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T R A V E S S IA

ESTADO E MIGRAÇÕES NO BRASIL


A notações p a ra u m a h is tó ria
das p o lític a s m ig ra tó ria s
Carlos B. Vainer*

I. INTRODUÇÃO1 experiência de importação de trabalhado­ des traços dessa trajetória, acreditamos


res suíços e alemães promovida pelo Se­ ser possível identificar grandes estraté­
Qualquer olhar medianamente atento nador Vergueiro, que terminou com o le­ gias de mobilização e localização de po­
lançado sobre a história pátria bastará para vante dos parceiros da Fazenda Ibicaba pulações que marcaram diferentes perío­
evidenciar a importância das políticas m i­ m o stro u os lim ite s da te n ta tiv a de dos da história das políticas migratórias, a
gratórias2 . Não seria exagero afirmar que mobilização maciça de braços livres en­ saber:
a história da constituição e evolução do quanto perdurasse o trabalho escravo. - Transição para o trabalho livre e a
Estado brasileiro tem sido, também, em É quando se anuncia a aproximação do estratégia de transformação do es­
boa medida, a história de conceitos, insti­ fim da escravidão, porém, que a questão cravo liberto em proletário moder­
tuições e práticas voltadas para equacionar da mobilização do trabalho começa a se no, que se inaugura com o fim do tráfi­
e administrar a mobilização e localização colocar de maneira premente - e, em certa co e vai até os anos 80 do século pas­
de populações. medida, angustiante. Como assegurar bra­ sado;
Dessa perspectiva, não deixa de ser sin­ ços para a lavoura? Como substituir o tra­
tomático que em 31 de março de 1824, balho escravo? - Substituição de escravo por imi­
menos de uma semana após a promulga­ Inicia-se, então, longa história de in­ grantes e a estratégia imigrantista-
ção da primeira constituição brasileira, que terv en ção do E stado no pro cesso de agrarista, que dominou a ação estatal
pode ser tomada como símbolo do próprio mobilização e localização territoriais do do último quartel do século XIX até o
nascimento do estado nacional, D. Pedro I trabalho. Na tentativa de recuperar os gran­ final dos anos 40, com o interregno da
tenha assinado a Decisão n° 80, de 31 de
março, mandando demarcar as terras da
colônia alemã São Leopoldo, ‘‘a qual não A - Parceria a la Vergueiro
pode deixar de ser reconhecida de utili­
Em 1845, Nicolau Vergueiro trouxe a primeira leva de parceiros - 64 famílias alemãs - para
dade para este Império, pela superior van­
sua fazenda Ibicaba, em Limeira. Com o fim do tráfico, em 1850, Vergueiro intensificou sua
tagem de se empregar gente branca livre ação de intermediário, recrutando, transportando e “entregando” parceiros a vários fazen­
e industriosa, tanto nas artes quanto na deiros. Em 1857, entre alemães e suíços, havia sob contrato de parceria no Oeste Paulista
agricultura’’ (apud. Demoro, 1960, p. 32). mais de 1.000 suíços, segundo Dean (1977, p. 99) e mais de 2.000, segundo Furtado (2000,
A partir de então, várias e sistemáticas fo­ p. 131).
ram as iniciativas para povoar com gente Recrutado na Europa, o imigrante assinava contrato comprometendo-se a não abandonar a
branca livre e industriosa as vastas terras fazenda até ressarcir o fazendeiro pelos custos de transporte, alimentação e demais adianta­
de um estranho e esquizofrênico Império mentos feitos para sua instalação; o rigor do regime de parceria, os preços cobrados no
tropical, que acalentava o sonho de trans- barracão, os descontos, e mil outros expedientes, porém, acabavam inviabilizando a quita­
ção e transformavam, na prática, o parceiro supostamente livre num escravo por dívida -
formar-se numa nação branca enquanto
dívida pela qual, por sinal, a família era solidária caso falecesse seu chefe.
sugava sofregamente o sobretrabalho dos
Em 1857, os parceiros se revoltaram. O levante, e as denúncias de escravidão branca reper­
escravos negros. cutiram na Europa, criando clima francamente desfavorável à emigração para o Brasil.
Mas a própria escravidão, por muito Cantões suíços e estados alemães simplesmente proibiram o recrutamento e embarque para
tempo, constituiu obstáculo notável a que o Brasil em seus territórios.
o Brasil acolhesse os braços que as revo­ Sobre o sistema de “parceria” do Senador Vergueiro, ver o extraordinário relato do pastor
luções agrícola e industrial iam tornando Thomas Davatz (1941).
excedentários na Europa. O fracasso da

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Segunda Guerra Mundial, quando ga­ várias décadas é apenas o indicador das O esforço para controlar os desloca­
nhou destaque a mobilização do traba­ dificuldades para vencer a resistência dos mentos de libertos e escravos fugidos e,
lhador nacional; donos de escravos e para encontrar os ca­ desta forma, mobilizar seu trabalho, apa­
minhos que propiciassem a emergência de recia de maneira explícita na Lei Saraiva-
- Migrações internas e a estratégia
novas relações de trabalho e a constitui­ Cotegipe, dita dos Sexagenários, de 1885,
de gestão regional dos excedentes, apenas três anos antes da abolição.
ção de um contingente de trabalhadores
que predominou nas décadas de 50 e
livres.
60; “E domicílio obrigado p or tempo de
Nos anos 1860, o tráfico interprovincial cinco anos, contados da data da liber­
- Integração nacional e a estratégia vai favorecer as zonas mais prósperas, tação do liberto pelo Fundo de eman­
de racionalização territorial dos flu­ onde se expande a cafeicultura. Mas não cipação, o município onde tiver sido
xos migratórios, que caracterizou as faltarão iniciativas para submeter homens alforriado, exceto o das capitais. ”
concepções e projetos da ditadura m i­ livres ao trabalho forçado. Conrad infor­
“O que se ausentar de seu domicílio
litar; ma que, no Ceará, “as autoridades gover­
será considerado vagabundo e apre­
namentais forçaram pessoas livres a tra­
- Fragmentação territorial, violên­ endido pela polícia para ser emprega­
balharem de graça nas plantações de al­
cia e a estratégia da gestão social dos do em trabalhos públicos ou colônias
godão e de açúcar" e que, em 1858, “mui­
migrantes, que parece m arcar a etapa tos dos habitantes dos quilombos da pro­ agrícolas. ”
neo-liberal. víncia paraense eram homens livres que “< ...> qualquer liberto encontrado
Embora apresentadas acima como su­ tinham fugido para as florestas para evi­ sem ocupação será obrigado a empre-
cessivas, em muitos momentos as diferen­ tar o trabalho forçado" (Conrad, 1975, p. gar-se ou a contratar seus serviços no
tes estratégias coexistiram - algumas ve­ 59). prazo que lhe fo r marcado pela Polí­
zes harmoniosamente, outras de forma con­ Estes mecanismos, porém, apenas adi­ cia. ” (Lei Saraiva-Cotegipe, art. 3Ü, §§
traditória, expressando tanto a com plexi­ avam o enfrentamento da questão central 13, 14 e 17).
dade do próprio processo histórico quanto colocada historicamente pela transição da E como se isso não fosse suficiente, a
a heterogeneidade de interesses das dife­ escravidão para o trabalho livre: como in­ lei ainda obrigava os libertos a prestarem
rentes frações dominantes que, ao longo duzir o ex-escravo, uma vez liberto, a con­ 3 anos de serviços gratuitos a seus ex-pro­
do período analisado, têm compartilhado tinuar trabalhando para o antigo senhor? prietários ... a título de indenização!
e disputado o poder de Estado. As sessões Na sociedade escravista só eram percebi­
Os grandes proprietários e senhores de
seguintes buscarão caracterizar cada uma dos como livres aqueles que não precisas­
escravos, 35 anos após o fim do tráfico,
destas estratégias e os períodos em que sem trabalhar; como explicar agora, aos re-
continuavam temerosos de que o fim da
foram dominantes, registrando, sempre de cém-libertos, que deveríam trabalhar para
escravidão se transformasse em fim de todo
maneira bastante sucinta, as principais po­ um patrão?
e qualquer trabalho. Em consulta realiza­
líticas, entendidas como compostas simul­ Para convencê-los de que, com a tran­ da junto às Câmaras Municipais da Pro­
taneamente por concepções hegemônicas sição, homens livres também deveríam tra­ víncia de São Paulo, em 1886, as 23 que
e intervenções governamentais específicas. balhar - pelo menos aqueles que, além de responderam se manifestaram, todas, con­
ju rid ic a m en te livres, fossem tam bém trárias à abolição imediata (Dean, 1977,
despossuídos dos meios de produção e sub­ p. 138).
II. TRANSIÇÃO PARA O sistência - a legislação vai progressiva­
Antônio Prado explicava que os pro­
TRABALHO LIVRE E A ESTRA­ mente im por aos libertos uma série de
prietários absolutamente não eram contra
constrangimentos. A Lei do Ventre Livre,
TÉGIA DE TRANSFORMAÇÃO a abolição, mas precisariam conservar seus
de 1871, é pródiga em mecanismos que
DO ESCRAVO LIBERTO escravos até poder substituí-los por novos
restringem sua liberdade - libertos sim, li­
trabalhadores; em vista do que defendia um
EM PROLETÃRIO MODERNO vres não. Assim, por exemplo, os ingênu­
programa cujas etapas seriam: libertação
(OU FORÇANDO EX-ESCRAVOS os (filhos livres de mães escravas) poderí­
dos escravos da Província de São Paulo
am ser guardados pelos proprietários e sub­
AO TRABALHO LIVRE) até 1890, transformação do sistema de tra­
metidos à disciplina da fazenda até a ida­
balho escravo em outro que garantisse a
de de 21 anos3. Quanto àqueles que obti­
permanência dos libertos no trabalho pelo
A interrupção do tráfico negreiro anun­ vessem a alforria, graças à distribuição de
menos até que se pudesse dar o salto para
cio u o p rin c íp io do fim do re g im e recursos do Fundo de Emancipação cria­
o trabalho livre incondicional (Conrad,
escravista que, no Brasil, sempre foi de­ do pela lei ou mesmo graças a seu próprio
1975, p.277).
pendente do aporte de novos contingentes pecúlio, tinham como alternativa perma­
- “sem negros não há Pernambuco, e sem necerem a serviço de seus ex-proprietári­ O fato é que a abolição pretendia li­
Angola não há negros”, assinalava de for­ os por 5 anos ou serem considerados vadi­ bertar os escravos da escravidão, mas não
ma lapidar o jesuíta Antônio Vieira. Que o os e submetidos a trabalhos forçados em do trabalho para outrem; antes pelo con­
fim propriam ente dito tenha tardado de obras públicas. trário, desde a Lei de Terras, de 1850, pre-

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B - Atirados à liberdade pela “desarticulação brusca” da escravidão

Durante as primeiras décadas do século XX, muitos serão aqueles para quem nossos problemas teriam resultado da excessiva
rapidez com que se dera a abolição: "Quanto à crise de braços que nos vem perseguindo desde longos anos ela nada mais é do
que um rebento legítimo da impericia, da inabilidade de nossos homens e uma consequência do desvio por que passou a força de
nosso destino. Ora, como foi feita a Abolição? <...> tal assunto foi sempre abordado pelo lado sentimental, em vez de se
preparar a massa escrava convenientemente para o trabalho livre. Houve, realmente, muito tempo para que fizessem da pobre
massa escrava, entregue ao mais completo analfabetismo, inconsciente, animalisada, um punhado de indivíduos trabalhadores.
Mas o que se fez foi coisa muito diversa e depois de alguns anos de propaganda em que prevaleceu o sentimentalismo piegas e
lá se foi tudo: os pobres negros, inteiramente desaparelhados, foram singularmente atirados à liberdade, que para eles nada
mais era do que o não trabalhar, a miséria e o vício” (Niemeyer, 1920, p. 42 - grifo nosso).
Vargas compartilhou deste diagnóstico, como se percebe na passagem seguinte: “A propaganda abolicionista <...> restringiu-se,
exclusivamente, à libertação dos cativos, sem cogitar do grave problema da substituição, pela atividade livre, do trabalho
escravo, sobre o qual repousava a nossa economia. Muitas regiões do país, outrora opulentas, ainda hoje sentem, decadentes, as
consequências nefastas dessa desarticulação brusca” (Discurso de Getúlio Vargas, pronunciado na Bahia, em 1933; apud.
Neiva, 1942, p. 31 - grifo nosso).
Estes discursos parecem ecoar as preocupações expressas por um ministro do Império, que havia advertido que a abolição "pre­
cipitaria o Brasil em um abismo profundo e infinito <...> Pelo menos meio milhão de pessoas seriam perdidas para a força de
trabalho nacional <...> alguns escravos libertados trabalhariam por salários, mas muitos outros tornar-se-iam vagabundos ou
iriam para as cidades” (apud Conrad, 1975, p. 97). Não devemos esquecer que a cidade era vista como improdutiva e seus
habitantes, quase todos, como ociosos e inúteis para a produção da riqueza da nação, conforme perspectiva fisiocrática que
predominou por muito tempo entre nossas elites dominantes, segundo a qual o Brasil tinha vocação essencialmente agrícola.

