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RELATÓRIO DE PESQUISA
Introdução
A partir dos dados recebidos foi feita a perfilação geral das pessoas estrangeiras
encarceradas no Rio Grande do Sul, para isso foi necessário realizar duas ações: I)
estabelecer os anos de 2020 e 2021 como referência; II) excluir da base de dados os nacionais
do Brasil. Após a primeira operação, o número de pessoas estrangeiras encarceradas foi de
360. Em seguida foi realizada uma filtragem nos microdados e o total final chegou a 308. A
tabela abaixo apresenta os totais por ano:
Ano Número de pessoas estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
2020 140
2021 168
Total 308
Tabela 1: Nº de pessoas estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Sexo Quantitativo
Feminino 32 (10.38)
Nacionalidade Quantidade %
2 Argentina 50 16,23
3 Haiti 22 7,14
4 Paraguai 13 4,22
5 Colômbia 9 2,92
6 Venezuela 7 2,27
7 Cuba 4 1,29
8 Jordânia 4 1,29
9 Chile 3 0,97
10 Portugal 3 0,97
11 Senegal 3 0,97
12 Bolívia 2 0,64
13 China 2 0,64
14 Peru 2 0,64
15 Angola 1 0,32
16 Egito 1 0,32
17 Itália 1 0,32
18 Líbano 1 0,32
19 Paquistão 1 0,32
21 Rússia 1 0,32
Tabela 3: Nacionalidade das pessoas estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE.
É possível verificar, com base nessa tabela, que novamente as nacionalidades que com
mais frequência aparecem são as provenientes do Uruguai e da Argentina. Contudo, no
relatório anterior, a nacionalidade paraguaia estava em terceiro lugar, posição que sofreu uma
alteração e foi ocupada pela haitiana, anteriormente na quinta posição, tendo passado de 12
para 22 nacionais presos. Outro fato importante que merece destaque é que entre 2017 e 2019
a nacionalidade senegalesa estava em 4º lugar, passados 2 anos ela ocupa a 8ª posição junto
com Chile e Portugal, com o número caindo de 17 para 3 senegaleses recolhidos no sistema
prisional gaúcho.
A aferição dos perfis a partir do parâmetro da escolaridade resultou na seguinte
tabela:
Escolaridade Quantidade %
Alfabetizado 14 4,54
Analfabeto 2 0,64
Tabela 4: Escolaridade das pessoas estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
61 a 70 0 3 (100) 3 (0,97)
No que diz respeito aos marcadores de raça, a distribuição se deu da seguinte forma:
Raça[2] Quantidade %
Preta 45 14,61
Mista 45 14,61
Indiatica 9 2,92
Amarela 3 0,97
Tabela 6: Identificação racial das pessoas estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Assim como nos dados divulgados no relatório anterior, nos anos de 2020 e 2021 a
maioria das pessoas estrangeiras presas no Rio Grande do Sul são brancas.
Buscando indicadores socioeconômicos, diante da inexistência de informações sobre
renda aferida, procuramos conhecer as atividades desenvolvidas por cada pessoa estrangeira
no momento da prisão. Aquelas com maior incidência foram:
Profissão Quantidade
Serviços gerais 37
Pedreiro 27
Autônomo 19
Auxiliar de serviços 15
Comerciante 14
Motorista 11
Mecânico 10
Do lar 9
Vendedor 7
Carpinteiro 6
Empresário 6
Padeiro 6
Pintor 6
Cozinheiro 5
Tabela 7: Atividades das pessoas estrangeiras no momento da prisão
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Nº de filhos Quantidade
1 77
2 61
3 38
4 10
5 10
6 8
7 2
Não informado 75
Tabela 8: Número de filhos das pessoas estrangeiras no momento da prisão
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Assim, inicialmente podemos afirmar que o perfil majoritário das pessoas estrangeiras
encarceradas no Rio Grande do Sul entre os anos de 2020 e 2021 é de homens uruguaios
brancos, na faixa etária de 35 a 45 anos, com ensino fundamental incompleto, que exerciam a
atividade de serviços gerais e possuíam um filho no momento da prisão.
