agricultura empresarial ou co-
Graças a condições naturais e históricas mercial, em detrimento da tradicional agri-
favoráveis o estado possui uma agropecuária cultura colonial ou familiar. As lavouras co-
diversificada, na qual se destacam numerosos merciais se instalam no planalto Norte-Rio-
produtos; muitos deles têm no Rio Grande Grandense, invadem as tradicionais regiões
do Sul o maior produtor nacional ou, pelo pastoris e adentram os vales da encosta, onde
menos, um dos grandes produtores do país. dominava a agricultura colonial.
O estado é o maior produtor brasileiro de A agricultura colonial, historicamente
arroz, centeio, cevada, linho, fumo, batata- destinada em parte à subsistência, caracteri-
doce, ervilha e frutas temperadas, como uva, za-se pela policultura: milho, trigo, batata,
pêssego, pêra e noz. E é o segundo produtor mandioca, feijão, frutas e hortaliças. É prati-
de milho, trigo, maçã, aveia, figo e tangerina. cada em pequenas propriedades, com mão-
Além de ter o maior rebanho ovino do de-obra familiar e associada à criação de ga-
país, o Rio Grande do Sul destaca-se por sua do leiteiro, suínos e aves.
criação de bovinos, suínos, aves e eqüinos. É Além de levar ao mercado os excedentes
o maior produtor brasileiro de lã e um dos do consumo doméstico, esse tipo de agricul-
grandes produtores de carne bovina, de por- tura apresenta quase sempre um ou outro
co e de frango, além de ovos, cavalos de raça produto especialmente destinado à venda.
e couro. Por isso a agricultura familiar tem sido a prin-
Antigamente, devido a sua grande produ- cipal responsável pela produção de alimentos,
ção agropecuária, que lhe permitia abastecer sobretudo os de consumo popular, como fei-
o incipiente mercado nacional, o Rio Gran- jão, mandioca e batata.
de do Sul era chamado de celeiro do Brasil. Alguns produtos comercializáveis ganha-
Hoje, porém, depois da ampliação das fron- ram destaque e acabaram notabilizando de-
teiras agrícolas do país, com a incorporação terminadas áreas coloniais. Esse foi o caso da
de novas e variadas áreas produtivas ao espa- laranja, no vale do Caí, de colonização ale-
ço nacional, o estado já não tem a mesma mã; e, com maior expressão, da uva e do
importância relativa que teve no passado. vinho - a vitivinicultura -, na zona de colo-
nização italiana, como Caxias do Sul, Bento
Gonçalves e Garibaldi.
A agricultura Em algumas áreas de colonização alemã,
particularmente no vale do Rio Pardo, o fu-
Nas últimas décadas, principalmente nos mo tornou-se o principal produto, sendo Ve-
anos 1970, o espaço agrário rio-grandense nâncio Aires, Candelária e Sobradinho os
sofreu grandes modificações, em conseqüên- municípios de maior produção. Em Santa
cia do avanço das relações capitalistas de pro- Cruz do Sul, principal centro urbano regio-
dução, ao lado da constituição de um rnerca- nal, está localizada a maior indústria de be-
___________________________________________________
I~,~·
~~ __~ _
___ ---'~ I : I o ESPAÇO AGRÁRIO
-.
neficiamento de fumo da América Latina, no alto vale do Uruguai, causando o êxodo
cuja produção se destina à exportação. O Rio de descendentes de antigos colonos.
Grande do Sul participa com cerca de 50% A agricultura empresarial tornou-se domi-
da produção nacional de fumo. nante no estado. Ela emprega máquinas e in-
A lavoura de fumo constitui um exemplo sumos químicos, o que demanda razoáveis
do que se chama agricultura industrial, na investimentos e a existência de propriedades
qual a indústria rigorosamente comanda a médias e grandes. Os principais produtos de
atividade agrícola. Embora não seja um em- cultivo comercial são o arroz, a soja, o trigo
pregado, o colono ou pequeno agricultor é e o milho.
completamente subordinado à empresa, que
lhe fornece os insumos, dá-lhe as orientações
técnicas e compra-lhe a produção pelo preço Arroz e soja
que ela própria estabelece.
Hoje a policultura colonial não tem mais O cultivo de arroz foi a primeira lavoura
a presença que teve no passado, pois especia- moderna a se desenvolver no estado. Cultura
lizou-se, tornou-se agricultura industrial ou mecanizada e irrigada, aparece em terrenos
foi substituída pela lavoura empresarial. De planos e baixos, próximos a rios ou lagoas.
forma desfigurada e empobrecida, subsiste As áreas de cultivo mais antigas são a depres-
em áreas de relevo acidentado, solos erodidos são Central, principalmente o vale do jacuí,
e minifúndios - fatores que dificultam a a margem oeste das lagunas e lagoas costeiras
modernização. Isso acontece, por exemplo, e o médio vale do Uruguai. Posteriormente,
Ao contrário do que ocorre em grande parte do Brasil, no Rio Grande do Sul - maior produtor nacional - cultiva-se
o arroz de várzea ou irrigado, que constitui a principal lavoura da metade sul do estado.
<.
O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
~----------------------------------------------------------------------------~z
i-'
<2
~
z
~
:r:
ffi
o
o
::;
o
~
Como acontece em outras regiões do país, a luta pela posse da terra também ocorre no Rio Grande do Sul. Na foto,
manifestação de trabalhadores rurais sem terra pela reforma agrária.
Por sua vez, a reaglutinação das proprie- o principal agente de luta por uma reforma
dades rurais, ocorrida principalmente no agrária que, no Brasil, implica necessaria-
planalto em conseqüência da modernização mente modificações na estrutura fundiária,
agrícola, ocasiona considerável liberação de de modo a proporcionar terra a quem nela
mão-de-obra rural. quer trabalhar.
