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Departamento de História

OS CONCEITOS DE PÁTRIA E NAÇÃO À ÉPOCA DA


INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA PORTUGUESA – 1820 A 1834

Aluno: Thiago Mathias Costa


Orientador: Marco Antonio Villela Pamplona

Introdução
Durante o período da Independência na América Portuguesa observou-se uma
transformação no conceito de Pátria, onde o pertencimento regionalista perdeu espaço,
progressivamente para uma concepção mais nacional, associada ao Estado em construção.
Este projeto político e ideológico encaminhado pela corte de Dom Pedro sofreu grande
resistência por parte das oligarquias provinciais, como foi o caso das províncias do Grão Pará,
Bahia e Pernambuco.
O desdobramento das revoluções liberais na Europa resultou na instalação das Cortes
Constituintes em Lisboa que passariam a funcionar como um centro de poder paralelo ao da
Coroa sediada no Rio de Janeiro. Foi nesse momento que as províncias do reino
experimentaram uma intensa atividade política. “A América Portuguesa no final do século
XVIII e XIX não era um bloco integrado, sendo mais associada a um compósito de mosaicos”
[2] alguns mais ou menos integrados com Lisboa, mas sem qualquer ou com muito pouca
integração entre si. Isto contribuiu para que, à época da Independência, várias destas regiões
tivessem uma ideia de Pátria bastante diferente daquela que começava a ser proposta pelas
cortes do Rio de Janeiro [2]. Demétrio Magnoli no seu texto “O Estado em Busca do Seu
Território” [3] demonstra como a América Portuguesa desde o final do século XVIII passou
por uma serie de intensas transformações geopolíticas, datadas do período Pombalino, que
tinham como objetivo melhor controlar a então América Portuguesa. Conceitos como Pátria e
Nação não tinham o mesmo significado. Mas, ao longo dos anos pós-independência, o recém-
criado Império Brasileiro começou a aproximá-los, tornando Pátria e Nação praticamente
sinônimos.    
Com o sucesso do reconhecimento externo do novo Império Brasileiro percebeu-se a
necessidade e dificuldade em construir um programa de unidade que subordinasse as agora
províncias a um centro político de fato, materializado no imperador e tendo o Rio de Janeiro
como sede das decisões políticas.
Tal centralização da autoridade que distinguia o Estado e buscava consagrar o poder do
seu Executivo sobre as esferas regionais e locais acabou por ser incorporada à Constituição de
1824. Nela, as províncias que até então gozavam de certa autonomia política e administrativa,
passariam a figurar unicamente como “(...) circunscrições territoriais da unidade geral. A
divisão do território circunscrevia-se apenas à dimensão administrativa, não possuindo
nenhuma substância política. Ou, dito de outro modo, a atividade política tinha por condição a
lealdade à integridade territorial do Estado e implicava a renúncia absoluta à própria
representação de espaços políticos regionais.” [3] Esse poder imperial no Rio de Janeiro
certamente limitava a autonomia das províncias e comprometia os interesses das oligarquias
ali dominantes. Assumindo a forma “de uma entidade oligárquica de tipo pré-nacional” [3] o
Estado Imperial buscou para si a função de gerir os múltiplos e por vezes conflitantes
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interesses dessas oligarquias que se expressavam de maneira bastante desigual no território


brasileiro.

O Estado imperial conseguiu impor seu programa de construção de uma unidade


política e territorial. Sua implantação, nada pacífica, foi primordial para que se legitimasse
como Estado-Nação, e foi fundamental, também, por tornar-se a própria base de sua
existência.

