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CEM ANOS DE
REPÚBLICA
P472c Pesavento, Sandra Jatahy
Cem anos de República/Sandra Jatahy Pesa
vento. — Porto Alegre: L&PM: EDEL, 1989.
128p.: il. 21x28 cm.

Edição comemorativa ao Centenário da Repú


blica Brasileira.

1. Brasil - História - República. 2. República -


Brasil - História. I. Titulo.

CDD 981.05
CDU 981" 1889/1989"

Catalogação elaborada por Izabel A. Merlo, CRB 10/329.


Sandra Pesavento

CEM ANOS DE
REPÚBLICA

BANCO FINANCIL
FOMENTO COMERCIAL
pNgT~^ tfSfi

Projeto incentivado pela lei 7505/86

ISBN: 85-254-0262-1

projeto e planejamento gráfico: Via Design


projeto editorial; L&PM Editores S/A
revisão: Ana Teresa Cirne Lima, Carlos Pinheiro
Machado, Ester Mambrini e Manfredo
Rottermund

©EDEL, 1989
Todos os direitos reservados.

Impresso no Brasil
Primavera de 1989
Ê Proclamação da Republica
em 1889 atendeu a um desejo
de mudanças nas estruturas
políticas, sociais e econômicas vigentes a
época da Monarquia.
Em cem anos de República,
o Brasil evoluiu em todos os aspectos, sem
contudo consolidar as bases necessárias
à obtenção de um desenvolvimento que
o coloque entre os mais avançados países
do mundo.
O status de país desenvolvido não é
adquirido exclusivamente pela detenção
de altas tecnologias e elevado PIB (Produ
— .. to Interno Bruto), mas também, e princi
palmente, pela estabilidade política, eco
nômica e o atendimento das necessidades
sociais da população. Para atingirmos es
se estágio, muito teremos de mudar. Estas
mudanças, como as pretendidas há cem
anos, exigem consciência, trabalho e sa
crifício de toda Nação.
Há mais de 20 anos a EDEL - EMPRE
SA DE ENGENHARIA S/A acredita no Bra
sil e vem contribuindo no esforço das ne
cessárias transformações, tanto com seu
trabalho, propiciando empregos e criação
de riquezas, como por seu apoio a educa
ção, a arte e a cultura.
Esta obra, pela sua oportunidade e
por seu valor histórico e literário, é parte
deste esforço.
dl

BRASIL, m 00SÉCULO

AlUPLAmAÇÃO DA REPÚBLICA

Entre A Cartola
EAEspãdã
AREPÚBLICA OLIGÁRQUICA

OProgresso
Dentro Da Ordem
ACRISE DOS ANOS VINTE

A Sociedãde
Se Agiu
AREVOLUÇÃO DE TRINTA

Os Anos
De Trãnsiçào
O ESTADO NOVO

A Ditãdurã
POPULISMO, INDÚSTRIA EINFLAÇÃO

Ascensão EQuedã
De Umã Democrãeiã
os MILITARES NO PODER

Os Milãgre
Dã Grãnde Potênciã

nh
Em Aberto

I
E o regime do privilégio está
abolido!
A República está proclamada!
A unidade da Pátria está salva!
Tudo em plena paz.

Eis a eterna glória, a glória sem egual,


d'estegrandepovo que assim realisa o so-
lemne e comovente espetáculo, nunca
d'antespresenciado, de operar no seu sis
tema de governo umaprofunda revolu
ção, incruenta, sem effusão de sangue,
immaculada, em meio do mais expon
tâneo regozijo nacional.
Exemplo único em toda a história, este
que offerece a nossa amada Pátria!

Jornal A Federação, Porto Alegre,


16/11/1889.

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i. •

w
1
p
2roclamadahácemanos, a
República brasileira
^
apresentou-se para os seus
contemporâneos como o regime que via
bilizaria a modernidade no país e que
faria o Brasil acertar o passo com a
história.
A meta do progresso técnico
associava-se à idéia da obtenção de uma
ordem estável que consolidaria a socie
dade do bem-estar. Extinguido o regime
dosprivilégios, ampliando o voto e esten
dendo a participação política ao 'po
vo", a República deixaria no ar uma
promessa de democracia.
Abandonando para trás os velhos
tempos do escravismo, a República trou
xe consigo uma repontuaçãopositiva do
trabalho como atividade digJtificante e
aportou na harmonia social como for
ma de realização do progresso.
Passado um século de implantação
do novo regime, cabe repensara trajetó
ria dopaís e remontar, criticamente, as
vicissitudes da realização dos ideais
de 89.

w
Brasil, fim do século

' 'f...) seria difícil pintar com traços


pronunciados e gerais o caráter
nacional dos brasileiros, tanto
mais difícil porque eles começam
apenas a formar uma nação''
(Maurice Rugendas. Voyage pitto-
resque dans le Brésil, 1835).

vA :! 1,1 i

Víí- ♦ i: ' ífL' V-


;k- >
V
N. o decorrer do século XIX,
o Brasil oferecia um quadro
^ bastante exótico e pitores
co aos viajantes estrangeiros — artistas,
cientistas e escritores — que visitavam
o país.
Do processo de descolonização ini
ciado no fim do século XVIII, que pro
piciara a formação das nações latino-
americanas, resultará a montagem de um
grande império tropical no Brasil.
A fragmentação ocorrida na área de
colonização espanhola, o Brasil ofereceu
n$ o espetáculo da unidade territorial e da
adoção de um regime monárquico, uni
L ;íí,i
tário e centralizado.
A transferência da Corte portugue
sa para o Brasil, no início do século, for
necera o aparato institucional de um rei
no, e a habilidade política da elite colo
nial ganhara para a causa da independên
cia a figura do jovem príncipe D.Pedro,
é.ií-Lí-íTif V /\ ••^i permitindo que a transição brasileira se
1V-J desse da forma mais conservadora pos
h % sível. De pai para filho, mantinha-se a
Caricatura: D.
mesma dinastia e o regime monárquico Pedro II vestido
centralizado. de índio
^hl

Desenho de
Debret. Cena de
li
ratSlggiiiirii

Não se quer dizer que a indepen


dência não se desse sem traumas ou lu
tas. Todo o Primeiro Reinado e a Regên
cia foram marcados pelos esforços de
afirmação da hegemonia do Centro — a
Corte, no Rio de Janeiro — sobre as pro
víncias, defrontando-se as diretrizes cen
tralizadoras e unitárias do Império com
as reivindicações federativas e de des
centralização das regiões periféricas.
Quando teve início o Segundo Rei
nado, em 1840, com a coroação de um
imperador adolescente, aos 15 anos in
completos, o centro já conseguira sufo
car todos os movimentos provinciais
que postulavam maior autonomia e/ou
separação. Tinha início a "pax imperial",
com a supremacia do Riõ de Janeiro so
bre o país.
Os condutores hegemônicos do
processo político — os barões do café
do Vale do Paraíba do Sul — haviam
acertado um consenso com os demais
membros da elite proprietária de terras
r íí-
e de escravos. Legitimava-se a suprema
cia dos cafeicultores, fração agrária mais
poderosa da nação, mas compensava-se
esta situação de preeminência por acor
dos intra-classe: o sistema dual-partidário
permitia o revezamento de conservado-
liberais no ministério, acertava-se
queí)s»iíjteresses fundamentais a preser
var eram aqueles referentes à proprieda
i- làM de (terra e escravos) e mantinha-se o po
vo à margem do processo político, atra
vés de um sistema eleitoral censitário
que só concedia o direito de votar e ser
votado aos cidadãos com determinada
renda.
Estabeleciam-se assim as bases de
uma Monarquia agrária e escravista er
guida sobre o trabalho dos negros, que
exportava para a Europa gêneros tropi-
Fazenda de café cais e consumia produtos estrangeiros in
do Guitité. gleses e franceses. Moda inglesa e vinhos
Jacarépaguá, Rio
franceses, discursos liberais e chicotes de
de Janeiro, 1875-
feitor, igrejas barrocas e cultos africanos,
a imagem deste Império colonial, faus-
toso e miserável, dos bacharéis e dos
mestiços, haveria de realmente propor
cionar aos europeus sentimentos bastan
te contraditórios, de fascínio e repúdio,
num quadro confuso e intrigante.
Se a viajante inglesa Maria Graham,
escritora e desenhista, considerava se
rem os mulatos mais ativos e industrio-
sos que os outros segmentos da popu
lação brasileira, o conde de Gobineau
ministro da França no Rio de Janeiro re
gistrava que os mestiços, encontraveis
em todas as camadas sociais, não eram
nem trabalhadores, nem ativos, nem fe
cundos...
Mas a trajetória do Império brasile'
ro não se daria apenas pela combinac~^

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Brasil, fim do século

exótica do cotidiano tropical/mulato


com velhas heranças européias. Ao lon
go da segunda metade do século XIX, o
Brasil atravessaria uma série de transfor
mações econômicas, sociais, políticas e
culturais que o conduziriam pela senda
da modernidade.
No decorrer do século XIX, o siste
ma capitalista, que se constituía em nível
mundial, transformava-se no sentido de
subverter as condições de produção vi
gentes no mundo que a ele se integra-

0 alinhamento com o
liberalismo internacional

Vencida uma fase de acumulação


primitiva, a vitória da fábrica moderna,
da produção mecanizada e da aplicação
da ciência à tecnologia impunha redefi
nições em escala internacional.
Numa primeira fase, este processo
em curso implicara a ruptura do chama
do "pacto colonial", a extinção dos mo
nopólios e a liberdade de comércio, de
sembocando no processo de indepen
dência das colônias latino-americanas.
Num segundo momento, a exigência pa
ra a expansão capitalista traduziu-se na
eliminação do trabalho servil.
Seja para ampliar o mercado consu
midor em nível mundial, seja para uni
formizar os custos de produção em es
cala internacional, uma vez que o uso de
escravos era "mais barato" que o empre
go de trabalhadores assalariados,
desencadeou-se uma campanha contra a
escravidão. A Inglaterra, nação pioneira
do desenvolvimento capitalista, liderou-
a condenação do tráfico negreiro no
mundo.
Ora, o Brasil imperial, nação onde
a Inglaterra possuía sólidos interesses

V
Brasil, fim do século

econômicos, mantinha-se escravagista e ço, afastava os concorrentes e ampliava


possuía vultosos capitais aplicados no o seu consumo junto às classes trabalha
tráfico. Combinando pressões diplomá doras européias.
ticas com uma atitude agressiva contra Desta forma, na segunda metade do
os navios negreiros, a Inglaterra forçou século XIX o principal problema que se
o Brasil a extinguir o tráfico em 1850, apresentava para os exportadores brasi
através da Lei Eusébio de Queiroz. leiros era encontrar uma mão-de-obra
abundante e barata que garantisse as con
Aimigração beneficia a dições de expansão da cafeicultura,
expansão da cafeicultura ameaçada com a cessação do tráfico.
Tentativas de encontrar fontes inter
Estava criado o problema da mão- nas de suprimento de mão-de-obra não
de-obra para os produtores brasileiros, deram certo. O tráfico interprovincial,
expressando-se na imediata alta do pre que reorientava a venda de escravos das
ço dos escravos e na sua progressiva es diferentes regiões do país para a zona ca
cassez no mercado. A situação se apre feicultora, não preencheu as necessida
sentava tanto mais grave quanto mais se des da lavoura em expansão. Também
atenta para o fato de que, nesta época,^se a possibilidade de utilizar na cafeicultu
encontrava em expansão uma nova área ra a mão-de-obra da população branca
cafeicultora — o oeste paulista. O Brasil livre que existia no país esbarrava no en
era na época o principal fornecedor de trave criado pela própria sociedade es
café, dominando monopolisticamente o cravista: apesar de pobres, indivíduos li
mercado através da produção em mas vres e brancos recusavam-se a realizar ta

sa de um artigo que, pelo seu baixo pre refas de negros escravos...

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En

•'' 'r Trapiche Maxwell


e prédio do
Lloyd's, com seu

construção e
armazéns. Rio de
Janeiro, 1865-70.
A solução encontrada para a "crise
de braços" que se abatia Sobre o Brasil
foi a vinda de trabalhadores livres estran
geiros para a lavoura do café. A entrada
renovada de imigrantes, primeiro às cus
tas dos fazendeiros paulistas e após sub
vencionada pelo governo da província
de São Paulo, garantiu a continuidade da
expansão cafeicultora. A partir da segun
da metade do século XIX, principalmen
te os italianos, mas também os alemães,
os espanhóis e os portugueses, se torna
ram a força de trabalho preferencial nas
lavouras do oeste paulista. Na verdade,
não se constituíram de imediato em tra
balhadores assalariados, vigorando ou
tras formas de pagamento não moneta
rias, tais como o direito à moradia ou ao

Imigrantes
trabaíhando em
fazenda de café
em São Paulo.
Brasil, fim do século

Carro com
cultivo da terra para subsistência das fa ção de mão-de-obra, como no sistema máquina a vapor
mílias. Todavia, a entrada de homens li escravista, o fazendeiro pagava após a da Companhia de
Carris de Ferro
vres, substituindo progressivamente os realização do trabalho e, mesmo assim,
de São Paulo.
escravos, foi um elemento nuclear no muitas vezes com pouco desembolso de 20/03/1900.
processo de transformação vivenciado salário monetário, conforme já se disse.
pelo país. Abandonando o trabalho es O custo de reposição da força-trabalho
cravo, agora mercadoria escassa e rara, ficava agora por conta do próprio traba
o fazendeiro do café não apenas resol lhador, que deveria prover a sua subsis
veu problemas imediatos e prementes — tência. Tais fatores, associados aos bons
substituiu a mão-de-obra servil pela livre preços do café no mercado internacio
—, mas potencializou as suas condições nal e à produtividade diferencial de ter
de acumulação. Na medida em que o go ras do oeste paulista, liberaram para o fa
verno iniciou a subsidiar a vinda de imi zendeiro um capital dinheiro disponível
grantes, o custo da mão-de-obra passou para ser reaplicado na própria unidade
a ser mínimo para o proprietário de ter produtiva, através de recursos técnicos
ras. Não mais tendo de desembolsar an ou para diversificação de seus negócios.
tecipadamente o dinheiro para a aquisi Desta forma, o complexo cafeeiro se en-

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A Rua oi CoNÇAiyt} Oiai R' 50.Sobrado A ViPKtO

Caricatura t.i H(í>. Sí'tthor. t' .íiiMJ, doíiití' n sniin <!,i Knlií*'r<*it^i». í)s íoriutis
criticando a 'ii,Híi.i/riii n\ íÍt'Hinain!(licsta paict í-*!!! j>ríxlu/ir cii
indiferença do Su.t Sf.i!i*sta<ic 11 {-(i ifi) (if (iin iiart olu i>
imperador frente
aos problemas da
•i:U

Brasil, fim do século

Caricatura alusiva
contra associado a um movimento glo des transformações do país. Todavia, se à "questão
bal de renovação da infra-estrutura ma a vinda dos imigrantes solucionava o militar" entre

terial do país, à expansão do setor ban problema dos cafeicultores, e particular oficiais do
Exército e
cário e creditício, à urbanização, ao sur mente dos paulistas, fração responsável pol í ticos civis
gimento de indústrias. Por outro lado, por um produto em expansão, não cor do Império.
tratando-se de trabalhadores livres, a ro respondia às necessidades dos demais
tação de mão-de-obra fazenda-fazenda e proprietários de terra que não se acha
campo-cidade era também intensa, com vam ligados ao maior produto de expor
o que progressivamente se constituiu um tação brasileira.
mercado de trabalho livre no país, com Neste sentido, os chamados "imi-
um contingente populacional que de grantistas" posicionavam-se com muita
sempenhava uma ampla gama de ativi cautela em relação ao movimento abo
dades. licionista que se processava paralelamen
te no país. Os promotores das leis abo
Cresce o movimento licionistas foram os próprios fazendeiros
abolicionista e republicano escravistas que, convencidos paulatina
mente de que o regime servil estava com
Os patrocinadores da imigração fo seus dias contados e não dispondo do
ram os representantes de uma verdadeira "élan" cafeicultor para promover a vin
burguesia agrária, sediada em São Paulo da dos imigrantes, optaram pela estraté
e que se colocava no epicentro das gran gia de uma emancipação progressiva. Ou
seja, era preciso prolongar ao máximo
o sistema escravista e garantir ao senhor
de escravos o controle sobre os cativos
que se libertassem. Desta forma, as leis
abolicionistas, que na verdade protela
vam ao máximo uma solução final, fo
ram complementadas com uma série de
dispositivos instrumentais-legais, como
os códigos de posturas dos municípios,
que regulavam o acesso dos libertos ao
mercado de trabalho, estabelecendo me
canismos de vigilância sobre a sua con
duta.
Abolicionistas foram também as ca
madas médias urbanas emergentes, des-
compromissadas em termos objetivos
com o regime servil, mas que, sob o in
fluxo da onda romântica chegada ao Bra
sil, foram responsáveis pela formação de
uma consciência nacional favorável à
emancipação dos escravos.
Todo este processo, que teve o seu
núcleo fundamental de ação na zona ca
feicultora paulista, foi acornpanhada pela
difusão de novos valores e concepções.
Na transição do sistema escravista para
aquele baseado na força de trabalho li
vre, propagava-se a ideologia do progres
so, da mobilidade social e da riqueza. O
trabalho braçal não era mais encarado
como atividade pertinente aos negros e,
como tal, degradado pelo estigma da es
cravidão. Era agora visto como enobre-
cedor, construtor da riqueza e associa
fl do ao progresso. Proclamava-se o prin
cípio de solidariedade entre as classes,
tão caro ã sociedade burguesa, afirman
do que os homens são iguais perante a
lei, mas ocultando a evidência de que são
desiguais frente à distribuição da rique
za.

,
Neste contexto, os conceitos dç
progresso e civilização, ligados à nova
moral do trabalho, ajustados aos interes-

Caricatura alusiva
ao avanço do
abolicionismo e a
reação dos
escravocratas.


