Você está na página 1de 1

184 ZÉLIA LOPES DA SILVA & KARINA ANHEZINI (ORGS.

ou morte, sujeita a buracos e feridas” (GALLAGHER; GREENBLATT,


2005, p.28).
É fato que a abordagem do Santo Ofício sobre os cristãos-novos, na
Europa, foi muito mais violenta, gerando um grande número de mortes.
Contudo, as perseguições sofridas pelos que aqui se encontravam causaram
uma perda significativa da cultura judaica13.
O medo ainda fazia parte do cotidiano daqueles que para cá vieram e se
estabeleceram, entretanto, o perigo que a Igreja Católica representava não
impediu que os cristãos-novos se integrassem à língua e aos costumes das
regiões onde se estabeleciam, quer fosse na Bahia, quer em Pernambuco, quer
em Maranhão (DEL PRIORE, 2003).
Um destaque maior é dado para o século XVI, na exploração
econômica do Nordeste açucareiro, por haver uma disponibilidade maior de
documentação sobre o período. Motivados pelas oportunidades que se
abriam, muitos migravam para a região se fixando como senhores de engenho,
mercadores e traficantes de escravos (VAINFAS; ASSIS, 2005, p. 46).
Certamente que o estabelecimento de cristãos-novos no Nordeste
brasileiro e a chegada de judeus portugueses que acompanharam os
holandeses durante a invasão no processo de ocupação, constitui um capítulo
à parte. Contudo, o forte papel econômico e social que tais personagens
desenvolveram na região não pode ser ignorado, na medida em que nela foi se
estruturando uma nova comunidade, modificando todo um cenário que,
outrora influenciado exclusivamente pelo catolicismo, torna-se um ambiente
de relativa liberdade religiosa.

13
Em sua obra intitulada Inquisição: prisioneiros do Brasil séculos XVI a XIX, Anita Novinsky
(2009) afirma que os cristãos-novos representavam o maior número de prisioneiros do
Brasil, segundo a historiadora, constituíam 1.076 presos entre homens e mulheres. A autora
ainda constata ter sido feito o maior contingente de aprisionados na primeira metade do
século XVIII, 555 pessoas, também entre homens e mulheres.

Você também pode gostar