O caso da província de Pernambuco


No caso da província de Pernambuco, entretanto, tal aproximação imperial encontraria
vários problemas. Desde a segunda metade do século XVIII a região constituída pelas
capitanias subordinadas à capitania de Pernambuco e pela comarca de Alagoas passara por um
gradativo processo de reordenamento territorial. A sociedade dessa região havia sido bastante
dinâmica e mantinha-se em expansão. O processo de interiorização que ocorreu a partir deste
período manifestou-se em um maior crescimento demográfico, tanto nas áreas rurais como
nas áreas urbanas.
O reordenamento administrativo e territorial da área representou, pois, o
reconhecimento do Estado português dessa dinâmica territorial e a valorização econômica da
província. No plano político, significou a maior presença do Estado na colônia, mas isso
também permitiu, de certa maneira, a crescente incorporação dos poderes locais ao aparato
politico-administrativo da colônia através das câmaras municipais.
A efêmera experiência republicana de 1817 deixara marcas profundas e, quando houve
a tentativa da província de aderir ao constitucionalismo advindo da revolução do Porto, novos
projetos políticos entraram em cena. Em outubro de 1821, por exemplo, foi eleita a primeira
junta de governo provisório com duas importantes propostas: primeiro, “uma grande ação
administrativa, incluindo a instrução pública, a criação de uma inspetoria de obras públicas,
reformas na administração pública e maior controle sobre as rendas locais” [1]. Segundo, um
modo de governar que fazia largamente apelo à grande participação de várias camadas da
população, convocando-as para deliberar em “Grandes Conselhos”. Essa participação local
nas câmaras municipais desempenhou um papel muito importante entre os anos de 1821 e
1824, na medida em que criou estruturas de representação local pelas quais os “povos”
puderam expressar suas reivindicações, discordâncias, ou mesmo o seu apoio e submissão ao
poder central. Essa junta de governo seria posteriormente deposta por uma “sedição militar,
urdida com o apoio e sob influência do ministério do príncipe regente” [1]. Mas, mesmo o
novo governo que a substituiu acabaria levando, no futuro, a outra experiência política bem
mais importante, que marcaria profundamente a região – Recife e cidades e vilas de seu
entorno – no ano de 1824: a Confederação do Equador.
No contexto estudado, entretanto, o dos movimentos políticos ocorridos entre 1817 e
1824, é importante destacar a participação de um grande número de pessoas tidas como “do
comum” (e não apenas dos “homens de condição”) nos eventos da política. Observou-se,
principalmente, a crescente participação dos negros livres nesses movimentos e, entre eles
mormente os que faziam parte de instituições bastante tradicionais, como as tropas auxiliares
de “pretos” e “pardos”. Dada a importância deste grupo é necessária uma breve explicação de
suas origens, motivações e onde estavam inseridos socialmente.
Em 1810, segundo Luiz Geraldo Silva, cerca de 42% da população de Pernambuco
eram de negros e mulatos livres [ ]. Esses segmentos da população local habitavam as cidades
e vilas mais importantes da província, além das áreas rurais ainda disponíveis na Zona da
Mata e do Agreste. Suas sociabilidades eram vividas no mundo do trabalho e das tavernas,
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além desses setores disporem de instituições como as irmandades e os terços de “pretos” e


“pardos”.
Uma das vias mais destacadas de ascensão social para os homens livres de cor eram os
terços auxiliares que funcionavam na capitania de Pernambuco. Os primeiro membros eram
remanescentes das guerras de invasão (1630-1640) e restauração (1645-1654) da capitania
contra o domínio holandês.
Em meados do século XVII, já havia terços de Henriques em quase todas as freguesias
de Pernambuco e suas capitanias anexas. Em 1768, os terços de pardos apresentavam-se
compostos por 2359 praças, número maior que o da tradicional milícia negra “egressa da
restauração”.
Não se deve atribuir o crescimento dos terços apenas ao desejo de ascensão social de
negros livres, mas também ao aumento dos conflitos bélicos que nesse momento ocorriam nas
fronteiras meridionais e no norte amazônico. Ao mesmo tempo em que se percebe esse desejo
de ascensão social entre membros dessa camada social, pode-se se perceber também o desejo
da metrópole em utilizar esses novos contingentes militares como bucha de canhão nos vários
conflitos ocorridos nesse período.
É notável a mobilidade desses homens e sua capacidade de construir redes de
sociabilidade que se estendiam para fora de suas vilas, cidades e capitanias. Muitos homens
de cor que sabiam ler e escrever se deslocavam com frequência e carregavam ideias, textos e
noticias sobre o que acontecia no mundo.
Citando Luiz Geraldo Silva: “o negro livre possuidor de bens materiais e simbólicos que
ocupava funções destacadas nas mesas das irmandades ou em corpos militares exercia
verdadeiro fascínio sobre os cativos” [4]. Sendo assim, para aqueles que ainda eram escravos,
tornava-se um exemplo para ser seguido.
Os negros livres que participaram das lutas políticas tinham ideias conflitantes,
admiravam e incomodavam-se tanto com a visão barroca de mundo, como com as ideias
liberais. Por um lado incorporavam aspectos que se reportavam a crítica ilustrada e radical da
monarquia, mas ao mesmo tempo mantinham vivas aspirações do Antigo Regime: a busca de
“cargos, promoções, privilégios e sinais de status e distinção social”. O que explica como
alguns revolucionários republicanos em 1817 cederam aos “encantos do projeto imperial do
Rio de Janeiro”.
Logo, servindo ao rei ou lutando contra ele, os negros livres da era da Independência
viviam a tensão interna entre as ideias mais democráticas da ilustração e o acesso a bens
materiais e simbólicos típicos do Antigo Regime. Assim eles podiam se unir tanto aos
movimentos que buscavam a autonomia, como ao projeto político do Rio de Janeiro.