Brasil, fim do século

ses do capital emergente, foram associa pelos cafeicultores, eorrespondia às pre


dos, de maneira inequívoca, à idéia da tensões de maior autonomia das provín
República. O endosso da causa republi cias e de um melhor encaminhamento
cana pelos fazendeiros do oeste paulis dos problemas das economias regionais,
ta implicava, na realidade, a sujeição da que se sentiam prejudicadas com o cen-
máquina do Estado e dos mecanismos tralismo monárquico.
decisórios do poder e do controle social Na crise do regime monárquico —
àqueles que representavam o eixo de desgaste político-partidário e incapaci
ponta da economia brasileira e da acu dade de resolver institueionalmente os
mulação nacional. Ideologicamente, a problemas eeonõmieos do país — a idéia
proposta republicana apresentava-se co da República federativa surgiu associa
mo a forma política que melhor levaria da à da "democracia"', identificada co
adiante o conjunto das transformações mo "soberania popular". A noção, é cla
ocorridas nos "novos tempos". ro, trazia consigo a conotação burguesa
A República encarnava o regime po do termo, ou seja, o "povo", cuja sobe
lítico que melhores condições teria pa rania devia ser respeitada pelo governo,
ra réelaborar as relações de dominação- era identificado com os proprietários. A
subordinação e para instaurar uma or noção, contudo, exercia atração sobre
dem jurídico-institucional legitimadora as camadas não privilegiadas da socieda
daquelas transformações. de, em especial as camadas médias ur
Por outro lado, a idéia de uma Re banas emergentes. Estes grupos, surgi
pública federativa, tal como era proposta dos também no bojo das transformações

ã
%
CJjrna das últimãs econômico-sociais ocorridas no país em A idéia da República seria empolga
fotos da Famíliz
Imperial, no Paço
função da dinâmica do complexo cafei- da também por um grupo de pressão que
de São Cristóvão. cultor, não se viam representados poli surgia na sociedade brasileira: o Exérci
ticamente na monarquia. to. Esta instituição vinha se desenvolven
do, após a Guerra do Paraguai, termina
Os oficiais do Exército tornam-se os da em 1870, a formação de um "espíri
principais críticos da Monarquia to de corpo", que foi essencial para sua
revalorização perante seus próprios
Mostraram-se pois cativados pelo membros e o conjunto da sociedade. Ao
conteúdo democrático da proposta re contrário da Marinha, cujos membros
publicana, que lhes abria a chance de eram recrutados entre a aristocracia, o
participação política. Além disso, como Exército não era uma organização com
a visão da República vinha associada a posta pela elite, surgindo como alterna
um conteúdo inequivocamente progres tiva para aqueles que não gozavam de fa
sista, o novo regime acenava com opor vores do sistema. A Monarquia contava
tunidades de emprego e possibilidades com o seu corpo de defesa paralelo,
de melhoria das condições de vida constituído pela Guarda Nacional, que
era objeto de mais atenção por parte da
Coroa. Dentro deste contexto, a Guer
ra do Paraguai foi fundamental para a
identificação do Exército como grupo e
para sua valorização como instituição
dotada de valores próprios no conjun
to da sociedade brasileira. Os oficiais do
Exército tornaram-se os principais críti
cos do regime, denunciando não apenas
a sua inserção subordinada na ordem vi
gente, mas a Monarquia como um todo.
Os oficiais defendiam o seu direito de ex
pressar abertamente suas críticas ao re
gime, o que não era permitido.
Defendendo a postura de que além
de soldados eram também "cidadãos",
os oficiais criaram uma série de inciden
tes — as "questões militares" — nas
quais o Exército como instituição se con
siderava atacado toda vez que um mem
bro seu era punido. Tais incidentes fo
ram habilmente explorados pelos polí
ticos civis, e a aproximação entre os dois
grupos, realizada a partir de 1887, fez
com que a queda do regime, ocorrida a
15 de novembro, se desse através de um
golpe militar.
JÉiVlL.1
A implantação da república

W proclamação da República
F se coloca, pois, como uma
B das facetas — a política-ins-
titucional — de um processo mais am
plo que percorria a sociedade brasileira
a partir da segunda metade do século
XIX. Assentavam-se no país as bases ma
teriais e as estruturas jurídicas e adminis
trativas de consolidação de uma ordem
burguesa, processo este no qual a ado
te j ^
ção do novo regime configurou-se co
.vVtáta mo a dimensão política mais evidente.
Tal alteração, expressa em nível da
mudança nas instituições, expressava a
emergência de novos atores sociais e de
uma também nova correlação de forças.
O movimento republicano ganhava
força, com a convergência de vários in
"" *. ourt^P*^''" / teresses sociais: uma burguesia agrária
' ..^.o . vor;ou «»« >- que se consolidava e que via na refor
mulação do sistema político uma forma
« I i •* *" " .. M.!. a «*'- de melhor encaminhamento institucio
nal de seus interesses; camadas médias
urbanas emergentes que visualizavam na

"iSS?" i nova proposta possibilidades de ascen


são social e participação política; oficiais
do Exército imbuídos da idéia de que o
regime republicano revalorizaria a cor
poração militar, redefinindo seu papel de
guardiães das instituições políticas.
República proclamada em 15 de no
vembro pela ação do Marechal Deodo-
ro da Fonseca, família real extraditada e
enviados para o exílio os principais líde
res políticos da extinta monarquia,
tratava-se de resolver uma questão polí
tica emergencial: a instalação do novo
regime. Qual República seria aplicada pe
lo Brasil? Na verdade, havia mais de um
projeto em pauta na sociedade, confor
me os atores sociais envolvidos*.

V
Embarque da
Família. Real para
o exílio em
17/11/1889.
Para a burguesia cafeicultora paulis
ta, tratava-se de uma República liberal e
federativa, na qual se propunha autono
mia para as partes, livre gestão dos ne
gócios e garantia do controle do proces
so político pelas elites proprietárias.
Tratava-se, pois, de um liberalismo po
lítico excludente, no qual o povo se
mantinha à margem do processo das de
cisões, mas era envolvido, a "cabresto",
no jogo político eleitoral. Com a Repú
blica, desapareceram os privilégios de
nascimento e caíra o critério econômi-

28.
A implantação da república

CO da renda vigente no Império como


pré-condição para votar e ser votado. A
ampliação da participação política para
o povo, porém, era controlada e depura
da através do voto a descoberto, não se
creto, que viabilizava a fraude, e por uma
poderosa estrutura de mandonismo lo
cal, misto de coerção e compadrio, co
nhecida por coronelismo.

ARepública das
oligarquias:
ordem e progresso

Liberal, federativa, elitista, a Repú


blica defendida pelos cafeicultores de
São Paulo encontrava respaldo nas pre
tensões das oligarquias agrárias das an
tigas províncias, interessadas também em
maior autonomia e na materialização das
idéias liberais no plano econômico e po
lítico. Para as camadas médias emergen
tes e para os trabalhadores urhanos o
aceno "democrático" do novo regime
punha em pauta a questão da cidadania,
postulando uma nova relação povo-
Estado e implicando uma dinâmica de di
reitos e deveres. O cidadão pagava im
postos, obedecia às leis e normatizava
sua vida pelo código de posturas muni
í" j
cipais; em contrapartida, tinha o direito
do voto e de exigir do Estado a aplica
ção das leis e o funcionamento dos ser
viços públicos. Neste contexto, o ima
ginário do cidadão visualizava a Repú
blica liberal federativa como a melhor
formulação político-institucional para
viabilizar tais questões. Mesmo para o
proletariado urbano seduzido pelas
idéias socialistas do fim do século, a pers
pectiva de mudança do regime acenava
com oportunidades de emprego, maior
participação popular e promessas de
bem-estar social.
REDACTOB-CHEFE-T SAMPAIO FERRAZ

BlDàCÇlO, TUTZSU DO ODTIDOB K. 14 -

wLLmmmami
VIVI o EXERCltO-Vm URIUDII
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PROCLÃMACk

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Havia, contudo, uma outra expec


tativa de Repiáblica na sociedade brasi
leira. Para os militares e para os republi
canos do Rio Grande do Sul, familiari
zados com o ideário positivista de Au
gusto Comte, postulava-se uma Repúbli
ca autoritária e centralizada, dotada de
mão forte para obter o progresso eco
nômico mediante a manutenção da or
dem social. No contexto europeu do sé
culo XIX, onde surgira, o positivismo te
ria sido uma das correntes ideológicas de
justificação do triunfo da sociedade bur
guesa e do capitalismo em desenvolvi
mento. Seus princípios norteadores —
ordem e progresso — estão assim dire
V
tamente relacionados com o processo
em curso na sociedade: a ordem burgue
sa era o elemento a conservar; o progres
so econômico, o objetivo a atingir. Uma
sociedade ordenada e progressista seria
atingida, segundo Comte, através do go
verno de uma elite de sábios. Entenda-
se, no caso, que este "saber" tanto se
A implantação da república

aplicava ao conhecimento técnico-


científico e à capacidade de administra
ção da vida material (a burguesia indus
trial, com sua corte de técnicos e admi
nistradores competentes) quanto à capa
cidade política de governar (a elite diri
gente dos políticos, filiados ao partido
do governo). Embora houvesse diferen
ças de interpretação dos preceitos com-
tistas, na prática confluíram as perspec
tivas dos republicanos gaúchos, lidera
dos por Júlio de Castilhos, e as da ofi
cialidade positivista: seu ideal de Repú
blica era voltado para uma estrutura de
poder centralizada e autoritária.
Esta tensão esteve presente nos anos
imediatos ao golpe militar de 15 de no
vembro que pusera fim à Monarquia.
A premência de rearticular as rela
ções externas do país, notadamehte as
financeiras, e o temor de uma contra-
ofensiva monárquica tornavam a ques-


tão de constitucionalização urgente. Era essenciais para a consolidação do regi
preciso, pois, que se legitimasse o novo me, mas a ordem que se instalara era es
regime, com o que ganhava força a cor sencialmente civil. Assim, quando se ins
rente da República liberal-democrática, talaram os trabalhos da Constituinte, a
que propunha a convocação da Consti partir de 1891, e tiveram início os deba
tuinte. tes sobre a organização político-
Tendo os militares assumido provi administrativa a ser implantada (centra-
soriamente o governo do país, na pes lismo X federalismo), consagraram-se vi
soa de Deodoro da Fonseca, toriosas as propostas da oligarquia agrá
identificavam-se com a proposição de ria pela República liberal.
que deveria ser prorrogado o regime de
exceção, até que se consolidasse o no Os republicanos gaúchos defendem
vo regime, tornando-se irreversível. o federalismo, sem abdicar
De 15 de novembro de 1889 a 24 do centralismo estadual
de fevereiro de 1891, manteve-se o Go
verno Provisório, que agiu através de Na Constituinte, os militares conse
decretos-leis e tomou as primeiras me guiam fazer passar a escolha indireta, pe
didas administrativas e políticas para a lo Congresso, do primeiro presidenté
Caricatura, sobre instalação da República. constitucional do Brasil (manteve-se
a vitória de Na verdade, processava-se no país Deodoro) e a aprovação do artigo 6?,
Deodoro e
Floriano no
uma rearticulação do sistema de domi mediante o qual se estabelecia que o
Congresso. nação. Reconhecia-se serem os militares Executivo central poderia intervir nos es-
A implantação da república

tados sempre que nestes se manifestas lítico eleitoral no país. Quanto ã distri
se uma agitação contrária aos interesses buição das rendas, competia à União a
da União. Em contrapartida, os grupos fixação dos impostos de importação e o
agrários obtiveram a aprovação de prin do selo, cabendo aos estados recolher a
cípios que beneficiaram os grandes es tributação sobre a exportação, os bens
tados, num sentido federativo: às unida móveis, indústrias e profissões.
des da federação foi permitido contrair Revelava-se, portanto, a preeminência
empréstimos externos, constituir forças dos estados mais ricos, apoiados na eco
militares, organizar uma justiça estadual nomia agro-exportadora, como o paulis
e uma cartilha constitucional própria. A ta.
representação na Câmara de Deputados A posição dos republicanos gaúchos
de cada estado dava-se proporcional merece uma nota à parte: se postulavam
mente ao número de habitantes, o que uma República autoritária, a sua defesa
configurava a presença dos "grandes do centralismo e unitarismo de mando
eleitores" no Congresso Nacional, que se referia apenas ao âmbito local. Na ar
acabariam por controlar a política ticulação entre os estados e a União, a Homenagem a
econômico-financeira e o processo po posição dos gaúchos era de defesa de um Floríano. 1895-

x\' \
federalismo extremado, em propostas
orçamentárias-que previam uma maior
arrecadação para os estados e impediam
'<?: -*:• - t . .r^-?.
uma tributação cumulativa (União e es
•r^aa
tados). Portanto, o republicanismo dos
ativos e radicais castilhistas do Rio Gran
de combinava a defesa de uma postura
V V*
autoritária de governo em nível federal
e estadual com um federalismo amplo

N
S^ik.

\t
Al que regulamentasse as relações entre as
unidades regionais e a região. No con
^y-
V
*^7
texto interno do estado, advogava-se o
centralismo de mando, tal como ele se
exerceu no Rio Grande ao longo dos 40
anos de República Velha.
O regime republicano iniciou-se sob
o signo da inflação e da instabilidade po
lítica.

Revolução
Federalista nas
trincheiras na
cidade de
Bagé, RS.

J í.
r
mM

-r m

*1
A implantação da república

Para atender às necessidades gerais


de uma economia que transitava para o
assalariamento, o novo governo deu iní
cio a uma política emissionista conheci
da como Encilhamento. A ampliação do
meio circulante, conjugada a um siste
ma de crédito amplo e fácil para as ini
ciativas que surgissem, proporcionou
uma febre especulativa no mercado de
ações e uma proliferação de novas em
presas. Por outro lado, o aumento do
papel-moeda em circulação incidiu so
bre o valor externo da moeda brasilei
ra, ocasionando uma baixa de câmbio.

O Encilhamento no jogo
de interesses sociais

Paralelamente, para fazer face às ne Cena da Revolta


da Armada no
cessidades fiscais do governo,
Rio de Janeiro.
determinou-se a cobrança de uma taxa-
OUTO sobre as mercadorias importadas,
ao mesmo tempo que se elevavam as ta
xas de importação. Tais medidas benefi
ciaram o café, tanto por corresponder as
suas necessidades de recursos financei
ros face ao assalariamento que se impu
nha, quanto pela desvalorização da moe
da, que beneficiava os exportadores,
dando-lhes internamente um retorno em
mil-réis compensados pelas suas vendas.
Lucrava também com tais medidas a nas
cente burguesia industrial, que via no en-
carecimento dos produtos importados e
no crédito fácil a possibilidade de expan
dir seus negócios e abastecer o merca
do interno. O surto industrial dos pri
meiros anos de República não deve ser,
porém, superestimado. O maior núme
ro de estabelecimentos não pode ser
confundido com o aumento da capaci
* • V. »•

dade produtiva. Com a baixa do câmbio,


tI
o período se revelou pouco favorável à

V
importação de tecnologia e proliferaram
as pequenas empresas, que operavam
com instrumentos de trabalho simples,
com caráter artesanal.
Favorecidos pela política encilha-
mentista foram ainda os setores repre
sentativos do capital financeiro e as com
panhias ferroviárias e de navegação. Afe
tados negativamente pela inflação que
acompanhou o período estiveram os
consumidores urbanos e os grupos eco
nômicos voltados para o abastecimento
do mercado interno.
A política econômico-financeira dos

Prudente de
Moraes e seus
auxiliares.

0
L'«
li»:

primeiros tempos da República foi, por


tanto, alvo de controvérsia na socieda
de brasileira, conforme os interesses afe
tados.
Paralelamente a este detalhe, f
verificou-se uma instabilidade política in
tensa, marcada por disputas entre os mi
nistros e atritos entre Deodoro e a As-
sembléia, conflitos estes que acabaram
com o pedido de demissão do primeiro
ministro republicano e a dissolução do
Congresso por Deodoro, seguidos de sua
renúncia à presidência. iíl

Com a queda de Deodoro, no pró


prio ano de 1891, assumiu a presidên
cia o vice Floriano Peixoto, também mi
G ravTjra sob]
litar e com grande prestígio junto à ofi
es pecula ção
cialidade jacobina do Exército. bc)lsa du rant
Reabrindo o Congresso, a principal EiiciJhanneni

tarefa de Floriano na presidência foi con


solidar o regime republicano: enfrentou
os levantes de militares deodoristas, in
conformados com a sua queda, comba
teu a revolta da Armada, levada a efeito
pela Marinha e com um nítido sentido
contra-revolucionário, e lutou contra a
Revolução Federalista, eclodida no Rio
Grande do Sul em 1893.
A Revolução Federalista, célebre pe
la cruel prática da "degola", foi um mo
vimento contra o governo de Júlio de
Castilhos no Rio Grande do Sul, levado
a efeito por membros do antigo partido
Liberal que governava a província por
ocasião da queda da Monarquia. Lidera
dos por Gaspar Silveira Martins,
arregimentaram-se a partir de 1892, no
Partido Federalista Brasileiro, fundado
em Bagé, e no ano seguinte os alcunha
dos de "maragatos" iniciaram um mo
vimento de rebelião contra os republi-
canos. Identificado com a postura repu
blicana, Castilhos contou com o apoio
de Floriano e do Exército brasileiro na
sua luta contra os maragatos, que, por
sua vez, foram auxiliados pelos integran
tes da Revolta da Armada que eclodira
no Rio de Janeiro. Desta forma, dois in
cidentes revolucionários localizados
juntaram-se para combater Castilhos e
Floriano, sendo portanto identificados
nacionalmente como um movimento
anti-republicano.
A vitória das forças identificadas
com o novo regime consolidou a Repú
blica no Brasil, mas enfraqueceu o Exér
Caricatura alusiva cito.
à intenção de Rui Com a derrota da Armada e dos ma
Barbosa de
promover o
ragatos no Sul, a República estava salva
desenvolvimento e o Exército havia cumprido o seu pa
do Brasil a pel de guardião das instituições. Esgota
qualquer preço.
do, mas vitorioso na luta, o Exército bra
sileiro perdia terreno na política. Cedia
suas funções dirigentes para o grupo ci
vil que representava o setor econômico
mais rico do país e em ascensão: os fa
zendeiros paulistas do café.
Empossado em 15 de novembro de
1894, o novo presidente da República,
Prudente de Morais — cafeicultor de São
H^ Paulo —, ultimaria o processo de paci
ficação do país. A cartola vencera a es-
'pada.

* *

w
A repúblicã oligârquica

o Progresso
Dentro Da Ordem

O
k
L
período coberto pela cha-
mada República Velha, que
se estendeu de 1889 até a
revolução de Trinta, corres
ponde a uma fase de afirmação do capi
talismo no Brasil. Ao longo destas déca
das, o país evoluiu do agrarismo para a
consolidação de uma ordem urbano-in-
dustrial, a sociedade diversificou-se, o
Estado se tornou mais complexo. Toda
via, a constatação de tais transformações
não invalida o fator fundamental de que
a economia agro-exportadora capitalista
do café fosse o setor de ponta do desen
volvimento capitalista brasileiro e que es
te processo se desse sob a dominação do
capital mercantil. Nesta fase, a indústria
não era dominante no processo de acu
mulação e o seu desenvolvimento se da
va sob um duplo condicionamento: da
dominação externa do capital monopo
lista e da subordinação interna ao setor
agro-exportador.
O Brasil detinha o monopólio mun
dial do fornecimento do capital, situação
esta proporcionada pela produção em
Embarque de café
massa, a baixo custo e a baixo preço, de no porto de
um produto cujo consumo se encontra- Santos.
f,

Porto de Santos,
por onde passava
dois terços da
exportação de
café.