Minifundização e reaglutinação de imó- No Rio Grande do Sul o MST é muito
veis são fatores que se combinam para criar organizado e bastante ativo, tendo alcançado
um grande contingente de agricultores des- algumas expressivas conquistas: muitas desa-
providos do fundamental bem de produção propriações já foram realizadas pelo governo
- a terra. Nos anos 1980, com a e promovidos os correspondentes assenta-
redemocratização do país, o desenvolvimen- mentos de sem-terra. No entanto, milhares
to da consciência cívica e a progressiva orga- de agricultores permanecem em acampa-
nização da sociedade, surgiu o Movimento mentos espalhados pelo território rio-grau-
dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). dense àespera da almejada terra onde pos-
Desde que entrou em cena, o MST tem sido sam trabalhar.
Instalações da Vinícola Miolo no município de Bento Gonçalves, principal pólo de produção e exportação da indústria
vinícola rio-grandense. Na foto, o trabalho de enólogos na degustação do vinho.
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
couros e calçados no vale do rio dos Sinos; gião Sul e Sudeste. Essas indústrias fabricam
indústria vinícola em Caxias do Sul e Bento os bens finais (artigos de plástico, de borra-
Gonçalves; e indústrias de beneficiamento cha, etc.), que em parte são vendidos ao Rio
em cidades do planalto e da encosta (enge- Grande do Sul.
nhos, moinhos, frigoríficos, fábricas de mó- Faltam no pólo rio-grandense as chama-
veis, de produtos alimentícios, etc.). das indústrias de terceira geração, que pro-
Dessa maneira a indústria tornou-se mui- duzem os bens finais. Desse modo, o de-
to importante no Rio Grande do Sul, prin- senvolvimento industrial das últimas déca-
cipalmente como atividade transformadora das trouxe maiores benefícios ao estado de
dos produtos agropecuários. Sua produção São Paulo do que ao Rio Grande do Sul, pois
está voltada em grande parte para o abasteci- os preços dos produtos acabados são mais
mento dos mercados da região Sudeste. elevados que os preços dos bens intermediá-
rios. Ao mesmo tempo, provocou maior de-
pendência do estado em relação ao Sudeste,
As indústrias modernas principalmente a São Paulo, para onde é ven-
dida boa parte da produção industrial gaúcha.
Nas últimas décadas, ao mesmo tempo O crescimento da indústria rio-granden-
. que se expandiam as indústrias tradicionais, se, embora não tenha parado desde que sur-
desenvolveram-se novos, modernos e espe- giram os primeiros estabelecimentos fabris,
cializados ramos da indústria, como a quími- foi menor que o crescimento da indústria
paulista. No início do século XX, quando o
ca, metalúrgica, mecânica, de material de
Rio de Janeiro era o maior centro industrial
transporte, de material elétrico, de comuni-
do país, a indústria gaúcha equiparava-se à de
cações, de informática (software).
São Paulo. Atualmente, enquanto São Paulo
No entanto, em muitos casos; e por força
contribui com 45,3% da produção industrial
da divisão territorial do trabalho, o desenvol-
brasileira, o Rio Grande do Sul participa com
vimento da indústria moderna ocorreu sobre-
apenas 8,3% dessa mesma produção.
tudo na produção de bens intermediários, que
depois são vendidos a indústrias da região
Sudeste. Por exemplo, o Rio Grande do Sul
produz carrocerias e peças de motores. Mas a
As fontes de energia
produção dos ônibus e dos motores é feita por
o Rio Grande do Sul não produz petró-
indústrias paulistas, que compram os bens leo, que é trazido do Rio de Janeiro e do exte-
intermediários das indústrias gaúchas. rior. O produto entra no estado pelo porto
No fim dos anos 1990, graças à formação de Rio Grande e principalmente por um ter-
do Mercosul e às alterações na divisão territo- minal instalado em Tramandaí.
rial do trabalho provocadas pela globalização, A maior parte do petróleo que entra por
o Rio Grande do Sul foi escolhido para se- Rio Grande destina-se à Refinaria Ipiranga,
diar uma moderna montadora de veículos da localizada no mesmo município. Em Tra-
General Motors que se instalou em Gravataí, mandaí está instalado o terminal Soares Du-
Com isso o estado se tornou não só produtor, tra, de onde o petróleo é transportado por
mas também exportador de automóveis. oleoduto até a Refinaria Alberto Pasqualini,
O pólo petroquímico instalado no muni- no município de Canoas. Aí ele é refinado
cípio de Triunfo, perto de Porto Alegre, e re- para dar origem a gasolina, óleos, gás, lubri-
centemente duplicado, produz matérias-pri- ficantes e outros derivados, depois distribuí-
mas que são. vendidas a indústrias de toda re- dos por todo o estado.
AS ATIVIDADES INDUSTRIAIS
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
te da energia vinda de fora, pois produzia rama energetico do estado: o setor elétrico
apenas a metade do que era consumido no foi privatizado (1997) e os investimentos na
estado. A energia que faltava vinha de Santa geração de energia foram retomados. Com a
Catarina e do Paraná, comprada pela CEEE privatização, a CEEE encolheu bastante,
(Companhia Estadual de Energia Elétrica) pois ficou apenas com uma parte das várias
da Eletrosul (Centrais Elétricas do Sul do em que o setor elétrico foi dividido e que
Brasil S.A.), controladora da rede elétrica do foram entregues à iniciativa privada.
sistema integrado do centro-sul do país. No início dos anos 2000 entrou em ope-
Na segunda metade da década de 1990 ração a termelétrica de Uruguaiana e final-
ocorreram significativas mudanças no pano- mente foi concluída a hidrelétrica de Dona
SANTA CATARINA
ARGENTINA
1. Candiota
2. Hulha Negra
URUGUAI 3. São Se pé
* Termelétrica
5. Leão - Butiá
e;
Francisca, junto ao rio jacuí, integrando-se burgo, GravataÍ e São Leopoldo: mecânica,
ao sistema hidrelétrico que aproveita o maior metalúrgica, material elétrico e de comuni-
curso de água inteiramente estadual. As obras cações, etc, A petroquímica está concentrada
mais expressivas, contudo, foram as de duas em Triunfo, enquanto a químico-farmacêu-
grandes hidrelétricas - Irá e Machadinho -, tica, bem como a de informática, localizam-
as maiores do estado, construídas no alto se em Porto Alegre. A indústria siderúrgica
curso do rio Uruguai. Quando elas estiverem aparece em Sapucaia do Sul (Siderúrgica
operando com sua capacidade máxima tor- Rio-Grandense) e em Charqueadas (Aços
narão o Rio Grande do Sul auto-suficiente Finos Piratini). Pertencem ao mesmo grupo
em matéria de geração de energia elétrica. (Grupo Gerdau), de atuação internacional
Ao mesmo tempo foi retomada a cons- mas com sede na capital do estado.