tendeu-se evitar qualquer forma de acesso entanto, iria projetar-se como sombra so­ distantes ou nas fronteiras das áreas domi­
à propriedade da terra que não fosse atra­ bre o futuro dos negros e dos trabalhado­ nadas pelo latifúndio começam a se inten­
vés da compra, deixando claro que o tra­ res nacionais de modo geral, empurrados sificar. Já em 1878 são duras e claramente
balho devia submeter-se à propriedade, ao pelos próximos 30 ou 40 anos para o sub- direcionadas as críticas lançadas às colô­
in v és de su b m e tê -la à su a ló g ic a proletariado, para as camadas inferiores da nias instituídas segundo o modelo de São
reprodutiva. classe trabalhadora, e definitivamente ex­ Leopoldo (RS) e Nova Friburgo (RJ):
Mas, como é sabido, a m aciça fuga de cluídos da propriedade da terra.
“A té hoje não se pode tirar dos núcle­
escravos assim como a mobilização cres­
III. SUBSTITUIÇÃO DE ESCRA­ os coloniais os benefícios esperados:
cente do que havia de opinião pública aca­
eles nem abasteceram os mercados
baram precipitando a abolição. E a subs­ VOS POR IMIGRANTES E A com os produtos da pequena agricul­
tituição do trabalho do negro escravo não ESTRATÉGIA IMIGRANTISTA- tura, nem forneceram braços para a
vai ser feita, principalmente, pelo trabalho preparação, lim peza e colheita dos
AGRARISTA (OU BRAÇOS
do liberto ... mas por um outro contingen­ fru to s da grande agricultura. Na opi­
te de trabalhadores que o Estado brasilei­ BRANCOS PARA A LAVOURA)
nião dos técnicos a natureza dos solos
ro havia começado a recrutar, transportar
não se adapta à cultura de cereais e a
e localizar: o trabalhador branco e livre da 3.1. A Solução Imigrantista
distância em que se encontram as co­
Europa. Ao apagar das luzes do Império, face lônias dos centros agrícolas torna di­
O fracasso da experiência de imigra­ às dificuldades para engajar os ex-escra­ fícil a oferta de trabalho a salários mó­
ção a la Vergueiro, o fracasso dos esfor­ vos e os hom en s liv re s da ordem dicos ” (“Relatório com que o Exmo.
ços de mobilização da população negra li­ escravocrata nos duros trabalhos das gran­ Sr. D. João Baptista Pereira, Presiden­
berta, o continuado e permanente compro­ des fazendas, o sonho do povoamento com te da Província de São Paulo passou a
misso das elites dominantes com o sonho brancos industriosos torna-se necessidade Administração ao 2o Vice-Presidente
do branqueamento da nação, tudo concor­ prática4. Exmo. Sr. Barão de Três Rios”; apud.
reu para que, progressivamente, se fosse Se por várias décadas o Império viu a Martins, 1973, p. 58 - grifo nosso)5.
construindo a estratégia im igrantista, e imigração sobretudo como mecanismo que
agrarista, que assegurará, por m uitos e permitiría ocupar o território com brancos, A implantação da estratégia de suprir
muitos anos, a permanência da plantation bem como incrementar a produção alimen­ a grande lavoura com o braço imigrante
exportadora e da hegemonia da cafeicul- tar complementar à monocultura exporta­ implicava numa requalificação do discur­
tura na economia e na sociedade brasilei­ dora do latifúndio, cada vez mais se vai so sobre o lugar do europeu branco na so­
ras. Solução para os grandes proprietários impor a necessidade de braços para a la­ ciedade: ao invés de pequeno produtor in­
de terra, sobretudo de São Paulo, que, no voura. As críticas aos núcleos coloniais dependente, braço para a grande lavoura.

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modo tão amplo e radical no ritmo normal
do livre jogo das forças do mercado ... de
C - Da imigração colonizadora à imigração-trabalho
trabalho!
Martins (1973) expõe de maneira esclarecedora a progressiva reconfiguração das estratégi­
as políticas e ideológicas que sustentaram a passagem da imigração colonizadora para a 3.2. O Compromisso Republicano com
imigração de braços. O autor cita, por exemplo, Antonio Prado, que propunha que o imi­ o Imigrantismo-Agrarista
grante fizesse um "estágiopreparatório” na grande fazenda antes de se aventurar na aqui­
A República rapidamente deixou cla­
sição de sua própria pequena propriedade. “A experiência demonstrou, ao menos na pro­
víncia de São Paulo, que a colocação dos migrantes nas fazendas é o melhor sistema, ro seu compromisso em dar continuidade
pois após três ou quatro anos, a família assim colocada, se é sóbria e laboriosa, terá à estratégia inaugurada ao final dos anos
acumulado um pecúlio suficiente para a compra de uma terra, onde seu trabalho será 1870. Assim como o Império nasceu ins­
tanto mais frutífero que ela já estará aclimatada, conhecerá a língua nacional e terá talando colonos brancos nas terras livres,
adquirido as noções especiais necesárias à agricultura, que não vêm senão da prática e a República nascente edita regulamenta­
são tão diferentes na Europa e no Brasil" (apud. Martins, 1973, p.110 - grifo nosso). ção do Serviço de Introdução e Localiza­
Nessa nova etapa, o Estado interveio para evitar a repetição da experiência Vergueiro, na ção de Imigrantes, afirmando sua opção
qual, segundo Martins, não se realizara plenamente a dissociação entre força de trabalho e racista e branqueadora.
trabalhador, favorecendo, “na mente do fazendeiro, as concepções próprias do regime
escravista" (Martins, 1973, p. 54). No lugar dos contratos assinados na Europa, “o gover­ “Artigo 10 - É inteiramente livre a en­
no tomava o assunto em mãos <...> pagando a viagem dos migrantes para o Brasil" trada, nos portos da República, dos in­
(Prado Junior, 1974, p. 192). Como destacou Dean, "qualquer cálculo da viabilidade do divíduos aptos para o trabalho, que
sistema da grande lavoura depois da abolição da escravatura deve partir dessefato espan­ não se acharem sujeitos à ação crimi­
toso: não foi ela que pagou pela substituição de braços, e sim a população inteira, inclusi­ nal do seu país, excetuados os indíge­
ve os libertos" (Dean, 1977, p. 152)7. nas da Asia ou da A frica9, que somen­
___________________________________________________________ te mediante autorização do Congres­
so Nacional poderão ser admitidos de
acordo com as condições que forem
E enquanto na Europa nossos agentes con­ para a estação mais próxima daquela
estipuladas” (Decreto n. 528, de 28/
sulares distribuíam prospectos anuncian­ fazenda, onde já o aguardava o f a ­
06/1890 - grifo nosso)10.
do a abundância de terra e as amenidades zendeiro ou seu preposto para receber
climáticas do país, aqui se montava a es­ e tomar posse de seu novo trabalha­ T ra b a lh a d o r, m o rig e ra d o e
trutura logística para conduzir os ¡migra­ dor" (Prado Júnior, 1977, p. 240)6. eugenicamente apto a contribuir com a for­
dos ao devido lugar: as fazendas. mação do povo brasileiro: eis o imigrado
São Paulo, que entre 1882 e 1885 ha­
ideal que emerge do conjunto dos debates
“Os imigrantes, que chegavam em gru­ via acolhido anualmente, em média, 4.800
e políticas a respeito da imigração, da ocu­
pos numerosos, eram depois de desem­ estrangeiros, assistiu a um crescimento
pação do território, da oferta de trabalho.
barcados em Santos, im ediatam ente vertiginoso da imigração: 9.500 em 1886,
Neste ambiente cultural e político, a
fechados e trancados nos vagões da 32.100 em 1887. Nos três anos seguintes,
grandiosa tarefa da constituição do povo e
companhia de estrada de ferro. O trem o ingresso médio anual foi de 68.500 pes­
da nacionalidade, verdadeiro processo de
que os conduzia para São Paulo (e do soas. O número de imigrantes subiu de
etnogênese cuja responsabilidade o Esta­
qual tinham a oportunidade de adm i­ 120.000, entre 1851-1860, para 1.125.000,
do se auto-atribuiu", foi concebida como
rar as belezas da Serra do Mar, como na última década do século. (Cano, 1983,
um esforço para atender, simultaneamente
afirma um depoimento apologético da p. 48).
a três ordens de questões (ou necessida­
imigração subvencionada), deposita­ Ao final de alguns anos o Estado bra­
des):
va-os diretamente no pátio da Hospe­ sileiro havia conseguido conduzir a tran­
daria dos Imigrantes, que pensada­ sição ao trabalho livre através de uma - a necessidade econômica, isto é, de
mente se localizava à margem dos tri­ dispendiosa, sistemática e complexa inter­ braços adestrados e disciplinados;
lhos da S.P.R., hoje Estada de Ferro venção que envolvia propaganda, recruta­ - a necessidade eugênica, isto é, de do­
Santos-Jundiaí. Durante sua estadia mento, embarque, acolhida e distribuição ses crescentes de sangue branco;
na capital, os imigrantes alojados na de migrantes. E assim constituiu-se o exér­ - a necessidade nacional, isto é, de
hospedaria não podiam afasta r-se c ito de tra b a lh a d o re s ap to s que construção de um povo nacionalmente
dela, e a í perm aneciam como numa viabilizaram tanto a continuação da expan­ unificado e integrado sob padrões cul­
verdadeira prisão. Uma vez determi­ são cafeeira quanto o primeiro surto urba­ turais homogêneos.
nado o destino do imigrante, a fa ze n ­ no-industrial do país*. Não deixa de cons­ A razão de Estado expressa-se, pois,
da para a qual fo ra destinado (assun­ tituir um paradoxo que um Estado que pro­ idealmente, como a síntese da razão eco­
to em que ele não era consultado) era fessava o credo liberal, lido nos clássicos nômica, da razão racial e da razão cultu-
novamente embarcado na própria es­ ingleses e aprendido na prática com os co­ ral/ideológica. Quando a razão econômi­
tação da Hospedaria; e mais uma vez, merciantes e banqueiros da velha ilha, não ca (necessidade de braços) se impõe de
sob estreita vigilância, transportado se sentisse constrangido de intervir de forma absoluta e sem restrições, os demais

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objetivos da política im igratória podem adoção. gração e colonização <...> O proble­
ficar comprometidos. E este o sentido da Já desde o início do século Silvio ma da interação do colono na nossa
crítica às políticas vigentes que se lê na Romero havia declarado guerra aberta con­ sociedade, a sua incorporação à na­
Plataforma da Aliança Liberal, crítica que tra as colônias alemãs, kystos ethnicos, que, cionalidade como elemento plástico e
se dirige sobretudo aos paulistas, defenso­ segundo ele e, mais tarde, Oliveira Vianna, constitutivo, bem como o problema da
res decididos da imigração japonesa: apenas contribuíam para reforçar os laços sua n a c io n a liza ç ã o , da sua
do imigrante com a pátria de origem. A abrasileiração, identificando-o com os
“Durante muitos anos encaramos a
lu ta de R o m ero c o n tra os k y sto s ideais e tendências da nossa civiliza­
imigração exclusivamente, sob os seus
germ ânicos, que poderiam suscitar um ção - nada disto nos preocupava"
aspectos imediatos. E oportuno entrar
Zanzibar sul-americano, assim como a ba­ (MTIC, 1936, p. XVIII).
a obedecer ao critério étnico, subme­
talha de Miguel Couto e Xavier de Olivei­ O imigrante, cujo amor ao trabalho,
tendo a solução do problema do povo­
ra contra a ameaça de mandchurização das disciplina e eugenia haviam sido exalta­
amento às conveniências fundamentais
colônias nipônicas, ambas ilustram a pre­ dos como salvação da pátria, aparecia,
da nacionalidade ” (apud Neiva, 1942,
sença de argumentos geopolíticos na luta ag o ra, à luz da p ro b le m á tic a
p. 29)'2.
contra o que viam como ameaça à nacio­ assimilacionista, como grande ameaça a
Mas para entender em todas as suas nalidade e à própria integridade territorial esta mesma pátria. Desconhecedor de nos­
facetas as concepções que informaram a do país (cf. Romero, 1906; Reis e Faria, sos costumes, fiel a outros Estados, o
estratégia imigrantista-agrarista que domi­ 1924; Couto, 1942; Oliveira, 1937). imigrante era ainda mais perigoso
nou as políticas migratórias brasileiras até, A p a rtir de 30, o d isc u rso quando adepto do anarquismo ou socia­
pelo menos, os anos 50, é necessário aten­ assimilacionista vai ganhar grande impul­ lismo, ideologias dissolventes completa­
tar para o conceito fundamental de assi­ so, ancorado num a retórica patriótica mente estranhas à índole pacífica e cordata
milação, que estrutura e unifica, ideal e centralizadora e autoritária, que alardeia de nosso povo. Para protegermo-nos des­
praticamente, o processo de construção da os riscos representados pelo alienígena. tes males, seleção rigorosa e assimilação
nacionalidade ao qual o imigrante vinha, Oliveira Vianna13, brilhante arauto da fir­ eram os remédios, e as leis e políticas, a
ou pelo menos deveria ter vindo, integrar- me intervenção estatal para assegurar a partir dos anos 30, vão procurar assegurar
se. arianização de nossa população e a defesa sua eficácia.
da nacionalidade, vai responsabilizar o li­ Os apaixonados debates acerca da imi­
Não basta trazer o europeu, trabalha­
beralism o da Prim eira R epública pelo gração amarela, sobretudo durante a As­
dor, branco, explorando simultaneamente
surgimento dos kystos ethnicos, denunci- sembléia Constituinte de 1933/3414, são
suas duas potencialidades mágicas: fazer
ando-o pela abdicação de qualquer políti­ extraordinariamente esclarecedores da re­
frutificar a grande plantação latifundiária
ca assimilacionista: lação ambígua, quando não contraditória,
e fazer proliferar a gente branca de nossa
terra. E necessário integrá-lo à nacionali­ “Outrora, sob o liberalismo da velha entre a razão econômica e a perspectiva
dade, torná-lo solidário e fiel ao país de Constituição e das nossas leis de imi­ assimilacionista - seja em sua dimensão

