Você está na página 1de 25

A Nova História de Natal

A estratégia do Rei Felipe II, o desembarque de Manoel Mascarenhas Homem, a fundação da Fortaleza
dos Reis Magos; nossos bairros; as igrejas, os palácios, ruas e avenidas; os equipamentos para o desenvol-
vimento; a devoção e a cultura do povo.
Começa, com este fascículo, a ser contada a Nova História de Natal, um projeto que resulta da discus-
são e de um trabalho que se prolongou por mais de um ano. Nasceu do esforço dos que fazem este jornal.
da definição dos patrocinadores - que acreditaram nos critérios e seriedade do produto - e, em particular,
do nosso Projeto Ler/DN Educação sempre diligente em agregar ao esforço da boa informação, instru-
mentos que sejam efetivamente úteis ao acervo didático de nossas escolas e dos estudantes.
O Diário de Natal, com mais este projeto, reafirma seu compromisso com os leitores, com o Rio Grande
do Norte e com a educação, priorizando os valores da terra, seguindo o destino traçado por Assis
Chateaubriand, ao criar os Associados, e reafirmado com ênfase, pelo Presidente do grupo, jornalista
Paulo Cabral. Um dever que o Diário de Natal está realizando.

Albimar Furtado
Diretor Geral

lli

Desde Ur, na Caldeia, até Brasília, no expressões de esporte e lazer da população, em


Planalto Central do Brasil, a cidade é um todo esse tempo. Na segunda parte, a genealogia
sistema de interações múltiplas, testemunha dos seus bairros. A origem dos topónimos, a
milenar da natureza gregária do ser humano. intervenção do poder público e da comunidade,
Ao longo da história, ela suplantou o prestígio configurada na construção dos equipamentos
da vida rural, tornando-se o 'locus" urbanos indispensáveis. Desse estudo, pude
privilegiado, a vitrine das infinitas criações inferir que a cidade vive em permanente
culturais do homem. Daí porque cada cidade construção, não apenas de obras de engenharia e
expressa, nos seus costumes e monumentos, o arquitetura, mas também de criações culturais e
ethos de cada nação, região ou localidade. No sociais que lhe dão vida e especificidade.
seu constante dinamismo, ela retrata, no O objetivo desta obra é proporcionar às novas
espaço e no tempo, o esplendor e a decadência gerações um conhecimento completo e
dos mecanismos que lhe dão sustentação. Por atualizado da cidade, bairro por bairro, desde as
isso, quando desaparece uma civilização, o suas origens até este final de século XX. Este e ò
grito silencioso das ruínas das cidades avisa resultado de um estudo que começou em 1968,
aos transeuntes, no mirante do tempo, que ali quando pesquisei as migrações para Natal.
existiu um povo, uma nação. Agradeço a todos que colaboraram comigo na
Imbuído destas ideias, escrevi esta NOVA realização desta obra, especialmente, ao
HISTÓRIA DE XATAL, em homenagem ao seu 4° jornalista Albimar Furtado, diretor geral do
centenário. Contemplei a sua fisionomia como DIÁRIO DE NATAL, cujo apoio foi decisivo para o
quem olha para uma árvore frondosa: estudei as lançamento desta obra.
suas raízes, o caule e a ramificação dos seus
galhos em permanente crescimento e
metamorfose. Esta obra está dividida em duas Natal, maio de 2001
partes. Na primeira, o surgimento da cidade, seu
crescimento ao longo de três séculos e o Itamar de Souza
surgimento dos equipamentos urbanos, além das Historiado'
Natal surgiu da estratégia
militar do Rei Felipe II

tendendo à do território brasileiro. cumulara de vantagens e


sugestão de Diogo (Tapajós, Vicente- 14a: privilégios os donatários, por
de Gouveia, 1967:44). Para concretizar tal outro lado, transferiu-lhes as
-•^•externada em carta política, o governo português responsabilidades
que este ilustre português teve que atrair o capital fazendárias, judiciárias e
escrevera a D. João III, em privado para ajudá-lo neste militares de suas capitanias.
1532, a Coroa Portuguesa empreendimento, uma vez À Coroa restavam somente os
dividiu o Brasil em que os investimentos encargos da fiscalização, o
capitanias, objetivando exigidos superavam as que demonstra que este
maior controle e penetração possibilidades financeiras do modelo administrativo era,
governo português. Se, por apenas, aparentemente
um lado, a Coroa Portuguesa descentralizado. T

A Boca da Barra, o lugar; ::


estatégiccrpara a construção
do Forte cios Reis Magos

"" '" ' ^^"

- ---'•- " ; í.:- —


;"JF'

