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FRANCOIS QUESNAY Quadro Econémico dos Fisiocratas Apresentagio de Roberto Campos TradugSo de Jodo Guilherme Vargas Netto Apresentacao ene contut um und dae orden ‘ analog enre 9 esquema fsincrateo da geragso do excedente, em que a tera #0 uno for de protuggo,« 0 esjuemra fnaresia, emt qe treo. fetor de produto € 0 trebalho, parece evidente. Como observe Schumpeter, t= de 5e pasta come se dois menicueisiss Quesnay de umn la- dee Marx de outro, svessem desmerbrado a dualidade do faiores ~a tera como e "mie" da produgio o trabalho como 0 "pai" —, fando Quesay com o fler eterno & Marx com ¢ fator patemo.* Nenhum deles reconheceria 0 ‘capital como fator predutivo independente, pois para Marx. LuInALis, mena Peace do etiae Camenney (1989) do Tabs Eero peer dsPhyacoatee 225.50 S037 sane como ‘Roane dokenato de ee wehbe hea Poe, ‘72 Cont Lope, 108 tes ev Ange Caml 8) 282 6 eaulpamento, as usinas e os materais era apenes traba- Tho embutido, © para Quesnay apenas rendimentos acunu- Tadas da terre, sem geracko auténoma de excedentes. Mas, ‘como ainda pondera Schumpeter, 2 anzlogia temina ai. ois Marx construis, ou antes tomou emprestado a Ricardo, uma teoria do ‘‘valor-tabalho”, transformando a produtvi: ade do trabalho em produtivdade do valor, enquanto ‘Quesney persava exchisivamente em termos de produtvi- dade fisca da tera, sem explcar 0 processo de transforma- (Boda produtividade fisica em valor de mercado ‘A Gitima das contibuigSes atubuidas por Marx a Quos- nay, esta mais discutivel, 6 imputar 2 este ume vis8o mat Halita do processo econdrrico, que tesponderia as neces dades da propria producSo buxquess, independeniemente {da superestrtura politca e de fatores voluntarstas. Mas is- 50 parece uma visso algo distorcida. Se, conforme observa Rolf Kuntz, Quesnay chegou a afirmar cm nota manuscrita Gitada por Selleron, “entre nés, para nos, tudo ¢ fisico, ¢ a ‘moral dat detiva", de outro lado, ele ditingue dontre as leis naturais, as leis “isicas" e as les “morais ddo-se que estas aejam as leis “Justas e peraltas” incttuidas pelo Auror da Natureza.* O despotism fisiocrtico tem me- hhos a ver com 0 deletminismo maniata das "sondedes de produgao” do que com aqullo que Michel Lutialla, no cta- do prelaco, derominou “um despotismo da evidencia, uma obediéncia a ordem natural”” ‘Duas outras observacces rnerecem ser fetes a esta al- tura, A primelra se refere ao paralelo que se pode tacar en- tte Questiay ¢ Ricardo. Enquanto en Quesnay € 0 exce- dente egriccla que possiblita a conducio das aividades ‘eserels" do setor mao-agricola, a viséo de Ricardo & a efidencia da agriculture que condiciona toda a Economia, incisive o fundo de salarios e os insumos industrials ‘A segurda @ a notével contribuiggo de Quesnay para fa ‘eoria do capital, a0 Inaugurar 2 tadigao, como dz Blaug, de “‘considerar 0 capital como uma série de ‘adian- famentes', a saber. o: “adiantementos onginais’ — gedo, ‘ediicios ¢ Implementos; os ‘adiantamentos do. proprie Flo’ — drenager, ceteas e outras henfetorias que consti- fuer, por assim dizer, 0 ‘capital fxo', e, finalmente, os “adantementos enuals’ — salrios agricolas, sementes ¢ custos anualmenie recorrentes que consitufam 0 ‘capital de giro’, Esses tr8s adiantamentos deflagraram © prozes- 80 de_circulacfo produtiva.