trução de duas usinas, cujas obras estiveram A indústria automobilística, representada
pela General Motors e suas fornecedoras,
paralisadas por muitos anos: a terceira ter-
está instalada em Gravataí.
melétrica do complexo de Candiota e a ter-
A indústria coureiro-calçadista, setor de
melétrica Jacuí I, em Charqueadas, ambas
grande importância econômica para o estado
movidas a carvão extraído nas proximidades
tanto no valor de sua produção como tam-
de cada uma delas.
bém no elevado número de empregos que
Atualmente, cerca de 70% da produção proporciona, está concentrada no vale do rio
de eletricidade no estado é obtida de gera- dos Sinos (e do Paranhana, seu afluente):
dores hidráulicos. Os 30% restantes são con- Novo Hamburgo, Sapiranga, Campo Bom,
seguidos de geradores térmicos, movidos Parobé, São Leopoldo, Três Coroas, etc.
principalmente a carvão. A zona de Caxias do Sul forma a segunda
concentração industrial do estado. Trata-se
de uma drea industrial formada por diversos
municípios, entre os quais Bento Gonçalves,
Ostipos de indústria e sua Farroupilha, Flores da Cunha e Garibaldi,
cujo pólo é Caxias do Sul (terceiro municí-
distribuição espacial .pio industrial do estado, depois de Porto
Alegre e Canoas), por isso chamada de cen-
Quase a metade das atividades industriais tro industrial.
no Rio Grande do Sul está concentrada em Embora menor e muito menos diversifi-
Porto Alegre e nos municípios próximos à ca- cada que a região de Porto Alegre e conheci-
pital. No conjunto essa região forma um gran- da nacionalmente por seus vinhos e pelas ati-
de centro poliindustrial, pois apresenta muitas vidades metal-mecânicas, essa área apresenta
indústrias de variados ramos: bebidas, têxtil
indústrias e de ramos diversos, tanto de bens
(malharias), calçados, mobiliário e material
de consumo quanto de bens de capital e de
de transporte, além de mecânica e metalúrgi-
bens de produção ou de base, como a de
ca, que têm maior destaque.
cimento, a petroquímica e a de aços especiais.
Regiões próximas entre si, Porto Alegre e
Além das tradicionais indústrias alimen- a área de Caxias do Sul respondem por cerca
tar e têxtil, diversos ramos industriais têm de 70% da produção industrial do estado.
destaque na região de Porto Alegre, notada- A geografia do estado apresenta alguns
mente na capital, em Canoas, Novo Ham- centros industriais incompletos.
Assim, em
.1 O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Pelotas, Rio Grande, Santa Maria, Passo Finalmente, merecem ser citados alguns
Fundo e Santa Cruz do Sul, a atividade in- centros agroindustriais, ou seja, cidades com
dustrial tem relativa importância. Pelotas, indústrias ligadas à produção agropecuária.
por exemplo, é um centro especializado na A maior parte deles está localizada no planal-
indústria alimentícia, com destaque para a to e na encosta. Lajeado e Estrela possuem
da carne e para as indústrias de conservas de indústrias de laticínios e de processamento
frutas. Rio Grande, por sua vez, possui in- de carne de porco e aves. Também nas
dústria química (petróleo, fertilizantes e in- maiores cidades da Campanha encontramos
seticidas) e um importante parque de indus- indústrias envolvidas com o aproveitamento
trialização do pescado. da produção primária.
SANTA CATARINA
Caxias do Sul
•
Santa Maria
• •
Santa Cruz
do Sul
•
Cachoeira
do Sul
• Bagé
OCEANO
Pelotas
ATLÂNTICO
D Região industrial
@ Centro industrial
• Centro agroindustrial
o comércio é relativamente bem desen- cidades mais ou menos próximas, bem como
volvido no Rio Grande do Sul. Isso acontece de eventuais turistas ou viajantes. Dessa
por três motivos principais: maneira a função comercial é importantíssi-
• O estado tem uma economia variada na ma para a vida das cidades. A importância de
qual se destacam numerosos produtos, uma cidade depende em grande parte de sua
tanto industriais quanto agropecuários. função comercial (e de prestação de servi-
• Comparada com a dos demais estados bra- ços). O desenvolvimento do comércio no
sileiros, a população rio-grandense possui Rio Grande do Sul permitiu a formação de
um bom poder de consumo, pois tem uma numerosas cidades; umas cresceram mais
renda per capita bem acima da média bra- que as outras, tornando-se mais importantes
sileira. Além disso há uma camada social por terem atividade comercial mais intensa.
com renda muito elevada, que lhe permite O maior centro comercial do estado é a
altos gastos com produtos e serviços supér- cidade de Porto Alegre, pois ela é metrópole
fluos. Por outro lado, a parcela dos excluí- nacional. A capital rio-grandense possui ati-
dos - fora do mercado de consumo - é vidades comerciais e de serviços muito de-
relativamente modesta no estado. senvolvidas, com área de influência que se
• O Rio Grande do Sul acha-se plenamente estende por boa parte do Brasil, particular-
inserido no processo de globalização da mente o sul do país.
economia e da sociedade, de tal modo Além da sua grande metrópole, o Rio
que é cada vez mais forte a adesão aos va- Grande do Sul possui várias cidades que são
lores que envolvem o consumismo. centros regionais. Cada centro é uma espécie de
As atividades comerciais e de serviços são capital comercial e de serviços de uma região.
realizadas principalmente nos centros urba- Existem ainda muitas cidades do estado que
nos. Daí a existência de numerosas cidades são centros regionais incompletos. Elas têm vá-
no Rio Grande do Sul, nas quais as funções rias casas de comércio, mas faltam-lhes alguns
terciárias são muito importantes. ramos especializados de produtos e serviços.