'. •J>*'U^**í. %***%'• ».ík'!V^


Secagem de café.
A república oligárquica.

Caricatura do
presidente
Campos Sales
com seu ministro
Joaquim
Murtinho,
pagando a dívida
va em expansão no mundo na segunda Campos Salles, teve início a política de externa brasileira.
metade do século XIX. Responsável pe saneamento das finanças brasileiras, a si
la maioria da entrada de divisas no país, tuação se alterou. Os grupos financeiros Operários de
fábrica de
o café fornecera o lastro para as impor ferraduras
tações brasileiras. A lucratividade da ca- Martins Ferreira,
feicultura promovera a expansão desor São Paulo.'

denada das plantações, num ritmo que


veio revelar os primeiros sintomas de su
perprodução em 1897: os estoques co
meçaram a se avolumar e o preço caiu.
A produção brasileira começara a supe
rar o consumo mundial, pois o produ
to, apesar de ser consumido tanto pela
burguesia quanto pelas classes trabalha
doras, tinha elasticidade reduzida.
Enquanto durou a política emissio-
nista do Encilhamento, a desvalorização
externa da moeda reduziu os efeitos da
queda do preço, dando ao cafeicultor
um maior retorno em mil-réis. Quando,
porém, a partir de 1898, no governo de

fs
k
"mm.

nmnu I

f/i.m
ím

STBTflllfi
ROa PfratiQioga No. 17 t 19

5AO PAUbO

mm Cmãn t

hks/e-S internacionais estavam a exigir o com


bate à inflação como pré-requisito para
a renegociação dos empréstimos exter
nos brasileiros e, a partir do momeiato
em que medidas deflacionárias passaram
Coàigo^- a valorizar o mil-réis, o problema de su
perprodução passou a se revelar com
força.
Em 1906, os presidentes dos três
maiores estados cafeicultores da época
— São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Ge
rais — reuniram-se no Convênio de Tau-
<.„rvoW"0- .e\e9'»Í^L' ., .
;\\\oves baté e realizaram a primeira operação va-

'•"£:'£-'-rr,
f.íA0\00 CattB'"*
t lorizadora do café: mediante a realização
de um empréstimo externo com a casa
bancária inglesa dos Rothschild, obter-
se-iam os recursos para a compra e es
tocagem do café excedente às necessi
dades do mercado, sendo colocada pa
•paWas. ra venda só a quantidade que pudesse
I "í'L«.»—'f ser comprada a bom preço. A iniciativa

C3.s®^«-'vL\as, f.LeOR^

A 1:45*

Propaganda das
várias empresas
pertencentes ao
mesmo grupo
familiar. Rio
Grande do Sul.

Operários com
máquinas da
Fiação e Tecidos
Pelotense, Rio
Grande do Sul.
A republica oligarquica

levada a efeito pelos estados sem o au Criança operária


xílio da União, estabelecia uma contra da Marcenaria
Filippo Celli.
ção artificial da oferta e na realidade não
Petrópolis, Rio de
eliminava a superprodução, antes a es Janeiro.
timulava. O resultado prático de tal me
dida foi que procedeu um sempre reno
vado aumento da produção sem corres
pondente aumento do consumo. A es-
tocagem se fazia cada vez maior, tal co
mo a necessidade de recorrer ao capita
estrangeiro. Com a eclosão da Primeira
Guerra Mundial e o refluxo do capital in
ternacional, houve a necessidade do go
verno federal auxiliá-los na sua tarefa de
compra e estocagem do produto. A se
gunda operação valorizadora teve a ca
racterística de uma medida emergencial,
dadas as condições conturbadas da épo
ca. Com o fim da Guerra, a situação ten
deu a se agravar. Como o Brasil conse
guira garantir um bom preço do artigo

% Greve de 191'
Porto Alegre.

w
S\V^^ . '<e>rcS-o^^ ^^v. >

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O
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i.r^r\U

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V^°AeS^^lec»^°'°o
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c°"°
v>a\^°*

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iSt ^Pix „ ^srYLo';í=DeuA

Passeata dos
grevistas
sapateiros na Av.
Rio Branco. Rio
de Janeiro, 1910.

.44,
A república oligárquica

no mercado internacional, este fato in minante. Estes eram os interesses funda


duziu a entrada de concorrentes no mer mentais, sobre os quais havia concordân
cado, tais como a Colômbia. Por outro cia.
lado, a recessão do pós-Guerra fez com Todavia, com a diversificação
que alguns compradores se retraíssem, econômico-social que se processava, as
como por exemplo os Estados Unidos, outras formas de capital não-agrário se
grandes consumidores do café brasilei impunham com seus problemas e inte
ro. Esta conjuntura desencadeou uma resses específicos, os quais precisavam
ofensiva dos cafeicultores sobre a nação ser contemplados no interior da aliança
que resultou na terceira operação valo- hegemônica que colocava os interesses
rizadora do café, em 1921-22. A defesa dos cafeicultores como predominantes.
do produto principiara a ser feita em ter Tratava-se, pois, de compatibilizar os in
mos nacionais e com características de teresses do setor agroexportador, eixo
permanência. Os interesses do café pas de ponta da economia nacional, com os
savam a ser considerados como interes interesses do capital não-agrário, como
ses do Brasil. Em 1921, o governo fede por exemplo a indústria.
ral emitiu e comprou o café excedente A indústria nascera no centro eco
e, no ano seguinte, conseguiu com ca nômico do país associada à economia
sas bancárias estrangeiras recursos para agro-esportadora capitalista do café. Nas
dar continuidade a esta política. demais regiões brasileiras, seu surgimen
to se deveu a outros circuitos de acumu-
Acumulação de capital
e industrialização
Com a imposição da terceira opera -A >
ção valorizadora, os cafeicultores haviam rrn .u r
atingido o ponto máximo de sua hege
monia sobre a nação, conseguindo legi
timar sua supremacia junto aos demais
grupos econômicos.
Na verdade, a instalação da Repúbli
ca previa um delicado consenso entre os
grupos detentores de capital do país, que
se dividiam-em clivagens regionais e se
toriais. De uma certa forma, persistiam
os pressupostos básicos do consenso en
tre os membros da classe dominante que
advinha dos tempos do Império: havia
um acordo tácito a respeito da defesa da
propriedade, fosse ela agrária ou se cons
Vf i
tituísse nas outras formas de existência
do capital (industrial, comercial ou finan
Rótulo dos
ceiro); mantinha-se o povo ã margem do
charutos Poock.
processo político e permitia-se a circu Rio Grande, RS,
lação do poder no interior da classe do 1921.
- J"- •- '-A. h- .i-:. V--I

15
Grande stock de Cofres á prova de fôgo
e roubo, Camas metallicas, Prensas,
Fogões economicos para lenha ou coke etc.
5=23)

•gmniintUiUtlPIU
m 1


'™À /l KüiiJS-iksli

ffliuni

ÚNICO DEPOSITÁRIO

MOREIRA LEaO

RIO DE JANEIRO
Propaganda de
Cofres Berta.
A república oligárquica

lação do capital, tal como no Rio Gran mente crescia e urbanizava-se.


de do Sul, onde o setor secundário Aproveitaram-se dos efeitos de po
gerou-se na mesma época daquele do líticas econômicas que nem sempre fo
complexo cafeicultor, mas- apoiado na ram empreendidas em seu nome, mas
acumulação de capital advinda da co que mesmo assim os beneficiariam. As
mercialização dos gêneros da agropecuá sim, as necessidades fiscais do governo,
ria colonial imigrante. elevando os impostos de importação, ou
A indústria que surge no centro eco as exigências da cafeicultura pela emis
nômico do país, acoplada ao café, é, con são favoreceram a colocação no merca
tudo, aquela que se apóia numa base do interno brasileiro dos produtos aqui
qualitativa e quantitativamente diferen fabricados. Não se quer dizer que os em
te das demais e que assume uma posi presários não tenham tido participação
ção privilegiada. Trata-se de uma indús ou voz nas decisões da política
tria que surge apoiada no maior circui econômico-financeira. Pelo contrário, é
to de acumulação de capital comercial por demais conhecida a sua posição e a
no país, usufruindo ainda as disponibi sua luta pela elevação das tarifas alfan
lidades do capital agrário, que nela in degárias para impedir a entrada dos pro
veste de forma direta, através do mes dutos estrangeiros. Entretanto, o que de
mo agente social, ou indireta, via siste ve ser lembrado é que seus interesses de
ma bancário e creditício. Da mesma for veriam ser negociados no interior de
ma, a indústria do centro econômico do uma aliança hegemônica entre os seto
país disporá da melhor infra-estrutura da res detentores do capital e que havia li
nação em termos de portos, vias férreas, mites impostos ao desenvolvimento in
bem como de fornecimento de energia. dustrial face à posição dominante do ca
Aproveitar-se-á também do mais amplo fé. Por exemplo, agrários e não-agrários,
mercado de força-trabalho livre do país,, ou setores de economia voltados para a
proporcionado pela imigração estrangei exportação e setores voltados para o
ra destinada à cafeicultura, assim como abastecimento do mercado interno di
de um mercado consumidor de amplas vergiam quanto à política de emissão,
proporções. que ocasionava a perda de poder aqui
sitivo do consumidor nacional, lesivo à
indústria, ou quanto ao protecionismo
A nascente indústria beneficia-se
que, segundo o setor exportador, pode
dos efeitos da política econômica ria determinar represálias dos compra
dores internacionais. Havia ainda ques
Os primeiros empresários — comer tões tais como a idéia de que o país ti
ciantes, cafeicultores ou burgueses- nha uma "vocação agrária" e que a in
imigrantes que já traziam algum recur dústria era responsável pela elevação do
so para aplicar da sua terra de origem — custo de vida, com a sua persistente cam
montaram seus estabelecimentos que, panha em prol da elevação das tarifas al
com tecnologia simples ou mais elabo fandegárias, obrigando o consumidor na
rada, adquirida do exterior, destinavam- cional a comprar produtos caros e de
se a fabricar os bens assalariados de con qualidade inferior.
sumo para uma sociedade que rapida Todavia, apesar de tais pontos de
Coronelismo:
Pinheiro
Machadoe
correligionários,
Rio Grande do
Sul.

i.-i' ••'•• :^í^«ilÉiat»)«ií^'Alr^«P

Caricatura sobre <<•... ..Híi uno


o direito das i
minorias frente à
política dos
' 'grandes
estados'

mhsiM:

Caricatura sobre
a situação
marginal do povo
frente ao
processo político.
A republica, oligarquica

atrito, o que prevaleceu ao longo da Re ta de fases alternadas de favorecimento


pública Velha foi a acomodação entre os ou desfavorecimento para a indústria,
interesses de agrários e industriais, soli mas de surtos diferenciados de uhi de
dificados por mecanismos de interpene- senvolvimento industrial. Inclusive,
tração e diversificação de capitais e re pode-se constatar, no cômputo geral, a
forçados às vezes por casamentos van presença de certas empresas maiores que
tajosos entre as famílias... cresceram sempre, investindo em tecno
logia mesmo naqueles momentos desfa
Nocampo, oCoronelismo. Na cidade, a voráveis, quando a sua importação se re
ameaça à ordem republicana velava difícil, e que lideraram um pro
cesso de concentração empresarial nas
Ao longo da República Velha, fases de deflação, absorvendo as peque
alternaram-se fases em que a política nas unidades.
econômico-financeira apoiou-se na emis Fora a barganha setorial intraclasse
são, às instâncias do setor agro-exporta- dominante, apresentavam-se ainda cliva-
dor, e fases em que se processou o sa gens regionais, mediante as quais
neamento da moeda brasileira, por exi configuravam-se divergências quanto
gências dos credores externos. No caso aos rumos da política econômico-
do café, viu-se que o mesmo conseguia financeira em nível nacional. Estados
expandir-se sempre, com a compra dos voltados para o abastecimento do mer
estoques financiada ou pelas emissões ou cado interno brasileiro tinham suas oli
pelos empréstimos externos. Quanto à garquias agrárias interessadas na estabi
indústria, verifica-se que, conforme as lização cambial e na preservação do po
oscilações da política econômico- der aquisitivo do consumidor nacional.
financeira, alternaram-se surtos de cres Operários e
chefes de oficina
cimento industrial com surtos de aumen
de uma fábrica.
to de produtividade. Assim, no período'
do Encilhamento ou da Primeira Guer
ra Mundial, com a emissão e a desvalo
rização da moeda, proliferaram as peque
? ^ % a d ra
nas empresas, amparadas pelo crédito fá
cil e pelas dificuldades de importar, mas
que usavam precária tecnologia. Nos pe
ríodos em que ocorreu deflação e me
lhoria das condições de câmbio, como
por exemplo na etapa que se iniciou com
a ascensão de Campos Salles (1898) até Zjgm
iSOÊÍ
a Primeira Guerra Mundial ou no pós-
Guerra, com a política de saneamento fi
nanceiro iniciada com Artur Bernardes
(1923), facilitou-se a entrada no país de
tecnologia importada, com o que as em
presas investiram na renovação de sua
capacidade produtiva. A rigor, não se tra
Defendiam, portanto, a ortodoxia fi la" dos nomes que poderiam ter passa
nanceira, e seu apoio à aprovação de me do, "apesar" dos coronéis. Este meca
didas em nível federal que contrariassem nismo de censura eleitoral pós-eleição
seus interesses teria de ser barganhado acontecia duas vezes: uma no âmbito es
mediante a satisfação de outros interes tadual, na Assembléia de Representantes,
ses regionais. e outra no plano federal, através de uma
Tratava-se, pois, de um delicado comissão montada no Senado para este
acerto, mas mediado pelas práticas po fim, chamada "Verificação de Poderes".
líticas vigentes na Velha República. A ba Nesta comissão pontificava o senador
se deste acerto ou da coalizão dominante gaúcho Pinheiro Machado, que contro
de classes principiara, como já se viu, pe lava os pequenos estados do Nordeste,
la Constituição de 1891, que estabelecia barganhando votos para o situacionis-
a soberania dos grandes estados eleito mo. O resultado final do processo era
res e o voto a descoberto, sem justiça compor um Congresso "afinado" com
eleitoral autônoma. No nível dos muni a presidência e com a política dos "gran
cípios, este processo era garantido pe des eleitores", que articulavam a apro
los coronéis. O coronelismo, estrutura vação dos seus interesses com os peque
de mandonismo local, assentava-se no nos estados através do atendimento a
poder dos proprietários de terra que suas questões regionais. O coroamento
mantinham os subalternos sob contro de tal estrutura de poder e mecanismo
le, arregimentando votos e "fazendo político de ação dava-se por ocasião das
eleições". Após a realização das eleições
no nível dos municípios, através da tu
tela coronelística, realizava-se a "dego

Caricatura sobre
Pinheiro
Machado e sua
influência na
política nacional.

50
leiçoes
o o pr
Lva à n
m do

Caricatura sobre
possív^eis
pretensões de
Pinheiro
Machado á
presidência da
República.

'.s^aesvs^'-
Caricatura da Tais praticas do liberalismo políti lar o conflito. A defesa de tal postura
ascendência de
co das elites eram complementadas pe pressupõe, da parte das classes dominan
Pinheiro
Machado sobre los princípios do liberalismo econômi tes, a idéia de que era possível contro
Hermes da co, entendido não apenas como liberda lar o conflito. Os empresários contraba
Fonseca.
de de iniciativa, mas, principalmente, pe lançavam sua ação coercitiva, no nível
la não intervenção do Estado no merca das empresas, com práticas assistenciais,
do de trabalho. Pressupunha-se a priva tais como a construção de escolas e vi
tização das relações entre o capital e o las operárias junto às fábricas ou o esta
trabalho, sendo as questões entre patrões belecimento de caixas de socorros. Nu
e empregados resolvidas no nível das ma fase em que inexistiam a legislação
próprias empresas. social e a intervenção do Estado no mer
Competia ao Estado, zelando pela cado de trabalho, tais práticas eram re
ordem, intervir quando fosse necessário, cebidas como vantagens para os operá
por solicitação dos empresários, nas oca rios e constituíam um chamariz para
siões em que não fosse possível contro- atrair trabalhadores para esta ou aquela
empresa. Todavia, o conteúdo assisten-
cial da prática patronal não foi suficien
te para atenuar as duras condições de tra
balho, os maus tratos impostos pela dis
ciplina da fábrica, os baixos salários e as
f i
longas jornadas, motivos principais das
greves freqüentes que eclodiam na Pri
meira República.
As greves recrudesceram particular
4 mente a partir da Primeira Guerra Mun
'C-/ dial, quando aumentou a carestia, afetan
-/N. 'i do o já precário padrão de vida das clas
ses subalternas. A intensificação do mo
vimento operário levou parte da classe
dominante nacional a repensar a práti
ca da não intervenção no mercado de
trabalho. No Congresso Nacional, partiu
^ V" - '
da bancada paulista a proposta de uma
V L ^
legislação social. Sintomaticamente, es
ta iniciativa vinha apoiada por aquela
unidade da federação que concentrava
o maior parque industrial do país e on
de a "questão social" se apresentava de
\ forma mais alarmante.

•í ^ Se os trabalhadores do campo se en
contravam sob a sólida tutela dos coro
néis, na cidade os trabalhadores das fá
bricas ameaçavam a ordem e o progres
so da República burguesa.