D - O japonês: bom trabalhador, estrangeiro inassimilável

Para ilustrar o que eram consideradas as virtudes “econômicas” do japonês, bastam duas citações.
“<.. .> não há quem negue as qualidades de caráter, as aptidões de trabalho, a moralidade de costumes, as normas de discipli­
na, os sentimentos profundos de respeito às leis, o acatamento às instituições, o afastamento sistemático às lutas da política
nacional, que singularizam o povo japonês" (Clóvis de Carvalho, Sub-Diretor do Departamento Estadual do Trabalho de São
Paulo; apud Lobo, 1935, p. 101).
“Qual é o auxiliar de fazendeiro paulista que resiste, tal como o faz o japonês, às medidas impostas periodicamente pela
economia brasileira, determinando preços baixos e proibição de exportação de café, o que representa muitas vezes a impossibi­
lidade de pagamento dos colonos agricultores por parte dos fazendeiros ? Colonos estrangeiros, de pá em punho, fizeram em São
Paulo os fazendeiros passar momentos difíceis em 1930 e 1931, enquanto mesmo entre as suas dificuldades, sorriam os colonos
japoneses, o que justifica plenamente a defesa destes por parte da agricultura paulista, em especial pela Sociedade Rural de São
Paulo e principalmente pelo Povo Paulista" (Lobo, 1935, p. 35).
Do lado oposto, vale citar Vianna, segundo o qual o japonês era indesejável porque "é como o enxofre: insolúvel” (Vianna, 1934,
p. 209). Mais completo é o diagnóstico do médico e constituinte Xavier de Oliveira: "O amarelo é indesejável porque é inassimilável
<...> Se ele é inassimilável, sob o ponto de vista da antropologia propriamente, mais ainda o é de maneira integral, do ponto de
vista do seu psiquismo. Isto como uma característica de seu normo-tipo racial e, mais até, por sua própria constituição intra-
psíquica, sem esquecer, nem pôr de lado, as razões mais profundas, diría, de seu misticismo religioso, mesclado com o fanatismo
patriótico” (Oliveira, 1937, p. 29).

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estritamente étnica, seja, sobretudo, na for­ Oeste. pal alvo do esforço governam ental de
ma dominante de razão nacional. Isto por­ mobilização para o trabalho. A Marcha
que o japonês foi visto e representado A crise dos anos 30 chegou a abalar para Oeste, que pretendeu implantar, e
como, simultaneamente, o melhor traba­ muitas das convicções até então arraiga­ implantou, algumas colônias com trabalha­
lhador dentre os que se podia importar e o das. Surpreendente, por exemplo, foi de­ dores nacionais, assim como a Batalha da
mais inassimilável de todos os estrangei­ parar com desemprego maciço111 num país Borracha, constituíram duas importantes
ros - o mais estrangeiro dos estrangeiros. que sempre havia sido pensado como ame­ ações governamentais, que marcam este
Necessário e perigoso, o japonês apa­ açado pela escassez de braços. Marcante, interregno em que a mobilização interna
rece como portador de todos os atributos, igualmente, a retórica em defesa do traba­ supera a imigração na pauta de ações go­
positivos e negativos, comuns, em diferen­ lhador nacional, através da qual o Gover­ vernamentais.
tes graus, a todos os estrangeiros. Neste no Provisório tentou estabelecer pontes A Batalha da Borracha foi resultado
sentido, o debate acerca da imigração ja ­ com um proletariado urbano que, mesmo direto dos Acordos de Washington, que
ponesa sintetiza o sentido e as contradi­ após as derrotas das grandes greves de consagraram o ingresso do Brasil na Se­
ções de uma estratégia imigrantista que, 1917 e 1919, permanecia sob forte influ­ gunda Guerra, ao lado dos Aliados. Em 3
simultaneamente: (a) desqualificava o na­ ê n c ia de an arq u istas e so c ia lista s, e de março de 1942 o Brasil se comprome­
cional enquanto trabalhador para justificar crescentemente do Partido Comunista, fun­ teu formalmente a aumentar sua produção
a im ig ra ç ã o e s tra n g e ira , e, (b) dado em 1922. de borracha, matéria prima estratégica cujo
desqualificava o imigrante enquanto es­ As medidas efetivamente restritivas à fornecimento estava comprometido pela
tra n g e iro , p a ra ju s tif ic a r m e d id a s imigração, porém, foram rapidamente le­ guerra no Pacífico. A Batalha da Borra­
discriminatórias15. Neste contexto ideoló­ vantadas após a superação dos momentos cha, parte do esforço brasileiro de guerra,
gico estruturou-se o discurso da constru­ mais agudos que se seguiram à crise. Tan­ d e v e ria p ro m o v er, com este fim , a
ção do trabalho disciplinado, da confor­ to o Governo Constitucional de Vargas reativação dos seringais amazônicos.
mação da nacionalidade e da constituição quanto o Estado Novo continuaram aca­ Já no início de 1941, uma missão de
de um povo homogeneizado sob a égide lentando e buscando im plem entar uma estudos americana havia estimado que se­
de uma cultura nacional que, no mais das política de fomento à imigração, voltada ria necessário um incremento de 100.000
vezes, não era senão a imagem colonizada ainda e sempre para abastecer de braços a seringueiros para atingir o objetivo de
de elites que sempre se quiseram européi­ agricultura19. A medida, no entanto, em que 100.000 toneladas suplementares de bor­
as e modernas. avançavam os anos 30 e, sobretudo, a par­ racha, seringueiros que, segundo o relató­
A vitória do partido anti-nipônico no tir da conflagração da Segunda Guerra, os rio então produzido, deveriam ser trazidos
debate constitucional ficou inscrita na Car­ fluxos praticamente ficaram interrompidos. do Nordeste, exigindo vultosos investimen­
ta de 1934, sob a forma do dispositivo de Paradoxo de um Estado que permanecia tos em transporte fluvial, centros de recep­
quotas16, que submeteu o ingresso de es­ c o m p ro m e tid o com a e stra té g ia ção, depósitos de alim entos e outros
trangeiros ao “limite de dois p o r cento imigrantista (e agrarista), mas que se via im plem entos, assistên cia m édica, etc
sobre o número total dos respectivos na­ impossibilitado de implementá-la, por ra­ (Dean, 1989, p.138).
cionais fixados no Brasil durante os últi­ zões completamente fora de seu controle. S u b o rd in a d a à C o o rd en ação de
mos cinquenta a n o s ” (C onstituição de A este sub-período, que se configura Mobilização Econômica, responsável pe­
1934, art. 121, § 6 )17. claramente a partir de 1938 e 1939, cha­ las atividades econômicas diretamente re­
mo de interregno: redescoberta das virtu­ lacionadas ao esforço de guerra, a monta­
3.3. Interregno: a M obilização do Tra­ des do trabalhador nacional que, por um gem da operação, conduzida em moldes
balhador N acional e a M archa para determinado lapso, passará a ser o princi­ militares, como o próprio nome indica,

E - A Legislação de 1934

Após um período em que praticamente se suspendeu emergencialmente a imigração em vista do desemprego e da crise urbana e
rural, importantes alterações foram feitas na legislação, sendo de destacar que, no campo das migrações como em tantos outros,
assistiu-se a uma dramática concentração de competências no governo central.
A nova legislação veio, porém, consagrar a preocupação com a criação de um forte e centralizado aparato legal manifestamente
voltado para a seleção eugênica, moral e política dos imigrantes. Assim, os Decretos-lei n° 24.215, de 9/5/1934, e nü 24.258, de
16/5/1934, determinarão normas bem mais rigorosas que a legislação até então vigente (Decreto nfi 4.247, de 6/1/1921) na defini­
ção dos indesejáveis: ficaram proibidos de imigrar os cegos, aleijados, portadores de doenças incuráveis ou contagiosas, bem
como os portadores "de conduta manifestamente nociva à ordem pública ou à segurança nacional”. Igualmente rígidos e detalhistas
eram os dispositivos através dos quais se tentava assegurar que os imigrantes se dirigiríam para a agricultura, reiterando desta
forma o já referido agrarismo característico da estratégia imigrantista.

20 - Travessia / Ja neiro - A bril / 00


F - Os Soldados da Borracha

"Em fevereiro de 1943 o governo brasileiro transformou o recrutamento de seringueiros defora da região numa operação quase
militar, contratando-os por dois anos, pagando adiantamentos, prometendo salários-família e fornecendo transporte. Aí condi­
ções de transporte eram péssimas; os serviços médicos, supostamente destinados aos seringueiros, centralizavam-se em Manaus,
Belém e cidades menores; a entrega de suprimentos deixava muito a desejar. E os salários-família se atrasavam ou nunca
chegavam. A imigração total de seringueiros foi registrada de maneira inadequada, mas tem sido estimada em 32.000 pessoas ”
(Dean, 1989, p. 142).

Outras estimativas falam em 60.000 nordestinos levados à Amazônia. O próprio Dean, em outra passagem de seu livro, faz
referência a denúncias surgidas na Assembléia Constituinte, após a queda do Estado Novo, de que teriam morrido entre 17.000 a
20.000 nordestinos, “perda maior do que a sofrida pela Força Expedicionária Brasileira na Itália” (Dean, 1989, p. 151).

ocorreu em seguida a intensa seca no ser­ os quais se constitui o discurso e o projeto Mas esta geopolítica instaura uma pers­
tão nordestino. Os retirantes e outros eram, da Marcha para Oeste, e que examinare­ pectiva que, a partir de então, constituirá
recrutados com grandes promessas. Em mos muito brevemente. elemento fundamental das estratégias es­
seguida, eram transportados por vapores Desde 1930, mas sobretudo a partir de tatais de organização territorial e gestão de
que, muitos deles, subiam diretamente o 1937, com o Estado Novo, instalou-se no fluxos migratórios: o espaço vazio pode
rio Amazonas para distribuir pelos serin­ poder uma perspectiva autoritária na qual acolher excedentes de população que pres­
gais os valorosos e patrióticos soldados da o pensamento geopolítico desempenhou sionam o latifúndio em zonas de ocupação
borracha. Incríveis problemas de logística papel nada desprezível. A passagem se­ já consolidada.
e também graves problemas sanitários fo­ guinte revela de maneira plena a adequa­
ram enfrentados, sendo numerosos os sol­ ção que se fez do conceito de espaço vital, “< ...> o programa “Rumo ao O este”
dados da borracha mortos em combate e tão caro à geopolítica nazista, numa situa­ é o reatamento da campanha dos cons­
os que desertaram o front. ção de grandes espaços com baixas densi­ trutores da nacionalidade, dos bandei­
Tão ou mais significativa do esforço dades demográficas: ra n te s e do s se rta n ista s, com a
de mobilização do trabalhador nacional no integração dos modernos processos de
interregno imposto pela guerra à estraté­ “< ...> o sentido legítimo do nosso cultura. Precisam os prom over esta
gia imigrantista foi a M archa para Oeste. imperialismo é crescer dentro de nós arrancada, sob todos os aspectos e
Seria difícil exagerar a importância que a mesmos e levar as nossas fronteiras com todos os métodos, afim de supri­
Marcha para Oeste teve no projeto políti­ econômicas até o limite das fronteiras mirmos os vácuos demográficos do
co-ideológico do Estado Novo. Ocupação políticas, fazendo assim com que todo nosso território e fazerm os com que as
do território nacional e exploração das o Brasil prospere harmoniosamente ” fronteiras econômicas coincidam com
nossas riquezas, de um lado, valorização e (Discurso proferido em 18/11/1939, as fronteiras políticas. Eis o nosso im­
educação do trabalhador nacional, de ou­ apud Vargas, A nova política do Bra­ perialism o. Não am bicionam os um
tro lado, constituíram os dois eixos sobre sil). palmo de território que não seja nos-

G - Colônias Agrícolas Também para os Nacionais

“Não se pode dizer que a Marcha para o Oeste tenha consistido num programa de governo, no sentido de ter reunido um
conjunto articulado de medidas e políticas. Na verdade, uma das eficácias do lema residia no fato de que, ao tratar da
Marcha de forma abrangente, dispensava a apresentação de medidas coerentes e coordenadas, permitindo que se associas­
se a posteriori à Marcha iniciativas governamentais que poderíam ter sido adotadas independentemente dela, ou ainda que
se previssem realizações nem sempre cumpridas. A medida mais completa de fato adotada pelo Estado Novo com o sentido
de concretizar a Marcha para o Oeste foi a criação das colônias agrícolas nacionais, em fevereiro de 1941 pelo Decreto-lei
nü 3059” (Azevedo, 1985, p. 51). Em 1940, foram criadas a Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG) e a do Amazonas.
No ano seguinte, decretou-se a criação da colônia de Monte Alegre, no Pará, e a de Barra do Corda, no Maranhão. Até o final
do Estado Novo foram ainda criadas mais três: em 1943, General Osório, no Paraná, e Dourados, no então Território Federal
de Ponta Porã (Mato Grosso do Sul); em 1944, a de Oeiras, no Piauí.
O caráter amplo conferido pelo Governo e seus propagandistas ao conceito mesmo de Marcha para o Oeste permitiu-lhes, em
várias ocasiões, associar-lhe a Batalha da Borracha.