O comércio depende dos meios de trans- Mesmo assim possuem uma função comercial
porte para levar as mercadorias de um lugar destacada, cada qual na sua área de atuação.
para outro. O Rio Grande do Sul está razoa- Finalmente, para que os produtos circu-
velmente integrado por vias de transporte, lem de uma região para a outra e cheguem
em especial se comparado com os estados do até os consumidores distantes das cidades
Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. maiores, existem os centros locais. São cidades
geralmente pequenas ou médias, que pos-
suem um comércio de bens e serviços de
A função comercial consumo mais simples.
Essa hierarquia urbana, isto é, ordem de
das cidades importância das cidades umas em relação às
outras, tende a ser subvertida pelo desenvol-
O comércio é uma atividade tipicamente vimento do comércio eletrônico. De qual-
urbana, que atende às necessidades da popu- quer centro urbano pode haver oferta e de-
lação da própria cidade, da zona rural e de manda de mercadorias. Com isso aumen-
_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
-----'
Cidades de maior importância comercial no Rio Grande do Sul
SANTA CATARINA
O
Erechim
Carazinho
~ I
S anto A nge o
o ~Passo Fundo
ARGENTINA
O O
O São Luís Ijuí O Bento
Gonzaga Cruz Alta Gonçalves
O • Caxias do Sul
O Lajeado
São Gabriel O
O Cachoeira
do Sul OCEANO
ATLÂNTICO
O Bagé
tam OS negoclOs diretos entre empresas e 10 de soja, da carne de frango, dos calçados e
usuários da rede mundial de computadores do fumo.
- a internet. Em contrapartida, o Rio Grande do Sul
compra de outros estados muitos produtos:
petróleo, café, açúcar, sal, automóveis, pro-
o comércio externo dutos siderúrgicos e químicos, aparelhos elé-
tricos e eletrônicos e diversos outros produ-
o Rio Grande do Sul vende muitos pro- tos industrializados.
dutos a outros estados do Brasil, tais como Como se vê, o estado vende sobretudo
arroz, trigo, carne, madeira, couro, lã, óleos produtos agropecuários, matérias-primas e
vegetais, fumo, vinho, alimentos em con- bens serni-acabados, que são relativamente
serva, calçados, artigos de vestuário, móveis, baratos em comparação com muitos produ-
máquinas agrícolas, produtos petroquími- tos industrializados que vêm de fora. Isso
cos, autopeças, automóveis e outros bens in- mostra que a economia rio-grandense é em
termediários para a indústria. grande parte complementar da economia da
Alguns produtos são exportados para ou- região Sudeste, com a qual é realizada a maior
tros países, co.mo é o caso do óleo e do fare- parte do intercâmbio comercial gaúcho.
-----------------------'-'-----
___ ----'_ o COMÉRCIO, AS CIDADES E OS TRANSPORTES
Ao vender produtos alimentares, matérias- zem benefícios indiretos ao Rio Grande: es-
primas e bens intermediários, ao mesmo timulam numerosos serviços e o comércio de
tempo que compra bens duráveis e acabados apoio ao transporte das mercadorias e à ad-
- bem como os equipamentos de que ne- ministração dos negócios. Graças à sua loca-
cessita -, o Rio Grande do Sul permanece lização, Porto Alegre pleiteia a condição de
em uma situação de dependência em relação capital do Mercosul, o que significaria o de-
aos estados mais industrializados, sobretudo senvolvimento de um conjunto de funções
São Paulo. envolvendo os crescentes intercâmbios entre
os países membros da organização.
Contudo, a concorrência uruguaia e
o Mercosul principalmente argentina a certos produtos
gaúchos, até mesmo no mercado interno es-
tadual, tem causado problemas a alguns seto-
Com as facilidades e isenções alfandegá-
res produtivos do estado, como o de vinhos,
rias inerentes aos acordos do Mercosul, o Rio
de frutas industrializadas e de laticínios. Por
Grande do Sul tem aumentado suas relações
exemplo, um produto estrangeiro de melhor
com os parceiros desse bloco. Além do seu
qualidade e mais barato que o similar pro-
próprio território, os empresários gaúchos
duzido no estado, graças à isenção alfan-
têm investido no Uruguai e na Argentina, degária, impõe ao produtor gaúcho um dile-
diretamente ou em associação a empresários ma cada vez mais presente no atual mundo
desses países. A situação inversa também da globalização: investir em tecnologia tendo
ocorre, já que muitas empresas platinas têm em vista diminuir custos para produzir mais
se estabelecido no estado. Essa reciprocidade e melhor, ou simplesmente desaparecer do
conduz a um aumento de fluxos, não só de mercado, eliminado pela concorrência.
produtos, mas também de capitais e mesmo
de pessoas.
No entanto, por sua formação socioespa- Ostransportes
cial, o Rio Grande do Sul apresenta maiores
semelhanças econômicas com os vizinhos o RioGrande do Sul é um estado relati-
platinos do que com o Brasil tropical - a vamente bem servido por transportes, pois
começar pelo fato de serem espaços produzi- tem numerosas vias que percorrem as dife-
dos em latitudes subtropicais. Disso resulta
que a maioria dos produtos de exportação do
Rio Grande do Sul são os mesmos do Uru-
guai e da Argentina: carne, couro, lã, laticí-
nios, trigo, soja. Logo, o mercado platino não
é muito promissor para os produtos gaúchos.
Comercialmente os grandes beneficiados
com o Mercosul devem ser os estados brasi-
leiros que exportam bens não produzidos
nos países platinos - produtos tropicais, al-
gumas matérias-primas e certos produtos in-
dustrializados. Não obstante, ao circularem Com o aumento do intercâmbio entre o Brasil e a
pelas estradas gaúchas com destino aos vizi- Argentina, a ponte internacional que liga Uruguaiana a
nhos do Mercosul, os produtos exportados Paso de los Libres, sobre o rio Uruguai, tem sido cada
por terra, principalmente pelo Sudeste, tra- vez mais utilizada.