A% ;j^ ,»# ** 4U
cada huã das ditas villas e ao
mesmo tempo que se fizeram
as tais villas ou cada huã delias
lhe lymytaram e asynaram
logo termo para ellas e depois
nam puderam da terra que asy
tiverem dado per termo fazer
mais outra villa sem mynha
licença". (Malheiro, Carlos et
alii - 3° v: MCMXXiV:309-310).
É importante ressaltar que,
desta orientação surgiram,
entre 1532 e 1650, trinta e sete
vilas e cidades, das quais
apenas sete foram construídas
diretamente por conta da
Coroa. Há outro aspecto da
política urbanizadora de
Portugal no século XVI, em
relação ao Brasil, que não
devemos olvidar: defender o
território colonial contra as
incursões francesas. Este
objetívo está explícito na
mencionada carta de Diogo de
Gouveia a D. João III,
aconselhando o seguinte: "sete
a oito povoações seriam
bastante para defender a - terra
que não vendam o brasil a
Felipe -l|, Rei.da Espanha, teve povoações que nesa dita terra ninguém e não o vendendo as
•.importante papel na expulsão fizerem e lhe a elles parecer
ífjps holandeses e no surgimento naus não hão de querer ali ir
;da cidade de Natal que o deuem ser as quaes se para voltarem vazias". (Tapajós,
chamaram villas e teram Vicente - Op. cit. p. 44).
termo e juriçam lyberdades e A parte do território
O poder de fundar vilas e :;: jnijas de villas segundo foro e nacional ocupada atualmente
cidades era uma das costume de meus Reynos e pelo Estado do Rio Grande do
prerrogativas que o Governo isto porem se entenderá que Norte foi doada por D. João III
Português outorgou aos poderá fazer todas as vyllas a dois donatários: João de
donatários. A título de que quysere das povoações Barros e Aires da Cunha.
ilustração, vejamos na carta de que estyuere ao longo da costa O primeiro era alto
doação da Capitania de da dita terra fyrme e dos rios funcionário do governo e
Pernambuco ao donatário que se navegarê por que celebrizou-se como
Duarte Coelho como se dentro da terra fyrme pelo historiador das conquistas
expressou El. Rei: "Outrosyme sertam as nam poderam fazer portuguesas no Oriente; e o
apraz que o dito capitam e menos espaço de seys legoas segundo era um valente fidalgo
governador e todos seus de huã e outra pêra que se que se notabilizou na defesa
subçesores posam per sy fazer posam ficar ao menos três do reino de Portugal lutando
\illas todas e quaesquer legoas de terra de termo a contra corsários e piratas.
A t, A r i i -\r das tentativas que

topónimo -"Refoles" -, à * Assim, em 1596 e 1597,


fizeram, em 1535 e em 1555, margem do direita do rio Sua Majestade Imperial
para tomarem posse da Potengi, à altura da Base dirigiu cartas régias ao
capitania do Rio Grande, não Naval, no Alecrim, onde Governador-Geral do Brasil e
obtiveram êxito. (Para Jacques Riffaut costumava aos Capitães-Mores de
maiores detalhes, vide Diário estacionar o seu barco. Pernambuco e da Paraíba,
do Rio Grande do Norte de 25 Em 1580, a Dinastia de ordenando-lhes a
de maio de 1999). Enquanto Avis entrou em crise de reconquista da Capitania do
isso, o território potiguar sucessão e, por isso, Portugal Rio Grande.
ficou nas mãos dos franceses, foi anexado ao reino da Coube o comando da
que, de Pernambuco ao Espanha. A partir daquele missão ao Capitão-Mor de
Maranhão, exploravam o pau- ano, Felipe II passou a ser o Pernambuco, Manoel
brasil e outros produtos que Rei de Espanha e Portugal. Mascarenhas Homem. Por
lhes eram vendidos pelos Um dos importantes marcos outro lado, em obediência ic
indígenas. No Rio Grande do da sua administração foi a ordens régias, o Capirão-M::
Norte, eles conquistaram a expulsão dos franceses, da Paraíba, Feliciar.c Ccej::
amizade dos índios reconquistando, assim, o incorporou-se à expedição.
potiguares, cuja taba território do Nordeste. Por Da Bahia, o Gcver:: \ :•:-
principal ficava localizada em conseguinte, Natal surgiu no Gerai do Brás i I ~ -
Aldeia Velha, situada à mapa da história em de Sousa, mar.:
margem esquerda do Rio consequência desta Paraíba "un i _~
Potengi. Resquício da estratégia militar, navios r . ~ : :
presença francesa em implementada por Felipe II,
território colonial potiguar é o Rei de Portugal e Espanha. 1982267).
Arquivo D N
flfe
O desembarque de
Manoel Mascarenhas