í^tsleíw*»-'

ISSaMÉHSÉ
A crise dos anos vinte

Caricatura sobre
o cãfé e a posição
dos Estados
O decorrer da década de Unidos como
maior comprador
vinte, desestruturava-se
do café brasileiro.
^ progressivamente o sistema
sobre o qual repousavam as estruturas Caricatura
criticando a
da Reptíblica Velha. O padrão de desen
política de defesa
volvimento capitalista baseado na
O MALHO do café.
agro-exportação de um só produto
inviabilizou-se enquanto forma de acu
mulação e desfez-se o consenso oligár-
quico que sustentava o predomínio dos
interesses cafeicultores sobre a nação.
Denunciavam-se os vícios do sistema
eleitoral e a inconformidade, e as dentin-
cias contra o regime percorreram a so
5 . ' i r-i ciedade brasileira de ponta a ponta.
A superprodução cafeeira tendeu a
aumentar cada vez mais, amparada por
uma política de "salvação" que realiza
va a contração artificial da oferta por
meio da compra dos estoques. Entretan
to, os mecanismos criados pela dinâmi
ca do sistema — a intermediação comer
MENINA DO CAF: cial e financeira externa, as renovadas
emissões — consumiam o excedente
econômico produzido. Criou-se um cír
O MALHO culo vicioso; cada vez o Brasil produzia
.3 ér JiufirB, K dt Ovfitâro dr 1!'^

mais e, conseqüentemente, cada vez ne


inSTITUTO
DO
cessitava mais de empréstimos estrangei
CAFE' ros ou de lançar mão de comissões para
comprar o excedente e garantir o pre
ço, o que, por sua vez, estimulava a pro
dução a ampliar-se. O ponto crítico foi
atingido durante o governo de Washing
m ton Luís, que, empenhado numa políti
ca deflacionária e na estabilização cam
bial, se recusou a emitir para auxiliar os
cafeicultores. A recusa do governo fede
ral em abandonar a meta de deflação e
retomar as políticas inflacionárias
conjugou-se aos efeitos de uma safra co
N CONSCIENTE
lossal em 1929, quando o Brasil chegou
a produzir o dobro do consumo mun-
•>;,c-í.i í i < E *•
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ni-
dial de café... Por outro lado, neste ano Caricatura sobre

o capitalismo passava a enfrentar a sua a política de


valorização da
maior crise, o que, por sua vez, impli moeda de
cou o recuo da demanda internacional Washington Luís.
e o recuo do crédito.
< « / U í f I a / "''»'í < f »' > »í i; * í •-» , •, A incompatibilidade de parte dos ca-
feicultores com Washington Luís veio
somar-se ao descontentamento das oli
garquias regionais não-exportadoras. Já
desde há mais tempo que para a burgue
sia agrária do estado voltada para o abas
tecimento do mercado firmara-se a opi
nião de que o desenvolvimento de São
Paulo se fazia às custas do desenvolvi
mento do capitalismo nas outras regiões
do país. As diferenças entre as economias
exportadoras e não-exportadoras para o
mercado internacional eram antigas, mas
desde a terceira operação valorizadora

mm do café as inconformidades começaram


a se tornar mais claras.
Para as demais categorias sociais os
efeitos acumulativos de uma política in-
o mm.vnMo oE Mü f<uu>
flacionária apareciam aos olhos das ca
madas médias urbanas como risco de
proletarização. Para o proletariado fabril
urbano a década de 20 foi marcada pelo
incremento da repressão policial ao mo
omamo
vimento operário, notadamente após
1922, quando o surgimento de um par
</ - ' • . tido comunista veio insinuar novas
ameaças ao sistema.. Para as classes do
K. -' -i /• minantes o movimento operário devia
ser reprimido, e as palavras de Washing
ton Luís de que a questão social era um
"caso de polícia" demonstram bem es
ta forma de percepção.
Para alguns setores com uma maior
visão do problema em seu conjunto, a
questão social estava a requerer novas
formas de tratamento. Sob intensos de
bates, a partir dos anos da Guerra e ao
longo da década de vinte foram aprova
;» *Tr=a«j5.* te> m MiWH
das as primeiras leis sociais. Objeto de
Movimento
tenentista. 4:
eclodido em São
Paulo em
5/7/1924. 7' JÊÊH

A .,v V'
V';V'

' 'fí

Levante tenentista
de 1922 no Forte
de Copacabana.

•3i'

'li

I
A crise dos anos vinte

grande discussão, tais leis encontravam bora o movimento tivesse características Coluna Prestes
que se
grande dificuldade para serem aceitas pe próprias, corporativas e não se apresen
interiorizou no
los industriais e não chegaram a ser apli tasse como um representante ou um Brasil, tendo à
cadas no decorrer da República Velha. substitutivo, ante a incapacidade de or frente Miguel
A esta gama de insatisfações veio se ganização das camadas médias urbanas. Costa e Luís
Carlos Prestes.
acrescentar a postura da jovem oficiali Problemas econômicos e insatisfa
dade do Exército. Os tenentes represen ções sociais iriam se exteriorizar em con
taram, por um lado, um movimento de testações políticas, notadamente naque
quebra de hierarquia e disciplina no seio les momentos de escolha de um novo
das Forças Armadas, criticando a insti presidente, quando a máquina eleitoral
tuição e seu papel frente à sociedade. Por se punha em ação para legitimar a frau
outro lado, os tenentes posicionaram-se de, a estrutura coronelística e a política
como críticos da realidade brasileira, de dos governadores.
nunciando os vícios do regime político Embora a regra normal fosse a con
e as distorções da estrutura econômica sagração do "delfim do regime", hou
do país. Os levantes tenentistas de 1922, ve momentos em que se verificaram ci-
1924 e 1926 tiveram grande repercussão sões entre as oligarquias, oportunizan-
na sociedade brasileira. Particularmente do a que a sociedade se mobilizasse e po
as classes médias identificavam-se em larizasse no confronto. O primeiro des
parte com algumas de suas idéias, em tes movimentos havia se confirmado em

.f'V

fe. íÊ
1910, na campanha civilista, onde o baia
no Ruy Barbosa, apoiado por São Pau
lo, se opusera e fora vencido pelo mili
tar Hermes da Fonseca, candidato que
contava com o apoio do Exército, de Mi
nas e do Rio Grande do Sul. Note-se, no
caso, que oligarquias não-exportadoras,
como o Rio Grande, juntaram-se ao
Exército frente a uma cisão das oligar
Cartaz de
propaganda da
Aliança Liberal
nas eleições de
m quias hegemônicas de São Paulo e Minas
e que na sua plataforma figurava a orto
doxia financeira, cara aos grupos interes
1929 para a sados na defesa do poder aquisitivo do
presidência da consumidor nacional.
República.

Getúlio Vargas: o RS articula-se com as


elites dissidentes, contra o regime

Em 1921, no conttirbado período


em que se negociava a terceira operação
valorizadora do café, as oligarquias dis
sidentes voltaram a se unir ao Exército

i/m na sucessão presidencial, apoiando Ni


lo Peçanha, o orçamento equilibrado e
o controle à inflação, na chamada "Rea
ção Republicana" contra Artur Bernar-

i-fe»i LIBERAL PlRESIDENTE des, candidato de São Paulo e Minas


Gerais.
Ao findar a década de vinte, as ten
sões se avolumavam e a proposta políti
ca que se apresentava para a sucessão de
Washington Luís e que pretendesse en
frentar o candidato oficial deveria ser su
ficientemente abrangente e moderna pa
o GOVERNOilM aUE VIRA ra abarcar o conjunto dos dissidentes do
regime. Em São Paulo, parte da elite des
RFSrABFLETERMmSft A PAZ COM contente lançara o Partido Democrático,
A AMNiSTIA UnnmE GARANTIR A com o apelo do voto secreto.
Em 1929, a Aliança Liberal, articu
OPl NlÂO DOPOVO COM lação empreendida pelas oligarquias re
A L15ERDADE DAS URNAS gionais dissidentes com o apoio dos te-

,58
Charge sobre a candidato oficial
' 'Reação Artur Bernardes,
Republicana", apoiado por São
bloco de Paulo e Minas
oposição que Gerais. /'"""
tentou sem êxito
eleger Nilo
Peçanha contra o RfpüBlICw

nentes e das classes médias, teve as ca


racterísticas de modernidade exigidas
pelo momento.
A plataforma da Aliança Liberal en
globava questões mais antigas, como a
condenação à política de salvação do ca
fé, mas sem negar que o produto mere
ceria o devido amparo na nova propos
ta. Estendia uma ponte para os descon
tentamentos regionais, percorrendo as
necessidades das diferentes economias
dos estados e defendendo a diversifica
ção da estrutura produtora brasileira e
das exportações. Calava fundo junto às
aspirações das classes médias, postulan
do o voto secreto e o fim das fraudes
eleitorais. Abordava uma questão de ex
trema atualidade para a sua época, pro
pondo o enfrentamento da "questão so
cial" pelo Estado.
Em síntese, defendia-se a idéia de
que a nação brasileira era o conjunto de
todos os estados e as forças sociais e que
os diversos interesses não poderiam ser
sacrificados em função de um só que se
impunha, mediante o controle do Esta
do.
O Rio Grande do Sul constituiu-se
no pólo da dinâmica oligárquica e o pre
sidente desse estado, Getúlio Vargas,
ocupou a cabeça da chapa indicada pe
la Aliança Liberal para a presidência da
República.
Saído dos quadros do burocratiza-
do e rígido Partido Republicano Riogran-
dense, Getúlio Vargas fizera carreira po
lítica em seu estado e substituíra em 1928
a figura de Borges de Medeiros no go
verno do Rio Grande. csmoisTA puu AtmuiAÇÁs a teiia lAitmi
Getúlio Vargas pertencia a uma se ^(CTA NO rrvNAMeRTo KmAmm pommmjm immm
gunda geração de republicanos, forma
dos nos quadros do castilhismo e do po
sitivismo, mas que foi capaz de formu Juuo Prestes -Vital Soares
PSeslOEWCiA f vice PRESíDENCiA OA REPU«IICI
lar uma proposta política que reorientou
fíiBWBKn

Cê COM ABENÇÃO DA MANHÃ LEMBRAE AVOSSOS PAES QUE A


r ^ 3 n Ç 3 S I HONRA DO CIDADÃO ESTA' ACIMA DAS CONVENIÊNCIAS . . .
. . . E PEDI QUE ELLES VOTEM EM

C e f u i i O V cz r Q €x s e João 3? €1 s s ò a

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e VOEV.

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Frente linica
Gaúcha.
Pedi a vossos maridos que cumpram o seu
ESPOSAS dever de cidadão VOTANDO EM

o republicanismo gaúcho. agrária gaúcha, a outra parte dos agrários


Até então o Rio Grande estabelece- reunia-se a representantes do capital in-
ra um "modus vivendi" com o gover- dustrial, comercial e financeiro no seio
no central. Como grande eleitor da Re- do Partido Republicano, ampliando sua
pública, com uma grande e disciplinada cooptação para as classes médias urba-
bancada no Congresso e com as mano- nas e setores do colonato colonial. Esta
bras de Pinheiro Machado, o Rio Gran- divisão política interna enfraquecia as
de estabelecera uma aliança com os po- pretensões políticas do Estado e somente
líticos de São Paulo e Minas mediante a no governo de Getúlio Vargas, a partir
qual abdicava da aspiração de concorrer de 1928, é que se viabilizou a participa-
à presidência da República e apoiava no ção política interna, com a formação da
Legislativo Central as pretensões da po- Frente Única Gaúcha. A unificação po
lítica café com leite em troca do atendi- lítica, engendrada pela segunda geração
mento das questões regionais e da não republicana, possibilitou ao Rio Grande
aplicação do artigo 6? no estado. O Rio do Sul aspirar à presidência da Repúbli-
Grande do Sul apresentava uma divisão ca e articular-se com as oligarquias dis-
política interna desde a instalação da Re- sidentes numa campanha nacional con-
pública, o que o tornava vulnerável às tra o regime,
intervenções federais. Em 1889, por oca A derrota nas urnas, face à persistên-
sião do golpe militar, os liberais que se cia da fraude, que sempre dava vitória
encontravam no poder no Rio Grande ao situacionismo, motivou a articulação
do Sul cederam o poder para os repu- revolucionária, que teve como estopim
blicanos, grupo minoritário e extrema- o assassinato de João Pessoa, líder polí-
mente ativo que, através de alianças e tico paraibano e candidato à vice-presi-
mecanismos de coerção, implantou uma dência pela chapa derrotada,
política de exclusão sistemática da opo A 3 de outubro de 1930, eclodia a
sição no poder. Enquanto ao longo da' "Revolução de Trinta", pondo fim à Re
República Velha a oposição maragato-li- pública Velha no Brasil, Apelos para votos
bertadora congregava parte da oligarquia em Getúlio.

RIO-ORANDENSES HONRADOS!
Confiae na vicíoria da ÀLLIÀNCA LIBERAL:

GctuIio Vargas c João Pessoa


A revolução de trinta

Os Anos
De Trãnsição

Revolução de Trinta deu-se,


portanto, em meio ao esgo-
^Bifctamento de um padrão de
desenvolvimento capitalista baseado na
agro-exportação de um só produto. Ti
nha fim a hegemonia dos interesses ca-
feicultores sobre a nação, bem como de
sarticulava-se o sistema político do libe
ralismo excludente.
O grupo que empolgou o poder no
imediato pós-30 era constituído por
membros dos setores agropecuários não-
exportadores em associação com milita
res da oficialidade tenentista. Embora
parte da oligarquia gaúcha que apoiara
Vargas tivesse a expectativa de que, com
a Revolução, os rio-grandenses passas
sem a ocupar a antiga posição dos pau
listas no controle da política nacional, a
gama de problemas nacionais a resolver
extrapolava em muito as meras preten
sões regionais.
Ante a falência da cafeicultura como
sustentáculo do padrão de acumulação
nacional, tratava-se, antes de mais nada,
de garantir a continuidade do desenvol
vimento capitalista brasileiro através de
novos padrões. Ligado a esta questão,
encontrava-se o problema de garantir as
condições de dominação sobre as clas
ses subalternas, incorporando reivindi
cações proletárias, desarticulando o mo
vimento operário e garantindo a ordem
social. Tais questões — emergenciais e
prioritárias — achavam-se ligadas ao pro
blema de dar uma nova base de legiti
midade ao Estado, ampliando-o enquan
to participação dos diferentes setores so-
w Partida de

m Getúlio Vargas de
Porto Alegre para
o Rio de Janeiro.
í-il
.tKvm
Chegada de
••4 Getúlio Vargas ao
Rio de Janeiro.

ÍEi
Paralelamente e ao mesmo tempo
imbricados com tais questões nacionais,
achavam-se os interesses regionais e se
toriais das várias frações da burguesia
brasileira. Da mesma forma, havia alian
ças com o Exército e expectativas das ca
madas médias urbanas, sem contar a ne
'jí ÍJ cessidade de incorporação, de forma tu
4.
telada, da massa popular das cidades.
•'«'ÍSlíí
A Revolução de Trinta constituiu-se
em mais uma etapa da revolução burgue
sa que se desenvolvia no país, construin
do progressivamente um modo capita
lista de produção e solidificando as es
truturas políticas e administrativas de
constituição do poder burguês no Brasil.

«♦1
tXT»;
fri t t' •.

^ >lr.-

í^' S nV-
^ '''í
í-J
íi""
PI rH*-i

[♦AMs
A revolução de trinta

Quanto ao primeiro problema a en Getúlio Vargas,


como chefe do
frentar — as possíveis saídas para o de
Governo
senvolvimento capitalista brasileiro que Provisório, assina
não a agro-exportação — o governo pas seu primeiro
sou a atuar através de medidas até certo decreto.

ponto emergenciais. A cafeicultura, por


exemplo, precisava ser atendida e o go
verno tanto recorreu à emissão e desva
lorização da moeda, para atenuar a bai
xa do preço do artigo no mercado inter
nacional, quanto passou a comprar,
queimar ou jogar no mar o caféexceden
te. Outras medidas complementares fo
ram tomadas, tais como a proibição de
plantio de novos pés de café e o paga
mento pelo governo de 50% do débito
dos cafeicultores aos bancos, indenizan
do os credores com apólices federais.
HYMND DFl REvnLUCF\D
o Brasil coloca
café no mar face P I PIH • E C RNT d J D H• OD SUL
à superprodução.
MR RÜIRL
A revolução de trinta

Paralelamente a tais medidas, que ti tegração do mercado interno brasileiro


veram o efeito de salvar o café da crise e o conseqüente recuo das importações,
mas transferiram para a nação o custo da com notória economia de divisas, uma
política econômica através da inflação, vez que as diferentes regiões trocariam
o governo empenhou-se na diversifica entre si produtos que antes adquiriam do
ção da economia brasileira. mercado externo. Por liltimo, cabe re
Esta proposta visava, por um lado, gistrar que tal política ia ao encontro dos
diversificar a pauta das exportações bra interesses das diferentes economias re
sileiras, suprindo o recuo da posição gionais, tanto as voltadas para o abaste Gaúchos
ocupada pelo café nas vendas internacio cimento do mercado interno quanto as amarrando os
nais. Com isso, entrariam divisas e a na voltadas para a exportação. Quanto ãs cãvalos no
Obelisco da
ção restabeleceria o equilíbrio da sua ba trocas internacionais, inaugurou-se uma
Avenida Rio
lança comercial. Por outro lado, a diver sistemática de intercâmbio produto- Branco no Rio de
sificação da economia possibilitaria a in produto, sern mediação de divisas, co- Janeiro.

«CICTI "
ít

tf
o ministro do
Tmbãlho Lindolfo
Collor participa,
de uma reunião
de líderes
sindicais.

íV^^l'v A" -^r- .!'> r..', •

r "-''AÉ2

N
ITI^lfTT

'*v '5^

O ministro da
Educação
Gustavo
Capanema.
A revolução de trinta

mo por exemplo o comércio com a Itá dinâmica da acumulação do capital pas


lia e a Alemanha, alcunhada de "políti sou do setor agrário para o industrial,
ca da lira e do marco compensado". mas a indústria ainda se apoiava na pro
O resultado prático das várias me dução de bens duráveis e semi-duráveis.
didas levadas a efeito pelo governo pa As bases técnicas e financeiras eram ain
ra encontrar saídas para o desenvolvi da insuficientes para que se instalasse um
mento capitalista brasileiro foi tornar a setor de bens de produção, fazendo o
indústria o novo setor de ponta da eco desenvolvimento industrial brasileiro
nomia brasileira. atingir novos patamares.
O desenvolvimento industrial No que toca ao segundo problema
pós-30 é resultado de um crescimento emergencial que se apresentava aos no
progressivo do setor desde as últimas dé vos detentores do poder no pós-30 —
cadas do século passado, ao que se con o estabelecimento de novas formas de
jugaram os efeitos da crise de 29, quan controle social —, procedeu-se à inter
do as perturbações no mercado interna venção direta do Estado no mercado de
cional estimularam a substituição inter trabalho, através da legislação social e da
na das importações. A tais fatores devem sindicalização das classes produtoras
ser acrescentadas a ação do Estado e a atrelada ao governo. O sentido básico da
pressão dos próprios empresários. nova política social correspondia tanto
No decorrer da década de trinta, a ã necessidade de assegurar as condições

Getúlio Vargas
assistindo a uma
solenidade
de dominação sobre a classe trabalhado
ra, contendo o conflito, quanto de ga
rantir as condições de reposição da
força-trabalho, estabelecendo condições
mínimas para o operariado. Por outro la
do, não estavam ausentes das iniciativas
trabalhistas as próprias necessidades eco
nômicas do governo, identificando-se no
fundo previdenciário instalado a coias-
tituição de uma reserva para o financia
mento de setores prioritários como a in
dústria de base.
Ambas as questões — uma saída pa
Cartaz de
convocação aos
ra o capitalismo e novas formas de con
paulistas para a trole social — estavam relacionadas com
Revolução a redefinição do Estado brasileiro.
Constitucíonalista
de 1932.
Operíodo de 30a 37- entre a abertura
Queima do café política e o autoritarismo
em Santos, 1931.