SANTA CATARINA
ARGENTINA
URUGUAI
ESCALA OCEANO
54
, 108 km
1cm-54km
ATLÂNTICO
Rodovia
+r+ Ferrovia
+ Aeroporto internacional
Hidrovia
= Ponte internacional
----------------------'-'----
______ o COMÉRCIO, AS CIDADES E OS TRANSPORTES
Depois de mais de uma década de quase O transporte hidroviário ta~bém foi mui-
abandono, sem receber o necessário trabalho to importante no passado. Na primeira me-
de conservação, a malha rodoviária rio-gran- tade do século XIX os rios tiveram um papel
dense tornou-se precária em numerosos tre- de destaque na colonização de boa parte do
chos. Além disso, com o aumento do núme- estado. Até as primeiras décadas do século
ro de veículos, ficou insuficiente para aten- XX o rio Jacuí representava um grande eixo
der às necessidades do desenvolvimento do de transporte, pelo qual eram escoados mui-
estado. Nessas condições, a recuperação das tos produtos da agropecuária gaúcha.
rodovias gaúchas passou a demandar um Mas sobretudo a partir de 1950, tal como
grande volume de recursos, de que o poder as ferrovias, as hidrovias foram sendo despre-
público não pode dispor. Assim, em 1996, zadas em benefício das rodovias. Por isso elas
em doze áreas estrategicamente escolhidas - têm uma participação muito pequena no
chamadas de pólos rodoviários -, as estra- conjunto dos meios de transporte no Rio
das foram entregues a empresas privadas a tí- Grande do Sul.
tulo de concessão. Essas empresas assumiram Por ser o mais barato para o deslocamen-
o compromisso de recuperar e conservar as to de cargas, o transporte hidroviário poderia
respectivas rodovias em troca de um pedágio ser mais utilizado. Até porque o estado dis-
cobrado dos usuários. põe de uma grande hidrovia, formada pelo
Cabe destacar a construção da ponte da rio Jacuí, pelo lago Guaíba e pela laguna dos
Integração sobre o rio Uruguai, entre São Patos. Com 1 300 km de extensão, essa via
Borja e Santo Tomé, na Argentina. Inaugu- navegável começa em Cachoeira do Sul, pas-
rada em dezembro de 1997, a nova ponte sa por Porto Alegre e vai até Rio Grande. De-
oferece mais uma ligação rodoviária com o ve-se acrescentar a ela o trecho navegável do
país vizinho, já que a de Uruguaiana-Paso de rio Taquari: desde Estrela - importante nó
Los Libres permanece em plenas condições rodo-hidroferroviário - até o ponto onde
de uso. ele deságua no rio Jacuí, do qual é o maior
O transporte ferroviário começou a ser es- afluente.
tabelecido no Rio Grande do Sul no fim do Nos últimos anos essa hidrovia começou
século XIX, desempenhando um papel im- a ser mais aproveitada, servindo hoje para o
portantíssimo no crescimento da economia escoamento de cerca de 20% das cargas esta-
estadual até as primeiras décadas do século duais transportadas até o porto de Rio Gran-
XX. A partir de então, as ferrovias foram ra- de, incluindo produtos petroquímicos ex-
pidamente perdendo importância em relação portados pelo pólo de Triunfo.
às rodovias. Em conseqüência, toda a rede Por ser o mais caro, o transporte aéreo é o
ferroviária gaúcha é muito antiga e deficiente, menos utilizado. Até o início dos anos 1970
tanto em quantidade quanto em qualidade. ele tinha importância apenas nas ligações de
Com o objetivo de estimular a recupera- Porto Alegre com São Paulo e Rio de Janeiro.
ção e a melhoria do transporte ferroviário no Nas últimas décadas, com a consolidação de
estado, a chamada Malha Sul, pertencente a um mercado nacional integrado, o transpor-
uma empresa pública (Rede Ferroviária te aeroviário desenvolveu-se bastante, não só
Federal S.A.), foi vendida em 1996 à inicia- entre a capital e algumas cidades do interior
tiva privada. Até hoje, no entanto, não hou- e entre as capitais do Cone Sul da América,
ve melhora expressiva do transporte ferroviá- mas também entre as principais cidades inte-
rio no Rio Grande do Sul. rioranas da região Sul do Brasil, com linhas
~ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
muitas vezes articuladas diretamente com • Por ser o único porto marítimo do estado,
São Paulo. Rio Grande tornou-se o local de saída da
O aeroporto internacional Salgado Filho, maior parte da produção que é exportada
em Porto Alegre, após a inauguração de seu
por mar, como trigo, soja, óleos vegetais,
novo terminal, junto ao antigo, conta com
carne, autopeças. Ao mesmo tempo, de-
os mais modernos equipamentos. Com o
senvolveu a importação de cargas volu-
novo Salgado Filho, a capital gaúcha pôde
mosas ou pesadas, cujo transporte a gran-
dispor de um aeroporto à altura de uma me-
trópole em posição privilegiada no Cone Sul des distâncias deve ser feito por navio. Pa-
da América, ponto de escala nas rotas para ra atender às necessidades da função por-
Montevidéu, Buenos Aires e Santiago. tuária foi construído um superporto em
Caxias do Sul possui um movimentado Rio Grande, no qual se destacam diversos
aeroporto de nível nacional. As principais terminais especializados: de trigo e soja;
cidades do interior dispõem de aeroportos de contêineres; de líquidos a granel, etc.
para pequenas aeronaves, como Pelotas, Pas- Em 1996 ocorreu a privatização do porto
so Fundo e Santo Ângelo. Santa Maria tem de Rio Grande. Cada terminal foi concedido
uma importante base e aeroporto militar. à iniciativa privada pelo prazo de 25 anos. As
Em conjunto, a rede de vias de transporte
concessionárias devem equipar e modernizar
do estado tem dois pontos de convergência:
as instalações em troca da exploração dos
Porto Alegre e Rio Grande. As explicações
serviços portuários em moldes capitalistas.
para isso são as seguintes:
Essa iniciativa do governo teve a finalidade
• Porto Alegre é a metrópole do extremo
sul do país e, como tal, é o centro dos de baratear os custos de embarque e desem-
transportes no Rio Grande do Sul, tanto barque de mercadorias, de modo a permitir
no recebimento como na saída de cargas e maior competitividade aos produtos gaúchos
passagelfos. vendidos para fora do estado.