e Pernambuco, por Miguel Álvares Lobo". exceção de Jerônimo de


caminhando por Ao todo. estas cinco Albuquerque que
terra, Manoel companhias somavam 178 embarcou num caravelão,
Mascarenhas homens, fora 90 índios viajando para o Rio Grande
deslocou-se para a Paraíba das aldeias de em companhia de Manoel
trazendo "três companhias Pernambuco e 730 gentios Mascarenhas. Ao
de gente de pé, de quem da Paraíba, "com seus aproximar-se do porto de
eram capitães Jerônimo de principais que os guiavam Búzios, onde existe
Albuquerque, Jorge de conhecidos por "Braço de atualmente uma praia de
Albuquerque, seu irmão, e Peixe", "Assento de veraneio, a armada avistou
António Leitão Mirim. Por Pássaro", "PedraVerde" e "sete naus de franceses",
sua vez, Manoel Leitão "Cardo Grande" . que fugiram sem ser
comandava uma "E este exército perseguidos. Prosseguindo
companhia da cavalaria. começou a marchar das a viagem, Manoel
Reunidas as forças na fronteiras da Paraíba a 17 Mascarenhas mandou dois
Paraíba, ficou decidido de dezembro de 1597, indo caravelões sondar a
que Manoel Mascarenhas os espias e corredores embocadura do Rio
viria por mar para o Rio diante queimando algumas Grande, isto é, do Rio
Grande. Em sua aldeias que os potiguares Potengi. Somente depois
companhia, ele trouxe o despejavam com medo, que chegaram as
Padre Gaspar de Samperes, como confessaram alguns informações foi que
"por ser arquiteto e que foram tomados". "entrou a armada à tarde
engenheiro, para traçar a (Vicente do Salvador, Frei - guiada pelos marinheiros
planta da fortaleza, com o 1982:268). A "bexiga", dos caravelões que o
seu companheiro o Padre chamada a "peste do tinham sondado". Segundo
Lemos, e o nosso irmão Brasil", atacou as tropas de o padre Serafim Leite, o
Frei Benardino das Neves Feliciano Coelho de tal desembarque das tropas de
por ser muito perito na maneira que matava Manoel Mascarenhas no
língua brasílica e muito diariamente dez ou doze rio Potengi. aconteceu no
respeitado dos integrantes. dia 25 de dezembro de
potiguares..." Feliciano Impossibilitado de 1597. (Cascudo, Luís da
Coelho veio por terra "com continuar a marcha, ele Câmara-1955:23) Por
os quatro capitães e retornou com os seus Conseguinte, esta data
companhias de gente de soldados para a Paraíba. Os marca o início da
Pernambuco e com outra capitães de Pernambuco colonização portuguesa no
da Paraíba "comandada fizeram o mesmo, com Rio Grande do Norte. v
Conforme a narrativa de dificuldades, pois, tudo já
Frei Vicente do Salvador," ali estava ficando escasso, chegou
desembarcaram e se de Pernambuco, "Francisco
trincheiraram de varas de Dias de Paiva, amo do capitão-
mangues para começarem a mor, que o criou, em uma urca
fazer o forte e se defenderem do reino que El-Rei mandou
dos potiguares, que não com artilharia, munições e
tardaram muitos dias que não alguns outros provimentos
viessem uma madrugada para o forte que se fazia..."
infinitos, acompanhados de (Vicente do Salvador, Frei -
cinquenta franceses, que 1980:269).
haviam ficado das naus do Em 30 de março de 1598,
porto de Búzios, e outros que Feliciano Coelho partiu da
ali estavam casados com Paraíba trazendo "uma
potiguares". (1982:268) companhia de vinte e quatro
homens de cavalo, e duas de
pé, de trinta arcabuzeiros cada
uma, das quais eram capitães
António de Valadares e Miguel
Álvares Lobo, e trezentos e
cinquenta índios frecheiros
com seus principais". Ao
chegar, Feliciano alojou-se
numa maloca abandonada. No
dia seguinte, Manoel
Mascarenhas foi visitá-lo e
traçar planos de trabalho para
dar continuidade à construção
do forte. Assim, enquanto uns
trabalhavam, em dias
alternados, outros faziam
incursões nas áreas próximas
Aconteceu, então, o para descobrir os esconderijos
primeiro ataque feito pelos dos índios potiguares.
índios e pelos franceses que, Numa dessas incursões, as
"Rodeando a nossa cerca, tropas de Feliciano Coelho
feriram muitos dos nossos "mataram mais de
com pelouros e frechas que quatrocentos potiguares e
tiravam por entre as varas". cativaram oitenta, pelos quais
Neste combate saiu ferido o souberam que estava muita
capitão Rui de Aveiro, atingido gente junta, assim potiguares
por uma flecha no pescoço, como franceses, em seis cercas
assim como outros da sua muito fortes, para virem dar
companhia. Sucederam-se sobre os nossos e os matarem,
outros combates nos mangues e se já o não tinham feito, era
do Potengi entre os porque adoeciam e morriam
portugueses e os nativos. muitos do mal de bexigas".
Enquanto se construía o (Vicente do Salvador, Frei -
forte em meio a muitas 1982:270)

S2---S
Um barco que veio da quinhentos", sem dos 1982: 272). Por
Paraíba trazendo alimentos nossos morrerem mais de conseguinte, a conquista
para as tropas de Feliciano três índios tabajaras". No do Rio Grande do Norte por
Coelho noticiou que, no segundo combate, os Manoel Mascarenhas e
porto de Búzios, um navio tabajaras "mataram mais Feliciano Coelho foi
francês estava de cento e cinquenta violentíssima. Ao todo,
desembarcando gente. potiguares". Do lado dos foram mortos mais de dois
De imediato, Manoel portugueses, morreram mil índios potiguares contra
Mascarenhas partiu para lá apenas seis brancos. reduzidas baixas nas tropas
levando "toda a gente de (Vicente do Salvador, Frei - dos conquistadores.
cavalo que havia, e trinta
soldados arcabuzeiros e
muitos índios, e deu nas
choupanas em que os
potiguares estavam já
comerciando com eles,
onde mataram treze e
cativaram sete e três
franceses, porque os mais
embarcaram e fugiram no
batel, e outros a nado."
(Vicente de Salvador, Frei -
1982:270).
No dia 24 de junho de
1598, Manoel Mascarenhas
entregou o forte a Jerônimo
de Albuquerque, que jurou
defendê-lo a qualquer
custo. No dia seguinte,
Mascarenhas pernoitou na
aldeia de Camarão, "onde Parte Interna
da Fortaleza dos Reis Magos
Feliciano Coelho estava
com o seu arraial
aposentado, e no dia A dupla missão
seguinte se partiram todos
para a Paraíba com muita de Manoel Mascarenhas
paz e amizade". Antes de
deixarem o território norte- Quando D. Francisco de Sousa, Governador-Geral do Brasil,
rio-grandense, as tropas mandou Manoel Mascarenhas Homem ao Rio Grande do Norte,
destes dois conquistadores encarregou-o de realizar duas grandes tarefas: construir uma
travaram ainda dois fortaleza e fundar uma cidade. Senão, vejamos o texto do Frei Vicente
combates, nos quais do Salvador referente a este assunto: "Encomendou-lhe muito que
sobressaiu-se o índio Tavira
logo fosse lá fazer uma fortaleza e uma povoação". (1982 :267).
pela sua bravura e
agilidade na luta. No
primeiro confronto, entre
mortos e cativos ficaram
"mais de mil r
A construção da
Fortaleza dos Reis Magos