De uma certa forma, o Estado


O voto das
mulheres nas
pós-30 cumpriu as promessas da plata
eleições de forma da Aliança Liberal ao se abrir à par
^ À ..li i.. íi •!.. -Á. .i -i-
3/5/1933. ticipação dos demais grupos sociais, en
volvendo em seu programa as diferen-

W
A revolução de trinta

tes frações burguesas, incorporando as


classes médias em função do aumento
da burocracia e, por último, cooptando
parte do operariado com a legislação so
cial. Tal processo de ampliação da base
política do Estado não invalida a cons
tatação de que a elite dirigente (tecno-
cracia civil-militar) que passou a ocupar
os cargos decisórios correspondia a uma
gama de interesses burgueses que eram
Caricatura de
prioritários sobre os demais. Ou seja, o
Plínio Salgado.
fato do Estado se revelar como o repre
sentante de todas as classes sociais e bus Cartaz

car a sua legitimidade nas massas de integralista.


Anauê.
monstra que a burguesia estava conse
guindo fazer passar para a sociedade os
séus interesses particulares como se fos
sem universais.
O Estado brasileiro complexificava-
se e modernizava-se, incorporando in
teresses emergentes e revelaiado a diver
sificação da economia e da sociedade
brasileiras.
Neste sentido, o novo Estado reali
zou um reordenamento institucional vi
sando à centralização administrativa e
passou a intervir e regulamentar o apa
relho burocrático, num processo de
crescente estatização.
Ocorreu a hipertrofia do Executivo
central com a centralização das decisões
e recursos. Com a criação de novos ór
gãos e funções, ampliou-se o aparelho
burocrático, com a deliberada incursão
do Estado nos planos educacional, de
saúde, habitação, ao mesmo tempo em M
que proliferaram empresas estatais e de
economia mista.
Com relação às classes produtoras,
progressivamente o Estado foi implan
tando uma estrutura corporativista, na
qual se processava a arregimentação dos
grupos econômicos no sentido do seu
entrosamento com o governo sem a me-
diação dos partidos políticos.
[ií] r,4Í'fÍ « H\ Ora, perpassando por todas estas
questões e deliberações tomadas no
.-Liiiüiiiir-Kiiiniii r:ínnjíti!fi;Tnr^
pós-30, achava-se a questão de encon
trar o melhor encaminhamento para as
mesmas. Ou seja, reorientar o desenvol
vimento capitalista brasileiro, garantir as
condições de controle sobre os subalter
nos e rearticular a coalizão dominante de

111 «\ •
'^msrr^o
•m classes seriam melhor viabilizadas atra
vés de um governo liberal-democrático
ou autoritário? Ou ainda, o Brasil pós-
Revolução de Trinta enveredaria pela
maior abertura política ou pelo
fechamento?
Na verdade, o período que se esten
deu de 1930 até 1937 oscilou entre as
duas propostas. De 1930 a 1934, o Bra
Sede da Aliança sil vivenciou o Governo Provisório on
Nacional
de, na ausência de um Legislativo, o Exe
Libertadora no
Rio de Janeiro. cutivo governou através de decretos-leis.
Em suma, tratou-se de uma etapa discri
Conflito entre
comunistas e
cionária e foi somente por pressões de
integralistas na tmt* grupos regionais de poder — São Paulo
Avenida Paulista. e parte da oligarquia gaúcha —, articu
lados na Revolução Constitucionalista de
1932, que foram convocadas eleições e
instalou-se a Assembléia Constituinte em
1934. De 1934 a 1937, o Brasil atraves
sou um período constitucional, sendo
Getúlio Vargas, chefe do Governo Pro
visório, eleito indiretamente pelo Con
gresso como primeiro presidente cons
titucional do pós-30.
Pela nova lei eleitoral de 1932,
estabeleceu-se o voto secreto e foram in
cluídas as mulheres como eleitoras.
Parte das oligarquias reorganizou-se
nos estados, sob a liderança de alguns
nomes, como Flores da Cunha no Rio
Grande do Sul, que com a reconstitucio-
nalização passara de interventor a gover
nador eleito.
Nos anos que decorreram até 1937,
A revolução de trinta

radicalizou-se a política brasileira, com rie de princípios caros a pgrte significa Rebeldes da

a emergência de agremiações de direita tiva dos setores médios brasileiros qui Intentona
Comunista de
e de esquerda que contribuíram para de- viam no esvaziamento do seu pode novembro de
sestabilizar a sociedade brasileira. aquisitivo o risco de se proletarizarem 1935 , deflagrada
A Ação Integralista Brasileira, che Palavras de ordem eomo propriedade pelo 3°
Regimento de
fiada por Plínio Salgado, e a Aliança Na família e tradição calavam fundo junte
Infantaria do Rio
cional Libertadora, tendo por presiden à pequena burguesia e particularmente de Janeiro,
te de honra Luís Carlos Prestes, corres entre o colonato alemão e italiano qu< desfilam a
caminho da
ponderam à orientação de caráter fascis não se encontrava alheio aos sucesso,
prisão.
ta, por um lado, e comunista, por outro. políticos do fascismo na terra de origen
Mais do que meras organizações que ex de seus pais. Por outro lado, a Alianç:
pressavam tendências ideológicas, o in- Nacional Libertadora correspondeu i
tegralismo e a ANL configuraram a ex orientação da Internacional Comunistí
teriorização de inconformidades sociais, de formação de frentes únicas na Amé
temor de proletarização e agravamento rica Latina que congregassem trabalha
das condições de vida das camadas po dores e classes médias. O enfrentamen
pulares urbanas e dos pequenos proprie to de ambos os grupos, causando intran
tários rurais. qüilidade social, vinha ao encontro dos
O movimento integralista, forma de interesses do grupo que apostava no fe
fascismo indígena, apoiava-se numa sé chamento da política brasileira como s

&
Plano Cohen. CORREIO DA »AXHA — Beio-leirm, I <• Oalabn «• ItX!
Correio da
Manhã, Às instrucções do Komintern para a acção
1FI10I1937. dos seus agentes contra o BraaO
o tncÈrao pían foi appr^aidids pelo Ectodo-Uuor io Exercbo

melhor forma de encaminhar as medidas no plano dos estados, para a instalação


necessárias para a consolidação do Es da ditadura. Mediante manobras de Var
tado burguês. gas, a retirada de apoio político parla
Na verdade, por pressão da socie mentar a Flores na legislatura estadual e
dade civil, o governo pós-30 fora obri a federalização da bancada gaúcha obri
gado a abrir o regime político sem que garam o governador a renunciar, fugin
se consolidasse um novo marco integra do para o Uruguai.
dor dos interesses sociais. Às pressões A "descoberta" de um plano comu
oligárquicas regionais de 1932 somara- nista para tomar conta do país, esqueci
se os conflitos entre aliancistas e integra do "por acaso" no próprio Estado Maior
listas em 1935, acrescentados do recru- do Exército, marcou o desenrolar final
descimento das greves operárias. Sob a dos acontecimentos. O Plano Cohen,
liderança do Partido Comunista, tais mo forjado especialmente para alarmar a so
vimentos passaram a expressar o descon ciedade brasileira, deu a justificativa que
tentamento com a legislação social "ou faltava para o fechamento político, ape
torgada" pelo Estado, bem como a es sar da campanha de sucessão presiden
tratégia dos representantes do Ministé cial se achar em curso.
rio do Trabalho, que tendiam a identifi O Exército solicitou o estado de
car-se com os interesses dos patrões e guerra, a opinião pública se encontrava
não com os empregados. abalada e os políticos voltaram-se para
Neste contexto de intranqüilidade, os militares, buscando neles o amparo
o governo fechou a Aliança Nacional Li e a salvaguarda das instituições.
bertadora no mesmo ano de 1935 e fez A 10 de novembro de 1937 era fe
aprovar a Lei de Segurança Nacional. O chado o Congresso Nacional e tinha iní
incremento da repressão estimulou no cio o Estado Novo. A ditadura se insta
vas reações, como a Intentona Comunis lava numa sociedade já preparada para
Piores da Cunha ta de novembro de 1935, articulada por a decretação do golpe. A consolidação
no Palácio elementos das Forças Armadas e que por do poder burguês no país ingressava em
Pirarini. 1936,
Porto Alegre.
sua vez propiciou novas ações repressi uma nova fase e as classes dominantes
vas do governo. Foi declarado estado de transitavam de uma forma burguesa pa
sítio e após deu-se a equiparação deste ra outra, mantendo a sua hegemonia so
ao estado de guerra, suspenderam-se as bre a nação e o seu controle sobre os su
garantias individuais e organizou-se uma balternos.
Comissão de Combate ao comunismo e Estabelecia-se o consenso de que a
um Tribunal de Segurança Nacional. Ga melhor forma de realizar o progresso
nhava força a marcha para o fechamen econômico e garantir a ordem social era
to político, levada a efeito pelo próprio através do regime autoritário. Curiosa
governo, que removia os últimos obstá mente, o Estado Novo se apresentava co
culos para o golpe. No Rio Grande do mo o único capaz de realizar a verdadeira
Sul, o governador Flores da Cunha re democracia, através de um governo forte
constituíra um bloco regional de poder, que moralizaria as instituições, livrando-
congregando as diferentes facções polí as de seus antigos vícios.
ticas em torno de seu governo. Flores da
Cunha representava o maior empecilho,
o Estado Novo

É om o apoio do Exército,
Getúlio Vargas instalou a di-
tadura no Brasil, sendo sau
dado entusiasticamente pelos "camisas-
verdes" integralistas, que viam na mar
cha do país para a direita uma solidifica
ção de suas posições. Todavia, suas pre
tensões foram frustradas, pois o Estado
Novo proclamou de imediato a extinção
dos partidos políticos no Brasil e não in
cluíra os "camisas-verdes" na poderosa
e burocratizada estrutura de poder que
se montou. Inconformados, tentaram
derrubar o governo recém instalado na
fracassada tentativa integralista de 1938.
O Estado Novo implantou no Bra
sil um anti-liberalismo doutrinário, alar
deando a falência dos regimes democrá
ticos no mundo, para o que recolhia
NOVEMBRO exemplos da realidade européia, onde os
governos de caráter fascista se encontra
TI IfíMlOIT)
vam em ascensão.
A instalação da ditadura represen
tou, pois, a vitória da corrente autoritá
ria enquanto forma de viabilizar o desen
volvimento capitalista no Brasil associa
da a rígidas formas de controle social. O
Estado apresentava-se como o "Leviatã
protetor", que outorgava a legislação so
cial, intervinba e protegia, dirigia e coor
denava a sociedade, pairando acima dos
grupos sociais. Alijava-se do vocabulário
a noção de "classe" e em seu lugar
divulgava-se a idéia de povo, identifica
SECUMIA FEKA da com a nação. A nação brasileira era,
Olh-. Geiuilo va'Qas pois, o conjunto do povo, onde as dife
renças sociais eram desconsideradas para
creou o Estado Novo ceder lugar às diferenças de etnia e cul
1937 tura, às quais se somavam as variações
geográficas de clima, vegetação, solo e

V
o Estado Novo Cerimonia, de
queima das
bandeiras dos
estados em
4/12/1937, na
Esplanada do
Russel, Rio de
Janeiro.

atividades econômicas. O conjunto des


tas diversidades constituía a nação bra
sileira, onde com a cooperação de todos
se realizaria a aventura do progresso.
Substituía-se, pois, a idéia do conflito pe
la da harmonia social e da conjugação de Cartilha do DIP.

esforços. O progresso do país, por ou


tro lado, era identificado com o desen
volvimento da indústria e com o conse
qüente bem-estar social. Por sua vez, o
progresso só poderia ser atingido atra
vés da preservação da ordem, o que se
viabilizaria com o governo autoritário.

Viabiliza-se no País a idéia da segurança


nacional associada ao crescimento industrial

o encadeamento destas idéias, de


senvolvidas em torno de uma matriz na
cionalista, justificava a ditadura e consa
grava a meta do desenvolvimento indus
trial como o novo caminho para o capi
talismo brasileiro. O Estado Novo mar
ca, pois, o momento em que o rumo da
industrialização passa a ser uma meta
consciente por parte do governo, assi
nalando também o entrosamento dos
empresários industriais com a elite tec-
noburocrática do governo.
Enquanto proposta econômica, o
"modelo getuliano de desenvolvimen
to" que vinha se estruturando ao longo
dos anos trinta atinge no Estado Novo
uma clara definição: pretendia-se a con
solidação de um capitalismo nacional
auto-sustentado, tendo a indústria como
carro-chefe, o que promoveria a supe
ração da estrutural situação de depen
dência do país, interiorizando os centros
de decisão. Postulava-se a implantação
de ramos dinâmicos e de uma indústria
de base, viabilizando-se no país a idéia GetúJio Vargas lê
o texto Nova
da segurança nacional associada ao cres Constituição de
cimento do setor secundário da eco 1937, apelidada
nomia. "Polaca".
Getúlio Vargas
com seu ministro
da Guerra,
General Eurico
Gaspar Dutra,
1944.
o Estado Novo

Embora apoiado em nítidos princí tidos. Despolitizando a sociedade e in-


pios de nacionalismo econômico, o mo ternalizando a sindicalização da classe
delo gctuliano de desenvolvimento não produtora atrelada ao Estado, o novo go
apresentava ojeriza ao capital estrangei verno apresentava-se como a melhor for
ro. Entendia-se contudo que a sua entra ma de conduzir o capitalismo brasileiro
da no país e a sua atuação na economia para novas etapas.
brasileira deviam ser controladas e diri
gidas pelo governo. Amáquina do governo
O projeto tinha o apoio da chama é ampliada
da "burguesia nacional", entendendo-se
nesta câtegoria o capital que aqui se ge Os empresários apoiaram o coope-
rasse e se reproduzisse. A burguesia in rativismo, porque o mesmo proporcio
dustrial brasileira dava apoio à propos nava uma eficiente forma de controle so
ta de desenvolvimento governamental e bre as classes subalternas (através da le
encontrava respaldo junto ao governo gislação trabalhista e da estrutura sindi
no controle da classe operária. O Esta cal). Por outro lado, o Estado corporati
do corporativo, que arregimentava des vo abria caminhos de comunicação di
de cima os grupos de interesse econô reta e fácil com os dirigentes do Estado.
mico para junto do governo, tornava dis A burguesia passara a participar dos ór
pensável a presença dos canais políticos gãos técnicos de planejamento e decisão,
de negociação representados pelos par ampliando o seu espaço junto ao Esta-

GetúJio Vargas
discursando
a bordo do Minas
Gerais, 1939.

w
Povo assistindo
no Rio de Janeiro
a discurso de
Getúlio Vargas,
1940.

^^^85 c®!!l|;r?L'í%íí
Getúlio Vargas
ouvindo as
manifestações
populares contra
o torpedeamento
dos navios
mercantes
brasileiros, 1942.

"C-^ã

w"':â7
o Estado Novo

do e reconhecendo na elite tecnoburo- Discurso de


Vargas em 1940,
crática o seu representante político. Rio de Janeiro.
As classes médias foram cooptadas
C*
pelo inchamento do aparato administra
tivo, através da ampliação das funções
'ti.conoBi dos serviços públicos e a criação de no
O W SÍC l». vos cargos. Parte do operariado optou
PílOS POOf. *•»• • •• .,,,^- pela situação de tutela dos sindicatos ofi
* ••«y •*•»•» (
ciais, vendo na legislação social e na Jus
^ *.» «• tiça do Trabalho vantagens reais e efeti
vas em contraposição a um Partido Co
munista relegado à ilegalidade. A insta
lação do salário mínimo em 1940 foi um
elemento de sedução política importante
em torno do proletariado urbano, em
bora na verdade garantisse aos trabalha
dores a reprodução de suas condições
de existência também a um nível míni
mo.

A expansão da máquina do gover


no foi acompanhada da progressiva hi
pertrofia do Executivo central. Este fe
nômeno, que já vinha se desenvolven-

Entrevista
coletiva de
Vargas, 1945-

GetúUo Vargas
com o general
Mascarenhas de
Moraes na Escola
Superior de
Guerra. 1939.

w
Cartaz pro-
Siderúrgica
Nacional.

Desfile da FEB
(Força
Expedicionária
Brasileira). t

Getúlio Vargas e iman porti iiTivp


Rooseveldt em
Natal, 1943.
lEmanciPQÇflo iconomiCR

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do desde 1930, teve condições de me^
Ihor realização no Estado Novo, quan
do foi suprimido o Legislativo. Ao mes
mo tempo que haviam sido criados tam
bém nos estados institutos e órgãos téc
nicos, a figura de um interventor asse
gurava a presença e o elo de ligação com
o chefe supremo da nação.

Complemento ideológico:
r
MECeDIP

A proposta autoritária e nacionalis


ta do Estado Novo teve a sua comple-
mentação ideológica através da educa
ção e da propaganda. Foram criados o
Ministério da Educação e Cultura, diri
gido por Gustavo Capanema, e o Depar
tamento de Imprensa e Propaganda, di
rigido pelo jornalista Lourival Fontes,
que dividiam entre si os "saberes": ao
MEC cabia a educação e a cultura das eli
tes; ao DIP, o controle da informação e
de uma cultura popular. Juntos, contu
do, articulavam-se na mesma missão: di
fundir valores, pautar condutas, ajustar
os indivíduos ao ideário nacionalista da
manutenção da ordem, da construção do
progresso e da valorização dos elemen
tos da cultura local. Patrocinando a ar
te, estimulando as edições, buscava-se
produzir uma cultura nacional e uma
postura favorável ao regime através de
uma relação pedagógica para com o ci
dadão. A censura da imprensa corrobo
rava estas tarefas. A "Hora do Brasil"
transmitia a voz do presidente para to
dos os brasileiros, enquanto nas escolas
cartilhas e livros didáticos exaltavam a
figura de Vargas e estimulavam o amor
pátrio. A música popular brasileira não
escapou dos tentáculos da censura e os
compositores deviam submeter suas pro
duções a um prévio exame para poste-
Carmem rior liberação. Surgiram assim sambas es-
Miranda.
tadonistas, nos quais o "malandro" era
substituído pelo "trabalhador". Da mes
ma forma, sambas-enredo dos desfiles
carnavalescos, que haviam tido grande
expansão no pós-30, eram submetidos
também à censura prévia e, por imposi
ção do governo, deviam escolher temas
nacionais e de cunho patriótico.
Os desfiles patrióticos das forças ar
madas e a comemoração de datas cívi
cas nas escolas, com apresentação de co
rais, desfiles da mocidade e mrmeros de
ginástica^ completavam este quadro de
aprimoramento moral e físico da "raça"
brasileira.
Este quadro de exaltação cívica, de
culto às virtudes morais e de incentivo
a uma produção intelectual dirigida, con
trastava com a liberação do jogo nos cas
sinos e com os requintados shows de ve
detes.
O povo construía o progresso na or
dem, e a elite divertia-se na noite... Por
outro lado, nos subterrâneos do Estado
Novo, os inimigos do regime sofriam tor
turas e espancamentos.

OBrasil combate as potências


do Eixo, mas continua com um
governo de tipo fascista
o cunho nacionalista do Estado No
vos teria um carro-chefe em matéria eco
nômica: a instalação de uma siderúrgi
ca, implantando no país uma indústria
de base. Todavia, as bases financeiras e
técnicas do país eram escassas para que
este projeto se efetivasse apenas com ca
pitais nacionais. Mesmo que a meta fos
se a sua implantação através de uma es
tatal ou semi-estatal, os recursos locais
revelavam-se insuficientes. Era preciso
pois, conciliar a necessidade dos capitais
o Estado Novo

estrangeiros com o cunho nacionalista


do modelo getuliano. Esta possibilidade
era dada pela idéia de que, com uma in-
diistria de base, superar-se-ia a depen
dência, conseguindo o Brasil, como
grande potência, tornar-se autônomo e
perseguir seus ideais nacionais. O capi
tal estrangeiro viria para um ramo indi
cado pelo governo, mediante emprésti
mo, e o controle de sua aplicação seria
feito pelo próprio Estado.
A eclosão da Segunda Guerra Mun
dial veio proporcionar ao governo bra
sileiro uma conjuntura favorável para
que ele realizasse seu projeto sidertirgi-
co. Erente aos imperialismos em choque,
o Brasil teria condições de barganhar e
tirar proveito. Ao manter entendimen
tos com a Alemanha nazista e mesmo
anunciar que o poderoso grupo dos
Krupp estava disposto a conceder um
empréstimo, o Brasil apressou o gover
no norte-americano a decidir-se a finan
ciar a construção em Volta Redonda de
uma siderúrgica. Em troca, o BraSil ce
dia uma base aérea no Nordeste para que
os norte-americanos pudessem dar con
tinuidade ao seu plano de desembarque
na África do Norte e, de lá, partissem pa
ra a ofensiva no sul da Europa.
Em 1941, foi fundada a Companhia
Siderúrgica Nacional com o empréstimo
de 20 milhões de dólares pelos Estados
Unidos e mais 25 milhões de dólares in
vestidos pelo governo brasileiro. Em
1943, os Estados Unidos contribuíam
com novo empréstimo. Ajustando no
plano militar o seu entrelaçamento eco
nômico com os Estados Unidos, o Bra
sil entrava na guerra para lutar do lado
dos aliados.
A partir de então, estabelecia-se uma
situação bizarra: no plano europeu, o
Brasil combatia as potências do Eixo em
S

\J

Comício do PCB
no campo do
Vasco.
o Estado Novo

nome do mundo livre, mas no plano in


terno vigorava um regime de direita com
conotação fascista.
A partir de 1943, iniciou-se a rede-
mocratização do país, que, se por um la
do correspondia aos compromissos de
alinhamento político/econômico exter
nos, por outro vinha ao encontro das rei
vindicações da sociedade civil que prin
cipiava a se agitar.
Quebrava-se progressivamente o
consenso em torno do autoritarismo em
vários níveis; o fechamento da máquina
administrativa fora progressivamente
afastando-se ou pelo menos deixando de
ser o interlocutor dos grupos econômi
cos mais representativos, como por
exemplo os empresários.
Não se negava o modelo econômi
co seguido nem se postulavam outras
metas a serem cumpridas pelo governo.
O que estava em pauta era o realinha-
mento político interno, e as mesmas for
ças que haviam sustentado o autoritaris
mo acabaram por abandoná-lo.
Na mesma medida em que a burgue
sia optou pela redemocratização, o res
tante da sociedade civil a acompanhou
neste processo: intelectuais, estudantes
e operários em greve conseguiram furar
a censura da imprensa e o poderoso DIP,
tornando pública sua inconformidade
com o regime.
Corroborando o avanço do proces
so de democratização em curso, o "ame-
rican way of life'' infiltrava-se progres
sivamente no Brasil e as ligações cultu
rais com os Estados Unidos estreitaram-
se: o Brasil mandava Carmem Miranda
e o Bando da Lua para a América do Nor
te e de lá nos chegavam o Pato Donald,
o camundongo Mickey e o recém-cria-
do personagem de Disney, o brasileirís
simo Zé Carioca...
o envio da Força Expedicionária cionalismo econômico aplicado a uma
Brasileira para a Itália, em 1944, e o re indústria de base. Getúlio Vargas foi es
torno dos pracinhas, em julho de 1945, colhido para a presidência de ambos os
vieram solidificar o alinhamento "defi partidos. Os adversários de Vargas cons
nitivo" do país junto à liberal- tituíram a União Democrática Brasileira
democracia. (UDN). Com apoio de parte dos setores
Todavia, o próprio Vargas médios, a UDN agregava parte dos capi
preparava-se para a retirada, tutelando a talistas não favorecidos pelo Estado No
criação de dois partidos que represen vo e por Vargas, como por exemplo ban
tavam a continuidade do sistema: o Par queiros.
tido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Par O processo de criação dos partidos
tido Social Democrático (PSD). deu-se em meio à campanha eleitoral pa
Agregando as diferentes frações da ra a sucessão de Vargas, num acúmulo
burguesia, as duas agremiações represen de pressões da sociedade civil que foi le
taram os esforços de permanência no po gitimado pelo próprio Executivo central.
der dos mesmos grupos dominantes no Paralelamente, o governo decretou anis
Estado Novo, travestidos com a capa de tia para os presos políticos, voltando o
mocrática. A diferença básica que se im Partido Comunista para a legalidade e
punha era aquela que vinculava a estru sendo o líder Luís Carlos Prestes liber
tura sindical ao PTB, fazendo deste o tado.
partido mais progressista e arrojado em Enquanto que os demais partidos
sua proposta de desenvolvimento capi lançavam seus candidatos à presidência
talista. Defendendo o crescimento dos (o Brigadeiro Eduardo Gomes pela UDN,
ramos mais dinâmicos da indústria, o o General Enrico Gaspar Dutra pelo
PTB levava mais longe a bandeira do na- PSD), os comunistas, ligados às lideran
ças sindicais trabalhistas, como Hugo
Borghi, iniciaram a campanha "quere-
mista", cujo refrão "queremos Getúlio"
reivindicava a realização de uma Cons
tituinte com Getúlio Vargas. A suspeita
de manobras continuístas do ditador le
varam ã mobilização do Exército para
depô-lo. O pretexto para a derrubada de
Vargas foi a nomeação de Benjamin Var
gas, seu irmão, para o cargo de chefe de
Polícia do Rio de Janeiro. Deposto pe
los militares, o ditador retirou-se para o
Rio Grande do Sul, sua terra natal.
As eleições realizadas em dezembro
de 1945 deram a vitória ao Gen. Dutra,
apoiado pela coligação PTB-PSD, venci
dos os candidatos da UDN, Eduardo Go
mes, e do Partido Comunista, ledo Eiú-

W
Populismo, indústria e inflação

Ascensão EQueda
De Uma Demoeracia

c â om o fim do Estado Novo,


inaugurava-se um período
democrático na vida brasi
leira, marcado pelo voto e pela vida par
lamentar, pelo pluripartidarismo e pelo
estilo pQlítico populista.
No Brasil, o populismo foi um fenô
meno eminentemente urbano, que teve
como pressupostos a consolidação de
uma ordem industrial e a constituição de
massas populares nas grandes cidades.
Resgatando as promessas de demo
cracia presentes desde há muito na so
ciedade brasileira toda a vez que se alte
rava o regime — instalação da Repúbli
ca, Revolução de Trinta e até o Estado
Novo —, o Estado pós-45 foi ao encon
tro da fonte de legitimidade do seu po
der: as massas populares urbanas.
A rigor, o populismo representou a
forma mais acabada de emergência do
povo no processo político, emergência

ftWt* juires. hivemoit éí realizar ms 2 ée deiemkr» praÚM nn tkitM idissa i# iw*s WasilíV»"--
jir rm rarla aos sros antigos colegas do Tribunal Snperior Eleitoral o «ovo Chete do Governo

LIBERTADO
O BRASIL
ADpOS^ÇAO DO GETULIO VARGAS
Queda de Getúlio
Vargas em
29/10/1945.

asosi do povo brooliolro


Foi nm fiasco íromendo o
á
golpe do dõlador. gue
— o u„....
Senadores
Getúlio Vargas e
Luís Carlos
Prestes apoiando
o candidato do
PDS Carlos Cirilo
Jr. na campanha
para vice-
governador de
São Paulo, 1947.

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General Eurico
Gaspar Dutra,
presidente do
Brasil eleito após
a queda de
Getúlio Vargas.

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Populismo, indústria e inflação

esta que se deu de forma tutelada, que PromuJgada a


Constituição.
manipulava seus anseios.
Restabelecia-se o conceito de cida
dania, pressupondo que o povo exercia
o seu direito de participar na vida polí
tica através do sufrágio, elegendo seus
candidatos e influindo desta forma nas Getulio Vargas,
ex-presidente do
decisões governamentais. O poder de Brasil, em sua
voto das massas era, contudo, barganha fazenda em Sao
do com os líderes políticos, Boría.

estabelecendo-se uma aliança na base de


favores e atendimentos às questões de
política geral e de interesses particulares.
Ao povo competia votar e dar
apoio; ao Estado, fonte de poder, dar
atendimento às reivindicações.
Desta forma, o populismo foi tanto
a expressão da emergência das massas,
das suas reivindicações e do seu peso po
lítico, quanto foi uma forma de manipu
lação de suas aspirações, garantindo a
continuidade do domínio das elites.
Apoiando-se na idéia nacionalista de
que era possível encontrar saídas para a
economia brasileira com capitais e reçur-
sos humanos nacionais, o populismo li
dava com a idéia da harmonia social. Ou
seja, expurgava da realidade a noção
classista do conflito e propugnava pela
cooperação harmônica de todos os gru
pos na perseguição dos fins sociais de
progresso e paz social. Desta forma, o
populismo estabeleceu, enquanto estilo
político, uma aliança entre governo, em
presários e trabalhadores que visava le
var adiante um tipo de projeto para o
Brasil. Capitalista, nacionalista e indus-
trializante, o modelo getuliano de desen
volvimento tinha no estilo político de
populismo um poderoso elemento para
a consolidação da burguesia enquanto
classe e para o atrelamento das classes
populares ao Estado, através dos sindi-
Getúlio Vargas e
João Goulart.

Getúlio Vargas no
Rio Grande do
Sul, 1950.

%
Populismo, indústria e inflação

catos, dos "pelegos" e das organizações determinado padrão de desenvolvimen Comício da


vitória de Ademar
político-partidárias do novo estado de to.
de Barros no Vaie
mocrático. É no decorrer da democracia popu do Anhangabaú.
Na relação que se estabelecia entre lista que o processo de constituição do São Paulo,
o líder populista e as massas, o primei capitalismo no Brasil teve o seu final. 11/3/1947.
ro lançava mão do carisma e da sua ca Com a instalação de um departamento O alinhamento
pacidade de distribuir favores, atenden produtor de bens de produção, houve Brasil/Estados
do aos cidadãos. condição para que a capacidade produ Unidos da
América.
Estes, por sua vez, apesar da dife tiva crescesse adiante da demanda. O
rença social, encontravam no líder um Brasil atingia assim o patamar almejado
patamar de igualdade: cidadão como eles pelo modelo getuliano de desenvolvi
no exercício de seus direitos políticos, mento, de poder superar as condições
dependia do seu voto para exercer seus de dependência externa, segundo a óti
poderes. É pois uma relação paternalis ca nacionalista.
ta que se estabelece entre quem dá e Mas entre o ideário e a realidade, as
quem recebe, mas é ao mesmo tempo a relações internacionais do capital e, in
relação entre o Estado de um lado, en ternamente, as relações'intra e extraclas-
quanto instituição, e os cidadãos, elei se, deram novo curso ao processo.
tores e contribuintes de outro, reivindi Ao longo dos governos populistas,
cando seus direitos. No cômputo geral ocorreram oscilações da política econô
da análise, o populismo contribuiu para mico/financeira e das estratégias de de
solidificar a dominação burguesa e garan senvolvimento econômico brasileiro.
tir as condições de acumulação de um Tais oscilações revelaram a interve-

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min
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A volta de Getulio Vargas
Getúlio Vargas em seu governo
constitucional.

Getulio Vargas
sob a proteção de
seu guarda-costas
Gregório
Furtado, o "an;o
I
negro" do
presidente. 1950,
campanha
presidencial.

f A
Populismo, industria e inflação

niência de três ordens de fatores: a pres Sob o influxo de uma nova Consti
são externa do capital monopolista so tuição, a consolidação da democracia era
bre o Estado brasileiro e a economia ca a grande meta, mas o PCB, que disputa
pitalista nacional, como um todo; as ci- va com o PTB a adesão das massas, teve
sões no interior da burguesia, que de na o seu registro cassado em 1947 e foi no
cional optou progressivamente pela in vamente relegado à clandestinidade.
ternacionalização; as pressões desde bai A ilegalidade do PC e as medidas de
xo, da sociedade civil, a partir do mo liberalização das importações, facilitan
mento em que a política de massas po do a entrada dos produtos industrializa
pulista abriu caminho para uma ação efe dos norte-americanos, são sem dúvida
tiva das classes sociais, ameaçando a or reorientações que encontram sua lógica
dem instituída. no alinhamento do Brasil com os Esta
dos Unidos.
Industrialização, inflação e instabilidade No plano político militar, o Brasil
social: a crise se instala alinhava-se junto à nação norte-
americana na incipiente Guerra Fria,
Já no governo de Dutra, sob o in rompendo relações com a União Sovié
fluxo da coligação PTB/PSD, houve uma tica. Complementando este alinhamen
oscilação entre urna postura mais nacio to, o Brasil sediou, em 1947, a Confe
nalista e uma tendência de abertura ao rência Interamericana de Manutenção de
capital estrangeiro. Paz e Segurança, que finalizou com a as-

J'6 ' //'


•• / / /

Discurso ,de
Getúlio Vargas,
Solenidade na
Escola Superior
de Guerra. À
esquerda de
Getúlio Vargas, o
chefe do Estado-
Maior do
Exército, Pedro
Aurélio de Góis
Monteiro. 1952.

Petrobrás,
símbolo do
nacionalismo
econômico do
Governo Getúlio
Vargas. f
Campanha "O
Petróleo é ¥
nosso".
Populismo, indústria, e inflação

sinatura do Tratado de Assistência Recí A eleição de Getúlio Vargas para a Sobre o incidente
da Rua Toneleiros
proca, o qual permitia a interferência dos presidência da República, em 3. de ou
(Tribuna da
Estados Unidos nos países da América tubro de 1950, veio reencaminhar o de Imprensa).
onde se revelasse uma situação atenta senvolvimento econômico brasileiro pa
tória à manutenção da paz e da seguran ra os rumos do nacionalismo e da indus Sobre o suicídio
de Getúlio Vargas
ça no continente. trialização. (Última Hora).
No plano econômico, um passo po Trazido de volta ao Catete "nos bra
deroso para a aproximação com os Es ços do povo", o ex-ditador fizera uma Oswaldo Aranha
discursando no
tados Unidos foi dado pela constituição série de acordos políticos. Lançado can enterro de
da Comissão Técnica Mista BrasiT didato do PTB, tivera o apoio do Parti Getúlio Vargas. À
Estados Unidos, conhecida como Missão do Social Progressista (PSP) em troca da sua esquerdaJoão
Goulart e
Abbink, alcunha tirada do nome do re promessa de apoiar seu líder Ademar de
Tancredo Neves.
presentante norte-americano John Ab Barros nas próximas eleições presiden
bink. Os resultados dos trabalhos da Co ciais. O próprio PSD, que tinha candi
missão recomendavam que fosse conti- dato próprio (Cristiano Machado),
-da a inflação e que o desenvolvimento apoiou-o em vários estados. Além do
da indústria petrolífera era indispensável PSD, a UDN apresentou seu candidato
para o crescimento econômico do país. ã presidência, insistindo novamente no
Para atingir tais firís, a Comissão apon nome do Brigadeiro Eduardo Gomes. A
tava para a compressão salarial como me composição da aliança política para a vi
dida antiinflacionária de efeito e o recur tória de Vargas refletiu-se na composi
TRIBI^V RIJMmiiSÁS
so ao capital estrangeiro para suprir a fal- ção do ministério, sendo as diversas pas
ta.de recursos nacionais para a prospec- tas divididas entre o PTB, o PSD e o PSP,
ção do petróleo. cabendo até o Ministério da Agricultura

i V V. Mm.y >•liMÊt"

1 '

ULTIMO BILHETE DE GETÚLIO

OUMMO SOA PtlOMÍSSA: 'íó MMW SASHí00 CÃItTF

TLiwnns'.

aiiniiiiiiii
Inauguração de
Brasília,
21/4/1960.

Linha de
montagem da
Vblkswagen em
São Bernardo do
Campo, São
Paulo, 1958.

Diários
Associados;
edição
comemorativa da
transferência de
capital para
Brasília.

t-©iarios â.S35onahas
Populismo, indústria, e inflação

para a UDN em retribuição ao apoio que jugada ãs necessidades de importação da


este partido deu a Vargas em Pernambu economia brasileira. O governo federal
co... Teoricamente, com tal composição controlava a venda de divisas através da
de forças Getúlio Vargas teria amplo res licitação seletiva dos dólares. A propos
paldo para governar, retomando as ré ta do nacionalismo econômico, conju
deas do nacionalismo econômico que, gada ã necessidade do recurso ao capi
segundo ele, fora abandonado em 1945 tal estrangeiro para suprir as deficiências
com Dutra. Tratava-se, contudo, de re de inversão em setores básicos que di
tomar uma idéia construída e difundida namizassem a economia, trouxe ã baila
durante os anos de fechamento político, a questão da remessa de lucros. A deci
dando-lhe uma feição democrática. Pa são de outorgar ao governo o poder de
ra o povo se voltaram as atenções do no controlar as remessas de lucros das com
vo presidente, apoiado na vigorosa es panhias estrangeiras entrava em confli
trutura sindical ligada ao Ministério do to aberto com o capital internacional.
Trabalho. A tais questões, todas elas alvos de
Na reafirmação do nacionalismo, intensos debates, acrescentaram-se aque
empreendeu-se a campanha "O petróleo las derivadas diretamente da política de
é nosso", defendendo o monopólio es massas. O populismo trouxera para a are
tatal do petróleo, e foi traçado o plano na política as camadas populares que, no
inicial da Eletrobrás para suprir as defi exercício de sua cidadania, se posicio
ciências de energia. Paralelamente, Ge navam por participação, por empregos
túlio Vargas adotou o sistema de taxas e por elevação dos seus padrões de con
múltiplas de câmbio, permitindo a exis sumo. Com isso entrava em cena a ques
tência de uma política protecionista con tão do salário mínimo e de sua elevação.

i£ t. « «

Juscelino
Kubitschek e
João Goulart a
caminho do
Catete, após a
solenidade de
posse no Palácio
Tiradentes. Rio
de Janeiro,
l?1211956.
Jânio Quadros
em campanha
presidencial. São
Paulo, 1959.

rv

Posse de Jânio
Quadros. Brasília,
1961.

Jânio deixa o
Palácio da
Alvorada, 1961.
Populismo, indústria e inflação

requisitada pelos trabalhadores. Quanto bem Vaz, que acompanhava Lacerda, o


aos industriais, as propostas do Plano qual saiu apenas ferido. Transformado
Aranha de combate à inflação, acompa o episódio em escândalo nacional, apa
nhadas da restrição do crédito às indús receram acusações de conspiração con
trias, eram um elemento de discórdia tra os getulistas. Sentindo-se traído,
com o governo. A decretação do aumen abandonado e perdendo sucessivamen
to de 100% do salário mínimo por par te apoios, Getúlio Vargas suicidou-se a
te do Ministério do Trabalho veio agra 24 de agosto de 1954. O Brasü perdia seu
var ainda mais estas relações. As vanta presidente, e o PTB ganhava um mártir.
gens da associação com o capital estran A ascensão do vice Café Eilho (PSD)
geiro, sempre presentes como uma pos à presidência da República foi marcada
sibilidade ilimitada de expansão, vieram por uma medida de amplas repercussões
dar força a um processo de cisão no seio sobre a economia brasileira: a instrução
da burguesia brasileira, que recuava pro 113 da Superintendência da Moeda e do
gressivamente de sua posição naciona Crédito (SUMOC) estabeleceu que as em
lista. presas associadas ao capital estrangeiro
A todos estes problemas econômi poderiam realizar suas importações do
cos, sociais e políticos veio acrescentar- exterior sem cobertura cambial, não ten
se a divisão do Exército entre uma ala do que recorrer ao licitamento de dóla
nacionalista, que apoiava Getúlio nas res. A medida, como se vê, trazia vanta
suas ações, e uma ala anticomunista, que gens inegáveis para as empresas que se
via na aproximação do governo federal associassem, constituindo-se também
com os sindicatos uma alarmante ten num chamariz para o capital estrangeiro.
dência esquerdista. Procedidas as eleições, foi eleito Jus-
No tocante ao setor agro-exportador, celino Kubitschek, do PSD, tendo por vi
em 1953 os Estados Unidos, principal ce João Goulart, do PTB, com o apoio
comprador do produto, ameaçava can do PCB. Na oposição, concorreram Jua-
celar suas importações de café, alegan rez Távora, pela UDN, Ademar de Bar-
do os altos preços do produto. ros, pelo PSP, e o ex-integralista Plínio
Em 1954, a situação era, pois, ex Salgado, pelo PRP (Partido de Represen
tremamente conturbada, e os debates se tação Popular).
intensificavam, do Congresso às ruas, do Alarmadas com o risco da esquer-
Clube Militar aos sindicatos. A UDN, tra dização da política brasileira, as forças
dicional adversária de Vargas, não pou de direita tentaram impedir a posse dos
pava críticas ao governo, principalmen candidatos eleitos. Seu alvo principal era
te através de um seu representante, Car João Goulart, político que diziam
los Lacerda. Através do Jornal "Tribuna entender-se bem com as esquerdas, com
da Imprensa", Lacerda lançava violen largo trabalho junto aos sindicatos. En
tos ataques ao presidente, o que moti tretanto, o General Lott, ministro da
vou um dos guarda-costas de Vargas, Guerra, garantiu a posse do novo presi
Gregório Eortunato, a preparar uma em dente, que iniciou a governar sob o in
boscada para o jornalista. O chamado fluxo da proposta de fazer o Brasil pro
"incidente da rua Toneleros" resultou gredir "50 anos em 5".
na morte do major da Aeronáutica Ru No governo JK deu-se a opção pelo
Brizola falando desenvolvimento do capitalismo brasi
pelos microfones
leiro de forma associada ao capital es
da Rede Nacional
da Legalidade. trangeiro. A reformulação do modelo
deu-se pela conjunção de várias coorde
nadas: a necessidade da indústria brasi
leira de evoluir para um maior nível téc
nico; a dinâmica da reprodução do ca
pital em escala internacional, impondo
a penetração do capital monopolista; me
Mobilização da
didas anteriores tomadas pelo governo,
legalidade na como por exemplo a instrução 113 da
Praça da Matriz
de Porto Alegre,
SUMOC, que privilegiavam a burguesia
frente ao Palácio
associada, ao ter acesso a uma tecnolo
Piratini. gia mais avançada. Sob o influxo de tais
questões, o governo federal organizou
o seu Programa de Metas, baseado na in
dustrialização acelerada de bens duráveis

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IV fíl

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r»!
Populismo, indústria e inflação

e semiduráveis, no estímulo ao capital


privado, nacional e estrangeiro, na ex
pansão das obras públicas, materializa
da na construção da nova capital, em
Brasília, no investimento em energia e
JANGO: VOU
transportes, etc.
O Brasil tinha pressa, a sociedade
modernizava-se, era preciso acertar o
VOLTAR PARA
passo com a história.
Para financiar a industrialização ace
lerada, o governo lançava mão de recur
sos vários: o confisco cambial, que da
ASSUMIR OU
va ao setor agro-exportador um retorno
menor que a taxa do dólar equivalente,
canalizando a diferença para o setor se
cundário; o confisco salarial, que con
morrera™
duzia os aumentos sempre abaixo da in
flação; a emissão renovada, para garan
tir o crédito aos empresários. BRIGODR: K
Entretanto, a exigência do FMI (Fun
do Monetário Internacional) de que o
país combatesse a inflação para poder re
BALUARTE fer
negociar a dívida externa e conceder no
vos empréstimos colocou o governo NA BEFESA
num impasse. Tentativas de levar adiante
um programa deflacionário esbarraram
no desagrado público, entrando em con
BA ORO^
flito com o estilo populista de governo.
A opção do governo JK foi pela con íõum
tinuidade do Programa de Metas e pelo
rompimento com o FMI, deixando para
os governos seguintes a solução do pro
João Goulart
blema da dívida externa e do combate
recebe a faixa
à inflação. presidencial de
Embora a opção de JK marcasse jRanieri Mazzili,
7/911961.
uma alteração qualitativa do modelo de
desenvolvimento capitalista no sentido
de sua internacionalização, prevalecia
ainda o ideário nacionalista. No Institu
to Superior de Estudos Brasileiros (ISEB),
intelectuais defendiam a superação das
barreiras da dependência e apostavam na
capacidade de afirmação nacional atra
vés da industrialização. O populismo.
i

1
Populismo, indústria e inflação

agregando governo, trabalhadores, in lista e muito próprio, apresentava-se co


dustriais e classes médias, mantinha-se mo o anticandidato, acima dos partidos
em torno de um ideário que já se reve políticos, combinando um discurso
lava em desajuste com as condições con agressivo com um tipo exótico e atitu
cretas de realização do capitalismo no des inesperadas. Era um candidato com
país. "cara de povo" que prometia varrer com
Entretanto, o esforço do desenvol- sua vassoura os desmazelos administra
vimentismo gerara a inflação e o esva tivos e políticos do país, que defendia
ziamento do poder aquisitivo dos con a iniciativa privada e prometia uma or
sumidores urbanos. dem social mais justa. Jânio fez da mo
Na sucessão de JK, um candidato iria ralização nacional o carro-chefe de sua
se eleger através de uma surpreendente campanha.
coligação partidária — UDN, PDC, PR, Derrotando o General Lott, do
PL, PTN —, além de dissidências dos PTB/PSB, e Ademar de Barros, do PSP,
partidos mais fortes (PTB, PSD, PSP, PRP Jânio obteve uma vitória sob o signo da
e PSB), com a adesão das massas popu "vassourinha" moralizante, assumindo
lares, das classes médias e, significativa em 31 de janeiro de 1961, juntamente
mente, com o apoio de grupos represen com o seu vice João Goulart, do PTB.
tativos do capital associado e do setor As regras eleitorais da época permitiam
agro-exportador. Este último encontrava- que o candidato de um partido pudesse
se agora a reboque do desenvolvimen ser eleito com um vice de outra agremia
to industrial, numa posição inversa do ção política, resultando, no caso, uma es
posto anteriormente ocupado de eixo de tranha combinação.
ponta da economia nacional. Jânio herdou do período JK o dile
Jânio Quadros, num estilo persona ma de combinar a manutenção de um al-

vr- I pipjpii

íãüiâte;,iiíf
.yt
Congresso dos
Trabalhadores
Agrícolas. Minas
Gerais, 1961.
Julião, Tancredo
Neves, Goulart,
Arnaldo Cerdeira
e Magalhães
Pinto.
to índice de investimentos no programa
de industrialização com medidas de con
trole à inflação, tais como o congelamen
to salarial e o fim dos subsídios à impor
tação de certos artigos. No plano exter
no, proclamou realizar uma política in
dependente entre os blocos. Se, por um
lado, condecorou "Che" Guevara com
a insígnia da Ordem do Cruzeiro do Sul,
por outro, foi no seu governo que o país
assinou com os Estados Unidos as bases
para o acordo sobre a garantia dos inves
timentos norte-americanos no Brasil,
preparando a posterior Aliança para o
Progresso. Na política interna, Jânio
notabilizou-se pelo ataque à corrupção,
pela prática de governar através de "bi-
Ihetinhos" e por atitudes esdrúxulas, co
mo a proibição do biquini nas praias, das
rinhas de galo ou do lança-perfume no
carnaval...
Sua intempestiva renúncia, em agos-

'V
V
A conspiração IM
civil-militãT.
General Murici,
general Mourão W
Filho e Magalhães
Pinto. Em 2P
plano, ao centro,
José Maria de r
Alkmin.
4/4/1964. k>- \
Populismo, indústria e inflação

to de 19Ó1, encerrava um meteórico e


contraditório governo. Forças conserva
doras civis e militares tentaram impedir
a posse do vice-presidente João Goulart,
que se encontrava em visita à China Co
munista.
O Congresso, contudo, negou-se a
votar o "impeachment" de Jango. No
sul, o governador Mo Rio Grande, Leo
nel Brizola, com o apoio do comandan
te do III Exército articulou o movimen
Kli
to da "Legalidade", em defesa da posse
do vice-presidente. Ante a ameaça de
guerra civil, o problema foi contornado
com a aprovação do parlamentarismo.
Jango assumia como presidente, mas te
ria seus poderes cerceados pelo regime
parlamentar.
Iniciava o último e mais conturba Marcha da
do dos governos presidenciais da demo Família com Deus
pela Liberdade
cracia populista.
Centro de São
Sob o impacto de uma crise econô Paulo.
mica e social, com uma inflação crescen
te e um enorme surto de greves, Aspecto do
desencadeou-se uma campanha pela an comício pelas
tecipação do plebiscito no qual a nação Reformas de Base

opinava pela volta ao presidencialismo íim na Centrai do


Brasil. 1313/1964.
ou pela manutenção do regime parla
mentar. Em janeiro de 1963, o Brasil vol
tou ao presidencialismo, conferindo
maiores poderes a João Goulart.
No plano econômico, articulou-se o
Plano Trienal, que pretendeu combinar
o controle da inflação com investimen
tos na indústria; eliminar desigualdades
regionais e setoriais; promover a descon-
centração da renda, reduzindo o custo
social do desenvolvimento. Tais propó
sitos seriam complementados com a im
plantação de reformas de base, tais co
mo a reforma agrária. Todavia, os pré-
requisitos para a execução deste plano
iriam colidir com vários grupos de inte
resses na sociedade brasileira. A incidên-
cia de maior tributação sobre os setores o apoio dos grupos de esquerda.
mais beneficiados da sociedade e a re
dução de subsídios, como por exemplo
sobre o trigo, iria desagradar ricos e po O comício de 13 de
bres. Medidas como redução do crédi março precipita
to industrial ou contenção salarial aten o golpe militar
tavam contra o capital e o trabalho; o
corte nos gastos públicos despopulari-
zava os planos de ação do governo; e a Estavam dadas as condições para a
questão da dívida externa esbarrava na articulação de um golpe militar com o
intransigência do FMI pela necessidade apoio de setores significativos da socie
de combater a inflação para conceder dade civil.
Diário Carioca
1/4/1964. novos empréstimos. A reforma agrária O governo João Goulart herdara
feria fundo os interesses dos latifundiá contradições dos governos precedentes:
Última Hora - rios, que se sentiam mais ameaçados o avanço do capital monopolista e as exi
27/3/1964. gências de maior nível técnico compro
frente ao extrapolar da política de mas
sas para o campo. A formação de "Ligas metiam o nacionalismo econômico; a
Camponesas" no nordeste começava a burguesia nacional cindira-se e via-se
pôr em xeque o secular domínio do la ameaçada pela política de massas que se
GUARNIÇÕES DO 1 EXÉRCITO tifúndio. Nas cidades, o aprofundamen radicalizava; os proprietários de terra
MARCHAM PARA SUFOCAR
to da política de massas ameaçava a es alarmavam-se com a iminência das refor
MINAS GERAIS sência do próprio populismo, que era a mas de base; e a classe média tinha re
Jaago; sfovêrno mtsatBra
a Brdejm e m dotss&crsMcia tutela e a manipulação dos interesses po ceio do avanço comunista. Conter a in
jaiB; MitSlHA OIEBGM gElíCgBl
CONTSA OSSOUEVADOS •HhkÍÍÍÍIb
pulares. A burguesia e também as clas flação e continuar garantindo o ritmo de
ses médias viam com temor o aprofun desenvolvimento industrial revelava-se
damento das tendências de esquerda, difícil. Verificava-se um desequilíbrio en
que extrapolavam do movimento ope tre produção e consumo: o crescimen
rário para outras instâncias da socieda to do parque industrial levara ao incha-
de civil. A política e x sociedade brasi mento do proletariado urbano, mas a in
cer oecbÍth XLtssüian tua qni- ooTir
leira radicalizaram-se com o surgimen capacidade de consumo das massas, de
GBEVE CEBMZ
to de grupos também de direita, alguns vido a baixos salários, aumentava os ní
com o apoio externo dos Estados Uni veis de tensão social e fazia crescer suas
ÃUHIRAMTE SÍLVIO M077A ÓIMISSIONÁRIO
SAiUíOAm? III iiiMMiiMii (' Mi://cníli9^ dos, que viam com apreensão os rumos reivindicações políticas.
<ÀiiUÁSAU \i\6lUK0AAl>iA^^^
3.000 Mofuioz Sofcbvtafaj Ctacasafa» Orsiam th. OriiOB . da política brasileira. A radicalização atin Com respaldo externo dos Estados
TiiSÂO m país com giu também as Forças Armadas, com a Unidos, a conspiração militar tramada no
ACRISE NA MARINHA sucessão de incidentes de quebra de hie seio da Escola Superior de Guerra teve
rarquia e disciplina no interior da cor o aval de parte da sociedade civil.
poração, tais como o levante dos sargen O comício de 13 de março, no qual
tos e o dos fuzileiros navais. o presidente anunciou a implantação das
SbREV01TADE!910í Na medida em que as classes domi reformas de base, precipitou o golpe.
•>RIS{Mn EM 64|
nantes se afastavam do governo, este A 31 de março de 1964, tinha fim
passou a voltar-se cada vez mais para a a democracia populista e com ela
acn2n-:7C0MTnz
base de apoio que lhe restava: os sindi encerrava-se o projeto nacionalista do
,4 M rkí -51 t.ai.iüíXiO iüs píK.:: i' catos e os movimentos populares, com desenvolvimento industrial brasileiro.

-.-AaSHIBBSaBT'
Os militares no poder

A 4 revolução de 1964 inaugu


rou no país um período au
toritário de governo. Com
a fuga do presidente João Goulart para
o Uruguai, assumiu o controle do país
uma Junta Militar comporta pelos minis
tros das três Armas.
Como primeira medida, o Ato Ins
titucional n? 1 concedeu ao Executivo
o direito de cassar mandatos e suprimir
direitos políticos por até 10 anos de pes
soas consideradas subversivas e corrup
tas. O AI-1 previa ainda a decretação do
estado de sítio sem aprovação parlamen
tar e marcava as eleições presidenciais di
retas para outubro de 1965. Indiretamen
te, pelo Congresso já depurado pelos ex
purgos, foi eleito o novo presidente da
República, General Humberto de Alen
car Castelo Branco.
Iniciava-se o primeiro governo mi
litar, sob o influxo do combate ao co
munismo e do expurgo dos suspeitos ao
regime, reforçando a hipertrofia do Exe
cutivo central, agora dominado pelos mi
litares. No plano econômico,
retomavam-se os rumos do desenvolvi
mento através da internacionalização da
economia e do impulso à iniciativa pri MarechaJ
Humberto de
vada.
Alencar Castelo
A renegociação da dívida externa e Branco, eleito
a obtenção de novos empréstimos pas pelo Congresso
Nacional, toma
savam pelo controle da inflação, confor posse como
me exigência dos credores internacio presidente da
nais. A redução dos índices inflacioná- República em
rios seria dada através do arrocho sala- 13/4/1964.
Fator
L^IiÜ

K
ICAS

Cobertura completa

m ESHVA
Capa da revista
Fatos e Fotos.
APOSSE
Costa e Silva, a
posse da
DA ESPERANÇA
esperança.

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j i;. / X -v
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Passeata dos cem


mil em
2813/1968.
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Os militares no poder ->-,•"p1^1 >ry< •

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rial, e o alinhamento com os Estados a 26 de novembro de 1965. O situacio-


Unidos seria selado com renovados em nismo congregou-se na ARENA (Aliança
préstimos ao governo brasileiro, através Renovadora Nacional), que nas eleições
da Aliança para o Progresso, ao mesmo para a Câmara e o Senado Federal, em
tempo que seria reescalonada a dívida 1966, obteve a maioria das cadeiras.
externa, segundo aprovação do FMI. Pa Na seqüência dos atos que redefini
ra incentivar as exportações, a moeda ram os rumos do autoritarismo, o gover
brasileira foi desvalorizada em 300% fa no baixou, em 5 de dezembro de 1966,
ce ao dólar. o Al-3, estabelecendo eleições indiretas
para o governo dos estados e, no final
Os Atos Institucionais do ano, encaminhou ao Congresso um
o fortalecimento da "linha dura" projeto de Constituição no qual se pre
do Exército junto ao governo determi via eleições indiretas para presidente e
nou a prorrogação do mandato de Cas governadores, a instituição de um tribu
telo Branco em nome da necessidade de nal militar para julgamento de civis, a
garantir a ordem política e social e dar possibilidade de ampliação do estado de
continuidade ao desenvolvimento eco sítio para fazer frente às situações aten-
nômico consubstanciado no PAEG (Pla tórias à ordem política e social e o direi
no de Ação Econômica do Governo). to de exploração dos minérios brasilei
Em 27 de outubro de 1956, foi de ros pelas companhias que se organizas
cretado o AI-2, que extinguiu os parti sem no país, o que dava entrada ao ca
dos políticos no país. Em decorrência pital estrangeiro neste setor da econo Passeata de

deste processo, as forças de oposição ãs protesto peJa


mia. Com a recusa do MDB em partici
morte do
ações do novo governo formaram o Mo par das eleições indiretas para a presidên estudante Edson
vimento Democrático Brasileiro (MDB) cia, o candidato da ARENA, General Ar- Luís, 1968.

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1.

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DlADAPAtRIA

Jornai do Brasil - -.'JaCri


14/1211968.

Ig JORNAL DO BRASlE^l •J VI
Govârno baixa Ato Institucional e co/oow
Congraso cm recesso por tempo HimitadoJ

AME-O OU DEIXE-O
Os militares no poder

tur da Costa e Silva, foi eleito pelo Con


gresso em 3 de outubro de 1966.
Apresentando-se como um meio
termo entre a linha dura e a posição de
Castelo Branco, que pretenderia uma
lenta liberalização do regime. Costa e Sil
va principiou a governar sob intensa
pressão do Congresso Nacional e em
meio a movimentos da sociedade civil,
através de estudantes, intelectuais, mem
bros do clero, sindicatos.
A nova Constituição, promulgada
pelo Congresso em 24 de janeiro de
1967, tornou-se alvo das críticas de am
bos os partidos, que propunham eleições
diretas para a presidência e discordavam
da prática seguida pelo governo federal
de expedir decretos-leis sem negociação
com os parlamentares. Constituiu-se a
Frente Ampla, organização multipartidá-
ria que tomou a iniciativa de fazer a opo
sição sistemática ao regime.
Padres e guerrilheiros, operários e
estudantes, artistas e intelectuais em pro
testo, somados a políticos que contesta Presidente Emílio
vam o regime, eram o "clima brasileiro" Garrastazu
Mediei.
do agitado ano de 1968. Acontestação
explodia por toda parte e o seu alvo prin
cipal era o autoritarismo. Greves e pas
seatas acabavam em tumulto e violência
e a repressão baixava sobre os insurgen
tes. Atentados terroristas de esquerda e
de direita promoviam a intranqüilidade
no país.
A 13 de dezembro de 1968, o go
verno reagiu com o Ato Institucional n?
5 e o Ato Complementar n? 28, que de
cretou o recesso do Congresso e am
pliou os poderes do governo sobre a na
ção. O AI-5 dava poderes ao governo de
decretar o recesso do parlamento toda
vez que se fizesse necessário, podendo
legislar sobre todas as matérias na ausên
cia daquele, Além disso, o Executivo po-

^1^
Tsm

^ .Vi
Transamazônica.
Os militares no poder

dia intervir nos estados, suspender os di pela indústria. Tais medidas foram com
reitos políticos de qualquer cidadão, de plementadas pela eliminação das barrei
cretar estado de sítio, suspender garan ras para a importação de tecnologia e pe
tias e direitos em geral, impedir o exer las facilidades de crédito criadas para a
cício de funções, demitir, aposentar e re compra de bens de consumo duráveis
mover funcionários, confiscar os bens de produzidos. Ao "boom" industrial
todos que haviam enriquecido de forma seguiu-se o da construção, através da uti
ilícita, suspender o direito de "habeas lização dos recursos do FGTS (Fundo de
corpus", etc. Garantia por Tempo de Serviço), criado
No campo econômico, o governo pós-64 para o BNH (Banco Nacional de
Costa e Silva iria herdar as diretrizes tra Habitação). Na política cambial, o gover
çadas pelo PAEG. Reduziu os gastos pii- no manteve minidesvalorizaçôes da
blicos, cortando programas de investi moeda nacional com o fito de amparar •
mento, apertou o crédito e arrochou os as exportações. Com os recursos da re
salários. Considerando que o Brasil in cém criada ORTN (Obrigações Reajustá-
gressava na estagnação pela continuida veis do Tesouro Nacional) e de um di
de de uma política deflacionária segui nâmico sistema de open market, o go
da pelo PAEG, os setores empresariais verno retomou os investimentos. O ca
passaram a reivindicar a retomada do de pitalismo brasileiro na sua fase do desen
senvolvimento econômico. volvimento associada revelava apoiar-se
Com o PED (Programa Estratégico sobre o tripé Estado-grandes empresas
de Desenvolvimento) houve a retoma nacionais-capital multinacional.
da daquela preocupação expansionista. Um Executivo dotado de instru
Ampliando o crédito, tabelando os juros mentos poderosos no controle da socie
e controlando os preços, o governo ini dade civil e a retomada do desenvolvi
ciava uma nova fase que obteve resulta mento econômico foram o legado do
dos no crescimento econômico puxado Gen. Costa e Silva a seu sucessor. Em

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Terroristas
mortos (Carlos
Lamarca e José
Campos Barreto).
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Companhia
Petroquímica, do
Nordeste,

Conjuntos
construídos pelo
BNH.
Os militares no poder

agosto de 1969, doente, o presidente te sas que controlavam setores básicos da


ve de ser substituído por uma Junta Mi economia, às quais se acrescentavam ini
litar, que outorgou à nação um novo tex ciativas mais ambiciosas no terreno da
to constitucional, no qual se previam energia, como o Tratado de Itaipu, assi
eleições diretas para os governos esta nado com o Paraguai e destinado a cons
duais em 1974. truir no rio Paraguai, na fronteira entre
os dois países, a maior hidrelétrica do
Omilagre econômico mundo. Investindo em setores de pon
e a repressão ta, o governo passou a apostar em pó
los petroquímicos. Na área bancária, o
o vice-presidente civil de Costa e governo controlava investimentos atra
Silva, Pedro Aleixo, foi considerado im vés de estabelecimentos oficiais, como
pedido para assumir a presidência, uma o BNDE (Banco Nacional de Desenvol
vez que se declarara contra o Al-5. As vimento Econômico), enquanto que ca
Forças Armadas optaram pelo nome do nalizava recursos do FGTS para o BNH
Gen. Emílio Garrastazu Mediei, que foi solucionar o problerna habitacional bra
eleito por um Congresso recém reaber sileiro. Com uma proposta de integração
to, depurado pelos expurgos. nacional, o governo empreendeu a cons
Os anos setenta se inauguraram sob trução da rodovia Transamazônica, am
a inspiração do milagre. Os canais de co bicioso projeto que visava também fixar
municação divulgavam mensagens de na região colonos vindos de outras áreas
euforia e confiança: "Ninguém segura es onde não possuíam terras.
te país", "Pra frente. Brasil", "Brasil: Através de uma política de desvalo
ame-o ou deixe-o" e, à força de canções, rização da moeda, incentivos fiscais e
estimulava-se o coração dos brasileiros creditícios, o governo estimulou as ex
para ficar "verde-amarelo-branco-azul portações. Com as divisas entradas, o go
anil"... A vitória do Brasil na Copa do verno garantiu a aquisição de máquinas
Mundo estimulava a idéia de um "Brasil para a indústria. Este era, indiscutivel
grande". mente, o setor de ponta do milagre bra
A economia brasileira encoiatrava- sileiro e todos os seus ramos se encon
se em fase de desenvolvimento acelera travam em expansão; bens de consumo
do. O capital estrangeiro encontrava duráveis, como eletrodomésticos e au
boas condições para ampliar suas ativi tomóveis, eram adquiridos pelas classes
dades, a indústria nacional era estimula médias mediante sistema de vendas a
da e apoiada pelo Conselho de Desen crédito; o surto de construção estimu
volvimento Industrial (CDI) e pelo Fun lava os avanços do ramo dos bens inter
do de Modernização e Reorganização In mediários, como aço e cimento, e o sur
dustrial. Fortalecia-se o setor estatal, que to geral de expansão consumia os frutos
passou a controlar setores chaves da eco da indústria de bens de produção, como
nomia onde a rentabilidade se configu máquinas e equipamentos; supermerca
rava baixa para o setor privado ou onde dos e shopping centers forçavam o con
se demandavam maiores investimentos. sumo dos bens não duráveis, numa no
Petrobrás, Siderbrás e Companhia do Va va estratégia de marketing.
le do Rio Doce eram algumas das empre No mercado financeiro, a expansão
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Os militares no poder

econômica refletia-se na especulação das mercado interno e a nação precisava ago


bolsas de valores. ra importar gêneros de subsistência.
Pontes, estradas, viadutos e estádios Na sucessão de Médici, a ascensão
de futebol remodelavam a fisionomia do ao poder do General Ernesto Geisel mar
país do milagre. Com relação ao capital cou o retorno do grupo "castelista" à
estrangeiro, o governo autorizava a en presidência da República e o fim da in
trada de grandes complexos industriais transigente "linha dura".
no país, desde que se destinassem a au No plano político, a palavra de or
mentar as exportações brasileiras. dem seria a "distensão" e a formação de
Contrastando com o programa eco uma "abertura lenta e gradual", enquan
nômico, permanecia a censura da im to que, no plano econômico, o espírito
prensa e as limitações impostas à ação do milagre cedia lugar a uma preocupa
do Legislativo. A esquerda optava pela ção de corrigir os rumos do desenvol
luta armada e promovia assaltos a ban vimento, adaptando o país à crise inter
cos, seqüestros de diplomatas e embai nacional de energia.
xadores estrangeiros. Atividades de guer Em meio a alterações de rota e com
rilha ocorriam nas cidades e nos campos. binação de medidas democráticas com
O governo, por sua vez, reagia através atos arbitrários, a sociedade civil voltou
da poderosa máquina da repressão, com a se agitar, anunciando o fim do perío
prisões e torturas. Alterando as disposi do militar.
ções da Constituição, o governo deter O PIB (Produto Interno Bruto) con
minou que nas eleições de 1974 perma tinuava crescendo e as exportações
necessem as eleições indiretas para go diversificavam-se cada vez mais. A infla
vernadores e vice-governadores. ção não podia ser controlada na medi
O milagre baseava-se nas metas da do desejado e o endividamento ex
prioritárias de exportar e promover o de terno crescia, com a diferença de que o
senvolvimento acelerado da indústria, Brasil diminuíra a sua dependência dos
mesmo às custas do também acelerado Estados Unidos, diversificando o leque
endividamento externo. de seus credores externos.
A criação em 1974 do III PND (Pla
A abertura no Nacional de Desenvolvimento) bus
lentae gradual cou atingir a auto-suficiência do país em
insumos básicos e bens de capital. Os
o encerramento do governo Médi- acordos nucleares com a Alemanha vi
ci, em 15 de março de 1974, deu-se em savam à instalação de indústrias atômi
meio à crise internacional do petróleo e cas no país e, na sua meta de possibili
assinalou o esgotamento da era do mi tar ao país maiores fontes internas subs
lagre. Ante a crise que se esboçava, o titutivas de energia importada, o gover
MDB alertava contra a desigual distribui no abriu a exploração do petróleo às em
ção de renda e a especulação financeira presas estrangeiras, mediante "contratos
desenfreada, que não criava riqueza, mas de risco" com a Petrobrás.
dava a falsa idéia de euforia econômica. Ao mesmo tempo em que tomava
Na sua opção pelas exportações, o go tais medidas no plano econômico, o go
verno descuidava do abastecimento do verno seguia uma tortuosa rota política.
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tentando garantir o encaminhamento da
redemocratização sem perder as rédeas
do processo. Assim, o crescimento do
MDB nas eleições parlamentares de 1974
precisava ser controlado. Para tanto, o
governo fechou o Congresso para reali
zar a reforma do Judiciário, pela qual se
pretendia assegurar o controle da ARE
NA no processo político: mantinham-se
as eleições indiretas para governador e
vice, criava-se a figura do "senador biô
nico", também escolhido indiretamen
te, e se estabelecia que o quórum para
a aprovação de medidas no Legislativo
passava a ser de maioria absoluta. Para
lelamente, a Lei Falcão limitava o aces
so dos candidatos à televisão e ao rádio,
reduzindo a sua participação à mostra-
gem de uma foto com pequeno curricu-
lum.
Apesar de tais medidas, o MBD con
tinuou crescendo e nas eleições parla
mentares de 1978 obteve vitórias signi
ficativas.
Usando o AI-5, o governo definia
que era preciso defender o regime em
épocas de crise através das "salvaguar
das constitucionais".
O ano de 1978, porém, seria defi
nitivo nos rumos da abertura. No fórum
da Gazeta Mercantil, os empresários bra
sileiros passaram a criticar os efeitos es-
tatizantes do II PND, bem como a cen
tralização excessiva do poder decisório
nas mãos do Executivo. Por trás destas
acusações, revelava-se que a burocracia % r
civil-militar que controlava o poder
afastava-se progressivamente das bases 'Pr

reais do poder burguês no Brasil. O em


presariado se considerava à margem do
processo político e condenava os rumos
do processo econômico como nocivos
à livre iniciativa. Enquanto os setores
mais tradicionais (Paulo Maluf, Papa Jr.)
denunciavam os efeitos danosos da es-
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tatização, setores mais modernos, liga.
dos a ramos básicos da economia nacio
nal, como Antonio Ermírio de Moraes,
passaram a incorporar novos temas à sua
crítica; exigiam redemocratização, elimi
nação de desigualdades sociais, política
salarial mais justa.
Mais uma vez a burguesia acertava
o, passo com a história, indo ao encon
tro das transformações em curso e das
reivindicações da sociedade civil. Con
denando o autoritarismo e apostando na
redemocratização, assegurava seu espa
ço no reordenamento institucional do
país.
Eclodiam os movimentos sociais de
contestação, partindo dos estudantes, da
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
dos sindicatos, dos intelectuais, dos ar
tistas. As greves no ABC paulista faziam
emergir lideranças novas, como o me
talúrgico Luís Inácio da Silva, o Lula.
O encaminhamento da sucessão de
Geisel deu-se pela indicação do General
João Batista Eigueiredo, que enfrentou
a fraca e mal sucedida concorrência do
General Euler Bentes Monteiro, indica
do pela oposição.
Em 15 de março de 1979, Geisel
passaria o governo para o Gen. Eiguei
redo, deixando como herança o fim da
tortura política aos presos e a extinção
do Al-5, em 1? de janeiro de 1979.
Sob o signo da abertura, o contro
vertido presidente Figueiredo encami
nharia as medidas complementares pa
ra a redemocratização.
Ainda no fim do governo Geisel, o
abrandamento da Lei de Segurança Na
cional permitira a libertação de presos
políticos, processo que seria comple
mentado no governo Eigueiredo com a
aprovação, em agosto de 1979, da Lei da
Anistia e com o indulto de Natal, no fim
Os militares no poder

do mesmo ano, com a libertação de mais Formou-se o maior partido de oposição


presos políticos. A anistia não seria nem ao governo, o PMDB (Partido do Movi
tão ampla nem tão irrestrita, mas permi mento Democrático Brasileiro), Ivete
tiu a volta ao país de velhos políticos do Vargas conseguiu para si a sigla do ve
pré-64, como Leonel Brizola, Miguel Ar- lho PTB, e Leonel Brizola criou o PDT
raes e Luís Carlos Prestes, assim como (Partido Democrático Trabalhista). Com
General João
elementos mais novos da fase da guerri o apoio das forças sindicais e das comu Figueiredo,
lha, como Fernando Gabeira. nidades eclesiais de base. Lula criava o presidente do
Em novembro de 1979, o Congres PT (Partido dos Trabalhadores). Um pe Brasil, nas
comemorações
so aprovava a reforma partidária, extin queno partido de centro, o PP (Partido do Dia do
guindo o bipartidarismo no Brasil, que Popular), surgia comandado por Tancre- Soldado. Brasília,
se expressava através da ARENA e do do Neves. 1979.

MDB.

Diretas já

A década de 80 se iniciaria com a


formação de novos partidos: o velho
MDB dividiu-se, enquanto que da ARE
NA surgia o PDS (Partido Democrático
Social) como a grande força governista.
No fim do ano de 1980, o Congres por Tancredo Neves apresentava a inten
so aprovava uma emenda constitucional ção de levar adiante a transição demo
que determinava eleições diretas para o crática, via eleições indiretas,Tace à der
governo dos estados. Em 1982, quando rota no Gongresso da proposta das "Di
se realizaram as primeiras eleições dire retas já".
tas para os estados, o PP já fora absorvi Fm janeiro de 1985, o Gongresso
do pelo PMDB e as oposições alcança Nacional deu a vitória a Tancredo Neves
vam a vitória no governo de importan e José Sarney.
tes estados, como por exemplo José Ri- Findava o governo Figueiredo e o
cha (PMDB) no Paraná, Franco Monto- período militar no Brasil, mas a chama
ro (PMDB) em São Paulo, Leonel Brizo- da Nova República se iniciaria de forma
la (PDT) no Rio de Janeiro, Tancredo Ne inusitada. O repentino internamento por
ves (PMDB) em Minas Gerais. O PDS, doença do presidente eleito, na véspera
contudo, garantiu a maioria dos gover de sua posse, seguido de sua morte, fez
nos dos estados. com que o vice José Sarney assumisse a
Em 1983, sob a liderança do depu presidência da República.
tado federal Ulisses Guimarães, do
PMDB, iniciou-se o movimento das "Di
retas já", visando à sucessão presiden
cial do Gen. Figueiredo e que foi gran-
jeando o apoio de todas as forças de opo
sição ao regime. O deputado federal
Dante de Oliveira enviou ao Congresso
uma emenda propondo "diretas já para
presidente". Em meio a comícios e ca
minhadas pelas diretas que agitaram o
país, a proposta foi rejeitada no Congres
so pela maioria parlamentar de pedessis-
tas.

O impasse seria, pois, decidido via


eleição indireta no Congresso, através do
choque de dois nomes. Enquanto a
maioria do PDS fechou em torno do no
me de Paulo Maluf como o candidato do
partido à sucessão do Gen. Figueiredo,
um grupo retirou-se da agremiação go-
vernista, formando o PFL (Partido da
Frente Liberal), que aderiu à candidatu
ra de Tancredo Neves proposta pela
oposição. Uma nova articulação se mon
tou, aceitando a figura de José Sarney,
ex-político do PDS, para vice de Tancre
do.
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A chapa oposicionista encabeçada
Abertura e transição

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Em Aberto

ntensa mobilização da so
ciedade civil, sucessões de
planos de governo para
Vt r
controlar a inflação, greves renovadas,
^ tl avanços e recuos de coligações partidá
. r rias para os governos dos estados e es
cândalos financeiros, são dados objeti
vos da realidade que demonstram quão
difícil tem sido (re)construir a democra
cia no Brasil.
Quando em 1989 se cumprem cem
anos da vivência republicana no país, ca
be relembrar se as promessas de um sé
culo atrás foram realmente cumpridas:
ordem e progresso, democratização do
voto, cidadania, civilização, acertar o
passo com a história...
Refletir sobre isso, repensar trajetó
rias, avaliar resultados, reviver velhos so
nhos, contrastar o discurso com a práti
ca — este sim, é um caminho em aber-
.126.
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