* E tempo agora de fazermos um despretensioso © su- mario balanco da contribuicgo e falhas da Fisiocracia ne fevaluggo do pensamento econémico. Como contibuicies 253 postivas, podem-se cliar a defesa do Jaissea-fare numa Franca constranaida pelas amarras do mercantilsmo cobber- tista, 2 adumbregao do conceito de “imposto unico sotre @ terra” (muito depois, em 1879, desenvolvido por Henry (George). usando simplficar a complexa e ineficaz adminis- tracgo Wibutéria; a promecSo do “utiitaismo", em contra ‘posigéo ao “moralismo” das doutrinas escolasticas, a velon- tacSo da Iberdade competitive; a conceituagio de concor- Tincia perleta e, finalmente, 0 ensalo de Econometie do Tableau Econornique. Do lado negatvo, ha que regisrar o mascaramento do concetto de luero inerente & eontibuicao feita pelo capials- {ay a presuncdo Ingenua ou irrelevante de concoméncia per- feita, como “condicgo natural’, a despeto da evidencin de privggios especiaise sitvagSes monopolisticas;e, fnalmen- fe, as coniradi6es do préprio Quesnay., Como nota Rolf Kuntz, Quesnay, defensor do livre mercado, prope o labe- lamerto de jures. Pregador do comércio, vé nos exportado- res uina tepdblea Intemacionel com interesses opostos aos dos paises natvos® Apéstole do laissez-faire, admite no seu artigo Homens que "Os interesses dos particuares no a2 prestam & Uiso do bem geral. Ndo se podem espe- tar tas vantagens sen8o da sabedoria do Governo’. Tal as- ‘ertiva provacatia lagrimas de decepco em seu vstante in- glés, Adam Smith, que duas décadas mals tarde lancaria, fom,» publieagio de A Riquesa das Norées. os fundamen- fos da economia classica, ‘ma observacia bizarya é que, apesar se sus meto6ri- ca asensio e queda, a Fisiocracia figura entre as poucas doutenas scondmicas que atingitam o cardier de “seta” com adepios filis, dspostos a misturar um pouce de cién- Ga e mull farintima’ Nos dkimos tr8s séculos de historia focidental, que assisiram ao nascimento da Economia co- mo “ciénda’" no sentido schurnpeterano, isto @. um corpo de andlise independente de proposcdes metafsices ou “in- Suendae antcientifens". Apanas 0 mercantiiemo, o marcis- mo, este em giau extremo, e, modemementa, o keynesia- hiame, partharam com 3 Fisioeraca a honra, als, duvido- Sa, d2 poderem ser clasificados como “seas” econémi: G25. Una sella ecendimiea” & mais que uma doutina por- ‘que é tarsbém uma ""mensagem" 2, no caso do marxismo, tima poderosa mensager politica, Pata ressaltar, & guika de conslusto, a importanca de Quesay na evoluigio do persamento svonémico pré-clés- sco, bastaria lembcar 2 observacao de Schumpeter de ‘que pouces seqlléndias existem ne hisixia da andlice eco: pom Ho Iporanie quarto sence Paty Cand fon-Quesnay." HUN. Rol Op. 10. SSCRMPENS Jn so ct 218 254 Ao oferecer aos nossos estudlosos de Economia e His trie este traducéo do Quadro Econdmico de Quesnay — melhor pensador cue expostor, exigindo assim pericias er peciais de versio —, a Abril Cultural presta relevante seru- 0 Anos culura econémica Roberto Campos FRANCOIS QUESNAY Anilise do Quadro Econémico- ee Fru rth dh Takaps Enmore ob Don do Degen Aa I QUESTA. rani: Feblene Boorman des Phra cicero, > f 50 uty ve geoantine 1 yeu tops nov Sav devynoott 7 Koaete, ageaenvomae at ad ahha reyes oyedie Sical sort iy oat OKPATHE 4 Fevagun Quer a srcuura prosper, todas as outa aes lorescem som bs mas quando s anda ovo da tere por