o mesmo dia do formato da fortaleza que Mascarenhas "por ser


desembarque, conhecemos hoje? Quem arquiteto e engenheiro".
25 de dezembro melhor respondeu a esta (Vicente do Salvador, Frei -
de 1597, Manoel questão foi o historiador 1982:267).
Mascarenhas e os seus Hélio Galvão, que A construção iniciada
quatrocentos comandados, aprofundou-se neste ponto em 1598 era precária, de
"se trincheiraram de varas da nossa história. Diz ele: barro e varas colhidas nos
de mangue para "Não era, porém, a mangues e adjacências.
começarem a fazer o forte Fortaleza que se concluía: Com o tempo, ela
e se defenderem dos era uma fortificação deteriorou-se. Por isso, em
potiguares". (Vicente do provisória, com o mínimo 1612, o Rei Felipe III
Salvador, Frei - 1982:268). de segurança para abrigar a mandou que se
No dia seguinte, "todos gente da expedição, reconstruísse o forte,
tomaram posse da terra", protegendo-a contra o nomeando, para realizar
afirma Padre Pêro inesperado ataque do esta tarefa, o engenheiro-
Rodrigues. (Galvão, Hélio gentio. Também não foi mor Francisco de Frias
- 1979:18) erguido no arrecife, porque Mesquita. A construção de
As obras da referida construção daquele tipo pedra, como conhecemos
fortaleza começaram no dia não resistia ao primeiro hoje, foi realizada a partir
6 de janeiro, consagrado impacto das águas, pois a de 1614 obedecendo a
aos Reis Magos no área adjacente fica planta primitiva. Esclarece
calendário da religião totalmente coberta na maré Hélio Galvão que "não
católica. Daí a origem do cheia, seis horas o cobre o houve (....) modificação no
seu nome primitivo. Esta mar", disse o Sargento-Mor traçado primitivo,
construção ficou pronta em Diogo de Campos. Simples indubitavelmente de autoria
junho de 1598, conforme a paliçada, na praia, fora do do Padre Gaspar de
narrativa de Frei Vicente do alcance das marés". Samperes... Em 1614,
Salvador: "Acabado o Forte (Galvão, Hélio-1982:22). quando recebeu o encargo
do Rio Grande que se Não há dúvida de que a de prosseguir nas obras,
intitula dos Reis, o entregou Fortaleza que conhecemos Frias aproveitou a estrutura
Manoel Mascarenhas a hoje foi construída de desenhada pelo Padre
Jerônimo de Albuquerque conformidade com a planta Gaspar de Samperes.
dia de São João Batista, da desenhada pelo Padre Ninguém fala em
era de 1598". (1982:271). Gaspar de Samperes, demolição, menos ainda em
Será que a construção jesuíta, que veio em recomeço." (Galvão Kel:: -
que foi terminada, tinha o companhia de Manoel 1979:43-44). T
Acrescenta o
mencionado historiador
que "Frias desenhou
plantas para a construção
de obras complementares
levadas a efeito no
interior da fortaleza".
(Idem-1979:45).
Somente em 1628 é que a
fortaleza estava
terminada.
Como observou
Câmara Cascudo, a
Fortaleza tem "a forma
clássica do Forte
marítimo, afetando o
modelo do polígono
estrelado.
O tenalhão abica para o
Norte, mirando a boca da
barra, avançando os dois
salientes, raios de estrela.
No final, a gola termina
por dois baluartes.
O da destra, na
curvatura, oculta o
portão, entrada única,
l ainda defendida por um
< Importante na cofre de franqueamento,
para quatro atiradores e,
reconquista do Maranhão sobreposto à cortina ou
gola, os caminhos de
A Fortaleza dos Reis Magos, situada estrategicamente na ronda e uma banqueta de
embocadura do Rio Potengi, à margem direita, desempenhou papel
mosquetaria.
Com sessenta e quatro
importantíssimo na reconquista do Maranhão, onde os franceses
metros de comprimento,
haviam fundado a "França Equinocial". Como sentinela avançada, ela perímetro de duzentos e
venceu o abandono de alguns governantes e as intempéries do quarenta, frente e gola de
tempo. Na fisionomia rústica das suas paredes, visualizamos as garras
sessenta metros, o forte
artilhava-se de maneira
do império colonial português que, à força, incorporou a terra dos
admirável para a
potiguares à civilização europeia. época."(Cascudo, Luís da
Câmara - 1955:24-25)
Por que a construção
de uma fortaleza em
forma de estrela? Era o
que estava em moda
© naquela época.
A construção do Forte dos Reis
Magos, em formato de estrela,
atendia às estratégias militares e
era moda na época

Durante os séculos 14 e partir do século 15, quando feitas "à moda de estrela",
15, a defesa das cidades os militares adaptaram o permitiam tanto à
medievais da Europa era uso da pólvora à artilharia artilharia como à infantaria
feita mediante o emprego dos canhões, as fortalezas armada abrir fogo sobre as
de dois elementos substituíram o fosso e a fileiras das f orças Q
Í
conjugados: a muralha e o muralha. (DÉstaing, Valerie- atacantes de qualquer lado
fosso. Isto dificultava Anne Giscard -1989:328) onde pudessem aparecer".
enormemente o assalto do -rinbra Munford que (Munford, Lewis -
inimigo à cidadela. Mas, a essas novas fortificações, v.I:1961:95)
s
f
(J