Travessia / Janeiro - Abril / 00 - 21


so, mas temos um expansionismo, que
é o de crescermos dentro das nossas
próprias fronteiras ” (Improviso, 8/08/ H - A Marcha para Oeste Inaugurou a Estratégia de Ocupação da
1940, apud Vargas, As diretrizes da Fronteira como Mecanismo de Preservação do Latifúndio
nova política do Brasil). “<...> a tese de pequena propriedade apareceu no discurso dos governantes e ideólogos
Mas, nos anos 30, prevalecia ainda uma do Estado, mas não ligada a uma reforma efetiva do regime de exploração da terra e sim à
visão que considerava o trabalhador naci­ ocupação de novas áreas e, menos explicitamente, ao descongestionamento de áreas onde
onal inapto para o trabalho sistemático. A grassavam o desemprego e as tensões sociais que ameaçavam a ordem vigente (cidades e
certas áreas agrícolas da faixa litorânea). Não se cogitava um retalhamento do latifúndio,
M archa para Oeste, com seu projeto de
mas sim de uma política de colonização e imigração que deslocasse a população desocu­
implantar colônias agrícolas com trabalha­ pada e sem terra para o interior do País, onde havia terras devolutas" (Esterci, 1972, p.
dores nacionais vai, por esta razão, dar-se 28).
por tarefa discipliná-los e educá-los para
o trabalho. Ilustram bem esta perspectiva "Procura-se resolver os problemas do trabalhador nacional, <...> possibilitando-lhe a
posse da terra, sem comprometer a estrutura agrária da faixa litorânea e limítrofe, já
o relatório enviado em 1943 ao M inis­
ocupada” (Dayrell, 1974, p. 69).
tro da Agricultura por José Oliveira
Marques, Diretor da Divisão de Terras e “A alternativa que se apresenta na época é viabilizar a pequena propriedade na fronteira
Colonização, registrando as inspeções re­ desocupada, onde havia terras devolutas, o que vinha equacionar vários problemas: o dos
espaços vazios, o da produção e o do confrontamento direto, que o Governo queria evitar,
alizadas em colônias agrícolas nacionais:
entre o latifúndio e a pequena propriedade, pois nafonteira - e provavelmente só ali - eles
“Obras de engenharia e localização não seriam excedentes <...>” (Câmara Neiva, 1984, p. 58)20.
do colono em um lote demarcado, com
casa de residência, p o r si só, não cons­
tituem a solução do complexo proble­
ma de radicação do homem à gleba territórios, de m aneira a dissolver “O colono irrigante precisa ser mol­
como pequeno proprietário rural, so­ pressões e impedir os desequilíbrios dado, tra b a lh a d o , fo r m a d o nas
bretudo se se tem em conta que a ação locais < ... > não éfácil tarefa recrutar minúcias de qualidades morais e nos
em geral terá de se desenvolver em trabalhadores, retirá-los de suas zonas conhecimentos técnicos para a nova
torno de indivíduos rudes, p o r vezes de origem, a que tanto se apegam , vida. O posto deve ser a verdadeira
de mentalidade nômade, rebelde, por­ para colocá-los numa outra, que se escola profissional agrícola, o quar­
tanto, à disciplina e aos hábitos de supõe previamente estudada, e ainda tel da disciplina do trabalho e a igre­
sedentariedade que a agricultura exi­ mais devidam ente aparelhada para ja da fo rm ação espiritual capaz de
g e ” (apud. Azevedo, 1985, p. 85 - gri­ possibilitar os objetivos visados" (Oli­ tr a n s fo r m a r o ele m e n to in ú til -
fo nosso). veira, 1943, p. 60). flagelado - em célula produtiva - co­
Somente saneado e educado poderia o lono irrigante ” (Duque, 1939, p. 155 —
Educar esse trabalhador é, pois, tam­
trabalhador nacional cum prir as grandio­ grifo nosso).
bém, “despertar-lhe <...> o interesse, in­
sas tarefas civilizatórias a que estava des­ cutindo-lhes hábitos de atividade e de eco­ Face a este tipo de concepção, não sur­
tinado: nomia ” porque, afinal de contas, “a medi­ preende a constatação do geógrafo Waibel,
“Enfraquecido pelas endemias, o nos­ da da utilidade social do homem é dada em seu interessante trabalho sobre a Colô­
so caboclo não tem disposição para o pela sua capacidade de produção" (De­ nia Agrícola Nacional de Goiás: “Ao en­
trabalho e, desajustado, fracassa em partam ento de Im prensa e Propaganda, tra rse na Colônia compreende-se desde
qualquer iniciativa que toma. Impõe- 1941; apud. Azevedo, 1985, p. 92). As­ o primeiro momento que aqui é uma área
se, portanto, a adoção sistemática de sim, a vida nas colônias agrícolas devia de vida planejada” (Waibel, 1979, p. 173).
uma política imigratória e colonizado­ submeter-se a rígidos regulamentos, exi­
ra, econômica e financeira, sanitária gindo-se dos colonos “uma conduta or­ 3.4. A Permanência e Consolidação da
e educativa” (Oliveira, 1943, p. 73). deira e que não perturbe sob nenhum pre­ Estratégia Im igrantista e Racista - o
texto a comunhão geral”, já que “a or­ Conselho de Imigração e Colonização
Mas tal objetivo dependia de um pro­
dem é condição indispensável ao traba­
jeto centralizado, racionalizado, científi­
lho, à prosperidade das nações como dos Nem a drástica redução dos fluxos
co, que submetería à tutela do estado a tra­
indivíduos ” (Departamento de Imprensa e imigratórios, nem as ações governamen­
je tó ria- migratória e moral - do trabalha­
Propaganda, 1941; apud Azevedo, p. 84). tais v o lta d a s p ara a m o b iliz a ç ã o e
dor feito colono.
Mais ou menos à mesma época, defi­ disciplinarização do trabalhador nacional,
“P reo c u p a se hoje o E stado com a nindo como deveríam ser as colônias que nem as crescentes migrações interregionais
política das migrações planificadas, iriam transformar os nordestinos retiran­ - que já se faziam sentir desde a segunda
que é sempre dirigida no sentido de tes em produtivos colonos irrigantes, Du­ metade dos anos 30 e que iriam explodir
reajustaras populações dentro de seus que escrevia: nos anos 50 -, nada disso impediu que,

22 - Travessia / Ja neiro - Abril / 00


durante a guerra, a opção imigrantista per­
manecesse como estratégia central do Es­ I - O C.I.C. e a Trajetória Institucional da Questão (I)Migratória
tado e das classes dominantes brasileiras.
Criado pelo Decreto-Lei ns 406 (4/5/1938), enquanto órgão supraministerial diretamente
As propostas e providências do Con­
subordinado ao Presidente da República - o que denota a importância conferida ao órgão e
selho de Imigração e Colonização mostram
à questão da imigração o Conselho de Imigração e Colonização representa, por assim
de maneira inequívoca a permanência de dizer, o auge da trajetória seguida pela questão imigratória-racial no aparelho de estado.
uma perspectiva que continua conceben­ Entre as competências do C.I.C. destacavam-se as seguintes: fixar a quota anual de cada
do o país como um imenso espaço vazio à nacionalidade (conforme o regime de quotas, que foi preservado na Constituição de 1937),
espera do vitalizador influxo de correntes propor ao presidente diretrizes gerais de política, coordenar os vários ministérios e órgãos
européias brancas, das quais dependería governamentais envolvidos com a seleção, embarque, desembarque, recepção, localização
não apenas o desenvolvimento e a ocupa­ e controle de estrangeiros (Relações Exteriores, Agricutura, Trabalho, Polícia ...).
ção do território, mas a própria constitui­ Em 1954 o C.I.C. vai Ser sucedido pelo Instituto Nacional de Imigração e Colonização, cujo
ção da nacionalidade. Assim, já no relató­ herdeiro será, após o golpe militar de 1964, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma
rio de atividades do primeiro ano de exis­ Agrária, ambos vinculados ao Ministério da Agricultura. Esta trajetória institucional sinali­
tência do C.I.C., lê-se: za as mudanças ocorridas nos anos 50 e 60: a) a questão imigratória se retira de cena, dando
lugar às migrações internas; b) a questão migratória é direta e ¡mediatamente subordinada à
“< ...> a política imigratória que mais questão agrária, conferindo à política de colonização o papel de ersatz de uma reforma
convém é a que tem em vista evitar os agrária nunca realizada - a colonização das fronteiras agrícolas como mecanismo de deslo­
elementos indesejáveis e os de difícil car e reduzir a pressão demográfica e política sobre a estrutura latifundiária das zonas de
assimilação e prom over a entrada de ocupação antiga.
boas correntes imigratórias em harmo­ Nos anos 70, como se verá a seguir, a questão das migrações vai ser separada da questão
nia com a expansão econôm ica do agrária e atribuída ao Ministério do Interior.
país, mas, principalmente, como fa to r
de form ação a nacionalidade ” (C.I.C./
Secretaria do Conselho, 1940, p. 7).
enquanto estavam completamente estanca­ na imigração européia, nada melhor do que
Mais explícita é a manifestação do Pre­ dos os fluxos imigratórios, o principal or­ recuperar a resolução sobre Política de
sidente do C.I.C., na apresentação que fez ganismo estatal responsável por políticas Povoamento aprovada na Conferência das
do primeiro número da Revista de Imigra­ nesta área insistisse em propugnar uma Classes Produtoras (Teresópolis, 1945)2';
ção e Colonização, órgão oficial do Con­ estratégia e uma política que a realidade além de reafirmar a importância de asse­
selho: desafiava abertamente. Esta miopia ideo­ gurar a continuidade e ampliação dos flu­
"Para um país de fra c a densidade lógica, porém, estava longe de constituir xos imigratórios, a resolução indica que as
como o Brasil e que se acha em plena apanágio de uma intelligentsia racista classes produtoras:
form ação, a acessibilidade a certas encastelada no aparelho do estado autori­ “< ...> pensam que deve ser mantida
form as de assimilação étnica e conta­ tário. Para provar a adesão das elites do­ a tra d icio n a l p o lítica de m iscig e­
to social é condição essencial de pro­ minantes a este projeto de nação fundado n a çã o que vem sen d o seg u id a
gresso <...> Nenhum outro país ofe­
rece m a io r e x te n s ã o de te r r a s
colonizáveis pela raça branca do que
o Brasil, abaixo do paralelo 20, <o que J - Imigração e miscigenação: caminho para o branqueamento
destina o país> a absorver uma larga
Arthur Hehl Neiva foi um dos mais prolíficos colaboradores da Revista de Imigração e
imigração européia” (Muniz, 1940, p. Colonização, membro do C.I.C., espécie de porta-voz autorizado das políticas estadonovistas.
4).
“Seria verdadeiramente absurdo pretendermos, num país onde a maioria da população é
Estratégia imigrantista, agrarista e ra­ proveniente do caldeamento mais diverso, e que foi, durante quatro séculos, um dos gran­
cista, expressa também nas palavras do des cadinhos da humanidade, dar-nos ao luxo de ter preconceito de raça. Não, trata-se
vice-presidente do C.I.C. com absoluta cla­ apenas de um desejo de melhoria perfeitamente justificado, emface da incontestável realidde
reza: de que, atualmente, a raça branca domina o mundo pelo mais elevado grau de civilização
a que atingiu" (Neiva, 1945, p. 23).
“Ora, como temos absoluta necessida­
de de importar braços, principalm en­ “É ponto pacífico, hoje, entre nós que só nos convém a imigração branca. Não porque o
te para a lavoura, só uma solução nos Brasil seja racista. Mas porque, se quisermos fazer prosseguir o branqueamento <...>
resta: selecionar as raças que não deveremos auxiliar esta tendência, abrindo nossas portas à imigração branca <...> Isso
não quer dizer que proibamos a entrada de elementos de cor, isoladamente, mesmo em
dêem lugar a fenôm enos de inferiori­
caráter permanente; significa apenas que desejamos ser brancos daqui a alguns séculos e
dade na respectiva descendência ” (Câ­ continuaremos internamente nossa sábia política de miscigenação ampla” (Neiva, 1944,
mara, 1940, p. 661). p. 232).
Não deixa de ser curioso o fato de que

