Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Cenário Atual
Dados do IBGE
Abaixo podemos visualizar os estudos estatísticos do IBGE e os números referentes ao
Estado. Em 2010, um recorte para crianças e adolescentes com idade entre 10 e 13 anos; em 2016
envolvendo uma faixa etária mais ampla, correspondente a 8,56% da população com idade entre 5
e 17 anos; e 2017 focado nos estabelecimentos agropecuários.
SECRETARIA DE ESTADO DE ASSSITÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA
Secretaria Adjunta De Assistência Social
Coordenadoria De Vigilância Socioassistencial
Outro dado levantado pelo censo IBGE 2010 aponta a existência, em Mato Grosso, de 6,9 mil
crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos ocupadas em atividades relacionadas ao serviço
doméstico, exercido em lares de terceiros. Reafirma-se que trabalho doméstico é considerado como
uma das piores formas de trabalho infantil, portanto, proibido a menores de 18 anos.
Relativo ao censo agropecuário 2017, dos 26,2 mil crianças e adolescentes menores de 14
anos ocupados em estabelecimentos agropecuários, que equivale a 6,2% do total de ocupados no
setor, 77,3% (20,2 mil) possuíam laços de parentesco com o produtor. Num Estado em que a
economia é baseada na agropecuária, campeão na produção de soja, milho, algodão e rebanho
bovino, os dados retratam as particularidades do trabalho infantil na área rural, evidenciando o
aspecto cultural de tolerância a atividade, especialmente quando o produtor é um membro da
família.
Abaixo, as tabelas 1 e 2 apresentam a classificação dos dez municípios mato-grossenses,
segundo dados do censo 2010, com maior nível de ocupação de crianças e adolescentes em relação
à população total ocupada no município.
Perceba que esse dado está relacionado a apenas duas séries, onde a faixa etária ideal dos
alunos, conforme a idade mínima de ingresso no ensino fundamental, seria de 10 anos para o 5º
ano e 14 anos para o 9° ano.
Abaixo, visualizam-se os dez municípios com maior número de crianças e adolescentes
trabalhando, conforme as respostas espontâneas e diretas dos alunos na Prova Brasil:
Quadro 1
Município Nº de alunos trabalhando
1 Cuiabá 1,2 mil
2 Várzea Grande 747
3 Rondonópolis 534
4 Sinop 448
5 Cáceres 301
6 Tangará da Serra 277
7 Sorriso 274
8 Primavera do Leste 220
9 Alta Floresta 179
10 Lucas do Rio Verde 173
Fonte: INEP, Prova Brasil 2017
SECRETARIA DE ESTADO DE ASSSITÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA
Secretaria Adjunta De Assistência Social
Coordenadoria De Vigilância Socioassistencial
Quadro 2
Faixa etária TOTAL
Entre 14 a 15 Entre 16 a 17
Função principal
Empregador 0 1 1
Estagiário 1 39 40
Aprendiz 21 266 287
TOTAL 80 1032 1112
Dos 1112 que trabalham, 20,6% declararam não frequentar ou nunca ter frequentado a escola.
Comparando a situação escolar de forma categorizada com cada uma das funções relacionadas no
quadro 3, por meio da coleta de informações mais aprofundadas no CadÚnico, vê-se que o
trabalhador temporário em área rural apresenta, proporcionalmente, a maior incidência de crianças
e adolescentes fora da escola, alcançando 66,6%, seguido pelo trabalhador não remunerado (50%)
e pelo trabalhador por conta própria (37,1%).
No gráfico 3 pode-se visualizar o grau de instrução dos que declararam trabalhar, ficando
evidente a alta taxa de evasão ou abandono escolar. Somente 1,6% destas crianças e adolescentes
completaram o ensino médio e menos de 0,2% chegaram ao ensino superior.
Considerando que os três grupos com maior percentual de alunos são: o ensino fundamental
incompleto com 21,7%, o ensino fundamental completo com 32,1% e o ensino médio incompleto
com 40,1%, e agregando a isso a informação de que a faixa etária predominante dos que trabalham
SECRETARIA DE ESTADO DE ASSSITÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA
Secretaria Adjunta De Assistência Social
Coordenadoria De Vigilância Socioassistencial
é de 15 a 17 anos (quadro 3), pode-se vislumbrar altas chances do ingresso ao mundo trabalho ter
contribuído para a interrupção escolar e impedido o exercício do direito à educação e a possibilidade
de rompimento do ciclo da pobreza.
A identificação desse público no Cadastro Único permite às equipes municipais, a partir a análise
dos dados, discutir sobre a melhor forma de intervenção familiar e quais os encaminhamentos
necessários para que essa criança ou adolescentes saia da condição de trabalho infantil, podendo
retomar os estudos e participar de atividades oferecidas pela rede socioassistencial ou por outra
política pública.