Objetivos
A pesquisa indaga sobre o valor conferido aos termos “pátria” e “nação” dentro da
linguagem política e social utilizada à época das independências, para mostrar como eles vão
se transformando e se adaptando, sendo influenciados e influenciando, simultaneamente, as
transformações políticas em curso. Na documentação existente, conceitos como “pátria”,
“nação” e “povo” apresentam diferentes significados, conforme as províncias tratadas. Mais
ainda, nem sempre os seus sentidos coincidem com aqueles contemplados no projeto político
proposto a partir da corte do Rio de Janeiro.
Assim a análise parte de questões sobre a utilização desses conceitos, se foram objeto de
disputa e sobre que pontos se deram as principais controvérsias. Quem utilizava esses
conceitos? Quais os seus propósitos e a que tipo de público se destinou os seus usos? Houve
uma ressemantização ou ressignificação desses termos? Tais mudanças passaram a fazer parte
de algum vocabulário ou linguagem específicos?
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Entende-se, portanto, que será com a análise dessas categorias amplamente utilizadas no
período – “pátria” e “nação” – com as quais os contemporâneos deram sentido ao campo
político, que poderemos entender como foi crescentemente reativada e politizada a linguagem
do patriotismo na América portuguesa.

Metodologia
A pesquisa tomou como ponto de partida o exame de documentos que mostravam as
principais notícias e informes produzidos pelas autoridades locais das províncias brasileiras
do Pará, Bahia e Pernambuco, onde ocorreram as maiores reações ao então conturbado e
instável momento político vivido pelo nascente Império do Brasil após a independência.
Dentre estes documentos demos destaque principalmente aos periódicos publicados nessa
época.
Além disso, durante os encontros do grupo de pesquisa, discutimos as análises dos
textos teóricos e historiográficos lidos em conjunto e as apresentações de cada aluno
componente da pesquisa sobre os respectivos temas individuais. As diversas formas de
autonomia buscadas na reação das antigas províncias da América Portuguesa ao processo de
independência e a utilização que ambos os lados fizeram dos conceitos de Pátria e Nação
foram a preocupação em todos os estudos de caso.
Coube-me estudar no âmbito dos periódicos da região de Pernambuco primeiramente o
intitulado Segarrega. Segundo jornal aparecido na cidade de Recife impresso na oficina Trem
de Pernambuco e posteriormente na Tipografia Nacional, o Segarreaga, teve seu primeiro
número datado em 8 de dezembro de 1821. Possuí o formato de 27 x 18, com quatro páginas
com duas colunas de 12 cíceros e valor de 80 réis.
O seu redator foi Filipe Mena Calado da Fonseca, um português radicado no Recife
desde criança e que foi um dos participantes do movimento de 1817, além de ex-secretário da
junta revolucionária de Goiana, traz no artigo de abertura, uma ideia de qual seria a sua linha
editorial: “Não pretendo dar uma determinada direção à opinião pública; limitar-me-ei a
narrar fatos despidos de todo o atavio de figuras. Minhas reflexões serão imparciais e não
serei aferrado aos meus princípios ao ponto de desprezar as advertências dos meus
correspondentes. Prometo ser fiel à palavra. Referir acontecimentos, eis a principal tarefa da
Segarrega, que também acolhe a correspondência noticiosa e oficiosa [...]”.
Divulgava atos oficiais; correspondências entre o governo pernambucano e o regencial;
notícias das províncias vizinhas e do exterior; avisos de interesse público, como saída de
embarcações do porto do Recife, venda de imóveis, gêneros alimentícios, compra e venda de
escravos.
Nos números um e dois tanto o redator quanto as cartas publicadas no periódico deixam
claro o fato destes que escreviam e seus leitores se considerarem Pernambucanos e não
Portugueses, chamando os que moravam na província de “Portuguezes de Pernambuco (sic)”
já no âmbito nacional se chamavam de “Brasillianos (sic)”. No Segarrega de número três
datado em 29 de janeiro de 1821, o redator escreveu em seu editorial que a junta de governo
fora eleita na província com sucesso, apesar de vozes contrárias de um “cardume de baxas
[sic], mandarins mandões e servis” que, movidos por interesses próprios, procuravam minar a
Constituição. O jornalista se perguntava se importava que até mesmo o governador do
bispado fosse contra aquelas reformas. De qualquer maneira as reformas haviam começado e
pedia ao público que observasse o efeito das mudanças e advertia que mesmo com novos
governantes as irregularidades não seriam ao todo erradicadas, mas diminuiriam, provando a
diferença na forma como vinham sendo organizados os negócios públicos.
O cidadão logo percebeu os efeitos das mudanças passando a expor seus pensamentos
por meio de cartas enviadas ao periódico que denunciavam as autoridades, os maus
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funcionários e os problemas da administração pública. Em uma carta publicada no Segarrega