Trav essia / Janeiro - Abril / 00 - 23


multisseculannente pelo Brasil, preser­ regiões mais ricas, vendo nestes proces­ um excedente de população, que fica
vando-se, entretanto as características sos vetores que viriam contribuir para o disponível para outras atividades. Só
de ascendência européia da maioria c re sc im e n to do se to r m o d ern o e, a industrialização poderá absorver
de seu p o v o ” (C o n fe rê n c ia de consequentemente, para a elevação da pro­ esse excedente, proporcionando-lhe
Teresópolis, in Boletim Geográfico, dutividade e do bem estar médios na so­ trabalho e novas oportunidades para
ano III, junho/1945, p. 174). ciedade. Produtivização do trabalho, é sob melhoria de seu padrão de vida. O
Tão arraigadas estiveram estas concep­ esta ótica que serão vistos os novos flu­ êxodo rural será um sintoma de pro­
ções no estado brasileiro que ainda encon­ xos: gresso se tiver como causa real um au­
tramos em mensagem enviada por Jusceli- “A introdução de técnicas mais apri­ mento da produtividade da agricultu­
no Kubitschek ao Congresso a afirmação moradas de lavoura e pecuária <...> ra, paralelo a uma demanda corres­
de que seria necessário promover: conduzem a melhores safras e tendem pondente de trabalho nas indústrias e
a reduzir o volume de mão-de-obra serviços urbanos" (Kubitschek de Oli­
“<.. .> umaprospecção cuidadosa dos veira, 1955, p. 125 - grifo nosso).
vários m ercados potenciais de im i­ correspondente a uma determinada
produção. Cria-se, em consequência, Importante destacar a presença, neste
grantes com o objetivo de aprimorar
discurso, da idéia de que existiría um ex­
cada vez mais no futuro, do ponto de
cedente de população no interior do pró­
vista moral, profissional e eugênico,
prio país, mobilizável. Certamente esta
os c o n tin g e n te s de im ig r a n te s " L - A Sobrevida da Estratégia idéia já havia germinado durante o sub-
(Kubitschek de Oliveira, 1957, p. 388 Imigrantista-Agrarista no Pós- período do interregno, a que nos referimos
- grifo nosso). Guerra na seção anterior; trata-se, porém, agora,
Ecos, sem dúvida, últimos remanescen­ de uma concepção muito mais consistente
Embora inviabilizada pelas novas reali­
tes de uma concepção de nação e de uma e orgânica: a perspectiva que representava
dades nacional e internacional, a estraté­
estratégia imigratória que por 70 anos foi o país como um imenso território vazio,
gia imigrantista agrarista manteve-se pre­
hegemônica no estado brasileiro. sente, quando não dominante, nos 10 cuja população estava por ser constituída
anos que seguiram o fim da Segunda e conformada, cedeu lugar à imagem de
Guerra Mundial. um país, de um território, em que coexisti­
IV . M IG RAÇÕES INTERNAS
Em 1946, Antonio Queiroz Telles, presi­ am espaços cheios - isto é, com exceden­
E A ESTRATÉGIA DA GESTÃO dente da Sociedade Nacional de Agricul­ tes demográficos, espaços vazios (rema­
REGIONAL DOS EXCENDENTES tura, insistia: “Não há dúvida, pois, de nescentes) e espaços em que cresciam as
que São Paulo <...>precisa de quinhen­ necessidades não satisfeitas de mão-de-
tos mil <imigrantes> por ano, dentro de obra. Ora, as migrações internas constitui­
O anacronismo tinha durado demais, e
um lustro. Em seguida, outro tanto, nas ríam, neste novo país, o mecanismo natu­
a miopia ideológica não conseguia mais mesmas proporções, ou maiores, aten-
esconder a verdade de um país atravessa­ ral para o equacionamento harmonioso tan­
dendo-se ao fato de serem agricultores e
do por fluxos internos cada vez mais volu­ to dos problemas das regiões superpovoa-
constituídos em famílias” (Telles, 1946,
mosos. Com os anos 50 impõe-se uma re­ p. 752). das quanto das regiões carentes de bra­
alidade totalmente nova: êxodo rural, in­ ços.
Em 1949, o Presidente do C.I.C., abrin­ E assim como nos anos 40 se sonhava
tensas migrações interregionais. Nos cor­ do os trabalhos da I Conferência Brasi­
redores da Hospedaria dos Imigrantes, em em trazer centenas de milhares de euro­
leira de Imigração e Colonização, em
São Paulo, não se ouvem mais o italiano e peus para São Paulo, nos anos 50 se trata­
Goiânia, exortava: “São meus votos os
o espanhol, agora substituídos pelos sota­ de que nesta assembléia se firme a idéia rá de criar as condições para esvaziar o
ques nordestino e mineiro ... afinal de con­ para ser propagada, de que o Brasil de­ Nordeste de centenas de milhares de ser­
tas, São Paulo, que não pode parar, já ha­ seja tonificarse, erguer- se com o san­ tanejos, e, desta forma, amenizar a crise
via descoberto desde os anos 40 que os gue europeu” (apud. C.I.C., 1949). agrária - ou, dito de outra maneira, a pres­
nordestinos e mineiros, os trabalhadores Em 1954, o Tenente Coronel Menezes são que estas multidões exercem, cada vez
nacionais, podem ser educados/disciplina- Cortes, membro do C.I.C. e representan­ mais fortemente, sobre a estrutura latifun­
dos para o trabalho ... no próprio traba­ te brasileiro na Comissão Mista de Imi­ diária.
lho. gração Italiana, insistia: “Mais do que a “< ...> de imediato a viabilidade de
Estas migrações, que fundam também favor da imigração, somos por seu in­
promover uma corrente imigratória or­
cremento em escala crescente ainda por
o intenso processo de urbanização, são g a n iza d a em d ireçã o ao in te rio r
muitos e muitos anos <...> não resta dú­
saudadas como um sinal de que o progres­ vida que, hoje em dia, o potencial huma­ maranhense e goiano e a outras regi­
so, finalmente, batia à nossa porta. O mo­ no éfato essencial no Poder das Nações ões da periferia do Polígono, onde já
delo desenvolvimentista dualista saudava e que mais do que quantitativamente in­ exista ou esteja em construção uma
com otimismo o enxugamento do campo e flui seu valor qualitativo ” (Cortes, 1954, infra-estrutura de estradas. O Gover­
a transferência de grandes contingentes p. 75). no terá como tarefa delimitar as regi­
populacionais para as cidades e para as ões onde conviría abrir uma frente de

24 - Travessia / Janeiro - A bril / 00


dominantes. A primeira resposta a esse
fa to fo i a criação da SUDENE. No f i ­
nal do governo Kubitschek, a questão
agrária era transformada na Questão
Nordeste. Buscava-se, assim, matizá-
la regionalmente, criar condições para
resolvê-la tecnicamente <e, poderia­
mos acrescentar, demográficamente:».
O problema, que era de confronto de
cla sse s, a p a re c ia com o um
desequilíbrio regional” (M edeiros,
1982, p. 109)22.
Nestes termos, seja do ponto de vista do
projeto desenvolvimentista modernizador,
seja do ponto de vista da preservação do
pacto hegem ônico, construído sobre a
intocabilidade do latifúndio, as migrações
internas apareciam antes como solução do
que como problema.
A reforma agrária poderia ter modifi­
cado o sentido e os rumos do processo his­
F oto: A rq u iv o C E M
tórico? É bastante provável que sim, mas
imigração nordestina, indicaros tipos nos seguintes fatos: a) clima geral de ela foi derrotada. Com o golpe militar, e
de unidade produtiva agropecuária insatisfação; b) criação de ressenti­ so b re tu d o após 64, com o
recomendáveis < ...> , estim ar os cus­ mentos em relação às áreas mais de­ (re)estabelecimento dapax agraria latifun­
tos de translado e de instalação dessa senvolvidas do país; c) aparecimento diária, o planejamento regional vai ofere­
população, indicar o tipo de assistên­ de associações camponesas com vis­ cer o suporte estatal para a passagem a um
cia técnica e financeira que deverá ser tas a resolver o problema imediato do te rritó rio n a cio n al in te g ra d o ,
proporcionada à mesma, sugerir as acesso à terra" (apud. Oliveira, 1981, funcionalizado, submetido a uma centrali­
culturas que devem ser fom entadas, p. 114). zação indiscutível. As regiões, e o Nordes­
indicar a form a de comercialização re­ Como se vê, a configuração de exce­ te, em particular, como observou Oliveira
com endável < ...> o objetivo último dentes populacionais a serem administra­ (1981), são abertas e integradas ... e a
que se tem em vista é transferir da re­ dos através de uma política regional é an­ integração nacional do mercado de traba­
gião semi-árida algum as centenas de tes um fato político que demográfico: é a lho está longe de ser o aspecto menos im­
m ilhares de pessoas, criar nessa re­ pressão dos camponeses sobre o latifún­ portante do processo de integração nacio­
gião uma economia com m enor poten­ dio, o avanço de sua organização e sua in­ nal, ao qual a ditadura militar dará contri­
cial demográfico e mais elevado nível satisfação que recomendam políticas regi­ buição decisiva.
de produtividade, e deslocara frontei­ onais. A transformação da questão agrária
ra agrícola do N o rd e ste ” (GTDN, em questão regional (e, como vimos, em
1959, p. 85 - grifo nosso).
V. INTEGRAÇÃO NACIONAL E
questão migratória, no âmbito da qual se
enfrentaria o problema do “excedente de
A ESTRATÉGIA DA RACIONA­
N ão s e ria e x a g e ro d iz e r que a
SUDENE, em seu nascedouro, foi também população”) foi claramente identificada LIZAÇÃO TERRITORIAL DOS
uma agência voltada para a gestão regio­ por Medeiros: FLUXOS MIGRATÓRIOS
nal de fluxos migratórios. E no primeiro “Com o desenvolvimento das lutas so­
Boletim Econômico da Superintendência, ciais no campo, a questão começou a Se até a metade do século XX a ques­
o P ro c u ra d o r G eral da R e p ú b lic a tomar seus contornos mais caracterís­ tão migratória, enquanto questão de esta­
explicitava claram ente o entendim ento ticos, colocando em jogo o pacto polí­ do, foi dominada pelo binômio raça-tra-
governamental de que esta gestão regio­ tico vigente. Nesse contexto, intensifi- balho, ela foi, também, desde sempre, um
nal de excedentes populacionais constituía caram-se os debates sobre a questão discurso sobre o território. Terras livres,
mecanismo estratégico de controle políti­ ao nível das classes dominantes, num território vazio, estas e outras expressões
co e social: esforço de responder não mais em ter­ permanentemente mantiveram na pauta,
“A crescente pressão demográfica que mos retóricos, mas sim concretamen­ embora nem sempre e necessariamente no
se constata no Nordeste tem suscitado te, à incipiente estruturação de novas centro do debate, a condição americana
problemas sociais e políticos de suma respostas que poderíam romper radi­ da sociedade brasileira23. Vimos como, no
gravidade que podem ser sintetizados calmente com as relações de poder período da Marcha do Oeste, a mobilização