Quando não for possível ao entrevistador ter certeza da existência do trabalho infantil, mas
com fortes evidências, recomenda-se uma visita domiciliar por uma assistente social para
averiguação mais precisa.
No CadÚnico é possível identificar 135 pessoas com marcação de trabalho infantil. Destas,
50,3% são extremamente pobres e 24,4% são pobres. Esses dados corroboram com a proposição de
que o trabalho infantil está estritamente ligado à pobreza.
Independente se a identificação do trabalho infantil foi realizada com ou sem visita domiciliar, é
importante que todos os casos possam ser averiguados pela equipe de referência do CRAS e CREAS
para que tais famílias possam ser inseridas nos serviços, programas, projetos e benefícios
socioassistenciais ofertados.
Além disso, é importante também que os municípios possam criar instrumentais para melhor
qualificar as informações sobre o trabalho infantil em seus respectivos territórios, como também
integrá-los a ações com educação e saúde.
SECRETARIA DE ESTADO DE ASSSITÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA
Secretaria Adjunta De Assistência Social
Coordenadoria De Vigilância Socioassistencial
Em 2019 foram 126 novos casos de trabalho infantil atendidos no Serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família - PAIF em todo o Estado. Se comparados os três primeiros meses de
2019 e 2020 (quadro 4), temos uma redução de 14,3% nos atendimentos no último ano, no entanto,
há de esclarecer que o número de municípios que preencheram o instrumental no mesmo período
em 2020 também é inferior a 2019, ocorrendo da mesma forma no RMA CREAS.
Quadro 4 - RMA CRAS MT: Famílias em acompanhamento pelo PAIF com crianças e
adolescentes em situação de trabalho infantil, no primeiro trimestre do ano de referência
Ano N° de novos casos de famílias inseridas no acompanhamento
2019 21
2020 18
Fonte: Ministério da Cidadania/ RMA. Extraído em 26.05.2020
Dos dados extraídos do SISC (quadro 7), identifica-se 518 usuários prioritários em situação
de trabalho infantil, sendo 337 (65%) do sexo feminino e 181 (35%) do sexo masculino, número
expressivamente superior ao registrado no CadÚnico.
É importante registrar a escassez de dados atualizados sobre o trabalho infantil e a
dificuldade de comparação das informações deste Boletim por se tratar de recortes temporais e
etários diferenciados.
Apesar de proibido e de todos os mecanismos de combate de órgãos ligados à defesa dos
direitos da criança e do adolescente, o trabalho infantil é um fenômeno facilmente notado no Brasil,
SECRETARIA DE ESTADO DE ASSSITÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA
Secretaria Adjunta De Assistência Social
Coordenadoria De Vigilância Socioassistencial
não sendo diferente em Mato Grosso, onde não é raro perceber crianças sendo exploradas por
adultos, seja pedindo dinheiro nos semáforos ou vendendo produtos como flores e doces em
espaços públicos e de grande movimentação, muitas vezes no período noturno, exceto no período
de isolamento social.
Diante os impactos da pandemia e o risco de crescimento da exploração do trabalho infantil,
Mato Grosso aderiu à campanha nacional com o slogan “COVID-19: agora mais do que nunca,
protejam crianças e adolescentes do trabalho infantil”, que visa alertar para o aprimoramento de
medidas de prevenção e de combate ao trabalho infantil através de diversas ações.
É importante perceber que o isolamento social afeta de forma diferente as famílias,
conforme as condições materiais que cada uma tem. Assim, a população socioeconomicamente
mais vulnerável é atingida de maneira mais cruel, considerando sua instabilidade financeira,
vínculos precarizados de trabalho e insegurança habitacional.
Com a redução de pessoas e carros circulando, é possível que o trabalho infantil nas ruas
diminua, por outro lado, pode haver um aumento naquele trabalho considerado invisível, o que é
executado dentro de casa, como os serviços domésticos e o cuidado com os irmãos mais novos. Ao
mesmo tempo é preciso atentar-se para o fato de que passar mais tempo em casa também aumenta
a exposição de crianças e adolescentes a outras formas de violações, como a agressão física e o
abuso sexual, por exemplo. Por fim, ressalta-se que a proteção integral à criança e ao adolescente,
com prioridade absoluta, não cabe somente à família, mas também ao Estado, à comunidade e à
sociedade em geral.
SECRETARIA DE ESTADO DE ASSSITÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA
Secretaria Adjunta De Assistência Social
Coordenadoria De Vigilância Socioassistencial