número sete de 9 de março de 1822 um correspondente escreveu que o cidadão não temia em
escrever “verdades”. Para ele a Constituição assegurava às pessoas o direito da fala, por isso
todos queriam “obedecer à lei” e desejavam “ser bem governados”.
No entanto, outros cidadãos não eram tão otimistas, por achar que muitos haviam se
beneficiado no tempo do Antigo Regime, poderia tentar fazer parte das mudanças para se
beneficiar como antigamente. Um deles escreve no Segarrega número nove do dia 24 de abril
de 1822, não haver na província “cantinho por onde o corcundismo e o interesse tenham
deixado de fazer suas presas”. Segundo ele, durante as eleições para deputado suplente às
cortes de Lisboa realizadas em dezembro de 1821, Manoel Félix Veras foi eleito para
representar a província. O eleito era “apaixonado do sistema velho”. Assim a província não
deveria esperar nada dele, pois como era contra o “sistema constitucional”, provavelmente
quase não lutaria a favor dos interesses dos pernambucanos.
Na edição de número treze do dia 03 de Julho de 1822 podemos perceber que o
periódico vê apresenta a figura de Dom Pedro como protetor dos interesses do Brasil como é
possível ver na seguinte passagem:  “Os accontecimentos de 1 e 2 do corrente, he (sic) patente
que nasceram da illusam (sic) de huns ignorância de muitos, e talvez interesses? particulares
d'alguns. Todos persuadidos de que S. A. R. applaude (sic) os desvarios, que se dirigem a
lizongeallo (sic), seja como for, e que se interessa mais em ser Regente do Brazil (sic),
embora Seo Pai, a Nassam (sic), e o Mundo o estranhem, do que Chefe de huma (sic) Nassam
(sic) inteira, que habita as quatro partes da terra. Os actos públicos, de S. A. R. sam (sic)
conhecidos pela sua natureza, e a resposta dada a representassam (sic) da Câmara do Rio de
Janeiro, voltando de Minas, he huma (sic) prova a mais completa, de que a firmeza de
caracter, a sua Dignidade, e a responsabilidade, que antolha para com a Nassam (sic) nos
afiansam (sic) (apiada apesar dos áulicos ) a segurança (sic) de nossos direitos, e a paz em
nossos domicílios. Elle (sic) he o Regente deste Reino he o Protector (sic) dos nossos
sentimentos o Filho da Nassam (sic), e o Pai dos Brazileiros (sic), títulos sagrados e guias
seguros para a nossa salvassam (sic) política.”. Esse apoio à figura do príncipe regente
continua nos números seguintes até o último número de sua publicação que se deu no dia 27
de outubro de 1823, meses antes do fechamento da assembleia constituinte por Dom Pedro,
que trará uma onda de desconfiança por alguns dos pernambucanos patriotas que até este
momento apoiavam o Imperador.
Após estudar o Segarrega coube-me analisar o periódico Typhis Pernambucano que foi
redigido entre Dezembro de 1823 e Agosto de 1824, com 28 edições publicadas.   Possuí o
formato de 30 x 21, com quatro páginas e foi   Impresso na tipografia Miranda & C,
excetuando-se os dois últimos que foram impressos na Tipografia Nacional.
Seu redator foi Joaquim da Silva Rabelo, depois Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo,
mas popularmente conhecido apenas como Frei Caneca, . Foi um religioso e com forte
participação política nos acontecimentos do período. político brasileiro. Na abertura do
primeiro número fica clara a posição que o periódico ia adotar: “Quando a nau da Pátria se
acha combatida por ventos embravecidos; quando, pelo furor das ondas, ela ora se sobe às
nuvens, ora se submerge nos abismos; quando, levada do furor dos euripos, feita o ludibrio
dos mares, ela ameaça naufrágio e morte, todo cidadão é marinheiro; um deve sustentar o
timão, outro pôr a cara ao astrolábio, ferrar o pano, outro, outro alijar ao mar os fardos, que a
sobrecarregam e afundam, cada um prestar a diligência ao seu alcance e sacrificar-se pelos
seus concidadãos em perigo.
Firme neste princípio, eu levanto a voz do fundo da minha pequenez e te falo ó
Pernambuco, pátria da liberdade, asilo da honra e alcançar da virtude! (...) tu me deste o
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berço, tu ateaste, no meu coração, a chama celeste da liberdade, contigo ou descerei os


abismos da perdição e desonra, ou a par da tua glória voarei à eternidade.
Acorda, pois, ó Pernambuco!
Rompamos por entre os maiores perigos, demandemos o norte da Independência ou
Morte; temos um seguro santelmo no imortal Pedro I. Com os olhos fitos nele, sustentemo-
nos na borrasca, que nos luzirá a bonança risonha; trabalhemos com sofrimento e coragem ”.
Fica clara também a posição do redator em relação ao Imperador e ao projeto politico adotado
naquele momento e também a diferença entre pátria: “ó Pernambuco, pátria da liberdade” e
nação.
O periódico dDivulgava atos oficiais,; correspondências entre o governo pernambucano
e o imperial,; notícias das províncias vizinhas e do exterior;
Nos primeiros seis números o periódico aborda principalmente o fechamento da
“suprema assembleia constituinte legislativa do Império do Brasil.” e suas consequências para
o império e para liberdade das províncias após esse ato. Para Frei Caneca sem constituição o
Brasil ficaria nas mãos da facção portuguesa que para ele está por trás dos atos do jovem
Imperador.
A partir do número onze do dia 11 de Março de 1824, a confiança que o redator tinha no
Imperador começa a ficar abalada quando este manda Francisco Pais Barreto que já fora
membro da junta do governo da Província de Pernambuco, conhecida como "Governo dos
Matutos", que durou de setembro de 1822 a dezembro de 1823 para ser Presidente da
província de Pernambuco. Já os Pernambucanos queriam que o Presidente fosse Manuel de
Carvalho Pais de Andrade que participou da Revolução Pernambucana de 1817 e se refugiou,
depois de seu malogro, nos Estados Unidos da América. Em 13 de dezembro de 1823, após a
renúncia de Francisco Pais Barreto foi eleito Presidente da província provisoriamente. Em 8
de janeiro de 1824, foi confirmado como presidente pelos eleitores pernambucanos, o que
contrariava as ordens do governo imperial, que, como foi dito anteriormente, havia indicado
Francisco Pais Barreto para a presidência. Essa situação foi o que desencadeou a crise que
culminou na Confederação do Equador.
No número vinte um de 10 de Junho de 1824, Frei Caneca deixa claro em seus escritos
que o Brasil apesar de independente não era constitucional, sendo assim as províncias eram
independentes do governo central e independentes entre si, como fica demonstrados no trecho
a seguir:
“Até agora bem poucas pessoas, mormente de Pernambuco, conheciam os
artifícios do ministério, para se adotar, pedir e jurar o projeto como Constituição do
Império; de presente tudo é pelo avesso.
Sabe-se quais e quantas são as câmaras do sul que caíram no laço e quais as que
sustentam os direitos de seus povos e dignidade da pátria.(...)
Nós estamos sim independentes, mas não constituídos. Ainda não formamos a
sociedade imperial, se não no nome; por isso ainda que a maior parte das províncias de
fato tivesse pedido jurar e jurasse o projeto, daqui não se seguia que as outras, uma que
fosse, e essa a mais pequena, se devia sujeitar ao voto da maioria; porque ainda não
estava no círculo da sociedade imperial.
O Brasil, só pelo fato da sua separação de Portugal e proclamação da sua
independência, ficou, de fato, independente, não só no todo, como em cada uma de suas
partes ou províncias e estas independentes umas das outras.
Ficou o Brasil soberano, não só no todo, como em cada uma de suas partes ou
províncias:
Uma província não tinha o direito de obrigar a outra província a coisa alguma, por
menor que fosse; nem província alguma, por mais pequena e mais fraca, carregava com
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o dever de obedecer a outra qualquer, por maior e mais potentada. Portanto, podia cada
uma seguir a estrada, que bem lhe parecesse: escolher a forma de governo que julgasse
mais apropriada às suas circunstâncias e constituir-se da maneira mais conducente à sua
felicidade.
Quando aqueles sujeitos do sítio do Ypiranga, no seu exaltado entusiasmo,
aclamara S.M.I. e foram imitados pelos aferventados fluminenses, Bahia podia
constituir-se república; Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande, Ceará e Piauí
federação; Sergipe o Del-Rei reino; Maranhão e Pará monarquia constitucional; Rio
Grande do Sul estado despótico.
No meio dessas possibilidades, o Rio, pelo poder soberano que tinha no seu
território, aclamou S.M. Imperador Constitucional e, então, S.M. não ficou mais do que
Imperador do Rio de Janeiro. As outras províncias, ou seduzidas pelos emissários do
Rio, ou por seu mesmo conhecimento, esperando que nesta forma de governo podiam
achar a felicidade a que aspiravam, foram-se chegando muito de sua vontade aos
negócios do Rio, aclamando S.M Imperador Constitucional com o que nada mais
fizeram do que declarar que se uniam todos para formar um império constitucional, e
que S.M. seria o seu imperador.”

No último número do periódico que data do dia 05 de agosto de 1824, um pouco mais
de um mês da proclamação da Confederação do Equador, o redator mostra como o
movimento a favor da liberdade do governo central vem crescendo nas províncias do norte
como ficam claras nas palavras de Frei Caneca: “Por este princípio jamais nos poderemos
retratar do conceito, que havemos feito do liberalismo nas províncias do norte do Brasil.
Temo-las julgado, e ainda julgamos, incapazes de albardar os enganos e seduções do
ministério fluminense, para estabelecer o despotismo no país da liberdade. (...)”

Conclusões  
No tratamento que pretendemos conferir à discussão do vocabulário político do
patriotismo, com destaque para os conceitos de “pátria” e “nação”, no período assinalado,
buscaremos atentar para os distintos contextos linguísticos aos quais os registros das fontes
analisadas pertenciam ou se encontravam inseridos, bem como reconhecer ou identificar os
agentes sociais que os produziram esses discursos políticos.
Os momentos de tensão social e instabilidade política vividos por Pernambuco, tanto em
1817 como em 1824, possibilitou uma experiência transformadora cuja amplitude se fez sentir
em todas as camadas sociais.   O Segarrega foi um dos porta-vozes dessa transformação a
incentivar os cidadãos e a denunciar, em suas folhas, os resquícios do Antigo Regime. O
cidadão não deveria mais temer os desmandos administrativos. A presença das demais
categorias sociais (cativos e homens de cor livres) não deve ser subestimada, e tampouco
esvaziada de qualquer reinvindicação própria. O Typhis Pernambucano demonstra que
mesmo após a independência o movimento constitucional novamente não foi vitorioso, pois o
fechamento da Assembleia Constituinte por Dom Pedro I, e o fracasso da Confederação do
Equador foram a vitória do Projeto do Rio de Janeiro de da Constituição Imperial outorgada
no ano de 1824.

Referências

1 - BERNARDES, Denis Antonio de Mendonça. Pernambuco e sua Área de Influencia:


Um território em transformação (1780-1824). In:   JANCSÓ, István (org.). Independência:
Independência História e Historiografia. Editora HUCITEC. São Paulo, 2005, p.379- 410
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2 - JANCSÓ, István. Independência, independências. In:   JANCSÓ, Istvan (Org.).


Independência: Independência História e Historiografia. Editora HUCITEC. São Paulo, 2005,
p.17- 48.

3 - MAGNOLI, Demétrio. O Estado em busca do seu território. In: JANCSÓ, Istvan (Org.).
Brasil: Formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec, 2003, p.285- 296.

4 - SILVA, Luiz Geraldo. Aspirações barrocas e radicalismo ilustrado. Raça e nação em


Pernambuco no tempo da Independência (1817-1823). In: JANCSÓ, Istvan (Org.). Brasil:
Formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec, 2003, p.497- 529.

5 - __________________. Negros patriotas. Raça e identidade social na formação do


Estado Nação (Pernambuco, 1770-1830). In: JANCSÓ, Istvan (Org.). Independência:
Independência História e Historiografia. Editora HUCITEC. São Paulo, 2005, p.915- 934.

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