Vista da cidade de Rio Grande, por cujo porto passa a maior parte das exportações do estado.
---------------------~---
CAPíTULO
A DIVERSIDADE ESPACIAL
•• O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Rio Grande do Sul: mesorregiões e microrregiões geográficas
SANTA CATARINA
ARGENTINA
URUGUAI ATLÂNTICO
1 cm-58km
Mesorregiões geográficas
Microrregiões geográficas D Noroeste Rio-Grandense
1. Santa Rosa
2. Três Passos
13. Soledade
14. Guaporé
25. São Jerônimo
26. Porto Alegre
D Nordeste Rio-Grandense
3. Frederico Westphalen 15. Vacaria 27.0sório O Centro Ocidental
4. Erechim 16. Caxias do Sul 28. Camaquã Rio-Grandense
5. Sananduva 17. Santiago 29. Campanha ocidental
6. Cerro Largo 18. Santa Maria 30. Campanha central O Centro Oriental
7. Santo ÂngelO 19. Restinga Seca 31. Campanha meridional Rio-Grandense
8. Ijul 20. Santa Cruz do Sul 32. Serras de Sudeste
9. Carazinho 21. Lajeado-Estrela 33. Pelotas D Metropolitana de Porto Alegre
10. Passo Fundo 22. Cachoeira do Sul 34. Jaguarão
11. Cruz Alta 23. Montenegro 35. Litorallagunar
D Sudoeste Rio-Grandense
12. Não-Me-Toque 24. Gramado-Canela D Sudeste Rio-Grandense
,
Como toda divisão regional é mais ou No entanto, a divisão em vinte regiões tem
menos arbitrária, essa também é passível de validade não só para os fins com que foi rea-
críticas, principalmente porque contém um lizada, mas também como mais um instru-
número elevado de regiões, algumas das mental de referência quando se trabalha com
quais não guardam grandes diferenças entre a divisão espacial do Rio Grande do Sul.
si. Por exemplo, as regiões da produção, do
alto Jacuí, do noroeste colonial (também
chamada de região celeiro) e mesmo a das
Missões e a da fronteira noroeste talvez te-
o norte e o sul
nham mais semelhanças que diferenças entre Uma divisão do estado muito ao gosto de
si, razão pela qual poderiam compor uma economistas, desenvolvida no meio acadêmi-
única região. Pode-se dizer o mesmo das re- co, mas apreciada sobretudo no meio político
giões da fronteira oeste e da Campanha (ou gaúcho, reconhece a existência de duas grandes
fronteira sudoeste), já que ambas integram a frações de espaço bem distintas no Rio Grande
histórica Campanha Gaúcha. do Sul: um norte "rico" e um sul "pobre".
SANTA CATARINA
ARGENTINA
URUGUAI
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Trata-se de um procedimento com forte
Rio Grande do Sul: o norte "rico" e o sul "pobre"
amparo na formação socioespacial do estado.
De modo geral, ela se deu por dois processos
histórico-sociais diferentes, que levaram à
ARGENTINA SANTA CATARINA configuração de duas grandes frações: o sul
centrado na Campanha e o norte identifica-
do com o planalto.
Mesmo não sendo uma divisão rigorosa,
Norte pois despreza diversidades espaciais menos
expressivas, há o problema de estabelecer a
linha divisória entre as duas partes. Deve-se
Sul lembrar que há comunidades "ricas" no sul
(em Candiota, Hulha Negra e Canguçu, por
exemplo) e municípios "pobres" no norte
(no médio e no alto Uruguai e nos campos
URUGUAI de cima da serra). Mas, tomando por base as
áreas de atuação dos Conselhos Regionais de
OCEANO
Desenvolvimento, pode-se dizer que o sul
ATLÂNTICO "pobre" engloba a fronteira oeste, a região
N
central, a Campanha e a região sul; o restante
ESCALA constitui o norte "rico".
o 112 224 km
! !
1 em - 112 km
I
O quadro abaixo revela duas realidades
bem distintas no Rio Grande do Sul: O nor-
Fonte: Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do
Sul, 2001. te "rico" e o sul "pobre". Com superfície a-
proximada à do sul, o norte concentra mais
NORTE SUL
Números Números
Porcentagem Porcentagem
absolutos absolutos
Área territorial (mil km") 137,4 51 131,8 49
Municípios 420 85 77 15
População residente"
7838 77 2341 23
(em milhões de habitantes)
Produto Interno Bruto**
65,1 83 13,3 17
(em bilhões de reais)
Renda per capita
8305 - 5 681 -
(em reais)
Densidade demográfica
57 - 17 -
(habitantes por krrr')
ARGENTINA
•
Santo Carazlnho s
Ângelo
•
São Luís •
Cruz Alta
Gonzaga
3
•Alegrete
•São Gabriel
URUGUAI
•Bagé
OCEANO
ATLÂNTICO
D Campanha
O Depressão Central
D Litoral
D Planalto:
1. Serra
5
2. Encosta
3. Planalto Médio ESCALA
4. Campos do Planalto O 52 104 km
! ! I
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
histórica, cultural, demo gráfica e econômica. Porto Alegre é uma metrópole porque é a
Temos então as seguintes regiões: região de sede regional (e não raro nacional) de um
Porto Alegre, planalto, Campanha, depressão grande número de empresas comerciais e de
Central e litoral. todo o tipo de serviços: bancos, agências de
publicidade, empresas de comunicação, in-
cluindo rádios, jornais e canais de televisão,
Região metropolitana etc. Possui diversas universidades, centros de
pesquisa, modernos hospitais que atendem
de Porto Alegre pacientes de todo o estado e também de
Santa Catarina. Tem ainda numerosas e va-
A região metropolitana de Porto Alegre é riadas indústrias, que empregam milhares de
a mais importante do estado. Ela concentra trabalhadores.
um terço da população e produz mais de Por oferecerem muitos empregos essas e
40% da riqueza rio-grandense. É a área onde outras atividades atraíam expressivas migra-
está a metrópole do extremo sul do Brasil. ções, em especial nos anos 1960 e 1970, o
ESCALA
O 11 22km
I D Mancha urbana I ! !