T ravessia / Janeiro - A bril / 00 - 25


do trabalhador nacional foi associada a nômico b ra sileiro” (Presidência da as fronteiras e reduzir os fluxos em dire­
uma retórica de conquista do território. República, 1971, p. 27) ção às Regiões Metropolitanas, favorecen­
Pois é este território que, nos anos 70, dei­ do a descentralização populacional que
É no âmbito, pois, de um movimento
xará de ser simples imagem retórica para deveria acompanhar a descentralização das
geral de centralização e racionalização
se transformar, empiricamente, em escala atividades econômicas. Martine e Camargo
tecnocráticas que se deve pensar o sentido
e unidade da ação do estado central - e e o significado da criação do Ministério chamaram a atenção para a falta de con­
centralizador. sistência das propostas e divergências so­
do Interior, a quem será atribuída a com­
Com efeito, no início dos anos 70, o petência para atuar na área de “radicação bre a distribuição ideal da população, e
padrão de planejamento regional configu­ de populações, ocupação do território e para a “natureza quase intuitiva” de
rado pela SUDENE já cumprira seu pa­ migrações internas" (Decreto-lei nü 200, muitas das diretrizes, tais como, “descen­
pel. Ao lado da pax agraria, imposta a fer­ 1967). tralizar, interiorizar, desconcentrar, ocu­
ro, fogo e m odernização subsidiada do Certamente que a questão agrária/nor- p a r espaços vazios, e tc ” (M artine &
capitalismo agrícola, o crescimento acele­ destina não desapareceu totalmente do ce­ Camargo, 1984, p. 133). O caráter intuiti­
rado da economia e a integração com erci­ nário, como o demonstram o próprio Pro­ vo e pouco fundamentado não impediu que
al, industrial e financeira (G uim arães, grama de Integração Nacional/PIN, que se os tecnocratas de plantão, com a imodéstia
1986) já haviam submetido o Nordeste e o propõe a ‘‘integrar a estratégia de ocupa­ que lhes é característica, pretendessem
conjunto das regiões e economias regio­ ção econômica da Amazônia e a estraté­ “elaborar e manter atualizada uma estraté­
nais à dinâmica nacional da acumulação gia de desenvolvimento do Nordeste, rom­ gia global de distribuição espacial da po­
comandada por São Paulo. A superação do pendo um quadro de soluções limitadas pulação, explicitando as alternativas de
p la n e ja m e n to re g io n a l - e, para ambas as regiões" (Presidência da ocupação territorial e de remanejamento
consequentemente, da estratégia de gestão República, 1970, p. 28), e cujo slogan, lan­ populacional" (MINTER, 1980, p. 13).
regional dos excedentes - não era senão a çado por Garrastazu Médici, parecia eco­ Na verdade, o conjunto da política mi­
expressão da emergência de um novo es­ ar a retórica estadonovista: “Os homens gratória, pensada sistematicamente como
paço econômico e político e de novas con­ sem terra do Nordeste para as terras sem elemento componente de uma estratégia
cepções de território e de ação estatal. homem da Amazônia territorial abrangente, esteve permanente­
0 novo período que se abre será ca­ Mas a questão urbana, sobretudo após mente confrontada a essa necessidade de
racterizado pelo planejamento territorial a publicação dos resultados do censo de formular a imagem de um espaço ideal
nacionalmente integrado. Ao invés de uma 1970, parece impor-se progressivamente: desejado, para a consecução do qual os
perspectiva em que, como à época da cria­ macrocefalia urbana, necessidade de dis­ flu x o s m ig ra tó rio s d ev eriam ser
ção da SUDENE, tinham predominado as tribuir de maneira equilibrada a população reorientados. Martine, de modo perspi­
diferenças e desequilíbrios regionais, agora no território, desenvolvimento das cidades caz, assinalava adequadamente o proble­
vai emergir um olhar de conjunto em que médias, eis os novos conceitos e ideais que ma quando escrevia:
a nova totalidade (nacional) se impõe às se p ro je ta m no te rritó rio , ag o ra
particularidades regionais. Este olhar de “Julgando-se necessário, ou para re­
reconfigurado como espaço unificado e duzir os efeitos negativos da migração,
conjunto perm itirá decom por analítica­ unitário da valorização do capital e da
m ente o território, para recom pô-lo e ou p a ra au m en ta r sua eficiência,
racionalidade técnica. Neste novo contex­ redirecionar os fluxos, então são im­
funcionalizá-lo segundo uma racionalidade to, tudo concorre para a configuração pro­
totalizante e, por que não dizê-lo, totalitá­ prescindíveis algumas diretrizes de que
gressiva de um projeto, em certa medida fluxos devem ser aumentados, diminu­
ria. A política de desenvolvimento regio­ utópico, de racionalização territorial da
nal é substituída pela política de integração ídos, redirigidos, estimulados ou des­
população - ou, se se prefere, racionaliza­ viados. Isto é, para aplicar uma polí­
nacional, composta de infinitos programas ção demográfica do território.
e projetos, pólos e regiões que sistem ati­ tica de racionalização de investim en­
M enos por seus efeitos concretos, e tos e população sobre o território, é
camente enfatizam a necessária subordi­
mais pelos caminhos que tomou e concep­ necessária um a idealização prévia de
nação funcional da região ao todo.
ções que consolidou, a trajetória das polí­ como deveria ser alocada a popula­
0 1Plano Nacional de Desenvolvimen­ ticas m igratórias ao longo dos anos 70 ção sobre o espaço a médio e longo
to não deixa dúvidas que “a estratégia de merece registro, sobretudo porque ainda p ra zo s” (Martine, 1978, p. 32 - grifo
desenvolvimento regional consistirá, espe­ está por ser mais profundamente estuda­ nosso)24.
cialmente, na política de integração em da.
sentido am plo” (Presidência da Repúbli­ Seria possível identificar algumas ca­ C o e re n te com a p reten são
ca, 1971, p. 25), razão pela qual a região, racterísticas que emergem do processo de racionalizadora, o Programa Nacional de
como unidade de planejamento e gestão elaboração que vai conduzir à aprovação, A p o io às M ig raçõ es In tern as vai-se
deve ser repelida: em 1980, do Programa Nacional de Apoio estruturar sobre dois sub-programas com­
“A Política de Integração Nacional às Migrações Internas. Em primeiro lugar, plementares: O SIMI e o SAMI.
< ...> repele a limitação regional, a cabe destacar o consenso mais ou menos O SIM I - Sistema de Informação so­
curto e médio prazos, do processo eco­ universal quanto à necessidade de ocupar bre Migrações Internas - pretendia im-

26 - Travessia / Ja neiro - A bril / 00


M - Anos 70: Trajetória do Programa Nacional de Apoio às Migrações Internas

12/11/1971 - Portaria Interministerial n“ 3345 cria comissão mista MTPS-MINTER-SUDENE-SUDAM, a fim de examinar problemas
concernentes à mão-de-obra e migrações internas.
11/02/1972 - Portaria MINTER na 0001, constitui comissão para “analisar documentos elaborados pelo 1PEA e IBGE para uma pesquisa de
caráter nacional de migrações internas”.
Março/1973 - MINTER prepara o Programa de Trabalho sobre Migrações Internas, documento com plano de pesquisa e diretrizes, de caráter
preliminar, “a serem impressas na condução dos esforços requeridos para a solução dos problemas subjacentes ao fenômeno migratório
nacional”.
5/03/1974 - Convênio MINTER/Ministério do Planejamento para cooperação técnica na área de pesquisas de campo em migrações internas,
com a finalidade de oferecer os elementos indispensáveis à formulação de uma política migratória nacional”.
16/09/1974 - Portaria Interministerial n° 01299, criando a Comissão Executiva Nacional de Migrações Internas (CENMIG).
1974 - Projeto Nacional de Centros de Triagem e Encaminhamento de Migrantes. Versão Preliminar.
Junho/1975 - Primeira versão e discussão do documento “Sistema de Informações sobre Migrações Internas - SIMI”
18/06/1979-Exposição de Motivos na089/79 cria o Grupo de Trabalho sobre Migrações Internas, com representação do MINTER, SEPLAN
e Ministérios da Agricultura, Fazenda, Trabalho, Indústria e Comércio, Saúde e Previdência Social.
5/03/1980 - Aprovação do Programa Nacional de Apoio às Migrações Internas.

plantar, nos principais trajetos e cru­ to, os fixasse no mercado de trabalho. apoio e mecanismos de subsistência à
zamentos migratórios, postos que per­ Nesta ótica, os Centros de Migrantes população potencialmente migrante,
mitissem a agilização da coleta de in­ assum iríam o papel de agentes de lo c a liza d a em áreas de expulsão
form ações sobre “direção, dimensão, redistribuição e capacitação de popu­ demográfica; reorientar os flu xo s m i­
características e consequências dos flu­ lação migrante de acordo com as ne­ gratórios, criando condições para que
xos m igratórios” a fim de fornecer cessidades do mercado de trabalho a mão-de-obra migrante tenha acesso
“subsídios para a ação do governo nes­ (MINTER, 1974, p. 4 - grifo nosso). a oportunidades mais adequadas de
sa área” (MINTER, 1980, p. 26)25. em prego” (MINTER, 1980, p. 5 - gri­
Estes Centros constituíam a base do
segundo sub-programa, o SAMI - Servi­ fo nosso).
Aqui a utopia racionalista e totalitária
parece ter sido levada a extremos, posto ços de Apoio aos Migrantes. Os Centros Embora tenham ficado longe de atin­
que o SIMI fundava-se na suposição de que de T riagem e E n c a m in h a m e n to de gir os objetivos pretendidos, praticamente
seria possível, num país complexo como o Migrantes - CETREMIs deveriam ser im­ limitados às suas funções assistenciais, os
Brasil do anos 70 e 80, nos níveis prevale- plantados em áreas de passagem e atração, CETREMIs se multiplicaram enormemen­
c e n te s de o rg a n iz a ç ã o e c o b e rtu ra sendo algumas unidades vinculadas a gran­ te: em 1979 estavam em funcionamento 33,
territorial do aparato estatal brasileiro, des projetos - Itaipu, Tucuruí, Tubarão, etc no final de 1980 eram 85 e chegaram a 112,
implantar um sistema que: a) coletasse in­ - e a portas de entradas em áreas de fron­ por todo o país, em 198427.
formações de maneira sistemática e per­ teira - Vilhena. No modelo projetado, os Seria muito difícil avaliar se e em que
manente; b) processasse e analisasse estas CETREMIs teriam dupla função: de um medida as políticas territoriais, e migrató­
informações; c) repassasse dados e análi­ lado, prestar assistência aos migrantes (al­ rias em particular, interferiram nos proces­
ses à esfera de tom ada de decisões; d) per­ bergue transitório, documentação, etc); de sos reais de circulação e redistribuição es­
mitisse a tomada de decisões que condu­ outro lado, aplicar diretamente sobre as pacial de populações no período. Ainda
zissem à indução, reorientação ou fomen­ correntes migratórias, ou melhor, sobre os hoje, entre economistas e planejadores re­
to de fluxos migratórios26. Texto datado de migrantes as diretrizes de reorientação de gionais, permanece a controvérsia quanto
1974 é claro na definição do modelo ideal fluxos e de redistribuição territorial de à eficácia e consequências das políticas de
de política migratória a ser buscada: população (por exemplo, recomendando desconcentração industrial levadas acabo
determinadas direções, oferecendo facili­ nos anos 70 e parte dos 80. Tampouco pa­
“< ...> poder-se-ia afirm ar que uma
dades de deslocamento para certos luga­ rece simples medir que parcela dos fluxos
política migratória bem sucedida se­
res, etc). Assim, deveria caber ao SAMI, e para as fronteiras oeste e amazônica ape­
ria aquela que conseguisse racionali­
aos C E T R E M Is com o sua e stru tu ra nas deram continuidade a movimentos
zar os m ovim entos populacionais de
operativa: demográficos já tradicionais, que parcelas
acordo com as diferenças espaciais de
oportunidades de trabalho, e que ca­ "proporcionar apoio e orientação ime­ resultam dos investimentos rodoviários,
pacitasse os migrantes para assumir diata aos migrantes recém-chegados publicitários e institucionais que buscaram
os empregos disponíveis e que, portan­ nos centros urbanos; proporcionar induzir migrações nesta direção. Do mes-

Trav essia / Janeiro - A bril / 0 0 - 2 7


N - A Nova Geografía Regional do Estado Brasileiro nos Anos 70

A simples listagem dos programas e pólos que marcaram a política territorial da ditadura é suficiente para demonstrar o processo
de fragmentação a que foram submetidas as regiões tradicionais.
Programa Especial do Vale do São Francisco, Programa de Desenvolvimento Integrado do Litoral Sul de Santa Catarina, Progra­
ma de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia, Programa de Áreas Irrigadas do Nordeste, Programa Especial de
Desenvolvimento do Pantanal, Programa Especial da Região Geoeconômica de Brasília, Programa Especial de Apoio ao Desen­
volvimento da Região Semi-Árida do Nordeste, Programa de Recuperação Socioeconómica do Nordeste do Paraná, Programa
Especial do Oeste do Paraná, Programa de Desenvolvimento do Cerrado, Programa Especial da Região da Grande Dourados,
Programa Especial do Norte Fluminense, Programa Especial de Desenvolvimento Integrado da Bacia Araguaia-Tocantins, Pro­
grama de Desenvolvimento Regional Integrado do Nordeste de Minas Gerais, Programa Especial de Desenvolvimento do Estado
do Mato Grosso do Sul, Programa Especial de Desenvolvimento do Estado do Mato Grosso, Programa de Desenvolvimento do
Noroeste do Brasil, Programa de Desenvolvimento Integrado do Nordeste de Minas Gerais, e muitos outros mais.