2. Identificando os enquadramentos
Tráfico 83 20
Furto 52 12,53
Roubo 22 5,3
Homicídio 18 4,33
Receptação 15 3,61
Ameaça 11 2,65
Condenação 11 2,65
Descaminho 10 2,4
Dano 8 1,92
Resistência 5 1,2
Desacato 3 0,72
Desobediência 2 0,48
Injúria 2 0,48
Peculato 2 0,48
Extorsão 1 0,24
Estelionato 1 0,24
Incêndio 1 0,24
Radiodifusão 1 0,24
URUGUAI
Tráfico 55
Furto 41
Roubo 14
Vias de fato 11
Receptação 10
Descaminho 6
Homicídio 6
Condenação 5
Adulteração veículo 4
Crimes no trânsito 4
Evasão de divisa 4
Aguardando deportação 3
Fraude de lei sobre estrangeiro 3
Dano 2
Desacato 2
Falsa identidade 2
Moeda falsa 2
Peculato 2
Pensão alimentícia 2
Ameaça 1
Corrupção de menor 1
Crime hediondo 1
Lesão corporal 1
Não informado 1
Recusa de identificação 1
Simulação de casamento 1
Tabela 10: Crimes que mais encarceraram uruguaios no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Novamente o tráfico de drogas foi o crime mais cometido por uruguaios. Porém cabe
ressaltar que houve um aumento[5] em relação ao crime de furto e aqueles que envolvem o
Sistema Nacional de Armas.
Em segundo lugar em número de prisões estão os nacionais da Argentina:
ARGENTINA
Tráfico 10
Furto 7
Ameaça 4
Descaminho 3
Condenação 3
Homicídio 3
Crimes no trânsito 2
Dano 2
Lesão corporal 2
Receptação 2
Roubo 2
Extorsão 1
Evasão de divisa 1
Resistência 1
Corrupção de menor 1
Aguardando deportação 1
Tabela 11: Crimes que mais encarceraram argentinos no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Os dados demonstraram que o crime de tráfico foi aquele que mais encarcerou
argentinos, assim como havia ocorrido nos anos anteriores. Em relação aos demais crimes
não houve nenhuma alteração significativa.
A próxima tabela apresenta a terceira nacionalidade com o maior número de
encarceramento, a haitiana:
HAITI
Lesão corporal 8
Ameaça 4
Homicídio 4
Roubo 3
Dano 2
Injúria 1
Receptação 1
Resistência 1
Vias de fato 1
Tabela 12: Crimes que mais encarceraram haitianos no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Tráfico 6
Adulteração veículo 1
Descaminho 1
Furto 1
Roubo 1
Condenação 1
Tabela 13: Crimes que mais encarceraram paraguaios no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
COLÔMBIA
Tráfico 4
Roubo 2
Resistência 1
Receptação 1
Tabela 14: Crimes que mais encarceraram colombianos no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Em relação aos crimes que mais levaram ao cárcere nacionais da Colômbia, o tráfico
de drogas segue em primeiro lugar. No mais, não houve alterações em relação ao número de
prisões ou tipo de crime.
A próxima tabela apresenta informações em relação ao local de residência no
momento da prisão.
Residência Quantidade %
Esse item de análise também sofreu uma grande mudança. No relatório anterior cerca
de 51,21% das pessoas estrangeiras encarceradas que tiveram seus endereços localizados
viviam no Brasil no momento em que foram presos, agora esse número subiu para 78,24%.
Como estamos analisando dados de um momento pandêmico, talvez seja possível atribuir o
número maior de residentes no país ao fechamento das fronteiras. No entanto, se somente
aqueles que estão no Brasil fossem presos o percentual de prisões deveria ter diminuído, o
que não aconteceu. Assim fica o questionamento do que pode ter ocorrido nesses dois anos
analisados que manteve o número total de prisões, mas aumentou consideravelmente o
número de pessoas estrangeiras residentes no Brasil encarceradas aqui no Rio Grande do Sul.
Por fim, o último dado a ser analisado nesta seção diz respeito ao recebimento de
visitas durante o período de reclusão.