clue rate cues, odo sees raul ‘mia cue mar. desparecm somes rps SOCRATES em Xerofonte! ‘A nagio se reduz a tiés classes de cidadios: 2 classe produtiva, a classe dos proprietiroe 0 a classe ester A classe produto & « ue fae renascer, pelo cultvo do tent, os queens anus da naglo, efetia os adientamentos das despesas com os tabalhos da agi. ‘cultura e paga anualmente as rendas dos propretiios das trras. Engloberm-se 10 “mbito dessa clase todos os trabalhos e despesas felis na agiculura, até a vena dos produtos em primeita mBo, por essa verda conhece-se © valor da reprodugeo ‘anual das rquezas da nag. ‘A classe dos proprietdrios compreende o soberano, os possuldores de toras & 0s diatmetros. Essa clesse subsisie pela renda ou produto liquido do cuitivo da ter a, que lhe € pago anualmente pela classe produtiva, cepols que esta descontou, de reprodugio que fax renascer cada ano, as nquems necessarias 20 reembolso de ‘seus aciantamentos anuais e 4 manutencdo de suas rquezas de exploracéo, *XENOFONTE 1Eeonontua V. 17. mdi lta egndo ono acts No) 257 258 Funcom QUESNAY [A classe estéil @ formada por todos os cidados ocupados em outros servicos fe trabalhos que ndo e agriculture cujas despesas so pages pela classe produtiva eee es as ci Yt Nn Ra Wa treet ln va Para acompanhar e calcular claramente as relacbes dessas diferentes classes centre si, € preciso ater-se 2 determinado taso, porque nfo se pode estabelecer um ‘’efleulo posite com base em simples abstracbes. ‘Suponkamos, poranto, um grande reino cujo territério, com a mais desenvol- vida agieultira, proporcionasse fodes os anos uma reproducdo no valor de 5 bi- Indes e onde a stuacso permanente desse valor fosse estabslecida a pregos cons- tantes que fm curso entre as nacBes mercantis, ro caso em que hae constante- ‘mente uma livre concorréncia comercial ¢ toial seguranca da propriedade das 1i- ‘quezas de exploragio da agricultira.* 'O Quadro Econémico abrange as ts classes e suas riquezas anuals, e descre- ‘ve.0 comércio delas da maneira seguinte: Classe Classe Chee Prodi do proprio on Adsotamante Renda Adnan rua desta cane no | de 2bahsos pars arta | deem clone ma soma] ‘monante de 2 ti | cone; dete, 1 br | de! indo, daspend Thee que pratt. | thfo & deependdo | da pla cone one ram 5 bthdes, dos | em compres & cae | em comas de mat feiss 2 hoes em | produieaes our | aepeimas a clowe ‘rodito qido ow | Ihio em comps | produ, rend clone et Dessa maneira, a classe produtiva vende 1 bilh8o de produtos aos proprietérios da renda e 1 bilhbo & classe estéril, que Ihe compra as ‘matéries-primas de sues obras ie isa 2bilhes (O bilhgo que os proprietérios da renda despenderam em compras ‘8 classe estéril ¢ empregndo por essa classe para a subsisténcia de seus ‘agentes, emicompras de produtos closse produriva ae Lbithio Total das compras feias pelos proprietdrias de renda e pela classe estérilaclasse produtiva ..... Sbithoes sea ii in ara a a tesserae oat seorinn Sapeeeae wemoseeenetn eens cy canareamennt eee teee as a5 eve quer de que em que igh ore gm de ns ia pct, a plc gene 3 ‘Spins cber «de als depenen inane Sloe sre ‘Rope coro de cron eps ca stich tos Gepess pape aes pln rug aun. ‘een geen ee sien) pn nasorogurntecon oe ners, corse een te (Os attamare snus cenit na dep les susie con os tao o les ndntanton

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