Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
O esforço para obter o reconhecimento se desenrola ao longo de duas fa-
ses distintas. A primeira, inconclusiva, de agosto de 1822 a julho de 1823,
se situa dentro dos 18 meses em que José Bonifácio de Andrada e Silva foi
o poderoso ministro da Guerra e dos Estrangeiros e, mais do que isso, o
virtual primeiro-ministro e chefe do governo. Estende-se a segunda etapa
da queda do Patriarca da Independência até a assinatura do tratado do re-
conhecimento com Portugal (29 de agosto de 1825), seguindo-se, em rápi-
da sucessão, os reconhecimentos da Grã-Bretanha e demais potências du-
rante o ano de 1826. Os retardatários seriam a Rússia (1827) e a Espanha
(1834) (Ricupero, In: Costa e Silva, 2011:140).
Em 1827, o Reino Unido fixou um acordo de natureza comercial junto ao Brasil, ratifica-
do em Londres, meses depois. O novo tratado designava a taxação de mercadorias inglesas
porventura importadas para o país do continente americano em 15%, pois a Grã-Bretanha
ambicionava garantir vantagens diante de seu parceiro nos trópicos. Após dezessete anos,
o governo brasileiro quis revogá-lo, igualmente optando pela extinção do tratado abolindo
o tráfico negreiro, diga-se de passagem, um assunto que marcou o relacionamento inicial
entre ambos os Estados. Os britânicos começaram a cobrar do Brasil soluções a respeito da
escravidão. Quando a lei de 7 de novembro de 1831 caiu por terra, estrategicamente, o Par-
lamento britânico aprovou a Lei Aberdeen em 1845, em alusão a Lorde Aberdeen, ministro
das Relações Exteriores da Inglaterra. A Marinha inglesa se valeria da norma para identifi-
car o tráfico escravo no Brasil como prática de pirataria.
Pela Lei Aberdeen, qualquer embarcação negreira, em alto-mar ou ancorada nos portos
brasileiros, sofreria a captura da força naval britânica (Dolhnikoff, 2020:113). O governo do
Brasil, em contrapartida, reagiu alegando que a deliberação contrariava o direito interna-
cional ao infringir a soberania nacional do país.
2
ram das atividades voltadas sobretudo para as exportações brasileiras. Temos como exem-
plo a Edward Johnston & Co, que exportava café produzido no Brasil, maior trunfo do gover-
no imperial. Outra informação elementar apontada pelo historiador abarca o item das ex-
portações de borracha. Naquela época, das cinco companhias incumbidas da distribuição
internacional desta mercadoria, pelo menos três delas eram de origem inglesa (Bethell, In:
Carvalho, 2012:140). De tudo exposto, há de se mencionar que de 1865 a 1885, quase a tota-
lidade dos investimentos provenientes do estrangeiro aplicados no Brasil foram realizados
pela Inglaterra, atingindo o patamar dos 24 milhões de libras, para se ter uma noção mais
precisa da proporção deste capital.
Feita aqui a apreciação elucidativa das relações Brasil e Europa, precisamente focada na
influência desempenhada pela Inglaterra, daqui em diante pontuaremos o intercurso com
a vizinha América espanhola e, por fim, os Estados Unidos. A política exterior do Segundo
Reinado em face da conjunção hispano-americana esteve norteada precipuamente na regi-
ão platina. Desde o alicerçamento da colonização do Novo Mundo, Portugal e Espanha tra-
varam acirradas disputas pelo controle da área abrangida pelo Rio da Prata que, a posterio-
ri, emanaram guerras protagonizadas pelo Império brasileiro e as repúblicas hispano-ame-
ricanas. De todos os conflitos, o mais proeminente sobreveio entre os anos de 1864 e 1870,
quando Brasil, Argentina e Uruguai compuseram a Tríplice Aliança na Guerra do Paraguai,
embate internacional mais longevo e custoso para a monarquia.
Com a independência do Uruguai, antiga Banda Oriental, em 1825, dois partidos políti-
cos, o Blanco e o Colorado, passaram a brigar pelo poder. Em 1860, Bernardo Berro, candi-
dato pelos blancos à presidência, foi eleito. Transcorridos três anos, encararia uma investi-
da rebelde liderada pelo general colorado Venâncio Flores, numa tentativa de derrubar o
governo. O Brasil apoiava o Partido Colorado e havia motivos para isso. Berro tinha impos-
to barreiras aos brasileiros residentes no Uruguai diligenciando restrições aos assentamen-
tos e prescrevendo encargos aduaneiros. No Paraguai, o aliado do Partido Blanco uruguaio,
Francisco Solano López, chegara ao poder em 1862. O ditador paraguaio objetivava aumen-
tar a participação política do seu Estado na região platina, tendo se manifestado contraria-
mente a invasão do Uruguai pelo Brasil. Em 12 de novembro de 1864, uma nau mercante
brasileira saiu de Asunción sendo apreendida a caminho de Corumbá. Nela, viajava a bor-
do o presidente da província do Mato Grosso, Carneiro de Campos, recém-nomeado para o
cargo. Imediatamente, o governo de d. Pedro II rompeu a diplomacia com os paraguaios.