2020 14
2021 18
Total 32
Tabela 17: Quantitativo das mulheres estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
A partir deste total acima, a seguinte tabela apresenta a distribuição das
nacionalidades em termos percentuais:
Nacionalidade Quantidade
1 Uruguai 23
2 Argentina 3
3 Paraguai 3
4 Bolívia 1
5 Peru 1
6 Haiti 1
Tabela 18: Nacionalidade das mulheres estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
A partir da tabela acima é possível verificar que, assim como no caso dos homens, a
maioria das mulheres possuem nacionalidade uruguaia.
Já em relação ao marcador racial, pela primeira vez verificamos a presença de
mulheres estrangeiras pretas recolhidas no sistema prisional gaúcho.
Raça Quantidade %
Branca 22 68,75
Mista 7 21,87
Preta 2 6,25
Indiática 1 3,12
Tabela 19: Identificação racial das mulheres estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Escolaridade Quantidade
Ens Médio 8
Alfabetizado 1
Ens Fundamental 1
Ens Superior 1
Do lar 9
Autônoma 4
Emp. doméstica 3
Outros 3
Serviços gerais 2
Moto boy 2
Vendedora 1
Cabeleireira 1
Empresaria 1
Comerciante 1
Costureira 1
Não informado 1
Tabela 21: Atividades laborais das mulheres estrangeiras no momento da prisão
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
35 a 45 anos 9
25 a 29 anos 7
18 a 24 anos 6
30 a 34 anos 6
46 a 60 anos 4
Tabela 22: Faixa etária das mulheres estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Nº de filhos Quantidade
1 7
2 5
3 9
4 2
5 1
6 2
Não informado 6
Tabela 23: Número de filhos por mulher estrangeira encarcerada no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Em relação aos tipos penais que levaram essas mulheres ao cárcere, temos a seguinte
distribuição.
Crime Quantidade
Tráfico 16
Furto 5
Homicídio 3
Descaminho 1
Simulação de casamento 1
Condenação 1
Receptação 1
Roubo 1
Tabela 24: Principais crimes cometidos por mulheres estrangeiras encarceradas no Rio Grande do Sul
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Assim como no caso dos homens, o tráfico de drogas é o crime que encarcera a
maioria das mulheres.
No que diz respeito ao local da residência, o padrão se repete demonstrando que o
maior número de mulheres estava residindo no Brasil quando foram presas.
Residência Quantidade
No Brasil 25
Fora do Brasil 7
TOTAL 32
Tabela 25: Local de residência no momento da prisão
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
28 4
Tabela 26: Recebimento de visita durante o encarceramento
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da SUSEPE
Tendo esses dados em vista, constata-se que quase a totalidade dessas mulheres
(87,5%) não contava com registro de visitas em seu período de encarceramento, evidenciando
a premissa da solidão da mulher no cárcere.
Considerações finais
Referências
[1]
A faixa etária está sendo considerada de acordo com o padrão adotado pelo IBGE.
[2]
Os termos utilizados como marcadores raciais são os fornecidos pela SUSEPE.
[3]
Nesse enquadramento optamos por englobar todos os crimes que envolvam armas, quais sejam: posse por
porte de armamento de calibre permitido ou proibido e tráfico nacional ou internacional de armas de e calibre
permitido ou proibido.
[4]
O total de crimes apurado foi de 415, sendo em número maior do que o número de pessoas presas, visto que
uma única pessoa pode ser enquadrada e responder por mais de um crime.
[5]
Nos 3 anos analisados no relatório anterior, os nacionais do Uruguai foram presos por 33 crimes de furto e 26
crimes relacionados ao Sistema Nacional de Armas. Nos 2 anos analisados nesse relatório, a quantidade de
prisões por esses crimes foi 41 e 26, respectivamente, ou seja, nos dois casos houve um aumento no número de
prisões.
[6]
No relatório anterior foram 15 o número de crimes que encarceraram haitianos, desses 11 (73,33) estavam
relacionados a violência doméstica. Assim, percebe-se que não apenas o número de encarceramento aumentou,
também houve um aumento no número de mulheres vítimas de violência.
[7]
Falar a respeito das alterações que estão sendo propostas.