1cm-11km
I
que ocasionou considerável crescimento de- Com 31 municípios, a Grânde Porto Ale-
mográfico. Ao mesmo tempo, a presença de gre constitui um espaço articulado física e
um grande mercado de consumo e a disponi- funcionalmente, no qual se observa uma cer-
bilidade de mão-de-obra, bem como a cria- ta divisão social e territorial do trabalho: refi-
ção de infra-estrutura (energia, transportes), naria de petróleo em Canoas, petroquímica
funcionaram como estímulo a novas ativi- em Triunfo, metalurgia e mecânica pesada
dades econômicas. Estas demandavam mais junto às BRs 116 e 290, sedes de empresas
mão-de-obra, mais migrações, novas áreas em Porto Alegre, e assim por diante.
residenciais, novos serviços urbanos, etc.
À semelhança das outras regiões metro-
Enfim, o processo de metropolização de
politanas do país, a de Porto Alegre apresen-
Porto Alegre, com a conseqüente escassez e
ta paisagens essencialmente urbanas, com
valorização do solo urbano, levou ao inevitá-
muitas indústrias, centros comerciais, largas
vel "transbordamento" da capital: as cidades
avenidas, tráfego intenso, muitos bairros
vizinhas também cresceram, algumas assen-
residenciais. Desses bairros alguns são luxuo-
tadas mais na função industrial, como Ca-
sos, muitos "remediados", outros pobres, on-
noas e Esteio, outras apoiadas na função resi-
de mais comumente ocorre a violência social
dencial, transformadas em cidades-dormi-
e a degradação ambiental.
tório, como Viamão e Alvorada. Junto com a
metropolização, portanto, verificou-se um
processo de conurbação, isto é, de urbaniza-
ção conjunta. o planalto
O crescimento de várias cidades deu-se
fundamentalmente por indução a partir de o planalto é o norte do estado, no qual
Porto Alegre. No entanto, ao centralizar o fatores naturais e históricos se combinaram
notável desenvolvimento do vale dos Sinos, para conferir alguns aspectos comuns a essa
com base sobretudo nas atividades coureiro- parte do espaço rio-grandense, capazes de
calçadistas, Novo Hamburgo funcionou co- diferenciá-Ia visivelmente das demais regiões.
mo um subpolo da urbanização metropolita-
Contudo, é possível identificar cinco
na. Seu crescimento não só foi influenciado
sub-regiões no planalto: a serra ou região ser-
pelo da capital, como também se tornou ca-
rana, a encosta ou região dos vales, o alto e
paz de induzir o crescimento urbano de cida-
médio vale do Uruguai, os campos do pla-
des próximas.
nalto ou de cima da serra, o planalto Médio.
À medida que Porto Alegre ia ficando
A região serrana ou simplesmente serra lo-
"saturada", novas áreas eram incorporadas ao
caliza-se na borda sudeste do planalto Norte-
espaço urbano que envolve a capital e o eixo
Rio-Grandense e foi colonizada por imi-
que a une a Novo Hamburgo. Nos anos
1980 a cidade de Porto Alegre cresceu bem grantes italianos a partir de 1875. Faz parte
menos que a média da sua região. Nos anos da outrora chamada zona colonial antiga.
1990 essa tendência se manteve. O relevo acidentado que domina a paisa-
O fato é que se constituiu um conjunto gem física não foi empecilho para que a poli-
de cidades praticamente emendadas com a cultura colonial e o artesanato trazido pelos
capital, que forma a área ou região metropo- imigrantes se desenvolvessem, de maneira
litana de Porto Alegre, também chamada de que a região se tornou a segunda em impor-
Grande Porto Alegre. tância econômica no estado. A agricultura
·1 O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Canyon do Itaimbezinho,
colonial cedeu lugar à especialização: uva e Santa Teresa. Em 1997, foram acrescentados
vinho, fruticultura, criação de aves e suínos. os municípios de Antônio Prado, Ipê, Nova
Contudo, a base da economia é a indústria, Roma do Sul, Campestre da Serra, Pinto
já que às atividades tradicionais (mobiliário, Bandeira e Coronel Pilar.
malharias, etc.) somaram-se indústrias mo- Juntamente com a região metropolitana
dernas (mecânicas, metalúrgicas, de material de Porto Alegre, a região da serra compõe o
de transporte, etc.). eixo econômico do Rio Grande do Sul, berço
O pólo regional é Caxias do Sul, em tor- de futura megalópole e responsável por cerca
no do qual outras cidades cresceram e desen- de 60% da riqueza produzida no estado.
volveram atividades industriais. No fim de A encosta do planalto, especialmente os
1994, com o objetivo de permitir a gestão vales que a entalham, foi colonizada basica-
conjunta das questões regionais, foi instituí- mente por imigrantes alemães a partir de
da a Aglomeração Urbana do Nordeste, em- 1824. Inicialmente o vale dos Sinos (que está
brião de uma futura região metropolitana, integrado à região metropolitana de Porto
formada inicialmente pelos seguintes muni- Alegre) e em seguida os vales do Caí, do Par-
cípios: Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Car- do e do Taquari foram ocupados com base
Ias Barbosa, Farroupilha, Flores da Cunha, na policultura e na pequena propriedade de
Garibaldi, Monte Belo do Sul, São Marcos e uso familiar.
, . A DIVERSIDADE ESPACIAL
A região dos vales teve um notável desen- mais tarde, com a disseminação da fruticul-
volvimento econômico e social: a agricultura tura, particularmente da maçã. Isso não im-
se especializou, a avicultura se tornou ativi- pediu que os campos de cima da serra per-
dade empresarial e a industrialização da pro- manecessem como área de emigração e que
dução primária estimulou a formação de seu Índice de Desenvolvimento Social fosse
cidades de expressão regional, como Lajea- inferior ao da média do estado. Como a do
do-Estrela, no vale do Taquari, e Santa Cruz alto e médio Uruguai, sua população dimi-
do Sul, no vale do rio Pardo. nuiu no último período intercensitário.