Procissão de fiéis católicos, no


começo do século XX, na Praça";
André de Albuquerque e, abaixo,
o local onde nascera a cidade e, j
depois, a praça
A fundação
de Natal

ara consolidar a
1 colonização
portuguesa em
território potiguar,
os portugueses, depois de
muitas conversações,
conseguiram fazer um
acordo de paz com os índios,
fato ocorrido em junho de
1599. Feito isto, o passo
seguinte foi a fundação da
cidade de Natal. É verdade
que, antes, junto à Fortaleza,
já existia um arraial. Afirma
o historiador Hélio Galvão
que "há mesmo referência a
esse primeiro povoado e
algumas cartas holandesas o
indicam. Uma pequena
povoação satélite, que logo
deve ter desaparecido.
Compreende-se que os
primeiros povoadores, ainda
sem morada fixa,
procurassem as
proximidades da
construção: tinham com
quem se comunicar e
estariam seguros". (Galvão,
Hélio - 1979:33).
Quanto à fundação de
Natal há uma controvérsia
que envolve três aspectos: o
fundador, a data de
fundação e o nome da
cidade. T
I - Quanto ao fundador
Há três correntes que se debatem em torno da questão

PRIMEIRA CORRENTE

O fundador de Natal foi


Jerônimo de Albuquerque
Vários historiadores porção do arrecife ilhada São Paulo, Edições
sustentam esta tese. Um (em preamar] em que Melhoramentos, 1956, 5a
deles, de maior estava o forte, segundo edição, I vol., p.50).
notabilidade, é Francisco ainda hoje se pode ver, Integram esta corrente
Adolfo Varnhagen, que diz escolheu para isso o outros historiadores como
o seguinte: "Feitas as primeiro chão elevado e Rafael Galanti, Aires de zal.
pazes com os índios, firme, que se apresenta à A. Gonçalves Dias, Moreira
passou Jerônimo a fundar margem direita do rio, Pinto, Vicente Lemos,
no próprio Rio Grande obra de meia légua acima Rocha Pombo, Tavares de
uma povoação. E como era de sua perigosa barra". Lira e, por último, Tarcísio
para isso - imprópria a , (História Geral do Brasil - Medeiros.

SEGUNDA CORRENTE

O fundador de Natal foi


João Rodrigues Colaço
Sustenta esta opinião o:: fundador da cidade do p.72). Como se pode ver da
historiador José Moreira Natal e não Jerônimo de leitura do texto, sua tese é
Brandão Castelo Branco, Albuquerque, mero capitão frágil, pois fundamenta-se
que diz o seguinte: "...O de fortaleza, o qual desde mais numa dedução,
primeiro capitão-mor do abril do referido ano, já "devendo, por isso, ter í: i:
Rio Grande do Norte foi estava substituído". (Revista o fundador", do que numa
João Rodrigues Colaço, que do Instituto Histórico e prova documental. E>:i
governava no ano de 1599, Geográfico do Rio Grande corrente não teve fôlego
devendo, por isso, ter sido o do Norte, :Natal, Vol. LIII, para ir adiante.
TERCEIRA CORRENTE v

O fundador de Natal foi


Manoel Mascarenhas Homem
Esta tese foi sustentada
pelos historiadores Luís da
Câmara Cascudo e Hélio
Galvão. Tem merecido
maior credibilidade e
firmou-se na tradição
histórica da cidade. O
argumento de Câmara
Cascudo é o seguinte: "Para
mim, o padrinho da cidade
do Natal foi Manoel
Mascarenhas Homem,
capitão-mor de
Pernambuco, comandante
da expedição colonizadora.
Continuara tão interessado
no cumprimento das reais
determinações, que fora de
Olinda à Paraíba, em junho
desse 1599, assistir à
solenidade do contrato das Pernambuco, enfrentando Imagem antiga da Praça André de
pazes com os potiguares, Albuquerque, ladeada pelo rio
as asperidades da viagens Potengi e pelo Palácio Potengi
ato possibilitador da marítima, se não tivesse
criação da cidade, seis deveres de suma
meses depois. Acresce que, importância, como pronunciamento: "Já
nessa época, Mascarenhas satisfazer a última parte das sabemos quem não é o
Homem estava em Natal, instruções do rei, fundador de Natal - Não é
onde concedeu, a 9 de participando da fundação Jerônimo de Albuquerque
janeiro de 1600, dada nesta da cidade. Não há outra que nem mesmo se
Fortaleza dos Reis Magos, explicação para sua encontrava no Rio Grande
sob seu sinal, a primeira presença em Natal. Tinha do Norte, à época,
sesmaria, à margem sido o encarregado da convencionalmente, fixada;
esquerda do rio, numa água missão e deveria cumpri-la - não é João Rodrigues
a que chamam de Papuna, até o final. A cerimónia Colaço, como por inferência
justamente ao capitão João ocorreu na Praça André de de sua posse no governo,
Rodrigues Colaço, seu Albuquerque...". (Cascudo, conclui Moreira Brandão.
subalterno. Não Luís da Câmara - 1968:217). porque ao assumir o
abandonaria as funções de O historiador Hélio exercício, a cidade já esiava
governança em Galvão é radical no seu fundada. T
Manoel Mascarenhas "que logo que fosse lá historiadores Câmara
Homem é, pois, o fazer uma fortaleza e uma Cascudo e Hélio Galvão,
fundador da cidade de povoação". (Galvão, Hélio i falta, no entanto, uma
Natal. Este, precisamente, - 1979:32) prova documental, forte,
um dos encargos que lhe Não obstante a lógica decisiva, para colocar
foram atribuídos como dos argumentos um ponto final nesta
general da conquista: desenvolvida pelos polémica.

í?"
KíV

Vista parcial da
Praça André de
Albuquerque, nc
início do Séculc
XX, vivendo seu
primeiro
momento de
arborização

II - Quanto à data da
fundação da Cidade
A maioria cidade continua sendo 25 levantada recentemente
esmagadora dos de dezembro de 1599. Sem por Olavo de Medeiros
historiadores afirma prova documental Filho, quando diz: "A
que a cidade de inequivocada, não seria Cidade dos Reis pode ter
Natal foi fundada no dia 25 possível extirpar a tradição sido fundada no dia 6 de
de dezembro de 1599. quatro vezes secular. "(1979: janeiro de 1600, no dia de
Como disse Hélio Galvão, 33). Fora desta data há, Reis...". (Medeiros Filho.
"a data da fundação da apenas, hipótese como a Olavo de- 1991:32)
III - Quanto ao
nome de Natal
uma cidade
que teve vários
locativos nos seus
£
primeiros anos de
existência. Frei Vicente do
Salvador fala em "Cidade dos
Reis". Por sua vez, Melchior
Estácio do Amaral, narrando
o naufrágio da nau Sant lago,
ocorrido em 1602, usou outra
denominação: "Neste Rio
Grande, que dista da Paraíba
quarenta léguas, se viu esta
peregrina gente em aperto,
por falta de mantimentos (...)
Acharam a nova Cidade de
Sant' lago, que ali se
principia, e tem já três casas
de pedra e cal..." (Medeiros
Filho, Olavo de -1991:31).
Ora, naquela época, Portugal
continuava sob o domínio
espanhol. Por isso, "Cidade
cidade de Natalf
de Santiago" seria uma
Quase todos os historiadores que estudaram o assunto
homenagem ao padroeiro da
Espanha. Na realidade, este afirmaram que a Cidade tem este nome em homenagem ao
locativo não criou raízes nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, em cuja data natalícia a
porque, apesar de Portugal cidade foi fundada. No entanto, diz o padre historiador, Serafim
estar subordinado ao Leite: "Nenhum deles acertou. Chamou-se Natal, porque foi esse o
domínio espanhol de então, a tempo em que a armada entrou na barra do Rio Grande do Norte.
nossa colonização era
Apesar da cidade só começar depois, perpetuou-se, no seu nome, a
totalmente portuguesa.
O nome "Cidade do recordação daquele fato." (Leite, Serafim - v.l:1938:256, nota 1). Nas
Natal" ou "de Natal", ou duas versões, o nascimento de Cristo é o ponto de convergência
simplesmente "Natal", e o para a escolha do topónimo NATAL.
que fez tradição ao longo
dos séculos. No entanto, o
topónimo "natal" só veio a
aparecer em 1614, no Auto de Pernambuco, Alexandre Geográfico do Rio Grande
de Repartição das Terras do de Moura, aos 21 de do Norte, Natal,
Rio Grande do Norte, fevereiro de 1614. (Revista Typographia do Instituto.
realizado pelo capitão-mor do Instituto Histórico e vol.VII, n ° l e 2 ) .
z
Q
i

limites da Cidade A Igreja de Santo


conhecida como Igreja
Galo (acima) e a Cruz
Bica (abaixo) definiam
limites de Natal

M cidade de Natal foi fundada no pequeno


/ % planalto que se estende da atual Praça das
Mães, na avenida Junqueira Aires (hoje,
3«»Câmara Cascudo), ate a descida do Baldo, o
"chão firme e elevado 'Vaque se refere Varnhagen e o
lspaço ocupado, hoje, pela Praça André de
Albuquerque, Palácio Potengi, Catedral Velha e a Igreja
de Santo António. No espaço atualmente ocupado
pela Praça André de Albuquefgue, realizou-se o ato de
fundação da cidade.
itivos limites da s i assinalados
pôr uzes de madeira postas nas extremidades do
sítio ido. Costume da cristandade medieval
trazi s nossos colonizadores. Após estudar a
tas cruzes, o historiador Nestor Lima
guinte conclusão: upma era a Cruz que
ndor do planalto, ao Norte, provavelmente,
[em da lagos ia Campina,(....), no lugar onde
i levanta o p acete da Assembleia Legislativa",
víestor Lima se refere é o prédio
onde atuaímei iciona a OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil- Secção do RN), na avenida ]
Câmara Cascudo, vizinho à Praça das Mães. l
Continua o citado para o viaduto e o prédio Marcos Formiga, em 19 de
historiador: "Dela dão da COSERN, no ponto agosto de 1983.
notícias varias pessoas que onde as ruas Santo António Há mais de 100 anos
a alcançaram e ainda e Voluntários da Pátria se que, no dia 3 de maio, fiéis
vivem; dela se originou o encontram com a rua devotos vêm para o local
nome de rua da Cruz, que é Padre Pinto. A última da Santa Cruz da Bica
atualmente a ladeira, parte restauração feita no local rezar o terço, louvar a
sul da avenida Junqueira foi realizada pelo prefeito Deus e pagar promessas.
Aires, por trás daquele
edifício, rua de que fala o
Presidente Henrique
Pereira de Lucena, quando
refere que a mandou calçar, O governo da Cidade
na extensão de trinta
braças, pela importância de No início, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte e de
480$000, Essa Cruz, porém,
Natal era exercido pelos capitães-mores. Provavelmente, por volta de
desapareceu, do mesmo
modo que o nome da 1611, começou a cidade a ser governada pelo Senado da Câmara.
antiga rua. Dizemos provavelmente, porque suas origens são obscuras. Segundo
"A outra ainda existe, Câmara Cascudo, em 1611, Dom Diogo de Menezes e Siqueira,
embora em fragmentos: e a
Governador Geral do Brasil, "deu os rudimentos de uma organização
Santa Cruz da Bica, em cujo
caixilho, renovado há municipal ao Rio Grande do Norte, criando e fazendo prover os
poucos anos, estão cargos de Juiz, um vereador, um escrivão da Câmara e um
guardados os fragmentos da procurador dos indígenas". (Cascudo, Luís da Câmara - 1955:58).
primeira Cruz que Com a invasão holandesa, o Senado da Câmara foi naturalmente
provavelmente ali plantou o
substituído pelas instituições flamengas.Todavia, após a expulsão dos
destemido fundador da
nossa urbe". holandeses ocorrida em 1654, o Senado da Câmara foi restaurado
Verdade é que ela em 16 de abril de 1662 e governou Natal ate 1828, quando foram
estava colocada um pouco criadas as Câmaras Municipais. Os homens-bons elegiam os membros
mais abaixo da encosta sul
do Senado da Câmara em número de cinco ou seis. Por várias vezes,
da área urbana, quase à
margem do rio da este Senado governou o Estado, quando se dava a vacância do cargo
Passagem, ou do Baldo, de capítão-mor ou por outros motivos.
mas, segundo um A Câmara Municipal governou Natal entre os anos de 1828 e
testemunho fidedigno, foi 1889, quando, por causa da implantação do regime republicano, ela
trasladada para o seu atual
pedestal, quando foi da foi substituída pela Intendência Municipal. Os intendentes eram
construção dos serviços da eleitos periodicamente pelo voto popular. Por sua vez, o Presidente
"empresa d'água de da Intendência Municipal era eleito indiretamente pelos intendentes.
Natal", deBogois & A Revolução de 1930 mudou o nome de Presidente da lntendènc : =
Leinhardt". (Lima, Xesror -
para Prefeito Municipal.
1927:109-110)
A referência atualizada
da Santa Cruz da Bica é a
seguinte: está localizada na
descida do Baldo, olhando
Ruínas da Cadeia Velha
(acima) Casa do
^Estudante, ex-Hospital da
Caridade (à direita) e
;Palácio do Governo, hoje
Palácio da Cultura (abaixo)

te
•'-,;= ' *-' .•

• • l j B ff -i &

islE i^R^E ^^BE ^^w i^w


Três séculos
de lentidão

Século XVII
nalisando os com mercados Castelo de Keulen, em
primeiros anos de abundantes e fáceis." homenagem ao diretor da
vida da cidade de (Cascudo, Luís da Câmara Companhia das índias
«Natal, o - 2a edição, 1980 : 37). Ocidentais, que viera na
historiador Câmara Cascudo Em 1630, preparando a expedição conquistadora.
inferiu: "Os trinta e quatro invasão holandesa, o Não construíram, em Natal,
anos de cidade, 1599-1633, espião flamengo, Adriano nada de importante para a
foram lentos, difíceis, Verdonck descreveu Natal posteridade da nossa
paupérrimos. Interessava ao assim:"....a cidade tem civilização. Deixaram, sim,
Rei o forte, a situação cerca de trinta ou quarenta um legado de exploração, de
estratégica, o ponto militar casas de palha e barro; mas massacres religiosos e
de defensão territorial. os habitantes mais destruição. Ao se retirarem
Raríssimas mulheres abastados dos arredores em 1654, destruíram a
brancas. Cidade apenas no vivem habitualmente nos capelinha primitiva,
nome. Uma capelinha de seus sítios e vêm à cidade existente na Praça André de
taipa forrada de palhas e os aos domingos para ouvir Albuquerque e tocaram fogo
moradores viviam missa; os habitantes de nos seus livros.
espalhados nos sítios ao toda essa jurisdição, num Somente em 1660, o Padre
redor, plantando roças, raio de seis a nove milhas, Leonardo Tavares construiu
caçando, colhendo frutos não excedem a 120 ou 130 outra Igreja, de taipa, no
nos tabuleiros, pouca homens, na maioria mesmo local, à sua custa. No
criação de gado que se camponeses ignorantes e final do século, foi construída
desenvolveria grosseiros". (Medeiros uma Igreja de pedra e
vertiginosamente a ponto Filho, Olavo de -1991:64) alvenaria. Adiante,
de ter 20.000 cabeças em Os holandeses abordaremos
1633, e as pescarias, de governaram o Rio Grande detalhadamente este assunto.
anzol, rede e curral. Havia o do Norte entre 12 de É oportuno lembrar que
sal colhido nas marinhas do dezembro de 1633 até oito anos depois da retirada
outro lado do rio, Igapó, fevereiro de 1654. Durante dos holandeses, Natal elegeu
Aldeia Velha, antigas estes 21 anos, eles mudaram o primeiro Senado da
malocas dos potiguares. O o nome de Natal para Nova Câmara aos 16 de abril de
peixe salgado e seco foi Amsterdã, assim como a 1662, conforme relata
um dos produtos mais Fortaleza dos Reis Magos Câmara Cascudo na História
rapidamente divulgados, recebeu a denominação de da Cidade do Natal, p.6i T
A Praça André de
Albuquerque, na década "fle
20, tendo ap^eftiro o
primeíffi^coreto

z
-g
-s Século XVIII
áT^ omente no século Santo António e da onde funcionou, no térreo, o
XVIII foi que Natal Conceição." (1991:70). Senado da Câmara, e no
t começou a adquirir Foi ao longo do século andar superior, a Cadeia da
::llb«ss^ uma fisionomia XVIII que se ergueram três Cidade. Este edifício, que
urbana tradicional. Os dois Igrejas, sendo duas na ficava na Praça André de
bairros primitivos - Cidade Cidade Alta e uma na Albuquerque, foi construído
Alta e Ribeira - se Ribeira. Verdade é que, na entre 1767 e 1770. (Vide
consolidaram no seu espaço Cidade Alta, em 1714, foi Medeiros Filho, Olavo de -
geográfico, surgindo, assim, construída a Igreja de Nossa Op. cit. p.131).
as primeiras ruas. Segundo o Senhora do Rosário dos Quanto à população de
historiador Olavo de Pretos e a Igreja de Santo Natal, no século XVIII, os
Medeiros Filho, "até o ano de António, em 1763. Na dados são escassos. Informa
1700, parece ter havido duas Ribeira, foi erguida a Igreja Câmara Cascudo que em
ruas em Natal: a primeira do Senhor Bom Jesus das 1759, a cidade tinha
corresponde à que fica Dores, em 1774. Além destas "quatrocentas braças de
defronte à Matriz, na atual edificações religiosas, comprido e de largo
Praça André de Albuquerque; memórias vivas de um cinquenta, com cento e
a segunda, o caminho do rio passado distante, no século dezoito casas." História da
de beber água, as atuais ruas XVIII foi construído o prédio Cidade do Natal, p.75).
Século XIX
urante o século
XIX, Natal avança
lentamente no
seu perfil
urbano. Por causa da
Guerra de Secessão (1860-
65) nos Estados Unidos, a
Inglaterra deixou de
comprar algodão a este
país, e voltou-se para os
mercados do Egito e do
Brasil. Este fato contribuiu
enormemente para a
expansão da cotonicultura
potiguar, permitindo que se
realizasse um aumento
significativo nas rendas do
Estado. Este crescimento
económico possibilitou
efetivamente a realização
de maiores investimentos
na capital potiguar, tanto
pelo poder público quanto algumas casas de cada lado. : O Cemitério do
pela iniciativa privada. Em Alecrim, o primeiro
A cidade não é calçada em de Natal, onde estão sepultados
linhas gerais, mostraremos parte alguma e anda-se personagens ilustres da
agora como a paisagem sobre uma areia solta, o que história da cidade, como o
urbana de Natal se ex-governador Pedro Velho.
obrigou alguns habitantes a
enriqueceu ao longo deste
fazerem calçadas de tijolos
século XIX.
ante suas moradas. Esse
Em primeiro lugar,
lugar contará seiscentos ou
vejamos a descrição que o século XIX, a paisagem
setecentos habitantes." E urbana de Natal começou
viajante inglês, Henry Koster
sobre a Ribeira, esta foi a sua a se enriquecer com vários
nos deixou dos dois bairros
da Cidade, quando por aqui impressão: "É situada nas prédios. Assim, em 1856, o
passou em 1810. Sobre a margens do rio e as casas Presidente da Província,
Cidade Alta, escreveu ele: ocupam as ribas meridionais António Bernardo de
"Consiste numa praça e não há, entre elas e o rio, Passos, para socorrer as
cercada de residências, senão a largura da rua. Essa vítimas da cólera-morbos,
rendo apenas o pavimento parte pode conter duzentos que estava dizimando a
lérreo, as Igrejas que são a trezentos moradores e aí cidade, construiu o prédio
três, o palácio, a Câmara e residem os negociantes do do Hospital de Caridade
prisão. Três ruas Rio Grande. "(Koster, Henry - imóvel ocupado
desembocam nesia quadra 2a:1980:76). atualmente pela Casa do
mas elas não possuem senão A partir de meados do Estudante. T
E para sepultar os mortos Fiscal, hoje Memorial Teatro Carlos Gomes,
desta epidemia, ele Câmara Cascudo. chamado atualmente Teatro
construiu o Cemitério do No último quartel do Alberto Maranhão.
Alecrim, inaugurando-o em século XLX, o bairro da Finalmente, em 1897, a
abril de 1856. Ribeira enriquece a sua Intendência Municipal de
Três anos depois, surgiu paisagem com a construção Natal realizou um censo
na paisagem da cidade o do prédio da Estação da demográfico. Pessoas
edifício do velho Atheneu Great Western, inaugurado idóneas e de prestígio na
Norte Rio-Grandense, na em 28 de setembro de 1881. cidade fizeram a coleta dos
então Rua da Cruz, depois, Em 1889, o porto começou a dados nos dois bairros de
aAvenida Junqueira Aires e deixar de ser um sonho para Natal, isto é, Cidade Alta e
hoje, Largo Junqueira Aires. A ser uma realidade. Ribeira, assim como nos
obra foi iniciada pelo Em julho de 1888, Juvino arrabaldes. O resultado final,
Presidente da Província, Barreto inaugurou a Fábrica para toda a capital, foi o
Frederico Augusto Pamplona Natal, de fiação e tecidos, a seguinte: Natal possuía
e concluída pelo Presidente primeira do Rio Grande do 2.470 casas e 10.392
Nunes Gonçalves. Norte, situada no local onde habitantes. Apenas, 55
Em 1869, a Ribeira atualmente existe o prédio estrangeiros moravam na
ganhou o Cais 10 de Junho, da Caixa Económica Federal. cidade dos Reis Magos;
chamado depois de "Cais E do outro lado, em data 58,27% de toda a população
Pedro de Barros" e, no aproximada a esta, ele eram analfabetas e, apenas,
século XX, "Cais Tavares de ergueu a sua residência, 784 habitantes eram de cor
Lira". Em 1872, o Presidente casarão enorme, onde, negra. (A República -14 de
da Província, dr. Olinto José desde 1936, funciona o março de 1897).
Meira concluiu a construção Colégio Salesiano. Mas, segundo Câmara
do Palácio do Tesouro, atual Visando proporcionar a Cascudo, "no último ano do
Palácio Potengi, na Cidade Natal um status de século XIX Natal estava com
Alta. Também neste bairro, metrópole, o governador a população de 16.056."
em 1875, foi construído o Joaquim Ferreira Chaves, em (Cascudo, Luís da Câmara -
prédio da Delegacia 1896, iniciou a construção do 2a:1980:76).

Casarão do Colégio Salesiano


São José, onde antes residiu
'uvino Barreto

Você também pode gostar