mo modo, quem seria capaz de estimar se mente; de outro lado, foi reduzida a um mismo, que na nova era que se anuncia, a
o crescim ento das cidades m édias e o conjunto de microlocalizações, onde se população excedentária passa a ser per­
arrefecimento do crescimento metropoli­ iam establecendo pólos e grandes projetos cebida como um verdadeiro obstáculo à va­
tano constituem efeitos das políticas ou de investimento. Assim, o terrritório naci­ lorização do território. Não se trata mais
simples afirmação de tendências autôno­ onalmente integrado era, paradoxalmente, de levá-las ao trabalho e produtivizá-las;
mas que se imporiam em quaisquer cir­ muito mais fragmentado que aquele que o trata-se isso sim, de liberar o espaço de uma
cunstâncias? antecedera, como o comprova a miríade população que o ocupa improdutivamen­
Seja como for, não há dúvida de que de p ro g ram as e p ro je to s e p ó los te29, que o imobiliza ou bloqueia. De re­
durante a ditadura militar, o Estado brasi­ microrregionais. Tratava-se, quase sempre, cursos humanos a serem valorizados, a
leiro perseverou e, mesmo, reforçou seu de capturar localizadamente recursos, cap­ população vai progressivamente se trans­
compromisso com uma política m igrató­ tura cujo formato típico será o Grande Pro­ fo rm an d o em c u sto ... cu sto a ser
ria ativa e fortemente dirigista, centraliza­ jeto de Investimento28. contabilizado no orçamento do projeto
da, sim u ltan eam en te in sp ira d a em, e Em alguns casos, os grandes projetos que, ele sim, vai valorizar o território.
inspiradora de, um projeto global de terri­ vão envolver im portantes esforços de O que se assiste na escala do grande
tório e de nação. mobilização de população: atrair mão-de- projeto de investimento é apenas a metá­
obra para a implantação do projeto, mas fora do que começa a acontecer no con­
VI. FRAGMENTAÇÃO também, em muitos casos,
prom over a lim peza de
TERRITORIAL, VIOLÊNCIA E
terreno. Em Itaipu são
A ESTRATÉGIA DA GESTÃO O - “País Não Tem Lugar Para Migrantes”
4 2 .0 0 0 p esso as deslo-
SOCIAL DOS MIGRANTES ocadas compulsoriamen­ Com esta chamada de primeira página, o Jornal do Brasil
(O L LM PAÍS DE EMIGRAÇÃO?) te; no Vale do São Fran­ publicou matéria associando saques e migrações internas,
cisco as barragens expul­ contribuindo, desta maneira, para produzir socialmente a per­
Como observamos na sessão anterior, sam mais de 100.000 ri­ cepção de que a violência na cidade pode, em alguma medi­
beirinhos. Estamos, ago­ da, ser atribuída às migrações e aos migrantes. Por outro lado,
os anos 70 foram também os anos da su­
ra, nos antípodas daque­ a matéria sugere a falta de lugar no país para parcelas de seu
peração do modelo de planejamento regi­
las políticas que, desde o próprio povo.
onal pela abordagem territorial nacional­
mente integrada. Ao repelir as limitações Im pério, passando pela "De todos os pontos do país estão partindo levas de brasi­
regionais, o poder central, autoritário e Marcha para Oeste, mobi­ leiros, atrás de casa e trabalho, mas dificilmente eles serão
centralizador, lançava ao lixo da história lizavam populações para bem recebidos em algum lugar <...> Até Rondônia, que já
ocupar o território; agora, foi eldorado, gastou este ano Cr$ 2 milhões em passagens
as velhas regiões fechadas e instalava no­
podemos dizer que se tra­ para devolver os retirantes às suas regiões <...> O fantas­
vos recortes territoriais.
ma de abril de 1983 - quando a cidade viveu um dos seus
Pode-se dizer que a velha região tradi­ ta de m obilizar popula­
piores momentos com saques e quebra-quebra - começa a
cional - e com ela o velho planejamento ções para desocupar o ter­
voltar <...> Durante o último fim de semana, só na Zona
regional - sofreu um ataque em pinça: de ritório. Leste da cidade, seis supermercadosforam saqueados” (Jor­
um lado, a região foi dissolvida no espaço Pode-se afirmar, sem nal do Brasil, 12/07/1987).
nacional, ao qual se integrou funcional­ qualquer retórica ou eufe­

28 - Travessia / Ja neiro - A bril / 00


junto do território. À medida que avançam ções do Estado brasileiro até, pelo menos, ração, estímulo, direcionamento e de des­
os anos 70, e sobretudo os 80, é o conjun­ 20 anos atrás, parecem não mais ocupar locamentos espaciais de população (cf.
to da relação população-território que co­ qualquer lugar na agenda de políticas pú­ Nota 2).
meça a ser redefinida: literalmente o Bra­ blicas. No limite, assiste-se à multiplica­
sil começa a ser pensado como um país ção de políticas sociais que pretendem VII. COMENTÁRIOS FINAIS
submetido a pressões demográficas - o q ue gerenciar os excedentes populacionais es­
se expressa, inclusive, na mudança da po­ truturais, quase sempre em âmbito locali­ Não deixa de ser paradoxal que um
sição do regime militar acerca do controle zado e através de ações dispersas31. Estado que até a metade do século XX es­
da natalidade. Dentre estas intervenções fragmenta­ teve consagrado a preencher os vazios do
No início dos anos 80, e a partir de das, localizadas e violentas, não se deve território e do mercado de trabalho com a
então, o conceito de espaço vazio é defini­ d e s p re z a r a g e n e ra liz a ç ã o de ações imigração esteja hoje confrontado a exce­
tivamente abandonado como representação su rg id a s em um a in fin id a d e de dentes populacionais aos quais oferece,
do país. Este passa a ser concebido como municipalidades - de cidades médias e simultânea e complementarmente, de um
constituído de um território já ocupado: ter- pequenas, sobretudo - que têm formulado lado, a violência dos deslocamentos com­
se-iam esgotado as fronteiras agrícolas e aplicado políticas ativas de segregação e pulsórios e das políticas municipais de se­
como recurso territorial que, ao longo da fe c h a m e n to do te rritó rio u rb an o a gregação ativa, e de outro lado, políticas
história, havia permitido amenizar e admi­ migrantes, mimetizando processo hoje cor­ sociais que são o substituto caricatural de
nistrar os ataques à estrutura latifundiária rente em escala internacional. Muitas ve­ um projeto nacional de desenvolvimento
e os conflitos fundiários de modo geral'". zes com apoio expressivo da população que há muito deixou de ser preocupação
O conceito de população como recur­ residente, prefeituras têm instalado verda­ das elites dominantes e de sua tecnocracia
so cede progressivamente o lugar ao con­ deiras barreiras à entrada de migrantes em cosmopolita.
ceito de população como ônus - ou custo. busca de emprego, moradia, etc. Em al­ Sem qualquer projeto nacional digno
A transferência, no início do governo g u n s c a so s, isso o co rre de m a n e ira deste nome, no momento atual o Estado
Collor, das migrações internas da esfera do truculenta, seja impedindo que desembar­ brasileiro parece incapaz de ir além de in­
Ministério do Interior para o Ministério da quem nos terminais rodoviários indivídu­ tervenções segmentadas no território, re­
Ação Social sinaliza o último estágio da os cuja aparência denuncia a condição de tomando, na melhor das hipóteses, os gran­
trajetória da questão migratória no âmbito classe e a situação de carência, seja blo­ des projetos localizados voltados para a
do Estado nacional. queando vias de acesso às cidades. Em exploração de recursos territorializados. As
Enquanto isso, os deslocamentos com ­ outros casos, entram em ação assistentes políticas sociais aparecem, então, como o
pulsórios em áreas de implantação de gran­ sociais, fornecendo os chamados passes equivalente universal da incapacidade de
des barragens apenas sinalizam duas ca­ (passagens) para que os indesejáveis sigam formular qualquer perspectiva nacional,
racterísticas marcantes da nova etapa que viagem ou retornem a seus locais de ori­ assim como da ausência de um projeto his­
se abre: a) a fragmentação das ações; b) a gem. tórico capaz de tirar da miséria, senão to­
violência como mecanismo de mobilização E assim, o que à primeira vista poderia dos, pelo menos parcela expressiva daque­
ou ¡mobilização de populações. ser descrito como forma de autogestão les que hoje tornados im produtivos e
Quanto à fragmentação das ações, ela territorial por uma comunidade urbana se excedentários, durante um século foram
indica o que parece ser a definitiva renún­ revela atualização da tendência global de mobilizados com a promessa da integração
cia do Estado central ao estabelecimento controles cada vez mais estritos à livre cir­ e do desenvolvimento.
de estratégias e políticas territoriais em culação dos indivíduos e ao uso da violên­ Assistimos, com enorme perplexidade,
escala nacional. A abdicação, da parte do cia - física e/ou simbólica - para fechar ao que parece ser o desenlace do drama: à
Estado central, de formular políticas naci­ espaços. intensificação dos fluxos de emigração.
onais - inclusive industriais, de emprego, Estamos diante do que poderia ser con­ Muitas vezes são os descendentes de ja ­
etc - que ultrapassem a simples regulação siderado uma política migratória? Pode­ poneses, portugueses, italianos que tentam
monetária e cambial, eis o tema que tem mos enquadrar sob esta designação os des­ a sorte no país de seus avós ou bisavós;
sido abundantemente tratado na literatura lo cam en to s co m p u lsó rio s a que são mas há também os valadarenses em Boston
contemporânea, e que ultrapassa o escopo sumetidas comunidades rurais inteiras para ou Nova Iorque. Quantos serão? E difícil
deste trabalho. Escapa igualmente aos nos­ a implantação de extensos lagos artifici­ saber. O que não nos impede de afirmar
sos objetivos discutir se esta fragmentação ais? E os “fiscais comunitários" que cir­ que os consulados, que há cem anos divul­
te rrito ria l re s u lta de te n d ê n c ia s culavam nos bairros de Gramado, no Rio gavam as virtudes desta terra hospitaleira
irreversíveis impostas pela globalização ou Grande do Sul, identificando os migrantes e rica e eram buscados pelos deserdados
se decorre de opções políticas que não desempregados cuja viagem para fora do das revoluções agrícola e urbano-industri­
contem plam qualquer projeto nacional. m unicípio seria providenciada (Vainer, al dos países europeus e do Japão, hoje são
Para o que nos interessa, destaque-se o fato 1995)? Acreditamos que sim; afinal de frequentados pelos nossos emigrantes, tor­
de que as questões territoriais que, de ma­ contas, elas constituem intervenções explí­ nados imigrantes nos países estrangeiros,
neira tão decisiva, marcaram as concep­ citamente voltadas para a contenção, ge­ deserdados por um desenvolvimento peri-

T ra v e s s ia /J a n e iro - A b r i l / 00 -2 9
férico e dependente, comprometido desde nos das raças de cor preta” (Projeto n9 291, de 28/ estadonovista e/ou por aspectos particulares da
7/1921), de modo a bloquear também o ingresso política governamental, como, por exemplo, o anti-
sempre com a preservação do latifúndio. de negros do sul dos Estados Unidos e das Anti- semitismo (cf., por exemplo, Carneiro, 1988).
Haverá denúncia mais poderosa da reali­ Ihas. 15 - As medidas discriminatórias tornam-se mais
dade de um país que o número crescente 10 - Meio século depois, ao final da Segunda Guer­ rigorosas quando do ingresso do Brasil no bloco
ra Mundial, a República dará provas da perma­ aliado, durante a Segunda Guerra, atingindo, so­
de nômades, candidatos às políticas soci­
nência das mesmas concepções: “Atender-se-á bretudo mas não apenas, italianos, alemães e ja­
ais e à emigração? na admissão dos imigrantes, à necessidade de poneses. Notável, deste ponto de vista, a proibi­
preservar e desenvolver, na composição étni­ ção do uso de línguas estrangeiras em público e a
* Professor do Instituto de Pesquisa e Planejamen­
ca da população, as características mais con­ campanha pela nacionalização da escola como
to Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio venientes da sua ascendência européia, assim mecanismo de imposição da cultura nacional.
de Janeiro - IPPUR/UFRJ. como a defesa do trabalhador nacional" (Decreto- 16 - A primeira proposta para a implantação, entre
lei n9 7.967, de 18/09/1945 - grifo nosso). Ao final nós, do sistema de quotas, espelhado no modelo
de uma guerra que havia levado à derrota a Ale­ norte-americano, foi feita, ao que parece, pelo de­
NOTAS manha hltlerista e seus mitos racistas, não deixa putado Fidelis Reis, no bojo de uma campanha
de ser surpreendente a franqueza com que nossa claramente racista e anti-nipônica. O projeto des­
1 - Na elaboração deste texto utilizamos largamen­ legislação evidencia o racismo de nossa decanta­ te deputado estabelecia a proibição da imigração
te trabalhos anteriores, cuja reiterada referência da democracia racial! negra e restringia a entrada de colonos da raça
foi evitada para não cansar o leitor. Os textos uti­ amarela a “número correspondente a 5% dos in­
11 - Lenharo, em seu excelente trabalho, expres­
lizados foram: Vainer, 1986, 1989, 1990, 1995, divíduos dessa origem existentes no país” (Proje­
sou de maneira feliz o paradoxo de um estado que
2000; Vainer e Azevedo, 1984; Vainer e Araújo, to n9 391, de 22/10/1923).
fala em nome de um povo que se propõe a cons­
1992.
tituir: "O Estado que faz a Nação é projetado como 17 - Um insatisfeito paulista pró-nlpônlco assim
2 - Entendemos que “constitui política migratória seu anterior, capaz de resgatar a brasilidade e se manifestou sobre o sistema: “Na aparência to­
toda política que, de forma explícita e direta, gera confirmá-la” (Lenharo, 1985, p. 66). Já no início dos os povos são atingidos por essa restrição <...>
avaliações, objetivos e práticas relativas à con­ do século, Alberto Torres, enfrentando a questão É evidente o ardil para proibir no Brasil a entrada
tenção, geração, estímulo, direcionamento, geopolítica, havia sublinhado esta onipresença e, de imigrantes japoneses, sabido que o número de
ordenamento e acompanhamento de deslocamen­ em certo sentido, precedência do Estado em rela­ nacionais italianos, portugueses e alemães atinge
tos espaciais"de população (Vainer, 1986, p. 13). ção à sociedade: “Assim como tivemos governo no conjunto a milhões <...>” (Lobo, 1935, p. 70).
3 - Em 1872, a esperança de vida média dos es­ antes de ter povo - Tomé de Souza chegou antes 18 - Há estimativas de que havia no Distrito Fede­
cravos do sexo masculino no Brasil era de 18 anos de qualquer realidade demográfica constante, as­ ral, em 1931, mais de 60.000 desempregados.
e 3 meses (Merrick e Graham, 1979, p. 83). sim como surgiu a chefia do Estado antes de qual­ 19 - A legislação exigia que 80% dos imigrantes
4 - Para uma interessantíssima contribuição para quer órgão de Estado <...> assim fixamos os limi­ de cada nacionalidade, obrigatoriamente de agri­
o entendimento do papel da imlgação na transi­ tes de nosso território nacional antes de habitan­ cultores, fossem localizados no campo.
ção para o trabalho livre, v. Dean, 1977. tes para ele." (Torres, 1978, -. 53). A referência a
5 - Esta opinião certamente não fazia unanimida­ Alberto Torres serve também para destacar um 20 - Ver também Azevedo, 1985.
de, uma vez que eram numerosos os defensores importante inspirador de muitas das idéias espo­ 21 - Realizada sob a égide de Roberto Simonsen,
da pequena agricultura com colonos europeus. Em sadas a partir de 1930, Inclusive através de uma liderança incontestável da indústria, e de modo
1869, Soares escrevia: “Províncias há em que a espécie de clube político e intelectual intitulado So­ mais amplo, da burguesia paulista, a Conferência
produção dos gêneros alimentícios tem um admi­ ciedade dos Amigos de Foto: A rq u ivo C E M
rável progresso nestes últimos anos, e entre ou­ Alberto Torres.
tras citarei as de Santa Catarina e Rio Grande do 12 - Para uma visão de con­
Sul, as que são hoje em dia os principais celeiros junto das concepções domi­
do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, que de­ nantes no Estado Novo, ver
las recebem a maior parte da farinha, milho e fei­ também Neiva, 1949.
jão que consomem, bem como a carne seca" (So­ 13 - Intelectual de destaque,
ares, 1977, p .138). Vlanna foi referência cons­
6 - Hutter (1972) descreve as rígidas normas dis­ tante na polêmica sobre imi­
ciplinares da Hospedaria, que impediam contatos gração, particularm ente
e saídas na cidade de São Paulo. Segundo a au­ nipônica, e assimilação que
tora, houve dois levantes contra estas regras. se travou na Assembléia
7 - Examinando as estatísticas imigratórias, Cortes Constituinte de 1933-1934,
observa: “<...> convém lembrar que os grandes tendo sido também respon­
contingentes observados entre 1887 e 1898 sável pela elaboração do
corresponderam às facilidades de transporte ofe­ ante-projeto de lei da legis­
recidas aos imigrantes e que o grande pico de 1891 lação imigratória pós-Cons-
coincide exatamente com o aumento sensível das tltuinte. Vianna combateu
verbas federais, que passaram a reforçar a políti­ abertamente a imigração ja­
ca de financiamento da Imigração que o Estado ponesa, sob o argumento da
de São Paulo vinha fazendo em prol do custeio inassim ilabilidade dos
das viagens dos imigrantes"{Codes, 1954, p. 18). nipões.
Após destacar que houve um decréscimo a partir 14 - Sobre estes debates,
de 1897, que teria sua explicação na redução drás­ ver Luizetto (1975) de quem
tica dos subsídios, o autor destaca que o “novo divergimos quando sugere
pico imigratório, entre 1908 e 1914, coincide exa­ que, a partir de 1930, o Es­
tamente com o ressurgimento de uma política de tado brasileiro teria abando­
custeio de passagens" (Cortes, 1954, p. 19). nado a perspectiva
8 - Entre 1890 e 1894, ingressaram no Brasil imigrantista e assumido a
600.735 imigrantes. São Paulo recebeu 420.515 efetiva defesa do trabalha­
(70%), dos quais 382.655 (91%) tiveram a imigra­ dor nacional. Posição simi­
ção subsidiada (Merrick & Graham, 1979, p. 125). lar à de Luizetto é defendi­
9 - Em 1921, projeto dos deputados Andrade Be­ da por vários autores que, a
zerra e Cincinato Braga propunha, entre outras coi­ nosso ver, deixaram-se Influ­
sas, a proibição da entrada de “indivíduos huma­ enciar pela retórica