O alto e médio vale do Uruguai faz parte O planalto Médio é a parte central do pla-
da região antigamente chamada de zona co- nalto Norte-Rio-Crandense, onde as alti-
lonial nova, por ter sido colonizada já no sé- tudes são mais ou menos modestas - nem
culo XX. Não se reproduziram aí as condi- tão baixas quanto no oeste, nem tão acentua-
ções que favoreceram o desenvolvimento da das quanto no leste. Dele fazem parte as cha-
zona colonial antiga. Entre os fatores que ex- madas regiões da produção (Passo Fundo,
plicam essa diferença podemos citar o relevo Carazinho), do alto Jacuí (Cruz Alta), do
mais acidentado, que significa maior erosão noroeste colonial ou região celeiro (Ijuí, Três
dos solos, e principalmente o difícil acesso Passos), da fronteira noroeste (Santa Rosa) e
aos mercados de consumo, limitado, naque- das Missões (São Luís, Santo Ângelo).
la época, às hidrovias que conduziam a Porto
O domínio de terrenos relativamente pla-
Alegre e a Rio Grande.
nos e a presença de solos originalmente férteis
Por esses motivos, em poucas gerações a
favoreceram o desenvolvimento da lavoura de
fragmentação por herança dos imóveis ru-
trigo, tradicionalmente associada com a
rais, o esgotamento e a erosão dos solos con-
pecuária. Quando da modernização agrícola
duziram a região do alto e médio Uruguai a
por que passou o país, o planalto Médio foi a
um processo de minifundização. Esta é a
região do estado atingida em primeiro lugar.
principal razão do êxodo da população e do
As lavouras foram mecanizadas, passaram a
índice de desenvolvimento social abaixo da
receber fertilizantes e defensivos agrícolas em
média estadual.
profusão e, nos anos 1970, a soja tomou conta
Os campos do planalto estão na área mais
da paisagem rural, como cultura de verão. Ao
alta, e por isso mais fria, do estado, o nordes-
mesmo tempo, numerosas cidades se desen-
te. Originalmente coberta por campos sujos,
volveram, apoiadas no beneficiamento da pro-
essa sub-região teve sua história ligada à da
dução local, num ativo comércio de insumos
pecuária (corresponde à antiga Vacaria dos
Pinhais do século XVIII), e seu espaço foi modernos e mesmo na produção de máquinas
produzido com base na grande propriedade e implementos agrícolas.
pastoril. A exploração madeireira contribuiu Nos anos 1980, com a retração dos pre-
para a definição de um quadro espacial de ços da soja no mercado internacional, o mi-
baixas densidades demográficas, inferiores a lho recuperou sua presença na produção re-
10 hab.Zkmz. gional, passando a dividir com a leguminosa
Somente nas últimas décadas a paisagem a preferência dos empresários rurais, agora
se modificou substancialmente, no início em lavouras também mecanizadas, em mé-
com a lavoura mecanizada de trigo e soja e, dias e grandes propriedades. No entanto, a
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
diversificação agrícola que se seguiu à quase Em grande parte dela a paisagem é domi-
monocultura da soja não foi suficiente para nada por dunas ou cômoros de areia.
impedir o êxodo de expressiva parcela da po- O litoral norte é a zona de veraneio do es-
pulação regional, sobretudo rural. tado, onde se destacam os municípios de Ci-
dreira, Tramandaí, Capão da Canoa e Torres,
nos quais existem diversas praias. No verão
o litoral essa área recebe centenas de milhares de tu-
ristas, inclusive de outros estados e da Argen-
o litoral é a faixa de terras corresponden- tina. Nas duas últimas décadas o litoral man-
te à planície Costeira, na qual existem muitas teve um forte crescimento demográfico, gra-
lagoas e lagunas. ças sobretudo a migrações de aposentados
Devido à existência de solos arenosos e de fugindo das grandes cidades.
um relevo sem proteção contra os ventos fre- A faixa de terras que separa a laguna dos
qüentes, a região apresenta um povoamento Patos do oceano Atlântico é uma grande res-
rarefeito, contendo as menores densidades tinga. Ela apresenta uma paisagem quase de-
demo gráficas do estado. sértica, pois a presença humana se destaca
Banhado do Taim, Este importante ecossistema do litoral sul gaúcho é protegido pela Estação Ecológica de mesmo nome.
A DIVERSIDADE ESPACIAL
,
somente na sua extremidade sul, onde en- dução de lavouras mecanizadas: arroz nas
contramos plantações de cebola, algumas baixadas e nos vales dos rios; soja ou milho
criações de ovelhas e a pequena cidade de em algumas coxilhas.
São José do Norte.
No litoral sul, entre as lagoas Mirim e
Mangueira, aparece o banhado do Taim, área
inundável que tem sido alvo de freqüentes A depressão Central
agressões ao ambiente - drenagem de suas
águas por parte de arrozeiros, invasão pelo A depressão Central é uma faixa de terras
gado de fazendeiros, caça e pesca predatórias. planas que separa o planalto Norte-Rio-Cran-
No conjunto, a principal atividade eco- dense, localizado ao norte, do escudo crista-
nômica da região é a pesca, que dá ao estado lino que fica ao sul e está incluído na região
a condição de um dos grandes produtores de
da Campanha. Sobre ela corre o rio Jacuí,
pescado do país. Parte da produção é indus-
um dos elementos característicos da região.
trializada em Rio Grande, que é a segunda
cidade da região; a maior é Pelotas. Trata-se de uma área agropastoril: nas ter-
ras baixas planta-se arroz, em lavouras irriga-
A Campanha das e mecanizadas; nos terrenos mais eleva-
dos geralmente se faz a criação de bovinos.
A Campanha é uma região bem definida,
A chamada zona carbonífera do estado
na qual predomina a criação de gado realiza-
está localizada no leste da depressão Central;
da em grandes propriedades - as fazendas
ou estâncias. O elemento característico da nela estão os municípios de Butiá e Arroio
paisagem são os campos que se estendem dos Ratos, que, juntamente com Candiota,
pelas coxilhas, onde se criam rebanhos de na Campanha, são os grandes produtores de
bovinos e ovinos. Porém, cada vez mais a carvão mineral. Arroio dos Ratos já foi legal-
paisagem vem sendo alterada pela intro- mente integrado à região metropolitana.
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE