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ANUÁRIO DO CEARÁ

\« v 1953-1954
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PREFÁCIO
Vencendo mil obstáculos, incompreensões tremendas, dificuldades de
toda ordem, estamos lançando esta nova edição do Anuário do Ceará, para
1953/54, com matéria de permanente interesse sobre o nosso Estado e os
seus municípios*
Planejada a obra, verificámos que seria mais aconselhável o seu desdo-
bramento em dois volumes, abrangendo assuntos diferentes, embora que so-
mente sobre o Ceará e as suas unidades administrativas, isto é, as comunida-
des do interior.
Assim, temos o primeiro volume que abrange a formação histórica da
terra cearense e os principais fatos ligados à vida das nossas cidades e dos
nossos municípios. Parte desta matéria foi publicada, em forma de reporta-
gens ilustradas no jornal «OPovo», desta capital e transformada em progra-
mas radiofónicos, com a denominação de «Vida Histórica dos Municípios»,
transmitidos, vitoriosamente, pelas estações da Rádio Iracema.
O segundo volume compreende informações gerais sobre geografia, eco-
nomia, finanças, produção, comércio, indústria, vida intelectual, administrati-
va, religiosa e social do Ceará, com apontamentos atualizados, colhidos em
fontes oficiais e particularmente anotados, na sua totalidade relativos aos anos
de 1952 e 1953, o que constitui, sem dúvida, um eloquente atestado do traba-
lho que esta obra reclamou afim de alcançar o seu principal objetivo, que é o
de retratar o Ceará em todos os seus diversos aspectos.
À magnífica vitória conseguida com a primeira edição, relativa a 1952,
com material colhido de 1951, deve-se, em grande parte, o lançamento desta
nova tentativa de divulgação da realidade cearense. A edição passada, de três
mil exemplares, a maior já impressa no Ceará, está, hoje, totalmente esgotada,
e já principiando a constituir raridade.
Da crítica, da correspondência e das opiniões emitidas sobre o Anuário
do Ceará, constatou-se ser, esta publicação, da mais alta valia para os inte-
resses do nosso Estado, por isso que o toma conhecido e divulgado em todo
o Brasil.
Diz-nos a consciência que estamos, assim, prestando um serviço útil e
valioso à nossa terra. Não poderíamos receber maior recompensa e nem mais
alta honraria.
No primeiro número do Anuário, acentuámos que era uma tentativa.
Hoje, podemos afirmar ser êle uma realidade onde vamos encontrar, palpi-
tante e fremente, o coração vivo do Ceará.

WALDERY UCHÔA
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CEARÁ HOLANDÊS — Forte de Schoonenborch

Histórica Fortaleza de N. S. da Assunção

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HISTÓRIA DO CEARÁ

I- NARRAÇÃO

II -CRONOLOGIA
1-NARRAÇÃO

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS de sessenta anos entregue à pirataria, em


completo abandono, visto como aquele fidalgo
O BRASIL, só após alguns anos do seu não assumira o cargo, embora tivesse vindo ao
descobrimento, mereceu as atenções do go- Brasil e servido no governo Thomé de Sousa.
verno de Portugal, no sentido de sua defini-
tiva colonização e efetiva conquista do seu PÊRO COELHO DE SOUZA
grande território. As imensas e exuberantes
riquêsas naturais do novo país despertaram EM 1603, Pêro Coelho de Sousa, obtendo
a cobiça da pirataria dos sete mares. da corte a patente de Capitão-mór, parte da
Sumamente preocupada, a Corte resolve Paraíba rumo à foz do rio Jaguaribe, em cuja
por em execução um vasto plano de aprovei- barra erigiu o presídio denominado São Lou-
tamento da novel colónia, dividindo-a em ca- renço.
pitanias hereditárias, doadas a fidalgos bene- A 18 de Janeiro de 1604, chega à foz do
méritos que se encarregariam da sua admi- rio Camocim, rumando em seguida para a
nistração e defesa. Ibiapaba, onde trava combate com os solda-
Amplos e gerais poderes foram outorga- dos de Bambile, vencendo todas as pelejas.
dos aos donatários, inclusive o de levantar Feitas as pazes com os guerreiros, Pêro
fortificações permanentes, capazes de assegu- Coelho parte para o Maranhão, não conse-
rar o povoamento das novas terras em con- guindo atingir as plagas demandadas por te-
dições favoráveis. rem os seus homens se recusado a acompa-
Executado o famoso plano de D. João nhá-lo.
HL verificou-se, então, que apenas as capi-
,
Voltando da Paraíba, estabeleceu-se às
tanias de São Vicente e de Pernambuco ha- margens do rio Ceará, no lugar denominado
viam prosperado nos idos do primeiro quar- Vila Velha, erguendo então, aí, a primeira
tel do século dezesseis. fortificação das costas cearenses, a que deu
Disto resultou continuar uma vasta área o nome de Forte de São Tiago.
territorial sob aação vandálica da pirataria Regressando à Paraíba, à busca de auxí-
da costa, em constantes lutas çom os naturais lios e para trazer esposa e filhos, recebe por
do novo mundo. parte de Diogo Botelho todo apoio às suas
Vem
daí a segunda tentativa de coloni- pretençÕes. De torná-las efetivas foi encarre-
zaçãocom os governadores gerais, a partir de gado João Soromenho que, por motivos excu-
Thomé de Souza. Logo mais, o Brasil é divi- sos, não fez chegar às mãos do destinatário o
dido em duas administrações, isto é, uma no valioso e indispensável auxílio.
Rio de Janeiro e outra na Bahia. Entrementes, Simão Nunes Correia, que
Em
1577, a coroa portuguesa subordina, ficara no comando do fortim, já estava desa-
novamente, o Rio à Bahia, fato este de excep- lentado depois de uma longa espera de dezoi-
cional importância para a colonização do nor- to meses sem que o Chefe da Expedição desse
te, por isso que dele resultou, definitivamente, o menor sinal. Pêro Coelho, ao chegar, en-
a conquista da Paraíba, Rio Grande do Norte, contrando a tropa em seríssima dificuldade,
Piauí, Ceará, Pará e Maranhão. fez vêr que em breve chegaria o auxílio pro-
A capitania do Ceará, que fora doada a metido.
António Cardoso de Barros, ficara por mais Em vão foi a anciosa espera por parte de
todos . . . Desiludido Pêro Coelho põe-se em MARTLVI SOARES MORENO
marcha forçada para o Rio Grande do Norte.
O que foi a sua trágica viagem no-lo re- COM estas duas expedições lucrara nossa
velam as crónicas e a tradição. Faltou agua, terra algumas pequenas aldeias, já em vias de
não havia mais alimento, e o cansaço a todos dissolução, estando a costa entregue comple-
dominava. A distância parecia aumentar cada tamente a pirataria.
vez mais ... A dôr de vêr os filhos e a esposa Fazia-se, destarte, urgente e necessária a
exposta ao rigor tremendo da canícula impie- colonização do Ceará. Com a experiência pas-
dosa, já maltrapilha e faminta, na iminência sada, era mister a escolha de um homem ca-
de serem devorados todos pela indiada que lhe paz, moço e arrojado.
farejava os passos, constituíram todos esses Para a nova tentativa foi escolhido Mar-
tormentos o grande drama e a famosa odisseia tim Soares Moreno, bravo lutador, paladino de
do nosso infeliz desbravador. nobres virtudes, português de nascimento e
Ao ser atingido o Forte dos Três Reis Ma- que vindo têr ao Brasil como soldado de Dio-
go Botelho, cedo a sua coragem e bravura de-
gos, no Rio G. do Norte, falece o bravo Pêro
Coelho de Sousa que, juntamente com Dona ram-lhe fama de homem valente.

Tomázia, sua esposa, notável mulher e heroi- Em 1611, quando então era tenente do
Forte dos Três Reis Magos, de Natal, rumou
na, escrevera a primeira página de dôr e de
sacrifício em uossa terra. de ordem de D. Diogo de Mendonça Furtado,
para a margem do rio Jaguaribe, afim de co-
merciar e fazer amizade com os indígenas da
OS JESUÍTAS região.
A tarefa não lhe foi difícil de ser levada a
MALOGRADA a iniciativa Pêro Coelho bom termo. Com trato e inteligência conse-
de Sousa, segue-se-Ihe a dos jesuítas Francis- guiu a amizade lealdosa de vários chefes indí-
co Pinto e Luís Figueira, que a 20 de janeiro genas, entre os quais do famoso Jacaúna, que
de 1607, partiram de Pernambuco e vieram mais tarde desempenharia relevante papel na
têr a Mossoró, donde rumaram para a serra- fundação do Forte de São Sebastião.
nia da Ibiapaba. Satisfeito com os resultados obtidos, re-

Em sua jornada, aproveitaram os jesuítas gressa à Bahia acompanhado de um filho de


Jacaúna. A este, o Governador Geral conce-
o eaminho dantes percorrido pela primeira
expedição colonizadora, o que, sem dúvida de alguns favores.
alguma, muito facilitou o novo cometimento. Diante da vitoriosa façanha, D. Diogo,
nomeia Martim Soares Moreno Capitão-mór da
Ao alcançarem à meta desejada conse-
Capitania do Ceará Grande e confia-lhe, por
guiram, de pronto, o apoio irrestrito dos indí-
conseguinte, a dura missão de colonizar o ter-
genas locais, bem como a sua valiosa e indis-
ritório cearense.
pensável colaboração.
Ultimados os preparativos, parte o novo
Infelizmente, porém, este estado de coisas pioneiro, da cidade de Salvador, em demanda
não perdurou por muito tempo. do Ceará.
Por razões ainda hoje desconhecidas, os Aos 20 de janeiro de 1612, aporta à pe-
índios revoltaram-se contra a pequena aldeia quena barra do rio Ceará, Apenas trouxera
e mataram o Padre Francisco Pinto. Luís Fi- consigo um clérigo e seis homens. Mãos a
gueira, que escapou ao morticínio por não es- obra, levanta um pequeno fortim, a que deu
tar presente ao teatro da luta, tendo perdido o nome de São Sebastião em homenagem ao
o seu chefe e amigo, resolveu rumar à barra santo do dia do desembarque. Erige capela
do rio Ceará, donde embarcou, em companhia sob a invocação de Nossa Senhora do Am-
do Padre Gaspar de São Peres, com destino paro.
ao Rio Grande do Norte. À guisa de esclarecimento e comprovação
Em 1643, partindo de Lisboa para reali- histórica,podemos observar que no mapa de
zar a colonização do Maranhão, o Padre Fi- Matias Beck, de 28 de abril de 1649, figura
gueira pereceu num naufrágio, sendo então o Forte de São Sebastião, aliás, no mesmo lo-
devorado pelos indígenas Arauans, na ilha de cal onde outrora fora levantado o Fortim de
Marajó. São Tiago da Nova Lisboa, erigido por ordem
Findou, assim, de maneira trágica e cruel, de Pêro Coelho de Sousa.
a segunda tentativa de colonização do Ceará. Com apenas duas peças de artilharia,
Poema de dor e de sofrimento, escola de guardado por 17 homens, contando com al-
adversidade tremenda, eis, em cores vivas, os guns mosquetes e pequena cópia de munições,
albores da história da nossa colonização. enviadas pelo Governador Geral, o Forte de
São Sebastião prestou relevantes serviços à OS HOLANDESES
defesa do litoral, visto como, em 1614, repelia
ama força comandada pelo famoso Du Frat. DIA VAI,, dia vem, aos 25 de outubro de
Em 1624 e 1625, foram repelidas naus fla- 1637, ocorre um fato de excepcional impor-
mengas. tância na vida do Ceará colonial: dois barcos

Em 1613, Soares Moreno aceita um convi-


holandeses chegavam a Mucuripe, deles des-
te que lhe fora feito por Matias de Albuquer-
embarcando 125 soldados e vários índios, to-
dos comandados por Jorge Garstsman e pelo
que e com este juntando-se nas imediações de
Camocim, parte para o Maranhão afim de, Capitão Hendrick Huss.
em perigosa missão, inspecionar as instalações Vinham de ordem de Maurício da Nas-
militares dos franceses. sau e arvoraram a bandeira das índias Oci-
dentais no velho fortim de São Sebastião, en-
Não alcançando pleno êxito na missão,
tão sob o comando de Bartolomeu de Brito.
bate-se valorosamente em duros combates,
sendo, todavia preso e remetido para a Fran-
O bravo comandante, com apenas 33 homens,
ofereceu uma resistência impressionante, ren-
ça, por corsário temível. Aí chegando, é en-
dendo-se depois de muitas horas de tremenda
viado para Madrid.
luta e por faltar munição.
Por atenção a tantos e tão relevantes ser-
Dias depois, Garstsman parte para o Rio
viços é novamente nomeado Capitão-mór do
Grande do Norte, e Huss retorna à Pernam-
Ceará, e o seu regresso deu-se em setembro
buco, ficando o comando da praça entregue
de 1621.
ao Tenente Hendrick Van Ham que, posterior-
Na sua ausência, a capitania fora gover- mente foi substituído por Gedeon Morris de
nada por Estêvam de Campos (1613), Manuel Jonge.
de Brito Freire (1614) e Domingos Lopes Em 1644, dá-se a revolta geral dos indí-
Lobo (1617) em cujas administrações se regis- genas contra os invasores holandeses. Foi um
traram algumas lutas contra corsários france- deus-nos acuda. Massacre geral contra a tro-
ses e flamengos. pa, inclusive o próprio Gedeon Morris de Jon-
Bem recebido no seu regresso, Soares Mo- ge que morreu como bravo no campo da luta.
reno encontrou o Forte em plena decadência. Em 1649, tem lugar a segunda invasão
Espírito indomável, meteu mãos à obra e re- batava. Matias Beck, aos 3 de abril faz des-
construiu tudo em derredor, estabelecendo embarcar, no Mucuripe, aguerrida tripulação,
nova confiança. e soldadesca, num total de 298 homens.
Trouxera consigo cavalos, vacas, cana de Buscava Beck supostas minas existentes
açúcar e sementes diversas, como também al-
no monte Itarema, situado nas proximidades
gumas famílias, parentes e casais para povoar
da serra de Maranguane.
o solo e defintiva colonização.
As margens do riacho Pageú, no morro
E, foi assim, que surgiu, no Ceará, o pri-
Murujaitiba foi erguido o Forle batavo, com
meiro aldeiamento mais ou menos organizado.
planta feita pelo engenheiro Ricardo Caar, e
Era obra da tenacidade de um homem forte.
que se denominou de Schoonenborch, nome
Daí por diante, ficara definitivamente as-
que homenageava o então Governador holan-
sentada a conquista e a colonização do vasto
dês de Pernambuco.
território.
Carel Helmach e Hans Simplesel parti-
Deste admirável pioneiro, disse Capistra- ram em busca das minas, nada, porém, encon-
no de Abreu: «Martim Soares Moreno simbo- trando.
liza e sintetiza toda a história do Ceará».
Da passagem dos holandeses pelo Ceará
Agraciado com o título de Mestre de Cam-
nada ficou de marcante, exceto a construção
po, Soares Moreno parte para lutar contra os precária do Forte de Schoonenborch, do qual
flamengos, que haviam se estabelecido em existe uma planta no Real Museu de Munich,
Pernambuco. Cobriu-se de glória nas bata-
e que foi citado no Diário de Matias Beck.
lhas contra os holandeses, em 1648 regres- Ressalte-se, todavia, que o local escolhido
sa à Europa, depois de haver escrito, com pelos holandeses é onde, efetivamente, hoje se
«sangue, suor e lágrimas», a mais bela e a ergue, majestosa, a cidade de Fortaleza.
mais emocionante história de aventuras vivi-
da por um homem nos albores da colonização SUBORDINAÇÃO A PERNAMBUCO
do norte.
Justo é o preito de admiração que os cea- COM a capitulação de Taborda, onde fo-
renses lhe consagram, pois foi o nosso coloni- ram batidos os holandeses, os flamengos se re-
zador, perdurando a sua obra magnífica até tiraram do Ceará, fato ocorrido em 1654.
aos nossos dias. No mesmo ano, foi nomeado Capitão-mór
gócios da justiça, no Ceará, eram resolvidos
do Ceará, Álvaro de Azevedo Barreto, herói
compa- ora na Paraíba, ora no Pernambuco.
de Guararápes. Trouxe consigo seis
nhias de soldados e mais o capelão Pedro Mo-
rais.
LUTAS TREMENDAS E VILAS QUE
Aqui chegando, mandou erguer capela SE ERIGEM
e mudou o Forte de Schoonenborch,
nome do
para Fortim de Nossa Senhora da Assunção. O século dezoito foi de intensa atividade
Em 1684, Sebastião de Sá, novo capitão- para a formação histórica do Ceará, por isso
mór, reconstrói o Forte, bem como a pequena que surgiram as principais Vilas e efetivou-
se, por assim dizer, a estabilidade e amplitude
capela que se encontrava em condições deplo-
ráveis.
do povoamento.
Principia, então, a partir desta quadra o Foi uma quadra de lutas tremendas pelo
povoamento dos sertões da imensa capitania, interior afora, surgindo inúmeras questões de
terras. Delas a mais célebre foi a dos Montes
visto como vão se erguendo, às margens dos
rios, as casas de fazendas. Principia a criação
e Feitosas, registrada na região do baixo Ja-
guaribe, e que teve funestas consequências.
do gado e o branco penetra o hinterland. Sur-
gem negócios com Pernambuco e a agricul- Surgiram várias Vilas, entre as quais a
tura principia a ser a ocupação favorita dos do Icó, em 1736; a do Aracatí, nos idos de
novos donos da terra, virgem até então. 1747, e que se tornou famosa pelo comércio
A capitania, que era subalterna ao Ma- intenso das charqueadas do que lhe adveio
ranhão, desmembra-se e passa a ser adminis- vida agitada e tumultuosa qUe lhe deu pres-
tígio. Depois tivemos a do Crato, criada em
trada por Pernambuco.
1758, seguida pela de Viçosa do Ceará, no alto
ACENTUA-SE O POVOAMENTO DO da serrania da Ibiapaba, isto em 1759.
INTERIOR Logo mais vieram: Baturité, em 1763; So-
bral, em 1772 e que, de logo, se transformou

THOMAZ Cabral de Olival (1687), Fer- em progressista zona de comércio do norte da


não Carrilho (1693) Pedro Lelou (1695), João então capitania.
de Freitas da Cunha (1696) e muitos outros Os governos que mais se sobressaíram
capitães-mores, doavam terras e mais terras foram os dos seguintes Capitães-móres :

para o povoamento do solo. Domingos Simão Jordão (1735); João de Tei-
Por Carta Régia, datada de 13 de janeiro ve Barreto de Menezes (1743; Luís Quaresma
de 1699 é ordenada a criação de uma Vila no
Dourado (1751); Francisco Xavier de Miran-
da Henrique (1755); João Batista de Azeve-
Ceará. Aos 25 de janeiro de 1700 dão-se as
primeiras eleições e são escolhidos os verea-
do Coutinho de Montaury (1782) e Luís Mota
dores e juizes ordinários. da Féo e Torres (1789).
Em
1701, a Vila de São José do Ribamar
é transferida para a barra do rio Ceará. Em CEARA INDEPENDENTE, COM
1708, volta para às margens do Pageú.
GOVERNO PRÓPRIO
Em
1711, é transferida para o Aquiraz,
fato concretizado somente em 1713, aos 27 de
COM a Carta Régia de 17 de janeiro de
julho. .1799, no século dezoito, uma nova
inicia-se,
vida para o Ceará. É que passamos a têr go-
Por Ordem Régia, de 11 de março de
vernadores, terminando, assim, a administra-
1725, é ordenada a criação de uma outra Vila,
ção feita pelos Capitães-móres, subalternos à
que deveria ser a de Fortaleza.
Aos 13 de abril de 1726, realizam-se as Pernambuco, e cujas atividades se resumia
eleições para a escolha da vereança e juizes
mais na manutenção da ordem e comando das
tropas.
ordinários. Manoel Francês, Capitão-mór, ins-
Foi Bernardo Manuel de Vasconcelos o
tala a nova Vila.
nosso primeiro governador, nomeado por
Entrementes, se acentua o povoamento
Dona Maria l. a Rainha de Portugal. Os fatos
na zona sul do Estado, notadamente na re- ,

principais de sua administração foram o iní-


gião denominada Carirí. Abrem-se caminhos
cio do comércio diréto com Lisboa e a orga-
para cortar os sertões, e, aos poucos, vai se
nização de um Corpo de Tropa.
desenvolvendo a vida na capitania, com a ins-
Seguiram-se-lhe João Carlos Augusto de
talação de povoados e lugarejos
que vão sur- Oeynhausen, homem famoso, ardiloso, inteli-
gindo nas regiões mais promissoras.
gente e que realizou a prisão do célebre Ma-
Data desta época, 7 de janeiro de
1723, a nuel Martins Chaves, temível bandoleiro da
criação de uma Ouvidoria. Até
então os ne- antiga Vila Nova DEI Rey; Luís Barba Alar-
do, em cajá administração foi realizado o pri- de setembro de 1822, ferve a agitação patrió-
meiro recenseamento da população do Ceará tica no interior do Ceará, tendo por centro
que acusou um total de 125.878 habitantes, principal a famosa cidade do Icó. Nela se
isto em 1808. encontrava, à frente de numerosa tropa, José
Fatos excepcionais, porém, estavam pres- Pereira Filgueiras, que havia vindo do Crato.
tes por eclodir. É que, governando o Ceará Assim, aos 16 de outubro de 1822, é elei-
Manuel Inácio Sampaio, bom administrador ta nova Junta Governativa da Província, re-
que nos legou a famosa Fortaleza de Nossa caindo a escolha, entre outros, em José Perei-
Senhora da Assunção, rebenta um movimento ra Filgueiras, como Presidente; Padre José
sedicioso, de caráter republicano, inspirado em Xavier Sobreira, Joaquim Felício Pinto de
tremenda conspiração vinda das bandas de Almeida, Francisco Fernandes Vieira e Pa-
Pernambuco e que teve em José Luís de Men- dre António Manuel de Souza, como demais
donça, no Recife, um dos principais arautos. membros componentes do novo governo.
O grito de rebeldia surgiu, no longínquo Em marcha forçada sobre Fortaleza, Pe-
Carirí, através da palavra fácil e ardorosa do reira Filgueiras, acompanhado de Joaquim
jovem diácono José Martiniano de Alencar, Pinto Madeira, empossa os componentes da
que usou o próprio púlpito para transmitir as Junta escolhida no Icó.
ideias revolucionárias ao grande público. Isto No ano seguinte, aos 3 de março de 1823,
ocorreu, precisamente, aos 3 de maio de 1817. é eleita nova Junta Governativa, recaindo a
Tristão Gonçalves de Alencar juntou-se escolha no Padre Francisco Pinheiro Landim,
ao irmão, e lá se foram para a Vila de Jar- para Presidente e demais membros Tristão
dim, onde proclamaram a república indepen- Gonçalves Pereira de Alencar, Joaquim Fe-
dente. lício de Almeida e Castro, Padre Vicente José
Iniciada a contra-revolução, registraram-se Pereira e Miguel António da Rocha Lima, se-
vários combates, saindo vitoriosas as tropas cretário.
realistas, que contavam com fantástica supe- Entrementes, no Maranhão, a resistência
rioridade numérica. à implantação do novo regime, com a inde-
Data desta luta o heroísmo de Bárbara pendência política do Brasil, encontra sérios
de Alencar, mulher extraordinária, símbolo obstáculos. Incontinente, partem, à frente de
de bravura, de lealdade e de mãe sublime, numerosa tropa, Luís Filgueiras e Tristão
por isso que passou por terríveis sofrimentos, Gonçalves que, em Caxias, comandando mais
mas sempre fiel à causa abraçada pelos filhos. de 6 mil homens, derrotam João José da
Cunha Fidié, coronel chefe dos revoltosos.
JUNTAS GOVERNATIVAS Pedro I, não suportando a tremenda opo-
sição que lhe era feita na Assembleia Cons-
MANUEL INÁCIO SAMPAIO passou a tituinte, dissolve a mesma, aos 12 de outubro
administração cearense, em 1820, à Francisco de 1823. O fato provocou balbúrdia em várias
Alberto Rubim, que foi o nosso 5.° governa- províncias, principalmente no norte do País.
dor, após a separação do Ceará de Pernam- De acordo com a lei de 20 de outubro de
buco. 1823, é procedida, em Fortaleza, a eleição para
Com a famosa Revolução do Porto, de membros do Conselho do Governo, sendo es-
cunho constitucionalista, o Ceará viveu dias colhido, em primeiro plano, Tristão Gonçalves
de profunda agitação. Coagido, o Governa- de Alencar.
dor Rubim jurou a nova Constituição Portu- Aos 14 de abril de 1824, chega à Fortale-
guesa. za, Pedro José da Costa Barros, nomeado pelo
Dia vem, os ânimos se exaltaram
vai, dia Imperador, Presidente da Província do Ceará.
e explode uma
sedição militar, aos 3 de no- É nesta quadra de nossa história que vai
vembro de 1821, cujo epílogo foi a deposição rebentar o belo e heróico movimento republi-
do Governador e a constituição de uma Jun- cano, denominado Confederação do Equador,
ta Governativa, tendo à frente o cearense, cuja crónica está pontilhada de atos de bra-
Major Francisco Xavier Torres. vura e fatos memoráveis.
É nesta época que as Cortes de Lisboa
declaram independentes do Rio de Janeiro as A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
Províncias do Brasil, e somente sujeitas ao E TRISTÃO GONÇALVES
Governo de Portugal. Nova Junta Gover-
nativa é, então, eleita, dela fazendo parte, em CORRIA o ano de 1824 e com êle agitava-
primeiro plano, José Raimundo Paço de Por- -se a políticano Ceará, de maneira tremenda.
bem Barbosa. Os membros do Conselho do Governo não
Com a declaração da Independência, a 7 satisfeitos com o ato da Câmara de Fortaleza,
8

que dera posse a José da Costa Barros, tra- Neste ínterim, aporta à Fortaleza ama
mavam a revanche na antiga povoação de divisão naval comandada por Lord Cochrane,
Arronches, hoje Farangaba. Com eles esta- rendendo-se, à mesma, José Félix de Azeve-
va Pereira Filgueiras e Tristão Gonçalves. do e Sá, que havia substituído, provisoria-
Isto posto, é resolvida a deposição de mente, a Tristão Gonçalves.
Costa Barros e a reposição do antigo Gover- Nas cercanias do Aracatí a tragédia se
no. Reunidos em Aquiraz, aos 25 de abril de aproximava a cada passo, mas Tristão Gon-
1824, é feita a marcha sobre Fortaleza e se- çalves não sabia recuar.
gue-se a deposição de Costa Barros, sendo O encontro fatal deu-se nas proximida-
eleito Presidente Tristão Gonçalves.
des do povoado Santa Rosa. Tristão Gonçal-
Entrementes, aos 2 de julho de 1824, re- ves já estava com as suas tropas desfalcadas.
benta em Pernambuco uma revolução tremen- Somente algumas centenas de lealdosos co-
da que passou à história como Confederação mandados seguiam o notável chefe.
do Equador. As tropas imperialistas, comandadas por
Os dirigentes do Ceará deram, então, José Leão da Cunha Pereira, deram cabo do
apoio incondicional à insurreição do Recife e resto de exército revolucionário. Tristão Gon-
fizeram convocar uma grande reunião no Pa- çalves vê-se completamente perdido. Tenta lu-
lácio do Governo. É feito, nesta oportunidade, tar,mas em vão. A superioridade do inimi-
o juramento de fidelidade à Confederação do go era absoluta, de 100 para 1. Não havia
Equador e, logo mais, eleitos os deputados como resistir. Seria suicídio inglório, pelo que

que participariam, em nome do Ceará, da As- resolve, o bravo guerreiro, ficar a salvo. Plena
sembleia Constituinte a reunir-se em Pernam- irrisão do destino implacável! Uma bala
trai-
buco. çoeira atinge em
cheio o peito do valente sol-
dado. Cai de bruços e tenta reação contra
O Governo Imperial, diante da revolução os
inimigos impiedosos que acabam de matá-lo,
pernambucana, envia Luís Alves de Lima e o
Almirante Lord Cochrane contra o Recife. A
fria e covardemente.
luta foi renhida, mas os revoltosos dominados, E
assim se extinguira, tragicamente, nos
fugindo Manuel Carvalho Pais de Andrade, =ertões de Santa Rosa, o último baluarte da
chefe do governo revoltoso da Confederação. Confederação do Equador, no Ceará.
No Ceará, a barbúrdia foi terrível. Fil-
gueiras, então comandante das armas, parte MÁRTIRES E REVOLUCIONÁRIOS
para a Paraíba. Gera-se a confusão e repe-
tem-se os encontros sanguenolentos. As tropas AOS 17 de dezembro de 1824, José da
são divididas para várias empresas milita- Costa Barros reassume o governo da Provín-
res. José Filgueiras, homem bravo, destemi- cia. Em 1825, José Félix de Azevedo e Sá é
do, incapaz de recuar, segue para o Crato, de- novamente posto no cargo.
pois de passar pelo Icó. Em lá chegando, vai É no governo Azevedo e Sá que se passa
lutar em Jardim contra os imperialistas. Sai um fato lamentável de nossa história: o jul-
vitorioso e põe-se em marcha forçada, final- gamento e consequente fuzilamento dos revo-
mente, em demanda da Paraíba. Há lutas tre- lucionários. Foram eles, o Padre Gonçalo Iná-
mendas na longa e difícil caminhada quando, cio de Melo Mororó, Coronel João Andrade
mais uma vez, fica comprovada a bravura do Pessoa Anta, Francisco Miguel Pereira Ibia-
grande e valente Pereira Filgueiras. pina, Luís Inácio de Azevedo Bolão e Tenente
Diante das dificuldades surgidas, resolve Coronel Feliciano José da Silva Capibaribe.
José Pereira Filgueiras regressar ao Ceará, A execução destes mártires dos ideais re-
indo, novamente, ter ao Crato. Novos comba- publicanos revoltou o povo de Fortaleza, e foi
tes são registrados e a tropa atinge, finalmen- preciso o concurso de forças armadas para que
te, à chapada do Araripe. chegasse ao fim. Os trágicos episódios do fu-
Isto posto, Tristão Gonçalves de Alencar zilamento, que duraram de 30 de abril a 28
vê-se colocado em amarga conjuntura. Sente de maio de 1825, tiveram o seu teatro maca-
que se aproxima o dilema terrível das revo- bro no local onde hoje se ergue o edifício da
luções fracassadas: ou a rendição incondicio- Santa Casa de Misericórdia, em frente ao Pas-
nal ou a luta até o sacrifício supremo. seio Público.
Bravo entre os mais bravos, Tristão in- Com a promulgação da Constituição de
clina-se pela luta extrema e apresta tropa, se- 25 de março de 1825, sucederam-se os seguin-
guindo para o Aracatí, afim de dar combate tes Presidentes da Província do Ceará: —
An-
a Luiz Rodrigues Chaves, traidor da causa tónio de Sales Nunes Belford, 1826; Manuel
sagrada. Joaquim Pereira da Silva, 1829, e José Maria-
residentes, interventores e Governadores

José Martiniano de Alencar Benjamin Láberato Barroso António Pinto Nogueira Acioly
1834-1840 1891-1892-1914 1892-1896-1904-1908

Fernando Setembrino de Car-


Marcos Franco Rabelo valho — 1914 João Thomé de Sabóia e Silva
1916
1912

Justiniano de Serpa José Moreira da Rocha José Carlos de Matos Peixoto


1920 1924 1938
]

%.

Manuel do Nascimento Fer- Benedito Augusto Carvalho


des Távora Francisco de Menezes Pimentel dos Santos
1930 1935 1945

Faifftino de Albuqut rque Raul Barbosa


Pedro Firmeza e Souza Atua! Governador
1946 1947
9

no de Albuquerque, em cujo governo se pas- Barros Pimentel, 1882; Domingos António


saram fato da maior importância. É que, com Rayol, 1882; Dr. Sátiro de Oliveira Dias, em
a abdicação de Dom Pedro I, aos 27 de abril cujo governo foi decretada a abolição dos es-
de 1831, a Província viveu dias agitados em cravos no Ceará, 1883; Carlos Honório Bene-
vista da guerra civil que explodiu no sul do dito Otoní, 1884; Sinval Odorico de Moura»
Ceará, tendo à frente a figura impressionante 1885; Miguel Calmon Du Pin e Almeida, 1885;
de Joaquim Pinto Madeira que lutava pela Joaquim da Costa Barradas, 1886; Enéas de
volta, ao trono, do pai de Pedro li. Araújo Torreão, 1836; António Caio da Silva
Organizando destemido exército, Joaquim Prado, um dos grandes governantes que o
Pinto Madeira, auxiliado pelo famoso Padre Ceará já possuiu, 1888; Henrique Francisco
António Manuel de Souza, apelidado de Ben- D' Ávila, 1889 e, finalmente, o último Presi-
ze-Cacête, infligiu sérias derrotas às tropas dente, da quadra imperial, que foi Gerônimo
legalistas, apoderando-se do Crato, aos 28 de Rodrigues cia Morais Júnior, deposto aos 16
dezembro de 1831. de novembro de 1889, pelo tenente- coronel
Sucederam-se vários embates, sendo que Luís António Ferraz em vista da proclamação
o próprio Presidente José Mariano partiu para da República, no dia anterior.
o teatro de operações. Batidos Pinto Madeira
e o Padre Manuel de Souza, entregam-se às
PERÍODO REPUBLICANO
forças do General Labatut, acampadas nas
proximidades do Icó.
O PERÍODO histórico republicano, no
Ceará, iniciou-se debaixo de grande agitação,
Anos depois, reconduzido ao Crato, Pinto
Madeira é julgado e condenado à pena capital.
como era, aliás, óbvio, tendo em vista os acon-
tecimentos ocorridos da Capital Federal.
No dia 28 de novembro de 1834, é fuzilado no
famoso Alto do Barro Vermelho, daquela ci-
Na manhã do dia 16 de novembro de
1889, o então Presidente da Província, Dr.
dade.
Morais Jardim, convocou uma reunião em Pa-
PRESIDENTES DE 1883 A 1889 lácio. Foi aventada, nesta oportunidade, a
ideia da adesão do Presidente ao novo regi-
AO PRESIDENTE José Mariano, sucedeu, me, o que o mesmo não admitiu.
Inácio Correia de Vasconcelos, 1833, vindo, A tarde, é realizado gigantesco comício
depois José Martiniano de Alencar, padre, e no Passeio Público. Os oradores mais exalta-
um dos maiores homens públicos que o Ceará dos propuzeram, então, a deposição do Presi-
já possuiu em todos os tempos. Seguiram-se: dente. Ato contínuo, rumou a multidão para
Manuel, Felizardo de Souza Melo, 1837; João o Palácio do Governo, onde falou o major
António de Miranda, 1839; Francisco de Souza Manuel Bezerra de Albuquerque, depondo
Martins, 1840; José Martiniano de Alencar, Morais Jardim. Em seguida, foi aclamado
novamente reconduzido ao cargo, em 1840; novo chefe do governo, na pessoa do tenente-
José Joaquim Coelho, 1841; José Maria da Sil- coronel Luís António Ferraz que, logo mais,
va Bitencourt, 1843; Inácio Correia de Vas- nomeava uma Comissão Executiva para diri-
concelos, 1844; Casemiro José de Morais Sar- gir o Ceará.
mento, 1847; Fausto Augusto Aguiar, 1848; Somente a 1.° de dezembro, é que o Co-
Inácio Francisco da Silva Mota, 1853; Joa- ronel Ferraz assumiu definitivamente as ré-
quim Marcos de Almeida Rego 1851; Joaquim
;
deas do governo, em vista da sua nomeação
Vilela de Castro Tavares, 1853; Vicente Pires para o cargo, feita pelo Governo Provisório
da Mota, 1854; Francisco Xavier Pais Barreto, da República.
1855; João Silveira de Souza. 1857; António Foi na administração Ferraz que se pro-
Marcelino Nunes Gonçalves, 1859; Manuel mulgou a Constituição Estadual de 1890, fato
António Duarte de Azevedo, 1861; José Ben- ocorrido aos 23 de dezembro do mesmo ano.
to da Cunha Figueiredo Júnior, 1863; Lafaiete Ainda na fase de consolidação do regime
Rodrigues Pereira, 1864, e em cujo governo republicano, governou o nosso Estado, como
o Ceará organizou batalhões voluntários para seu 2.° Governador, o General José Clarindo
combater na Guerra do Paraguay; Francisco de Queiroz. Foi na sua administração que se
Inácio Marcondes Homem de Melo, 1865; He- registrou uma revolta da Escola Militar.
raclito de Alencar Pereira da Graça, 1874; Aos 3 de novembro de 1891, Deodoro da
Francisco de Farias Lemos, 1876; Caetano Es- Fonseca, Presidente da República, resolve dis-
telita Cavalcanti Pessoa, 1877; João José Fer- solver o Congresso, dando um golpe de Esta-
reira Aguiar, 1877; José Júlio de Albuquerque do. O Governo é entregue ao Vice-Presidente
Barros, 1878; André Augusto de Barros Fleu- Floriano Peixoto, cognominado o Marechal de
ry, 1880; Pedro Leão Veloso, 1881; Sancho de Ferro. Antes, porém, quando fora perpetrado
10

hipote- a sua administração que se le-


É durante
o golpe Deodoro, vários governadores
ao proclamador do novo vanta o Juazeiro do Norte, vivendo, então, sob
caram solidariedade
entre os quais o do Ceará. o prestígio do famoso Padre Cícero Romão
regime,
Batista e debaixo do domínio absoluto do Dr.
Surgindo difícil situação para Floriano
Floro Bartolomeu da Costa, político cuja fama
com a deflagração da famosa Revolta da Ar-
transpoz as fronteiras do Ceará.
mada, chefiada por Custódio José de Melo,
resolve o dirigente do País depor os governa- A tremenda e agitou todo o Esta-
luta foi
dores que haviam prestado apoio incondicio- do, de norte a sul.Os batalhões de jagunços,
nal à Deodoro. organizados na Meca do Carirí, dominaram
Isto posto, na tarde de 16 de fevereiro completamente toda a região sul do Ceará e
de 1892, explode uma revolução em Fortaleza se puzeram a caminho da Capital sob o co-
para depor Clarindo de Queiroz. A luta du- mando do Dr. José de Borba e outros chefes
rou até a manhã do dia seguinte, 17, tendo políticos com o fim de apressarem a deposi-
sido bombardeado o Palácio da Luz, onde se ção de Franco Rabelo. Desbaratadas as forças
encontrava o Governador, que acabou ceden- fiéis ao governo, estando o Estado envolvido
do ao império das circunstâncias, e renunci- em tremenda agitação, o Presidente Hermes
ando. O comandante da guarnição, coronel da Fonseca decreta a intervenção federal e
Bezerril Fontenelle, assumiu o governo, pas- consequente deposição de Franco Rabelo, sen-
sando-o, em seguida, ao major Benjamin Li- do nomeado para receber as rédeas da admi
berato Barroso, vice-Governador. nistracão, na qualidade de Interventor, o Co-
ronel Fernando Setembrino de Carvalho. A
ACIOLINOS E RABELISTAS atitude do Marechal Hermes advinha da poli-
ticarem chefiada pelo caudilho Pinheiro Ma-
AOS 11! de julho de 1892, é promulgada chado, que se colocou ao lado dos revolucio-
nova Constituição Estadual. Instala-se uma nários em detrimento da ordem e do prestígio
Assembleia constituída de trinta deputados, de um governo digno, como foi o de Franco
e o Ceará entra num regime de relativa paz, Rabelo.
elegendo seu Presidente, José Freire Bezerril Para o quadriénio 1914 a 1916, foi eleito
Fontenelle, cuja administração foi de 1892 a Presidente do Ceará o Coronel Benjamin Li-
1896. berato Barroso. De 1916 a 1920, esteve à fren-
No período compreendido entre 1896 a te da administração estadual o Dr. João Tomé
1900, governou o nosso Estado o Presidente de Sabóia e Silva. Estas duas administrações
António Pinto Nogueira Acioly, famoso chefe se distinguiram pelo restabelecimento das
político, sucetlendo-lheo Dr. Pedro Augusto garantias constitucionais e combate, sem tré-
Borges, 1900-1904. guas, ao cangaceirismo que, então, lavrava em
Em 1904, é reconduzido o Dr. António todo o interior cearense protegido, quase sem-
Pinto Nogueira Acioly. Em sua administra- pre, pela políticagem dos chefetes locais.
ção foi instalada a Faculdade de Direito e ou-
Para 1920-1923, é escolhido o Dr. Justi-
tros cometimentos de interesse público foram
niano de Serpa, homem de letras, orador pri-
levados a bom termo, mal grado a politica-
moroso, jornalista, e que ralizou uma notável
rem que imperou nos sertões cearenses, oca-
administração. Fundou centenas de escolas,
sionando fatos graves de perturbação da or-
abriu estradas, implantou um período de paz
dem pública. Terminando o seu mandato de
e de tranquilidade, acalmou ânimos exalta-
quatro anes, isto em 1908, Nogueira Acioly
dos, promulgou códigos e leis fundamentais à
é reeleito à direção dos negócios do Estado
vida e ao progresso do Ceará, além de ter sido
para o período que iria até dezembro de 1912,
o governo no qual se iniciaram as obras con-
ano em que o aciolismo é deposto, aos 24 de
tra as secas, tarefa magnífica do grande Pre-
janeiro, em virtude de um movimento de re-
sidente Epitácio Pessoa, pioneiro da redenção
belião popular que contou com o prestígio do
então Presidente da República. Marechal Her- nordestina e cujo nome deve ser sempre lem-
mes da Fonseca. O governo é assumido pelo brado, com carinho e gratidão, por todos os
cearenses.
Vice-Presidente, António Frederico de Carva-
lho Mota. Ao Dr. Justiniano de Serpa, substituiu o
Para o quadriénio de 1912 a 1914, é elei- Vice-Presidente Ildefonso Aibano em virtude
to Marcos Franco Rabelo, brilhante oficial do de grave enfermidade na pessoa do Presiden-
Exército, o qual tomou posse debaixo das mais te, terminando, assim, o quadriénio governa-
amplas demonstrações de simpatia do povo mental. O Dr. Ildefonso Albano realizou vá-
cearense. rias obras de interesse público.
11

O quadriénio 1924-1928, é governado pelo indirétas, isto é, pela Assembleia Legislativa,


Desembargador José Moreira da Rocha, com para a escolha do Governador do Estado, ten-
excessão dos meses de maio de 1928 aos últi- do sido vitorioso o Dr. Francisco de Menezes
mos do período governamental, em vista da Pimentel que assumiu o governo aos 26 de
renúncia do Presidente e consequente posse, maio do mesmo ano. Fora candidato da Liga
neste cargo, do Vice-Presidente Eduardo Hen- Eleitoral Católica.
rique Girão. O Governo do Desembargador Homem sereno, educador de várias gera-
Moreira da Rocha se caracterizou por uma re- ções, o Dr. Menezes Pimentel vinha realizan-
forma à Constituição Estadual, término do do uma administração prudente quando, aos
serviço de agua e esgoto da Capital e agita- 10 de novembro de 1937, o Dr. Getúlio Var-
ções políticas. gas, então Presidente da República dá um gol-
Para governar o Ceará, a partir de 1928, pe de Estado, implantando no País o famoso
foi eleito o Dr.José Carlos de Matos Peixoto, Estado Novo. O Dr. Menezes Pimentel é no-
sendo Vice-Presidente o Dr. Demóstenes de meado Interventor Federal, passando a gover-
Carvalho que, vindo a falecer em 1929, foi nar sem Assembleia, extinta e fechada no ins-
substituído pelo Dr. Benedito Carvalho Au- talar-se o novo regime discricionário.
gusto dos Santos. Embora dispondo de poderes absolutos, a
Tudo corria relativamente calmo quando, administração Menezes Pimentel continuou,
em 1930, explode no sul do País a chamada sem balbúrdias e atropelos, na linha antes
Revolução Liberal, dela advindo a deposição pautada, isto é, dentro de um programa de
do Presidente da República, Dr. Washington paz, de tranquilidade e de trabalho. Daí por-
Luís Pereira de Souza e, consequentemente, a que a administração, a que nos referimos, le-
queda de todos os Presidentes de Estado. Ma- vou a bom termo inúmeras realizações de in-
tos Peixoto abandona o Ceará aos 8 de outu- teresse coletivo, dentre as quais vale ressalta-
bro de 1930, em demanda do sul do País. das: o desenvolvimento da instrução pública,
Com a revolução de 30, novos costumes o amparo à agricultura e à pecuária, a cons-
políticos foram implantados no País, razão trução de importantes edifícios públicos como
por que ela encerrou mais um período da vida a Secretaria de Polícia, o Tribunal de Justiça,
republicana. As consequências do famoso gol- Secretaria de Agricultura, Escola de Agrono-
pe revolucionário se fizeram sentir profunda- mia, Grupos Escolares, Postos de Saúde, cons-
mente na vida política do Ceará, por isso que trução de dezenas de açudes, construção de
novos horizontes surgiram na vida adminis- campos de pouso no interior do Estado além
trativa que passou a contar com a decisiva e do equilíbrio orçamentário.
indispensável colaboração do povo para a so- •** *r *3r*

lução e o encaminhamento dos problemas po-


líticos mais importantes. COM a vitória, à vista, das potêneias de-
mocráticas contra as forças do eixo Roma-
DE 1930 AOS DIAS ATLAIS Toquio-Berlim, que desejavam implantar o
regime fascista no mundo, o panorama polí-
NO DIA 8 de dezembro de 1930, debaixo tico universal se modifica, com reflexos dire-
de grande agitação, e por aclamação popular, tos na vida brasileira.
assume as rédeas do governo do Estado o Dr. Surge o grito do escritor José Américo
Manuel do Nascimento Fernandes Távora, de Almeida, através da imprensa nacional, em
chefe do movimento revolucionário, no Ceará. prol da reconstitucionalização do País, até en-
Logo mais, o Dr. Távora é nomeado Interven- tão sob um regime discricionário, sem o fun-
tor Federal, pelo Governo Provisório da Re- cionamento do Poder Legislativo e sem a prá-
pública. tica salutar do sufrágio popular.
Em 1931, é designado novo Interventor Agitam-se as correntes de opinião nacio-
na pessoa do Capitão Roberto Carneiro de nal, e o poder público vê-se obrigado a
Mendonça, que nos governou de 1931 a 1934 baixar um ato marcando eleições nacionais
realizando uma
administração operosa e digna. para a escolha dos dirigentes da República.
Em nomeado para substituto do
1934, é Organizam-se os partidos políticos e com
Capitão Carneiro de Mendonça, o Coronel Fe- o nascer da nova ordem de coisas, principiam
lipe Moreira Lima. Homem de grande cora- as substituições de Interventores.
ção. Moreira Lima foi um incompreendido, É nesta quadra política que é demitido o
razão porque as eleições para a escolha de Dr. Menezes Pimentel, tendo como substituto
deputados federais e estaduais decorreram, o Dr. Bení Carvalho, antigo Vice-Presidente
em seu governo, sob grande agitação. do Ceará, e cuja posse ocorre aos 30 de Outu-
Em maio de 1935, realizaram-se eleições bro de 1945.
12

Aos 8 de Dezembro de 1945, realizam-se eleitorado recaiu na escolha deste último,


as eleições para Presidente da República, e cuja posse realizou-se, solenemente, aos 31 de
para a Câmara dos Deputados, sendo eleito Janeiro de 1951, no Palácio da Luz, sendo as
representante do Ceará o Dr. Bení Carvalho, rédeas da administração estadual entregues ao
substituído no governo pelo Dr. Acrício Mo- novo Governador, pelo Dr. Amadeu Furtado,
reira da Rocha, nomeado Interventor Federal. então Presidente da Assembleia Legislativa,
Aos 14 de Fevereiro de 1946, o Dr. respondendo pelo Poder Executivo do Estado.
Acrísio passa o governo ao Dr. Pedro Fir- Aos 15 de Março, do mesmo ano, são
meza, que governa o Ceará, na qualidade de empossados os novos membros componentes
Interventor, até a posse do novo titular, Coro- da Assembleia Legislativa, eleitos em 3 de
nel Machado Lopes, realizada aos 28 de Ou- Outubro de 1950.
tubro de 1946. A atitai administração se caracteriza na
Aos 19 de Janeiro de 1947, realizam-se conjuntura histórica, como saneadora das
as eleições para a escolha do Governador do finanças estaduais e realizadora de obras pú-
Estado, e para os membros da Assembleia blicas, tais como a construção de açudes, es-
Constituinte Estadual. Dois candidatos apre- tradas, edifícios públicos no interior do Es-
sentaram-se ao eleitorado cearense: General tado-grupos escolares e postos de saúde e —
Onofre Gomes de Lima e Desembargador disseminação da prática da agricultura meca-
Faustino de Albuquerque e Souza. A prefe- nizada.
rência do povo cearense recaiu na pessoa do
Desembargador Faustino de Albuquerque, q£ qp 3p

cuja posse realizou-se no dia 2 de Fevereiro


de 1947. Eis, em traços rápidos, uma síntese, um
Tendo a Assembleia Constituinte se ins- pequeno esboço da formação histórica do
talado no dia 31 de Janeiro daquele ano, o Ceará, desde os albores da sua colonização,
Governador passava a administrar o Ceará 1603, aos dias atuais, 1953.
sob a égide da Constituição do Estado, pro- Entre as personalidades citadas, dirigen-
mulgada aos 23 de Junho de 1947. tes da administração estadual, devem ser in-
O Governo do Desembargador Faustino cluídas, em épocas diferentes entre outros, os
de Albuquerque se caracterizou pelo pleno seguintes homens públicos que estiveram à
restabelecimento das garantias constitucio- frente dos destinos do Ceará, respondendo,
nais asseguradas ao povo pelo novo regime, interinamente, pela chefia do governo: Dr.
com base na ordem e na legalidade. Aos 7 de George Cerqueira Cavalcante, 1933; Franklin
Dezembro de 1947, realizam-se eleições em Monteiro Gondim, 1935; José Martins Rodri-
todo o Estado para a escolha dos Prefeitos e gues, 1938; Dr. Andrade Furtado, 1939;
Vereadores municipais. São promulgadas vá- Desembargador Daniel Lopes, 1945; Desem-
rias leis da maior importância para a vida bargador Livino de Carvalho, 1945; Dr.
administrativa do Estado, entre as quais, vale Thomaz Pompeu Filho, 1945; Prof. Luís
salientadas, a Lei Orgânica dos Municípios, o Sucupira, 1946; Dr. João Otávio Lobo, 1946;
Estatuto dos Funcionários Públicos Civis, a Desembargador José Feliciano de Atayde,
Lei de Organização Judiciária, a Lei de Divi- ,1946, também nomeado Interventor Federal;
são Administrativa do Estado e outros diplo- Dr. Joaquim Bastos Gonçalves, 1947; Dr.
mas da maior importância. Amadeu Furtado, 1951 e, finalmente, Dr.
Aos 3 de Outubro de 1950, realizam-se Stênio Gomes da Silva, atual Vice-Governa-
eleições para a escolha do novo Governador dor do Ceará.
Candidataram-se, pela União Democrática No quadro que se segue, citamos os fatos
Nacional e osjtros partidos menores, o Dr. de maior importância ocorridos durante estes
Edgar Cavalcante de Arruda, e pelo Partido três séculos e meio, ligados diretamente à
Social Democrático, e outros partidos meno- nossa evolução económica, cultural, política,
res, o Dr. Raul Barbosa. A preferência do e religiosa.
'

II-

PRINCIPAIS DATAS DA HISTÓRIA CEARENSE

JJATA DO ACONTECIMENTO
DESENVOLVIMENTO
Dia | Mês |
Ano

CONQUISTA DO TERRITÓRIO
Chegada de Vicente Yanez Pinzon à ponta de Mocuripe 26 rv 1500

Chegada em terra do Ceará dos primeiros europeus, franceses


comandados por Bombille ou Mambille, estabeleeendo-se
na Ibiapaba 1590

Chegada de Pêro Coelho de Sousa, com a primeira expedição co-


lonizadora, à Barra do Camocim 18 1604

Grande seca faz perder-se a expedição de Pêro Coelho 1606

Chegada de Diogo de Campos ao rio Curú, que explora, subindo


cinco léguas em um batel 24 rx 1614

Uma expedição holandesa contra o Ceará é rechassada por


Veiga Cabral — 1632

Aparecimento de navios holandeses na baía de Mocuripe 25 X 1637

Combate entre holandeses e portugueses para tomada do forte


que ficou sob o comando do tenente Van Ham 26 X 1637

Desanexação do governo do Maranhão e incorporação à Capi-


tania Geral de Pernambuco '.
— 1855

Domingos Alves Sertão, partindo do São Francisco chega a


Ibiapaba, daí seguindo para o Piauí — 1677

Solicitação daCâmara da Vila de São José da Ribamar ao Rei


para que sejam traçados os limites de sua jurisdição 16 vn 1700

Concessão ao sargento-mór dos Índios da Ibiapaba de uma ses-


maria de duas léguas com meia de largura IX 1,706

Transferência da sede da vila de São José da Ribamar para o


sitio Aquiraz 27 VI 1713

Rebelião dos indios Anassés e assalto a Aquiraz 18 VII 1713

O Senado da Câmara de Aquiraz dirige-se ao Vice-Rei do Brasil,


expondo a fundação da primeira vila da Capitania e pe-
dindo a sua conservação no sitio Aquiraz 16 XI 1714
...

14

DATA DO ACONTECIMENTO
DESENVOLVIMENTO
Dia Mês Ano

O Presidente Pedro Borges manda retomar a vila de Grossos,


ocupada militarmente por forças do Rio Grande do Norte 2 I 1902

Convénio entre os representantes do Ceará e do Rio Grande do


Norte sobre os limites entre os dois Estados 20 IH 1902

Laudo do Conselheiro Lafaiete Rodrigues Pereira, consideran-


do Grossos território cearense 24 IX 1902

Acordo de limites entre o Ceará e Pernambuco 21 VI 1920

HISTÓRIA POLITICA
Partida dos missionários Francisco Pinto e Luiz Filgueiras de
Pernambuco, para a catequese dos índios da Ibiapaba . . 20 I 1607

Libertação por carta régia, dos índios do Ceará, reduzidos ao


cativeiro por Pêro Coêiho 10 IX 1611

Nomeação de Soares Moreno, para capitão-mór e governador,


por carta patente de Felipe III 26 V 1619

Ordem régia determina a arrecadação de gado bravio sem dono


no Ceará, destinando-se o produto ao concerto da Fortaleza
16 IX 1668
Os Tremembés deixam Fortaleza e declaram, em face do mau
tratamento recebido, não aceitar a amizade dos brancos .
1671

Ordem régia mandando criar vila na capitania 13 II 1699

Eleição dos membros da primeira Câmara do Ceará a de São —


José de Riba-Mar, termo que abrangia toda a capitania . 25 1700

Alvará tornando obrigatório, sob penas graves, o plantio de


mandioca 27 n 1701

Chegada de João Arnaud ao Carirí, onde dá começo à primeira


povoação do sopé da serra do Araripe, sob o nome de São
José da. Missão Velha dos Cariris Novos 1707

Transferência para Fortaleza da vila que estava na barra do


Ceará 1708

Regimento dado aos capitães-móres de milícia do .Ceará pelo


governador de Pernambuco . . . 20 m 1710

Carta régia ordenando que se desse aos vigários das paroquias


e missionários dos Índios aldeados desta capitania para pas-
sais (1) dessa igrejas, terra bastante para o pasto de
quatro cavalos e outras tantas vacas 12 XI 1710

Carta régia, mandando que a Capitania do Ceará ficasse ane-


xada à Ouvidoria da Paraíba 30 1711

Carta régia, criando na ribeira do Jaguaribe um Juiz pedaneo


e um escrivão de notas para os contratos, aprovação de
testamentos, etc 31 1711

Carta régia, ordenando que o capitão-mór do Ceará informe se


há minas de ouro no sertão do Icó, bem como o sitio em
que se acham essas minas, a distancia em que ficam da
praia e se poderia embaraçar o seu descobrimento 18 IV 1712

Provisão de mesa de conciência e ordens, mandando que o Ou-


vidor da Paraíba exerça também, no Ceará, o lugar de
provedor -
26 iii 1720
.

15

DATA DO ACONTECIMENTO
DESENVOLVIMENTO
Dia I Mês Ano
Provisão do Conselho "Ultramarino, desligando o Ceará da Ouvi-
doria da Paraíba, constituindo-se ouvidoria independente 8 I 1723

Posse do primeiro Ouvidor do Ceará, José Machado 23 vm 1723

Resolução régia, mandando que se conserve a vila de Aquiraz


e haja uma outra em Fortaleza 9 v 1725

Instalação da Vila Fortaleza de N. S. da Assunção 13 TV 1726

Inauguração da freguesia de N. S. da Luz da Missão Velha . 28

Viagem do Capitão-mór Dourado ao Carirí no intuito de saber


a existência de minas de ouro ali

Carta régia, proibindo a extração do ouro no Carirí e em Man-


gabeiras 12 DC
Criação do primeiro Hospital Militar do Ceará, por ato do Go-
vernador de Pernambuco vn
Seca no Ceará causa grandes prejuízos

•Grande seca que veio a terminar em 1793

Grande inverno causa enormes prejuízos a lavoura

Alvará separando a Capitania do Ceará do Governo Geral de


Pernambuco e permitindo-lhe fazer comercio direto com
Portugal 17

Posse do 1° governador do Ceará, Bernardo Manuel de Vas-


concelos 28 DC
Recenseamento procedido acusa uma população de 125.878
pessoas

Fundação em Fortaleza de uma fábrica de louça vidj-ada

Decreto criando a Alfandega do Ceará 10 VI

Estabelecimento, em Fortaleza, da primeira casa estrangeira


de comércio direto, fundada peeol irlandês William Wara V
Funcionamento da repartição' do Correio, estabelecido por deli-
beração da Junta da Fazenda 1 V
Instalação da Alfandega criada em 1810 1 vn
Recenseamento mandado fazer pelo governo verifica uma po-
população de 149.285 pessoas

Instituição do Correio público • 31 vm


Proclamação da República, no Crato, pelo diácono José Mar-
tiniano de Alencar, seus parentes e amigos 3 v
Contra-revolução no Crato 11 v
Procedentes de Pernambuco, chegam sementes de café destina-
das ao Carirí, de onde foram enviadas algumas para Baturité

Decreto elevando à categoria de cidade a vila de Fortaleza,


com a denominação de Fortaleza de Nova Bragança .... 17 m
Aparecimento do primeiro jornal cearense, «Diário do Governo
do Ceará», dirigido pelo Padre Mororó IV
16

DAI A D(J ACU1N 1 JUClMliN ro


DESENVOLVIMENTO
Dia |
Mês | Ano
Posse do primeiro presidente nomeado para o Ceará — Pedro
* José da Costa Barros, chegado a 14 17 IV 1824

Costa Barros resigna ao governo em face de um movimento


popular, substituindo-o Tristão Gonçalves 29 rv 1824

Proclamação de Tristão Gonçalves convidando o povo a unir-


se a Pernambuco e demais provincias que se agitam sob
a bandeira republicana 22 1824

Proclamação da República em Fortaleza e aclamação de Tristão


Gonçalves de Alencar Araripe como presidente 26 VIII 1824

Partida da primeira leva de recrutas para o Exercito 3 XI 1825

Abertura da primeira Assembleia 7 IV 1835

Primeira lei de orçamento da Província com uma receita de


91 :960$000 VI 1835

Recenseamento realizado acusa uma população de 240.00 ha-


bitantes 1835

Criação da Tesouraria Provincial 26 EX 1836

Instalação em Fortaleza de um Banco provincial de emissão e


descontos 1836

Instalação do Liceu do Ceará, sendo seu primeiro diretor o


padre doutor Tomaz Pompeu de Sousa Brasil 19 1845

Grande seca no Estado 1845


. .
.
Epidemia de febre Amarela em Fortaleza e Aracati VI '
1851

Lei provincial n. 545, proibindo, sob pena de multa e prisão, o


corte de carnaúba 20 1851

O Papa Pio IX, pela bula «Pro animarum salute», aprova a


criação do bispado do Ceará VII 1854

Lei Provincial n. 705, autorizando o governo a contratar a ela-


boração de uma estatísticada Província VIII 1855

Assinatura do contrato entre o dr. Tomaz Pompeu de Sousa


Brasil e o governo para a elaboração da estaistica da Pro-
víncia, mediante a quantia de 3.000$000, trabalho que é
entregue em 1862 e publicado sob o titulo: «Erisaio de Es-
tatística da Província do Ceará» 14 rx 1855

Lei n. 766, concedendo um empréstimo de 6.000$000 ao Dr. M.


José Teófilo para montar uma fabrica de rapé 8 VIII 1856

Contrato em virtude do qual começou a navegação a vapor entre


Pernambuco e Ceará 26 IX 1856

Inauguração do Colégio de Educandos de Fortaleza, criado pela


lei provincial n. 759, de 5 de julho de 1856 10 ih 1857

Lei n. 1.144, decretando a fundação de um Seminário em For-


taleza : 27 |
IX 1860

O governo da Província contrata a fundação de uma fazenda mo-


delo de criação de gado em Quixeramobim 6 j
IX 1861

Posse de D. Luiz António dos Santos, primeiro bispo do Ceará 29 IX 1861


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17

DATA DO ACONTECIMENTO
DESENVOLVIMENTO
Dia Mês Ano
Publicação do primeiro número da «Gazeta Oficial do Ceará» 16 vn
Exposição na Santa Casa de Misericórdia, de produtos desti-
nados à Exposição do Rio de Janeiro xn
Contrato de José Paulino Hoonholtz com o governo, para o
abastecimento dagua potável à capital 27 V
Contrato com Joaquim de C. Freire e Tom az Rich Brandt para
a iluminação da capital a gás hidrogénio carbonado .... 16 I

Assentamento da primeira pedra no teatro público de Fortaleza 11 II

Instalação da Companhia de Aprendizes Marinheiros 26 II

Embarque das forças de primeira linha para a guerra do


Paraguai 3 IV

Embarque do corpo de voluntários para o Paraguai 6 rv

Adoção, em Fortaleza, pela primeira vez no Brasil, do sistema


métrico decimal de pesos e medidas 3 VIII

Inauguração da Biblioteca e Arquivo Público 25 m


Inauguração do serviço de distribuição das águas do Benfica
para o consumo da capital 26 iii

Publicação do primeiro número do Almanaque da Província. .


25 VIII

Inauguração da iluminação a gás em Fortaleza 17 IX

Contrato celebrado para a construção da via férrea Fortaleza-


Baturité 25 VI

Inauguração da Relação do Ceará 3 II

Instalação da Junta Comercial, compreendendo no seu distrito


o Rio Grande do Norte V
Grande seca, que se prolonga até 1880

Instalação da Caixa Económica do Ceará 14 I

Inicio das comunicações telegráficas entre a capital e o Rio


de Janeiro '•
26 II

Inauguração do cabo submarino, começando as comunicações


diretas com a Europa 30 III

Libertação em massa dos escravos de Acarape, primeira que


se registra no Brasil 1 I

Inauguração do serviço telefónico em Fortaleza 11 II

Contrato para a construção de um porto em Fortaleza 5 V


Primeiro trabalho de tecelagem no Ceará, na fabrica de teeidos
da família Pompeu 24 XI

Libertação final dos escravos no território cearense 25 III

Criação de uma Escola Militar no Ceará 1 II

Proclamação da República, em Fortaleza, assumindo o governo


o coronel Luiz António Ferraz 16 XI
.

18

DATA DO ACONTECIMENTO
DESENVOLVIMENTO
Dia Mês Ano
Abertura da primeira oficina de litografia 8 m 1891

Promulgação da primeira Constituição do Estado 16 VI 1891

Contrato com o engenheiro Rodolfo Furquim Lahmeyer para


exploração do sal em Aracatí 24 rv 1902

Corrida inaugural do Derby Cearense 15 ii 1903

Instalação da Academia de Direito que, em Setembro, foi avo-


cada ao Estado m 1903

Exibição pela primeira vez em Fortaleza, de uma pianola, com


um concerto pelo pianista Witt, no salão da Fénix Caixeixal 1 XE 1906

Ascenção, num balão, do sargento José da Luz 1 i 1907

Experiência do primeiro automóvel chegado à capital 28 m 1909

Inauguração do Teatro José de Alencar 24 VE 1909

Inicio do tráfego de bonde életrico 9 x 1913

Intervenção federal no Estado, em virtude dos acontecimentos


politicos registrados em dezembro do ano anterior, em
Juazeiro 14 m 1914

Decreto da Santa Sé, elevando a diocese de Fortaleza à digni-


dade de metrópole e criando a diocese de Sobral 10 XI 1915

Instalação em Quixadá do primeiro Congresso Agrícola do Ceará 7 IX 1916

Inauguração da Escola de Música Alberto Nepomuceno 15 vn 1919

Promulgação da reforma da Constituição Estadual 4 XI 1921

Posse da primeira diretoria do Radio Clube 9 m 1924

Posse, no governo do Dr. Manuel do Nascimento Fernandes


Távora, na qualidade de chefe do movimento revolucioná-
rio no Estado 8 X 1930

Promulgação da segunda Constituição do Estado 24 IX 1935

Instalação do VI Regimento de Aviação em Fortaleza 21 IX 1936

Posse do dr. Francisco de Menezes Pimentel como interventor


federal 26 XE 1937

Visita o Ceará, sua terra natal, o Ministro do Trabalho, Indus-


tria e Comércio, Waldemar Falcão 26 n 1938

Celebra-se, pela última vez, missa solene, na antiga Catedral


de Fortaleza, que começa a ser demolida 11 rx 1938

É instalado, pelo Prof. Raja Gabaglia, o Colégio Floriano, an-


tigo Colégio Militar do Ceará 31 i 1939

Toma posse, como Secretário do Interior e Justiça o Dr. Ma-


nuel António de Andrade Furtado, líder católico 24 i 1939

O Ministro da Guerra, General Eurico Dutra, visita o Ceará . 27 i 1940

Inaugura-se a 2» Feira de Amostras do Ceará 19 XI 1940

Inaugura-se, em Fortaleza, a Conferencia do Rotary do Brasil 16 rv 1941


19

DATA DO ACONTECIMENTO
DESENVOLVIMENTO
Dia Mês
D. Aluisio Masella, visita o Ceará 26 VI
Confirma-se grande seca em todo o Estado 19 III

Chega à Fortaleza o Dr. Vinícius Berredo, Diretor Geral da


Inspetoria de Obras Contra as Secas 19 IV
Começam a ser chamados os reservistas de 1» e 2' Categoria
em vista da gravidade da conflagração mundial 13 IV
I

Álvaro Nunes Weyne, toma posse do cargo de Secretário dos


I

Negócios da Fazenda 1 V
I

É aberto o voluntariado para o Corpo Expedicionário Brasilei- I

ro que lutará contra as tropas do Eixo 29

Inicia-se patrióticomovimento para aquisição de donativos des-


tinados à confecção da «Bandeira do Expedicionário» .... 24

Verifica-se enorme tensão popular com a deposição do Senhor


Getulio Vargas .
10 XI

Assume a Interventoria Federal o Dr. Beni Carvalho 30 X


Eleições gerais para Presidente da Republica e Câmara dos
Deputados XII

Toma posse no cargo de Interventor Federal, Acrisio Moreira


da Rocha 14 I

Assume a Interventoria Federal o Dr. Pedro Firmeza 14 II

Presta compromisso, no cargo de Interventor Federal, o Co-


ronel Machado Lopes 28 X
Realizam-se eleições gerais para Governador do Estado e As-
sembleia Constituinte Estadual 19

Toma posse o Governador eleito, Faustino de Albuquerque e


Sousa 2 III

Instala-se a Assembleia Estadual Constituinte 31 I

. E promulgada a Constituição do Estado 23 VI

Realizam-se eleições municipais, em todo o Estado 7 XII

Tomam posse todos os Prefeitos do interior 6 I

£ promulgada a Lei Orgânica dós Municípios 14 j


VII

Instala-se, solenemente, a 3' Sessão Legislativa 15 III

Inicia-se o Congresso de Municípios do Ceará 24 VII

Falece Dom Manuel da Silva Gomes 14 III

Realizam-se eleições gerais no Ceará 3 X


Toma posse o Governador eleito, Raul Barbosa 31 I

Instala-se, solenemente, a Asembléia Legislativa 15 III

Grandes solenidades no centenário de nascimento de Justiniano


de Serpa £ I
20

DATA D( 5 ACONTECIMENTO
DESENVOLVIMENTO
Dia Mês | Ano
E declarada a seca no Ceará 19 III 1952

O Governador do Rio Grande do Sul visita o Ceará 4 VI 1952

O Governador do Rio Grande do Norte chega a Fortaleza • • 18 VII 1952

Chega a Fortaleza o Ministro dá Educação, Dr. Simões Filho 10 vni 1952

Inaugura-se grande Exposição Pecuária 9 XI 1952

E lançada a pedra fundamental do Santuário de N. S. de Fátima 23 xn 1952

Chega a Fortaleza o Ministro da Agricultura, Dr. João Cleofas 19 n 1953

Reunião de todos os Bispos do Ceará 27 rv 1953

Comemora-se, em todo o Estado, o centenário de nascimento do


escritor Rodolfo Teófilo 6 V 1953
O Governador Lucas Garcez, do Estado do São Paulo, visita
o Ceará 17 IX 1953

Grandes solenidades assinalam o centenário de nascimento do


historiador Capistrano de Abreu 23 X 1953
Vida Histórica dos Municípios
.

23

AC AR AÚ
CIDADE ERGUIDA Á MARGEM DO RIO DAS GARÇAS

PAISAGENS NATURAIS QUE ENCANTAM AS CHAR- —


QUEADAS POVOARAM A TERRA — DENOMINAÇÕES
ANTIGAS —
FATOS E EPISÓDIOS ACERCA DO PATRI-
MÔNIO PAROQUIAL —
O PRÍNCIPE DOS POETAS —
JOÃO SALDANHA, MILAGROSO FEITICEERO O . . . —
CAPITÃO DIOGO, DA LAGOA GRANDE TERRA DE —
GRANDE FUTURO —
FILHOS QUE HONRAM O CEARA
— ALMOFALA —

ACARAM, cidade sede do município do mes- OS QUE POVOARAM A TERRA


mo nome, ergue-se à margem direita do famoso
«Rio das Garças», com curso superior a 300 quiló- Ao primeiro arrebol da nossa colonização,
metros, oferecendo, ao hinterland cearense, uma
1

aqui aportaram inúmeras famílias que, de ori-


bacia hidrográfica de 14.500 kms2. Situada na gem portuguesa, fugiam dos horrores da Guerra
zona norte, faixa litorânea, dista da praia apenas Holandesa.
seis quilómetros, o que lhe outorga clima exce- Umas vinham por mar; outras, por terra,
lente, tido e havido como um dos melhores que vadeavam rios, abriam florestas, transpunham
possuímos. É cidade que teve o seu progresso serranias e seembrenhavam de sertão a dentro,
tolhido por falta de vias de comunicação, visto levantando moradias com cerca de pau a pique,
como somente agora construiram-lhe, os poderes anteparo à india temível daqueles idos do Ceará
públicos, uma rodovia. Viveu, assim, durante Grande. .

longos anos, quase que isolada do resto do Es- Ao lado da agricultura rudimentar, desen-
tado, embora o mar lhe constituísse porta aberta volvia-se, entre nós, a famosa indústria do xar-
para o seu comércio que, outrora, teve dias de que, carne secada ao sol que, trabalhada aos
esplendor e grande animação. Já se nota alguns milhares de toneladas, teve no antigo São José
melhoramentos importantes, mas para a soma do Porto dos Barcos-Aracatí, o seu ponto alto.
de filhos ilustres que possui, e que ofertou ao Os taboleiros, as várzeas, que ficavam às
Ceará, devia ser cidade em muito melhores con- margens do rio Acaraú, se prestavam, admira-
dições. Acresce revelar que a geografia local é velmente, para a grande pecuária. E em suas
excelente no que se refere às possibilidades eco- ribeiras se estabeleceram várias famílias.
nómicas. Município vasto, cem quase 3.600 As praias que ficavam à foz do grande
kms. de superfície, as suas terras são de bom. curso dagua ofereciam seguro abrigo às suma-
quilate, prestando-se para as mais variadas cas e variadas embarcações de menor calado.
culturas. Vai daí, estabelecerem-se oficinas locais de
xarqueadas. As carnes eram exportadas para
Enorme riqueza lhe foi doada por Deus no outras províncias, e a indústria atingiu a índice
ofertar-lhe o pescado; condições favoráveis à in-
expressivo. Disto, adveio o primeiro nome que
dústria salineira, em larga escala; carnaúbais
teve Acaraú: Oficinas.
farfalhantes, hoje transformados em ouro; oiti-
Anos depois vinha a chamar-se «Barra do
sicais imensos e grande cópia de mamona que
Acaraú», denominação esta substituída pela atual.
brota, na terra virgem, sem que necessite maio-
res cuidados e despesas.
FATOS E EPISÓDIOS INTERESSANTES
O seu povo é profundamente trabalhador,
embora lhe vergastem a alma as crises clima- Um dos grandes negociantes das xarquea-
téricas que assolam, de quando em vez, o Ceará. das, chamava-se capitão José Monteiro de Melo.
Faltam-lhe, segundo, cremos, líderes locais que Para a época era homem de vasto cabedal e go-
lhe devotem maior carinho. Esta verdade é in- zava, por isso mesmo, de grande prestigio na re-
conteste e insofismável. A política, parece-nos, dondeza.
é responsável por isto. Em 1806, a morte lhe põe fim a existência.
Cumpre dizer que já se nota uma reação Era crente fervoroso. O melhor que tinha doou
salutar. Há, pelo Acaraú, uma juventude que à Nossa Senhora da Conceição, padroeira da
desperta em beneficio da terra onde nasceu o freguesia. A noticia, chegada a Sobral, cau-
Príncipe dos Poetas do Ceará, Padre António sou profunda alegria ao vicariato. Era um
Tomás. grande patrimônio aquele: uma enorme légua
. . . .

24

de terra (no tempo antigo era maior...) com Araújo Costa. Nunca casou, mas teve 7 mu-
algumas benfeitorias, tudo adquirido do Pa- lheres e 35 fortes rebentos lhe fizeram a tra-
dre Basílio Francisco dos Santos pelo preço de dição. Isto nos conta António Bezerra.
.
.

um conto e duzentos, pagos na melhor moeda Grangeou fama de curandeiro com escala,
portuguesa de então... depois, de milagrosas curas, para «douto Ins-
Passaram-se os anos. Ê criada a fregue- truído» . .

sia do Acaraú, em 1822. Sobral, porém, conti- Cegou aos quarenta anos, mas fazia curas
nuou por muitos anos usufruindo o lucro do pa- admiráveis. Na Lagoa do Mato, onde estabe-
trimônio paroquial até que. . o Padre Antó-
. leceu moradia, vasta e hospitaleira, fundou até
nio Thomás, inteligente e culto vigário local, em hospital, onde atendia muita gente, vinda dos
1908 rebelou-se contra o fato: não mais pa- longínquos sertões do Piauí.
garia a freguesia de Sobral aquilo que per- Foi venerado, pois tinha um poder sobre-
tencia, por legitimo direito, ao Acaraú. Foi um natural para curar os enfermos. Não podia ver
deus-nos acuda Houve reboliço, surgiu zanga,
! o doente. Davam-lhe o pulso deste e o famoso
e o festejado poeta e padre não arredou o pé. Foi Capitão Diogo ao sentir as pulsações, conhe-
mais longe: consultou o povo acarauense e levou cia o mal que atormentava o paciente. Passava
a questão para a frente. Enviou petição ao medicação e, com poucos dias, estava o doente
Arcebispo Núncio Apostólico do Brasil. A capaz de outra. .

coisa não teve outra saída. Diante dos informes,


D. Alexandre Barona concordou com o Padre FILHOS ILUSTRES
António Thomás e envia resolução a Dom Joa-
quim José Vieira, então Bispo do Ceará. A uma Acaraú é pátria de filhos ilustres. Como
coisa apenas Acaraú ficava obrigado: indeniza- ponto alto de suas gloriosas tradições deve ser
ção de três contos à paroquia de Sobral. destacado o Padre António Thomás, que foi o
Como acentua o historiador Nicodemus nosso príncipe dos poetas cearenses. Deixou-
Araújo, ilustre filho de Acaraú, hoje o patrimô- nos obras primas da poesia nacional, e o seu
nio rende mais de 100 mil cruzeiros anuais. . nome conquistou celebridade em todo o Brasil.
Foi um grande serviço prestado pelo saudoso Outro grande filho do Acaraú foi o dr.
poeta à sua pátria querida, por ele decantada Francisco da Costa Araújo, de saudosa memória.
em magnifico soneto: < Acaraú». Recentemente falecido, o dr. Costa Araújo pres-
tou aos estudantes cearenses os mais relevantes-
O MILAGROSO FEITICEIRO serviços, sendo muito querido pela mocidade.
Era médico famoso, de grandes diagnósticos.
As historias antigas, dos tempos idos e vi- Joaquim Costa Souza, espírito arguto, po-
vidos, têm o encanto da lenda que é a poesia lítico de real prestígio, homem público de ili-
da crónica do passado que já vai longe. . . bada conduta, honrou e enobreceu a terra em
Vale relembradas algumas que se passaram que nasceu.
no Acaraú no último século. É António Bezerra Dr. António Gomes Pereira Filho, grande
quem as registra. político na quadra imperial; dr. António Gon-
Viveu, no Aracaú, nos idos de 1840, um per- çalves da Justa Araújo, engenheiro; dr. Wal-
nambucano que desfrutou de enorme prestígio demar Gonçalves, famoso cirurgião; Coronel Mi-
em toda a região. Era detentor de grande nervino Rodrigues, herói do Uruguai e do Pa-
segredo: curava mordeduras de cobra. Não fa- raguai, onde se distinguiu por atos de bravura;
lhava nunca, por mais feroz que fosse o ofídio. Major Raimundo Sales Ferreira, primoroso in-
Religioso, meio profético, já em avançada telectual e muitos outros elevam bem alto o
idade, o velho João Saldanha Marinho assim pro- nome do Acaraú.
cedia: ao portador que vinha comunicar o terrível Vivos, aí estão: Humberto Sales de Moura
acontecido, entregava um objeto do seu uso pes- Ferreira, homem de grande modéstia, coronel do
soal, (chapéu, sapato, chinelo, blusa, etc.) e acon- Exercito e deputado federal, participante de
selhava: — «Menino, põe isto sobre o doente e várias revoluções nacionais, engenheiro civil, an-
ele estará curado». tigo Secretario de Segurança Pública e homem
Quando lhe era possível, lá se ia, pelo mun- de comprovada honorabilidade pública. Já foi
do afora, ver o paciente. Diante do morubundo, eleito para o Congresso três vezes, uma delas
já com febre alta, mordido de cascavel, sem por Pernambuco. Coronel Landrí Sales Gonçal-
esperanças, o velho pegava no pulso, fazia tre- ves, que já foi Interventor do Piauí, Diretor Ge-
jeitos, fechava os olhos, tremia e exclamava: ral dos Correios e Telégrafos, tido e havido
«Levanta-te, homem, nada tens. Caminha. Estás como homem de bem, de forte carater. Dr.
curado». Nelson Sales Andrade, médico de reconhecido
A verdade é que o fato era contado por mérito. Dr. Edmilson de Andrade Sales, advo-
uma enorme legião de pessoas de destaque da gado, da nova geração. Dr. José Teunas, advo-
região. Até padre afirmava que era verdade, gado, e Dr. Expedito Albano.
tendo um deles lamentado a morte de João
Saldanha, assim afirmando: «Nunca morria gen- TERRA DE GRANDE FUTURO
te aqui quando mordida por cobra. Agora vai
ser o diabo» . . Até que afinal abriram uma rodovia ligando
o Acaraú à Fortaleza. Vai contribuir muito
O «MÉDICO» DA LAGOA GRANDE. .
. para o seu progresso. Foi esforço de dois depu-
tados estaduais, dr. Manuel Gomes Sales e José
Viveu, outrora, nos taboleiros do Acaraú um Filomeno Ferreira Gomes e de um deputado
famoso curandeiro de nome Diogo Lopes de federal, o Coronel Humberto Moura.
CRATO — Casa histórica onde
nasceu o Padre Cícero; convento
dos Franciscanos

CRATO — Catedral de Nossa Senhora da Penha e


Matriz de São Miguel

X
rr-~nirrfflirnr"-r<<iwiwiii!^

FRADE — Prefeitura Municipal

CRATO —Colégios Santa Tereza e Dio-


cesano; estação ferroviária.

FRADE
.

25

Cidade que já conta com. alguns melhora- personifica-se em Manuel Albano, chefe político
mentos de relevo, entre os quais a Escola Nor- de grande prestigio local.
mal Rural, com excelente prédio próprio; um
posto de saúde e de puericultura; um
outro ALMOFALA, DOCE EVOCAÇÃO
grupo escolar e um bom edificio dos Correios,
falta-lhe, porém, a pavimentação de suas ruas Uma das coisas belas do Acaraú é o local
e praças que lhe dariam aspecto moderno e onde ainda se erguem as ruinas da famosa Igreja
atraente. de Almofala, mandada edificar pela Rainha Ma-
É vigário local o estimado padre Sabino de ria I, de Portugal, nos idos de 1712 . .

Lima, a quem muito e muito deve o Acaraú. E que, antigamente, ali surgiu o primeiro
Homem simples, educado, inteligente, ativo, aldeiamento da região, donde brotou a primeira
fundou e dirige o Ginásio Acarauense. povoação do município.
Governa o município o Prefeito João Jaime Contavam-se, aos milhares, os índios Tre-
Ferreira Gomes, pertencente à tradicional fa- membés, que foram civilizados pela ação mag-
mília local. Substituiu à Duca da Silveira, anti- nifica dos jesuítas, e que receberam o presente
go edil utíenista que gozava de grande pres- da Rainha, sob invocação de Nossa Senhora da
tígio e conceito. Conceição.
Gustavo Barroso, o primoroso historiador
Possuindo dois deputados estaduais, na As- cearense, uma das mais altas glórias de nossa
sembleia, e dois na Câmara Federal: Humberto terra, já publicou, em «O Cruzeiro», linda cró-
Moura e Armando Falcão, cremos terá dias de nica sobre a famosa Igreja de Almofala.
progresso nestes breves anos, de vez que a po- Levantada em estilo tipicamente colonial,
lítica das realizações concretas é a mais reco- as suas paredes evocam um passado distante,
mendável na hora que passa. cheio de fé, prenhe de felicidade, num sinal
Município criado aos 31 de julho de 1849, marcante e belo dos dias idos e vividos pelo an-
já celebrou, portanto, o seu centenário entre tigo Ceará colonial.
festas ruidosas. Vale ser visitada, pois é um dos mais ex-
Cidade 'aos 16 de setembro de 1882, Acaraú pressivos monumentos históricos que possuímos.
cativa pela hospitalidade de sua gente sempre O Padre António Thomás dedicou-lhe páginas
afável e acolhedora. O símbolo desta distinção admirá,veis, cheias de ternura e saudade.

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A
26

ACOPI AR
FOI, OUTRORA, A POVOAÇÃO DE LAGES
POVOAMENTO NAS RIBEIRAS DO TRUSSÚ E DO QUIN-
COÊ — ALTO SERTÃO DO CEARA — MUNICÍPIO DES-
MEMBRADO DO IGUATÚ, EM 1921 — DOM QUINTINO
CRIA A PARÓQUIA DE N. S. DO PERPETUO SOCORRO
— A MATRIZ DATA DE 1908 — CIDADE QUE PROGRIDE
DESDE 1910, COM A FERROVIA

O POVOAMENTO da região hoje compreen- Rodrigues de Oliveira de logo conheceu do pro-


dida no município de Acopiara, que já chamou-se gresso que estava tendo a novel Vila e tratou
até bem pouco tempo de Afonso Pena, data das de dotá-la de um paroquiato com vigário per-
concessões de sesmarias que foram feitas pelo manente.
Capitão-mór Salvador Alves da Silva, nos idos A ideia encontrou a melhor receptividade por
de 1719. parte do povo, tendo sido imediatamente formado
Embora alto sertão, esta região é servida o patrimônio da fresruesia. Disto resultou que,
por vários rios que outorgam, aos seus habitan- nos meados de outubro de 1921, fosse criada a
tes, excelentes terras de ribeira. Terreno um Paróquia com invocação de N. S. do Perpétua
tanto montanhoso, dispõe de quadras que se Socorro, tendo por sede Igreja já erguida nos
prestam admiravelmente para o labor agrícola, princípios de 1908, com auxílios do povo.
sendo por isso mesmo o município que produz o
melhor algodão do Ceará, e em maior quanti- CDDADE QUE PROSPERA
dade.
Era, assim, natural que os nossos primeiros Acopiara fica à margem da ferrovia que liga
povoadores reclamassem terras nesta região para Fortaleza ao Crato, fi centro de grande produ-
se estabelecerem com suas fazendas de criar e ção algodoeira, por isso que contam-se aos mi-
de plantar. Vai daí, entre outros, o Alferes An- lhares os produtores do ouro branco. Já foram
tónio Vieira Pitta ter requerido, ao governante instaladas várias fábricas de beneficiar este pro-
colonial daqueles longínquos tempos, «três lé- duto, na cidade.
guas onde se podesse acomodar, visto como ha-
via descoberto um grande riacho de nome Quin-
Tem bom comércio, faltando-lhe, todavia,
meios de comunicação rodoviária em condições
corê que mais adiante desagua no Trussú».
favoráveis para o intercambio com os vizinhos,
Efetivamente, as terras foram concedidas,
que são Senador Pompeu e Iguatú.
e lá se foi povoando o alto sertão de Acopiara
1

no início do século dezoito.


As últimas administrações municipais têm
contribuído de maneira elogiável para o seu pro-
gresso, devendo ser ressaltada a do atual diri-
FORMAÇÃO POLITICA gente da municipalidade, o Dr. Tibúrcio Vale-
riano Soares Diniz, médico, homem inteligente
O município de Acopiara foi criado muito e que tem contado com a colaboração patriótica
recentemente, isto é, aos 28 de setembro de
do Deputado Renato Braga, representante de
1921, desmembrado do território' de Iguatú e
Acopiara.
com vila na antiga povoação de Lages, atual
sede municipal, isto pela lei n» 1.875. Contando com vários logradouros públicos,
Queremos crer que as povoações que mais entre praças e ruas, Acopiara é uma cidade mo-
prosperaram, antigamente, foram a de Trussú derna, pavimentada a paralelepípedo, residên-
e de Quincoê, tendo-se em vista que sentadas nas cias modernas, uma bela Matriz, recentemente
ribeiras dos rios que têm estas denominações. reformada, boa iluminação e cujos habitantes
Em seguida é que se formou o povoado de Lages, primam pela hospitalidade e simpatia.
que teve grande desenvolvimento com a inaugu- Tem jardins bem cuidados e a cidade, de
ração da linha férrea, fato ocorrido aos 10 de modo geral, é sempre conservada limpa, princi-
julho de 1910. palmente no centro urbano onde encontramos
A Vila, que fora criada em 1921, somente uma moderna avenida.
foi inaugurada aos 4 de dezembro de 1922, no Mal grado as secas que lhe tem prejudicado
meio da alegria geral da população que, assim, de maneira frontal a economia, cuja base prin-
conquistava a sua maioridade política, e conse- cipal é a agricultura, o município vem se fir-
quentemente a sua independência do município mando de maneira surpreendente na vida admi-
de Iguatú, ao qual até então pertencera. nistrativa e política do Estado.
O primeiro Bispo do Crato, Dom Quintino A
denominação antiga de Afonso Pena foi
27

suDstituida pela de Acopiara, que se traduz por Entre os filhos ilustres se destaca o Dr.
Lavrador. Meton Vieira, bacharel, advogado, orador, e cul-
Ê cidade pelo Decreto n. 448, de 20 de tura brilhantíssima; Padre Mário Marques; Dr.
dezembro de 1938. Geraldo Marques; Dr. Francisco de Assis
São seus principais lideres: José Marques Colares e Dr. Francisco Ucbôa, moço de cultura,
Filho, chefe político e suplente de deputado es- recentemente premiado com uma bolsa de estu-
tadual; Celso de Oliveira Castro, várias vezes dos nos Estados Unidos da América, António
Prefeito; Dr. Tibúrcio Valeriano Diniz, chefe Bruno de Almeida Braga, um dos pioneiros da
político. conquista do Acre para o Brasil, e outros.

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28

AQUIR AZ
A ALTIVA SEDE DA CAPITANIA DO CEARÁ GRANDE
GRANDEZA E DECADÊNCIA DE UMA CIDADE HERÓICA
— O SENADO DA CAMARÁ — REPRESENTAÇÕES CON-
TRA OUVIDORES, VIGÁRIOS E CAPITÃES-MORES —
HOSPÍCIO DOS JESUÍTAS — IGREJA SECULAR —
RELÍQUIAS E ALFAIAS — O QUE RESTA DE UM GLO-
RIOSO PASSADO HISTÓRICO

QUEM DEMANDAR ao interior cearense, e António Dias Freire, sendo procurador, João
não se afastando muito da faixa litorânea e de Paiva Aguiar.
seguindo a rodovia que se inicia na Vila de Mes- Em 1711, a Vila é transferida para Aquiraz,
sejana, ao percorrer, por entre rasteira vege- medida esta efetivada somente em 1713. Daqui
tação, cerca de vinte e cinco quilómetros, depa- por diante, o novo povoado seria sede do gover-
ra-se com uma paisagem original e tipica ao no, como também, teatro da mais elevada po-
avistar as alvas dunas que demoram nas praias lítica já posta em prática por uma brava e
do Aquiraz. altiva Câmara de Vereadores. Nenhum crime
e nenhum desmando deixaria de ser combatido,
Alguns minutos a mais, e estamos diante com energia, pela vereança, daquela remota
da centenária cidade de Justiniano de Serpa, época.
triste e sonolenta, vivendo das glórias de um
longínquo passado, fincada onde, outrora índios
A CÂMARA DO AQUIRAZ GOVERNA
aquirazes tinham as suas malocas e a sua tur-
O CEARA
bulenta vida de bravos guerreiros. . Como sede de administração, Aquiraz toma
Afora a Igreja Matriz, cujo orago é São José foros de cidade prestigiada pelo poder e enga-
do Ribamar, a Casa da Camará, construção só- lanada pelo luxo de uma nova sociedade. Para
lida da época colonial, as velhas ruínas do Co- a pequena vila afluem centenas e milhares de
légio dos Jesuítas, que datam de 1725, vasta forasteiros, gente de todo feitio, tentadores de
praça central com descuidado passeio de coreto fortuna fácil, aventureiros, pequenos comercian-
e árvores frondosas, a antiga Casa dos Governa- tes, vendedores de quinquilharias e produtos re-
dores, e poucas ruas onde encontramos algumas gionais, transformando, assim, por completo, a
casas de beira e bica, somente a evocação de vida bucólica do lugarejo, numa agitada col-
um passado distante. meia de turbulências e questões.
Quem penetra, porém, nesta heróica e brava As autoridades locais, de logo reclamaram,
cidade, deve fazê-lo como se transpusesse os um- a Manuel Francês, tropas para manutenção da
brais de um velho templo em ruinas. ordem. Crimes e fatos desprimorosos princi-
Aquiraz é, assim, a porta principal pela qual piaram um reinado de terror que se alastrava
podemos penetar no livro de nossa formação his- pela Capitania afora. A coisa chegou ao ponto
tórica, por isso que, sendo relicário de fé, foi a da Câmara, em sessão solene e agitada, exigir
sede do governo e donde se irradiou a cor' ^ L a a prisão do Ouvidor Mendes Machado, por des-
dos sertões e caatingas, litonal e - . unias do
. mandos e arbitrariedades por este cometidas de
Ceará colonial. parceria com capangas e cabras de má repu-
tação.
CRIA-SE A PRIMEntA VILA DO CEARA Impossibilitado Manuel Francês de atender
A fim de pôr cobro às insolências e desman- a ira dos habitantes do Aquiraz, e de outras ri-
dos que se perpetravam na Capitania, ao tempo beiras, contra Mendes Machado, o próprio povo,
dos Capitães-móres, distribuir a justiça e me- com a vereança à frente, obriga o desordeiro
lhor administrar o desenvolvimento das novas a fugir e nomeia, então, novo Ouvidor na pes-
terras, El-Rei de Portugal, por despacho datado soa de Valentim Calado Rego, juiz mais velho
de 13 de fevereiro de 1699, ordena ao Governa- da Câmara.
dor de Pernambuco que faça criar uma Vila A primeiro de maio de 1733, os camaristas
no Ceará, para tanto devendo, em seguida, eleger do Aquiraz enviam longa e forte representa-
oficiaisda Câmara e juizes ordinários. ção a El-Rei contra o Vigário António de Aguiar
Dando exáto cumprimento à ordem régia, Pereira, que «faz residência em Fortaleza, e não
os habitantes do núcleo originário de Fortaleza, em Aquiraz, como é do seu dever». El-Rei res-
realizam o pleito para a Vila de São José do ponde à Câmara informando de que já havia
Ribamar. Foram eleitos, juizes ordinários, Ma- se comunicado com o Bispo de Olinda e este
noel da Costa Barros e Cristovam Soares de ordenara que o dito Vigário fosse residir em
Carvalho; para vereança, sairam vencedores, Aquiraz.
João da Costa Aguiar, António da Costa Peixoto Pôr resolução de 12 de setembro de 1739,
. . .

29

toda a vereança pede a El-Rei que mande pagar Matriz é secular, e deixa tansparecer, através
a cada vereador dois mil réis como ajuda de de sólida estrutura, todo o esplendor de uma era
custo às festas e procissões a que tivessem de de profunda fé católica.
assistir, pois assim era de costume nas demais Até mesmo a lenda já envolveu o antigo
câmaras existentes. monumento. Conta-se que a imagem de São
Aos 16 de abril de 1742, o Senado da Câ- José de Ribamar foi, em remotíssima época,
mara de Aquiraz representa em termos enérgi- encontrada nas alvas praias da cidade histórica
cos ao Bispo de Pernambuco, D. Luís de Santa e que devendo ser enviada para outra Paróquia,
Tereza, contra os atos de descortezia e arbitrarie- não houve quem a podesse conduzir. Há pouca
dades praticados pelo Padre Visitador que os distância do Aquiraz, o seu peso era tão enorme
desconsiderou nas festas e procissões. que nem três juntas de bois poderam arrastar
E, assim, vivia a heróica Câmara do Aqui- o carro em que era conduzida. Voltou, assim,
raz. A ninguém temia. A
todos censurava. ao antigo nicho, onde se encontra adorada pelos
Nunca se dobrou diante dos poderes do dia e até seus fieis vassalos.
mesmo chegou a ser, coletivamente, encarcerada Mas, reportando-nos à Igreja, vale-nos afir-
e açoitada por haver representado contra o mar que a sua construção data de 1769. As suas
poderoso Capitão-mór que, logo depois, era de- paredes são qualquer coisa de enorme, pois me-
mitido e processado. Quanta diferença para dem mais de 1 metro de espessura. As portas
os dias que correm . . são trabalhadas em madeira de lei e o seu inte-
rior bem revela o gosto artístico dos nossos
O HOSPÍCIO DOS JESUÍTAS antepassados.
Na sua maioria, as imagens são as do an-
Por entre ralo matagal e sobre um chão tigo Hospício dos Jesuítas, o que constitui he-
agreste, erguem-se, ainda em nosos dias, as ruí- rança riquíssima, de incalculável valor. A série
nas do que foi, há mais de dois séculos, o fa- de decorações sobre motivos religiosos encan-
moso Hospício dos Jesuítas. Como sabemos, a tam ao visitante mais exigente. As cores tem a
ação dos irmãos de Santo Inácio de Loyola vivacidade das pinturas de hoje. Parecem que
se fez sentir, além da expedição malograda foram decoradas nos tempos que correm, tal é
dos Padres Francisco Pinto e Luis Figuei- a nitidez e o colorido que o artista imprimiu à
ra, através dos colégios da Ibiapaba e deste sua obra.
outro, construído no Aquiraz, no início do sé- Ressalte-se, porém, que a Matriz possui ri-
culo dezessete. quíssimas alfaias, todas trabalhadas por pri-
Por volta de 1726, chegavam ao pequeno For- morosos artistas da época colonial. Linda pre-
te, os padres João Guedes, Manuel Batista, Félix ciosidade é a grande cruz de prata maciça, pe-
Capelli e Irmão Manuel da Luz. Vinham com sando nada menos de vinte e cinco quilos, toda
a Ordem Régia determinando que se fundasse, no trabalhada e que é uma raridade de fino gosto
Ceará, um hospício para 10 padres da congre- e legítimo orgulho para os filhos daquela terra.
gação. Com a visita do Capitão-mór João de A custódia, que sempre acompanha os atos re-
Barros Braga, foram-se para o Aquiraz, onde ligiosos de maior solenidade, é toda de prata ma-
receberam amplo terreno com a única condição ciça, pesando mais de três quilos do precioso
de celebrarem missa perpétua, aos sábados, em metal.
intenção de Braga e de seus parentes vivos e Percorrendo, com o Padre Gerardo Andrade
mortos. Ponte, atual Vigário da Paróquia, o velho e se-
cular templo do Aquiraz, tivemos, forçosamente,
Manuel Batista e Félix Capelli foram os cons- que sentir o esplendor do longínquo passado que
trutores da magnifica obra. Hoje, apenas três
fez da pequenina e brejeira cidade a Capital do
paredões, desnudos, gastos pelo tempo e que for-
Estado . .

mavam a sacristia e as laterais, é o que resta


da construção. Pelo que nos foi dado observar, AS CASAS DA CAMARÁ E DOS GOVER-
podemos concluir que era de sólida estrutura, NADORES
toda levantada com enormes tijolos e pau-ferro,
madeira de lei muito usada na época colonial. Outro interessante monumento da cidade é a
Da Igreja, também construída à mesma épo- atual Casa da Câmara. Também secular, a sua
ca, anexa ao convento, nada mais resta, a não construção é sólida e desafia os tempos. Atra-
ser os alicerces cobertos por rasteira vegetação. vés de sua idade, vamos encontrar quase a exata
medida de existência da pequena urbs, pois é
A IGREJA-MATRIZ antiquíssima. Algumas reformas já deforma-
ram o seu antigo aspecto, porém, o seu con-
Quem visita as Igrejas do Recife e de Salva- junto deixa transparecer todo o apogeu de uma
dor não pode deixar de exprimir a admiração gloriosa e agitada vida política. Uma de suas
que nos causam a beleza e o fulgor destas obras preciosidades, a mesa de jacarandá que serviu
primas de época colonial. O estilo, a imponên- aos Capitães-móres, encontra-se atualmente, no
cia, a solidez e o colorido das imagens e pintu- Museu histórico do Estado.
ras, constituem orgulho legítimo de nossas tra- Câmara valente esta que, uma vez, foi amea-
dições de fé. çada de degredo perpétuo para Bengala, caso
No Ceará, embora que em número mais re- insistisse na campanha contra certo Capitão-mór.
duzido, temos também magníficos templos histó- Mais além, porém próximo da Matriz, pode-
ricos de rico valor. Ai estão as Igrejas de mos encontrar, ainda, a antiga residência dos
Aracatí, Icó, Quixeramobim e Sobral. governadores. Completamente transformada, ain-
Aquiraz não me deixa levar a palma, po- da deixa ao visitante a impressão de que foi
rém, para outro município, por isso que a sua num passado distante . .
30

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.

31

ARACATÍ
MONUMENTO DE TRADIÇÕES DA ÉRA COLONIAL
DE SÃO JOSÉ DO PORTO DOS BARCOS À SANTA CRUZ
DO ARACATÍ — BARBA ALARDO E AZEVEDO DE MON-
TAURY — AS XARQUEADAS — 170 LOJAS, 25 MIL,
3 MEL, PELICAS E 60 MDL VAQUETAS — TRISTÃO
BOIS,
GONÇALVES BOMBARDEOU A CDDADE — ENFORCA-
MENTOS — ESTRADA DE FERRO — BERÇO DE NOTÁ-
VEIS FILHOS DO CEARA

DEMORANDO à margem
das tranquilas depois de receber a patente de Capitão-mór que
águas do assentada numa vasta
rio Jaguaribe, lhe outorgara a Corte de Madrid, parte da Pa-
planície de várzeas sem fim, por entre carnau- raíba para desalojar os franceses, estabelecidos
bais farfalhantes, ergue-se a senhorial e herál- no Maranhão.
dica cidade do Aracatí. A valorosa e brava expedição se dividira em
Rica de tradição, orgulhosa do seu passado, dois grupos, um dos quais, composto de dois
berço de fina nobreza, a terra de Paula Ney caravelões, seguira diretamente para o rio Ja-
traduz ainda, na sua paisagem atual, todo o faus- guaribe. Pêro Coelho veio por terra e ajuntou-
to e o esplendor de uma éra suntuosa. se à tropa nas margens do referido rio.
De longe já se lhe avista o evocativo torrea- Estando a região em pé de guerra, Pêro
me das igrejas seculares, obras de fino gosto, in- Coelho resolve demorar para pacificar os indíge-
dicando ao visitante que ali já imperou, em lon- nas e levanta, de pau a pique, o fortim a que deu
finqua época, a fé e a crença de uma sociedade o nome de São Lourenço, por estar no dia 10 de
colonial.. agosto de 1603.
Quem lhe transpõe os umbrais, vive a histó- Principiara, assim, a ação dos homens bran-
ria do Ceará, por isso que o encanto e a beleza de cos à margem do Rio dos Jaguares, em exce-
um glorioso passado vão se sucedendo à propor- lente eseguro local para embarcações e que
ção que entramos em contacto com as suas ruas, mais tarde se chamaria São José do Porto dos
praças, sobradões de azulejos, com grossas pa- Barcos, Cruz das Almas e posteriormente Santa
redes e madeirame lavrado. Cruz do Aracatí.
Aqui é a antiga Casa da Câmara, precioso Mais tarde, Pêro Coelho viveria a mais dra-
monumento histórico; mais além vamos encon- mática tragédia que se registrou em nossa his-
trar as igrejas do Bonfim e do Rosário, com tória, quando procurava alcançar o Forte dos
estilo seiscentista e altares primorosamente tra- Três Reis Magos, no R. Grande do Norte.
balhados a ouro; acolá são construções gigan-
tescas que serviram de residência a Barões e COLONOS E XARQUEADAS
Comandantes D'Armas ... A
cidade toda é um
relicário de primorosas recordações. Região fertilíssima, toda uma vasta área
Sede de grande empório comercial, a memó- que margeava o rio da colonização cearense co-
ria pode nos oferecer um quadro singular: lojas meçou a ser povoada. Com a expulsão dos ho-
importando a moda de Lisboa para servir à no- landeses do Recife, milhares de colonos portu-
breza do dinheiro e do sangue, com sapatos de gueses, pernambucanos e paraibanos vieram se
velbutina e fivelas de ouro, mantilhas de gaze, estabelecer com fazendas nas várzeas averme-
veludo, cetim, sarja, rudaque e jaqueta; capi- lhadas do baixo Jaguaribe, atingindo o Icó e,
talistas portugueses e pernambucanos com fir- penetrando nos sertões dos Inhamuns.
mas de 150 mil cruzados e negócios de vulto do- O pequeno povoado, porém, começava a se
minando a vida económica da Província; socie- desenvolver, constituindo-se em centro de inte-
dade orgulhosa com professores de latim e reu- resse comercial.
niões elegantes. A população pecuária atingira a um desen-
Vida ruidosa e agitada sob o império de faus- volvimento assombroso. Contavam-se centenas
tosa época teve o Aracatí, a século e meio, sendo de boas fazendas, algumas das quais com duas
então a metrópole do poder, do dinheiro, da cul- a oito mil cabeças de gado ! Tudo passara a ser
tura e da tradição em terras cearenses. fabricado de couro, caracterizando uma época,
como acentuou Capistrano de Abreu.
PÊRO COELHO SENTA A PRIMEIRA PEDRA Nasceu, então, a industrialização da preciosa
riqueza, isto é, passára-se a fabricar a carne
Ao primeiro clarão do século XVn
tentado salgada, em mantas, capaz de suportar grandes
pelo espírito de aventura, Pêro Coelho de Sousa, viagens e que, sendo as primeiras desta es-
.

32

pécie no Brasil, receberam a denominação de sões agitadas, exigiu que fossem integradas, em
xarqueadas. seu município, as terras que, ficando à margem
Houve anos em que se abateram vinte e cin- do rio Jaguaribe, até então pertenciam ao Aqui-
co mil reses. A carne trabalhada nas «oficinas» raz. E foi atendida na justa reclamação.
era embarcada, em grande quantidade, nas su- Em1829, já era apresentado, na Assembleia
macas que aportavam a São José do Porto dos Geral, um projeto dè lei pelo qual se transferia
Barcos. a sede do Governo da Capitania para a Vila
Com a nova indústria, altamente lucrativa, do Aracatí.
se desenvolvera a vida económica e, de momen-
to, se abriram centenas de casas comerciais. ASSEDIO E BOMBARDEIO DA CTOADE
O ALVARÁ DE D. JOÃO V Episodio interessante, na história do Aracatí
é, sem dúvida, o do assédio
e bombardeio da ci-
Núcleo já populoso, vivendo sob o império dade pelas tropas da Confederação do Equa-
de mil e um interesses, com uma grande e de- dor, a inglória revolução que martirizou tan-
senvolvida praça de negócios, donde sobressaiam tos heróis.
educados e altos comerciantes, necessitava de Corria o ano de 1824 e toda a Província es-
ordem e autoridade para assegurar a ordem tava sob a agitação revolucionária dos que não
social.
se conformaram com a dissolução da Constitui-
Atendendo a esta imperiosa necessidade,
ção por Pedro I.
Dom Francisco Ximenes de Aragão. Capitão-mór
José Pereira Filgueiras e Tristão Gonçal-
da Província, ordena que para lá se dirija um ves de Alencar Araripe, o maior vulto da his-
Juiz Ordinário e um Tabelião da Vila do Aquiraz.
tória do Ceará, dominavem pelo poder da força
Posteriormente, porém, por proposta do
e das convicções ideológicas. De momento para
Ouvidor Manuel José Faria e por Resolução do
outro todo o Ceará, através da maioria das
Conselho Ultramarino, foi criada a Vila de
Câmaras Municipais, apoiara a Confederação 1

Santa Cruz do Aracatí, por Ordem R.égia da- .

tada de 11 de abril de 1747, sendo instalada,


A resistência no sul, porém, começou a es-
tremecer os alicerces do governo revolucionário
pelo mesmo Ouvidor, aos 10 de fevereiro de
e começou a contra-revolução.
1748.
Houve necessidade de Filgueiras no inte-
OPINIÕES DE MONTAURY E BARBA rior da Província e, êle partiu incontinente.
ALARDO Tristão Gonçalves lança-se à zona jaguari-
bana, diretamente para Aracatí. Ao raiar do
Em 1782, no dever que o cargo impunha, o dia 17 de outubro de 1824, o bravo que derro-,
Capitão-mór Azevedo* de Montaury passa a per- tara Fidié, assedia a cidade e assesta-lhe as
correr toda a vasta Capitania do Ceará Grande... baterias.
Ao chegar em Aracatí, grande foi a sua sur- Defende o Aracatí, opondo tenaz resistên-
presa ao se deparar com a mais florescente Vila cia, o Tenente Luís Chaves. A luta durou algu-
do interior, onde nobreza e povo viviam do tra- mas horas, sorrindo a vitória para as tropas
balho e para o trabalho, numa azáfama tremen- de Tristão.
da, em agitada vida de um centro com mais Mas, ao penetrar na cidade esta estava
de duas mil almas. completamente deserta. Toda a população fu-
Regessou, então, em longo Relatório Provin- gira, comandada pelo Tenente Luís, rumo à
cial, que de todas as Vilas da Capitania a que Mossoró.
mais merecia esta categoria era a do Aracatí, Arriada a bandeira imperial, Tristão Gonçal-
em vista de nela se desenvolver preciosa riqueza ves manda subir ao mastro a bandeira da Con-
e o seu povo ser bom e pacato. Ressaltou a ex- federação e instala o seu Quartel General no
celência dos prédios, dentre os quais o da Casa centro da cidade conquistada.
da Câmara, por ser de sólida e espaçosa cons- Mal sabia que esta seria a sua última vi-
trução. tória, pois logo mais tombaria, como bravo, no
Em 1812, Barba Alardo, Governador, nas combate de Santa Rosa.
suas «Memórias da Capitania do Ceará Grande»,
nos descreve o Aracatí com entusiasmo e ex- ENFORCAMENTOS EM PRAÇA PÚBLICA
celente impressão, visto tratar-se de uma gran-
de e populosa Vila, com ricos templos, ruas lar- Hoje, não mais se leva ao patíbulo, autores
gas, comércio que abrangia as praças do Recife de crimes bárbaros. Ao tempo do Brasil Co-
e de todo o Carirí, passando por Icó. Com mais lónia e Império, a forca tinha o seu lugar de
de dois mil moradores, três companhias de regi- destaque dentro da sociedade que exigia a vida
mento e oito ditos de ordenanças, é um núcleo dos tarados.
de grande progresso». O Aracatí não fugiu à regra e teve os seus
Sendo, na ordem cronológica, o quarto mu- préstitos famosos, com dobres de finados, po-
nicípio do Ceará, Aracatí passara, na ordem varéu à rua e sentenciado com camisa branca
económica, a ser o primeiro da Capitania. Trinta e corda ao pescoço . .

barcos estavam constantemente carregando em Dentre as execuções, as mais dramáticas


seu porto. O comércio negociava diretamente foram as do preto Luís e de Domiciliano Francis-
com Lisboa. co José.
O desenvolvimento chegou a tal ponto que Em ambos os casos, tôdb o povo saiu para
se erigiu uma Alfandega e a Câmara, em ses- a praça e presenciou o desenrolar da tragédia.
CASCAVEL — Igreja-Matriz

._. IffiÉ:

BATURITÉ — Colégio Domingos


Sávio e Igreja-Maflriz

MRS
CAMPOS SALES — Praça
principal da cidade

BATURITÉ — Aspecto de uma


das praças principais ; casa
histórica donde discursou José
do Patrocinio; Colégio dos Je-
suitas
33

Luís, negro robusto, solteiro e sapateiro, Houve, ainda, posteriormente, uma tenta-
era escravo de Joaquina Eufrazia de Almeida. tiva de revitalização da vida económica do Ara-
Morrendo de amores por outra escrava de nome catí e que, se tivesse vingado, teria transfor-
Iria, esta nunca lhe correspondera, até o dia mado esta cidade num dos maiores empórios
fatal do seu bárbaro crime. Tendo Iria levado atuais de todo o nordeste: a construção de uma
uma bofetada de Tomás Pinto Pereira e para estrada de ferro que ligaria Fortim, a dois qui-
vingar-se do tremendo insulto procurou Luís lómetros da cidade, à cidade do Icó, mima ex-
e lhe prometeu satisfazer os desejos caso liqui- tensão de 50 léguas por todo o vale jagaaribano
dasse a Tomás. Na noite de 6 de dezembro de e servindo Jaguaruana, Russas, Limoeiro, São
1838, segundo relata Benedito dos Santos, To- João, Jaguaribe e Icó.
más caía ao solo com 14 facadas mortais. O projeto ficou somente na bôa vontade do
Instaurado processo, Luís é condenado à dr. João Ernesto Viriato de Medeiros. Seria,
morte e Iria à prisão perpétua. A
execução de inegavelmente, uma grande estrada para o Ceará.
Luís teve lugar na rua do Rosário.
Domiciliano Francisco José, também escra- O ARACATÍ DE HOJE
vo, assassinara,juntamente com a mulher Liv>zi
Felícia do Nascimento o marido desta, em sua ííâo conheçouma terra que tenha dado tan-
própria cama. O crime alcançara grande re- ao Ceará como Aracatí. Vamos
tos 1/usú'es filhos
percussão pela sua brutalidade. a íuiía enumeração suscinta: Paula Ney, Adolfo
Condenado, Domiciliano subiu ao patíbulo, CanuAhA, Pert-o Pereira, Castro e Silva, Júlio
numa clara manhã, na Praça do Pelourinho, Cefi&x VistíuBúe do Jaguaribe, José Avelino, Cos-
Cruz das Almas. No momento da execução que- ta Barros, António Teodorico da Costa, Dragão
bra-se a corda e o povo prorrompe em soluços do Mar, Major Facundo, Liberato Barroso, Bení
e pedidos de perdão. Carvalho e muitos outros.
Dando, porém, prosseguimento à fatídica
sentença, o preto exala o último suspiro pen- Com tantos e tão gloriosos rebentos, o tem-
durado na forca e com as costas para a igreja, po mesmo não poderia abater o gigante de ou-
como era de costume na época. trora, como o fizera com o Aquiraz.
Hoje, a cidade é moderna, com ruas calça-
DECADÊNCIA E ESTRADA DE FERRO das a paralelepípedo, boa luz elétrica, jardins
públicos, excelentes colégios, com imprensa se-
Assim era o Aracatí nos meados do século manal, vida intelectual intensa, política agitada,
XIX. Por longos anos continuou a sua supre- interesse permanente pelas coisas e fatos lo-
macia na Província até que pela lei n. 224, de cais, boas firmas comerciais, fábricas, sociedade
25 de outubro de 1842, é elevada à categoria distinta e acolhedora, vida religiosa intensa.
de cidade, governando o Ceará, nesta ocasião,
José Joaquim Coelho, Brigadeiro.
Praça comercial com ramificações econó-
micas em todo o vasto Jaguaribe. Aracatí é alto
Com a construção da estrada de ferro para
produtor de sal, cera de carnaúba e algodão.
Baturité e com a instalação do Porto de For-
taleza, começou o seu declínio. As secas que A herança de glória, esplendor e riqueza não
atingiram a região também concorreram para foi olvidada. Os filhos desta gloriosa terra
a sua decadência, visto como atingiram a sua têm sabido conservar o legadorecebido, por isso
maior riqueza, que era a pecuária. que ela é hoje a «Rainha do Jaguaribe>.

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ANTIGA CANOA, DESMEMBROU-SE DE BATURITÉ
DATAS DE SESMARIAS E ANTIGOS POVOADORES —
O RIACHO QUE ERGUEU O POVOADO A FERROVIA —
DE 1880 —
O DECRETO DE MAIORIDADE, EM 1890 —
DOM MANUEL CRIA A PARÓQUIA LUTA DE FRON- —
TEIRAS COM BATURITÉ —
NOS DIAS QUE CORREM

O POVOAMENTO do atual município de sendo, destarte, uma das mais novas sedes mu-
Aracoiaba data dos idos de 1735, quando forani nicipais do interiox cearense.
concedidas as datas de sesmarias pelo então Ca-
pitão Mór Domingos de Simão Jurdão, a Pedro A SIMPATIA DE DOM MANUEL
da Rocha Maciel.
Entrementes, outros povoadores vieram se Aracoiaba dista pouco mais de 90 quilóme-
estabelecer à margem do riacho Aracoiaba, cujas tros de Fortaleza. O município produz em larga
ribeiras se prestavam admiravelmente para o escala algodão e cereais, sendo digno de registro
cultivo de cereais e cana de açúcar. a sua produção de cera de carnaúba.
Ao correr dos anos, foi se formando pequeno Contam-se, às centenas, as boas proprieda-
arraial a que deram o nome de Canoa. Nesta des rurais existentes. Três pequenos povoa-
época florescia a Vila de Monte Mór, hoje Ba- dos foram se desenvolvendo no interior do ter-
turité, de cujo território fazia parte, até bem ritório municipal: Curupira, Ocára e Vasantes,
pouco tempo, o atual município de Aracoiaba. hoje elevadas à vilas.
Aos 14 de fevereiro de 1880, um fato veria Gente muito trabalhadora, ordeira, o povo
dar grande progresso à pequena povoação. Re- de Aracoiaba viveu, até aos nossos dias, dispen-
ferimo-nos à inauguração da estação da ferro- sando o concurso dos governos, de vez que com-
via, feita quando se encontrava à frente da então pletamente esquecido. Recentemente é que lhe
Estrada de Ferro de Baturité, o engenheiro Car- foi inaugurado um edifício público, e isto mesmo
los Alberto Mórsing. depois de anos de luta.
Daí por diante, Canoa tomou novos rumos, D. Manuel da Silva Gomes, de saudosa me-
prosperando do dia para a noite. mória, tinha, assim, por este município, um
grande desvelo. Lutando até contra certas in-
VELA EM 1890 compreensões, não se deu por vencido e, aos 22
de maio de 1914, criava nova freguesia na sua
Dia vai, dia vem, os líderes do povoado prin- Diocese, com a denominação de Nossa Senhora
cipiaram a luta pela separação de Baturité e da Conceição e cujo território compreendia o
consequente elevação à Vila, com território in- do município de Aracoiaba.
dependente formando município. Foi outro fatôr de progresso para a locali-
O Ceará, por esta época via-se envolvido dade, visto como os fiéis passaram a ter a sua
ainda na agitação que o novo regime republi- Matriz, independente da de Baturité, com vi-
cano, recem-instalado, outorgava à antiga Pro-
gário na própria sede municipal.
víncia. Havia, por conseguinte, necessidade de Hoje, ergue-se simpático e singelo templo
se prestigiar o sertão, atendendo-lhe as pre-
numa das principais praças da cidade, recente-
tensões.
mente embelezada com um moderno jardim man-
dado construir pelo prefeito Raimundo Freitas
Assim é que, no governo de Luís António Costa.
Ferraz, é baixado o Decreto n. 44, com data de
16 de agosto de 1890, pelo qual a povoação de NOS DIAS QUE CORREM
Canoa ficava elevada à categoria de Vila e
constituido o município de Aracoiaba. A vila A cidade de Aracoiaba, apesar das secas que
recebera idêntica denominação. têm castigado a economia do município, apresen-
A instalação solene, deu-se aos 7 de setem- ta alguns indícios de progresso. Dentre estes,
bro do mesmo ano, por entre gerais alegrias vale salientar, a construção de uma beia Praça,
dos habitantes da antiga Canoa. . recentemente inaugurada, a edificação de um
Sofrendo uma grande injustiça, o município Grupo Escolar moderno, a instalação de exce-
foi extinto pelo Decreto 193, de 20 de maio de lente luz elétrica, a pavimentação das ruas. prin-
1931. cipais e outras realizações que, aos pouco e pou-
Em 1933, aos 4 de dezembro é restaurado e, co, concorrem para modificar a fisionomia da
recentemente, isto é, aos 20 de dezembro de sede municipal dando-lhe um aspecto moderno
1938, foi a vila elevada à categoria de cidade, e atraente.

H
. . .

35

Conta com boas residências, ruas largas, ar- a honra da independência municipal que estava
borizadas, várias praças, bons estabelecimentos sendo ultrajada. E lá se foi o barulhão.
. .

comerciais, farmácias, fábricas, sendo digno de O certo é que a coisa esteve perto de uma
registro o fato de se está formando uma men- pequena batalha, por isso que eram vistos ca-
talidade progressista no seio dos seus líderes de minhões e jipes cheios de leais defensores da
maior projeção. soberania municipal, alguns bem armados ! . .

Faz pouco, houve tremenda luta entre Ba-


turité, município rico, grande e senhor de ex-
No final de contas, os dois prefeitos so
entenderam. Edgy Távora Arruda e Raimundo
pressiva população, e Aracoiaba. Foi os dia-
Freitas Costa levaram a bom termo a disputa
bos ! . .
territorial. Foi sentado novo marco e resguar-
Oslimites não estavam bem esclarecidos
dada a integridade territorial de ambos os mu-
entre o território dos dois municípios. Aracoiaba
nicípios. .

queixou-se de que Baturité lhe estava invadin-


do as fronteiras. A
lei n. 1.153, recentemente Deu-se por finda a luta que já se esboçava
publicada, balburdiou a divisão territorial do tremenda, na terra do Dr. António Horácio Pe-
Ceará de maneira pavorosa. E a luta reclamou reira, deputado federal.

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36

AR ARIPE
TERRA DO CORONEL PEDRO SILVINO
ANTIGO BREJO SECO — NO TEMPO DO IMPÉRIO —
A FREGUESIA DE SANTO ANTÓNIO, INSTITUO) A POR
D. LUÍS — IGREJA CONSTRUÍDA EM 75 DIAS — A
CIDADE DOS NOSSOS DIAS — FILHOS ILUSTRES

O MUNICÍPIO de Araripe fica situado no municípios circunvizinhos, tais como Assaré,


cimo da serra que tem o mesmo nome, numa Campos Sales, Saboeiro e outros.
altitude de 550 metros acima do nível do mar. Para não fugirmos a verdade histórica, so-
Tem uma população de mais de 16.000 habitan- mos obrigados a confessar que, nesta quadra de
tes e goza de clima agradável. sua crónica realmente, o Araripe teve
política,
A sua história política é cheia de altos e prestígio era sempre ouvido na conjuntura
e
baixos, por isso que tendo sido elevado a muni- administrativa da então Província do Ceará.
cípio várias vezes, foi extinto, também várias
vezes, conseguindo firmar a sua definitiva maio- CEL. PEDRO SILVINO DE ALENCAR
ridade pelo decreto n. 1.540, de 3 de maio de
1935, assinado pelo então Interventor Federal, Já na época republicana, outro foi o líder
Coronel Felipe Moreira Lima. Com a queda da monarquia,
político de Araripe.
Em traços rápidos, vejamos a sua evolução surgiram novos dirigentes da vida comunal no
política: pela lei 1.661, de 3 de agosto de 1875. interior. Com a realização dos pleitos, de princí-
foi elevado a município, tendo como sede a anti pio levados a termo quase sempre à custa do
ga povoação de Brejo Soco, elevada à vila. O famoso «bico da pena», os costumes se modifi-
seu território, foi desmembrado do de Assaré. caram de maneira total.
Em 1899, foi extinto para ser restaurado em É nesta oportunidade que surge a figura
1905, na quadra republicana. Em maio de 1931, brava e destemida do Coronel Pedro António
sem justo motivo, é novamente extinto e o seu Silvino, um dos arautos, no interior do Estado,
território passa a pertencer a Campos Sales. da famosa política aciolina que dominou o Cea-
Afinal, com muita justiça, foi restaurada a sua rá por vinte longos anos.
autonomia, em 1935, no governo já citado, do Cel. Com o surgir do prestígio do Padre Cícero
Moreira Lima. Romão Batista, na zona sul do Estado, e sob o
A sua atual denominação de Araripe, data domínio do caudilho Floro Bartolomeu da Costa,
da lei n. 2.172, de 23 de agosto de 188Q ainda floresceu em toda a sua pujança, o chamado coro-
no regime imperial. nelismo político, cujo ápice foi alcançado quando
da assinatura da famosa Ata, subscrita por pre-
NO TEMPO DO IMPÉRIO feitos e presidentes de Câmaras, além de chefes
eleitorais, de toda a zona aproximada da Meca
Município longínquo, tem o seu progresso do Carirí. E Pedro Silvino de Alencar, chefe
procastinado por falta de ligações rodoviárias incontéste do Araripe, lá estivera.
que lhe permitam melhor desenvolvimento, vi- Por ocasião da Revolução contra o Presiden-
vendo, assim, quase segregado da vida do Estado. te Franco Rabelo, em 1914, procurou-se um ho-
Todavia, Araripe, já teve dias áureos, nota- mem para dirigir bravo e aguerrido batalhão
damente ao tempo da quadra monárquica, quan- de jagunços para tomar Fortaleza. Além de ou-
do a política lhe dominou inteiramente as ativi- tros, que serviram para a árdua missão, o Coronel
dades. Pedro Silvino foi um deles.
Como é sabido, os partidos naquela época Conta-se um fato pitoresco. Tendo assumido
eram dois e se denominavam Liberal e Conser- o governo Benjamin Barroso, certo dia, lhe foi
dor. Em torno destas duas facções estavam divi- feita tremenda queixa com relação aos homens
didos os brasileiros, e nos sertões a luta sempre de Pedro Silvino. Estavam fazendo absurdos e
foi acesa como nos dias que correm. Havia uma não tinha quem os dominasse.
diferença digna de ser ressaltada: a política era Benjamin, homem prático e de pouca con-
feita com mais vergonha e os seus dirigentes versa, pega do telefone e liga para Pedro Sil-
eram homens de real valor e cuja palavra, em- vino. Conversa vai, conversa vem, a coisa
penhada, era verbo cumprido. assim terminou:
Araripe, que então se chamava Brejo Seco, — Pois é isto, «seu> Presidente Benjamin:
denominação que devia ter consei-vado, era lide- quero saber quais são as ordens para transmi-
rada, entre outros, pelo Cel. Nicolau de Albu- ti-las aos meus homens. A coisa está azedando
querque Arrais, homem de tempera forte, chefe muito.

.

político de grande projeção e que dominava os Fique sabendo, «seu> Pedro Silvino que
.

37

não estou aqui para aguentar desaforos. A mi- que José Cavalcante. Grande era a massa de
nha autoridade será mantida e respeitada, custe fiéisque se deslocava para ouvi-lo. Dia vai, dia
o que custar. Tudo já corre em paz e, assim vem, o povo entusiasmado levantou em 75 dias
sendo, você está demitido do comando do bata- apenas a igreja Matriz que, anos depois sofren-
lhão Ouviu ? do algumas reformas, ainda hoje existe.
— O que, homem
!

? !

O telefone fora desligado, e a demissão fei- FILHOS ILUSTRES


ta e acabada . .

Um
dos filhos de maior destaque do Araripe
VBOA RELIGIOSA é Alexandre Arrais de Alencar, homem inteli-
gente embora que modesto, jornalista, antigo
O povo de Araripe é gente bôa e afável, qua- prefeito do Crato, cidade onde viveu por longos
lidades, aliás, características da nossa gente anos. Participou ativamente da vida política
do sertão. do Estado e nasceu aos 13 de fevereiro de 1895,
O município sempre viveu em paz. Como tendo falecido recentemente, depois de prestar
em toda cidade do interior, a sua formação é relevantes serviços à comunidade cratense, que
católica, devendo-se ao apostolado cristão gran- o tinha em grande estima.
de soma de benefícios locais. Francisco Vieira de Alencar, nascido no Ara-
A Freguesia foi instituída pelo nosso pri- ripe, é hoje superintendente do Banco do Brasil,
meiro Bispo, D. Luís António dos Santos. O seu
na Capital da República.
território foi desmembrado da antiga freguesia
Claro de Andrade Júnior foi poeta de grande
de Assará, e o ato data de 5 de novembro de inspiração, falecendo em agosto de 1931, cercado
1870. Foi elevada à categoria de Matriz a an-
do carinho de dilétos amigos.
tiga Capela de Santo António de Brejo Seco,
denominação primitiva de Araripe. Os drs. José Arrais de Alencar e José de
Foi o seu primeiro vigário o Padre Antó- Alencar Arrais, respectivamente médico e bacha-
nio Pereira de Oliveira Alencar. Logo mais rel, ocupam destacadas funções públicas no Rio.

vieram os padres António Alexandrino de Alen- Registre-se, ainda, os nomes de Vanfrido


car e Francisco Alexandrino de Alencar, que Monte Arrais, antigo Interventor do município;
governou o paroquiato durante 23 anos, pelo que Ranulfo Salatiel, chefe político local; Carlos Sa-
deixou grandes benefícios na terra. latiel, político de projeção, José Loiola de Alen-
Conta a crónica que, nos idos de 1871, um car, atual prefeito do município e cidadão que
fato interessante ocorreu na cidade. É que an- goza de conceito e estima geral e Luís Gonzaga
dava em pregação o Padre-missionário Henri- de Figueiredo, ex-prefeito e lider politico.

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ASS ARE
ANTIGA FREGUESIA DE SANTANA DO BREJO GRANDE
NAS RIBEIRAS DO BASTIÕES E SERRANIA DO QUIN-
CUNCA — A CAPELA DE N. S. DAS DORES ERIGIDA EM
MATRIZ — VILANOVA, O AMIGO DE ANTÓNIO CON-
SELHEIRO — O MONSENHOR ALEXANDRINO DE ALEN-
CAR — ELEIÇÃO DEBAIXO DE PANCADARIA, AO TEM-
PO DO FAMOSO JUIZ BITENCOURT — RIBEIROS, ONO-
FRES E CATONHOS — UM PADRE, HOMEM DE VER-
DADE — NOS DIAS QUE CORREM — FILHOS ILUSTRES

O MUNICÍPIO de Assaré data da lei n. Senhora das DÔres, e que datava de alguns anos
1.152, de 19 de julho de 1865, época em que o atrás.
Ceará era governado pelo famoso Presidente Vai daí, pela lei n. 520, de 4 de dezembro
Francisco Inácio Marcondes Homem de Melo. de 1850, ser transferida para a atual cidade de
Está encravado entre as ribeiras de dois Assaré.
rios, o Bastiões e o Cariú, que outorgam excelen- O fato, como era de se esperar, muito con-
tes terras para o plantio de cereais. Há, por tribuiu para o desenvolvimento do pequeno po-
outro lado, boas propriedades encravadas nas ra- voado. Tanto assim que, quinze anos mais tarde,
mificações da Serra do Araripe, que vem ter ao Assaré era elevado à categoria de município e
território de Assaré. o povoado subia para vila.
A Serra do Quincuncá lhe forma grande Hoje, a Freguesia compreende a Matriz e
parte do território, o que lhe permite regular três outras capelas: N. S. das Angustias, erigi-
produção nas épocas de bons invernos, visto da em 1850, na vila Tarrafas; N. S. do Per-
como os seus habitantes são hábeis no laborar pétuo Socorro, que data de 7 de junho de 1920,
a gleba. na vila Amaro e, finalmente, São Sebastião', que
Possui, assim, terras de sertão e de serra, data de igual período, localizada na vila Arara.
pelo que devia ser um dos mais ricos e prósperos É vigário geral, atualmente, o Padre Aga-
municípios do Ceará. Todavia, isto não acontece, menon Matos Coelho, homem de reconhecida
notadamente porque Assaré não possui, ainda, operosidade e que tem envidado o melhoT dos
vias de transporte capazes de favorecerem à sua seus esforços pelo desenvolvimento da paróquia.
economia. Têmpera forte, o Padre Agamenon é d©
Vai daí ser a sua sede, a cidade de Assaré, uma disposição admirável no lutar contra os
relativamente precária no que tange a movi- que lhe procuram envolver na política. Sempre
mento comercial e progresso material. fiel aos princípios da igreja, goza de grande
No entretanto, é uma urbs simpática, aco- prestígio em todo o município. De palestra
lhedora, com várias ruas e praças, notando-se-lhe agradável, é um dos lideres de maior projeção
algumas casas de melhor porte, igreja bem cui- em Assaré. fi um padre homem de verdade,
dada, ordeira e de gente muito amável.
Não fossem as secas que lhes têm vergas- VILANOVA, O AMIGO DE CONSELHEERO
tado a alma de maneira impiedosa, certamente
já teria atingido a um índice de progresso mais É o admirável estilista Padre Azarias So-
elevado. breira quem no-lo -revela, com detalhes. Trata-
Desmembrado do município de Saboeiro, o se de um assaréense que se não distinguiu-se
seu território é vasto, por isso que com extensão pelas letras, fê-lo pela bravura e pelo destemor
supericT a 1.600 km2. com que lutou no famoso Arraial de Canudos.
Nascido no Assaré, António Vilanova, que
CAPELA ERIGDDA EM MATRIZ é citado várias vezes por Euclides da Cunha, no
seu livro «Os Sertões», demandou aos sertões
Nos idos de 1838, é criada a freguesia sob baianos e lá se estabeleceu com pequeno co-
a invocação de Santa Ana do Brejo Grande, com mércio. Dia vai, dia vem, a rogos e chamados,
território retirado da paróquia do Crato. resolve sentar moradia no celebre Arraial, que
Com o correr do tempo positivou-se a neces- progredia sob o verbo de António Conselheiro.
sidade- da transferência da sede do paroquiato. Tudo ia no melhor dos mundos: comerciante,
E que existia a povoação do Assaré, então flo- aumentando o pequeno cabedal, exercendo fun-
rescente, com casaria de beira e bica, arruado ção idêntica a de juiz, foi chamado pelo Con-
em formação e já com capelania erigida à Nossa selheiro na hora das vacas magras. E assumiu
. . .

39

o comando de determinado setor. E lutou go diretor de imprensa em Fortaleza, homem de


como um valente, como um cearense de ver- combate, pena vibrante, teve dias áureos nas
dade. lutas políticas do Ceará. Hoje é Ministro no
Vendo a causa perdida, com o Conselheiro Rio de Janeiro. Faz pouco tempo dirigiu os
já ferido, o Arraial arrazado completamente, destinos do Estado, nomeado que foi Interventor
pediu licença para evadir-se, no que foi aten- Federal pelo Presidente Eurico Dutra. Reali-
dido pelo chefe supremo da extraordinária zou uma excelente administração, por isso que
Meca. criteriosa e equidistante das lutas políticas.
Veio têr aos sertões do Assaré. Principiou Vem, em seguida, o Monsenhor António Ale-
vida neva, em sua propriedade rural. Estala a xandrino de Alencar, que foi vigário de Ara-
revolta do Juazeiro. Floro e o Padre Cícero ripe, Qúixadá e Crato, cidade onde realizou
insistem pela sua cooperação no comandar a obras notáveis. Foi politico militante do que
jagunçada. Nega-se terminantemente, mas lan- lhe adveio desempenhar mandato na Assembleia
ça os fundamentos das tremendas fortificações Provincial.
da cidadela do Carirí no instruir a abertura de São, também, filhos de Assaré, entre outros:
valados enormes que garantiram Juazeiro das Padres Manuel de Lima Araújo, Vicente Só-
incursões inimigas. ter de Alencar, homem culto e antigo Vigário-
Foi a sua última participação em luta con- do Crato; Germano Antenor de Araújo; Joaquim
tra o governo, pois fizera jura de nunca mais Sóter de Alencar e Custódio Saraiva Leão. Des-
erguer o fuzil contra forças legalistas . . taque-se, ainda, Major Gonçalo de Paiva, Te-
nente-Coronel Waldetrudes do Amarante, distin-
ELEIÇÕES DEBAIXO DE PAU to e estimado oficial da 10* R. M.; Dr. Gregório
Naziazeno de Paiva, médico; Dogivaldo Ri-
Foi entre 1917 e 1918 e governava o Ceará beiro, bacharel e atual prefeito do município e
o E>r.João Tomé de Sabóia e Silva. A luta entre Evandro Onofre, do ministério público.
aciolistas e rabelistas. Estes, embora mal saíd03
da debacle revolucionária que havia deposto o NOS DIAS QUE CORREM
grande Franco Rabelo, ainda se mexiam com
destemor nos quadros partidários. Assaré é um município cujo progresso ma-
Era juiz de Assaré, o Dr. Alfredo Biten- terial e prosperidade dos seus habitantes está
court, homem temido por suas artimanhas po- na dependência de bons invernos e boas estradas.
líticas. Onde a eleição vitoriosa seria
estivesse, A política não lhe tem favorecido em nada,
a que contasse com seu beneplácito. visto como a maior aspiração da cidade é a
Mas, no Assaré, a coisa correu de modo construção de uma rodovia capaz de lhe assegu-
diverso. Marcada a data do pleito, tratou-se rar melhor comércio e intercâmbio com outras
de constituir a mesa diretora de determinada cidades, e até o presente isto não foi conseguido,
secção. A oposição não ficara satisfeita com apesar da luta envidada pelos líderes locais.
o que fora deliberado. Resta, pois, nascer no seio dos seus dirigen-
Ao correr do dia tudo passava mais ou me- tes um espírito de aliança e interesse comum
nos em paz. Algumas perturbações aqui e ali, em tudo que se relacionar com a prosperidade
sem maior importância. Com a chegada da noite local.
a coisa mudou de figura. Lá pelas tantas, houve Há famílias importantes que se podem con-
rebuliço. Agita-se o povo. O eleitorado es- gregar. Os Onofres, os Ribeiros e os Catonhos
tremece. Era na secção principal. Que foi, que bem podem continuar divididos pelas crenças
não foi, e o barulhão dos diabos começou. . partidárias, mas deve se unirem em torno de
A sala estava iluminada com velas, e não um ideal comum para que possa ser atingido
ficou uma só acesa. Foi um deus-nos-acuda. O o progresso da cidade. Há conquistas urgentes
páu roncou de verdade e até os livros da mesa e indispensáveis a concretizar, tais como Grupo
foram roubados Fraude dos seiscentos dia-
! Escolar, Posto de Saúde, Estradas e Açudagem.
bos aquela do Assaré ao tempo do Juiz Biten- Luís Claraval Catonho, Raul Onofre, que
court. Que a conte, com maiores detalhes, os já dirigiu o município; José Ribeiro. Bel. Ca-
contemporâneos e os que a fizeram, ainda hoje tonho, Tertuliano Claraval, António Paiva, Má-
vivos e mechendo ainda em política ! . . rio Gomes de Matos, Genival Paiva, Euclides
Onofre, José Onofre, Raimundo Onofre de Pai-
FILHOS ILUSTRES va, Dr. Dogivaldo Ribeiro, Dr. Evandro Ono-
fre, podem e devem lutar pela prosperidade do
O maior filho de Assaré é, sem dúvida, o Assaré, porque assim bem o merece o seu povo
Dr. Pedro Firmeza. Jornalista xtrixnaTusa anti' bom, laborioso e ordeiro.

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A CIDADE QUE RESISTIU AOS JAGUNÇOS

O PRETO BENEDITO E O IMPERADOR PEDRO II —


SINOS COM ARMAS IMPERIAIS —
A FAZENDA LOGRA-
DOURO, DE ANTÓNIO LEITE —
O SOBRADO DE XAVIER
DE SOUSA

NAO HA CIDADE do interior cearense que o seu propósito de voltar ao Ceará


lia imperial,

não tenha a sua história para contar. Umas pi- e erigir uma
igrejinha no lugar em que morava,
singulares, na quase totalidade conseguiu ajuda em paramentos, sino com
torescas, outras
heróicas, mas sempre despontando, em todas
elas, armas do império, retratos a óleo dos soberanos
o destemor e o heroísmo do sertanejo e algum dinheiro.
a bravura,
Regressando, com a ajuda de moradores da
na luta contra a agressividade do meio ou contra ribeira, levanta a capela, entronizando São Be-
o próprio homem, quando transformado em
ban-
aterrorizando as populações, depredando nedito, como santo padroeiro do lugar.
doleiro,
Anos mais tarde, Francisco Xavier de Sou-
as fazendas, humilhando famílias e pontificando
sa, herdeiro de David Cardoso dos Santos, e
pela extrema brutalidade de atos inomináveis.
Há, pois, cidades mártires, que viram sofrer para cumprir voto de sua mulher, Dona Maria
tremenda Xavier dos Santos, erige na fazenda denominada
o seu povo, mas que resistiram na
Logradouro, nas proximidades da antiga mora-
adversidade, vencendo a procela e edificando,
dia de Benedito, uma nova capela sob a invoca-
para as gerações futuras, um marco seguro e in-
delével.
ção do Senhor Menino Deus, ainda hoje padroei-
Está, neste caso, a heróica e brava cidade ro de Aurora.
de Aurora, antes chamada Venda, principiada na
Por existir no local uma quitanda, o povo
batizou a localidade de Venda, denominação
modéstia de uma pequena quitanda e, hoje, trans-
que permaneceu por muitos anos, embora lhe
formada numa «urbs» moderna, onde se pode
quisesem chamar Xavielina, em homenagem a
respirar um clima de alta compreensão política,
Francisco Xavier, que edificara um pequeno so-
sem lutas extremas nem inimizades estreitas, de-
brado, onde passara a residir e que ainda existe
mandando um fim comum de plena prosperidade
material e elevado sentido de vida democrática. ao lado da Matriz paroquial.
Se ontem a incompreensão dos homens lhe
fez chorar, hoje, a civilização lhe outorga o sor-
POVOADO, VDLA E CD3ADE
riso franco e acolhedor, deixando que se
observe
Região fértil, com agua abundante nos bons
a felicidade na expressão magnifica das gera-
invernos, de logo a prosperidade lhe presidiu
ções presentes. Ao visitar esta terra admirável,
os destinos. Dos mais longínquos recantos che-
entrando em contacto com os seus filhos, senti
uma profunda alegria por verificar que o seu gavam forasteiros que foram se estabelecendo,
ora com pequenos lotes de terra, ora com casas
pesaroso passado, e a desdita sofrida nos emba-
folhas ao vento, não mais
eram de comércio.
tes desiguais,
Decorridos anos, com o falecimento do Cel.
sombreando a pujança do presente que só per-
Xavier, já em 1864 aparece, em Venda, o Padre
mite a evocação de lendas e tradições que lhes
Agostinho Afonso Ferreira, que realiza melho-
são caras.
ramentos na capelinha.
Aurora resistiu e venceu, foi heróica no so-
Desenvolvido o povoado, os seus habitantes
frimento, mas é hoje uma cidade onde reina
reclamam e conseguem a elevação do lugar à
a paz e a fraternidade entre os homens. categoria de Vila, que passa a denominar-se
Aurora, ficando, assim, como sede de município,
O PRETO BENEDITO JOSÉ DOS SANTOS de acordo com a lei n. 2.047, de 10 de novem-
bro de 1883.
Figura singular de nossa história provin-
cial,Benedito José dos Santos, preto velho leal-
Nomeio da alegria geral, a nova Vila foi
do instalada solenemente, aos 30 de maio de 1885,
doso e valente, sentou moradia na ribeira
Um clérigo ficaria ligado ao progresso de
Salgado. Homem de iniciativas, embora que Aurora: Padre Vicente Pinto Teixeira, homem
modesto e desprovido de conhecimentos, Benedi- que
hábil, trabalhador, de iniciativas, virtuoso e
to tornou-se celebre pela viagem que empreen-
seria o seu primeiro vigário, em virtude da
cria-
deu à Capital do Reino para entrevistax-se com
ção da freguesia.
Pedro II, Imperador do Brasil.
Sendo o bispo do Ceará, o saudoso Dom Joa-
Com dois filhos participantes na guerra quim José Vieira, os habitantes lhe dirigiram
contra o Paraguay, não lhe foi difícil avistar-se
repetidas súplicas pelo que resolveu, por
pro-
com o magnânimo monarca. Expondo, à famí-
.

42

visão datada de 27 de junho de 1893, criar a No sul do Estado esta situação deplorável
Paróquia do Menino Deus de Aurora, com sede atingiu ao seu climax. E Aurora foi vitima, duas
nesta Vila, sede do município do mesmo nome. vezes, de incêndios e depredações.
Recentemente, pela lei n. 448, de 20 de O primeiro encontro deu-se quando as fa-
dezembro de 1939, é que Aurora passou à ca- míMas Cândido e Santos lutaram contra os
tegoria de cidade, posto que, o referido diplo- Leites, potentados de Milagres.
ma legal a que nos referimos, elevou àquela José Inácio do Barro e o Cel. Domingos Fur-
categoria todas as sedes de município do Ceará. tado Leite invadiram a cidade à frente de mais
de trezentos homens armados e municiados.
ESTREITA POLÍTICA LHE PERTURBOU O Este fato foi, mais ou menos, em 1908.
PROGRESSO O Governador Acioli entregou, porém, a
Cândido Ribeiro Campos, pai do conhecido Padre
Nos dias que correm, a política, até certo Januário Campos, a situação local, tendo em
ponto, é fator de progresso. Uma
compreensão vista que Campos gozava, realmente, de grande
melhor das atividades partidárias está come- prestígio em Aurora.
çando a pontificar nos sertões. Já se vislumbra Anos depois, a cidade sofre novo revés. Foi
um melhor sentido de vida democrática, desapa- a invasão da jagunçada, ao mando de Floro
recendo a pouco e pouco o «imperium» do coro- Bartolomeu da Costa, o caudilho baiano que
nelismo que trouxe ao nosso Estado consequên- assentou tenda em Juazeiro.
cias desagradáveis. O Ceará àquela época tremia de medo
Situada em plena zona sertaneja, distando quando ouvia falar em jagunço. Floro havia
da capital do Estado mais de 500 quilómetros, reunido na então cidade mistica o que havia de
ficou Aurora segregada, por longos anos. Prin- pior em matéria de bandoleiros. Os cabras eram
cipiou a participar ativamente da vida política, tremendos . . .

quando os sertões assistiam, temerosos, ao do- Numa vindita cruel aos que acompanhavam
mínio do mais forte. Cândido Campos, foram praticados crimes ino-
Nas suas proximidades, já atingia a certa mináveis não só em Aurora como em Ingazeiras,
maturidade todo o vale do com as suas
Carirí, vila do município. Correu sangue de verdade
cidades bemdesenvolvidas, mas vivendo sob o e, no campo, o que se via eram labaredas liqui-
mandonismo Intolerante que a época propiciava. dando casas de fazendas de coronéis e capitães
No Barro, formara-se o terrível quartel- do mato.
mestre donde sobresaia a figura de José Inácio Estes fatos concorreram grandemente para
de Sousa, Em Missão Velha, a capangagem en- que homens de prestígio em Aurora tivessem
contrava guarida e se comprazia em proezas e sempre, ao seu lado, capangas e cabras dispos-
tropelias que agitavam vasta região, amedron- tos, verdadeiros guardas-costas, sempre prontos
tando meio mundo. Em
Lavras, o cenário não à defesa do chefe, em qualquer terreno. As po-
mudava, atingindo a cores vivas em Milagres, pulações ribeirinhas viviam sobressaltadas.
que vivia sob o predomínio do Coronel Domin-
gos Furtado Leite, chefe de família numerosa ISAÍAS ARRUDA CONTRA OS PAULINOS
e de largo prestigio político.
Aurora estava, assim, situada num circulo Hoje a zona sul do Estado é um céu aberto.
de fogo e de ferro. Tinha que seguir a trilha e Mas, há anos atrás, a coisa era preta. Em Mis-
enveredar, igualmente, pela senda do destemor, são Velha, Isaias Arruda reuniu muita gente . .

da bravura, da intrepidez, para não ser liquidada. Homem temível, teve a protegê-lo o bafejo da
Não recuou e assistiu à formação de che- política, o beneplácito dos chefes e chefetes de
fes políticos do maior prestígio, alguns dos Fortaleza.
quais ainda hoje existem como este admirável Dominando Missão Velha, o Cel. Manuel
Paulo Gonçalves, participantes de toda uma qua- Dantas de Araújo, o governo do desembargador
dra agitada da formação histórica da cidade do Moreira passou a Isaias Arruda a tarefa de pôr
Menino Deus. abaixo, pelas armas, se fosse necessário, o va-
Não se pode, em
justa razão, escurecer que ,
lente e bravo Cel. Dantas. E, de fato, caiu
esta época atrasou um pouco o progresso de Dantas, passando a ser maioral o Coronel Isaias
Aurora. Não lhe tivessem assistido dias amar- Arruda.
gos, esta cidade, hoje, seria uma das melhores Os Paulinos, família numerosa, que residiam
do Estado, posto que a área geográfica do mu- nas cercanias da cidade de Aurora e que eram
nicípio é riquíssima, o seu solo de uma ferti- amigos de Isaias Arruda, ficaram ao lado de Dan-
lidade admirável. Bem atestam os seus excelen- tas. Bastou isto para que Isaias lhes declarasse
tes sítios e ótimas fazendas. guerra aberta e tremenda perseguição.
Em número de 15, os Paulinos tinham dis-
FASE DE DURAS PROVAÇÕES posição para a luta e não sabiam recuar diante
do perigo.
Nos anos que vão de 1900 a 1930, o povo Vários Paulinos tombaram na luta cruenta,
de Aurora viveu horas de duras provações. ora por emboscada, ora a peito descoberto. Um
A politica do Estado vivia na intolerância deles, foi o de nome João, o de mais prestígio
do partido que dominasse a situação e, no «hin- na família. A revolta, então, atingiu o seu
terland», quem estivesse, àquela época, de cima, auge no seio dos restantes. Juraram matar
não dava nem de beber a quem estivesse de Isaias Arruda. Êle, sim, iria pagar pelos cri-
baixo. Dominava o aciolismo através de milha- mes perpetrados contra a família, dantes pa-
res de coronéis prepotentes e vingativos, esta cata, ordeira e trabalhadora.
é que é a verdade núa e crua. Num belo dia, quando o povaréu se reunia

noa wêmbsê
. . . . .

43

à espera do trem horário que faria parada na grande, pois a certa esperança do famoso te-
estação de Aurora, consumou-se a tragédia já souro havia custado «sangue, suor e lagrimas». .

esperada. O Conde Adolfo, que se casara em Juazei-


Alguns Paulinos, armados até os dentes, ro, internara-se, logo mais, pelas matas da serra
rumaram em direção ao carro de passageiros, do Araripe e, auxiliado por Padre. Cicero, que
parado na plataforma da estação. De súbito, lhe enviava homens, andava de Seca a Meca
aparece o temível Coronel Isaias. Numa fra- a estudar os planaltos da região inóspita. .

ção de segundos uma saraivada de projéteis lhe


põe fim à vida tumultuosa e agitada. Era a AURORA DOS NOSSOS DIAS
vingança tremenda da família Paulino.
Foi um dia de juizo. Azáfama, correria, Com o correr dos tempos, a queda do Acioli,
gritos, tiros por todos os lados. Era o princípio a revolução do Padre Cícero, o fim de baixa e
de uma grande jornada: a que poria termo ao mesquinha politicagem que tanto atrasou o hin-
prestígio, ao poder e à época de terror que terland cearense, as cidades começaram a pro-
dominava os sertões longínquos daquelas para- gredir dentro de um ritmo acelerado. O homem
gens ignotas. Anos mais tarde, o trabuco seria do sertão compreendeu o erro lamentável em
substituído pela enxada e os homens passariam que cairá e reagiu, com senso e equilíbrio, to-
a viver para a família e o trabalho do campo. mando o caminho certo para a prosperidade
local.
AS MINAS DO COXA Aurora hoje desfruta de um clima de tran-
quilidade, paz construtiva, labor operante, por
Um outro episódio que marca dias de tor- isso que vários melhoramentos já lhe atestam o
mento para Aurora, foi o que envolveu uma per- progresso na vida pública.
sonalidade estranha e singular, que veio ter O chefe da municipalidade é António Gon-
às plagas juazeirenses e, de logo, passou a con- çalves Pinto, cidadão simples, abastado, filho
tar com o beneplácito e prestigio do Padre deste formidável Paulo Gonçalves, herdeiro de
Cícero. Sem este, nada poderia fazer. .
bela tradição de lutas em prol da grandeza de
Trata-se das celebres minas do Coxa, si- Aurora.
tuadas dentro do município de Aurora e que
aguçaram a cobiça de muita gente bôa e pres- A política local jánão gravita em torno de
tigiosa de então. lutas encarniçadas, mas somente agitam os âni-
Engenheiro de minas, o Conde Adolfo Van mos na quadra da propaganda partidária.
Der Brully tivera notícia de famosas minas de Acidade já não é a mesma de anos atrás.
ouro nos sertões do Ceará. E lá se veio o ho- Há alguma coisa de novo, por isso que conta
mem à busca do precioso e rico tesouro . .
com Posto de Saúde, Lactário, Mercado moder-
Espalhada a notícia, como era claro, advie- no, ruas calçadas, bôa iluminação e várias obras
ram as questões e, de permeio às tricas e ques- de maior vulto.
tiúnculas, o bacamarte teve a sua função, em- Um grande exemplo, esta cidade heróica
bora que em escala reduzida. . outorga, hoje, as demais comunas: espírito ver-
Peitos os preparativos primários tiveram dadeiramente democrático em sua politica. Bas-
início as pesquisas, não se constatando a exis- ta dizer que às festas de posse do Prefeito elei-
tência de ouro e sim de cobre, em percentagem to, comparecem todos os que, dias antes, lhe
relativamente insignificante. Foi uma decepção faziam tremenda oposição na batalha das ideias !

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45

BAIXIO
CUJA SEDE HISTÓRICA Ê UMARI
HA CINCOENTA ANOS ERA CRIADO O MUNICÍPIO
O DEDO DO FAMOSO MARQUÊS DE POMBAL — AN-
TÓNIO JOAQUIM, O PRIMEDIO VIGÁRIO — UMARÍ,
TEATRO DE GRANDES ACONTECIMENTOS — O «ITINE-
RÁRIO», DE FREI CANECA — SEDE MUNICD7AL QUE
NÃO TEM SOCÊGO — LIDERES SINGULARES — EM
NOSSOS DIAS .

BAIXIO é um município que dista nada me- sobremodo: quando alguém morria no Umarí lá
nos de 516 quilómetros de Fortaleza. Está situado se ia o defunto, estrada abaixo, para ser en-
em sertão, já nos limites do Estado da Paraíba, terrado nos Icós. Aquilo era um absurdo, e
sendo fronteiriço à Cajazeiras e Antenor Na- metia até medo, nas caladas da noite, aos car-
varro. regadores de defuntos . .

A sua antiga sede foi Umarí, vila de ex- Vai daí conclamar o povo da localidade para
cepcional projeção nos fastos da nossa histó- a ereção de uma capela, capaz de_ administrar
ria, notadamente no período épico das revolu- pequeno cemitério, nela própria levantado, como
ções, por isso que caminho antigo, velha estra- era de bom costume antigo...
da real que nos ligava à Pernambuco e Paraíba. Mãos a obra, dentro de pouco tempo lá es-
Ê região sagrada, onde fatos memoráveis tava erguida a Igreja, futura Matriz de São
se passaram, hoje relembrada sempre quando Gonçalo, ainda hoje existente e guardando os
se evoca os heróis da famosa jornada republi- traços primitivos de sua construção antiga e
cana da Revolução do Equador. secular.
Baixio é a cidade atual, sede do município A velha Igreja tem como pároco o Padre
do mesmo nome, e elevada a esta categoria pelo Manuel Carlos de Morais, simpático,, acolhedor,
Decreto n. 650, de 30 de junho de 1932. A lei sempre risonho, amando a Deus no céu e Umarí
n» 448, de 20 de dezembro de 1938, é que lhe na terra. É uma figura singular a deste sacer-
deu foros de cidade. Antes fora sempre povoa- dote, sempre solícito, operoso e inteiramente in-
do inferior a Umarí, mas o caminho de ferro tegrado no mister de apascentar as ovelhas. É
outorgou-lhe o progresso e agitada vida comer- um grande vigário, este do Baixio.
cial, notadamente na quadra dos bons invernos. Sabendo de có e salteado a história da fre-
O município foi criado pela lei n. 2.046, de guesia, afirmou-nos que a mesma foi instituída
12 de novembro de 1883, estando, assim, com aos 18 de agosto de 1882, sendo o seu primeiro
cincoenta anos, precisamente. vigário o Padre António Joaquim dos Santos
Hoje, já se cogita de transferir, pela se- que tomou posse aos 17 de setembro de 1883.
gunda vez, a sede municipal para a próspera
Vila de Ipaumirim, antiga Alagoinha. Várias TEATRO DE GRANDE FATOS
são as razões invocadas.
Para nós, todavia, a sede de Baixio conti- Ê o famoso Frei Caneca, figura destacada
nua sendo Umarí, de vez que, historicamente, o da Revolução do Equador, quem no-lo revela no
núcleo de maior importância. Faz pena até seu célebre escrito sobre o trajeto da malograda
a gente ver Umarí regredindo. Somente o mar-
-
expedição Cazumbá, que percorreu mais de 200
co da fé ali resiste a decadência, visto como léguas, sertão a dentro, nos transes verdadeira-
a paróquia tem, ainda, a sua sede onde foi er- mente impressionantes dos últimos lances da Re-
guida, nos idos de 1875, sob a invocação de N. S. pública de 1824.
da Conceição, . Foi nas cercanias de Umarí, a grande tra-
gédia. Era 17 de outubro de 1824. O lugar de-
O FRANCÊS QUE ERGUEU A MATRIZ nominado Picada, nome de uma fazenda. Ali es-
tavam acantonados mais de duas centenas de
Conta-nos o douto Barão de Studart que um soldados de Filgueiras, sob o comando do bravo
francês, de nome Joseph Aleth Douillétte, foi Capitão Maxi. O saque estava sendo geral, a
quem mandou levantar a histórica igreja de São pilhagem terrível. O desespero revolucionário
Gonçalo. Perseguido pelo famoso Marques de atingira o seu ponto culminante.
Pombal, o filho da França veio ter à Umarí. Esta tropa havia se desgarrado do grosso
Enamorado, Joseph constitui família e senta do Exercito. Confiava na coragem do Maxi, va-
moradia definitiva no povoado. Inteiramente lente como as armas.
a.daptado ao meio, uma coisa lhe impressionou Em dado momento, porém, tremenda fuzila-
46

ria quebra a algazarra da pilhagem. Eram ini- NOS DIAS QUE CORREM
migos que estavam emboscados. A resistência
é aprestada. Trava-se combate. Mas... destino Baixio é, terra sagrada, outrora pal-
pois,
cruel ! Maxi, confiado na sua bravura e na milhada por umexército de heróis em busca da
fama do seu nome, não havia municiado a tropa liberdade e dos ideais republicanos.
suficientemente, e o resultado é que faltou o Hoje é um município sem maiores aconte-
principal: munição ! cimentos de projeção na vida provinciana, ex-
Os soldados de Pinto Madeira, o imperia- ceto as lutas políticas que lhe animam até a
lista ferrenho, lançaram-se sobre os guerreiros vida monótona neste transe de secas tremendas.
de Filgueiras e a chacina foi pavorosa. A mor- Conta com três vilas: Umarí, Felizardo e
tandade foi quase toda levada a termo à custa Ipaumirim, a mais progressista e já com foros
de baioneta, arma branca. de pequena cidade.
Embalde, pois, a resistência fantástica que Os seus líderes de maior projeção são :

a tropa sitiada opôs ao inimigo impiedoso. A Padre Carlos de Morais, Prefeito José Leite
tragédia foi dantêsca, espetacular e o curral da Ribeiro, homem estimado, de bom caráter, edu-
fazenda, ficou coalhado de cadáveres Mais de
! . . . cadíssimo, fazendeiro e criador abastado; Joa-
cento e cincoenta mortos ! quim Leite Ribeiro, Cícero Brasileiro, chefe po-
lítico e homem de prestígio local; Francisco Iri-
AS TROPAS DE PERNAMBUCO E PARAÍBA neu Ribeiro, José Maria Crispim, Oswaldo Ade-
mar Barbosa, Presidente da Câmara; Luís Pi-
O território do município de Baixio foi, como nheiro Barbosa, capitalista; Luís Leite Nóbrega,
dissemos, teatro de fatos memoráveis. Outro Joaquim Ribeiro e Francisco Moreira Oliveira.
acontecimento de real importância, além do já Justo é que se ressalte, ao se falar sobre Baixio,
citado, foi a entrada, no Umarí, então pequeno a figura prestigiosa de Francisco V. Arruda, ba-
povoado, do grande exército que compunha a ce- charel, benemérito dos estudantes, homem de
lebre Expedição Cazumbá. fino trato social, prócer destacado da política
Era seu comandante o famoso ex-Presidente do Ceará e um grande benfeitor do antigo mu-
do Governo Revolucionário da Paraíba, Feiix nicípio de Umarí.
António Ferreira de Albuquerque. Buscava en- Depois de sua participação na liderança po-
contrar-se com as tropas de Pereira Filgueiras lítica de Baixio não se pode esquecer os reais
e o exército era composto de soldados do Per- benefícios outorgados a esta terra pelo simpá-
nambuco e da Paraíba. tico chefe. Aí estão inúmeras realizações que
A tragédia desta expedição foi notável, visto demonstram o que afirmamos, sem receio de
como a sonhada República do Equador já era contestações.
letra morta. Havia sido quase que totalmente Mal grado a crise por que passa todo o
esmagada. Restava o caos e os bravos remanes- nosso Estado, em vista da precariedade dos úl-
centes da grande luta. timos invernos, Baixio tem sabido resistir ga-
Depois de permanecer por algum tempo no lhardamente a difícil conjuntura, e a cidade e
Umarí, António Félix levanta acampamento. vilas que lhes compõem continuam plenamente
Aqui e ali se registravam escaramuças. A tro- florescentes.
pa vinha sendo combatida tenazmente pelos rea-
listas. Dia vai, dia vem, já anteviam o des- FILHOS ILUSTRES
fecho pavoroso que a aguardava. Mas lutava
ainda e vencia léguas e léguas. Entre os filhos ilustres de Baixio devem
Afinal, chega o momento culminante na ser destacados, o Dr. Raimundo Vitor dos San-
fazenda Juiz, distante uns 40 quilómetros da tos que foi Professor da Escola de Agronomia e
Missão Velha. Aí foram totalmente sitiados e homem de letras. Cidadão excessivamente mo-
a rendição não se esperou. Foi um drama. En- desto.
tregaram-se, com garantia de vida, Frei Joaquim Da nova geração temos: Dr. Luís Leite Nó-
do Amor Divino Caneca, Major Agostinho Be- brega Filho, médico, formado pela Faculdade do
zerra Cavalcante e Lázaro de Sousa Forte. Recife; Dr. Luís Barbosa Filho, médico, também
Mal sabiam eles que, logo mais, seriam su- diplomado pela mesma Faculdade e Odontólogo
pliciados atrozmente ! Hélio Vidal Barros.

Eis duas razões pelas quais os comerciantes de tecidosr


do Interior preferem os GRANDES ARMAZÉNS

GUTEMBERG TELES & CIA. LTDA.


PRIMEIRA: — Tecidos mais resistentes e de cores mais fixas
SEGUNDA : — Preços mais acessíveis e vantajosamente mais baixos
POR ISSO £ QUE
GUTEMBERG TELES & CIA. LTDA.
Sempre estão renovando os seusc onsideráveís estoques
pois as GRANDES VENDAS assim o exigem.
RUA MAJOR FACUNDO, N. 278 — FORTALEZA — CEARA
.

47

BARBA LHA
CIDADE DE ALTA LINHAGEM
DESCENDENTES DA CASA DA TORRE — O APÓSTOLO
DO CARIRÍ — O MILAGRE DO CALDAS — JOSÉ MAR-
TINIANO DE ALENCAR — SOB A INSPIRAÇÃO DE OLA-
VO BILAC — SA BARRETOS E SAMPAIOS — FONTES E
CANAVIAIS — SAQUE DE 1914 — POVO QUE SE
AFntMA POR SI PRÓPRIO

HA UMA CIDADE no Ceará que diverge Anos mais tarde, pela lei n» 130, de 30 de
profundamente de todas as outras pelos traços agosto de 1838, foi criada a Freguesia do Se-
marcantes da nobreza e do modo de viver de sua nhor Santo António de Barbalha, tendo sido o
gente, e que sendo cognominada de «A Princesa seu primeiro vigário Padre José de Castro e
do Carirí», tem o topónimo de Barbalha. Silva.
Se na exuberante região caririense floresce Com a nova sede de Paróquia, cresceu a lo-
e se agiganta o Crato, capital da zona sul do Es- calidade a ponto de ser elevada à Vila aos 17
tado; se, a seu lado, cresce assustadoramente de agosto de 1846, pela lei n« 374.
sob o império do trabalho e das pequenas indús- Ao correr dos anos, edificou-se nova Matriz,
trias este admirável Juazeiro do Norte, o maior principiada nos idos de 1893 e terminada já no
empório comercial do interior; Barbalha com- ano de 1921. É um templo amplo, sólido, espa-
pleta o singular modus-vivendi das populações que çoso, com torreame elevado, encontrando-se lo-
se abrigaram no ubérrimo Vale do Carirí, con- calizado numa bela praça e tendo ao lado, ainda
correndo com a fidalguia que encanta o visitante. em perfeito estado, uma casinha que foi a pri-
E que, emoldurado na opulência dos seus meira de tijolo construída em Barbalha, sendo,
verdejantes canaviais, cercada pelas copiosas e assim, uma relíquia histórica.
perenes fontes de aguas cristalinas, demorando A sua categoria de cidade data de 30 de
no semi-circulo da serrania do Araripe, sob a ex- agosto de 1876, e como sede de comarca princi-
celência de um clima ameno e suave, Barbalha piou a sua existência ainda no tempo do Impé-
nasceu e cresceu sob a mística da honradês, da rio, embora suprimida e restaurada várias vezes.
serenidade, da austeridade e da alta linhagem
que lhe outorgou este admirável Capitão Fran- O PADRE D3IAPINA, O APOSTOLO
cisco Magalhães Barreto e Sá, herdeiro das tra-
dições e do sangue de Mem de Sá, que foi o nos- Nascendo sob o signo da fé católica, Barba-
so 3» Governador Geral nos albores da coloni- lha teve seus grandes dias ao receber a visita
zação. missionária do Padre Dr. José António Maria
Fundada, assim, por um espírito de escol, de Ibiapina, homem viajado, pregador de fino
quilate, evangelizador primoroso e que percorreu
Barbalha até hoje conduz, com elevado aprumo,
todo o Carirí, levantando as suas populações
o brazão e as armas a si legadas, sem pejo e sem
para o culto e para a prática da caridade.
vacilações, progredindo à custa exclusiva da ener-
Feitos os preparativos, a cidade está enga-
gia e da força de vontade dos seus filhos, sem-
lanada: flores, ramos verdes, bandeirinhas e
pre acotevelados pela negligência e pelo esque-
cimento dos que têm dirigido o Ceará. Terra que
banda de música adestrada para a tocata. Na
praça da Matriz, bem vasta, com casaria de bei-
se faz por si é terra que a ninguém nada deve,
ra e bica, o povo alegre, a vivar o santo sacer-
aendo esta a sua maior glória.
dote. Foi um dia de festa memorável. O me-
lhor terno e o melhor vestido estavam ali pre-
O DESCENDENTE DE MEM DE SA sentes, embora Ibiapina condenasse a moda. .

Atraído pela exuberância da região, Fran-


E que moda a daquela época longínqua !

Iniciada a pregação, o evangelizador foi im-


cisco Magalhães Barreto e Sá adquiriu, em 1753,
a Inácio de Figueiredo Adorno, o sítio denomi- placável ao condenar certas intrigas ferrenhas
nado Barbalha e, anos depois, senta moradia nas então existentes. Foi um sermão terrível. No
ribeiras do Salamanca. dia seguinte, lá se vinham os irmãos, antes
Ao redor da nova residência, erguem-se as mal-querentes, abraçados e com a filarmôrnica
primeiras casas de chão de barro batido, prin- à frente, seguidos por grande multidão. Foi um
cipiando a formação de pequeno arraial. alvoroço. Aquilo só sendo milagre...
Cristão no fervor da fé, Magalhães, em 1760, Pregou, então, contra os vícios e conclamou
manda erguer Capela, o que foi feito sob a in- à pratica da penitencia e das esmolas. Bastou o
vocação de Santo António. sermão para que durante os seis dias em que
. . "

48

passou em Barbalha fosem feitas obras formi- ciando ao mandato que lhe fora conferido pelas
dáveis para aqueles tempos: conclusão da Ca- Alterosas.
cimba do Povo, ereção de um cruzeiro, cemité- Senador do Império, portou-se sempre com
rio dos coléricos e inicio dos alicerces para o altivez e galhardia, o que lhe valeu conceito
aumento da Matriz. Era a época em que os au- e estima na capital do Império. Governando o
xílios rendiam . . . nosso Estado por duas vezes, Martiniano de
Perlustrando Missão Velha, Jardim, Missão Alencar realizou a mais notável administração
Nova, Crato e todo o Vale, o Padre Ibiapina da história do Ceará, posto que sendo de uma
que prestou assinalados serviços à região, foi honestidade inigualável, de um critério e de
cognominado de «O Apóstolo do Cariri». um senso de justiça fora do comum, empreendeu
vários melhoramentos de real interesse para a
O MILAGRE DE CALDAS coletividade. O seu governo marcou uma época
de justiça e de honestidade na vida pública de
Foi durante a pregação do Padre Ibiapina nossa terra. fi tido e havido como o nosso

que se deu o singular acontecimento. Certa ma- maior governante, tal foi a sua energia, critério
nhã, aproxima-se do evangelizador urna velhi- e operosidade à frente da coisa pública.
nha pedindo um remédio para a cura dos seus
males. Respondeu-lhe o missionário, geitosa- ASSOCIAÇÕES TRADICIONAIS
mente: «não sou médico, nada lhe podendo dar.
Tome banhos cálidos». Povo afável e acolhedor, o barbalhense é
A velhinha dirigiu-se, trôpega, para o Cal- conservador. Mantém a tradição e sabe sem-
das. Ouvira mal as palavras do pregador. . A. pre rememorar os fatos memoráveis dos seus
verdade, porém, é que por lá passou três dias fastos históricos.
e três noites a se banhar nas aguas da fonte. Como traço predominante na vida da ci-
Regressa, então, às pressas para contar a dade, existem várias associações culturais den-
nova milagrosa. . tre as quais se destacam a Liga Contra o Anal-
— «Padre Ibiapina, olhe e veja, estou com- fabetismo, o Cetama Clube, e o tradicional Ga-
pletamente curada. Deus lhe proteja Santo binete de Leitura.
Padre. Deus lhe proteja». Têm estas instituições vida real e provei-
A partir desta data, espalhando-se a notí- tosa dentro da comunidade. O Gabinete de Lei-
cia, começaram as romarias para Caldas. E a tura foi fundado aos 14 de maio de 1889, ainda
verdade é que, efetivamente, as aguas desta ao tempo do império e a sua ação no domínio
fonte curam de verdade. Lá está uma igreji- da inteligência tem sido magnifica, por isso que
nha a do Bom Jesus, cheia de ex-votos de curas dele hão participado os mais ilustres filhos da
excepcionais. terra.
Situada em aprazível recanto, outros fa- A Liga Contra o Analfabismo foi fundada
tos singulares se desenrolaram em Caldas, in- em 1917 sob a inspiração da pregação cívica e
clusive o ter-se encontrado um coração, em cores patriótica do grande Olavo Bilac.
naturais, fincado numa pedra de três palmos, O Cetama Club é de caráter recreativo-
após um incêndio que destruiu uma palhoça. diversional e realiza festas memoráveis nos dias
Foi outra azáfama tremenda. Aquilo era coisa maiores da vida municipal.
do outro mundo. . Outras instituições existem e dentre elas,
Hoje, passado a crendice populas, Caldas se devem ser ressaltadas as de assistência social e
transforma numa excelente estação de repouso, educacional e que são inúmeras.
de veraneio, graças à iniciativa de um digno filho
da terra, o Vereador de Fortaleza, Francisco
ALENCARES, SA BARRETOS E SAMPAIOS
Cordeiro de Sousa. Barbalha é uma terra diferente das demais,
como acentuámos de inicio. Possui uma aristo-
JOSÉ MARTINIANO DE ALENCAR cracia que tem as suas bases no patriarcalismo
monarquista. A formação de sua elite data de
Uma das glórias maiores de Barbalha é ter mais de um século e se mantém vitoriosa e ín-
dado ao Ceará o seu mais esclarecido e dinâmico tegra através dos anos.
Presidente, na pessoa de José Martiniano de Famílias ali se constituíram em expressões
Alencar. magnificas de orgulho para o Ceará: Alencares,
Homem notável por todos os títulos que or- Sá Barretos, Sampaios, Carleais, Duartes e ou-
navam o seu caráter integro e incorruptível, tras conservam o símbolo da honradez, da bra-
José Martiniano de Alencar nasceu no sítio vura e da independência como brazões que de-
Lambedor, aos 16 de outubro de 1794. vem ser mantidos. pelas gerações vindouras.
Idealista, revolucionário, homem de ações Gente pacata, ordeira, respeitadora da lei,
prontas e rápidas, forrado de largos conhecimen- é-lhes grato mesmo tratar com fidalguia, com-
tos, bem cedo entrou na política, fazendo car- provando ao visitante a alta linhagem de sua so-
reira brilhante, posto que exerceu os mais ele- siedade finamente educada.
vados cargos que a Província podia lhe outorgar Os seus filhos ilustres elevam-se às dezenas,
naquela época memorável. alguns deles sendo figuras exponenciais das le-
Eleito representante do Ceará à Constituin- tras e da política do Ceará, notadamente ao
te portuguesa, por seus bravos atos e atitudes tempo do império e no inicio da vida republicana.
foi encontrar refúgio na Inglaterra.
Tendo vitorioso o seu nome para deputado
NA REVOLUÇÃO DE FLORO
por duas províncias —
Ceará e Minas Gerais — Em 1914, quando o sul do Estado sofreu
preferiu representar a sua terra natal, renun- a dramática convulsão advinda da revolução che-
ACARAÚ — Obelisco do Centenário

ACARAÚ — Igreja-Ma
triz e Escola Normal
Rural

«">'

ACARAÚ — Famosa Igreja de Almofala; Posto de


Puericultura; Pesca do camurupim
AQUIRAZ— Igreja-Matriz de São
José do Ribamar

:.

- •
'-

ACOPIARA — Igreja-Matriz

AOUIRAZ — Ruinas do fa-


moso Colégio dos Jesuitas,
obra colonial
49

fiada por Floro Bartolomeu da Costa, sob o pres- POVO QUE SE AFIRMA POR St
tigio do Padre Cícero, fundador e chefe espiritual
do Juazeiro, Barbalha, que lhe fica bem próximo Distando da capital 603 quilómetros, demo-
sofreu dias profundamente amargos e aflitos. rando num recanto do Carirí, por muitos anos
Política dividida, nem todos os seus líderes es- privada de meios de transporte, Barbalha sofreu
tavam ao lado da masorcada que tinha por obje- calada e silenciosa, sem increpações e sem a
tivo a deposição do gTande Franco Rabelo. Vai ninguém acusar, pois a sua educação não lhe
daí a sua invasão pela jagunçada, sob o comando permitia maiores dissabores ao apontar gover-
do terrível Canuto Reis. nos criminosos que lhe relegaram a segundo
Com as depredações do Crato, tomado a ferro plano.
e a fogo, todo o povo de Barbalha abandona a Com a redemocratizaçãe do país, alguns be-
cidade. Deserta, sem proteção, sem resistência, nefícios têm-lhe sido concedidos, entre os quaia
entregue à sanha devastadora dos bandoleiros, vale ressaltar a construção da rodovia que liga
teve inicio o mais impiedoso saque já registra- Barbalha a outras cidades próximas; constru-
do na história do Ceará. ção do ramal ferroviário com estação, praça mo-
Foi uma tragédia sem limites e que pôs derna e trens diários; inicio de uma grande obra
abaixo fortunas feitas à custa de muito traba- que é o ginásio local; instituições de assistência
lho como a da casa Sampaio, totalmente depe- social de porte, além de realizações da munici-
drada e roubada. palidade, a cuja frente se encontra o Prefeito
Uma voz, porém, se ergueu, contra a barba- Alfredo Correia de Oliveira.
ria, no meio da multidão ignara e criminosa: foi Com personalidade própria, sem a ninguém
a do Vigário local. acotovelar, vivendo à custa exclusiva do labor
Magro, pálido pela emoção, afrontando o fecundo de sua gente, Barbalha, terra do Dr.
perigo e a tremenda crueldade dos invasores, Cláudio Martins e Martins d' Alvarez, homens
gritou, num impeto de coragem e de bravura de letras e de José Cardoso de Alencar, brilhan-
inexcedivel: «Não continuem, em nome de Deus ! te advogado, vai firmando o seu prestígio e hon-
Não continuem esta barbaridade tremenda, pois rando as suas tradições num beío exemplo de
disto não necessitais para tornardes triunfantes fé e de energia.
a vossa causa !» Leão Sampaio, médico famoso e deputado
O saque suspenso, embora já fossem enor-
foi digno, é bem a personificação magnifica desta
mes os prejuízos causados à pacata cidade. cidade admirável.

BANCO UNIÃO
"As economias de hoje responderão crmcmhã pelo seu
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Fortaleza — Ceará — Brasil

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pais a taxas módicas.
50

VINTE E OITO MIL


CONSUMIDORES
Estão ligados às redes de distribuição

\^ E^.£».í\,«&». Èmdí vJI í A l


NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA
Hoje, 38.000 residências e casas comerciais não mais se su-
jeitam ao regime de racionamento de energia elétrica, graças
ao PLANO DE EMERGÊNCIA, plenamente vitorioso, posto em
prática pela administração municipal junto á empresa.
— 650 kws. da Fábrica São José (breve ampliação para
1.200 kws)
— 550 kws. da Brasil Oiticica.
— 400 kws. da Fábrica Progresso
— 133 kws. da Usina "Diesel" Auxiliar da Prefeitura, já em
íase de montagem.
(30) dias no máximo, terão sido entregues
Dentro de trinta
aos consumidores da "Ceará Light" —DOIS MIL E OITOCEN-
TOS E OITENTA E DOIS kilowavts de suplementação especial
do Plano de Emergência, ou seja mais de 63 por cento (SES-
SENTA E TRÊS POR CENTO) da capacidade utilizável da
usina atual.

Executando o seu plano de emergência a

%*? d jf\ í\ ./%, Lá l vi n l


adquire o "kilowatt" a preço muito su-
perior ao de sua produção com o intuito
de servir melhor ao povo de Fortaleza.
.

51

B ATURITÉ
ANTIGA MONTEMOR DA AMÉRICA
RELATÓRIOS DE BARBA ALARDO E SILVA PAULET —
O CHÓLERA-MORBUS DE 1862 —
NA CONFEDERAÇÃO
DO EQUADOR —
A MATRIZ, DEPÓSITO DE PÓLVORA
— A HISTÓRIA DOS CAMELOS DA ARGÉLIA JOÃO —
CORDEffiO —
VISITA DE PATROCÍNIO VTVEmO DE —
ABOLICIONISTAS E REPUBLICANOS — DE GUSTAVO
SAMPAIO À FRANKLIN TÁVORA FORMAÇÃO ©A—
JUVENTUDE —
NOS DIAS ATUAIS

BATURITÉ é uma cidade rica de tradições, nindés e Genipapos, principou a sua existência
notadamente por haver se constituido numa pá- quando erigida em memorável Missão pelas mãos
tria de filhos ilustres pelo saber e pelas ações dos jesuítas, vanguardeiros da conquista e co-
edificantes. Daí porque a evocação do seu nome lonização do nosso território.
relembra fatos e episódios pitorescos, ao lado de Em 1814, Luís Barba Alardo de Menezes,
marcantes acontecimentos que tiveram excepcio- antigo Governador, escreve a El-Rei uma me-
nal importância na vida do Ceará. moria sobre a novel Capitania e, entre consi-
Município centenário, por isso que instalado derações gerais, tece os seguintes comentários
aos 14 de abril de 1764, recebeu o nome de Monte- sobre a Vila de Monte-mór :

Mór, o novo da América, cuja denominação re- «Esta villa, que ainda hoje muitos deno-
lembrou uma vila de igual nome existente em minam de Baturité, seu nome antigo, fica 29
Alentejo, terra portuguesa, de crónica memorável. legoas ao sul da capital. Tem 30 legoas de
Nascia, evidentemente, sob a inspiração do po- norte a sul, 16 de nascente a poente. As suas
deroso Marquês de Pombal, per isso que a sua serras produzem preciosos géneros, madeiras,
criação fazia parte do celebre plano do estadista muitos vegetais de estimação e ricos minerais.
português contra a influência magnífica dos Tem duas companhias de ordenanças a cavallo
jesuítas. tão somente, o que prova ainda a sua deca-
Mal sabia o Marquês que, anos mais tarde, dência».
ali se ergueria este monumental edifício que é Dois anos depois, o engenheiro António José
a Escola Apostólica, sabiamente dirigida pelos fi- da Silva Paulet, escrevia longo memorial, posto
lhos da Companhia de Jesus e que tem prestado que estava ao serviço do governo português,
os mais assinalados serviços à nossa terra. como observou Tristão de Alencar Araripe em
Com freguesia criada aos 19 de junho de carta escrita a um amigo em 1896 e, em cuja
1762, sob a invocação de Nossa Senhora da Pal- descrição, Paulet, assim se expressa em refe-
ma, cuja imagem diz a lenda ter sido encontrada rência à Baturité, em 1816:
na fazenda Frade, onde fora assassinado um clé- «Na serra de Baturité ao S de Fortaleza,
rigo virtuoso, possuía a cidade de Baturité igre- está situada esta villa, erecta para índios con-
jas tradicionais, dentre as quais deve ser res- gregados de outros lugares, e hoje quazi toda
saltada a Matriz, construção iniciada em 1764, habitada por extra-naturaes nomes que se dá
segundo o historiador Pedro Catão, ampliada e a todo que não é índio. Não tem caza de ca-
remodelada graças ao Mons. Manuel Cândido dos mará, nem cadeia, nem o conselho património.
Santos e ao incansável apostolado do Comenda- O algodão deste termo passa pelo melhor da
dor da Santa Sé, jornalista Ananias Arruda. capitania. A cana é reduzida a rapaduras que
Elevada à cidade pela lei n. 884, de 9 de se extrae para o sertão d'e Campo-maior (Qui-
agosto de 1858, passou a sede de Comarca aos 9 xeramobim) e Canindé. A villa tem 74 cazas
de janeiro de 1841, participando, assim, com maio- muito arruinadas, muitas cobertas de palha...».
ridade política, dos fatos mais importantes da Era assim, o Baturité de cento e cinquenta
vida imperial e republicana do Ceará. anos atrás. Não passava de um pobre e humilde
poovado que, anos mais tarde, se transforma-
NAS DISCRIÇÕES DE BARBA ALARDO ria na formosa cidade dos nossos dias.
E PAULET . .

TEATRO DANTESCO NO COLERA-MORBUS


Recuando ao nascer do século dezenove, en-
contramos duas interesantes discrições sobre a Aos 5 de abril de 1862, segundo o Barão
antiga Vila de Monte-Mór, o Novo América. de Studart, manifestava-se no Icó, pela primeira
Habitada, originariamente, pelos indios Ca- vez, a epidemia do cólera-morbus. Foi um fia-
. . . .

52

gelo tremendo. Mobilizou-se melo mundo na en- va e corajosamente das lutas políticas, sem medo
tão Província do Ceará, sob o governo de Ma- e sem subterfúgios, o que lhe valeu bela página
nuel António Duarte de Azevedo. na história do Ceará provincial.
A mortalidade atingiu a proporções nunca
vistas. A epidemia alastrou-se imediatamente CAMELOS DA ARÁBIA, EM BATURITÉ
por todo o Ceará, tendo maior incidência nos
municípios d'e Maranguape, Pacatuba e Baturité. Não é lenda, fi pura verdade histórica, de vez
Durante um ano de sofrimento, faleceram que a Imperial Sociedade Zoológica de Aclima-
mais de 11.000 pessoas vitimadas pela terrível ção, fundada por Geoffroy de St. Hilaire, fez
e tremenda peste. Os dramas foram os mais ver ao Barão de Capanema a possibilidade da
lancinantes. A própria capital foi teatro de ce- criação de camelos no nordeste e, de modo es-
nas constrangedoras, notadamente nos arrabaldes. pecial, no Ceará.
Baturité, nesta quadra dolorosa, viveu os Assolado pela seca, o nordeste seria bem
dias mais tristes de sua existência, por isso que servido pelos ruminantes que aqui chegaram a
foi a cidade duramente atingida. bordo do «Splendide», acompanhado de quatro
Do relatório confidencial enviado, pelo então árabes.
Presidente da Província, ao Marquês de Olinda, Não é preciso descrever o que foi a chegada
Ministro do Império, têm-se uma conclusão do dos camelos ao Ceará. Fortaleza em peso foi
que foi a tragédia naquela cidade. assistir ao desembarque da preciosa carga. Até
O próprio delegado local, apavorado, abando- mesmo o Presidente da Província lá estava. .

nou o cargo, fugindo. Foram, porém, verdadei- Foram até apelidados de Anti-Cristo, segundo nos
ros heróis o Bacharel Luís de Cerqueira Lima, relata o professor Inácio Raposo, em crónica in-
Presidente da Comissão de Socorros, os padres teressante.
Francisco Ribeiro, vigário; José Joaquim Coelho Organizou-se, então, a primeira viagem. Os
da Silva, que carregava os cadáveres nos pró- preparativos duraram dias. Era preciso muito
prios ombros para a sepultura, rua abaixo; Fran- cuidado, pois a experiência era preciosa. E, aos
cisco Ayres de Miranda Henrique e o alferes 14 de setembro de 1859, partiu a caravana, à
Pompilio da Rocha Moreira, todos agraciados com cuja frente marchava o «Aschr», de todos o
as comendas do oficialato da Rosa e Cavaleiro mais civilizado. .

de Cristo, tão relevantes foram os serviços pres- Por onde passavam, a sensação era tremen-
tados numa hora extrema em que ninguém que- da. O povo ficou mesmo assustado, pensando
ria participar da tragédia, posto que horrorizados em coisas do outro mundo. Cansados, fizeram
diante de tanta dôr e tanto sofrimento. parada em Pacatuba para repouso e; logo mais,
Foram precisos meses para que o drama che- seguiram viagem até chegarem a Baturité, depois
gasse ao seu fim, permanecendo, indelével, na de mil peripécias pelas ladeiras íngremes . .

história desta cidade heróica esta epopeia dan-


têsca. O DINÂMICO JOÃO CORDEIRO
NA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR Uma das figuras exponenciais que marcou
época emBaturité, foi sem dúvida a de João
A época da efervescência política em que Cordeiro, famoso abolicionista e homem de ne-
pontificou este bravo Tristão Gonçalves, Baturité gócios, tendo, ainda, ao correr da vida agitada,
não ficou à margem do grande movimento repu- ocupado elevados cargos, inclusive de governa-
blicano. Foi um Deus nos acuda em todo o dor interino, deputado e senador.
município. Espíritos exaltados contaram, de logo, Chegando a Baturité, espírito irrequieto,
com a adesão do povo e, naquele dia inesquecível cheio de iniciativas, João Cordeiro fundou uma
de 10 de outubro de 1924, na Matriz da Vila, o casa comercial. Auxiliado por Isaias Boris, que
povaréu reuniu-se em grande assembleia, posto lhe abriu crédito no valor de 100 contos (para
que a Casa da Câmara era demais pequena para aquela época, uma fortuna) com cujo capital
comportar tanta gente . . levantou prédio e instalou a «Fábrica Proença>.
Presidiu à sessão o então juiz Alexandre Neste estabelecimento iniciou a industrialização
Pereira Liberal Pitiguarí que a todos impôs fi- de mil e um produtos; licores, vinagre, genebra,
delíssimo juramento, que começava: «Eu, Ale- sabão, óleos, resíduo, etc.
xandre Pereira Liberal Pitiguary, juro aos San- Juntamente com Raimundo Ribeiro e Pedro
tos Evangelhos voluntária e solenemente de- Sombra, fundou o «Jornal do Comércio» através
fender e guardlar a religião católica ;
juro do qual fez interssante propaganda agrícola.
dar a ultima gota de sangue para man- De logo tornòu-se líder local, com prestí-
ter e ser fiel à Confederação do Equador, gio e grande popularidade. Entrou para a po-
etc, etc». Seguiram-se 159 assinaturas, termi- lítica militante do município e prestou dois
nando a cerimónia com fervoroso Te-Deum, por grandes serviços a Baturité, como ele mesmo
todos cantado na mais viva emoção. relata em suas memórias. Um deles, foi ter
Dias depois, a 19 de outubro, a Câmara man- evitado que a Estrada de Ferro seguisse de Ca-
dava recolher, na Matriz local, 180 barris de noa (Aracoiaba), diretamente para o sertão,
pólvora, 220 carros de granadeiras, 3 barris de indo a Baturité apenas um ramal. A campanha
chumbo, um quintal de ferro e roda de aço foi tremenda e João Cordeiro saiu vencedor. O
enviados por Tristão Gonçalves e destinados à outro foi conseguir de Caio Prado, então Pre-
luta armada, caso fosse necessário. A porta sidente do Ceará, a construção de uma muralha
da Matriz se postaram vinte guardas bem ar- e calçamento sobre o Putiú, rio que fica nas
mados, como sentinelas em defesa do arsenal... proximidades da cidade. Por isso, a obra re-
Nos tempos antigos, a Igreja participava decisi- cebeu o seu nome.
53

Mas, João Cordeiro destacou-se em Batu- Fortaleza; Franklin Távora, notável escritor;
rité, sobretudo, pelo seu amor à campanha abo- José de Barcelos, Ernani Gomes da Silva, Érico
licionista e em torno de sua figura expressiva de Paiva Mota, Eduardo Bezerra, Pedro Wil-
se reuniram os principais chefes locais. son e Pedro Catão.
Entre os vivos, encontramos figuras do
VISITA DO PATROCÍNIO maior relevo como Augusto Linhares, César
Campelo, Francisco Alencar Matos, Francisco
Já famoso, José do Patrocinio, cognomina- Linhares, Hugo Rocha, José Waldo Ribeiro Ra-
do o «Tigre da Abolição», resolve empreender mos, Tomaz Gomes da Silva, Stenio Gomes da
uma viagem ao norte e, de modo especial, ao Silva, Ananias Arruda, João Ramos, José Pon-
Ceará, por ser a terra vanguardeira no movi- tes de Medeiros, Clóvis Matos, Américo Barrei-
mento de libertação dos escravos e mesmo pelos ra, Barros dos Santos, Lauro Maciel Severiano,
laços de afeição que o ligava à Pátria de Ney. Benjamin Hortencio Medeiros, Vinícius Ribeiro,
De fato, em 1882, lá se veio o grande tri- Rubens Falcão, Padre Geminiano Bezerra e
buno agitar as massas populares com o seu verbo muitos outros.
esplendente de luz e de encanto. Ressalte-se, de modo especial, a glória de
Visitando outros municípios, dirigiu-se para Baturité em ter dado ao Brasil um Presidente da
Baturité onde recebeu consagradora homenagem Republica, que foi José Linhares, hoje Presi-
do povo que tinha, à frente, valoroso grupo de dente do Supremo Tribunal Federal.
abolicionistas, dentre os quais o grande João
Cordeiro. NOS DIAS QUE CORREM
Foi um
dia de festas excepcionais, posto que
todo mundo queria ouvir José do Patrocínio Nos dias que correm, Baturité é sede de
que, então, estava no auge do seu apogeu. um dos municípios representativos do Estado,
E, ainda hoje lá está a casa donde falou quer pela sua expressão económica, quer pela
à grande multidão que ouviu o paladino da liber- formação de sua juventude que se educa em vá-
dade de uma raça com o fervor e o encanto des- rios estabelecimentos de ensino do melhor qui-
pertados pela sua palavra mágica e arrebata- late e entre os quais, destacamos a Escola
dora. Apostólica, o Colégio Domingos Sávio, o Colégio
Nossa Senhora Auxiliadora e outros.
GRANDES FDLHOS DEU AO CEARA A cidade é moderna, limpa, com ruas lon-
gas, boas praças e jardins, bons edifícios, co-
Baturité tem sido um
viveiro de filhos ilus- mércio movimentado, casas bancárias, sociedade
tres nas armas, nas letras e na política. Famílias distinta, com médicos e advogados ilustrados.
tradicionais têm zelado as expressões de fé e de É Prefeito Municipal o Capitão Edgy Tá-
cultura deste povo fidalgo e acolhedor, ocupando, vora Arruda, que vem realizando uma notável
por isso, o município lugar de merecido relevo administração, fecunda em realizações do inte-
na crónica histórica do Ceará. resse geral.
Entre os falecidos, vale ressaltar Waldemar Baturité se representa na Assembleia Le-
Falcão, espírito de escol e que alcançou as mais gislativa pelo Dr. Francisco Xavier Saraiva, des-
altas posições na Capital Federal; Alfredo Du- tacado prócer udenista.
tra, chefe político e vice-presidente do Estado; Possui imprensa periódica, da qual se des-
Francisco António de Oliveira Sobrinho, poeta taca o semanário católico A
Verdade, que há anos
abolicionista; Tenente Gustavo Sampaio, sím- circula em toda a região, dirigido pelo jorna-
bolo de bravura e coragem; Godofredo Maciel, lista Ananias Arruda, ex-prefeito que prestou
político de grande prestígio, antigo prefeito de assinalados serviços à comunidade.

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DO ESTADO
54

QUANDO ESTÁ CHEIA


Assim é tam-
bém o equipamento
telefónico automá-
tico.
Algumas vezes
durante o dia, nas
horas de maior mo-
vimento, há demora
em se ouvir o ruí-
do de discar. É que
o equipamento au-
tomático está

CHEIO,
isto é, uma carga
anormal de serviço

ENCHE
todos os seletores
que transmitem o
ruído de discar.
Quando isto
acontecer espere
com o fone no ou-
vido que o ruido
apareça e disque

ECT
O 1 l\
A pU
XI
\J
Tf TA
£j 1 í\
imediatamente.
ã ° ab a n
fon^ f ora d
relhíT porque" eSa
^!
prática provoca a
retenção do equipamento, prejudicando consideravelmente o serviço, de um
modo geral, com maiores demoras de ruido para discar.
Esta crise no equipamento telefónico será sanada muito breve, com as
instalações dos 4.300 novos telefones.

P. M» F
Serviço Telefónico de Fortaleza
ERICSSON DO BRASIL COMERCIO E INDUSTRIA S. A.

ADMINISTRADORA
. . .

55

BÔA VIAGEM
FOI, OUTRORA, PAROQUIADA PELO PADRE MORORÓ
O CAPITÃO-MÓR JOÃO DE TEYVE BARRETO E MENE-
ZES DOOU TERRAS — ANTIGO CAVALO MORTO — O
FAMOSO ANTÓNIO DOMINGUES ALVAREZ — O ROU-
BO DA LINDA MOÇA —
MUNICÍPIO EM 1864, E
FREGUESIA EM 1862

BÔA VIAGEM é o município que demora no menes de Aragão, que António Domingues, ao
centro geográfico do Estado. É uma das maiores ver-se perseguido pela família da moça, apelou
unidades municipais do Ceará, por isso que tem três vezes para Nossa Senhora, fazendo-lhe pro-
2.392 km2, o que equivale a 2,21 da superfície messa de erigir igreja para sua devoção caso
total dt> território cearense. escapasse com vida. Salvo, a bem dizer por
A sua sede municipal tem o mesmo nome. um milagre, cumpre a promessa, nos idos de
15 uma cidade simpática, atraente, de gente 1772, doando terras e gado para a construção
afável e acolhedora, o que contrasta com a da igreja apalavrada, cuja devoção seria a da
ideia que, geralmente, se faz desta cidade, em santa invocada na hora difícil, isto é, Nossa
vista de estar localizada no recesso do hinterland. Senhora.
As suas ruas são largas, as suas praças
imensas, notando-se-lhe algumas residências de ARAtrJOS E MACIÉIS
melhor aparência, modernas. Os seus logradou-
ros públicos estão pavimentados e os edifícios Houve uma época, na história do Ceará, em
públicos principais são o prédio dos Correios que, efetivamente, a justiça era feita pelas pró-
« Telégrafos, o Grupo Escolar e a Penitenciária, prias mãos. Nada de delongas e nem de pro-
uma das melhores de todo o interior. cesso. O mundão era enorme e o juiz difícil. .

Foi, outrora, cidade abalada por fatos de- Além do mais os jurados é que eram elas ! . .

sagradáveis, nos quais se envolveram as princi- Nos sertões da Bôa Viagem e do Quixeramo-
pais famílias em luta tremenda contra outras bim este princípio pontificou em tremenda luta
residentes em Quixeramobim. havida entre os Axaújos e Maciéis.
Hoje é terra pacata, de povo ordeiro, bom A
coisa foi, mais ou menos, assim: os Ma-
e estimável. Pena é que os governos lhe votem ciéis, que compunham família numerosa, na sua
grande desprezo, criminoso esquecimento. totalidade residentes na Vila Nova do Campo
Maior, nome antigo de Quixeramobim, foram
FATOS INTERESSANTES acusados de roubos d'e gado pertencente à famí-
lia dos Araújos, cujos domínios se extendiam so-
No livro 14» —
Datas de Sesmarias, à pa- bre Bôa Viagem e circunvizinhanças. A coisa,
gina 131, encontramos concessão de três léguas todavia, não ficou só em suspeita. Aprestou-se
de terra a António Domingues Alves, no Riacho bando e lá se foi, atacar os Maciéis em Qui-
Cavalo Morto que desagua no Rio Quixeramobim. xeramobim !

Data, o precioso documento, dos idos d'e 26 Foi um deus-nos-acuda, na Vila Nova. •
Bala
de junho de 1743 e está assinado pelo Capitão-- com seiscentos diabos. Foram rechassados. Vol-
mór João de Teyve Barreto e Menezes, antigo taram, dias depois, já com Vicente Lopes, ter-
governador do Ceará Grande. rível bandoleiro que fazia careta aos famosos
É, pois, desta quadra que data, mais ou Mourões.
menos, o povoamento da região, hoje constituída Dia vai, dia vem, suced'em-se os encontros
em município de Bôa Viagem, outrora chamado sanguinolentos. E vai morrendo Maciéis e Araú-
de Cavalo Morto. jos . Certa vez, houve uma matança bárbara
. .

sinistra contra os Maciéis. Presos, seguiam para


* Sobral e, a meio -caminho, cruelmente trucidados.
* * Estavam com os pés e as mãos amarradas —
Anos mais tarde, passa-se um fato singular. Daí seguiram-se desforras pessoais, embos-
António Domingues Alvarez rouba uma linda cadas e assassinatos pavorosos. Certo dia, Lu-
moça nos Icós. Foi o diabo Azáfama, correria,
! ciano Domingues de Araújo ia casar-se. Tudo
pega o homem, e, nada Montado em cavalo
! pronto, feito o casório. Os noivos levantaram
ligeiro, rompeu os sertões e, mais morto do que tenda, e iam pela estrada afora, quando lá se
vivo, foi dar com a sua preciosa carga nas ri- vem certeiro tiro no coração de Luciano. Era
beiras do Cavalo Morto. Miguel Carlos que mandara Estácio da Gama
Com mais detalhes, nos conta Manuel Xi- fazer emboscada no Uruquêsinho. .
:

56

E assim viveram, por muitos anos, os Ma- A Freguesia data de 18 de novembro de 1862,
ciéis e Araújos, dantes famílias ordeiras, pres- e a padroeira é Nossa Senhora da Bôa Viagem.
timosas e trabalhadoras. A Matriz é um lindo e originalíssimo templo,
O tempo, todavia, sepultou estes ódios e ran- sempre conservado muito limpo.
cores. Hoje, os Maciéis e os Araújos constituem Foi o seu primeiro vigário o Padre António
gente bôa, de largo prestigio e conceito. Correia de Sá. Mas, antes, tivera como capelão
o famoso Padre Gonçalo Inácio de Loiola e Melo
CRONOLOGIA Mororó, mártir da Confederação do Equador,
morto por fuzilamento aos 30 de abril de 1825,
A lei n. 1.128, de 21 de novembro de 1864, onde hoje se ergue o Passeio Público. Foram as
criava o município de Bôa Viagem, desmembrado suas palavras derradeiras: «Camaradas, o alvo
o seu território do de Quixeramobim. Foi extin- é aqui (pondo a mão sobre o coração), tiro cer-
to em 1931 e restaurado, logo mais, em 1936. teiro que não me deixe sofrer muito».
A vila foi elevada à categoria de cidade em Bôa Viagem tivera, assim, a honra e a gló-
1938, num reconhecimento à sua condição de ria de ter tido missa celebrada pelo notável
sede de um município. filho do Riacho Guimarães, município de Sobral.

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BREJO SANTO — Aspecto da
cidade

V. :^vi;^s£i**-;>-^iittá52í

BÔfí VIAGEM. — As-


pecto da cidade

BARBALHA — Igrejas
BÔA VIAGEM— Igreja Matriz

BARBALHA — No alto, a
primeira casa edificada
na cidade; ruas da Bar
balha com excelente pa-
vimentação, arborizadas e
modernas
. . .

57

BREJO SANTO
ANTIGO BREJO DA BARBOSA
CRONOLOGIA E FORMAÇÃO POLÍTICA «VAMOS —
DESTRUIR PORTEIRAS !» —
O FAMOSO SAQUE DAS
GUARD3AS, A PRETEXTO DE LAMPEAO O DESABA- —
MENTO DA MATRIZ —
LÍDERES E FILHOS DLUSTRES

AFIRMA a crónica histórica, dos mais an- Certa feita, estourou a bomba: «O Lampeão
tigos, que Brejo Santo, outrora, chamou-se Brejo está nas Guaribas, fazendão do Chico-chicote!»
da Barbosa. A coisa passou-se assim: nos mea- E foi os diabos Atacaram a casa gran-
! . . .

dos do século dezoito, uma mulher destemida de. O Tenente José Bezerra, à frente da solda-
entendeu de sentar moradia onde, hoje, se ergue desca, meteu bala nos sitiados. Chico-chicote
a cidade. não era homem de conversa fiada, e lá se vai
Dia vai, dia vem, dedicou à sua propriedade bala prós seiscentos diabos. casa das Gua- A
excepcionais desvelos, a ponto de se tornar fa- ribas, era uma fortaleza. Não quedou, ao pri-
mosa, em toda a redondeza, pela grande pro- meiro embate, e lá se veio Policia da Palacia
dução de cereais que, anualmente, colhia. Fa- e do Pernambuco. Foi fogo brabo, durante mais
lava-se, então, no Brejo da Barbosa, pois a de 30 horas, sem parar um minuto.
senhora, cujo nome a história não guarda, per- O certo é que, no final da coisa, trucidaram
tencia à família Barbosa. Chico-chicote. Nem Lampeão, nem coisa al-
Conta-nos, ainda, o Padre J. Alboino Pe- guma. .

queno, que anos depois vieram ter, à mesma re-


gião, outros pioneiros pertencentes à família
Santos do que, posteriormente, originou-se a deno-
minação de Brejo dos Santos. Mais ou menos em 1914, outro fato reper-
Há quem afirme, todavia, que o povoamen- cutiu em todo o Estado, e se passava no Brejo
to deste município data de uma sesmaria conce- Santo. Raimundo Cardoso dos Santos era chefe
dida, aos 24 de janeiro de 1714, ao Tenente- supremo de Porteiras, então município. Por
Coronel António Mendes Lobato Lira, pelo que, isso, ou ou por aquilo, os chefes d!e Brejo enten-
foi real proprietário do Sítio Barbosa. Esta ver- deram de desbancar o homem da Prefeitura.
são é de António Bezerra, em «Algumas origens Hoje, Porteiras pertence a Brejo Santo, mas,
do Ceará», citada por Raimundo Girão e Mar- naqueles tempos, a rivalidade era grossa. .

tins Filho. O certo é que, certa manhã, Porteiras ama-


O município de Brejo Santo foi criado aos nheceu cercada por mais de trezentos homens,
26 de agosto de 1890, isto pelo Decreto n. 49, de bem armados e dispostos para o que desse e
Luís António Ferraz, então Governador do viesse. Os atacantes deram os primeiros dis-
Ceará. paros, no que foram respondidos pelos homens
Em 1938, pelo Decreto n. 448, de 20 de dezem- do Coronel Raimundo Cardoso dos Santos, tipo
bro, a vila de Brejo dos Santos, que fora criada" do sertanejo que não teme careta.
em 1876, foi elevada à categoria de cidade e O barulhão durou horas. Foi os diabos e,
o topónimo simplificado para Brejo Santo. no final das contas, a cidade sitiada, entregou-se
com armas e bagagens. Mas a coisa não ficou
. .

LUTAS E REVEZES nisto. Passados chega a Brejo Santo um


dias,
verdadeiro batalhão mandado pelo governo para
Alguns fatos de importância histórica regis- reintegrar, no posto, o Coronel Cardoso. A azá-
tram-se em Brejo Santo, valendo ressaltados fama foi terrível. Vai, não vai... Finalmente,
dois que tiveram grande repercussão, nos idos do a coisa serenou e, o homem reassumiu . .

primeiro quartel deste século vinte.


A região sul do Estado já vinha sobressal- A MATRIZ QUE DESABOU
tada por lutas políticas tremendas, ora no Barro,
ora na Aurora, ora na Missão Velha. Por outro A Freguesia de Brejo Santo data de 25 de
lado, alguns sicários, do tipo de Luís Padre, julho de 1876, desmembrada que foi da de Jar-
traziam em constante azáfama a gente bôa dos dim e de Milagres. De 1877 a 1903, curou a
sertões caririenses e adjacências. paróquia o Padre Francisco Lopes Abath.
Anos mais tarde, lá se vinha nova quadra Durante 25 anos, o Padre Francisco Lopes
de terror. Eram Lampeão — este monstro que Abath realizou muito em prol do progresso de
o cinema quer endeuzar, e que tanta desgraça Brejo Santo, inclusive reformando a igreja que
causou ao interior — Massilon, João 22, e ou-
, tem como padroeiro o Sagrado Coração de Jesus.
tros de sua espécie, a perlustrarem aquela re- 1949, registrou-se um fato lamentável com
gião, fazendo o mal. a Matriz local. Estavam reformando o velho
!

58

templo. Trabalhavam vários operários retiran- A nova geração apresenta: Dr. Vicente Al-
do as colunata» que seguravam o tecto. Em dado ves Santana, Joaquim Nicodemus Araújo, Mário
momento, lá se vem tudo de cima abaixo. Ruiu Leite, António Denguinho de Santana, atua! Pre-
toda a coberta, ocasionando a morte de dois pe- feito, e outros que a memória não lembra de
dreiros, saindo outros feridos. momento.
Atualmente, está sendo terminada uma re- São filhos ilustres: Dr. José Napoleão de
forma substancial no templo-séde-paroquial, Araújo, formado pela Faculdade de Medicina da
pelo que ficará um dos mais belos da região. Bahia, deputado estadual eleito em duas legis-
laturas, ex-Vice-Presidente da Assembleia Cons-
LIDERES E FILHOS ILUSTRES tituinte, destacado prócer da bancada udenista e
membro do Diretorio Estadual do mesmo par-
Brejo Santo tem uma história municipal tido. Drs. Moura Leite e Fernando Leite, este
meio-agitada e onde repontam figuras marcan- orador fluente, jornalista e professor emérito.
tes da política regional do sul do E3tado. Padre António Gomes de Araújo, historiador
Dentre outros, valem ressaltados: Manuel brilhante, senhor de uma cultura vasta, mas mo-
Inácio de Lucena, Manuel Leite de Moura, Napo- destíssimo. Frei Anastácio Maria, missionário;
leão Araújo Lima, Dionizio R. Lucena, José Iná- Dr. José Araújo Lima, médico e político em Ara-
cio da Silva e José Matias, assassinado recente- ripina, onde já foi prefeito, Dr. Heleno Araújo
mente, João Filgueiras Sampaio, José Lucena Lima, advogado e atual delegado em Salvador;
Sobrinho, Aristarco Cardoeo e Manuel Rozendo Dr. Francisco Miranda Tavares e Dr. Rozendo
Tavares. Miranda Tavares.

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59

C A MO C I M
ANTIGO QUARTEL-MESTRE DE JERÓNIMO DE ALBUQUERQUE
TRAMPOLIM PARA PÊRO COELHO, SOARES MORENO
E OS JESUÍTAS — PIRATAS DA PERNA DE PAU
A ARMADA DE JERÓNIMO DE ALBUQUERQUE LEVAN-
TA A PRIMEIRA IGREJA NO CEARA — LUIZ GABRIEL,
O GUIADOR DE NAVIOS — OS POVOADORES VINDOS
DOS SERTÕES DA MOMBAÇA, EM 1877 — O PORTO DE
OUTRORA, COM NAVIOS DE GRANDE CALADO — O
ENG°. JOSÉ PRIVAT E A MATRIZ DO BOM JESUS —
JOÃO ERIGIDO RECEBE O CONDE DEU, DEBAIXO DE
FOGUETES — DECADÊNCIA E REAÇÃO SALUTAR

A CIDADE de Camocim nasceu com a Assim aconteceu com a tropa sob o comando
vocação de ser a mais rica e a mais importante de Pêro Coelho de Sousa, que em Camocim apor-
do Ceará, visto como a natureza dotou-a do tou aos 19 de janeiro de 1604.
mais franco e notável porto existente no litoral Anos mais tarde, ainda nos idos de 1607,
do nosso Estado. os jesuítas Padres Francisco Pinto e Luís Fi-
Demorando numa linda planície, com en- gueira ali estiveram, demandando a Ibiapaba.
cantadora topografia, beneficia-se com as fer- Em 1611, é a Martin Soares Moreno que
tílissimas ribeiras do rio Coreaú que, nascendo cabe visitar a linda região camociense, tocando
na serrania da Tbiapaba, recebe como afluentes em Jericoaquara, lugar situado a poucos quiló-
principais o Itacolomy e o Parasinho. metros do local onde hoje se ergue a cidade de
Além do mais, a nove quilómetros apenas, Pinto Martins.
forma-se a barra do Camocim, que lhe outorga Quem mais demorou, porém, no Camocim
um ancoradouro capaz de abrigar mais de trinta de três séculos passados, foi o admirável e bravo
embarcações de calado superior a quatorze pés Jerónimo de Albuquerque que trazendo ordens
ingleses. severas do Governador de Pernambuco, vinha
Município vasto, dispondo de grande área em aparatosa expedição destinada à luta contra
territorial,com terras que se prestam, de modo os franceses, então senhores absolutos do Ma-
invejável, para a cultura agrícola intensiva, con- ranhão.
tando com ricas jazidas de ferro e largas possi- Foi nesta quadra de nossa história que se
bilidades para o desenvolvimento da indústria do ergueu, em Camocim, a primeira Igreja, man-
sal e do pescado, vive Camocim ante um futuro dada levantar pelo chefe da tropa, com o con-
formidável, esperando, clamando e pedindo o au- curso valioso de Soares Moreno, que com ele fora
xílio dos poderes competentes para a solução ime- ter encontro para, juntos, seguirem ao extremo
diata dos seus mais graves problemas e dos norte.
quais depende, diretamente, toda a prosperidade É, ainda, nesta época recuada de nossa his-
económica da zona norte do Ceará. tória que, nas praias camocienses troa o canhão
A realidade de hoje, contrasta inegavel- da pirataria da costa. Ao ribombar dos tiros
mente, com o destino que lhe havia reservado o inimigos de Du Pràt, temível capitão que a his-
colonizador de outrora, visto como Camocim ser- tória já envolve em forma de personagem len-
viu de ponto básico para a conquista do Mara- dária, Jerónimo de Albuquerque respondia com
nhão, dali saindo, a mais de três séculos, as es- a bravura indomável dos seus comandados e co-
cunas e caravelas que, abarrotadas de Índios e lonizadores . .

soldados, repeliram a pirataria de Du Prat.


OS PIONEDtOS DA TERRA VERGEM POR MUITOS ANOS, O SILENCIO
Quem, no primeiro quartel do século dezes- Caminho natural e ponto de convergência
sete se aventurasseà conquista da Capitania do para as escaramuças da quadra de conquista e
Ceará Grande, forçosamente atingiria a região posse definitiva do território, Camocim caiu, por
compreendida nas cercanias de Camocim. Prin- muitos anos, num quase esquecimento total. É
cipalmente ao's que desejavam subir a Ibiapaba, que as linhas de colonização e povoamento do
terra da promissão, por ali haviam de palmilhar território tomaram novo rumo.
léguas e léguas na gleba virgem, geralmente Vez por outra, ali, aportavam brigues, es-
vindos do mar, demandando a foz do grande rio cunas e caravelões com destinos já traçados; em
ou o seguro abrigo que oferecia a enseaeda de 1660, dali partiu pequeno veleiro, com o jesuíta
Jericoaquara. João Felipe, em demanda do Maranhão; em 1745
. .

60

era visto na barra um patacho que fugira do tem a seu favor grandes promessas, resultado
Pará e andava sem destino; 1759, era Camocim de uma embaixada que foi, recentemente, ao Rio,
visitado por Gama Casco que, de ordem de D. sob a direção do cnefe politico e capitalista Mu-
rilo Aguiar, ex-deputado e que, na Capital da
José I, erigia a Vila Viçosa e já em 1769 ali apor-
República, prestigiado pelo deputado federal
ta uma caravela inglesa. .

A vinda, assim constante, de barcos, obri- Gentil Barreira, entrou em atividade para a so-
gou a que viesse, de Tutoia, o prático Gabriel Ro- lução de importantes problemas da terra.
drigues da Rocha e, com toda a familia, ai sen- Porto de condições favoráveis à navegação
tasse moradia. Homem forte, aumentou a fa- moderna será um escoadouro de grandes possi-
mília em pouco tempo e, dos seus numerosos bilidades para a produção da zona norte, bem
rebentos, um se fez celebre no trato da barra e como para o desenvolvimento do comércio local,
na perícia com que levava as embarcações a visto como a mercadoria exportada e importada
seguro lugar. é recebida, por assim dizer, dentro da cidade,
Terra dantes e até então habitada por gran- com caminho de ferro a pouco mais de cem
de número de indígenas, Camocim passou a ser metros do cais !

pequena aldeia, com casaria singela, de chão


de barro batido, cobertas de palhas, com pare- DR. PRIVAT, GRANDE BENFEITOR
dame de tapume e habitadas por gente simples,
com costumes praieiros.
civilização e Quem indaga da crónica histórica de Ca-
Assim permaneceu por longos anos, se desen- mocim encontra, sempre presente, notadamente
volvendo e se povoando com muita demora, até a partir do uitimo quartel do século dezenove a
que a seca de 1877 deu-lhe alento, vez que abri- figura simpática e culta do engenheiro õr. José
gou milhares de forasteiros, emigrantes vindos Privat, hoje com o nome homenageado em Vi-
dos sertões tórridos da Mombaça. las e Estações da R. V. C.
Em poucos anos após, lá estava formado Homem arguto, prestável, foi por muitos
pequeno arraial, já se alastrando, pelo interior anos dirigente dos serviços de construção da fer-
do município, o povoamento do solo com o trato rovia que liga Sobral à Camocim.
da terra que se prestava para a agricultura. Residindo, por certo tempo, nesta cidade,
Nascia, assim, a pequena Vila de Camocim, dela se afeiçoou, sendo um dos que mais lu-
nos idos de 1879, com data de 29 de setembro do taram pelo seu progresso. Inúmeros foram os
mesmo ano. Conquistava, Camocim, a sua maio- benefícios por êle feitos à Camocim.
ridade política, se constituindo em município in- Em 1880, fez detalhado estudo, da barra do
dependente, dada as excepcionais condições ecc*- Camocim até à enseada de Jericoaquara, res-
nômicas da região e do porto que já se apresen- saltando a excelência do porto e a necessidade
tava importante na vida do Estado, principal- de melhorá-lo o quanto antes, mesmo tendo em
mente na zona norte. .:j
vista a construção da ferrovia que ligaria vá-
rios municípios, com grande produção.
O QITE FOI UM GRANDE PORTO Logo mais, levantou planta para edificação
da Igreja local, hoje belo templo, com orago
A luta do povo de Camocim sempre foi de Bom Jesus dos Navegantes e obra admirável
maior em torno do seu porto. Fruto da própria do virtuoso Padre José Augusto, que foi vigário
natureza, ainda não foi beneficiado pela enge- da Paroquia, criada aos 5 de setembro d'e 1822,
nharia e pelo patriotismo, hoje tão escasso, dos anexada a Granja, e desanexada em 1906.
nossos homens de governo. Homem lido, o dr. Privat, ainda hoje é lem-
Modernizado, tornado em condições técni- brado pelos camocienses, num preito de admira-
cas favoráveis, seria o porto de Camocim de ção ao amor que êle dedicou à Pátria de Júlio
notável utilidade para a vida económica do Cea- Veras, famoso revolucionário de 1930.
rá, vez que beneficiaria o recebimento e o escoa-
mento de larga produção, podendo outorgar, CD3ADE E3D3ANDEIRADA E FESTrVA
assim, uma febril atividade comercial à simpá- EM 1889
tica cidade.
Houve época em que floresceu o seu progres- Corria o ano da Graça de 1889, último da
so, muitas firmas importantes ali tiveram 03
e monarquia. .Mesmo assim, lá se veio o Conde
.

seus armazéns e os seus negócios. Mas o desen- D'Eu visitar o Ceará. Governava a Provincia
volvimento da navegação, com navios de maior o Senador Henrique de Ávila, homem austero,
calado, exigiu melhoria de cais e segurança de de bons costumes, honestíssimo, embora que um
atracação, bem como dragagem da barra. pouco vaidoso . .

Em 1855, entrou, em Camocim, um vapor de As pressas, chamado, corre à Palácio, o fa-


grande calado, da companhia Marquês de Olinda, moso jornalista João Brigido, que é solicitado
comandado por António Maciel, piloto de fama. para receber, em Camocim, o genro do Impe-
Em 1859, lá entravam três navios denominados rador e herói do Paraguai.
«São Luís», «Pindaré» e «Camocim». Em 1879, Viagem feita, a recepção de Camocim cati-
lá aporta um navio alemão, de grande calado. vou o Príncipe. Toda a cidade estava emban-
Já agora, em 1925, houve dia em que anco- deirada. Povaréu à rua, aos vivas e manifesta-
raram, com segurança, cinco barcos de grande ções de estima, ouvia-se a cada minuto, o pipo-
calado, e foram eles: o «Camocim», «Tabatin- car do fogueitório que subia aos céus da singela
ga», «Sergipe», «Providência» e «Cubatão». To- cidade litorânea.
dos carregaram, descarregaram e pegaram pas- Ao desembarque do parente do Duque de Ne-
sageiros. mours, estava presente a fina flor da sociedade
Voltando ao cartaz, o porto de Camocim local e, com ela, afinada filarmónica que tocava
. .

61

dobrados marciais. Foi um Deus nos acuda ! . . matadouro moderno e outras iniciativas de inte-
De estatura avantajada, simpático, o Conde resse coletivo.
d Eu acenava com a mão a cada eclosão do en-
5
Instituições de classe, como a Associação Co-
tusiasmo popular. mercial local, desenvolvem febril atividade, coadju-
Foi um grande dia e a festa memorável per- vadas pelas classes conservadoras e pela ação
maneceu no coração dos camocienses, mal grado benemérita do vicaríato local a fim de que, Ca-
o tiro republicano que levara ao exílio a famí- mocim retome a estrada do progresso que dan-
lia real e, com ela, o visitador ilustre daquelas tes fora palmilhada.
plagas hospitaleiras. . Murilo Aguiar, Alfredo Coelho, e outros
chefes políticos, estão de fogos acesos, defen-
REAÇÃO SALUTAR, A DE HOJE dendo os interesses da terra.
E, voltando as suas vistas para o passado 1

Terra de nobres tradições, de povo operoso, os filhos de Camocim se inspiram, hoje, no pa-
tem Camocim um futuro promissor à sua frente. triotismo dos seus mais ilustres rebentos, dentre
Em nossos dias os seus filhos de maior pro- os quais, destacamos, Euclides Pinto Martins,
jeção compreenderam que é preciso lutar, sem herói nacional; dr. Raimundo Cela, pintor de
desfalecimentos, para que esta cidade atinja à fama continental; tenente Francisco Marques de
plenitude de sua expressão económica e comercial. Sousa, vítima do cumprimento do dever; dr. José
Favorecida pela natureza, demorando numa Espiridião de Carvalho, dr. José Tomé de Sa-
região riquíssima, podendo ser um núcleo de bóia e Silva e General Onofre Muniz Gomes de
grande atividade financeira e industrial, mete- Lima, escritor e atual Senador da República,
ram mãos à obra os líderes, e estão a exigir a vultos marcantes de Camocim que honram o
solução dos seus problemas. Ceará,
Estando à frente da municipalidade o esti- A notável Maternidade, o Posto de Puericul-
mado Setembrino Fontenele Veras, rapaz culto tura, o Posto Médico, o Cais, e outras obras
embora que modesto, a cidade progride a olhos públicas, comprovam a reação salutar que hoje
vistos, com novos melhoramentos tais como pavi- se registra em Camocim em prol do seu progresso
mentação de suas ruas, construções de avenidas, e de seu desenvolvimento.

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CAMPOS SALES
ANTIGO POVOADO DE NOVA ROMA
TERRAS IMENSAS DO VISCONDE DO ICÓ — CIDADE
EM 1899 — CENAS E EPISÓDIOS INTERESSANTES
ONDE FALECEU BARBARA DE ALENCAR — LÍDERES
E FIGURAS DE RELEVO — UMA GRANDE CIDADE

CAMPOS SALES é um
dos grandes muni- 448, a vila de Campos Sales foi elevada à cate-
cípios do Ceará. O seu território se extende ria de cidade.
por 2.642 quilómetros quadrados, o que, em re- Em nossos dias, é uma das mais importan-
lação à superfície total do Estado, nos ofere- tes sedes municipais do Ceará. Ultimamente foi
ce 1,72. criada a Paroquia sob a invocação de Nossa Se-
O contorno geográfico de suas terras apre- nhora da Penha. Amatriz data de 1847, e já
senta-se-nos ora montanhoso, ora plano. Dista teve inúmeras reformas.
mais de 600 kms. de Fortaleza, e se limita com
Pernambuco e Piauí. É, assim, um município CENAS E EPISÓDIOS
longínquo, cuja distancia é encurtada e fácil de
ser vencida, pela excelente rodovia que vai atin- Contam, os mais velhos, que no princípio
gir a cidade de Picos. deste século existia em Campos Sales um político
Nas quadras dos bons invernos é terra que «moderno». Astucioso, homem de mil artima-
vive por si própria, farta e feliz, pois o seu povo nhas, e que conseguiu iludir a muito chefe po-
é sabidamente laborioso e amante da gleba, por lítivo de Fortaleza.
isso que ordeiro e fiel às tradições locais. Naquele tempo só existia, praticamente, um
Grande parte de suas terras constituíram, meio de comunicação com a capital do Estado,
outrora, nos idos ainda do primeiro quartel do que era o telegrafo. Uma carta demorava um
século dezenove, o fazendão sem fim do famoso mundão de tempo para chegar ao seu destino,
Francisco Fernandes Vieira, Visconde do Icó, visto como o transporte era feito em lombo de
nascido em Saboeiro, e cuja vida foi proeminente animal, por estrada difícil. A
distância auxiliava
na quadra imperial. as maquinações do nosso «herói».
A Campos Sales é uma cida-
sede municipal de Chama-se Raimundo Bento Souza Beléco. E,
de vasta,com ruas largas, simpática, toda pavi- por mais que pareça absurdo, nunca caiu. Es-
mentada, com excelente iluminação, bons prédios tava sempre de cima, e prestigiado. É que a sua
residenciais e moderno passeio público. façanha principal consistia em se corresponder
dividindo os quatro nomes: para um chefe po-
MAIORIDADE POLITICA lítico assinava Raimundo Bento, e para outro
largava o Souza Beléco, somente. Tinha, assim,
O território que hoje forma Campos Sales já dupla personalidade e, no final das contas, jo-
pertenceu ao atual município de Araripe, então gava com duplo eleitorado. A sua artimanha
chamado de Brejo Seco. nunca foi descoberta. .

A Lei n. 530, de 29 de julho de 1899, do go-


verno do Dr. António Pinto Nogueira Acioly, ele-
vou à município, dando-lhe assim autonomia
política. A povoação de Nova Roma, que já havia
se chamado de Várzea da Vaca, é elevada à ca- fi o escritor Padre Azarias Sobreira quem
tegoria de Vila e a sua instalação, solene, veri- nos conta. Existe em Campos Sales o homem
ficou-se no dia 27 de outubro do mesmo ano da mais comedor do Brasil. Chama-se Joaquim
criação, com o nome de Campos Sales. Fernandes Távora, mais conhecido, todavia, por
Anos mais tarde, isto é, em 1931, por uma Quinco Fernandes.
malfadada lei que extinguiu vários municípios Em tempo de rapaz, foi estróina. Trabalha-
do Ceará, Campos Sales perde a sua autonomia. va como um mouro, mas gastava mais do que
O fato contristou, como era de se esperar, recebia. Entendendo de constituir família, ca-
toda a população local que, não se conforman- sou-se e nunca mais andou a brincar demasiado.
do, iniciou, de' logo, sadio movimento no sentido Mas, o que distingue este homem singular
da restauração municipal. é o seguinte: certa vez comeu oitenta bananas
Coube ao Interventor Carneiro de Mendonça bem graúdas. Nunca deixa de fazer três refei-
reparar a injustiça praticada e, pelo Decreto ções avantajadas, diariamente. Muitas vezes a
193, de 20 de maio de 1931, o município foi res- sobremesa tem sido uma rapadura inteira. O seu
taurado. almoço é suficiente para uma família inteira !

Anos depois, já agora em 1938, pelo Dec. Certa feita, sentiu vontade de merendar.
. .

64

Estômago vazio ... E lá se foram duas garra- volvido constantemente. Algumas realizações
fas inteiras de saboroso mél de jandaira. . públicas estão sendo postas em prática, sendo
Estatura fora do comum, Quinco Fernandes, digno de realce as que foram levadas a bom ter-
nesta quadra de coisas minguadas, não é lá hos- mo na administração do ex-Prefeito Hélio Lima
pede muito desejado não. . e as que estão sendo realizadas e ultimadas na
atual administração do Prefeito Francisco Ve-
A FAMOSA FAZENDA TOURO loso de Andrade, homem de bem e excelente
administrador.
Existe em Campos Sales uma fazenda an- Entre o presente e o passado, devem ser real-
tiga,,denomina Touro e que foi, outrora, pro- çados os seguintes líderes locais: Clóvis Arrais
priedade rural de Bárbara Pereira de Alencar, Maia, líder das classes conservadoras, pre-
heroina cearense. sidente da Confederação Nacional do Comercio;
Mulher extraordinária, soube ser fiel, até ao Enéas Arrais, ex-prefeito, homem de bem, chefe
sacrífio, àpregação revolucionária dos filhos. político prestigioso, falecido há poucos anos; Mon-
Envolvida no movimento de 1817, foi presa e re- senhor Miguel Tavares Campos, que embora não
metida para Fortaleza, com outros participantes sendo filho de Campos Sales, prestou reais ser-
do movimento rebelde. viços a esta comunidade, notadamente à antiga
Aqui, esteve encarcerada num cubículo do vila de São Domingos; Virgílio Arrais, militan-
Quartel de 1» linha, e logo mais foi enviada para te da política local; Dr. François de Andrade
Recife, donde seguiu para as prisões da Bahia. Arrais, falecido nâ mocidade, rapaz de grande
Terminou os seus dias, aos 67 anos de idade, talento; Dr. Raimundo Monte Arrais, escritor
na mencionada fazenda Touro, que fica em Cam- de renome, glória do Ceará, homem píiblico dos
pos Sales. Registra a crónica que se dirigira de mais critério e cultura e que residiu, duran-
para esta sua propriedade, temendo a revolução te muitos anos, em Campos Sales, jornalista
chefiada por Pinto Madeira, em 1831. António Aquiles Arrais, Diretor da Associação
Cearense de Imprensa, antigo diretor de jornal,
EM NOSSOS DIAS no Crato, e que goza de real prestigio e estima
em Fortaleza; Dr. Meton Barreto Morais, mé-
Campos Sales conta, atualmente, com mais dico e chefe político local; José Augusto, chefe
de 22.000 habitantes. Está com as seguintes político estimado; Hélio Lima, suplente de depu-
vilas, todas sedes de distrito: Itaguá, Quixariú, tado estadual, alto comerciante e político de
Salitre, Carmelópolis, ex-Limoeiro e Barão de grande prestígio em todo o município. Desta-
Aquiraz, ex-Rancharia. A cidade, sede tem mais que-se, ainda, os vereadores Ananias Custódio
de 4.000 habitantes. Arrais, Luís Pereira Souza, Virgílio Albuquer-
De alguns anos aos nossos dias, nota-se que Arrais, Raimundo Ricardo de Morais, Rai-
uma mística de progresso no sentido de melhorar mundo Costa e Silva, Nelson Alves Andrade e
as condições locais. O comércio tem se desen- Milton Barreto de Morais.

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. .

65

C ANINDÉ
A CIDADE DA ESPERANÇA E DA FÊ

O PORTUGUÊS XAVIER DE MEDEIROS — O MILAGRE


DA TORRE E A SÚPLICA DO POVO — OS CAPUCHI-
NHOS LOMBARDOS — MAZINE E A ARTE GÓTICA —
JOSÉ ANTÓNIO DO FECHADO — FREI LUCAS VONNE-
GUT — CRUZ SALDANHA E MARTINHO RODRIGUES
— FAMÍLIAS TRADICIONAIS — O ELOGIO DE RUY
BARBOSA — NA POLÍTICA E NAS LETRAS — VISITA
ANUAL DE DUZENTOS MIL CATÓLICOS

CANINDÉ é a cidade da esperança. Já se XAVIER DE MEDEmOS ERGUE UMA


contam aos milhões os forasteiros que ihe trans- CAPELA
puseram os umbrais, dominados por visível an-
siedade e emoção, demandando ao relicário de Nos meados do século dezoito, Canindé era
fé, erguido, em 1795, na capela humilde e trans- um aldeamento de índios que tinham vindo dos
formado, mais tarde, no imponente monumento sertões do Monte-Mór, o Novo América, hoje
de estilo gótico- toscano, que a todos encanta município de Baturité. Não passava, assim, de
pelo primor de sua majestade lírica e impressio- um pequeno núcleo, lugarejo inexpressivo, in-
nante. De simples arrabalde, em 1775, esta sin- culto, vegetando numa existência semi-bárbara.
gular cidade — a mais conhecida do Nordeste — Habitavam a vasta região alguns fazendei-
metamorfoseou-se numa urbs moderna, abran- ros que ali se estabeleceram por sesmarias, vin-
gendo extensa área, com ruas e praças, bairros dos, na sua totalidade, das ribeiras do Jagua-
e vilas, igrejas, capelas, colégios, residências de ribe, a fim de fazer fortuna no labor do pas-
fino gosto e edifícios públicos que lhe grangea- toreio e no trato da terra.
ram a primazia de ser hoje uma das melhores Tempos depois, já em 1775, senta moradia,
cidades do Ceará. Com sessenta mil habitantes à margem esquerda do rio, situando grande fa-
no município, e dez mil na sede da comunidade, zenda de criar, o português Francisco Xavier de
Canindé é uma admirável síntese do fecundo labor Medeiros, homem destemeroso e já feito na azá-
dos seus filhos, por isso que atesta, eloquente- fama de povoar regiões desconhecidas . .

mente, notável desenvolvimento nos últimos anos Prestigiado nas cercanias, Xavier de Me-
de fecunda atividade. Demorando à margem do deiros resolve edificar pequena capela. Inicia-
rio do mesmo nome, dista da capital apenas 133 dos os trabalhos, com a ajuda dos moradores
quilómetros, situando-se em pleno sertão, daí vizinhos, o pequeno templo já estava em meio
porque a sua vida económica tem o seu maior quando em 1792, caiu sobre a região tremenda
esteio na atividade agrícola e pastoril. Foi sem- seca. Suspensos os serviços de construção, so-
pre uma cidade calma, de gente afával, acolhe- mente foram reiniciados em 1795.
dora e muito bôa. Ao correr de sua crónica his- Não desanimado da tarefa nobilitante a
tórica lhe repontam alguns conflitos de origem que se tinha proposto, Xavier de Medeiros, após
política, sem maiores consequências, à época lon- mais um ano de lu.ta, vê terminada a capela
gínqua das eleições a bico de pena. . dedicada a São Francisco das Chagas.
Daí por diante, já com a celebração de atos
Tem glorioso passado, posto que foi viveiro católicos nos maiores dias do calenaario reli-
de homens ilustres, alguns, pontífices máximos gioso, o arraial começara a progredir lentamen-
da quadra provincial, liderando campanhas me- te em torno da pequena evocativa igrejinha.
moráveis, como a da abolição que lhe coloca-
ram bem alto no conceito dos contemporâneos O MILAGRE DA TORRE E SUPLICA
e no coração da Pátria agradecida. Bem se lhe DO POVO
ajusta a primorosa frase de Ruy Barbosa, o mag-
nifico filho da Bahia: «Canindé é ama célula Com o desenvolvimento natural do povoado,
viva no organismo morto do Ceará». Título de já se enfronhando para conquistar a categoria
elevada nobreza, conquistou-o por haver sufra- de vila, houve necessidade de uma reforma de
gado o nctne do grande e imortal brasileiro que base na igrejinha que já se tornava famosa.
se candidatara à Presidência da República, Foi quando se deu o milagre que correria mundo
quando da campanha civilista, que agitou o País afora, celebrizando o histórico templo erguido
sob o fulgor e o encanto das ideias liberais . . . por Xavier de Medeiros auxiliado pelo tenente-
66

general Simão Barbosa Cordeiro e demais fa- JOSÉ ANTÓNIO E O BARULHO DE 1852
zendeiros ca redondeza. Um operário que tra-
balhava na torre despencou-ee de céus abaixo. Corria vida agitada na Provincia. Era 1852,
Valendo-se de São Francisco ficou preso à ponta ano em que se realizariam eleições gerais para a
de uma trave, salvando-se de morte certa. escolha dos Juizes de Paz, visto haver terminado
O fato se constituiu num autêntico milagre, o quadriénio.
e correu de boca em boca. De logo. aparece- O partidarismo estava a exaltar os ânimos
ram trovadores para cantar o feito miraculoso. e quase não havia vila ou cidade que não sofresse
E a fama do santuário conquistou os sertões, as consequências da balbúrdia tremenda. A in-
chamando a si milhares de peregrinos de todos fluencia do governo era terrível. Formara-se,
as paragens. maior ainda, a oposição.
Iniciado o século dezenove, já eram tradi- Grandes chefes políticos, autênticos coronéis,
cionais os festejos do santo franciscano. Daí formavam grupos armados à bacamarte. . . A
porque, o povo de Canindé resolve enviar uma coisa ia ser dura de verdade. Quem conseguisse
súplica ao Senado da Câmara da Vila de Forta- a palma da vitoria derramaria «sangue, suor e
leza de Nossa Senhora da Assunção, solicitando lágrima».
fosse criada uma freguesia a fim de atender às Em Canindé, a coisa estava pelas últimas.
necessidades inadiáveis do desenvolvimento do O Capitão José Bernardo de Sousa Uchòa, chefe
povoado. Entre outras razões, evocava a da de uma facção política, homem influente, antigo
distancia à aéde da capitania; a dificuldade que presidente do Senado da Câmara e possuidor de
os cristãos tinham para ouvtr o santo sacrificio numeroso e bravo eleitorado, era também De-
da missa; que tinham construído uma igreja que legado.
se prestava muito bem para matriz; e que nenhu- No dia do pleito — que àquela remota época
ma outra religião poderia suavizar a vida que sempre decorria debaixo de bala —houve tre-
levavam no longínquo sertão, a não ser a do menda fuzilaria em plena rua, encontrando a
Patriarca de Assis. morte, nesta ocasião o Tenente-Coronel Manuel
Cumprindo o seu dever, a Câmara encami- Mendes da Cruz Guimarães, adversária ranco-
nha, a quem de direito, a justa reclamação, em roso de o Capitão José Bernardo.
termos de legitima súplica. El-Rei Dom João VI, Instaurado o processo apontou-se como sen-
por Alvará, datado de 30 de outubro de 1817, do culpado, a José António de Sousa Uchòa, filho
defere a concessão feita por D. Frei António de de José Bernardo.
São José, Bispo de Pernambuco, aos 10 de junho Data daí, a vida agitada do antigo proprie-
de 1817, elevando a Capela de São Francisco das tário da Fazenda Fechado, homem valente, bravo,
Chagas de Canindé à categoria de Matriz. incapaz de cometer uma injustiça e sempre vol-
tado para as boas ações e os bons cometimentos.
PROGRIDE O POVOADO Antes, já fora acusado de crime de morte
na pessoa de Marcolino, que raptara uma moça
Com a criação da freguesia e a consequente com quem se casara contra a vontade da família.
nomeação do primeiro Vigário, cuja escolha re- Perseguido por Carlos Sales, parente da moça,
caíra no virtuoso Padre Francisco de Paula Bar- Marcolino é por este assassinado. Como estava
ros, antigo clérigo da capelania de São Francis- em companhia de José António, a este foi, falsa-
co o povoado tomou novos rumos, dada a sa- mente, imputado o crime. Indo a Júri, foi absol-
tisfação geral dos seus habitantes. vido, o mesmo acontecendo com relação à morte
O povo já não se conformava somente com de Mendes Guimarães.
o paroquiato. Desejava agora a criação da Vila. Outros fatos ocorreram ao correr dos anos
E esta, efetivamente, veio aos 29 de julho de nos quais estava presente a figura do bravo ser-
1846, pelo Decreto numero 360. Era então Go- tanejo. Por diversos crimes foi acusado, sendo
vernador da Província, Inácio Correia de Vas- absolvido mais de quatro vezes.
concelos. A carta de lei está assim redigida: A perseguição foi tamanha que, cercada a
«Inácio Correia de Vasconcelos, Presidente casa de fazenda por mais de cem praças, a luta
da Província do Ceará. Faço saber a todos os foi acesa, saindo vitorioso José António. Para
seus habitantes, que a Assembleia Legislativa pôr fim à tremenda perseguição política que lhe
Decretou, e eu sanciono o seguinte: Art. 1» — fizeram teve de vir para a Capital, regressando,
Fica ereta em Vila, a Povoação de S. Francisco anos mais tarde, para contrair núpcias aos 86
das Chagas de Canindé. Ar.t 2» —Os limites anos de idade.
deste termo serão os mesmos da Freguezia. Art Terminou os seus dias na fazenda Lagoa das
3' — Haverá um só Tabelião do Público Judi- Pedras, falecendo, em 1918, com 94 janeiros sem
cial e Notas que acumulará também o oficio d* nunca ter morto alguém, mas sempre conser-
Escrivão d'Orfãos. Art. 4» — Ficam revogadas vando um grupo de destemidos e lealdosos
todas as Leis e Disposições em contrário. Mando amigos.
portanto a todas as autoridades aquém o conhe-
cimento e execução do referido Decreto perten- OS CAPUCHINHOS E A REFORMA DA
cer, que o cumpram e façam cumprir tão intei- IGREJA
ramente como n'ele se contem. O Secretario
d' esta Província o faça imprimir, publicar É sempre com carinhosa evocação que se re-
correr». memora a passagem dos frades capuchinhos pelo
Chegara, assim, a independência politica do Canindé. Foram tão bons e amaram tanto a
município, que passava, daí por diante, a esco- terra,que ainda hoje se lhes conserva a lembran-
lher os seus próprios dirigentes, em agitadas con- ça querida.
tendas partidárias que a crónica registra, com Vieram eles da provincia de S. Carlos em
fatos e episódios os mais interessantes. Milão, por contrato celebrado entre o saudoso
67

Dom Joaquim José Vieira e o Superior da Missão Há


cerca de 28 anos, o grande pintor ale-
Lombarda. mão Jorge Kau decorou a Basílica com lindos
Chegaram a Canindé, em setembro de 1898, painés que representam a vida de São Francisco.
num grupo de oito, sendo-lhes superior Frei
David de Dezenzano. Sucedeu-lhe, meses depois, VULTOS EMINENTES DE CANINDÉ
na direção da comunidade religiosa o grande
Frei Matias que realizou obras notáveis, dentre Vultos do maior relevo, na política e nas
as quais o início da reforma da majestosa Igreja- letras do Ceará, são 03 filhos de Canindé. Mar-
Matriz. tinho Rodrigues de Sousa foi orador de largos
Tendo resignado o cargo de Vigário, é substi- recursos, político de grande prestígio, deputado
tuído por Frei Alfredo Martinengo, que atacou, de federal, poeta, jornalista e advogado de nomea-
rijo,a reconstrução monumental do famoso edi- da, não tendo chegado à Presidência do Estado
fícioda atual Basílica. pela falta de lealdade de João Cordeiro; Antó-
Para isto, foi contratado o arquitéto Antó- nio da Cruz Saldanha foi primoroso abolicio-
nio Mazzini, que realizou obra magnifica, posto nista e político ardoroso; Cordolino Barbosa
que quem vai à Canindé, fica impressionado Cordeiro ocupou cadeira na Assembleia; José
admirando o Santuário, cujas torres têm 32 me- Cordeiro da Cruz foi deputado provincial e vigo-
tros de altura, rasgadas por janelas góticas, roso jornalista; Joaquim José da Cruz Saldanha,
trabalhadas em fino estilo toscano e fazendo durante longos anos pontificou na política cea-
lembrar as grandes catedrais europeias. Apresen- rense como urn dos seus maiores chefes; Pom-
tando uma forma de cruz grega, a Igreja tem, no pilio Cruz dirigiu a Escola Normal e foi polí-
seu centro, uma cúpola lindíssima de 35 metros tico de nomeada; Augusto Rocha escreveu cró-
de altura. A sua inauguração deu-se, por entre nicas históricas do melhor quilate na imprensa
os maiores festejos, aos 2 de maio de 1915. cearense; e, contemporaneamente, tivemos Mo-
Aquela época, foram dispendidos duzentos e cin- zart Pinto Damasceno, orador de fino gosto,
coenta mil cruzeiros As reformas duraram 4
!
conferencista admirável, poeta e prosador finís-
anos e seis meses, mas valeu o sacrifício, pois simo; Romeu Martins, autor de varias obras de
se constituiu a Igreja de Canindé numa das interpretação sociológica; Gregoriano Cruz, po-
mais belas expressões artísticas de iodo o Bra- liglota, poeta e cronista de fina sutileza; Cruz
sil cotólico. Filho, poeta e historiador; Josa Magalhães, do
Outras obras de vulto foram realizadas, Instituto do Ceará; Martins Capistrano, há anos,
pelos capuchinhos em
Canindé, destacando-se a redator do Fon-Fon e cronista apreciado, nas le-
construção da Casa Paroquial, o açude S. Paulo, tras nacionais.
instalação de possante Usina Eletrica, reforma
Famílias tradicionais se desdobraram em
e ampliação do Colégio de São Francisco, a cons-
Canindé e, dentre elas, podemos citar a dos Mar-
trução do Monumento ao Centenário da Indepen-
tins Rodrigues, Pinto Damasceno, Cruz, Cordei-
dência do Brasil e instituição de inúmeras asso-
ro, Barbosa, Macambira, Peixoto, Magalhães,
ciações religiosas, como a construção da Igreja
Martins, Pereira, Uchôa, Barreto, Alves, Vieira,
de Nossa Senhora das Dores e do Colégio Santa
Monteiro, da qual se destacou o Coronel Sitônio
Clara.
Monteiro, homem de grande caráter e de fino
Como se pode observar, foi realmente no-
trato, Militão e Oliveira.
tável a permanência dos frades capuchinhos em
Canindé, razão por que o povo evoca o nome de Como se pode verificar, a família canindeense
Frei Matias, Frei Cirilo, Frei Silvério, Frei Mar- é das mais ilustradas do Ceará, enobrecendo, as-
celino de Milão, grande e primoroso orador, Frei sim, a tradição e o renome das antigas nobiliar-
Alfredo e outros mais, como verdadeiros bene- quias sertanejas, posto que lhe tem dado legíti-
méritos da terra de Mozar Pinto. mos e nobres varões.
Com a retirada dos Capuchinhos que foram Nos dias que correm, Canindé é urna cidade
para a prelazia de Grajaú, no Maranhão, vieram que oferece ao visitante, aspectos interessantes,
para Canindé os Franciscanos Menores, tendo por isso que já se lhe nota uma feição moderna
à frente a figura simpática e acolhedora de Frei- com construções apropriadas à época em que vi-
Lucas Vonnegut, estimadíssimo por todos os ca- vemos, presença em alta escala, de filhos de ou-
nindeenses. Posteriormente, em 1924, vem Frei tras terras à procura dó triunfo na vida comer-
Policarpo Cornelius, atual Vigário da Paroquia cial; com praças iluminadas à luz florescente,
e um sincero amigo da cidade e do f ovo de obras públicas em andamento e ruas sempre mo-
Canindé. vimentadas e com comercio ativo.

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C ARIRÉ
CIDADE FUNDADA PELA ESTRADA DE FERRO
MUNICÍPIO DE RECENTE CRIAÇÃO —
A MATRIZ, OBRA
DE JOÃO THOMÉ —
O PRIMEIRO PÁROCO FAMÍLIAS —
QUE POVOARAM A TERRA _
COMUNIDADE RICA E
FARTA, NAS QUADRAS DOS BONS INVERNOS —
ELÍSIO AGUIAR —
LÍDERES LOCAIS

O NOME é de origem indígena e, como acen- ploma de maioridade política do município. Rps-
tua Pompeu Sobrinho, significa peixe diferente, salte-se, já nesta época, os bons ofícios de Elí-
isto é «cari» (peixe) e «ré» (diferente). sio As^iiar junto às autoridades administrativas
O seu território mede 1.024 quilómetros qua- no sentido de que a medida não viesse a ser
drados, ou seja 0,67 em relação à área total do procastinada, pois havia quem estivesse inter-
Ceará. Situa-se em pleno sertão da zona norte cedendo contra o justo desejo dos càriréenses.
do Estado, estando limitado com Coreaú, Sobral,
Santa Quitéria, Ibiapina, Santa Cruz do Norte e Em 1931, um famoso decreto que e:ítinguiu
vários municípios cearenses, atingiu o de Cariré,
São Benedito.
É constituído de terras excelentes para a pondo abaixo a sua soberania, passanao o seu
território para Sobral, donde havia sido des-
agricultura, por isso que beneficiadas pelas ri-
beiras dos rios Acaraú e Jaibaras e os pequenos
membrado.
riachos, tributários destes dois cursos dágua. Em 1935, porém, na administração Coronel
Hoje, beneficia-se com o açude Jaibara, Felipe Moreira Lima, é restaurado o município,
grande reservatório e, nas suas proximidades, embora que com território reduzido.
está sendo levantada a grande barragem deno- Posteriormente, isto é, em 1938, lhe restituí-
minada Araras, que será o maior açude do Bra- ram os antigos distritos que lhe tinham formado
sil, com mais de um bilhão de metros cúbicos território em 1929, ano de sua criação.
dagua. A lei n. 448, de 20 de dezembro de 1938, ele-
Nas quadras das boas invernadas, é municí- vou a vila à cidade.
pio feliz, próspero, sendo de justiça ressaltar o
espírito de intenso labor agrícola e pastoril que VDDA RELIGIOSA
domina os seus habitantes rurais.
Tem população superior a 23.000 habitantes, Levantado o povoado, esboçadas as primei-
possuindo a cidade mais de 2.000. ras ruas, os càriréenses se puseram em luta para
Malgrado os três ultimes anos de seca que a ereção de uma pequena igreja, para a prática
lhes tem vergastado a alma, tem resistido com dos atos religiosos. Em
suas cercanias já exis-
singular fortaleza de ânimos a adversidade, no- tia pequena capela, no povoado de Pacujá, levan-
tando-se-lhes visíveis progressos na cidade e tada em 1883. Urgia novo templo na vila que
nas vilas. se prenunciava progressista.
Dia vai, dia vem, surge o Dr. João Tomé
CRONOLOGIA de Sabóia e Silva, scbralense ilustre, na dire-
ção da Estrada de Ferro de Sobral. Inaugurada a
Em 1893, Cariré não passava de uma peque-
estação da linha, férrea, o lugarejo tomou ares
na povoação, contando-se poucas casas e uma
de pequena cidadezinha, com trem horário e fol-
centena de habitantes. Foi neste ano, todavia,
guedos de «gare» em horas certas . .
que o caminho de ferro lhe acelerou o cresci-
mento. Certo dia, lá se vem a planta da igreja, efe-
Aquele dia memorável, de 1» de novembro tivamente levantada, de acordo com a planta do
de 1893, ficou gravado na memória dos seus pri- Dr. João Tomé, isto é, em forma de cruz. Foi
meiros povoadores. Foi um dia festivo, com fo- inaugurada em 1897, com missa solene, celebrada
guetório, música e discurso. É que se inaugu- pelo Mons. Diogo José de Souza Lima, então
rava a estação da Estrada de Ferro que, vindo vigário geral de Sobral.
de Sobral, iria, anos mais tarde, atingir os ser- Elevada à categoria de Matriz, por Dom
tões de Crateús. José Tupinambá da Frota, aos 24 de fevereiro de
Data, pois, desta quadra, o início, propria- 1944, a posse do seu primeiro vigário deu-se aos
mente dito, da atual sede inunicipal de Cariré. 27 do mesmo mês e ano, sendo titular o Padre
No governo Matos Peixoto, é criado o muni- Tibúrcio Gonçalves de Paula, ilustre filho de
cípio por lei n. 2.704, datada de 16 de setembro de São Benedito. O Padroeiro é Santo António de
1929. Foi uma luta tremenda para sair o di- Pádua.
70

famílias qtjb povoaram a tebba cais, por iniciativa do atual prefeito José Riba-
mar Soares Aguiar. A iluminação pública, que
Cariré é um município de vida pacifica. As é excelente, foi realização do ex-prefeito c atual
principais famílias estão ligadas por fortes tra- Presidente da Câmara, Roscy Frota Aguiar, mu-
ços de parentesco e pot sucessivos casamentos nicipalista fervoroso, homem de fina educação,
que se realizaram, ao correr dos anos, entre os chefe político e que realizou boa administração
principais troncos genealógicos da comunidade. municipal.
As principais famílias são: Celestino Rodri- Elísio Aguiar,
que já foi prefeito várias ve-
gues, oriunda de Manuel Celestino Rodrigues, zes, e em
cujo posto prestou os mais assinalados
que casou-se no São Benedito, tendo residido por serviços à Cariré, é atual deputado estadual da
muitos anos em Cariré e constitui'.) do grande Assembleia Legislativa e vem envidando o melhor
e numerosa prole; Rodrigues dos Santos que ex- dos seus esforços no sentido de dotar a terra,
tendeu-se pelos sertões de Pacujá; Ximenes de que lidera politicamente, de alguns melhoramen-
Farias, oriunda de Joaquim Ximenes de Farias, tos de interesse da coletividade.
filho de Sobral; família Sá, oriunda de Jacó José
de Sá; Família Ferreira Portela, oriunda de João FILHOS ILUSTRES
Ferreira da Ponte, rico criador de Cariré e Fon-
tenele Almeida, oriunda de Vicente Fontenele Al- Nasceram em Cariré, entre outros Padre
:

meida. O Monsenhor Vicente Martins, na sua Francisco Linhares, falecido; Irmã Airtes Xime-
obra Diocese de Sobral se alonga, substanciosa- nes Aguiar, do Instituto de SanfAna; Dr. Arioli-
mente sobre a constituição destas famílias no Santos, engenheiro, formado pela Escola de
Ouro Preto; Dr. Pedro Osvaldo Sales, medico di-
EM NOSSOS DIAS plomado pela Faculdade de Medicina da Bahia e
João Rodrigues dos Santos, chefe político de mar-
embora cidade que se apresenta com
Cariré, cante projeção.
visível desejo de progredir,não tem sido ampa- Destaque-se, ainda, José Ribamar Soares
rada pelos poderes públicos. Os últimos gover- Aguiar, atual prefeito e rapaz inteligente; Júlio
nos do Ceará não lhe tem olhado com o cari- Lima Rodrigues, abastado fazendeiro o criador,
nho e a obrigação devida. O que lá se nota em prestigioso chefe político, homem de bem, radi-
realizações públicas, é fruto exclusivo dos admi- cado em Cariré, e por cujo município muito tem
nistradores municipais. trabalhado, embora não sendo filho desta cidade,
Termina-se agora um moderno edifício des- é como tal considerado em vista da sua efetiva
tinado à municipalidade e outras repartições lo- participação na prosperidade do município.

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71

CARIRIASSÚ
ANTIGO SÃO PEDRO DO CARIRI

CLIMA MELHOR DO QUE O DE GUARAMHtANGA —


CIDADE ERGUIDA A SETECENTOS METROS DE ALTI-
TUDE — MUNICÍPIO EM 1876 — «A FREGUESIA NAO
SERÁ TRANSFERIDA» — TERRAS FERTDLlSSIMAS —
A VISITA DE JOÃO TOMÉ — O CEL. FRANCISCO
BOTELHO — EM NOSSOS DIAS

O MUNICÍPIO de Caririassú, tem como A lei 1887, de 17 de setembro de 1879 cau-


aéde a cidade do mesmo nome, antes chamada sou um reboliço tremendo em Caririassú. Ê que,
São Pedro do Crato, de acordo com a lei provin- injustamente, a freguesia foi transferida para
cial de 18 de agosto de 1876 e, posteriormente, Juazeiro do Norte, que então despontava no
São Pedro do Carirí, pela lei n. 1.541, de 27 de famoso vale do Carirí.
agosto de 1918. Os fiéis não se conformaram. A luta se
Pelo Decreto n. 1.114, de 1' de janeiro de transformou, aos pouco e pouco, num caso po-
1943, tomou a denominação atual de Caririassú, lítico. Intendente e vereadores afirmavam: —
que relembra uma tribu indígena que, outrora, «Foi transferida, mais não vai !»
habitou o território do município. Afinal, o episcopado não permitiu que a fre-
Tem uma área de 728 kms2 e está em gran- guesia fosse transferida. Foi um dia de ale-
.

de parte situado na Serra de São Pedro, cujo grias para o antigo São Pedro do Carirí.
clima, na época de inverno, atinge a 10 graus
centígrados. Aliás, o clima normal varia entre A VISITA DO PRESIDENTE
18 a 25 graus, dando-nos uma estação climática
superior à de Guaramiranga. Naqueles recuados tempos de 1900, Presi-
A cidade é composta de várias ruas que, dente de Estado não dava lá muita importância
atualmente, estão sendo pavimentadas, tem bela à vida municipal como nos dias que correm.
matriz, algumas residências de melhor estilo e Na sua maioria, nunca conheceram todo o Cea-
de suas cercanias se descortina lindo panorama, rá. Hoje é que, antes de ser eleito, conhece tudo,
O seu povo é afável e acolhedor. Gente sim- e, além de conhecer, faz promessas que dão para
ples, sem preconceitos, vive do comércio, da la- encher um saco . .

voura e da criação. As suas lutas políticas sem- Mas o que é fato é que o Dr. João Thomé
pre decorreram num ambiente de serenidade, ra- de Sabóia e Silva, eleito depois da revolução
zão por que não há inimizades entre os líde- contra o Franco Rabelo, precisava angariar a
res e principais membros da sociedade local. simpatia dos caririenses e lá se aprestou cara-
vana oficial para correr o vale e as suas cidades.
UM POUCO DE HISTORIA Caririassú recebeu a notícia da visita entre
grande e efusiva alegria. Era um Presidente
A criação do município data da lei n. 1727, do Estado que ia .visitá-la. Embandeirou-se a
de 18 de agosto de 1876, que elevou o povoado cidade toda. Mandou-se buscar músiccos para
à categoria de vila. completar a filarmónica local. Intendente, Vi-
A sua independência política teve, todavia, gário e Delegado não dormiram mais. Só se
altos e baixos. Senão vejamos: a lei estadual n. pensava na chegada do «homem». Foi os diabos.
589, de 24 de julho de 1900, no governo de Pe- E, é Leonardo Mota quem nos conta no seu
dro Augusto Borges, foi extinto. A lei n. 805, de famoso «Cantadores» —
«O vilarejo estava cheio
21 de agosto de 1905, governo António Pinto de arcos de catolé e bandeirolas de papel. Tre-
Nogueira Acioly, restaurou-o, desmembrado do mendo foguetório tornava mais ariscos os árde-
Crato, cuja instalação se deu aos 22 de dezembro gos cavalos».
do mesmo ano por entre as alegerias gerais da à hora aprazada, de minuto em minuto, se
população. Aos 20 de maio de 1931 foi novamen- ouviam os costumeiros vivas, com que a gente
te extinto. Finalmente, o Decreto n. 1.156, de sertaneja recebe os visitantes ilustras: «Viva o
4 de dezembro de 1933, governo Carneiro de Dr. João Tomé !» «Viva a caravana ilustre !»
Mendonça, restituiu-lhe a soberania política de E, no coreto da praça principal, a filarmó-
que goza em nossos dias. nica lançava, de quando em vez, as notas mar-
ciais do «Saudades de minha terra» . .

Dias de alegria aqueles, dos anos idos e vi-


A freguesia data de 9 de novembro de 1870, vidos de São Pedro... Fora ele João Tomé, o
e está sob a invocação de São Pedro, padroeiro da primeiro Presidente a visitar a terra gentil «
cidade. cativante.
: .

72

UMA PERSONALIDADE SINGULAR O certo é que ali, quando pontificava, não


se movia uma palha, não se tomava uma atitude,
OCoronel Francisco Botelho, que durante sem que se lhe não consultasse antes . .

muitos anos foi o chefe supremo da política de Ca-


ririassú, era filho de Baturité, nascido na vila EM NOSSOS DIAS
de Guaramiranga, então chamada de Conceição.
Homem mais de ação do que de palavras, Dirige, atualmente, o município de Caririas-
Francisco Botelho fez -se cidadão respeitado pelos sú, o estimado cidadão, e chefe político, Carlos
atos e atitudes. Trabalhador e criterioso, de José de Morais.
logo grangeou simpatias lealdosas. Trabalhou Homem de bem, administra com critério e
durante muitos anos para a firma Boris Fréres, serenidade, sendo de justiça ressaltar a colabora-
como administrador das propriedades rurais des- ção que vem dando a Câmara Municipal em cuja
ta firma, existentes na serra de Baturité. Anos Presidência se encontra o vereador Afonso de
depois, se transfere para São Pedro. Oliveira Borges, ex-prefeito do município e pes-
Em pouco tempo, estimado por todos, é soa que goza de geral simpatia.
eleito prefeito. Abraça a política com corpo e Com a era municipalista, nota-se que Cari-
alma, transformando-se num dos mais prestigio- riassú está demandando uma quadra de realiza-
sos chefes de partido, antes da revolução de 1930. ções em proveito da coletividade.
Esteve durante muito tempo à frente da Não fora as últimas secas que lhes tem pre-
municipalidade local e realizou inúmeros benefí- judicado de maneira terrível a economia, seria já
cios em Caririassú. uma cidade bem adiantada.

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Vice-Presidente: OSCAR BARBOSA
Diretor: FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS NOVAIS
GRANJA — Rua principal e histórico
cruzeiro da Matriz

GRANJA — Grupo Escolar;


Prefeitura; Praça principal e
ponte sobre o rio Coreaú
i&S8fôg$j&&

GUARACIABA DO NORTE
— Igreja Matriz

GUARACIABA DO NORTE -
Aspectos da cidade

ICÓ — Igreja e sobradões seculares


73

CASCAVEL
PÁTRIA DE AUSTREGÉSILO DE ATAYDE
DOMINGOS PAIS BOTÃO, COM DATAS
— JUIZADO DE PAZ, EM 1817 — DEU ODE SESMAEIAS
QUE FAZER, A
EREÇÃO A CD3ADE — FREGUESIA DE NOSSA SENHO-
RA DA CONCEIÇÃO — NOMENCLATURA DAS RUAS,
EM 1834 — O CÉLEBRE ASSASSINATO DE SIMÕES
BRANQUINHO — A REVOLTA DOS «CARANGUEJOS»
TERRA DE JORNALISTAS — EM NOSSOS DIAS

CASCAVEL é município antigo, já com mais toriosa a pretensão de Cascavel, que foi inaugu-
de um século, e a sua história está ligada aos rada, em Vila, aos 17 de outubro daquele ano de
fastos do Ceará Colonial, por isso que foi, outro- 1833.
ra, domínios da freguesia de São José do Riba- Luta maior, porém, foi a que culminou com
mar, com sede na então famosa Vila de Aquiraz. a elevação à cidade da vida de Cascavel. O fato
Um dos seus primeiros povoadores foi Do- se passaria meio século depois que fora conquis-
mingos Pais Botão, que, juntamente com o seu tada a categoria de Vila.
cunhado João da Fonseca Ferreira, recebeu ter- A coisa passou-se, mais ou menos, assim:
ras doadas pelo capitão-mór Pedro Lelou. na sessão da Assembleia Provincial do dia 18 de
A propriedade adquirida, deram o nome de outubro de 1833 entrava em plenário, apresenta-
Cascavel. Em 1717, o sargento-mór Manuel Ro- do pelo deputado António Valente, um projeto de
drigues da Costa e sua mulher Francisca Ferrei- lei elevando a vila à cidade. Antes, já tinha
ra Costa, fizeram doação de vinte e quatro vacas havido balbúrdia na Camará Municipal daquela
e um sítio à referida capelania, por eles, aliás, Vila, ficando os vereadores divididos, isto é, uns
erguida. queriam e outros não. Finalmente, depois de
Com o correr dos anos, formou-se o arruado muita discussão, passou o pedido de elevação à
e, em suas cercanias, foram se estabelecendo os cidade. Ao ser, pois, apresentado o projeto na
colonos. Assembleia, a política meteu-se na justa preten-
Em 1817, lhe foi dado o primeiro juiz ordiná- são. Vindo o projeto para primeira discussão, o
rio na pessoa do Capitão Joaquim José Pereira padre deputado Sizenando Marcos Castro e Silva
Leite. Pela lei geral, de 15 de outubro de 1827, fez pedido de adiamento de votação, e contra isto
é finalmente, criado o Distrito de Paz, Nesta ergueu-se, falando brilhantemente, tribuno
o
oportunidade, em que Cascavel se desligava de deputado Justiniano de Serpa, grande amigo dos
Aquiraz, eram eleitos, Juiz de Paz, o Capitão Anas- cascavelenses. Em 2» discussão, José Martiniano
tácio Lopes Ferreira do Vale, e suplente, o sar- de Alencar, deputado, sugeriu que se chamasse à
gento-mór Gonçalo da Silva Monteiro. nova cidade de Visconde do Rio Branco ac invés
Aos 4 de setembro de 1832, foi criada a fre- de Cascavel.
guesia de Nossa Senhora da Conceição, sendo Finalmente, dia vai, dia vem, é sancionada a
inaugurada debaixo de grandes festas popula-. lei n. 2039, de 2 de novembro de 1833 elevando
res, pelo famoso Padre José da Costa Barros, Cascavel à categoria de cidade.
mais tarde figura proeminente da nossa histó-
ria provincial. NOMENCLATURA DAS RUAS. . .

VELA E CIDADE
Erigido em Vila, de logo tomaram posse os
Depois de se transformar em sede de fregue- vereadores eleitos. Corria o ano de 1834 Par-
. . .

sia, os seus habitantes principiaram a luta pela ticipavam da vereança António Sebastião Saraiva,
ereção da povoação à categoria de Vila, aspira- João Firmino Dantas Ribeiro, José Vitoriano Soares
ção muito justa, de vez que estavam ligados ao Dantas, Luís António de Araújo e os suplentes
Aquiraz, o que «muito concorria para o atrazo Francisco José Batista e José Marcos de Castro,
do promissor povoado». estes substitutos de Anastácio Ferreira do Vale,
Em reunião do Conselho do governo da Pro- eleito para o Conselho Provincial, e de José de
víncia, sob a presidência de José Mariano d' Al- Queiroz Lima, que fora, anteriormente, vereador
buquerque Cavalcante, também administrador do no Aquiraz.
Ceará, tratou-se, em 1833, da pretenção dos cas- Reunida, a Câmara tratou logo de nomear
cavelenses. Foi o diabo. Houve oposição e lá
. . os primeiros funcionários, isto é, secretário, fis-
se veio o parecer assinado pelos conselheiros cal, procurador e porteiro.
João Facundo de Castro Menezes e José António Logo mais, porém, se reunia em sessão de
Machado, contrários à medida pleiteada. A coisa maior interesse para a novel vila. É que ia dar
engrossou, e o parecer foi derrubado, saindo vi- denominação as ruas existentes. . .
. ..

74

Tempos interessantes aqueles de outrora. . O certo é que, o havido e passado, fora uma
Não se foi buscar nome de gente viva e nem tão rebelião entre os famosos «caranguejos»», ele-
pouco de pessoas mortas, muitas inexpressivas, mentos da oposição, contra as autoridades locais
como é do uso e do costume dos nossos dias. de Cascavel. E, no final das contas, lá estavam
E, lá se veio a nova nomenclatura, a oficia- cinco tombados no campo da luta, que foi terrí-
lizada pela vereança: Rua Direita, Rua dos La- vel. . Era assim a política antiga.
.

vradores, Rua da Matriz, Rua do Açougue, Rua


do Comércio, Rua da Alegria, e assim por diante.... TERRA DE GENTE ILUSTRE
Nesta quadra, não se bajulava aos podero-
sos do dia, mas cultivava-se, com carinho, as Cascavel é um dos municípios ricos em filhos
tradições populares. Muito mais bonito e muito ilustres. Basta ressaltar que só jornalistas te-
mais elegante. mos os seguintes: Dr. João Austregésilo de Atay-
de, filho do Des. Feliciano de Atayde, ex-Interven-
FATOS INTERESSANTES tor do Ceará. Benedito Augusto dos Santos, histo-
riador, jornalista, pai do escritor Beni Carvalho;
Nos idos de 1840, governava o Ceará o grande Dr. Eurico Facó, jornalista e poeta brilhantíssimo;
José Martiniano de Alencar, que foi o nosso João Lopes Ferreira, parlamentar e homem de
maior Presidente. Combatera, tenazmente, o grande prestígio na Capital da República. Foi
banditismo e implantara a ordem e restabele- jornalista completo, erudito e primoroso; Dr.
cera a justiça. Caindo a sua política, é nomeado Pedro de Queiroz e Jorge Aires de Miranda,
para o Ceará o Brigadeiro José Joaquim Coelho penas fulgurantes. Anote-se, ainda, com maior
que assumiu em 1841. O governo deste homem destaque, Américo Facó, recentemente falecido e
foi um deus-nos-acuda ! homem de notável cultura, autor de artigos ma-
O Ceará virou o diabo. Era morte por todo gistrais, pelo que, consagrado em todo o País.
canto. Os bandoleiros, protegidos pela nova po- Entre muitos outros, vale citados, ainda,
lítica, cometiam crimes terríveis. Deles, o mais como ilustres filhos de Cascavel: Dr. Benedito
celebre, que conquistou fama, foi o Major Gon- Façanha Ferreira, matemático; Dr. Elias Fer-
çalo que dominou os sertões sob a pressão do reira Bedê, magistrado em São Paulo; Dr. Emí-
bacamarte boca de sino. dio Morais Vieira, brilhante engenheiro, no Rio;
Certa feita, o famigerado bandoleiro apare- General Francisco Severiano Ribeiro; Dr. Os-
ceu pelas bandas de Cascavel. Estremeceu tudo. mundo Bessa, advogado no Rio; Dr. Mário dos
E não era para menos, pois no dia seguinte, na Martins Coelho, brilhante advogado em Fortale-
noite fatidica de 5 de fevereiro de 1842, era bar- za; Juvenal Carvalho, filantropo; Dr. Vicente
baramente assassinado o Capitão José Simões Bessa, magistrado; Dr. Boanerges de Queiroz
Branquinho, elemento destacado do partido libe- Facó, desembargador e membro do Instituto do
ral, chefiado, na Província, pelo Senador Marti- Ceará; Deputado Raimundo de Queiroz Ferreira,
niano de Alencar. constituinte de 1946; e o saudoso Vitoriano An-
O crime abalou profundamente a novel tunes, benemérito do município, que governou por
Vila de Cascavel. longos anos.

EM NOSSOS DIAS
Como acentuamos acima, em 1840, governa- Cascavel é, hoje, uma cidade progressista.
nava o Ceará, José Martiniano. Homem mais de Município de território vasto, com mais de dez
ação do que de palavras, tomou todas as medidas vilas florescentes, entre as quais a de Beberibe,
para que as próximas eleições decorressem num recentemente elevada à cidade e não instalada
ambiente de paz e de ordem. ainda; com mais de 50.000 habitantes, tem na sua
Malgrado os seus esforços, uma onda de ter- sede o centro do seu maior interesse.
rorismo e de crimes, principiou grande alteração Cidade ampla, bem iluminada, com alguns
da ordem em todo o Ceará. A oposição era tre- edifícios vistosos, entre os quais o Patronato e
menda naqueles idos. . a Maternidade, conta com várias ruas e praças,
Por isso ou em dezembro de 1840,
por aquilo, bom comércio, sendo terra de povo afável e sim-
no dia 27, Cascavel amanheceu debaixo de bala. pático.
Era umcorre-corre danado. Não se via uma por- Municipio, outrora, administrado pelo esti-
ta aberta. Fechou-se o tempo e haja a cidade madíssimo Coronel Raimundo Benício Sampaio,
transformada em praça de guerra com tiroteios e, hoje, dirigido pelo prefeito Genaro de Queiroz
tremendos. Facó, tem a sua vida política relativamente cal-
Que foi, que não perguntavam uns aos
foi, ma e orientada pelos chefes Juarez de Queiroz
outros. Mas ninguém se entendia. Já havia, gen- Ferreira, ex-prefeito, e Esaú Benício Sampaio
te morta, e o pipocado continuava no mundo ! . . que, também, dirigiu já a municipalidade local.

DR. AGAPITO SÁTIRO


ADVOGADO
RUA CORONEL BEZERRIL, 760
.

15

CAUCAIA
OUTRORA POVOAÇÃO DE SOURE
ANTIGA ALDEIA DOS POTIGUARES — EXPULSÃO DOS
JESUÍTAS POR GAMA CASCO — A ANTIGA DENOMI-
NAÇÃO HOMENAGEAVA PORTUGAL — VDLA NOVA
DE SOURE, EM 1759 — SEMPRE FOI CIDADE FESTEHtA
— BAILES A RIGOR COM CHITA ENCARNADA E ALUA
— CONSPIRAÇÃO REPUBLICANA ? — CLIMA EXCE- . . .

LENTE E RICOS CARNAUBAIS — ANTÓNIO JOSÉ COR-


REIA E O BÁRBARO ASSASSÍNIO DA TARDE DE MAIO
DE 1914 — MOREIRA DA ROCHA E MONSENHOR CA-
TÃO — EDSON CORREIA, O REVOLUCIONÁRIO DE 1930
— FELHOS ILUSTRES — ORDEM E PROGRESSO . .

ALGUMAS cidades do Ceará tiveram o seu jesuítas, de acordo com a Carta Régia de 22
progresso interrompido pelo fato de várias vezes de outubro de 1735. Homens afeitos à catequese,
terem a sua autonomia cassada. Caucaia é uma os jesuítas sabiam civilizar a indiada, pacificar
delas. os ânimos, levantar capelas, estabelecer a ordem,
Assentada numa região bem próxima à Ca- merecendo, por isso, plena confiança dos colo-
pital, zona que apresenta uma riqueza perma- nos de outrora.
nente através de magnificos carnaubais, municí- Tudo marchava na mais perfeita tranqui-
pio de área imensa (1.246 kms2; 0,81 do território lidade quando, um belo dia, estoura a notícia
do Estado), cremos já devia ser uma das melho- de tremendas perseguições que estavam sendo
res cidades, não fosse o esquecimento e o desprezo levadas a efeito pelo famoso Marquês de Pom-
que lhe devotam os governos, desde os tempos bal, o inimigo número um da Companhia de
provinciais. Acreditamos que um dos fatores Jesus.
que tem contribuído para isto, tenha sido fatos Foi um Deus nos acuda no pequeno povoado,
e episódios que se passaram em sua formação que já contava com arruado, capela e indícios
histórica, desde os albores de sua influência na de civilização.
política do Ceará. É terra de filhos ilustres, que Bernardo Coelho da Gama Casco, então
se destacaram nas letras, no clero e na vida admi- Ouvidor Geral de Pernambuco, recebe ordens
nistrativa cearense, por isso que, com mais justa terminantes de expulsar e sequestrar todos os
razão devia ser, em nossos dias, um dos mais bens dos jesuítas no norte do Brasil e, de modo
prósperos e ricos municípios do Estado. Folga- especial na Província do Ceará, governada por
mos, porém, em registrar ligeiro surto de novos Francisco Xavier de Miranda Henrique.
rumos que, nos dias que correm, haverá, de cer- O fato, porém, teve menores consequências
to de dar a esta cidade vizinha de Fortaleza em vista de Gama Casco, em aqui chegando, ter
um aspecto condizente com as suas possibilida- elevado à Vila a antiga povoação de Caucaia,
des reais. com o nome de Vila Nova de Soure, denomina-
Vai daí ter sido pavimentada quase toda a ção esta que homenageava uma ordem honorífica
área urbana de Caucaia, levantados alguns pré- de Portugal, chamada «Moinhos de Soure». Data
dios públicos de relativa importância, terem er- o fato de 15 de outubro de 1759, tendo sido
guido, as suas principais famílias, algumas casas comemorado com grande alegria pela popula-
de melhor porte; contar com excelente ilumina- ção local.
ção pública, grupo escolar moderno, mercado hi- E mais ou menos, desta mesma data a cria-
giénico, praça ajardinada e bem conservada, ção da Freguesia, sob a invocação de Nossa Se-
além de planos de administração, que serão, em nhora dos Prazeres. Data, por igual, desta mes-
breve, levados a bom termo, como a edificação ma quadra a ereção da atual Igreja Matriz que
de um Paço Municipal e de uma Maternidade, foi sendo remodelada à proporção que se passa-
iniciativas essenciais à coletividade local. vam os anos. Teve a paroquia, como vigários
Verifica-se, assim, o surgir de uma nova era principais, nestes últimos anos, os clérigos Mon-
de compreensão dos poderes públicos no sentido senhor Padre Leopoldo e José Romualdo dfe
de realizar alguma coisa de útil, de duradouro Souza, de saudosa memoria.
e que possa positivar a ação concreta da nova
éra municipalista. TERRA FESTEntA COM BAILES A RIGOR. . .

FORMAÇÃO HISTÓRICA Caucaia, antiga Soure, sempre foi uma ci-


Caucaia foi antigo aldeiamento de indios da dade de gente alegre e prazenteira. Conta-nos
nação Potiguar. Dela foram encarregados os António Bezerra de Menezes, em seu famoso «
. . . . . . . . .

76

raríssimo «Notas de Viagem», que, nos idos de se foi, certo dia, para as bandas de Soure cons-
1860, já eram notáveis e falazes as festas da pirar contra o regime, contra a coroa, contra
terra dos Correias e dos Moreira da Rocha. o governo. A lábia do homem não conseguiu,
Nas noites de festejos do Padroeiro se orga- porém, prosélitos de maior expressão.
nizavam bailes suntuosos, com quadrilhas e pol- E o saudoso historiador Hugo Victor, rela-
cas, onde se viam reunidas as famílias de maior tando o fato pitoresco, comentou: «Faltou aos
tradição local, com moças trajando rigor, vesti- republicanos de Soure um lider local. Não só o
das a caipira, moda local exigida nos bailes de líder, mas, também, as armas . >. .

gala. .

DOIS GRANDES FELHOS


Eram festões memoráveis, onde se encon-
trava o bom alua, o milho verde cozido, as tradi- Nasceram em Caucaia, dois homens que du-
cionais roscas de goma (que ainda fabricam) e rante muito tempo tiveram marcada projeção
o bom moca com excelente tapioca. Tempão . .
na vida política do Ceará. Foram eles, o dr. Ma-
bom de fartura, sem peixaradas e sem o azedume nuel Moreira da Rocha, de saudosa memória.
que lá pode-se observar nos dias que correm. .
Homem de coragem, disposto, de uma lealdade
nunca vista aos seus amigos e correligionários,
POLITICA AGITADA Moreira da Rocha, que era médico e tinha valor
intelectual, conseguiu prestigiar-se em todo o
Caucaia, ultimamente, é que tem vida pa- Ceará, dadas as suas excepcionais qualidades de
cata em matéria de luta política. Antes . .
hábil político.
Virgem Nossa Senhora sempre foi ! A coisa Eleito várias vezes para a Camará Federal,
grossa e as eleições a bico de pena dominavam, prestou ao Ceará assinalados serviços, sendo mar-
nelas votando vivos e mortos . .
cante a sua atuação no Congresso, onde des-
Certa à hora aprazada, inicia-se a
feita, frutava de conceito e estima geral.
votação, num belo dia de escolha dos mandatá- Dele contam fatos e episódios interessantes,
rios da vontade popular. visto como para servir a um correliginário não
O prédio era meio sinistro, de beira e bica, media sacrifícios, não respeitava os poderes, sen-
com porta na frente e janela de lado, já apro- do sempre destemido nas atitudes e bravo
priado pra carreira, caso houvesse encrenca. .
nos atos.
O Presidente dá início aos trabalhos e lá se Outro político de grande projeção foi o Co-
vem votar um eleitor, bem vestido, chapéu na ronel António José Correia, senhor de vastas
mão, paletó com quatro botões, gravata roxa, propriedades, gozando de grande estima e sim-
colarinho alto, ficando, assim, bem conhecido da patia no seio da população do seu município,
Mesa. Outros votaram logo mais. Já no fim, dados os excelentes predicados de bondade e to-
lá se vem o homem que havia votado em pri- lerância que ornavam a sua personalidade.
meiro lugar. O Presidente surpreso pergun- Político de influência, sempre era ouvido
tou-lhe :
pelos mais graúdos que comandavam os partidos
— O senhor não já compadre ? votou, do Ceará naquela época. Formou com João
— Já, sim senhor. Agora eu venho traçar Brigido, com Agapito dos Santos e outros notá-
o nome pelo meu compadre e pelo meu filho que veis jornalistas e próceres de marcada influên-
já são defuntos, mas que votaram sempre com cia na vida política cearense.
o governo. .
Aciolino de quatro costados, homem de ver-
Não terminou a frase, o oposição manifes- gonha, tempera de aço, António José Correia
tou-se. Houve bate boca, encrenca, a coisa en- foi eleito várias vezes deputado à Assembleia
grossou, chegou cabra que estava de espreita e Estadual, havendo-se sempre com galhardia e
o pau roncou nas quatro paredes da casa. Foi bravura. Não temia aos poderosos do dia. An-
o diabo. .
tes afronta va-os com a sua coragem admirável.
Se não fosse a janela, até o Presidente havia Grangeou fama e popularidade, tendo com-
apanhado. .
parecido à Assembleia Legislativa do Ceará Re-
Podia haver fraude naqueles longínquos volucinário, instalada nos pagos do Juazeiro do
tempos, mas, descoberta na hora, a oposição não Padre Cicexo, sab a inspiração de Floro Barto-
deixava passar, e a coisa não ia apurada, como lomeu da Costa.
em nossos dias. .
Participou ativamente para a queda do Go-
verno de Franco Rabelo, grangeando, com esta
CONSPIBAÇAO REPUBLICANA ? . .
atitude corajosa, inimigos terríveis.
Quando vinha assumir a sua cadeira na As-
Corria o ano da Graça de 1843. Estávamos sembleia Legislativa que se instalava já no Go-
em maio Assumira o governo da Província
. . .
verno do general Setembrino de Carvalho, foi
Imperial do Ceará, o dr. Fausto Aguiar, homem barbara e solertemente assassinado, de embos-
de poucas palavras e de ação. Por ocasião do cada, na tarde de 4 de maio de 1914, quando em
ato de sua posse houve arruaça, ameaça e muita caminho na estrada que ligava Caucaia a For-
trica pelo interior afora. Houve até conspira- taleza.
ção para mudar o regime. .
Era Chefe de Polícia o Desembargador João
E, uma delas, foi passada na antiga Soure, Firmino Dantas Barreto e a época era de vin-
e dirigida pelo famoso Padre Cerbelon Verdeixa, ditas, de vez que todo o Ceará estava sob tre-
clérigo inquieto, politico, exaltado que por muitos menda agitação e exacerbação de ânimos, devido
anos foi o terror de muito governo. a violenta mudança de governo.
Gozava este sacerdote, de crónica agitada, FELHOS ELTJSTRES
enorme prestigio no seio da plebe, dadas as suas
façanhas temíveis e a sua vida tumultuosa. Nasceram ainda em Caucaia, o Visconde de
Já não tendo em que tornar-se célebre, lá Cauípe, Severiano Ribeiro da Cunha, homem de
.

77
raras virtudes, amigo dos pobres e que prestou Depois dos Sales e dos Filomenos de Aca-
assinalados serviços ao Ceará; Francisco Alves raú e do Perilo Teixeira, em Itapipoca, é o chefe
Vieira, que foi cônsul do Brasil em Londres; dr. municipal que apresenta maior contingente elei-
João Hipólito de Azevedo e Sá, notável médico, toral em um só município.
homem de cultura, embora modestíssimo, educa-
dor de reconhecida e proclamada virtude civica;
dr. Sebastião Moreira de Azevedo, jurista de re-
A CIDADE DE HOJE
nome nacional; Francisco Pessoa de Araújo, depu-
tado federal e antigo Secretário da Fazenda no Caucaia é hoje uma cidade com mais de
Governo de Faustino de Albuquerque, e vários 5.000 habitantes. Tem bom comercio e o seu
outros. povo é acolhedor e afável.
Goza de clima excelente, preferido sempre
O REVOLUCIONÁRIO DE 1930 por veranistas que possuem boas residências na
cidade.
Hoje, o comando político e administrativo Governa-a, o Prefeito Daniel Nunes de Mi-
de Caucaia está totalmente entregue ao deputado randa, rapaz de bons predicados morais, tra-
estadual Edson da Mota Correia, antigo Tenente balhador, criterioso e que vem realizando algu-
revolucionário de 1930, que combateu ao lado mas obras importantes e de utilidade para a po-
de Jurací Magalhães, Martins de Almeida, Jua- pulação local.
rez Távora e outros que comandaram o movi-
mento outubrino. Tendo edificado excelente e moderno Mer-
cado Municipal e pavimentado algumas ruas
Goza, Edson Correia, de uma popularidade principais, vai agora erguer majestoso edifício
imensa no seio dos seus conterrâneos, por para a sede da municipalidade, bem como um
isso que, inegavelmente, é um homem de vida de-
outro prédio destinado à Maternidade local.
dicada inteiramente à Caucaia.
Já foi prefeito local e eleito deputado duas Há, no momento, uma reação salutar nesta
vezes. A primeira, «m 1935, teve mandato in- cidade. É a que se relaciona com a ordem e a
terrompido pelo golpe de Estado de 1937. A segurança pública. Este município vinha ofere-
segunda para a atual legislatura. Já governou cendo um índice absurdo em matéria de crimes
Aracatí e foi Diretor do Departamento de Se- e contravenções. Dizia-se até que em Caucaia
cas do Ceará. Já respondeu pela Chefatura se registravam mais crimes do que em Londres,
de Policia, quando Delegado Auxiliar, em 1934. relativamente . .

Nascido aos 9 de novembro de 1899, em


1
Vai daí,empenho em que se acham as au-
o
Caucaia, pertence à familia Correia, sendo neto toridades locais no sentido de que a cidade e o
do Cel. António José Correia, herdando as tra- município passem a gozar de ordem e progresso
dições de bravura e lealdade do velho e antigo para a maior felicidade e prosperidade da co-
lutador da política cearense. muna.

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79

CEDRO
CIDADE FUNDADA POR JOÃO CÂNDIDO
DE CASA GRANDE À CD3ADE — CARRASCAIS E CAA-
TINGA NA SECA DO QUINZE — JOÃO CÂNDIDO, O
GRANDE FOREmO — FAMÍLIAS SANTOS E DINIZ —
O ERRO DE EUCLIDES ROCHA — PEDRO SILVINO E
OS JAGUNÇOS —
PENSÃO DO CABO CHICO — FRAN-
CISCO ROSA, CONSTRUTOR DE IGREJAS — MOSAICO
DE CRENÇAS E RELIGIÕES — SENAI—7 TRENS DIÁRIOS

QUEM demandar à região caririense, ser- Em pleno sertão, no recesso do interior,


vindo-se da precária ferrovia que nos liga ao ficavam apenas os mais fortes, os que teima-
Crato, corta serras e sertões, atingindo o hin- vam em resistir o temporal.
terland, depois de passar por várias cidades Havia, porém, uma
região que esperava
cearenses fundadas pelo caminho de ferro. Ao um grande auxilio.Era a que ficava situada
lado dos rios, estradas naturais de civilização, entre os municípios de Iguatú e Aurora, du-
o engenho humano, construindo as vias artifi- ramente atingida pela catástrofe.
ciais de transporte, levanta vilas e povoados É que os trilhos da ferrovia que furava
que, com o tempo, se transformam em grandes os sertões já começavam a produzir os seus
centros de progresso e de cultura. Cedro, no efeitos salutares: ora empregava milhares de
Ceará, é uma destas consequências naturais operários, ora levava o conforto e a civiliza-
dos caminhos de ferro. Antes, não passava de ção às zonas complementares e incultas, até
uma simples e modesta fazenda de pastoreio, então entregues ao domínio do mais forte.
vivendo a vida simples e inculta dos sertões Cedro que não passava de uma modesta
cobertos de carrascais e caatingas da zona fazenda de criar com pouco mais de dez mo-
nordestina. Distando de Fortaleza 478 quiló- radias, principiava a despertar interesse pela
metros, contornada por uma cadeia de pequenas alviçareira notícia da construção de uma es-
elevações, do alto oferecendo um aspecto sin- tação ferroviária.
gular, ergue-se a cidade de João Cândido, com E aos 15 de novembro de 1916, o enge-
pouco mais de três décadas de existência. nheiro Couto Fernandes, sob os aplausos ge-
Abrigando em seu seio povo bom e laborioso, rais de milhares de sertanejos, inaugurava a
vindo, na sua maioria de terras distantes, de Estação da Estrada de Ferro de Baturité.
municípios limitrofes e Estados vizinhos, Ce- Aos pouco e pouco erguiam-se as casas.
dro se constituiu, em pouco tempo, numa das De Fazenda passou a lugarejo e o movimen-
importantes cidades de todo o vasto interior tado povoado, nele demorando todo o pessoal
cearense, sendo hoje, depois de Fortaleza, o em serviço na ferrovia. Erigiram-se acampa-
centro de maior movimento de trens, por isso mentos. Fundaram-se fornecimentos e ergue-
que na sua estação param, diariamente, uma ram-se capelinhas.
média de sete composições. Centro algodoeiro Duas famílias se destacaram na azáfama
por excelência, comercia em larga escala da nova cidade, que se erguia aos poucos:
com Recife e Campina Grande, para êle con- Santos e Diniz. Fora João Cândido, Joaquim
vergindo uma vasta área da zona sul do Es- Alves dos Santos e Gabriel Diniz eram os
tado, é o «porto-f erro viário» de alguns muni- homens mais importantes do novo povoado.
cípios do Ceará.
DE CASA GRANDE A CD3ADE O ERRO DE EUCLIDES ROCHA
Em 1915, todo o Ceará gemia ao peso Quando a linha férrea já se encontrava
de terrível estiada. A sua população pecuá- a poucos metros do local, onde hoje se ergue a
ria se dizimava numa das maiores secas que cidade, houve sensata ponderação: é que a
se registraram em nossa história. estação não devia ser edificada no local esco-
O vasto sertão cearense, comburido, com lhido e sim num planalto existente.
o seu fácies de encarpas e grotões, coberto Esta providência viria concorrer para que a
por uma vegetação ressequida e acinzentada, cidade, de futuro, se desenvolvesse numa área
deixava entrever somente o quadro singular que oferecesse melhores condições topográ-
de sua imensa tragédia. ficas.
As fazendas, com vida triste e sonolenta, O engenheiro não aceitou o alvitre e lan-
se despovoavam aos poucos e os retirantes çou os alicerces da parada num socavão ro-
demandavam à Capital em busca de sobrevi- deado de elevações. Vem daí, ser a cidade
vência. atual toda cercada por altos, o que a priva
80

de receber a agradável aragem das noites passadas duram mais e resistem melhor a
sertanejas. ação do tempo.
Este erro fatal muito tem prejudicado a Em 1908 comprou, por pouco mais ou
cidade do Cedro, pois, erguida esta em exten- nada, a «Fazenda Cedro». A vida corria mo-
so planalto quo lhe fica a pouco mais de um nótona como soi a ser a lírica existência de
quilómetro, certamente gozaria de melhor nossas propriedades rurais.
clima e melhores condições de higiene. Em 1911, porém, veio a variante da es-
trada. Em 24 de novembro de 1915, no auge
PEDRO SILVINO E OS JAGUNÇOS da fome advinda pela seca do mesmo ano,
o serviço foi atacado e em 15 de novembro
Cedro é uma das cidades do interior onde de 1916, como dissemos, inaugurada a estação.
a vida se desenvolveu pacata, sem maiores Estava feito João Cândido. Todas as terras
constrangimentos, sem atropelos de revolu- eram de sua propriedade. A cidade iria cres-
ções, sem lutas sanguinolentas entre suas fa- cer dentro de seus domínios.
mílias, enfim, tendo sempre uma vida pacifica E, em verdade, todo o Cedro hoje per-
e ordeira. tence a João Cândido, que por sinal foi sem-
Quando João Cândido dominava politica- pre um lealdoso amigo da cidade, concorren-
mente a terra, sendo o seu Prefeito e o homem do sempre para o seu progresso e já lhe tendo
de maior projeção local, sempre recebia bem governado várias vezes.
a qualquer forasteiro. Só de proventos foreiros, João Cândido
Com o dominio absoluto do Padre Cícero percebe algumas dezenas de contos mensais,
no Carirí, formaram-se os «grupos de amigos devendo-se notar que na sua totalidade, o afo-
para o que desse e viesse». Um desses era ramento é pago por antigo preço, quando
chefiado por Pedro Silvino, cabra valente tudo era barato.
e perigoso. Homem simples, cavalheiro de fino trato,
Certo dia amanheceu no Cedro todo o viajado, educa bem os filhos. Asua casa de
seu bando. Eram os jagunços. Armados até residência em Cedro ainda é a mesma de 40
os dentes. De cartucheira à cinta, perambu- anos atrás e está situada no cimo de umalto
lavam pela então pequena e florescente ci- do qual se descortina toda a cidade donde
dade. originou-se a sede do município.
João Cândido, sensato e inteligente, os EM BREVE, UMA NOVA LONDRINA
tratou como manda a bôa hospitalidade.
O resultado foi que nenhum crime foi co- Com uma população que já se aproxima
metido durante a permanência dos amigos de 30 mil almas, uma cidade que se estende
do Dr. Floro Bartolomeu em Cedro. Tudo numa área imensa, construindo cerca de 200
passou em brancas nuvens. . . casas anuais, numa média de quase uma edi-
ficação diária, com economia assentada em
A PENSÃO DO CABO CHICO larga produção de ouro branco, comércio que
se desenvolve e se alarga a cada dia, plena
Ao falar em Cedro, não se pode omitir e geral liberdade de crença religiosa e poli-
o nome de um personagem popularíssimo e tica, Cedro será, dentro em breve, uma nova
que manteve, por muitos anos, uma pensão Londrina no Ceará. Este auspicioso prognós-
acanhada, mas que contava com freguezia tico dependerá apenas da regularidade de
certa, embora de pouco dinheiro. bons invernos como passamos a considerar.
Trata-se do Cabo Chico, estabelecido em Sede de Delegacia de Ensino e de Re-
Cedro, instalando uma casa de pasto. gião Agricoia, conta com uma primorosa es-
A «Pensão do Cabo Chico», como assim cola do Senai, dirigida pelo Dr. Gerardo
se denominava o modesto hotel dos viajantes Braga e que presta os mais assinalados ser-
da época, ficava à Praça da Matriz, à esquer- viços à educação profissional de centenas ce
da do templo. jovens. A cidade está situada em privilegiada
À chegada do trem, para lá se dirigiam zona, por isso que serve à Várzea Alegre e
os viajantes. Mas, não eram só agentes das para a Paraíba.
praças comerciais de Fortaleza que ele hos- Com poucos anos, será feito o entronca-
pedava. A coleção de hóspedes era notá- mento ligando Campina Grande a Recife,
vel. Havia até mesmo os que nada pagavam. aproveitando, assim, a ligação para Arrojado.
Ao pagamento, ele mesmo dizia: «Não tem Deste modo ficará definitivamente ligado ao
preço, dê o que quiser e o que poder. eu norte a ao sul do país, podendo-se vir de Cra-
não exijo muito, seu moço».
. .

teús — zona norte do Estado — e viajar-se


Possuindo um génio calmo, de coração até o Rio Grande do Sul, passando-se por Ce-
boníssimo, hospitaleiro e afável, côr amore- dro, via Fortaleza.
nada e personalidade simpática, o Cabo Chi- Sendo sede de Sub-Inspetoria da Rede de
co era conhecido por todos os que transpu- Viação Cearense e de um Depósito de Máqui-
nham os umbrais do Cedro . . .
nas, conta com moderna oficina de reaparelha-
mento de carros e locomotivas, o que man-
JOÃO CÂNDIDO, O MAIOR FOREIRO tém em Cedro centenas de operários, além
de movimentar milhões de cruzeiros anuais.
João Cândido já alcançara à casa dos se- Com a construção da utilíssima rodovia
tenta e cinco janeiros. Velhinho pela idade, Canto-Cedro-Várzea Alegre-Quixará - Crato,
apresenta, porém, uma individualidade ex- pela qual tanto se tem batido o Deputado
tenuante de vida e vigor, parecendo homem Moacir Aguiar, representante local à Assem-
de cinco décadas. Os homens das gerações bleia Legislativa, será da noite para o dia o
CARIRIASSÚ — Vista parcial da
cidade

: :
;-.\ ;': r:':í:- ::':; :

CARIRIASSÚ — Igreja-Matriz

1 .

iiil

'*:.:•::

CAMOCIM — Igreja-Matriz e
aspectos da cidade
CARIRÉ — Praça principal

CANINDÉ — Praça principal; a


cidade no dia do padroeiro;
Convento de São Francisco

MXaxmamanàÊÊá

CAMOCIM — Casa histórica


onde nasceu Pinto Martins e
estação ferroviária
81

incremento das operações comerciais da praça. tradições, e dentre os quais podemos citar os
Cidade novissima, pois foi criada aos 19 seguintes: Drs. Cândido Costa, Oton Diniz e
de agosto de 1926, pela lei n. 2.255, tem ape- Érico Passos; Tenentes Alvado Passos e Celso
nas 27 anos de idade e já conta com mais de de Araújo Filho, Jesuito António Alcântara
três mil prédios, sendo muito bem cuidada e jornalista Valter Moreno.
pela atual administração. Para cidades como estas, que têm pro-
Fruto do trabalho, do amor e da perse- missor futuro à vista, dadas as condições es-
verança dos seus filhos, das gerações passa- pecialíssimas que as envolvem — pois será,
das e presentes, a terra que tanto deve a Sil- brevemente, o maior entroncamento ierroviá-
veira Aguiar, António Alves dos Santos, seu rio do nordeste — devem os poderes adminis-
atual Prefeito, Celso Araújo e outros que lhe trativos voltar as suas vistas estimulando-lhes
dedicam o melhor dos seus esforços, já viu o progresso com obras públicas do maior in-
nascer filhos ilustres, que honram as suas teresse para a coletividade.

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83

COREAÚ
TAMBÉM CHAMADO DE VÁRZEA GRANDE E PALMA
OS PRETOS QUE FABRICAVAM BROAS ... MUNICÍ- —
PIO, —
EM 1870 FREGUESIA DE N. S. DA PD3DADE, EM
1867 —IGREJA-MATRIZ ORNADA DE DOURADOS —
NOS DIAS QUE CORREM —
FOLHOS ILUSTRES

COREAú está situado na zona norte do zessete, como afirma o douto geógrafo e his-
Estado, distando 295 quilómetros de Fortale- toriador Thomaz Pompeu.
za, sendo limitado por Granja, Massapé, Tian- É indígena, de origem Tupi e significa
guá, Sobral e Ubajara. rio dos curiás, pequena ave existente nas cer-
Tem uma extensão territorial de 1.511 canias.
lfms2, e uma população de 30.000 habitantes Com este nome foi designado o rio que
aproximadamente, sendo a sede municipal banha a cidade. É de registrar-se, ainda, que
localizada numa linda planície, e tendo mais apareceu, pela primeira vez, em letra de for-
de 2.000 moradores. ma, em 1705, nos escritos de data de sesma-
É um dos antigos municípios do Ceará, rias concedidas ao Tenente-Coronel Manuel
por isso que foi criado aos 24 de setembro Dias de Carvalho e Félix Coelho, aliás gra-
de 1870. fado Coruahú, mais tarde corrigido para
Era a antiga povoação de Várzea Grande Coreaú.
e os seus primeiros povoadores se estabelece-
ram à margem do rio Coreaú, com ribeiras FREGUESIA DE N. S. DA PEEDADE
fertilíssimas e apropriadas para o cultivo
agrícola. Coreaú, antigamente pertencia â Fregue-
A cidade tem várias ruas e praças, desta- sia de Granja, cuja matriz, primitivamente, a
cando-se os edifícios do Grupo Escolar, da capela de Santo António de Pádua do OÚio
Municipalidade, do Mercado Público e da d' Agua.
Igreja-Matriz. Aos 10 de agosto de 1867, pela lei n. 1206,
Notam-se algumas casas de melhor porte, foi, finalmente, criada a freguesia, com ter-
estando sendo construída uma grande avenida ritório desmembrado de Granja. Só um ano
na praça principal da cidade. mais tarde, isto é, aos 25 de junho de 1868,
A sua gente é acolhedora e afável, e nos é que foi canonicamente instituída, sendo o
revela um índice elevado de amor ao trabalho. seu primeiro vigário o Padre Salviano Pinto
Brandão.
LENDAS E TRADIÇÕES Tem a invocação de Nossa Senhora da
Piedade e a sua sede é, hoje, uma bela Matriz,
Uma das lendas interessantes da história fruto de reformas substanciais levadas a bom
de Coreaú, é a que se prende à origem do termo com o auxilio da população local.
nome antigo deste município, visto como a António Bezerra de Menezes, que visitou
lei de 1870 dava-lhe, oficialmente, a denomi- Palma, nos idos de 1888, referiu-se a esta igre-
nação de Palma, conservada até pouco tempo. ja com grande entusiasmo, elogiando-lhe a
Segundo a tradição, e as pessoas mais an- pintura, quase toda embelezada com ornatos
tigas, existia na antiga Várzea Grande, em de ouro, que revelava o grande gosto que
tempos primitivos, quando ainda era apenas tinha, pela Matriz do Coreaú, o antigo vigá-
um pequenino e atrazado arraial, uma fa- rio Padre Lustosa, benemérito da localidade
mília de pretos que se dedicava ao fabrico de pelos muitos serviços a ela prestados.
excelentes broas, isto é, bolos de goma.
A fama correu mundo. Vinha gente de NOS DIAS QUE CORREM
longe comprar as broas dos pretos da Vár-
zea Grande. Como, porém, eram feitas em Coreaú sofreu, recentemente, profundo
forma de palmas, o povo assim passou a deno- abalo com a elevação de uma de suas vilas
minar o lugarejo: — «Vou para as palmas». â cidade, e, consequentemente, criação de um
De tanto se referirem a palmas, a lei que outro município com terras de sua área geo-
criou o município deu-lhe esta denominação. gráfica. Trata-se de Freixeirinha. É locali-
dade promissora, situada à margem da rodo-
via que nos liga à Teresina, Piauí, mas que
ainda não foi instalada, oficialmente, como
Lei recente, de 1.° de janeiro de 1944, sede municipal.
mudou-lhe o nome para Coreaú. Asua vida política é relativamente calma.
O topónimo surgiu no fim do século de- No último pleito, para renovação do legisla-
!

84
tivo estadual, câmara dos deputados, poderes sável a instalação deum Posto de Saúde e
executivo e legislativo municipais, e eleição melhor eficiência do ensino primário local,
para Governador do Estado, houve uma frau- completamente inoperante e quase inexis-
de tremenda com o resultado das urnas que tente.
andaram de Seca e Meca. . . Dentre os filhos de maior projeção da
Foi umfato desprimoroso, fruto dos po- localidade, citamos o Dr. Raimundo Gomes,
litiqueiros que não sabem se conformar com professor da Faculdade de Farmácia e Odon-
o veredito da opinião pública. Renovaram, tologia, homem de largo conceito e prestígio
logo mais, o pleito, somente para a escolha em Fortaleza; Manuel Vilebaldo Frota Aguiar,
do prefeito local e dos vereadores, tendo sido ex-deputado â Assembleia Constituinte e atual
eleito o estimado cidadão António Teles Dou- Diretor da Secretaria da mesma Assembleia.
rado, antigo dirigente do município e i.hefe Foi prefeito em Massapé, onde é, atualmente,
político prestigioso. chefe político prestigioso; Dr. Raimundo Xi-
A cidade tem sofrido muito com as últi- menes Aragão, promotor público e advogado;
mas secas, pelo que a sua população, em gran- Elisio Frota Aguiar, deputado estadual e an-
de parte, tem demandado a outras plagas. tigo prefeito de Cariré, onde desfruta de
Ressalte-se, todavia, que alguns melho- grande prestígio político; Dr. Geraldo Camilo
ramentos ali foram feitos, tais como insta- Aguiar Ximenes, advogado; Engenheiro José
lação de luz elétrica, edifício da municipali- Camilo Aguiar Ximenes; Monsenhor Dr. Age-
dade, mercado público, estradas e alguns silau Aguiar, formado em Roma, atual vigá-
açudes. rio de Tianguá e Dr. Torquato Aguiar, homem
É município que necessita da colaboração estimadíssimo em Fortaleza, recentemente fa-
do poder estadual, visto como lhe é indispen- lecido.

PERSONALIDADE

VESTE BEM COM ELEGÂNCIA


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?>:;:;

J*


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CAUCAIA Penitenciária secular;


-

Gfrupo Escolar; rua principal da


cidade

Ss'

1&:
,<*.

CBATECS — Monumento a
'Cristo Redentor e estação fer.
roviária

CAMPOS SALES — Igreja-Matriz


imm

CRÀTEÚS — Igreja-Matriz e edifícios da Prefeitura e dos


Correios e Telégrafos
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CRATEÚS
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CRUZADOS — TROCAMOS AMARRAÇÃO POR CRATEÚS
E INDEPENDÊNCIA — JUIZ COM POSSE ENCRENCADA
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— VALE FAMOSO — GRANDE CIDADE NOS DIAS
ATUAIS — GENTE ILUSTRADA

A CIDADE de Crateús, cujo município Dia vai, dia vem, o formidável feudo se
do mesmo nome é um dos maiores do Ceará, divide. D. Luiza Coelho da Rocha Passos, des-
com os seus 4.525 kms. de extensão, demora cendente da Casa da Torre, adquire terras
à margem do rio Potí, numa altitude de 275 para fazenda de criar. Anos depois, chega
metros. É sede municipal vasta, com ruas João Ribeiro Lima, seu administrador, que
largas e vistosas, hoie pavimentadas a para- manda erigir capela com invocação ao Senhor
lelepípedo, com grandes praças e jardins, no- do Bonfim. A imagem para esta cepelania
tando-se-lhe casaria moderna, bons edifícios vaio da Bahia, mandada por aquela senhora.
públicos, comércio excelente, colégios e esco- Pela abundância de um peixe feroz, cha-
las técnicas, bela Matriz, cinemas e bars mo- mado Pirinhas, o povo passou a denominar,
dernos. O seu povo é afável, acolhedor e sim- o novel lugarejo, do mesmo nome, e assim
pático, tratando sempre os turistas com ca- ficou batizado e oficializado o topónimo pri-
rinho e solicitude. É urbs atraente, por isso mitivo de Crateús, quando, aos 6 de julho
que revela progresso e labor, movimentada de 1832, já bem desenvolvido, o povoado re-
e sempre se modernizando. A sua história está cebe a denominação de Príncipe Imperial, ele-
ligada ao Estado do Piauí, de vez que já vado, que foi, à categoria de Vila.
pertenceu as terras, outrora desbravadas por
este admirável Domingos Jorge Velho, bandei- HISTORIA RELIGIOSA
rante de quatrocentos anos, que viveu erigin-
do aldeias e vadeando rios do primeiro arrebol Data, a freguesia do Senhor do Bonfim,
do povoamento nordestino. Vale a sua evo- também de 1832, quando o povoado foi ele-
cação, sobretudo em se tratando, atualmente, vado à Vila, e, com território desmembrado de
de um dos nossos mais promissores municí- Marvão, erigido em município, ainda do Piauí.
pios e em cuja sede, pontificou, há anos, a figu- Foi o primeiro vigário o Padre Francisco
ra do Coronel Araújo Chaves, famoso político. Serafim de Assis, que logo mais foi substituído
pelo vigário colado Francisco Ferreira San-
RELEMBRANDO O PASSADO tiago. Fazia parte do Bispado do Maranhão
O famoso vale de Caratheús, com 180 por e o seu património foi doado pela mesma
120 quilómetros de extensão, é beneficiado Senhora Dona Luiza Coelho da Rocha Pas-
pelas ribeiras do rio Potí, em suas fertilíssi- sos, da Casa da Torre.
mas terras ouviu-se, nos idos do século dezes- A atual Matriz, advém da antiga cape-
sete para inicio do dezoito, o tropel das ban- linha e, passando por sucessivas ampliações e
deiras. A celebre Casa da Torre lhe andou reformas, transformou-se num dos mais belos
povoando, e o famoso Domingos Jorge Ve- templos católicos do Ceará. Fez-lhe grandes
lho cortou os sertões que lhes compõe a con- reformas o Padre Rosa, mais tarde terminada
textura geográfica, de lado a lado. Nesta pelo Padre José Juvêncio de Andrade.
quadra, pertencia ao Piauí. Tanto é assim que, No seu altar-mór está uma relíquia his-
no findar do século dezessete, D. Jerônima Car- tórica a imagem doada há dois séculos, em
:

dim Fróis, viúva daquele bravo bandeirante, tamanho natural, do Senhor do Bonfim e que
reclama, em seu nome e no de outros, as fora presente da Senhora já referida.
vastas léguas de terra; terras sem fim daque- Em 1888, quando Crateús já pertencia ao
las priscas eras. . . Ceará, o Papa Leão XIII, de saudosa memória
Em 1721, D.Ávila Pereira arremata o e sábia virtude, desmembrou a freguesia do
grande vale pela quantia de 4.000 cruzados. bispado do Maranhão, integrando-a na comu-
A posse lhe foi dada na Fazenda Lagoa das nidade religiosa cearense, juntamente com o
Almas, a 78 quilómetros distante da atual município de Independência, que também per-
cidade do Crateús, pelo Ouvidor de Oeiras, tenceu à terra de Higino Cunha.
sede da Capitania do Piauí. A propriedade JUIZ DE POSSE ENCRENCADA
adquirida, era um mundão sem fim e contra
concessões assim já havia recomendações Em 1833, a comarca de Crateús foi cria-
reais, mas . .
da pelo Conselho do Governo Piauiense, e de-
. .

86

clarada de l. a entrância pelo Decreto 687 de reputação intelectual; dr. Samuel Lins. moço
26 de julho de 1850. culto, brilhante advogado; Nagib de Melo Jor-
Deu o que fazer a posse do seu primei- ge, bacharel e advoeado de reconhecida cul-
ro juiz. É que no Pará, e outras províncias,
. . tura. Vale ressaltados: Dr. Clóvis Catunda,
tinham se registrado desordens por terem médico de proclamada capacidade científica e
sido nomeados juizes 'estrangeiros», isto é, de Diretor do Departamento da Criança, figura
Portugal, embora brasileiros naturalizados. destacada do Centro Médico Cearense; dr.
O dr. Luiz Paulino da Costa Lobo era Raimundo Catunda, do Ministério Público e
português, e foi nomeado titular da nova co- moço de cultura, embora que muito modesto; dr.
marca. Foi os diabos. A coisa engrossou,
. . Leonel Jucá Filho, advogado; Dr. Nelson de
e não lhe deram investidura no cargo as Câ- Araújo Catunda, médico residente no Rio e an-
maras de Marvão e Príncipe Imperial. Salvou- tigo deputado federal; dr. José Coriolano, ma-
lhe, a Câmara da Vila Putí, recem-criada, que gistrado no Piauí e dr. Manuel Ildefonso de
lhe deu posse. Souza Lima, falecido, que ocupou o posto de
No final da coisa, êle veio à Príncipe Presidente do Tribunal da Relação, cm Sal-
Imperial, tomou posse e lá se foi com seis vador; dr. Adonias Coutinho, médico; dr.
meses de licença para nunca mais voltar. . Washington Luiz, advogado; Hermógenes
Hoje, a comarca tem como Juiz o dr. Ola- Martins, dado aos estudos históricos, hoje re-
vo Frota, homem culto, sereno, de passado sidente no Crato, onde goza de lariío conceito
ilibado, garantia da ordem e da justiça na e estima; dr. Agamenon Frota Leitão, advoga-
progressista cidade. Se constituiu, o dr. do em Fortaleza; dr. António Coelho Mascare-
Olavo, pelas atitudes dignas, um brazão de nhas, advogado; Hélio Coelho Mascarenhas,
que se orgulha o Crateús. É seu promotor o advogado; Nazaré Coelho Mascarenhas, advo-
dr. Waldemiro do Vale Lima, moço culto e gada, todos irmãos com atividades profissio-
digno, recentemente diplomado Bacharel pela nais na Capital Federal; dr. Agamenon Ma-
Faculdade do Ceará. chado, médico; dr. Walter Machado Ponte,
TROCA VANTAJOSA médico; dr. Jaime Machado, odontologo e co-
Crateús, como acentuámos de inicio, per- merciante; e Expedito Machado, destacada fi-
tenceu ao Piauí. A
sua troca com o Ceará já gura das classes conservadoras.
fora recomendada no Parlamento Imperial e Atualmente, a cidade de Crateús se en-
por geógrafos abalizados como Aires Casal. volve numa louvável atmosfera de progresso.
A coisa, todavia, foi avante, e aos 22 de O seu povo, através dos seus lideres de maior
outubro de 1880, pelo Decreto Geral n. 3.072, expressão, reclama eficiência da vida admi-
a permuta era oficializada sem mais de- nistrativa local e o Prefeito, João Afonso de
longas. Almeida Vale, vem realizando alguma coisa
Diz-nos António Bezerra de Menezes, nas de útil à comunidade local.
suas famosas «Notas de Viagem», que o ne- A política é agitada, mas todos envidam
gócio foi excelente, posto que as terras de esforços reais pela prosperidade da cidade.
Amarração não se prestavam para exploração Deve ser ressaltado, aqui, os bons ofícios dos
agrícola e pastoril, sendo de ressaltar apenas drs. Gentil Barreira, prestigioso deputado fe-
o porto, que ali poderia se construir, de fu- deral e chefe de grande corrente política de
turo. O cronista tinha razão. Crateús — União Democrática Nacional —
Pelo Dec. 1.046, de 14 de agosto de 1911, que tem conseguido vários melhoramentos
Crateús foi elevada à cidade e a sua investidura, para a cidade.
nesta categoria, realizou-se a 15 de novembro Outro fator de progresso, para o municí-
do mesmo ano. O nome Príncipe Imperial pio, tem sido o dr. Moura Fé, representante
fora mudado para Crateús pelo Dec. n. 1, de crateuense na Assembleia Legislativa e an-
2 de dezembro de 1889. A
república estava tigo prefeito do município, cuja administra-
no auge. . ção foi das mais operosas daquela terra.
FILHOS ILUSTRES Outros líderes tem, por igual, prestigiado
Crateús, fazendo-lhe a prosperidade, sendo
Entre outros, são filhos de Crateús: Ge- de justiça realçar os drs. Samuel Lins, An-
neral Maximino Barreto, figura brilhante do tónio da Costa Leitão, o Coronel Bento Cou-
Exercito e antigo deputado estadual; General tinho e António de Melo Rosa, prestigiosos
Gentil Falcão, antigo deputado federal e fi- chefes políticos locais.
gura proeminente da política do Ceará; Pa- Registre-se, por último, a figura expo-
dres José Rufino Soares Valamira, primoroso nencial de Pedro Machado da Ponte, recente-
orador; Francisco Ferreira de Morais, Inácio mente falecido, filho de Crateús, homem de
Ribeiro Melo, José Maria Moreira Bonfim, notável capacidade de trabalho, prócer de
Sebastião Lima
e outros, todos exerceram vi- relevo das classes conservadoras e que deu
cariato emdiferentes paróquias do Ceará e à sua terra natal um dos seus maiores ba-
outros Estados. Nas letras registramos Abe- luartes no setor de sua vida económica, a
lardo Fernando Montenegro, escritor festeja- grande firma comercial P. Machado, pionei-
do, membro da Academia de Letras do Cea- ra do alto comércio naquela praça, hoje uma
rá, autor de diversos trabalhos de merecida das melhores de toda a zona norte do Ceará.
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CRATO
CAPITAL DO CARIRI E BERÇO DE BÁRBARA DE ALENCAR
O NEGRO DA CASA DA TORRE E GARCIA DAVILA —
A MISSÃO DO MIRANDA E OS CAPUCHINHOS SOB —
O DOMÍNIO DO AQUHtAZ —
JUIZ DE VINTENA —
PINTO MADEIRA E O FUZHiAMENTO DO BARRO VER-
MELHO —
O PADRE CERBELOU VERDEIXA, BIOGRA-
FADO POR JOÃO BRIGDJO —
TRISTÃO GONÇALVES:
A VDDA POR UM IDEAL —
BARBARA DE ALENCAR, A
MULHER SÍMBOLO —
DEBAIXO DE BALA, EM 1913, A

MANDO DE FLORO O CENTENÁRIO DA CIDADE, EM

OUTUBRO FILHOS NOTÁVEIS ADMINISTRADORES—

CRATO é a linda capital do sul do Estado, mais imoortante da rica região, cuias terras
dMnnrto de Fortaleza seiscentos quilómetros são banhadas pelo Grangeiro, Batateiras e Sa-
e plantada ao sopé da serrania do Ara ripe, de lamanca.
onde jorram, perenemente, mais de cincoenta Afirma João Brigido, no seu «Ceará, ho-
fontes que ofertam â progressista cidade do mens e fatos», que o Carirí foi descoberto e
Carirí uma exuberante paisagem, sempre ver- principiado a povoar por aventureiros que
dejante e alegre. partiram do rio S. Francisco entre 1660 a
De todas as cidades do Ceará é a do povo 1680. E conta a historia do negro da Casa
mais cativante, jovial e festivo. Descende da Torre eme, tendo caido em poder dos ín-
dos seus primeiros povoadores o •.spírito hos- dios «Carirís», grangeou simpatia e afeição
pitaleiro que lhe constitui maior brazão. dos selvagens, tendo, então, logo mais, ensi-
Obreiros de uma grande metrópole, os craten- nado o caminho aos portugueses. .Tá no seu
ses não ostentam orgulho, despeito ou vai- «Datas Históricas do Ceará», afirma o fun-
dade. A simplicidade e o afeto lhes caracte- dador de «Unitário» que um dos primeiros
rizam a personalidade inconfundível. povoadores foi Mendes Lobato Lira.
Com uma população superior a •.•incoenta Álvaro Gurgel de Alencar, no seu «Dicio-
mil habitantes, é, hoje, um dos municípios nário», diz atribuir-se a João Correia Arnaud,
.mais ricos e mais prósperos, sendo -lhe de jus- administrador de fazendas da Casa da Torre,
tiça ressaltar o grau de cultura a que ascen- a colonização do Carirí.
deu, graças, exclusivamente, a capacidade in- Irineu Pinheiro, o autor de «O Carirí»,
telectual dos seus filhos. uma das melhores obras publicadas sobre o
Fato interessante é o da política :)ão bal- Vale, inclina-se pelos descendentes da Casa
burdiar-lhe o crescimento, a ascenção, o prima- da Torre.
do de uma vida sempre melhor. Adotando a filo- A verdade é que, povoada a ubérrima
sofia pragmática, não confunde, não intriga, região nos meados do século dezessete, de logo
não calunia, mas oferece um belo exemplo de surgiram as pequenas vilas, os aldeiarnentos,
compreensão humana, de solidariedade, de os arraiais e dentre estes, o da Missão do
franca harmonia social. Pontifica-ihe uma Miranda ou Carirís Novos, sede de pregação
democracia singela, mas verdadeira, sem atri- da Companhia de Jesus e lugar influenciado
tos e sem questiúnculas pessoais, salvando-Ihe, por um tuchaua de nome Miranda, daí a
assim, as gloriosas tradições de um memorá- origem do nome dado ao povoado.
vel passado histórico, rico de fatos e de figuras
exponenciais da política, do clero e das letras VILA REAL E FREGUESIA DA PENHA
cearenses.
Crato é uma cidade que irradia simpatia Raimundo Girão e Martins Filho, no seu
expontânea, por isso que a sua formação his- livro «O Ceará», registram que a criação da
tórica e a alegria perene do seu povo conquis- Freguesia de Nossa Senhora deu-se em março
tam, de logo, a quem lhe prescruta a alma de 1762, inaugurada, somente aos 4 de ja-
sensível e o altruísmo de sua gente. neiro de 1768, quando se desmembrou da de
Missão Velha, nesta época já povoado em
OS PRIMEmOS POVOADORES franca prosperidade. Está de acordo com o
que afirma Álvaro Gurgel de Alencar, no seu
Muito se tem escrito sobre o povoamento «Dicionário».
do Vale do Carirí e, de modo especial,
fértil A primeira igreja do Crato, então Miran-
sobre a fundação do município do Crato, o da, foi edificada em 1745, com chão de barro
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batido, paredes de taipa, sempre ameaçada Gonçalves nasceu em 1790 no


Tristão
de ruir. Daí o apelo que fez o Padre An- sitio Salamanca. Foi o grande herói da luta
tónio Lopes de Macedo Júnior à Junta Real de 1817. Combateu bravamente ao lado de
do Erário no sentido de edificar um templo Pereira Filgueiras, libertando do domínio
à altura da devoção dos fieis, no que foi aten- português o Piauí e o, Maranhão.
dido, resultando nova construção, mais tarde Símbolo ardente de fé democrática, o des-
ampliada e reformada e atual Sé Catedral. temido e valoroso líder foi a alma da Revo-
Vivendo na dependência de Aquiraz por lução do Equador, tendo sido aclamado Pre-
longos anos, era impossível a Crato o desen- sidente da Província em 1824. Depois de mui-
volvimento e o progresso locais, embora lhe to sacrifício de muito porfiar em prol da
governassem, de fato, os padres residentes em liberdade, tombou como valente em Santa
Missão Velha. Com a criação da Vila do Rosa, hoje terras do município de Frade. A
Icó, em 1738, as autoridades já iam se che- sua última conquista foi a cidade de Aracati,
gando para o Carirí. onde montou quartel-mestre temporário.
Em Senado e Câmara do Icó criou
1743, o Bárbara de Alencar é a representação
um juizde vintena que viesse residir no pessoal do valor e da dignidade da mulher
Carirí a fim de distribuir a justiça local. cearense. Fiel ao amor de mãe e ao desejo
Luta vai, luta vem, o governador de Per- de uma Pátria melhor e mais livre, ficou ao
nambuco é autorizado a criar, por Aviso de lado do filho Martiniano de Alencar, na arran-
17 de junho de 1763, novas Vilas, no Ceará cada de 1817.
Grande. Suportando toda sorte de vexames, presa
Efetivamente, pela Ordem Régia de 6 de juntamente com os que ficaram fiéis ao ideal
agosto de 1763, o Crato é elevado à categoria dos pernambucanos que fora trazido ao Cea-
de Vila Real, inauguração dada aos 21 de rá pelo diácono que lançara a revolução do
junho de 1864, por Vitoriano Soares Barbosa, púlpito da igreja, Bárbara de Alencar esteve
então Ouvidor Geral. encerrada numa cela do quartel de l. a linha,
em Fortaleza, donde seguiu para as prisões
FATOS MEMORÁVEIS do Recife e logo mais para Salvador.
Ânimo forte, esta mulher admirável fi-
Acidade do Crato tem sido sede de latos gura nas páginas da nossa historia como es-
históricos memoráveis e de grande repercus- trela de primeira grandeza, tão grande e tão
são na vida política do Ceará. notável foi o seu amor de mãe e a sua leal-
Um deles foi o ocorrido numa bela ma- dade aos ideais que abraçara ao lado do filho
nhã de 3 de maio de 1817, quando o diácono amado, este mesmo que mais tarde lhe daria
José Martiniano de Alencar, filho de Bárbara o prazer de ser um grande homem do Brasil.
de Alencar, subindo ao púlpito da Matriz,
lança o grito da revolução, proclamando a re- PADRE VERDEIXA
publica. Foi um Deus nos acuda dentro das Uma das figuras mais comentadas do
quatro paredes da igreja. Reboliço tremendo Ceará foi, sem dúvida, a do Padre Alexandre
por entre aclamações gerais ! Anos mais tar- Francisco Cerbelon Verdeixa, apelidado de
de, seria um dos maiores homens do Ceará. «Padre Canoa Doida». Sobre êle escreveram
Outro caso de grande repercussão foi o João Brigido, Barão de Studart e Leonardo
fuzilamento de Joaquim Pinto Madeira, ho- Mota.
mem disposto, de grande bravura, filiado à Homem inquieto, discutiu-se por muito
sociedade secreta «Coluna do Trono» e que tempo onde havia nascido até que este notá-
reuniu em torno de si mais de três mil ho- vel pesquiasdor que é António Gomes de
mens em armas. Araújo, uma das belas expressões do clero
Vencido, Pinto Madeira é condenado a cearense encontrou o seu batistério e enviou
enforcamento, logo mais comutado em fuzila- a Leonardo Mota. Havia nascido, efetiva-
mento, morte mais digna. O seu trucidamen- mente, aos 3 de janeiro de 1803, na cidade do
to deu-se pela manhã de 28 de outubro de Crato.
1834, na colina do Barro Vermelho. Ainda Exerceu a política e o jornalismo desabri-
hoje se ergue, no Crato, a casa histórica onde damente, atacando a Deus e ao mundo sem
se deu o julgamento. É relíquia que querem medir consequências. Foi processado pelo
pôr abaixo em nome do progresso. Presidente José Bento de Figueiredo Júnior,
Aos 9 de janeiro de 1824, José Pereira por crime de injúria. Publicou panfletos tre-
Filgueiras e Tristão Gonçalves, chegam ao mendos, ocupou cadeira na Assembleia Pro-
Crato e, num reboliço tremendo, comunicam vincial e tornou-se inimigo feroz de Alencar,
a todas as Câmaras Municipais, de então, a então Presidente da Província.
dissolução da Constituinte do Brasil. Era o Por onde passou, deixou a sombra de sua
fogo revolucionário que se alastrava oor todo personalidade inquieta e tremendamente pe-
o Ceará Provincial e que proclamaria, logo rigosa. Faleceu pobre num leito da Santa
mais, a República do Equador, a mais bela Casa de Fortaleza, após alguns anos de pade-
página da historia do Ceará. cimento de sua mãe a quem dedicava gran-
de afeto.
DUAS GRANDES FIGURAS No livro «O Ceará —
Lado Cómico», João
Brigido lhe dedica um longo estudo biográfico.
Dois símbolos de honradez, bravura e alto DEBAIXO DE BALA EM 1914
patriotismo deu o Crato ao Ceará e foram eles
Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e Bár- Todo o Carirí se encontrava em pé de
bara Pereira de Alencar. guerra logo que explodiu a revolução inspi-
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rada por Floro Bartolomeu da Costa, para de- Batista, Cursino Belém de Figueiredo, Gene-
por Franco Rabelo, um dos mais dignos ho- ral Epifânio Alves Pequeno, Elísio Figueiredo,
mens de governo que já tivemos no Ceará. Padre Emídio Lemos, Filemon Fernandes
Juazeiro era a praça forte; estava coalha- Teles, Francisco Pereira Arnaud, Irineu No-
da de romeiros, chamados, com muita proprie- gueira Pinheiro, Manuel Sidrin de Castro
dade, de jagunços, armados até os dentes. Jucá, José Macedo, Denizard Macedo de Al-
Crato era uma das esperanças do governo, cântara, José Odorico de Morais, José Garri-
da legalidade. Transformou-se, de logo, em do da Nóbrega, Joaquim Pinheiro Monteiro,
quartel das tropas fieis. Vários contingentes Joaquim Fernandes Teles, Nelson da Franca
iam chegando à proporção que se passavam Alencar, Raimundo Gomes de Matos, Vicente
os dias. Leite e Padre Pedro Esmeraldo da Silva.
Certafeita, foi dado o toque de combate, Estes e outros foram figuras singulares,
marchariam sobre Juazeiro, já trans-
as tropas de projeção que honraram e honram ainda a
formado em cidade tremendamente defendida terra em que nasceram.
por trincheiras admiráveis. Um dos fatos interesantes e dignos de re-
Ao fragor da luta, vão derrotados os de- gistro, do Crato, é que os seus governos mu-
fensores do governo. Parte segue para Bar- nicipais têm sido exercidos por homens dignos
balha e o restante vem ter a Crato, extenua- e honestos, sempre voltados para o interesse
dos. Corria Janeiro de 1914. local, para a prosperidade do município.
Numa tarde de 24, chega às carreiras, um Conhecemos alguns destes chefes muni-
mensageiro gritando: — «Senhores, a Estrada cipais e sobre eles podemos dar aqui o nosso
Nova está coalhada de romeiros, eles vêm ata- depoimento sincero e apolítico.
car o Crato». Joaquim Fernandes Teles foi um destes
Efetivamente, horas depois começava o notáveis administradores municipais. Alexan-
pipocado tremendo, selvagem, bárbaro. A orda dre Arrais de Alencar, de saudosa memória,
era terrível. Atacara primeiro o cemitério foi um dos prefeitos mais operosos que Crato
dos coléricos. Foi um Deus nos acuda. Correu já possuiu, sendo inúmeras as suas realiza-
gente a vontade. A luta foi desigual, pois os ções, outro bom prefeito que Crato já teve foi
romeiros estavam dominados por uma feroci- Filemon Fernandes Teles, hoje deputado es-
dade sem limites. tadual; Wilson Gonçalves, atual líder do
O cerco foi apertado, já agora a luta se P. S. D. na Assembleia Estadual, esteve sem-
desenrolava na antiga rua do Fogo, nas ime- pre à altura da função, desempenhando-a com
diações de pequeno quartel da Praça São Vi- critério, bom senso e operosidade reconhecida
cente e em frente das casas dos Coronéis José por gregos e troianos.
Teixeira e Zabulon. Atualmente, está à frente da municipali-
O tiroteio parecia não mais parar, pois dade o dr. Décio Teles Cartaxo, um dos me-
entrara de noite a dentro até na manhã de lhores prefeitos que existe no Ceará. Rapaz
25. Às oito horas, como nos descreve C. Li- culto, viajado, tratavel, tem uma única preo-
vino de Carvalho, in Revista do Instituto — cupação em sua vida: servir bem a terra que
1932, a luta atingiu ao seu ponto culminante. governa.
A resistência foi verdadeiramente heróica. Às Iniciativas de porte tem caracterizado a
10 horas, estava tudo acabado. Crato tinha sua administração honesta, profícua e reali-
sido definitivamente tomada pelos rebeldes. zadora.
A 26 chega à cidade vencida o dr. José Municipalista por convicção, o dr. Décio
de Borba Vasconcelos, que tomou medidas realiza uma obra digna de ser admirada e
acauteladoras da ordem pública, ficando em capaz de servir de exemplo a muitos prefeitos
seu lugar, logo mais, António Luís Alves Pe- que pouco ou quasi nada realizam por este
queno. Ceará afora.
A cidade heróica tombara, mas somente Crato está se transformando como por
depois de uma luta tremenda de vida e de encanto, sendo hoje uma das mais atraentes
morte, travada em suas ruas tintas de sangue e modernas cidades do nosso Estado.
da jagunçada temível de Floro.
SEDE DE BISPADO
FILHOS ILUSTRES DO CRATO
Crato, na hierarquia eclesiástica, é sede
Crato tem sido sede de grande número de de Bispado.
cearenses ilustrados, figuras de relevo nas le- Foi o saudoso Dom Quintino Rodrigues
tras, na política, nas artes e nas ciências. de Oliveira o primeiro bispo do Crato.
Dentre muitos podemos citar: Álvaro Bo- Atualmente dirige a comunidade religio-
milcar, Hermenegildo Firmeza, António Mar- sa, Dom Francisco de Assis Pires, cujas obras
tins Filho, António Fernandes Teles, Zaca- sociais e religiosas atestam o valor e a ex-
rias Gonçalves da Silva, Alcides Gomes de pressão moral deste estimado dignalario da
Matos, Branca Bilhar, Padre Cicero Romão Igreja Católica.
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VILA COM MANUEL FRANCÊS E CIDADE COM PEDRO I

PRIMEIRAS TENTATIVAS DE COLONIZAÇÃO MAR- —


TTM SOARES MORENO E O FORTIM DE SÃO SEBASTIÃO
— LUTAS E REVEZES —
MATIAS BECK E O FORTE DE
SCHOONENBORCH —
A PRIMED2A VILA FOI PARA O
AQUDIAZ, EM 1711 —
A ORDEM RÉGIA DE 11 DE MAR-
ÇO DE 1725 —
ELEIÇÕES E INSTALAÇÃO DA NOVA
VDLA —
LUIZ BARBA ALARDO —
ANTÓNIO DA SDLVA
PAULET —
O BOTICÁRIO RODRIGUES FERRED3A —
CDDADE, AOS 17 DE MARÇO DE 1823 ADOLFO HER-—
BSTER —
USOS E COSTUMES DA FORTALEZA ANTIGA
— INTENDENTES E PREFEITOS —
A CIDADE DOS
NOSSOS DIAS —
FILHOS BLUSTRES

AO PRIMEIRO arrebol do século dezessete gicamente, com o martírio de um e o naufrá-


inicia-se à colonização do Ceará, retardada já gio do outro.
pelo fato de António Cardoso de Barros, anti-
go donatário da capitania, não ter dado o ar MARTIM SOARES MORENO, O COLO-
da sua graça nas plagas que lhe foram conce- NIZADOR
didas por mercê de D. João III.
Coube a Pêro Coelho de Sousa, a primei- Fracassadas as duas primeiras tentativas
ra tentativa de posse e estabelecimento no an- de colonização, o Ceará permaneceu, por lon-
tigo Ceará Grande. Acompanhado de aguer- gos anos, numa profunda noite de abandono,
rida tropa, o bravo Capitão-mór, a 18 de ja- apenas rubramente clareada pela cubica da
neiro de 1604, alcança a foz do rio Camocim. pirataria da costa que perlustrava como nas
Vai à Ibiapina, celebra paz com os indígenas, lendas e tradições, terras desconhecidas à cata
Tenta ir ao Maranhão e a tropa nega-se a de tesouros . . .

a acompanhá-lo, por ser empresa temerária. Caberia, porém, ao bravo fidalgo Mar-
Vem então à barra do rio Ceará e deixa Si- tim Soares Moreno a conquista definitiva do
mão Nunes Correia na direção do Fortim de Ceará e o estabelecimento de uma coloniza-
São Tiago na Nova Lisboa, que devia ser a ção segura e progressista.
futura sede da Nova Lusitânia, colónia que Foi Diogo de Mendonça Furtado, 9.° Go-
por êle seria estabelecida nas terras cearenses. vernador Geral do Brasil, quem o escolheu e
Vai à Paraíba conseguir munições e man- o titulou na qualidade de Capitão-mór da Ca-
timentos. Ao regressar, 18 meses depois, ao pitania do Ceará. Tenente do Forte dos Três
lado de sérias dificuldades encontradas cons- Reis Magos, a sua bravura já corria mundo.
tata que João Soromenho, encarregado de tra- Corajoso, forte, honesto, tinha nalma raras
zer a ajuda material de Diogo Botelho, havia virtudes. Antes de chegar à Bahia, para se
desviado, fraudulentamente, os viveres e ar- avistar com Diogo Furtado, repeliu france-
mamentos. ses, com grande corageme destemor.
Desiludido, transfere o fortim de São Tia- Foi a 20 de janeiro de 1612, que Soares
go para as margens do rio Jaguaribe, onde Moreno desembarcou à barra do rio Ceará,
ergue o Forte de São Lourenço. Com lutas e nas imediações de Caucaia. Trazia apenas um
deserções, resolve abandonar o posto e se en- clérigo e seis homens. Nada mais.
caminha para o Forte dos Três Reis Magos, Constrói, então, com o auxilio de Jacau-
no Rio Grande do Norte. A travessia foi um na, o fortim de S. Sebastião e manda erigir
episódio dantesco e nele ressalta a figura capela sob a invocação de Nossa Senhora do
heróica de uma grande mulher a sua esposa, Amparo.
D. Tomazia. O pequeno forte repeliu vários assaltos
Desta primeira tentativa ficara apenas a de corsários franceses, dentre os quais rea- um
experiência conquistada por Martim Soares lizado pelo valente Du Prat, useiro e veseiro
Moreno, que fora companheiro de Pêro Coe- em tremendas bravatas.
lho. Em 1613 vai ao Maranhão. Vencido pe-
Anosdepois, já nos idos de 1607, estive- los indígenas, vai ter a Portugal. De lá volta
ram pela serrania da Ibiapaba, os padres je- em 1621 e é recebido entre festanças no an-
suítas Francisco Pinto e Luiz Figueira, notá- tigo arraial em franca decadência. Reconstrói
veis missionários, cuja história é um poema tudo. Traz famílias novas. Fomenta a agri-
de dôr e de sofrimentos e que terminou tra- cultura e a criação de animais. Faltam-lhe,
.

92

porém, soldados e estimulo por parte do go- do aqui incontestavelmente escolhido já o lo-
verno geral do Brasil, pelo que apresenta cal onde mais tarde se ergueria a linda Forta-
queixa a Portugal. leza decantada por Paula Ney.
Diante da luta que se esboça em Pernam- Coube a Álvaro de Azevedo Barreto, no-
buco, Soares Moreno vai prestar melhores ser- meado Capitão-mór do Ceará, mudar o anti-
viços contra os holandeses, deixando, assim, o go nome do Forte de Schoonemborch para
«Fortim de Nossa Senhora da Assunção» e, ao
Foi êle, evidentemente, o nosso coloni- capelão Pedro Morais, erguer pequena cape-
zador, por isso que de sua obra iniciada, em linha em suas vizinhanças.
1612, principiou a vida organizada em nossas
terras. A PRIMEIRA, PARA O AQUIRAZ
LUTAS E REVEZES É ao despontar do século dezoito que
principia a existência da atual cidade de For-
Com a decadência do poderio português taleza, por isso que em torno do presidio se
e o advento do domínio holandês no Brasil levantam as primeiras moradias de taipa, com
principalmente no norte e que tinha quartel- chão de barro batido. O arrabalde cresce e já
mestre no Recife, o antigo arraial de N. S. do cunta com mais de duzentos moradores.
Amparo, caiu em desalentadora decadência e Aos 13 de janeiro de 1699. El Rei conce-
à espera de dias tempestuosos. de Ordem mandando erigir a primeira Vila
Aos 25 de outubro de 1637, dois barcos da Capitania. Aos 25 de janeiro de 1700, dão-
holande?es chegam a Mucuripe. Deles desem- -se as eleições. Em
1701 é transferida para a
barcam 125 soldados, sob o comando do Capi- Barra do Ceará. Em
1708 volta para o antigo
tão Hendrick Huss e com ordens terminantes local, para o Pageú. Em
anos posteriores é
de Maurício de Nassau, no sentido de domi- novamente transferida para onde outrora se
narem a Capitania do Ceará. erguera o Forte de São Sebastião, Barra do
Bartolomeu de Brito ofereceu uma resis- Ceará.
tência dramática, heróica e impressionante, É quando, então, pela Ordem Régia de 30
mas quedou afinal diante da superioridade de janeiro de 1711, é transferida definitiva-
numérica. mente para o Aauiraz, o aue somente se efe-
Sucederam-se dias terríveis por isso que tivou aos 27 de julho de 1713. Aquiraz pas-
o gentio não se adaptou ao sistema violento sava, destarte, a ser a sede do governo do
dos discípulos de Nassau e em 1644 dá-se uma Ceará de então, como aliás, já escrevemos
revolta geral com o massacre de toda a tropa em outros trabalhos.
flamenga, inclusive Gedeon de Morris, que A transferência foi um Deus nos acuda.
sucedera a Hendrick Van Huss, no comando Ninguém se conformou e a revolta envolveu
do Forte. os principais personagens da época, inclusive
o padre João de Matos Forte, então vigário da
O FORTE DE SCHOONENBORCH Vila. Foi uma tempestade . .

Até então, o teatro da luta, do inicio da FTJNDA-SE O MUNICÍPIO DE FORTALEZA


colonização, do primeiro arrabalde, vinha
sendo as cercanias da barra do rio Ceará, para Reclamações, protestos, abaixo-assinados,
além do bairro atual da Brasil. Oiticica. Novo relatórios, e ofícios foram encaminhados ao
local, novo ambiente geográfico iria agora en- Governador Geral. Diante do fato é baixada
trar em cena, com Matias Beck. uma Ordem Régia, datada de 11 de março de
Foi numa manhã de 3 de abril de 1649, 1725, criando nova Vila em Fortaleza.
que Matias Beck aportou ao Ceará. Coman- Aos 13 de abril de 1726, foi solenemente
dava pequena frota de três iates e dois barcos instalada a Vila de Fortaleza de Nossa Se-
de menor calado, cuja tripulação alcançava o nhora da Assunção, com a posse dos seguintes
total de 298 homens. juizes ordinários e vereadores: António Go-
Escolhendo local apropriado, faz erguer mes da Silva, Clemente Azevedo, Jorge Silva,
ligeira paliçada, provisória, nas proximida- P°dro Morais de Sousa e João Fonseca Ma-
des do morro Muruiaitiba, à margem do pe- chado. Uma ata lavrada> na ocasião, ?.ssim re-
queno rio Pageú, ainda hoje existente, embo- zava -

ra que muito definhado. «Manoel Francez, Capitão-mór da Capi-
Com traçado do engenheiro Ricardo Caar, tania do Ceará Grande, a cuio careo está o go-
manda erguer então, um Forte relativamente verno delia, por Ordem de Sua Majestade que
resistente e situado exatamente na região des- Deus Guarde, ètc. etc, fundo e creio esta
crita. Dá-lhe o nome de «Forte de Schoonen- villa em nome D*F1 Rei Nosso Senhor, para
borch» em homenagem ao governador holan- que nomeio Vossas Mercês por juiz e mais ofi-
dês de Pernambuco. Entrementes, Carel Hel- ciaes do Senado e da Camará, para que como
bach e Hans Sirmolesel realizam pesquisas de bons e fieis vassalos administrem justiça aos
minas no monte Itaremá, serrania de Maran- moradores desta villa e cuidem em seu aug-
guap°. mento e do b<=m commum, guardando a tudo
Não sabemos porque razão João Brígido as ordens e fiel vassallagem ao dito Senhor,
ne^a a existência deste Forte. Mas a autori- agradecendo a m^rcê de os honrar com esta
dade inconteste de Carlos Studart Filho o dá mercê, etc, etc. Fortaleza de Nossa Senhora
como erigido. E, de fato o foi, pois existe de da Assunpção, treze de abril d*3 mil setecen-
planta no Real Mu c eu de Munich e figura tos e vinte e seis. O Secretário Simão Gonçal-
também no Diário de Matias Beck. ves de Sousa. —Manoel Francez».
Com a capitulação de Taborda, em 1654, Anos depois, isto é em 1799, aqui chega
os holandeses se retiram do Ceará, deixan- Bernardo Manuel de Vasconcelos, Chefe de
:

DR. PAULO CABRAL Atual Prefei —


— Plano da Cidade e Usina de Mncuri

ÍHslsií

FORTALEZA — António Rodrigues Fer-


reira, o boticário que foi Intendente e
reformador da cidade

FORTALEZA — Histórico Edifício da Intendência Municip


:-.:-;;.;. v.-- -.-.:>:-::;. :-: . .
:: :::-:::- .::::;.::-;>.::::::;:::-:-::

:.::,::..::, .
.
.
- :
FORTALEZA — Banco;
do Brasil e Frota Genti
e Edifício Sul Américc

^ORTALEZA — Uma
as lindas residências
da Aldeota

FORTALEZA — Jangadeiros — Tela de Raimundo Cela


. . .

93

esquadra e que foi o nosso primeiro governa- Foi um


homem notável, de caráter retili-
dor. Prestou-nos, Vasconcelos três notáveis neo, cordial, popular e em cuja botica se reu-
melhoramentos; Corpo de Milicianos, Baterias niam os principais da saudosa quadra . .

no Porto do Mucuripe e Casa para Inspeção


de Algodão. CIDADE EM 1823, COM UM BELO NOME
Depois veio Luiz Barba Alardo, 3.° Go-
vernador, que instalou no antigo Outeiro, uma Ao principiar o século dezenove, Forta-
fábrica de louças; lançou o imposto predial leza tinha dez mil habitantes. Não superava
pela primeira vez, tendo arrecadado 236 cru- as Vilas do Icó e do Aracatí, ricas e próspe-
zeiros e sessenta centavos por recair em 159 ras.
prédios existentes; realizou, ainda, o nosso
primeiro censo que deu para a Vila, 9.624 ha-
Não podia nem mesmo manter um médi-
co e um dentista, sendo de usos e costumes
bitantes . . .
modestos. A
sua principal instituição era a
SAMPAIO E PAULET Câmara com a sua vereança notabilissima. por
isso que compunham-na os melhores da
terra. Ela obrigava os pescadores a fornecer
Aos
12 de janeiro de 1820, assume o go-
o peixe todos os dias, sob pena de 30 dias de
verno da Capitania, o notável Manuel Inácio prisão e fixava, também, tabela de preços que
Sampaio. Foi êle quem nos deu, efetivamen-
àquela época, era, realmente, cumprida, pois
te, o atual traçado de Fortaleza, por isso que
não se conheciam a propina.
o seu auxiliar, engenheiro António da Silva
Paul et foi o autor da planta que adotava a O povo vivia despreocupadamente. Gala
forma quadrangular para o desenvolvimento somente nos dias de missa e do beija-mão.
da florescente Vila. Aprovado o projeto pela O trajar era original, vez que as mulhe-
res, usavam sapatos de velbutina com fivelas
Câmara, que aliás foi quem solicitou ao Go-
de ouro, grandes mantilhas em cores vivas, e
vernador, foi dado início ao traçado com o ali-
vestidos de cetim e veludo.
nhamento da Rua Sampaio, hoje Governador
Sampaio e que fica à margem direita do Pa- Os homens lá se iam com as suas enor-
geú, em nossa Capital.
mes casacas de côr preta ou azul, com botões
dourados e calções bem justos, bengala com
O
inglês Henri Koster disse que, àquela castão a ouro completava a vestimenta . .

época tinhamos um quadro de quatro ruas, O Papangú, Batuque, Page e Fandango


sem calçamento, com casas de calçadas de ti- divertia os arrabaldes que tinham o seu ponto
jolo, três Igrejas, o Palácio do Governo, a alto quando aparecia a nau Catarineta.
Casa da Câmara, a Cadeia e a Tesouraria. Foi neste ambiente simples, romântico e
Foi Silva Paulet, estimulado por Inácio sereno que a 18 de março de 1823, a vila de
Sampaio, quem construiu a atual Fortaleza de Fortaleza, foi elevada à categoria de cidade.
Nossa Senhora da Assunção, cujo inicio data A carta de lei foi expedida nos seguintes ter-
de 12 de outubro de 1812. Custou vinte mil mos :

e trezentos cruzeiros, afora dezesseis mil e


«D. Pedro, pela Graça de Deus e Unâni-
cem de donativos !

Em 1817 colocaram-lhe a seguinte pla- me Aclamação dos Povos. Imperador Consti-


ca: — «As naus escarneciam de mim quando tucional e Defensor Perpétuo do Brazil. Faço
saber aos que esta Minha Carta virem: Que,
eu era um monte informe; agora, que sou
uma grande fortaleza, de longe tomam-se de Tendo Eu elevado este País à alta dignidade
respeito. Aqui, reinando D. João VI. Sampaio
de Império, como exigem a sua vasta exten-
me fundou bela e o engenho de Paulet es- são e riqueza, etc, etc. Houve por bem Meu
plandece. Os donativos dos cidadãos me tor- Imperial Decreto de 24 do mez próximo pas-
nam forte pelas muralhas e os dispêndios reais
sado em memoria e agradecimento de tan-
tos e tão relevantes serviços, que ela tem
me fazem forte pelas armas» . .
prestado. Elevar à cateeoria de cidade todas
as vilas que forem capitães de Províncias; e
O BOTICÁRIO FERREIRA havendo anteriormente esta mesma condeco-
Em1825, chegava a Fortaleza c boticário
ração em favor da Vila de Fortaleza da Pro-
víncia do Ceará a comarca da mesma vila em
António Rodrigues Ferreira que, tendo aqui
seu nome e do Clero, Nobreza e Povo, pelos
se radicado, durante dezoito anos aplicou todo
atendíveis motivos, que se verificarão em Mi-
o seu prestígio político no embelezamento da
cidade.
nha Augusta Presença em Consulta da Mesa
Natural de Niterói, Ferreira foi eleito ve-
do Desembarco do Paço: Hei por bem, Tendo
a tudo consideração, aue a dita Vila de Forta-
reador à Câmara Municipal de 1842, e, logo
leza fique erecta em cidade e aue por tal seia
mais, escolhido para seu Presidente.
Na sua administração foi elaborada uma
havirla e reconhecida com a rlenominarão de
planta da cidade e na mesma foram feitas
FORTALEZA DA NOVA BRAGANÇA., etc,
várias modificações no antigo traçado. Tudo
etc. Dado no Rio de Janeiro, aos 18 óv mar-
ço de 1823, segundo ano de Independência e
foi efetivado graças à sua ação dinâmica, ho-
nesta e empreendedora. do Império. —
Imperador, com Rubrica e
A fim de testemunhar a sua gratidão, a Guarda».
Câmara Municipal resolveu mudar a antiga Ao correr dos anos, já cidade, Fortaleza
denominação da Praça Municipal, para Praça teve notáv°l guardião da sua beleza urbanís-
do Ferreira, nome que ainda hoje continua, tica personificado em Adolfo Herbster, o per-
anesar de em certa época quererem batizar- nambucano admirável cinos servidos orienta-
-lhe com a denominação de Praça 7 de Se- ram o traçado de nossa Capital até 1931.
tembro em homenagem à nossa maior data Daí para cá, verdade é dizê-lo, «a loira
nacional. desposada do sol» perdeu, para talvez nunca
94

mais encontrar, o seu antigo e belo planeja- Em seguida é substituído pelo senhor Ruy
mento de ruas, praças e jardins. Guedes. Logo mais é nomeado o Dr. César
Paulo Cabral, com o plano Sabóia Ribei- Cais de Oliveira. Este, por sua vez demora
ro, pretende delinear rumos seguros para o poucos meses à frente da municipalidade, sen-
desenvolvimento de Fortaleza. É uma louvá- do substituído pelo Dr. Romeu Martins. Em
vel e salutar iniciativa que muito credencia seguida, é nomeado pelo Interventor Machado
a sua administração. Lopes, o senhor Clóvis Matos.
Como mudava-se de Interventor constan-
ADMINISTRADORES DE FORTALEZA temente, sucediam-se, da mesma maneira os
Prefeitos de Fortaleza.
A cidade de Fortaleza teve várias formas Com a volta ao regime da legalidade, é
de administração que variaram de acordo com eleito Governador do Ceará o Des. Faustino
o governo adotado no Brasil, consequentemen- de Albuquerque e Souza que nomeia, então,
te no Ceará, Colónia, Província e Estado. para chefe da municipalidade o Dr. José Leite
De 1726 a 1822, a função de dirigente da Maranhão, época em que esteve no cargo .era
vida pública fortalezense era atribuida aos interinidade, o Dr. Jorge Moreira da Rocha.
Juízes Ordinários. Ja na quadra imperial, o Em 1947 realizam-se as eleições para o
cargo cabia ao Presidente da Câmara Muni- cargo de Prefeito de Fortaleza, sendo eleito,
cipal de Vereadores, ora eleito pelo legisla- por grande maioria de sufrágios, o Dr. Acrísio
tivo da cidade, ora nomeado pelo Governador. Moreira da Rocha. Nesta quadra, na quali-
Vai de 1822 a 1890. dade de Presidente da Câmara Municipal, o
Neste período, sobressairam-se, entre ou- Dr. Alisio Mamede respondeu pelo expediente
tros, José Ferreira de Lima Sucupira, que da municipalidade.
governou a cidade de 1833 a 1836; Dr. José Em 1951, no dia 31 de janeiro, é empos-
Lourenço de Castro e Silva, de 1841 a 1843; sado o atual Prefeito Dr. Paulo Cabral de
o famoso António Rodrigues Ferreira Macedo, Araújo que, tendo de ir à Capital Federal
o homem que reformou Fortaleza, cuja me- tratar dos interesses do município, foi substi-
mória é lembrada pela denominação do prin- tuído pelos vereadores Antohio Mendes e J.
cipal logradouro, no centro da cidade, «Praça C. de Alencar Araripe, ocupantes, na época
do Ferreira», e que governou, a «Loira des- das funções de Presidente da Câmara Muni-
posada do sol», de 1843 a 1849; Dr. Manuel cipal.
Teófilo Gaspar de Oliveira, 1850; António De regresso, ao reassumir a direção da
Tedorico da Costa, 1865 a 1869; Guilherme municipalidade, o Dr. Paulo Cabral anuncia
César da Rocha, 1883 a 1885; João Crisós- a aquisição de poderosa uzina termo-elétrica
tomo da Silva Jataí, 1884 a 1886 e Telésforo a ser inaugurada ainda no seu governo.
Caetano de Abreu, 1887. Administrador dinâmico e criterioso, o
No período republicano, que se iniciou atual Prefeito de Fortaleza vem realizando
em 1889, houve modificação para melhor, isto inúmeras obras de interesse geral da coletivi-
é, passou a existir o Conselho de Intendên-
dade.
cia, cujo Presidente tinha funções equivalen-
tes aos atuais Prefeitos. Os componentes do ALGUNS DOS FILHOS ILUSTRES
Conselho eram ern número de cinco, nomea-
dos pelo chefe do governo. Dentre muitos outros, passamos a enu-
Os Intendentes mais destacados foram :
merar algumas figuras proeminentes do Cea-
José Bezerril Fontenele, 1890; Joaquim de rá, nascidas em Fortaleza.
Oliveira Catunda, 1891 a 1892; Guilherme Alberto Nepomuceno, notável músico
César Rocha, 1892 a 1912; Dr. João Marinho brasileiro;Dr. António Teodorico da Costa,
de Andrade, 1912; Ildefonso Albano, 1912 a engenheiro e escritor; D. Xisto Albano, anti-
1914 que foi o último dos nossos Intendentes, go Bispo do Maranhão; José Martiniano de
visto como, a partir de 1914, a lei criava o Alencar, notável romancista e parlamentar
cargo de prefeito. brilhante da quadra imperial; General José
A partir deste período, tivemos, então, Clarindo de Queiroz, Presidente do Estado;
os seguintes Prefeitos de Fortaleza: — Cel. General Marcos Franco Rabelo, Presidente do
Estado; Dr. Oto de Alencar e Silva, Grande
Casemiro Ribeiro Brasil Montenegro, de 1914
a 1918; Dr. Rubens Monte, de 1918 a 1920; matemático; Dr. Thomaz Pompeu de Souza
Ildefonso Albano, de 1921 a 1924; Dr. Godo- Brasil, cientista; Juvenal Galeno da Costa e
fredo Maciel, que nos governou de 1924 a Silva, poeta; Cel. Filgueiras de Melo, herói do
1928; Álvaro Nunes Weyne, de 1928 a 1930; Paraguay; Guilherme César da Rocha, grande
Dr. César Cais de Oliveira, de 1930 a 1931; prefeito de Fortaleza; Dr. Guilherme Studart,
Engenheiro António Urbano de Almeida, 1931; Barão de Studart, Y> nosso maior historiador;
Dr. Manuel Tibúrcio Cavalcante, 1931; Dr. Manuel de Oliveira Paiva, romancista e Lei-
Raimundo Girão, 1933 a 1934; Dr. Plinio Pom- ria de Andrade, notável tribuno e cultura ad-
peu de Sabóia Magalhães, 1934 a 1935; Dr. mirável.
Gentil Barreira, 1935; Novamente, Álvaro
Nunes Weyne, de 1935 a 1936; Dr. Raimundo A CIDADE DOS NOSSOS DIAS
de Alencar Araripe, eleito pelo povo. Em
1937, com o golpe de Estado de 10 de novem- Em população, Fortaleza é hoje a sexta
bro de 1937 o Governador Menezes Pimentel, capital do Brasil. De 1930 aos nossos dias
então nomeado Interventor Federal, conserva tem crescido vertiginosamente. É bem ilumi-
o mesmo Prefeito de Fortaleza, já agora por nada, as suas ruas são amplas, pavimentadas
ato de nomeação assinado pelo chefe do exe- a asfalto, concreto, paralelepípedo e pedras
cutivo cearense. Em 1945, o Dr. Alencar Ara- toscas. Possuia residências lindíssimas, no-
ripe é substituído pelo senhor Oscar Barbosa. tadamente nos bairros Aldeiota e 13 de Maio.
95

As suas praças são bem arborizadas e contam Associação Comercial, Fénix Caixeiral, Cen-
com alguns monumentos expressivos tais tro Estudantal Cearense, Centro Médico Cea-
como os de José de Alencar, Pedro IIo e Ge- rense, Associação Cearense de Imprensa, As-
neral Tibúrcio. sociação dos Chauffeurs, Associação dos Mo-
É cidade que beira aos 300.000 habitan- ços Católicos, etc.
tes, com excelentes vias de acesso que deman- Há grandes edifícios no centro da cidade,
dam os sertões, linhas aéreas, ferrovias, e ca- tais como Sul América, Granito, Diogo, Ven-
minho marítimo. tura, Pajeú, Excelsior Hotel, Studart, Jesuino,
O ensino conta vários estabelecimentos Palácio do Comércio, Correios e Telégrafos,
de ensino superior, dentre os quais a Facul- Palácio da Justiça, Secretaria de Polícia, Car-
dade de Direito, de Medicina, de Agronomia, neiro, A. C. I., Filomeno, Parente, e muitos
Filosofia, Ciências Económicas e Farmácias e outros.
Odontologia. Contam-se, às dezenas, os co- Contam-se inúmeras fábricas de tecidos,
légios e ginásios. Registrem-se as escolas pro- óleos vegetais, vidros, louça, papel, sabão, ci-
fissionais do Sesi e Industrial, esta com belo garro, bebidas, conservas, etc.
e moderno edifício. A vida intelectual é agitada, sobressain-
O ensino eclesiástico conta com excelen- do-se instituições tradicionais como o Institu-
tes e tradicionais seminários e colégios. to do Ceará, Instituto do Nordeste, Academia
As suas Igrejas são tradicionais e impo- de Letras, Salão Juvenal Galeno, Academia
nentes, destacando-se a do Pequeno Grande, Centrista de Letras e outras.
Cristo Rei, Patrocínio, Prainha e outras. A imprensa conta com mais de dez órgãos
Há clubes diversionais como o Náutico diários, registrando a existência de várias re-
Atlético Cearense, orgulho do Brasil. Ressal- vistes literárias e científicas. Todos os anos
te-se, ainda, o Clube Maguari, Diários e Ideal, publicam-se mais de uma dezena de obras de
todos em sedes magníficas. autores cearenses.
O comércio se desenvolve em centenas Há casas de diversões moderníssimas
de casas importantes, notando-se a sua vida como Cine Diogo, Teatro José de Alencar e
econômico-financeira movimentada por mais e Cine Samburá.
de uma dezena de bancos. De modo geral, o povo anda bem vertido.
Das associações de classe se destacam: — O fortalezense é afável, acolhedor e simpático.

ROTEIRO CRONOLÓGICO
ADMINISTRAÇÃO DR. PAULO CABRAL DE ARAÚJO
Medidas do interesse público — Realizações entregues ao povo

DESENVOLVIMENTO DATA

Posse solene no Palácio Iracema, sede da Prefeitura 31— 1—51


Nomeação do Secretariado que ficou assim constituído: — ._.

Educação e
. .

Serviços Internos: João Jacques Ferreira Lopes; Fazenda: Dr. Plauto


Feijó Benevides; Saúde: Dr. Sílvio Leal; Obras Públicas: Dr. Hélito
Pamplona; Serviços Urbanos: Dr. Edgar Leite Ferreira 31— 1—51
Instituição das Feiras Livres em caráter permanente 18— 3—51
Abertura de inscrições para reserva de 4.300 novos telefones —
Am-
24— 3—51
pliação contratada com a Erickson do Brasil Com. e Ind
A Prefeitura obtém do Ministério de Educação licença para o funciona-
mento, ainda este ano, do Ginásio Municipal 18— 4—51
Convénio da Municipalidade com o Laboratório Biológico dó Estado
para uma campanha contra a febre aftosa 25— 4—51
Pela l. a vez, em muitos meses, a Prefeitura põe em dia o pagamento
do seu funcionalismo 25— 4—51
A Câmara Municipal autoriza o Prefeito a contrair um empréstimo de
Cr$ 15.000.000,00 afim de pagar os vencimentos atrazados do funcio-
nalismo decorrentes da Lei n.° 137, de 29/4/949 e Lei n.° 105, de
4/12/948 que reajustaram os vencimentos dos servidores mas que não
foram postas em vigor pela administração anterior 28- 4—51
Entra em funcionamento o Ginásio Municipal, devidamente instalado
e equipado 2— 5—51
O Prefeito faz a sua declaração de bens 16— 5—51
Inauguração do Matadouro da Vila de Mondubim 26 — 5—51
23— 6—51
Inauguração de um chafariz público no bairro de Monte Castelo ....
Início do 1.° Campeonato Brasileiro de Xadrez, pela primeira vez rea-
lizado no norte do País, sob o patrocínio da Prefeitura 5— 7—51
Encerramento dos serviços de dedetização de prédios em Fortaleza em
cooperação com o Serviço Nacional de Malária —
Foram dedetizados
— —

96

DESENVOLVIMENTO DATA

12.000 prédios 24— 7—51


- Viaja para a Capital Federal o Prefeito Paulo Cabral afim de iniciar
providencias para a instalação de uma Uzina Termo-Elétrica em Mucu-
ripe e ampliação do Serviço Telefónico 31— 7 51
- O Hospital de Pronto Socorro passa a dispor de quatro ambulâncias . . 8—8 51
- O Prefeito Paulo Cabral é recebido no Catete pelo Presidente da Repú-
blica a quem solicita apoio para a solução do problema de energia
elétrica 10 — 8 51
O Banco do Brasil oficia ao Prefeito assegurando a concessão de fiança
20—
-

e aval para a aquisição da Uzina Elétrica 8 51


- Regressa a Fortaleza o Prefeito Municipal com a solução assegurada
para o problema de energia elétrica
O Prefeito envia uma Mensagem à Câmara solicitando autorização para
contratar os serviços de instalação da nova Uzina Elétrica a ser cons-
truída no Mucuripe 20 —

9 51
É instalada a Sub-Prefeitura da Vila de António Bezerra 26 9 51
É sancionada a Lei n.° 343, criando o Departamento de Pessoal e Orga-
nização destinado a coordenar e a superintender os serviços de pessoal
da municipalidade 2 —51
10
• E sancionada a Lei n.° 377, autorizando o Prefeito a dispender a quan-
tia de Cr$ 45 000 000,00 com a aquisição e construção da Uzina Termo-
12— 10 — 51
. .

Elétrica de Mucuripe
Término do reajardinamento e remodelação das avenidas e praças Pe-
dro II, Gal. Tiburcio, Bandeira, Coração de Jesus, Gonçalves Ledo (Car-
mo) e Passeio Público
Reinauguração do Stadium Presidente Vargas onde foram introduzidos
17 —10 51
grandes melhoramentos 21 — 10 —51
Reunião, na sede da municipalidade, de engenheiros cearenses com o
objetivo de debater e estudar o «Plano da Cidade», de autoria do urba-
nista Sabóia Ribeiro 25—10—51
Início de concursos para provimento de cadeiras no Ginásio Municipal
de Fortaleza 29 10 —51
A Municipalidade inicia vasta campanha de incremento à fruticultura
e de combate a saúva no município da Capital 29 10—51
É sancionada a Lei n.° 401, autorizando o Prefeito a contratar com a
Ericsson do Brasil Comércio e Indústria a ampliação do Serviço Tele-
fónico com a instalação de mais 4.300 novos aparelhos. O custo da obra
foi orçado em Cr$ 25.000.000,00 13 11 —51
Viaja, para o Rio de Janeiro, o Prefeito afim de ultimar as operações
relacionadas com a instalação da Uzina Elétrica 15 11 — 51
Foram concluidos entendimentos com a Ericsson para a ampliação da
rede telefónica da Capital 30 11 —51
Regressa a Fortaleza o Prefeito Municipal anunciando, para breve, as-
sinatura dos contratos com a Comp. Brasileira de Material Elétrico
Westinghouse Eletric Internacional Company para a instalação da Uzi-
na de Mucuripe
A Ceará Light concede aumento de vencimentos ao seu funcionalismo
6 12— 51

mediante acordo homologado na Justiça do Trabalho 7 12 —51


A Prefeitura realiza, pela primeira vez, o natal dos filhos dos funcio-
nários 25—12—51
Início do Serviço de Bronco-Esofologia do Hospital do Pronto Socorro,
destinado a retirar corpos estranhos, a cargo do médico Paulo Machado
A Municipalidade inicia a distribuição de sementes com os agriculto-
1 1 —52
res pobres do município 9 i 52
Chega a Fortaleza o Dr. Camilo de Menezes, Diretor do Departamento
Nacional de Obras e Saneamento, afim de estudar, em cooperação com a
Prefeitura a construção de um canal para retificação do curso do riacho
Tauape, em Jardim América 10 1 52
A Municipalidade faz a primeira experiência com a pavimentação a
asfalto na Rua Meton de Alencar 1 52
23
Transcorre o 1.° aniversário da administração Paulo Cabral, observar*
do-se o seguinte programa :

a) — Inauguração do Novo Hospital do Pronto Socorro cuja capacidade


foi aumentada de 34 para 117 O
novo Hospital dispõe de
leitos.
2 salas de operações, sendo considerado omelhor do nordeste.
b) — Inauguração da pavimentação da Avenida 14 de Julho, antiga
Estrada do Gado, com 4 quilómetros de extensão.
FORTALEZA — Secretaria dos Negócios da Fazenda
'ALEZA — Cidade
da Criança

FORTALEZA — Praias

ALEZA — Centro
da cidade
97

DESENVOLVIMENTO BATA

c) —
— Inauguração das obras de ampliação do Matadouro de Parangaba
d) Pavimentação da Vila de Mondubim.
e) — Inauguração do Play-Ground da Praça dos Libertadores, em fren-
te da Igreja N. das Dores — Otávio Bomfim.
S.
f) — Inauguração do Chafariz da Vila de António Bezerra.
- Assinatura do contrato com >a Ericsson do Brasil para a ampliação da


rede telefónica com mais 4.300 aparelhos
Volta a funcionar, em dependência do Hospital de Pronto Socorro, cedi-
10 — 2—52
do pela Municipalidade, o Instituto Pasteur 20— 2—52
• O Prefeito envia Mensagem à Câmara propondo a modificação da co-
brança dos impostos predial e de Indústria e Profissão, afim de facili-
tar o pagamento por parte dos contribuintes; referidos impostos passa-
ram a ser pagos em 4 prestações anuais em vez de 2 como até então
Tomam posse os membros da extinção dos mocambos, criada por lei
. .
21 — 3—52
municipal 28— 3—52
Começa a trabalhar a moto-niveladora «Patrol» adquirida pela Prefei-
tura para o serviço de consertação e construção de estradas no mu-
nicípio 9—52
É autorizada a Ceará Light a receber energia elétrica da Fábrica São
José. Tem início, assim, o plano de emergência traçado pelo Prefeito
com o aproveitamento de sobras oferecidas pelas indústrias locais ....
Segue para o Rio o Prefeito afim de assinar os contratos com o Banco
21— 5—52
do Brasil e companhias financiadoras para a construção da possante
Uzina de Mucuripe 21— 5—52
• É sancionada a Lei que cria o «Diário Oficial do Município» 24 — 5—52
Chegam a bom termo os entendimentos entre o Prefeito e a Fundação
da Casa Popular para a construção de um conjunto de 456 casas no
Bairro doPiei. A Municipalidade, doou o terreno, ficando a seu cargo

a urbanização, pavimentação e energia 2— 6—52


O Senhor Ricardo Jafet assina fiança e aval, como Presidente do Banco
do Brasil, para a aquisição da Uzina de Mucuripe '.
30 — 6—52
Regressa, a Fortaleza, o Prefeito Paulo Cabral de Araújo vitorioso da
grande batalha pela solução do problema de luz e energia 1_ 7—52
Chega a Fortaleza o urbanista Sabóia Ribeiro, convidado pela Pre-
feitura, para debater o «Plano da Cidade», de sua autoria 8— 7—52
Tem início a construção do prédio da Uzina de Mucuripe 30— 7—52
Entram em funcionamento dois caminhões coletores, adquiridos nos
Estados Unidos e que completam a frota de Limpeza Pública 6— 8—52
8— 8—52
Comissão do Plano da Cidade aprova o «Plano Sabóia Ribeiro»
O Diário Oficial publica o Código de Obras, baseado no Plano Sabóia
Ribeiro que, assim, entra definitivamente em vigor 12— 8—52
Inauguração do Grupo Municipal Duque de Caxias e do Curso de Pre-
paração ao Ginásio Municipal, em prédio adaptado para este fim e lo-
calizado nas imediações da Praça Paula Pessoa 23 — 8—52
Inauguração dos melhoramentos realizados, na barragem da Lagoa de
Maraponga (Estrada Parangaba-Mondubim) 23— 8—52
É firmado contrato entre a Municipalidade e a Fábrica Progresso para
fornecimento de energia elétrica —
plano de emergência 10— 9—52
É sancionada a lei que autoriza o Prefeito a adquirir grupos geradores
Diesel para suplementação da produção de energia elétrica, de acordo
com a Mensagem da Municipalidade àquela casa 20— 9—52
Realiza-se a concurrencia para a aquisição de Grupos Diesel, saindo
vencedora a Companhia T. Janér Com. e Indústria 17—10—52
Inauguração dos melhoramentos na Lagoa da Onça, bairro Otávio Bom-
fis, que foi aterrada e teve cinco ruas pavimentadas
19—10—52
Atendendo a uma justa reivindicação dos trabalhadores da Limpeza
Pública, o Prefeito baixa ato considerando extraordinário o trabalho
dos domingos e feriados, autorizando o pagamento de diárias dobradas
nestes dias da semana 25—10—52
É sancionado o Estatuto do Funcionário Municipal com a inserção de
vários benefícios aos servidores da municipalidade 28—10—52
O Prefeito assina Mensagem, a ser enviada a Câmara, propondo au- 28—10—52
mento de vencimentos para os servidores da municipalidade
A Prefeitura concede, pela primeira vez, prémios literários sendo lau-
reados os escritores João Climaco Bezerra, romancista; Artur Benevi-
des e Stenio Lopes e Hermes Carleal 18—11—52
98

DESENVOLVIMENTO DATA

Transcorre o 2.° Aniversario da administração Paulo Cabral de Araújo,


sendo observado o seguinte programa
a) — :

Inauguração de um chafariz público em Altamira;



b) Inauguração dos serviços mecanizados I. B. M. (Hollerith) da Se-
cretaria Municipal de Fazenda;
c) —
Inauguração do edifício construído para a Escola Odorico de Mo-
rais, em cooperação com o M. E. S.;
d) —Inauguração da l. a Lavandaria Pública de Fortaleza, no Açude
João Lopes;
e) —
Inauguração do edifício construído para o Grupo Municipal Prof.

Joaquim Nogueira Vila António Bezerra —
feito em coopera-
ção com o Min. Educação e Saúde;
f) ——
Inauguração do 1.° calçamento construído em António Bezerra
Ligação da Estrada de Ferro com a B. R. 13.
g) —
Inauguração da Praça Professor Serrano Bezerra —Vila Antó-
nio Bezerra;
h) —
Inauguração do Jardim Duque de Caxias, Praça Cristo Redentor
i
|
31— 1—53
T" V V
a) — Inauguração de grandes melhoramentos introduzidos no Mercado
da Praça Paula Pessoa ( Resta urant, bancas de concreto e mármo-

re, pavilhões, galpões e remodelação do velho mercado de ferro);


b) — Inauguração do 1.° trecho asfaltado de Fortaleza, na Avenida
Visconde do Rio Branco com 1 e Vz quilómetros de extensão
c) — Inauguração do prédio construído, em cooperação com o M. E. S.,
para o Grupo Demócrito Rocha, em Messejana
d) — Inauguração de novas instalações da Secção de Garages e Ofici-
nas e do Gabinete Dentário para operários da Limpeza Pública
e) — Inauguração do Aviário Municipal —
Bairro Matadouro Modelo
f — Inauguração do prédio para a Escola Manuel Sátiro, no distrito
)

de Parangaba — Em cooperação com o Ministério de Educação


e Saúde
g) — Inauguração das obras de remodelação geral da Praça Cristo
Redentor

A Prefeitura adquire o seu 1.° trator para a Secção do Fomento Mu-


nicipal 3— 2—53
Início do programa de preparação de campos agrícolas em cooperação
com os particulares
É iniciada a construção da via de acesso ao conjunto residencial do Piei,
através da Av. 25 de Julho 13 — 2—53
A secção do Fomento Municipal inicia a distribuição de dez toneladas
de sementes e de mil enxadas aos agricultores pobres 27 — 2 —53
Fábrica Brasil Oiticica passa a fornecer 550 Kwast de energia à Ceará
Light para o consumo da cidade
Fica concluída a reforma geral e o reajardinamento da Praça Nossa
Senhora das Dores
A Prefeitura envia Mensagem à Câmara instituindo dois prémios para
os melhores quadros (Divisões clássica e moderna) do Salão de Abril,
da Soe. Cearense de Artes Plásticas
a) — Inauguração do 1.° Posto de Salvamento para banhistas, em frente
do Comercial Club e do 2.°, em frente ao Náutico;
b) — Inauguração do prédio construído para a Escola Casemiro Mon-

tenegro, em Itapirí Distrito de Parangaba;
c) — Inauguração do Chafariz do Campo do Pio —
Bairro S. Gerardo;
d) — Inauguração do Chafariz da Vila Mons. Tabosa;
e) — Inauguração da pavimentação da Vila Fernandes;
fj — Inauguração da nova iluminação (fluorescente) da Praça do Fer-
reira, centro da cidade;
g) — Inauguração da Praça Fernandes Vieira, com novo jardim e com-
pletamente reformada 13— 4—53
Ficam prontos os quatro primeiros quarteirões asfaltados da Rua Costa
Barros 27— 4—53
Entregga de prémios concedidos pela Municipalidade ao Salão de Abril —
7- 5^-53
A Municipalidade constrói mais dois pavilhões no Mercado da Praça
Paula Pessoa 21 — 5 —53
A Prefeitura adquire o «Zoo» particular de Parangabussú afim de trans-

99

DESENVOLVIMENTO DATA

- É
feri-lo para os Jardins da Cidade da Criança
sancionada a Lei que autoriza a Prefeitura a contratar um seguro de
26— 5—53
vida, em grupo, para os seus servidores 26— 5—53
- A Municipalidade baixa decreto transferindo para si o controle dos
transportes coletivos da Capital 29— 5—53
- A Prefeitura torna público, através de uma nota, quais os feriados que
devem ser observados oficialmente 4— 6 —53
- Inauguração da pavimentação do Bairro Carlito Pamplona com 2 qui-
lómetros de extensão 13— 6—53
- Inauguração do Café Popular do Mercado da Praça São Sebastião com
dezoito divisões de alvenaria e marmorite 13_ 6—53
- A Municipalidade abre as inscrições para concurso literário, visando
premiar os melhores trabalhos de escritores cearenses sobre a vida e a
obra de Capistrano de Abreu 18— 6—53
- Chega a Fortaleza, para inspecionar as obras da Uzina de Mucuripe, o
Eng. Mauro Ferraz Pereira 4— 7—53
- A Municipalidade inicia a construção da via de acesso a Uzina de Mu-
curipe, com 35 metros de largura 5— 7—53
- A Prefeitura inicia o reimplacamento dos logradouros e vias públicas,
tendo adquirido para este fim seis mil placas 16— 7—53
- Inicio do asfaltamento da Rua Guilherme Rocha 20— 7—53
a) — Inauguração da Capela do Grupo Duque de Caxias;
b) — Inauguração do restaurante Saps, para os operários da Pre-
tipo
na sede da Limpesa Pública;
feitura,
c) — Inauguração da pavimentação da Esquadrão — Cachoeirinha;
Estr.
d) — Inauguração da Praça da Penha — Bairro José Bonifácio
J. ....
e) — Reinauguração da Praça Presidente Roosevelt — Bairro Jardim
América.

-A Municipalidade envia Mensagem à Câmara dispondo sobre a regula-


rização dos transportes coletivos de Fortaleza 28— 9—53
Chega a Fortaleza ai.' remessa de material, vinda dos Estados Unidos,
9— 53
-
destinado à Uzina de Mucuripe 28—
- Chegam a Fortaleza, procedentes da Suécia, 4.300 novos aparelhos tele-
fónicos, bem como as novas centrais 1—10—53
- Inauguração das 456 casas construídas pela Fundação da Casa Popular
em cooperação com a Prefeitura 20—10—53
- A Municipalidade faz a entrega do prémio Capistrano de Abreu, por
si instituido, ao escritor Pedro Gomes de Matos que escreveu a biogra-
fia do ilustre historiador 23—10—53
- Inauguração da Herma de Capistrano de Abreu mandada erigir pela
Municipalidade na Praça que tem o seu nome 23—10—53
- O Prefeito modifica as normas de concurrência para a venda de lenha
à Ceará Light, possibilitando aos pequenos fornecedores apresentarem
propostas para qualquer quantidade 29—10—53
- A Fábrica São José aumenta a sua cota de fornecimento de energia elé-
trica para 1.200 Kws 2—11—53
- Inauguração da Uzina Auxiliar do Meireles, completando o plano de
emergência e livrando a cidade do racionamento de energia elétrica . . 5—11—53

CAMARÁ MUNICIPAL DE FORTALEZA


COMO FUNCIONA O LEGISLATIVO DE NOSSA CAPITAL
725 requerimentos, 260 leis municipais em 1952 — 356 requerimentos
'

e 155 projetos em 1953 —


As atividades da Câmara Municipal de
Vereadores — Francisco Cordeiro na Presidência e Paula Holanda
_——
,— ,— ,— ——
,— na Secretaria —»— ——— ———
Efetivamente a Câmara Municipal de acertar, que lutam e sentem os problemas de
Fortaleza muito tem feito nesta legislatura seus munícipes, a Câmara Municipal de For-
em benefício do nosso município e de nossa taleza, merece hoje, o respeito e a considera-
gente. ção dos que habitam a «loira desposada do
Constituída de homens que procuram sol». Não queremos dizer que seja a atual
100

Câmara composta de doutos ou intelectuais de requerimentos, tratando dos mais variados as-
renome. No entretanto a bôa vontade, o amor suntos e cerca de 155 projetos-leis, contendo
à cousa publica, o interesse em resolver os neles as aspirações da população.
múltiplos problemas da coletividade tem-na Os problemas de cada bairro, de cada
colocado em lugar de destaque perante a po- rua, são diariamente levados ao conhecimento
pulação. do Plenário. Telefones Públicos, Escolas, As-
AS BANCADAS sistência aos necessitados são acolhidos com
carinho.
A Câmara Municipal de Fortaleza é cons-
tituída de 21 vereadores, representantes de A MESA DIRETORA
diversos partidos políticos. A União Demo-
crática Nacional é ali representada pelos se- Ponto alto da conduta exemplar da Câ-
guintes vereadores: —
José Caminha de Alen- mara Municipal, constituída do vereador
carcar Araripe, Francisco de Paula Holanda, Francisco Cordeiro de Sousa e Francisco de
António Mendes, Luciano Magalhães, José Paula Holanda (Secretário). Eleito por uma
Martins Secundiano Guimarães, Maria Eulá- coligação de partidos, o sr. Francisco Cordei-
lia Rola, José Barros de Alencar. O Partido ro tem conduzido com aprumo, honestidade e
Social Democrático tem nas pessoas dos sis. justiça, fazendo do Poder Legislativo da Ci-
João César, António José Azim e Raimundo dade não uma fonte de proveito, seu ou de
Ximenes os seus representantes. Pelo Partido grupinhos, mas sim uma força de cooperação
Trabalhista Brasileiro elegeram-se os srs. ao Executivo do Município, acertando e su-
Francisco Edward Pires, Francisco Cordeiro gerindo ao mesmo tempo as medidas a serem
de Sousa, Raimundo Oséas Aguiar Aragão, tomadas em benefício da população. Na ges-
Gutemberg Braun, João Alves Albuquerque, tão Francisco Cordeiro várias e importantes
Enoch Furtado Leite e Pedro de Oliveira. O providências estão sendo tomadas no sentido
Partido Social Progressista tem sua represen- de manter o bom nome da Casa perante a po-
tação entregue aos srs. Valdemar Rodrigues pulação, bem como na organização da Casa
de Oliveira, Sebastião Franco Baima e Rai- dos legisladores, municipais que, diga-se de
mundo Gomes Tavares. As lideranças das ban- passagem, estão pessimamente instalados.
cadas estão a cargo, dos vereadores Alencar Agora mesmo vem o sr. Francisco Cordeiro
Araripe (UDN), João César (PSD), Edward de proceder uma completa reforma no casa-
Pires (PTB), e Sebastião Baima (PSP). rão em que funciona a Câmara Municipal, vi-
Um clima de respeito mutuo e normas sando, antes de tudo, melhor acomodação para
democráticas norteiam os trabalhos do Legis- os que ali servem aos interesses da população.
lativo do Município. Lá se trabalha muito. Também a Secretaria da Câmara Muni-
O interesse coletivo está acima de tudo. Para cipal, entregue aos cuidados do jornalista An-
citar como exemplo frizante do que afirma- tónio de Pádua Campos tem agora novo as-
mos, basta dizer que no decorrer da legisla- pecto. As proposições apresentadas, graças à
tura passada cerca de 725 requerimentos fo- orientação que vem imprimindo Pádua Cam-
ramapresentados, todos eles de apelos e su- pos àquele setor e também a dedicação do efi-
gestões não só ao Governo do Município, como ciente quadro de funcionários da Câmara, têm
também aos Executivos Estadual e Federal, andamento rápido e as informações solicita-
aos Ministros de Estado, aos Secretários Esta- das pelo público são dadas em espaço de tem-
duais e Municipais, aos Diretores de Serviço po que impressiona.
Público pleiteando melhoria para a vida do Felizmente podemos dizer que no velho
nosso povo e de nossa gente. Na mesma le- casarão da Barão do Rio Branco, vinte e um
gislatura cerca de 260 projetos leis foram homens trabalham, modestamente e sem pu-
apresentados, todos eles de suma importância blicidade, pelo bem da coletividade fortale-
para a vida do município. Já este ano, a Se- zense e pela melhoria sempre crescente de
cretaria da Câmara Municipal recebeu 356 nossa bela Capital.

Tiago Ao Ferreira da Silva


CAPITAL Cr$ 1.000.000,00
AGENTE DE : Moinho da Luz, do Rio de Janeiro, produtor da farinha de trigo
«Três Coroas», a melhor que se procliz no Brasil.
E DE : Cia. Cervejaria Bohemia —
de Petrópolis —
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agua soda e agua tónica.
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Telefone: 18-40

FILIAL: PADARIA PALMEIRA — Panificação, Confeitaria, Biscoitos, Bolachas


Massas alimentícias
RUA S. POMPEU, 883 — Ed. próprio — Telegr.: «Palmeira» — Fone: 15-68
101

FRADE
PÁTRIA DE SAMUEL FELIPE DE SOUZA UCHÔA
DEMORA EM RICA REGIÃO, MAS É MUNICÍPIO POBRE
— O FAZENDEIRO DEIXOU O PASTOREIO E TOMOU A
BATINA DE FRADE — A BANDEffiA DO FAMOSO MA-
TIAS CARDOSO — LUTA DOS MONTES E FEITOSAS —
O PRIMEDXO VIGÁRIO E A CAPELA ERIGIDA POR
ANTÓNIO OLIVEIRA — FILHOS DLUSTRES — EM
NOSSOS DIAS

FRADE é um Hns municírjios antigos do dia vem. o Decreto n. 1540, de 3 rfe rn^io de
Ceará, pois data de 1865. É, no entretsnto. rouco 1935, sendo foverno o Coronel Felipe Morei-
desenvolvido. Tem uma área de 2. 538 kms.2 ra Lima. é-Ti Q novamente resti+uida a sua
o oue vem a ser nada menos de 1,69 em re- soberania política, conservada até os nossos
lação à superficie total do Ceará. dias.
As suas terras excelentes, prestando, so- A
vila foi elevada à categoria de cidade
bretudo, para a agricultura e a criação de pelo decreto 448, de 20 de dezembro de 1938,
gado em larga escala. Desde os tempos remo- com a denominação de Frade.
tos o seu povo é dedicado à gleba, sendo mui-
to conservador. Não possuía ligação diréta TRADIÇÕES HISTÓRICAS
com a capital, ligando-se a estrada B. R. 13
na cidade de Jaguaribe que lhe fica a pou- Na história do Frade, há cenas e episó-
cos auilômetros de distância. dios interesantes, principalmente no que se
Tem uma população superior a 20.000 relaciona com os nomes que lhe serviram de
habitantes e, afora a cidade, possui as vilas batismo, isto é, Riacho do Sangue e Frade.
de Jaguaribara e Poço Comprido, sedes dis- Há, todavia, divergência entre os nos-
tritais. sos cronistas no relatar a história deste mu-
Está situado em pleno sertão, recebe os nicípio. No entretanto tudo o que está regis-
beneficios prodigalizados pelos rios Jaguaribe trado, passou-se efetivamente, valendo ser re-
e Banabuiú. Contam-se, às centenas, as ribei- cordado.
ras fertilizadas pelas aguas de inúmeros Vários nomes de lugares no Ceará origi-
riachos. naram-se das lutas entre os Montes e os Fei-
O seu povo, em* geral, é pobre, não lhe tosas, potentados na quadra colonial. Como
seduzindo a vida agitada dos grandes negó- a civilização ia se estabelecendo à margem
cios e do alto comércio. É gente ordeira e dos rios e riachos, as lutas antigas também
acolhedora, mas ligada, por traços visíveis, se registravam nas áreas adjacentes a estes
às mais antigas tradições regionais. cursos dagua.
Pendência, Arraial, Batalha, Tropas, Em-
CRONOLOGIA boscadas, Defuntos, são nomes que surgiram
de embates entre os nossos primeiros povoa-
O município foi criado aos 29 de agosto dores, como acentua João Brigido no seu
de 1865 com sede na povoação Riacho do San- «Ceará, homens e fatos».
gue, elevada à vila com a denominação de Assim é que a denominação de Riacho
Riachuelo, em homenagem à grande batalha do Sangue é atribuída a um destes encontros
da guerra contra o Paraguay. havidos entre Montes e Feitosas, nas proxi-
Nesta época abrangia uma área enorme, midades do local onde hoie se ergue a cidade
posto que o atual município de Jaguaribe tinha de Frade que já teve aquele mesmo nome.
a sua sede nesta vila.
Extinto em 1873, é novamente restaurado
em 1879. De novo extinto em 1894, tem res-
tauração pela segunda vez em 1926. A lei
n. 193, de .20 de maio de 1931 tornou a Outros, porém, entre estes, António Be-
suprimi-lo ! zerra de Menezes, afirma que o nome de Ria-
O seu povo, como era natural, .ião mais cho do Sangue adveio de um encontro tre-
conformou-se com a injustiça tremenda de mendo entre tapuias e a bandeira aguerrida
que estava sendo vítima o antigo município, do famoso Matias Cardoso. Nesta batalha cor-
criado na quadra de 1865 e movimentou- se rera o sangue pelo rio afora. Daí a deno-
. .

de corpo e alma em campanha elogiável con- minação.


tra o ato infamante de sua supressão. Dia vai, Esta, aliás, é a versão mais aceita, de vez
102

que, efetivamente, os paulistas vadearam rios e rer,na Vila de Poço Comprido, cujos festejos
riachos daquela região jaguaribana. são tradicionais e animados.

O FAZENDEIRO QUE FOI SER FRADE FILHOS ILUSTRES


É ainda António Bezerra quem nos conta Frade é terra' de gente ilustre. Dentre
acerca do topónimo de Frade, hoje denomi- outros, ressaltamos, em primeiro plano ter
nação oficial do município e da cidade. nascido neste município um dos homens mais
Em tempos recuados vivia no antigo Ria- dignos que o Ceará já possuiu, Dr. Samuel Fe-
cho do Sangue rico fazendeiro, homem de lipe de Souza Uchôa. Homem de caráter re-
bem, acatado, gozando de largo conceito e conhecido e proclamado, ocupou vários cargos
prestígio em toda a redondeza. E os seus do- públicos no Estado do Pará, tendo sido juiz
mínios se extendiam nas ribeiras do riacho aqui no Ceará, Era uma grande alma e uma
das Pedras, e foram conseguidos por datas e grande cultura.
sesmarias a si concedidas. Vem, em seguida: Dr. Adolfo Bezerra de
Por isto ou por aquilo, o Capitão Cristo- Menezes, médico e grande vulto do espiritis-
vam Soares de Carvalho —
este o nome do mo. Foi político ativo e deputado; Dr. Teó-
nosso herói — resolve abandonar a vida do filo Bezerra de Menezes, jornalista e profes-
campo, do pastoreio, e internar-se num con- sor; João da Costa Pinheiro, engenheiro; Ale-
vento para receber o hábito de frade. O que xandrino Diógenes, homem de grande caráter,
fez sem mais demoras. . . antigo tabelião em Fortaleza, onde era esti-
Os habitantes da região, quando alguém madíssimo; Dr. Raimundo Brasil Pinheiro de
se dirigia para o antigo sítio do Capitão Cris- Melo, antigo Secretário de Governo e atual
tovam, diziam: «Vai lá para o sítio do frade». Ministro do Tribunal de Contas; Raimundo da
«Vai pro Frade». Silva Peixoto, jornalista e deputado; Major
Dia vai, dia vem, com o correr dos anos, Pantaleão Pinheiro; Francisco de Assis Be-
a região ficou conhecida por Frade, nome zerra de Menezes, antigo deputado e Procura-
hoje do município. dor do Reino e muitos outros ilustres reben-
Não há dúvida que é mais interessante tos elevaram, bem alto, o nome da terra em
do que Riacho do Sangue. que nasceram.
FREGUESIA DE N. S. DA CONCEIÇÃO EM NOSSOS DIAS
De acordo com os dados colhidos em Há, atualmente, visíveis indícios de pro-
«Notas para a História do Ceará», do Barão gresso na cidade de Frade. Administra o mu-
de Studart, verifica-se que a freguesia de Nos- nicípio o prefeito Hélio Peixoto, rapaz esti-
sa Senhora da Conceição do Frade, foi criada mado e criterioso. Recentemente inaugurou
aos 6 de abril de 1784 e compreendia uma uma linda Praça, no centro da cidade. Alguns
vasta área territorial. melhoramentos foram levados a bom termo
A atual Matriz é um templo vasto, com nas vilas. Sucedeu a Carlos Peixoto, também
torreame elevado, localizada no centro da bom gestor dos negócios municipais e homem
cidade e com imagens antigas. Foi o primeiro estimadíssimo em todo o Frade.
vigário o Padre Francisco da Fonseca Jaime, Um dos seus mais sérios problemas é a
sendo, o atual, o Padre Luís Gonzaga Xavier. construção de uma rodovia que encurte o ca-
Constriu a capela, hoje transformada, o minho para Fortaleza. Esta ligação já está em
rico fazendeiro António de Oliveira e Silva vias de ser levada a bom termo, por isso que já
e sua mulher Eugenia Maria Maciel. se encontra no vizinho município de Solono-
Registrem-se, ainda, as capelanias de São pole, vinda já de Senador Pompeu. Termi-
Gonçalo (Vila Santa); Nossa Senhora do Per- nada esta estrada, certamente será considera-
petuo Socorro (Torreões) e São Vicente Fer- velmente acelerado o progresso de Frade.

FIAÇÃO E TECELAGEM SANTA


MARIA, LIMITADA
End. Teleg.: «SANTA MARIA» — FONE: 10-03

Fabricantes de Fio, Redes e dos afamados


BRINS: Japy, Danúbio e Brigadeiro
MESCLAS: Santa Maria e Ibiapaba
LONA: Serrana
TELfl "Salineiro" e ALGODÃO "Jacaré" Superior
Fábrica, Escritório e Depósito —
AVENIDA DUQUE DE CAXIAS, 345
Caixa Postal, 429 —
Fortaleza —
Ceará — Brasil
103

GRANJA
ANTIGA MACAVOQUEIRA
SESMARIAS E COLONIZADORES — O DEDO DO MAR-
QUÊS DE POMBAL — A PESTE DE 1791 — A PONTE
DE FILADÉLFIA — O MONARQUISTA JOSÉ ELEUTÉRIO
— A PEDRA DO TESOURO — MATRIZ DE SÃO JOSÉ —
A VISITA DO CONDE DEU — IMPRENSA E FILHOS
ILUSTRES — A GRANJA DOS NOSSOS DIAS

A VERDADE é que faltavam menos de Como acontecia ao restante do territó-


cem dias para o fim do segundo reinado, quan- rio colonial, a área onde hoje se conroreen-
do o Ceará se engalanou para receber a visita dem o municíoio de Grania e adiacências,
de Sua Alteza, o Príncipe Conde D'Eu, primo- era habitada pelos indios Tabajaras, Tapuios e
génito do Duaue de Nemours e neto de Luís Coansues.
Felipe, Rei de França. Em 1702, Miguel Machado Freire e Do-
De passagem por Fortaleza, aos 2 de ju- mingos Machado Freire recebiam, datada de
n*io de 1RS9, o real consorte de Dona Isabel, 3 de agosto, em Recife, uma doação de cinco
filha de Pedro II, seguiu viagem até o extremo léguas de terra, na margem oriental do Co-
norte, regressando logo mais e visitando, nes- reaú, rio que banha a cidade.
ta oportunidade, algumas cidades do interior, Posteriormente, o Padre Ascenço Gago,
inclusive Granja, posto que desembarcara D. Jacob de Sousa Castro, capitão Rodrigues
em Camocim. da Costa, Joaquim de Abreu Valadares e ou-
As festas de recepção ao ilustre visitan- tros se estabeleceram nas cercanias de uma
te, de ruidosas, se constituíram numa auten- missão jesuítica e formaram dois povoaJos:
tica ron^agra^So ao Gastão de Orleans. um que domorava â margem da Ribeira do
Toda a cidade embandeirada, com pova- Coreaú e o outro que se chamou Povoado da
réu à rua, vibrou ao saber da frenética exalta- Missão.
ção âs qualidades realmente dignas e ex- Finda a Missão, a totalidade dos habitan-
cepcionais do Conde D'Eu e sua ilustre co- tes do novel lugarejo tratou de se acomodar
mitiva. no outro ajuntamento, dominado por portu-
Na Câmara Municipal, edifício assobra- gueses e que, com o tempo, passou a chamar-
dado, de sólida e antiga construção, os feste- se Santa Cruz do Coreaú e, posteriormente,
jos atingiram a sua plenitude, o seu ponto Macavoqueira. Estava iniciada a futura e
culminante, por isso que, do programa ela- prospera cidade de Granja. Firme o centro
borado, era o ponto central para onde conver- colonizador- dados os primeiros passos para
geria todo o povo, sem distinção de credo re- o desenvolvimento do comércio que supriria
ligioso e político. uma vasta zona de penetração, os anos afora
Efetivamente à hora aprazada, lá estavam se encarregariam do resto.
milhares de granjenses, ufanos e orgulhosos
por terem em sua terra hóspede tão fidalgo. TERRÍVEL MORTANDADE
Usou da palavra, nesta ocasião, o coronel
Luís Felipe que falou em nome da cidade. Com a demissão de Montaury, a Metró-
Em seguida, foi lavrada uma ata hoje rara pole portuguesa nomeia para dirigir a Capi-
preciosidade, e da qual constam várias assina- tania do Ceará, o fidalgo da Casa Real Luís
turas, inclusive a do Conde D'Eu e de Luís da Mota Féo e Torres, professo da Ordem de
Felipe de Oliveira, pai do atual Senador Ola- Cristo e que realizou em nossa terra, àquela
vo Oliveira, então Secretario da Câmara e que remotíssima época, um excelente governo.
seria, em tempo remoto, grande chefe político Foi no seu tempo que grassou terrível epi-
no Estado, no regime republicano. demia de febre em quase toda a vasta capita-
Da meia dúzia de cidades visitadas pelo nia, notadamente na zona norte, inclusive
Conde D'Eu, Granja foi, assim, uma delas, fato Granja.
que a inscreveu nas páginas biográficas do O Barão de Studart, na sua História do
famoso Comandante em Chefe das tropas bra- Ceará, citando o dr. Paula Pessoa, diz que esta
sileiras em operações no Paraguay. tormentosa peste veio das bandas do Piauí
e se alastrou durante mais de quatro anos,
SESMARIAS E COLONIZADORES produzindo as mais lamentáveis consequên-
O povoamento de Granja é um dos mais cias, fazendo vítimas que se contavam aos
antigos que se procedeu na então Capitania milhares.
do Ceará Grande. Tomando conhecimento do fato, Féo e
. . .

104

Torres, de logo, solicitou assistência por par- JOSÉ ELEUTÉRIO DA SILVA


te do governo de Pernambuco, que enviou,
incontinenti, o dr. João Lopes Cardoso Ma- Hoje, já vão rareando tipos singulares
chado, como chefe de uma missão médica. como este professor aposentado, monarquista
Aportando no Acaraú aos 14 de outubro lealdoso e exaltado, que em vida se chamou
de 1971, entraram em ação imediatamente. José Eleutério, tão bem retratado por Antó-
Lutando contra toda sorte de tremendas di- nio Bezerra de Menezes.
ficuldades, deu-se inicio ao tratamento do Foi, não há como negá-lo, um dos ho-
povo que gemia â falta de uma botica e de mens respeitáveis de Granja. Já pela sua
qualquer presença de remédio, por mais ru- conhecida e proclamada honestidade, já pela
dimentar. generosidade ilimitada do seu coração bonís-
Foi uma luta terrível. Mobilizou -se meio simo, Eleutério tinha verdadeira religião pela
mundo. Sobral, Acaraú, Viçosa e adjacências pessoa do Imperador Pedro II.
assistiam à morte de dezenas de pessoas dia- Quem o visse, falante e cheio de bom
riamente. Medicina de dois séculos atrás apli- humor, tinha-lhe como abastado, quando em
cava vomitórios, cozimentos e febrífugos. . . verdade, era pobretão, a viver de parcas
Mas, mesmo assim, a epidemia foi vencida rendas.
com o tempo ou com o precarissimo receituá- Trajando sobrecasaca preta, com chapéu
rio da época. . alto à cabeça, já curvado pela idade, gravata
E, lá se veio a conta para o Féo e Torres tomando todo o pescoço, lá se ia, rua afora,
pagar. . Importava tudo na soma de três
.
todas as tardes, o conhecido e estimado pro-
mil, quatrocentos e vinte e seis cruzeiros e fessor. Não havia quem não lhe respeitasse,
setenta centavos. Compreendia pagamento
. .
posto que era senhor de algumas letras, en-
à Comissão Especial, inclusive o médico che- fronhado em antigas histórias e lendas do
fe, ajudantes e medicamentos aplicados Tam- !
município. Fazia até gosto ouvi-lo nas lon-
bém, só o barco que transportou a botica para gas preleções acerca das velharias e coisas
a barra do Acaraú, venceu oitenta cruzeiros do passado. . . ,

pelo frete. . .
O que mais o singularizava, porém, era o
seu acendrado amor â Pátria e ao chefe da
PONTE FAMOSA, A DE GRANJA Nação.
* Basta ressaltar que, aos 2 de dezembro,
No dia 15 de janeiro de 1881, inaugurava- data do aniversário natalício do Imperador,
se a estação ferrocarril da cidade de Granja. Mestre Eleutério ornava flores e o retrato
Anciosamente esperado, o dia em que apitou de Sua Majestade e, ao som de marcha festi-
o primeiro trem, que alcançava a terra do va, iniciava um longo discurso que terminava
Padre Carneiro da Cunha, foi de tremendo sob o foguetório que espoucava no art ! . .

bulício em toda a redondeza.


LENDAS E TRADIÇÕES
Omais notável, porém, aquilo que cons-
tituiu comentário obrigatório nas rodas da
Não há povo que não possua as suas len-
cidade, principalmente entre os mais enten-
das e tradições. De Granja, podemos citar
didos era a construção da ponte sobre o rio algumas.
Coreaú. Parasinho, uma sede de distrito. A sua
Efetivamente, àquela época ainda não se origem, deve-se ao seguinte fato: em 1700,
tinha inaugurado a ponte de Senador Pompeu um navio à vela se dirigia, pesado de merca-
e nem mesmo a de Quixeramobim, a maior dorias, para Pernambuco. De repente, caiu
do Estado. violento temporal em alto mar. Os seus tri-
António Bezerra de Menezes que escreveu pulantes, aterrorizados, valeram-se de Nossa
as suas «Notas de Viagem à Zona Norte», não Senhora do Livramento, fazendo o voto de
lhe poupa os maiores elogios. Diante do co- que, se fossem salvos, erigiriam uma capela
losso de ferro, o notável historiador ficou efe- à Santa milagrosa. De fato, três conseguiram
tivamente impressionado, passando a des- escapar ao terrível naufrágio e logo edifica-
crevê-lo - ram a capela de Parasinho, hoje famosa pelos
milagres.
«É trabalho americano, saído das oficinas Outra lenda é a da pedra do tesouro. De-
da «Phefixiville Bridge Works», perto de Fi- nominada Pedra Redonda, o colosso granítico
ladélfia. encontra-se a uns quilómetros da Vila de Ria-
Ovão sobre o rio é de 112 m. formado chão. Possui inúmeras inscrições antiquís-
por dois de 56 m. cada um, tendo no meio um simas, seculares, por isso mesmo indecifráveis
pilar de dois metros de grossura. e que muito têm dado o que falar. Vai daí
acreditar-se haver, no interior da pedra, um
Seu volume total é de 150 m., pesando
405 toneladas. Custou, nos Estados Unidos,
fabuloso tesouro, pois está assinalado Mais . . .

quarenta e seis contos. É, incontestavelmen- de uma dezena de escavações já foram feitas


à procura da riqueza imensa ali avaramente
te, a mais linda sinão a mais gigantesca do
império brasileiro». escondida pelos antepassados. . .

Pertinho da cidade de Granja, existe


De fato, àquele tempo, a ponte de Granja uma outra pedra que a lenda tomou conta.
era realmente famosa, sendo assim motivo de Em 1808, o povo, em algazarra, mata uma
comentário obrigatório para quem lhe admi- enorme onça que nela se refugiava e a todos
rava o magnifico porte. O preço de custo é ameaçava, ao cair da noite . . .

que nos deixa admirado. .


Na mesma pedra, em seu cimo, à tardi-
CAFCAIA — Torre da matri
c famosa casa dos Correias

- fípíí-Vjvi.íi.v.-.-^^w;'.'. J

CEDRO — ^greja-Marriz

>

CANINDÉ - Basílica de, S. Francisco e Igreja do Sagrado Coração


CEDRO - Primeira
casa de Cedro; aspec-
to da praça principal

CEDRO — Vista parcial da cidade


.
-.-:

I
. /

105

nha, havia um costumeiro


jogo de cartas. Cer- Ainda moço, foi elogiado pelo Impera-
ta feita, um dos parceiros
é assassinado cruel- dor quando, à frente de um grupo de valen-
mente. A
sua alma vinha à calada da noite tes, fez fracassar a tentativa de Fidié contra
pedir vingança. Anos mais tarde, o assas- o Ceará.
sino é justiçado com uma morte semelhante, Já senhor de grande projeção na vida
já nos arredores do Camocim. Por muitos
. . política da então Provincia, Pessoa Anta não
anos, o povo se dirigia à pedra do sacrifício ficou impassível ante o brado de revolta do
na busca de milagres e a rezar pela alma valoroso Tristão Gonçalves, posto que, reben-
do infeliz. tando o movimento armado pró República do
Lendas da terra do hospitaleiro Joaquim Equador, de logo, o bravo granjense se filiou
Rocha . . às suas hostes.
Com a tragédia de Santa Rosa, deu-se por
A MATRIZ DE S. JOSÉ terminado, no Ceará, o glorioso movimento,
pelo que passa Pessoa Anta a sofrer terrível
Afora a Casa da Câmara, sólida constru- perseguição.
ção da época provincial, alguns sobrados anti- Fugindo à sanha dos inimigos, refugia-se
gos e prédios modernos, a Igreja Matriz é o nas brenhas de ignoto sertão. Já cansado,
mais importante monumento da cidade. avista um seu antigo escravo, pedindo-lhe
Em 1757, foi criada a freguesia da Ri- conseguisse alimento, pois há vários dias pas-
beira do Coreaú, com sede em Macavoqueira. sava fome. O perverso escravo, então, veio
Não se prestando ainda para sede da Paro- â Granja e indicou o esconderijo do antigo se-
quia, esta foi provisoriamente instalada na nhor. O local ficou denominado de «Riacho
Capela de Santo António de Pádua do Olho da Traição» e dista duas léguas da cidade.
D' Agua. hoje freguesia de Coreaú. Processo vai, processo vem, a celebre Co-
Aos 8 de setembro de 1759^ segundo Vi- missão Militar condena à morte Pessoa Anta,
cente Martins, foi inaugurada a Matriz defi- .
cuja execução deu-se na manhã do dia 30 de
nitiva, sob o orago de São José; abríí de 1825, na Praça dos Mártires, hoje
Progredindo a cidade e ríâ awR|unidade :
I Passeio Público.
da tremenda seca de 1877, alguns* de F*L~ Deixou dois documentos impressionantes,
maior expressão resolveram fazer uma; -re* posto que escrito sob o peso da desdita, na
má de base na antiga Igreja, com dxjisi oí& hora derradeira da vida, quando não mais
vos: dar trabalho aos flagelados »e fa«mésmo lhe restava a menor esperança de perdão im-
tempo melhorar o edificio de São j£sé. perial: uma carta dirigida aos patrícios e ami-
Foi o Presidente da Provincia, Dp^mbar- gos e o testamento para a família.
gador Caetano Estelita Pessoa ^-^^alcanti Na carta, há esta expressão singular: —
quem nomeou a comissão destinadW a dirigir «Peço a todos que não se magoem por minha
não só os serviços da Matriz, comede outras morte por não ser ela motivada por crime que
obras públicas, tais como a construção da Câ- mereça a execração pública e sim por opinião
mara, do Mercado e do Cemitério. que segui e se tiverem notícia que no Cada-
Efetivamente, foram feitas, algumas re- falso mostrei alguma fraqueza não deve ser
formas, inclusive o levantamento.de torres. No reparada porque o homem não pode resistir
interior do templo pouco se tinh ^a fazer, neste aos efeitos da natureza».
posto que, sendo obra dos jesuitás, possuía vi- Tombando heroicamente em defesa dos
síveis sinais de fino gosto artistico. princípios que defendera, Pessoa Anta, tornou-
Em 1793, a Irmandade do Bom Jesus dos se credor da admiração e do apreço de todo o
Navegantes, mandou António Gonçalves dos Ceará e do Brasil.
Santos contratar no Recife um exímio pintor
que vejo exclusivamente decorar o interior da IMPRENSA E FILHOS ILUSTRES
histórica Matriz.
Em nossos dias, o templo de São José Granja teve os seus dias áureos. Para
está passando por uma grande reforma, gra- "
isto concorreu uma elite de homens inteligen-
ças a ação dinâmica do atual vigário, Padre tes que lhe dirigiam os destinos. O seu co-
Manuel Vitorino de Oliveira. mércio possuía notáveis tradições, dentre as
quais a de que as suas firmas nunca faliam.
PESSOA ANTA. HERÓI DE GRANJA Abrigou em seu seio portugueses distintos,
ressaltando-se a figura de António Gouveia
João de Andrade Pessoa Anta, figura com da Silva, probo e criterioso, fidalgo e acolhe-
merecido relevo nas páginas da história do dor, homem de negócios que deixou família
Ceará. Tanto assim que, em Fortaleza, o distinta, da qual fazem parte António e Gui-
povo reverenciou a sua memória, dando o lherme Gouveia, irmãos, chefes políticos em
seu nome glorioso a uma das suas princi- Granja.
pais ruas. Em 1882, circulou o jornal «O Granjen-
Nascido em Granja, aos 23 de dezembro se», fundado por António Augusto de Vas-
de 1787, filho de pais ricos, teve alguma concelos. «O Ensaio», «O Iracema», <0 Batel»,
educação em criança e, logo feito noniem, es- «O Idealista», dirigido por Manuel Gouveia
colheu o comércio e a agricultura como pro- e Carlos Gouveia; «A Luz», dirigido por Luís
fissão. Felipe e Lívio Barreto; «O Coreaú», dirigido
Desempenhou vários cargos, entre os por Manuel Ubatuba de Miranda e Batista
quais o de sargento-mór de ordenanças, capi- Fontenele, marcou época. E, assim, a inteli-
tão-mór da Vila de Granja e Coronel de gência, o primado das letras brilhou no pri-
milícias. meiro quartel deste século vinte, em Granja.
106

As
letras e artes, no principio deste sé- Escolar, Posto de Puericultura, já se lhe nota
culo, alcançaram notável florescimento em algum progresso. O
seu Prefeito atual é o
Granja, posto que o saudoso maestro Ciro dr. António Monteiro Carneiro da Cunha,
Cearlini, a todos incenitvava com o seu ta- homem digno, honrado e que vem prestando
lento admirável. ao município relevantes serviços, dentro do
Não havia residência distinta que não que lhe permite a parca renda da municipa-
contasse com o seu piano e a Filarmónica lidade.
Granjense não tinha rival em todo o nor- Contando com dois deputados estaduais,
deste. António Carvalho Rocha e Guilherme Gou-
Que o digam as crónicas magnificas do veia e com um Senador, que é o Dr. Olavo
João da Granja, pseudónimo do escritor Uba- Oliveira, chefe do partido pessepista, é de
tuba de Miranda. crêr-se que os seus problemas mais urgentes
Na política de então, Luís Felipe de Oli- sejam equacionados e plenamente resolvidos,
veira agitava todo o município com a sua pa- pois assim o deseja o povo já ansioso pela ação
lavra fácil e o prestigio que formava a sua dos seus filhos guindados a altas posições po-
marcante personalidade. liticai.
Não traindo as suas gloriosas
tradições, Já não estamos mais naquela época re-
Granja soube sempre honrar o passado bri- mota em que o Marquês de Pombal, por des-
lhante que lhe outorgaram os seus ilustres fi- peito e orgulho, banindo a ação benfazeja dos
lhos, dentre os quais vale salientar: Artur jesuítas, dava vários nomes portueguêses a
Teófilo, Custódio Moreira da Costa, Arcádio vilas e povoados ceraenses como o fez â Ma-
Fortuna, Garcez dos Santos, Francisco Paula ca voqueira, pondo-lhe a denominação de
Pessoa, Júlia Vasconcelos, Lívio Barreto, Ma- Granja, sem que o povo lhe opusesse tenaz
nuel Castro e Silva, Miguel de Castvo Aires, resistência.
Tibúrcio de Oliveira, Máximo Carvalho Jú- Município de terras riquíssimas, habitado
nior, Padre José Carneiro da Cunha e outros. por um povo laboriosoe ordeiro, já é tempo de
GRANJA ATUALMENTE tomar ares de progresso material, como está
aconlecendo com várias comunidades do Ceará.
Cidade com mais de 5.000 habitantes, Cremos ser chegada a hora de Granja exi-
com ruas largas e, ultimamente, calçadas a gir dos seus estimados filhos, representantes do
paralelepípedo, praças com passeios e arbo- seu povo, um tributo de trabalho, persistência
rização, prédios modernos como os do Cor- e ação em prol do seu futuro e da sua pros-
reio e Telégrafos, Ginásio Municipal, Grupo peridade.

RESPONSÁVEL HENRIQUE BLUHM


Comissariado de Avarias do Sindicato dos Empregados de
Seguros Privados e Capitalização do Rio de Janeiro

Telegrama: BLUHME
Escritório em Recife (Pernambuco)
Rua da Assembleia, 67, 6' andar — — Fortaleza
Caixa Postal, 309
Escritório em Fortaleza (Ceará) — Sede
Rua Guilherme Bluhm, 15 (altos) — Caixa Postal, 309 — Fortaleza
Escritório em Sobral, Camodm (Ceará)
Boulevard Fadro U, 103 — Caixa Postal, 34 — Sobral
Escritório em Mossoró- Areia Branca (R. G. Norte)
Rusj Idalino Oliveira, 21 — Caixa Postal, 37 — Mossoró
pscri tório em Parmaíba (Piauí)
Rua Sousa Martins, 812 — Caixa Postal, 52 — Parnaiba
Escritório em São Luiz (Maranhão)
Rua Cândldol MendeSy 336 (altos) — Caixa Postal, 93 — São lai*
Escritório em Belém (Pará)
Rua 13 de Maio, 115 (altos) — Caixa Postal, 604 — Belém
Escritório em Manaus (Amazonas)
Rua Visconde de Mauá, 304 (altos) — Caixa Postal 161 — Manan*
107

GUARACIABA DO NORTE
ANTIGA VILA NOVA D'EL REY
NUMA ALTITUDE DE 933 METROS ROTEIRO HISTÓ-—
RICO —O ASSASSINATO DO JUIZ ANTÓNIO BARBOSA
— O POTENTADO MANUEL MARTINS CHAVES NÃO —
SE VENDIA ELEITORES, ANTIGAMENTE. O PADRE . . —
MESTRE-ESCOLA —
TERRA DOS MEMÓRIAS EM —
NOSSOS DIAS

EIS UMA CIDADE digna de ser olhada com


rida para Ipú, já a denominação de Vila
pelos poderes públicos, afim de que se torne Nova do Ipú Grande. Em 1841, esta lei é re-
um dos mais aprazíveis recantos do Ceará. vogada. Aos 3 de dezembro de 1842 é nova-
Quando, ainda, nos seus primeiros passos mente transferida para o Ipú.
chamou-se de Rua Nova e principiou os seus Afinal, aos 10 de janeiro de 1879, a vila é
dias com o povoamento da serrania da Ibia- restaurada, mas, somente inaugurada aos 9
paba, não se podendo precisar-lhe <!». data de janeiro de 1883.
exáta. Passou a cidade pelo decreto 448, de 20
Ao correr do tempo, veio a denominas- de dezembro de 1938 com a denominação de
se vila Nova D'E1 Rey. Emseguida, Campo Campo Grande.
Grande. Depois, chamaram-na de Inhussú, Foi Dom Joaquim José Vieira quem ins-
substituido para Guaraciaba. Hoje, a sua de- tituiu, canonicamente, a freguezia sob a in-
nominação oficial, de acordo com a lei n. vocação de Nossa Senhora dos Prazeres. Fora
1.153, de 22 de novembro de 1951, é Guara- criada aos 25 de outubro de 1886, com terri-
ciaba do Norte. tório desmembrado do Ipú.
Cidade simples, com algumas ruas e pra- Foi o seu primeiro vigário o Padre Ber-
ças, matriz em belo porte, gente afável e sim- nardino de Oliveira Memória. A paróquia já
pática, foi outrora teatro de fatos e episódios foi visitada por vários bispos, entre os quais
singulares. Dom Manuel da Silva Gomes, de saudosa me-
O seu clima é excelente e as paisagens mória e Dom José Tupinambá da Frota. É vi-
naturais que a cercam são lindíssimas. É ba- gário atual o Padre António Cordeiro Soares.
nhada por vários córregos e a sua vegetação
é sempre viçosa, exuberante. O ASSASSINATO DO JUIZ
Nas quadras dos bons invernos a fartura
é admirável, por isso que a sua vida rural Governava o Ceará Luís da Mota Féo e
é grandemente produtiva de frutas e cereais. Torres. No antigo Campo Grande havia um
No todo, o ambiente agrada e seduz. Se- homem iodo poderoso que a ninguém era
ria excelente cidade para estação de recreio, dado contrariar-lhe. Dominava a serrania da
não fora as condições precárias emque vive, Ibiapaba e os sertões que lhes ficavam no
'
no tocante ao conforto moderno, indispensá- sopé.
vel aos centros humanos de relativa densidade" Era o Coronel Manuel Martins Chaves,
demográfica. homem de pouca Certa feita realiza-se
graça.
uma aposta: qual o cavalo mais corredor, o do
ROTEHtO HISTÓRICO coronel Martins Chaves ou o do Juiz António
Ribeiro Barbosa ?
O município data de 12 de maio de 1791. A coisa engrossou. Martins Chaves não
Alguns, dão-no em 1879. Aliás, há divergên- admitia que ninguém lhe vencesse em coisa
cia sobre a data exáta em que a atual cidade alguma. Era um potentado terrível. Reali-
sede municipal foi elevada à categoria de Vila. zada a corrida, o cavalo do Juiz sai vencedor.
O Monsenhor Vicente Martins, no seu livro Foi o diabo O Coronel botou preço pelo ani-
!

«Diocese de Sobral», indica-nos o ano de 1791. mal. Tinha que ser seu, custasse o que cus-
António Bezerra de Menezes também cita esta tasse !Mas o Juiz não accedeu e veio terrí-
mesma data, com mais precisão, isto é, afirma vel inimizade. Vai daí. . .

que o Alvará, que a elevou à vila, data de 12 Numa tarde cinzenta, treme o chão de
de maio daquele ano. Pedro Ferreira, no seu Campo Grande Que foi, que não foi ? Per-
!

excelente «Dicionário da Serra da Ibiapaba», guntava o povo, uns aos outros, pelo aconte-
também indica 1791. E, o Senador Pompeu, cido. A
resposta estava ali no corpo do Juiz
também está com esta data. Deve, assim, ser estendido numa poça de sangue, junto do altar-
aceita, efetivamente a data de 12 de maio de mór da Igreja. Fora assassinado barbaramente
1791 como a da sua ereção à vila. por um grupo de capangas.
Aos 26 de agosto de 1840 a vila é transfe- A partir desta data, porém, Martins Cha-
108

ves não teve mais socego. Belo dia chega pela parado. Tinha de fazer uma coisa, fosse o
serrania afora o famoso estadista João Carlos que fosse. Tinha por companheiro o Padre
Oeynhaussen, Governador do Ceará. Homem Gonçalo Inácio de Loiola Mororó, mais tarde
sabido, astuto, não quiz a luta aberta. Prefe- mártir da República do Equador. Combina-
riu o golpe de inteligência e numa cilada bem ram fundar um curso de preparatórios.
estudada prendeu o Coronel Manuel Martins Posta em prática a idéa, lá vieram os alu-
Chaves, na vila de Ibiapina. nos, e dentre estes aquele que seria, logo mais,
Terminara os seus dias na prisão de Li- uma das mais proeminentes figuras da cultu-
moeiro, em Portugal, para onde fora remetido ra nacional, Thomaz Pompeu de Souza Bra-
debaixo de armas. sil. O curso foi um sucesso e fez muita gen-
te criar gosto pelos estudos.
VOTO NÃO SE VENDE . . Homem estimado, o Padre Manuel Pache-
co Pimentel chegou a ser representante do
Naqueles recuados tempos, efetivamente, Ceará às Cortes de Lisboa e à Assembleia Na-
voto não se vendia. Não era mercadoria de co- cional, conforme nos conta António Bezerra.
mércio, de balcão de segunda classe como em Certa feita chegou ao Campo Grande
nossos dias. com uma bagagem estúpida. Que diabo era
Cabra que faltasse com a palavra estava aquilo, perguntava o povo curioso. Nada
desgraçado. Além do mais, com eleição a bico mais, nada menos do que sementes de café,
de pena era mais dificil enganar. Podiam . cana, canela, pimenta do reino e de frutas
fazer atas falsas, mas o voto prometido era para serem cultivadas na serra fértil e da-
voto dado, desse no que desse. divosa.
O antigo Campo Grande desfrutava, nesta
quadra da história do Ceará a honra de ser PASSADO E PRESENTE
uma terra onde as eleições corriam sempre em
ordem e, depois de terminada a luta, todos Campo Grande, hoje Guaraciaba do Nor-
se abraçavam, não havendo vencidos e nem te,é terra de gente ilustre. Neste município
vencedores. nasceram, entre outros, os Memórias, gente
Inimizadecs por questões políticas no de fina educação e que brilharam nas letras
Campo Grande antigo, quem as via ? e na política do Ceará e do Brasil. Des.
António Bezerra de Menezes, visitando Francisco de Oliveira Memória; Padre Ole-
este município em 1888, constatou o admirá- gário Ribeiro Memória; João Alonso Memó-
vel senso de cordialidade que unia as figuras ria, brilhante advogado; Padre Francisco de
principais do lugar. E nos conta que, inter- Assis Memória, foram figuras de relevo. Ou-
rogando a um eleitor em véspera de pleito, tros, como o Monsenhor João Alfredo Fur-
perguntou-lhe se não trairia o amigo trocando tado honrou, sobremodo a terra guaraciaba-
o voto por dinheiro. Quase se formava um ba- na, pois foi figura de destaque do clero cea-
rulhão tremendo. O homem revoltou-se. Jun- rense. Destaque-se, porém, o genial João
tou gente. Foi um Deus nos acuda Manuel da Fonseca Lobo, filósofo e cientista,
— Vender o meu voto ? Nunca, seu dou-
!

escritor famoso e que foi o precussor dos es-


to. Vou botar na mesa é o nome do meu com- tudos sobre a lei da relatividade.
padre, nem que haja páu !O voto é o brio Esta é a tradição gloriosa de Guaracia-
da gente, home !
ba do Norte. História movimentada e filhos
ilustres.
O FAMOSO PADRE MANUEL PACHECO O presente lhe é uma interrogação. Tem
todas as possibilidades para ser um municí-
Corria o ano de 1809. A Freguesia de
. . pio próspero, com vida farta e feliz. Faltam-
São Gonçalo da Serra dos Cocos se extendia lhe, todavia, líderes locais capazes de desper-
pela Ibiapaba afora e descia para os sertões. tar as energias cívicas adormecidas.
Os seus vigários eram homens de prestígio. O seu povo é bom e ordeiro, mas despre-
Um destes, foi o famoso Padre Manuel Pa- zado pelos governos. Distando quase 400
checo Pimentel. quilómetros da Capital, fácil é ser esquecido
Resolvera vir residir no Campo Grande. e colocado à margem das cogitações. Apenas
Homem inquieto^ inteligente, não sabia estar é lembrado na quadra eleitoral.

UUR DE FORTALEZA
O MAIS CENTRAL — O MAIS RÁPIDO
CAPITAL: Cr$ 5.000.000,00 — RESERVAS: Cr$ 4.528.436,10
FONES: 23-10. 21-52 e 16-03
109

IBI APIN A
FOI, OUTRORA, ALDEIA DO DIABO GRANDE
NA SERRRANIA DA IBIAPABA — SOB A PROTEÇÃO E
O BATISMO DOS JESUÍTAS — DOIS MH, HOMENS, COM
ARCO E FLEXA — O ESTRANGEIRO RESPLANDE FUN-
DIU O SINO DA CAPELA — HONRAS DE CAPITÃO AO
ÍNDIO LUÍS DE MIRANDA — O JUIZ -- MISSIONÁRIO
JOSÉ D3IAPINA — 2.198 QUESITOS FORAM ENTREGUES
AOS JURADOS. .. — O MONSENHOR ANTÓNIO CAN-

DEDO DE MELO

IBIAPINA, antiga São Pedro, é uma ci- os famosos Diabo Grande e Mel Redondo.
dade distante, já situada nos confins dos li- Pêro Coelho lutou, em primeiro lugar,
mites do Ceará com o Estado do Piauí, com com Mel Redondo, vencendo-o após duros
pouco mais de mil habitantes, gozando de ex- combates de corpo a corpo nos quais se so-
celente clima e lindas paisagens naturais, vez bressaiu a simpática figura de Martim Soa-
que participa da exuberância da serrania da res Moreno. Buscando o alto da serrania, ata-
Ibiapaba. cou, em seguida Diabo Grande, cuja aldeia
Povoada por gente de vida simples e des- estava localizada onde hoje se ergue a cidade
preocupada, corre-lhe, nas veias, o sangue do de Ibiapina. Batalha impressionante travou
indígena que outrora trabalhou a «terra da- Pêro Coelho com os Tabajaras, sorrindo-lhe
divosa e bôa», escrevendo, na longínqua qua- após dois dias de luta os troféus da vitória.
dra da vida colonial, uma página de rara be- Foi assim, Pêro Coelho o primeiro que
leza e fino encanto pelos gestos de bravura. conquistou Ibiapina, fazendo-o, porém, pela
Senhora de um solo fertilissimo, cultiva, voz poderosa dos seus comandados.
há séculos, o café, o fumo, a cana de açúcar Anos mais tarde, outra missão, agora da
e a mandioca, fontes principais de sua vida paz, da harmonia e da concórdia dominaria,
económica. pelo amor e pela doçura, os bravos Tabajaras,
Outrora perlustrada pelos missionários muito embora fosse ela trucidada friamente.
Francisco Pinto e Luiz Figueira, Ibiapina fi- Dirigiam-na os jesuítas Luiz Figueira e
gura nas crónicas históricas desde os albores Francisco Pinto que, em 1607 vieram de Per-
da nossa colonização, notadamente por haver nambuco e não resistiram, como o antecessor
sido movimentado aldeiamento da valente e Pêro Coelho, à tentação de conquistar a exu-
aguerrida nação Taba j ara. berante região da Ibiapaba.
Hoje, integrada em nosso território, já Internados na floresta densa, os missio-
pertenceu à antiga capitania do Piauí, nos nários foram um belo dia bater na taba de
idos de 1718- retornando à divisão adminis- Diabo Grande conduzidos pelo irmão deste
trativa do Ceará, em 1741. A sua história de nome Diabo Ligeiro. Festão animado, rece-
principia nos meados de 1820 quando, então, bimento cordial, de logo dominaram os san-
se erguia já tosca capela, edificada em taipa, tos padres da Companhia de Jesus. Erigiram
sob a invocação de São Pedro, em torno da capela, celebraram missas, fundaram escolas
qual se agrupavam pouco mais de uma deze- e dominaram os ânimos exaltados da indiada.
na de singelos casebres. Na manhã de 11 de janeiro de 1608, os
jesuítas levantaram tenda em demanda do
O GUERREIRO E O JESUÍTA Maranhão, sendo nesta oportunidade atacados
com selvageria pelos inimigos dos Tabajaras
Há três séculos e meio precisamente, isto e cujo epílogo foi o trucidamento do Padre
é, em 1603, Pêro Coelho de Sousa, filho de Francisco Pinto.
Açores, português de rara estirpe, entendeu Daí por diante, o aldeiamento indígena
de conquistar o Ceará e lá se veio, depois de de Ibiapina passaria a existir sob tremenda
galardoado com alta patente, perlustrar a ter- pressão e debaixo de lutas sucessivas.
ra bravia.
Não conteve a tentação de subir a serra- FATOS PITORESCOS
nia da Ibiapaba, tida e havida como o El Dou-
rado na vasta região, e para tão grande co- Célere e ufano corria o ano da Graça de
metimento aprestou tropa valente, seguindo 1820 e o pequeno arraial de São Pedro de
o rumo da antiga Vila Viçosa Real, em cujas Ibiapina já tinha o seu modesto arruado com
plagas travou os primeiros combates. capela na pequena praça que se iniciava.
Toda a serra da Ibiapaba era, então, do- Os seus habitantes não ultrapassavam a
minada por dois temíveis chefes indígenas, uma centena e deles se distinguia o estrangei-
110

ro Manoel da Costa Resplande, homem tido ções maravilhosas. Ao falecer, sábio e santo,
e havido como inteligente, que tinha vindo correu mundo a fama de «frade milagroso».
dos sertões da antiga Palma, hoje Coreaú.
Aêle foi dada a incumbência de fundir O MAIS FAMOSO JÚRI DO CEARA
o sino da capela, de cuja tarefa se saiu a con-
tento. Em dia de festa badalou a «voz de Foi em Ibiapina que se realizou o mais
Deus» chamando os fieis à prática do culto. famoso júri de que se tem notícia nos anais
Mais ou menos por esta mesma quadra da vida forense do Ceará.
vivia em Ibiapina o famoso Luis José de Mi- Corria o ano de 1881, devendo, funcio-
randa que, do governo de então, recebeu a nar a 2. a sessão do Júri sob a presidência do
patente de Capitão auxiliar da polícia. Co- dr. José Gomes da Frota, juiz de Direito da
mandava nada menos de dois mil índios, to- Comarca de Viçosa, á qual pertencia o termo
dos armados de arco e flecha. Aos domingos de Ibiapaba.
passava revista solene às tropas que lhes obe- Para formar o conselho foi um Deus nos
deciam, acuda, visto como entrariam em julgamento
Era espetáculo ver toda a mdiada
um os famigerados criminosos da selvageria de
disciplinada,formando ao som do tambor. Tabatinga, dada e passada aos 6 de outubro
Respeitado e temido, o Capitão Miranda de 1878 e na qual os «juritis» assassinaram,
era a garantia da ordem e foi baluarte de cremaram e encineraram várias mulheres e
inexcedível bravura quando Ibiapina foi im- crianças numa perversidade inominável, que
piedosamente atacada, nos idos de 1840, pelos abalou todo o império.
balaios. Instalado a sessão do júri, durou a mes-
Nos reencontros sangrentos houve bala ma nada menos de seis dias e seis noites e fo-
como seiscentos diabos visto como a indiada ram entregues aos jurados 2.198 quesitos !

feroz havia sido adextrada na arte de guer- Dia vai, dia vem, foram os juritis con-
rear pelos franceses ávidos de lutas e de do- denados a galés perpetuas. Nesta quadra de
mínio. nossa vida, parece que o júri era mais efici-
Este fato teve profunda repercussão na ente ...
vida do povoado que já possuía Juiz de Paz, CRONOLOGIA
visto como quase todos os seus moradores de-
mandaram aos pagos sobralenses receiosos de Ibiapina tem uma área de 709 kms.2 o
novas refregas . . .
que dá, em relação ao Estado, 0,46, sendo as-
Somente depois de quatro meses do ocor- sim um município relativamente pequeno.
rido o fato é que Viçosa dele tomava conhe- Dentro em breve separar-se-á do seu territó-
cimento, pelo que envia o Major Joaquim rio para tornar-se autónoma a Vila de Mo-
Moreira da Rocha, com tropa e munição, para cambo, próspera localidade, com indústria
reconquistar o lugarejo na posse dos rebel- local, boas ruas e praças, igreja, mercado, etc.
des. Hoje, a população de Ibiapina atinge a
Luta tremenda é, então travada saindo mais de vinte mil habitantes que habita ter-
as tropas legais plenamente vitoriosas, pelo ritório de serra e sertão.
que se restabeleceu a paz e retornaram os an- O município foi criado aos 23 de novem-
tigos habitantes. bro de 1878, época em que a povoação de S.
Pedro foi elevada à Vila de Ibiapina. Extinto
JOSÉ ANTÓNIO DE MARIA D3IAPABA em 1931, foi restaurado aos 4 de dezembro
de 1933. O Decreto 448, de 20 de dezembro
Francisco Miguel Pereira devia seguir a de 1938, elevou a Vila à Cidade.
carreira eclesiástica, mas aparece um
. . . A paróquia foi criada aos 9 de agosto de
grande amor e casa-se com Tereza de Jesus. 1882 e canonicamente instituída aos 20 de ja-
Odiado pela família vai residir em Ibiapina, neiro de 1883, desmembrada da de São Be-
nascendo do casal José António de Maria Ibia- nedito e firmada pelo Mons Hipólito Gomes
pina. Brasil.
Anos mais tarde, já feito homem, José A igreja atual está em reconstrução e as
Ibiapina transpõe os umbrais do Seminário obras já realizadas deixam ver será um dos
de Olinda, já famoso. Abandonando a carrei- mais belos templos do Ceará. Em 1878 teve
ra eclesiástica, ingressa no curso jurídico da grande reforma, pois a que existia ainda era,
cidade de Nassau, dele obtendo diploma de a esta época, a de taipa levantada pelos je-
bacharel. Moço e culto é eleito, anos depois, suítas. Este serviço foi feito com socorros pú-
para a Assembleia Geral. blicos.
Homem de grande caráter, foi Ibiapina A figura mais expressiva do vigariato lo-
logo mais investido nas funções de juiz de cal foi,não há dúvida, a do Monsenhor Antó-
Santo António de Quixeramobim. nio Cândido de Melo, clérigo operoso, culto,
Decepcionado com a magistratura em dinâmico e que já realizou, por isso mesmo,
vista da dissolução dos costumes, Ibiapina obras notáveis como a igreja de São Francis-
senta banca de advogado. Tentando, em vão, co e a Casa Paroquial, iniciando, ainda, a re-
a prática da justiça e da dignidade, sente que forma da Matriz local.
lhe acena o destino do claustro. E aos 3
. . .

de janeiro de 1853 recebe o hábito de Cristo IBIAPINA DE HOJE


transformando-se, daí por diante, num dos
mais notáveis missionários que a crónica reli- Por demorar numa região paradisíaca, de
giosa, registra em terras do Brasil. lindas paisagens e de fertilidade assombrosa,
Grande orador, a sua palavra arrebatava visto como no cimo da Serra Grande, Ibiapi-
as multidões. Por onde passava era um Deus na é uma cidade que desperta simpatia ao
nos acuda de gente para ouvir as suas prega- visitante.
111

Não possui edifícios importantes e toda nezes, dr. José António Coelho de Albuquer-
a sua edificação é singela, destacando-se al- que, Metério Pereira, jornalista; dr. Oscar de
gumas residências de melhor apresentação. Andrade, Pedro Ferreira de Assis, escritor e
Os governos ainda não lhe beneficiaram jornalista; Miguel Soares e Silva, antigo che-
com nenhuma obra pública de vulto, como fe político; Álvaro Soares, que foi deputado
efetivamente merece o município, sendo, as- estadual e outros.
sim, desprezado o seu laborioso povo. Terra que se prestaria admiravelmente
É prefeito do município o estimado cida- para uma agricultura intensiva, capaz de nos
dão Rafael Cláudio de Araújo, industrial e oferecer uma grande produção desde que tra-
agricultor. Destacam-se, entre outros, como balhada com maquinaria e sob crédito fácil
líderes locais, Vicente Aragão, ex-prefeito, dr. aos seus agricultores, está, neste particular,
António Fernandes de Melo, dr. José Avelino infelizmente, em decadência visto como são
Portela, Juvêncio Rocha, Pedro Aragão, ex- ; sempre caminhões e mais caminhões
prefeito e outros que a memória não recorda cheios de trabalhadores do campo que se di-
de momento. rigem para o Vale do Mearim, no Maranhão.
Por ser município com excelentes tradi- Urge, pois, uma reação a fim de colocar
ções, deu-nos filhos ilustres, entre os quais: este município, de belas tradições, no roteiro
— Cónego Alfredo Soares e Silva, dr. Carlos do progresso e da prosperidade do seu povo
Sudá de Andrade, dr. Juarez Bezerra de Me- acolhedor e laborioso.

O GINÁSIO 7 DE SETEMBRO é um estabelecimento que


honra a educação cearense, pelos seus métodos de ensino e
pela diretriz sadia que se traçou.
Fundado em 1935, completou este ano o educandário da
Avenida <3o Imperador o seu 18» aniversário de vidai ativa, em
favor da mocidade, cearense.
Édiretor proprietário do GINÁSIO 7 BE SETEMBRO o
Dr. Edilson Brasil Soárez, educador cearense que há dado
o melhor dos seus esforços à obra educativa do estudante
primário e secundário do nosso Estado.
Conta o GINÁSIO 7 DE SETEMBRO com' a matrícula de
1.500 alunos, num atestado frisante dado pelos pais aos mé-
todos de. ensino eficiente e moderno que adota.
Centenas e centenas de moços cearenses têm recebido os
influxos benéficos de seu ensino e, quando se escrever a his-
tória da educação no Ceará, o nome do GINÁSIO 7 DE SE-
TEMBRO será, de certo, escrito com letras de ouro, mercê de
sua sábia orientação e ensino moralizado.
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