3
Aproveitando-se da situação, Solano López declarou guerra ao Brasil, intervindo em Ma-
to Grosso. Também a Argentina entrou em desavença com o Paraguai quando lhe recusou
permissão para a travessia das tropas de López pela província de Misiones, até o Rio Gran-
de do Sul (Bethell, In: Carvalho, 2012:161).
A fração sul da América continental testemunhou uma conflagração nunca antes vista;
dentre as peculiaridades do confronto, a violência, a durabilidade – cinco anos – e perdas,
sejam humanas ou materiais. De acordo com José Murilo de Carvalho, na esfera econômi-
ca, o Brasil registrou altíssima elevação dos gastos com a máquina pública e, não bastando
isso, necessitou de aumentar impostos e adquirir empréstimos internos (Carvalho, In: Car-
valho, 2012:106).
Leslie Bethell afirma que o entendimento acerca da Guerra do Paraguai deve ser esmiu-
çado sob três ângulos diferentes. Primordialmente, no ensejo que assinala a ocupação das
províncias do Mato Grosso e de Corrientes, respectivamente, em dezembro de 1864 e abril
de 1865, pelo Paraguai. O segundo prisma, a mais notória fase da batalha, com o ataque da
Tríplice Aliança ao Estado governado pelo ditador Solano López, em 1866. Na ocasião, Bra-
sil, Argentina e Uruguai fixaram base na confluência dos rios Paraná e Paraguai. O terceiro
e último é quando Solano López organiza uma guerrilha a leste de Asunción, todavia, saiu
derrotado. Foragido, seis meses decorreram até que fosse encontrado e morto pelas forças
imperiais do Brasil. A vitória dos aliados na luta contra o isolado Paraguai foi celada com a
assinatura do tratado de paz em 27 de julho de 1870 (Bethell, In: Carvalho, 2012:163-165).
Para concluirmos a presente resenha, façamos as ponderações equivalentes ao trato do
Império Brasileiro com os Estados Unidos. A nação norte-americana foi quem primeiro re-
conheceu a independência do Brasil, em 1824. Atuando como força hegemônica no conti-
nente, a grande república da América do Norte era radicalmente contra a ideia de uma re-
colonização europeia no hemisfério americano. O presidente dos EUA, James Monroe, resis-
tente a predominância do Velho Mundo nos Estados independentes das Américas, anunci-
4
ou em dezembro de 1823, no Congresso, a elaboração de uma nova medida política para o
continente, a Doutrina Monroe (Izecksohn, 2021:54-55).
Balizadas pela cordialidade, a convivência diplomática entre o Império do Brasil e os Es-
tados Unidos se caracterizaria inicialmente por um certo distanciamento, explica Bethell,
reiterando que, do ponto de vista comercial, na década de 1840, as importações brasileiras
tinham 12% de participação norte-americana. Dentre os produtos, laticínios e farinha. Essa
porcentagem, contudo, tenderia a despencar para 6% nos anos 1870 (Bethell, In: Carvalho,
2012:173).
Não é segredo para ninguém que o imperador d. Pedro II era um amante de viagens ao
exterior, aflorando o ímpeto pelo conhecimento de novas culturas. Ele visitou variados pa-
íses da Europa, o Egito e os Estados Unidos, é claro, sendo, aliás, o primeiro monarca a pi-
sar em solo estadunidense. Em 1876, em alusão as celebrações pelos cem anos da indepen-
dência norte-americana, a Filadélfia sediou a Exposição Universal. D. Pedro quis prestigiar
o evento, inaugurando-o na companhia do presidente Ulysses Grant. Percorreu os EUA por
quatro meses, antecedendo outras viagens internacionais (Bethell, In: Carvalho, 2012:174).
As autoridades americanas receberam d. Pedro II amistosamente, o que veio asseverar a
eloquência do líder brasileiro naquele país. O Brasil seria convidado para integrar a Confe-
rência Pan-Americana realizada na capital Washington, em 1889, não obstante, daria neste
mesmo ano adeus ao Império com a proclamação da República que “tornou-se devoradora
do governo norte-americano quando este interveio em sua defesa durante uma revolta da
Armada em 1894” (Carvalho, In: Carvalho, 2012:284).
BIBLIOGRAFIA:
BETHELL, Leslie. O Brasil no mundo. In: CARVALHO, José Murilo. A construção nacional
(1830-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, pp. 131-178.
CARVALHO, José Murilo. A vida política. In: CARVALHO, José Murilo. A construção nacional
(1830-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, pp. 83-130.
CARVALHO, José Murilo. Américas. In:_____Op. Cit., pp. 281-285.
DOLHNIKOF, Miriam. História do Brasil Império. São Paulo: Contexto, 2020.
IZECKSHN, Vitor. Estados Unidos: uma História. São Paulo: Contexto, 2021.
IZECKSHN, Vitor. A Guerra do Paraguai. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo. O Brasil Im-
perial, volume II – 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020, pp. 385-424.
5
RICUPERO, Rubens. O Brasil no mundo. In: COSTA E SILVA, Alberto. Crise colonial e inde-
pendência (1808-1830). Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, pp. 115-161.