30 - Travessia / Ja neiro - Abril / 00


de Teresópolis representa historicamente uma es­ 27 - E verdade que nem todos estes novos cen­ Carneiro, Maria Luiza Tucci
pécie de manifesto das classes produtoras, as tros foram criados pelo SAMI, já que muitas insti­ (1988) O anti-semitismo na era Vargas:
quais, no momento da redemocratização, unem- tuições assistenciais pré-existentes filiaram-se ao fantasmas de uma geração (1930-1945). São
se em torno a um desenvolvim entism o Programa Nacional de Apoio às Migrações Inter­ Paulo, Brasiliense.
industrializante, em que liberalism o e nas, de modo a concorrer aos recursos C.I.C./Secretaria do Conselho
intervencionismo estatal se combinam de manei­ disponibilizados. Este é o caso, por exemplo, do
(1940) “Primeiro ano de trabalhos do Conselho
ra equilibrada. Prova da importância que lhe era Albergue João XXIII, no Rio de Janeiro, assim
de Imigração e Colonização"; in: Revista de
atribuída, a Política de Imigração foi tema de uma como da antiga Hospedaria dos Imigrantes, em
Imigração e Colonização, ano 1, n* 1.
das 10 sessões da conferência, para a qual sindi­ São Paulo (cf. Vainer, 1982).
catos e confederações patronais de todo o país Cohn, Amélia
28 - O Grande Projeto pode ser um pólo mínero-
puderam submeter propostas. (1976) Crise regional e planejamento (O
metalúrgico, um pólo agro-pecuário, uma hidrelé­
processo de criação da SUDENE). São
22 - No mesmo sentido, ver também Oliveira, 1981; trica de grande porte, um porto. Já vimos como
Camargo, 1981; Cohn, 1976. muitos CETREMIs foram implantados em associ­ Paulo, Perspectiva.
ação direta com alguns destes grandes projetos. Conrad, Robert
23 - Evocamos aqui a noção de via americana de
desenvolvimento do capitalismo, tal como formu­ 29 - Evidentemente esta “improdutividade" é par­ (1975) Os últimos anos da escravatura no
lada por Lenine, que enfatizava, em seu estudo te do diagnóstico dos estudos de viabilidade dos Brasil: 1850-1888. Rio de Janeiro/Brasilia,
sobre os Estados Unidos (1960), a ausência de grandes projetos, que pretendem demonstrar que Civilização Brasileira/INL.
relações feudais e a possibilidade do livre desen­ as populações presentes na área a ser apropria­ Cortes, Geraldo de Menezes
volvimento de uma produção capitalista (farmer) da não são produtivas ... ou são muito atrasadas, (1954) Migração e colonização no Brasil.
na agricultura. A opção pela expressão condição argumento suficiente para justificar sua expulsão. Rio de Janeiro, Presidência da República/
americana - terras livres ao invés do uso da 30 - Como se sabe, a ocupação da fronteira, no Departamento Administrativo do Serviço
noção leninista de via americana deve-se ao fato Centro-Oeste como na Amazônia, ocorreu sob o Público, 1954 (Separata da Revista do Serviço
de que, entre nós, a ocupação do território, a não predomínio da grande propriedade fundiária, o que Público, abril).
ser em algumas franjas ao sul do país (zonas co­ determinou, de maneira muito estrita, tanto a ca­ Couto, Miguel
loniais), foi feita sob a hegemonia do latifúndio. pacidade de absorção demográfica destas exten­ (1942) Seleção social: campanha anti-
24 - Em alguns momentos os documentos oficiais sas áreas como também o agudo conflito fundiário nipônica. Rio de Janeiro. Irmãos Pongetti
parecem deixar escapar uma certa consciência crí­ que lhes é característico. Por outro lado, não há Editores.
tica da parte dos técnicos responsáveis por sua como não associar o chamado “esgotamento das Davatz, Thomas
elaboração quanto à matriz totalitária que subjaz fronteiras" ao recrudescimento dos conflitos agrá­
(1941) Memórias de um colono no Brasil
ao planejam ento centralista-autoritário- rios nas zonas tradicionais de ocupação.
(1850). São Paulo, Martins.
tecnocrático. A passagem seguinte parece-nos 31 - O modelo do Comunidade Solidária, que agên­
reveladora: “Não pretende o Governo controlar, Dayrell, Eliane Gracindo
cias multilateriais, como o Banco Mundial, difun­
rigidamente, mas coordenar o processo de deslo­ dem na América Latina, parece ser hoje paradigma (1974) Colônia Agrícola Nacional de Goiás:
camento populacional. A opção seria um proces­ de ação social: focalização sócio-territorial, que, análise de uma política de colonização na
so de orientação e de esclarecimento <...> a fim longe de pretender encontrar caminhos para um expansão para o oeste. Goiás, UFGO,
de corrigir certos aspectos responsáveis pela ocu­ enfrentamento dos mecanismos que produzem e mimeo.
pação pouco racional do território” (SERFHAU, reproduzem a miséria e os miseráveis, prioriza a Dean, Warren
1974, p. 16). Tentação racionalizadora e vocação criação de instrumentos aptos a gerenciar (1977) Rio Claro: um sistema brasileiro de
totalitárias foram, no entanto, certamente, as ca­ localizadamente situações consideradas críticas. grande lavoura, 1829-1920. Rio de Janeiro,
racterísticas gerais do planejamento estatal neste Paz e Terra.
período, e das políticas migratórias em particular. Dean, Warren
25 - O modelo ideal destes postos era o instalado REFERÊNCIAS (1989) A luta pela borracha no Brasil: um
em Vilhena, entrada de Rondônia, por onde pas­ estudo de história ecológica. São Paulo,
savam praticamente todos os que se dirigiam BIBLIOGRÁFICAS Nobel.
àquela fronteira, permitindo, como numa situação Demoro, Luís
de laboratório, uma espécie de corpo a corpo com Azevedo, Vânia Maria Ramos de
(1960) Coordenação de leis de imigração e
todos os migrantes, que eram obrigados a res­ (1985) Marcha para o Oeste: direito à
colonização. Rio de Janeiro, Instituto Nacional
ponder aos questionários SIMI. propriedade e sujeição do trabalho. Rio de
de Imigração e Colonização.
26 - É curioso como esta utopia totalitária também Janeiro. Dissertação de Mestrado apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em Duque, José Guimarães
esteve presente entre os formuladores de políti­ (1939) “O fomento da produção agrícola"; in:
cas migratórias nos anos 30. Já o Decreto 19.670 Planejamento Urbano e Regional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Boletim do IFOCS, vol. II, n. 2.
de 4/02/1931 encarregara o Departamento Nacio­
Câmara, Major Aristóteles de Lima Esterci, Neide
nal de Povoamento da "organização do Escritório
Oficial de Informações e Colocação de Trabalha­ (1940) “Incompatibilidade étnica"; in: Revista (1972) O mito da democracia no país das
dores e a manutenção de agências públicas nos de Imigração e Colonização, ano I, n9 4. bandeiras (análise simbólica dos discursos
pontos mais convenientes". Mas foi o Decreto-lei Camara Neiva, Ivany sobre imigração e colonização do Estado
n9 3010, de 20/08/1938, que consolidava a legis­ Novo). Rio de Janeiro, (Trabalho apresentado
(1984) O outro lado da colônia:
lação sobre entrada e localização de estrangei­ como conclusão do Curso de Mestrado em
contradições e formas de resistência
ros, que veio detalhar o plano mirabolante, que Antropologia Social do Departamento de
popular na Colônia Agrícola Nacional de
estabelecia caber ao Escritório ‘lazer um boletim Antropologia do Museu Nacional - UFRJ).
Goiás. Brasília. Dissertação de Mestrado
diário de oferta e procura de mão-de-obra e de apresentada ao Programa de Pós-Graduação Furtado, Celso
terras públicas”. Este Escritório receberia informa­ em Sociologia, do Departamento de Ciências (2000) Formação econômica do Brasil. São
ções das repartições oficiais do Estado, dos sindi­ Sociais do Instituto de Ciências Humanas da Paulo, Companhia Editora Nacional.
catos de classe e de particulares referentes a oferta Universidade de Brasília. GTDN/Grupo de Trabalho para o Desenvolvimen­
e condições de trabalho, local de destino, condi­ Camargo, Aspásia de Alcântara to Econômico para o Nordeste
ções de vida, salário, possibilidade de progresso, (1959) Uma política de desenvolvimento
(1981) “A questão agrária: crise de poder e
topografia e clima, garantias oferecidas, bem como econômico para o Nordeste. Rio de Janeiro,
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pedidos individuais para contratar colonos ou tra­ Departamento de Imprensa Nacional.
Sérgio Buarque de (org.). História geral da
balhadores diversos, compra ou arrendamento de
civilização brasileira. São Paulo, Difel, t. Ill, v. 3. Guimarães, Leonardo
terras, colocação de colonos ou trabalhadores as­
salariados, etc. Todo um sistema de corretores de Cano, Wilson (1986) Nordeste: da articulação comercial
terra e de trabalho deveria ser montado para dar ( 1983) Raízes da concentração industrial à integração econômica. Campinas. Tese de
operacionalidade ao Escritório. em São Paulo. São Paulo, T.A. Queiroz. doutoramento apresentada ao Instituto de

Travessia / Janeiro - Abril / 00 - 31


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