Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Conselho de Fazenda e do Corpo da Guarda Real. No Real Teatro de São João
apresentavam-se cantores, compositores, dançarinos e companhias teatrais vindas
da Europa.
Uma mudança de grande impacto foi o surgimento da imprensa, proibida no
Brasil até 1808. Ela mudou o ambiente intelectual e político do país e passou a
disseminar e a debater as ideias políticas que chegavam da Europa e dos Estados
Unidos. Nos seus primeiros 13 anos de funcionamento, a imprensa era submetida a
(...) censura. Com a criação da Imprensa Régia, começou a circular, no dia 10 de
setembro de 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal publicado em
território nacional. Só imprimia notícias de interesse do governo. No mesmo ano foi
lançado em Londres, para fugir à censura, o Correio Braziliense, do jornalista
Hipólito José da Costa. A censura caiu, finalmente, com o decreto de 2 de março de
1821. A partir dali, todo cidadão poderia manifestar suas opiniões sem censura
prévia. Livres da censura, os jornais se transformaram rapidamente no palco em
que se travaram os principais debates durante a Independência e o Primeiro
Reinado. No ano da Independência já havia 53 jornais em circulação em todo o
império. Os nomes eram reveladores das ideias que defendiam: O Repúblico, O
Tribuno do Povo, A Nova Luz Brasileira, Aurora Fluminense, Sentinela da
Liberdade. Alguns defendiam a deportação e proscrição de todos os nascidos em
Portugal. Outros eram francamente republicanos. Foi este “o laboratório onde
tiveram lugar embrionárias e imprevisíveis formas de competição política”, segundo
Isabel Lustosa. Como resultado, o país viveu “um momento extremamente vibrante,
onde se assistiu a um processo de liberalização política sem precedentes na nossa
história”, na avaliação da historiadora. “Cada um escrevia e assinava o que bem
entendia.” Os artigos, às vezes publicados em jornais manuscritos, cuja tiragem não
ia além de algumas dezenas de exemplares distribuídos de mão em mão, incluíam
“insulto, palavrão, ataques pessoais, descrições deturpadas de aspectos morais ou
físicos” e muitas vezes resultavam em agressões corporais. Curiosamente, até o
príncipe regente e futuro imperador, D.Pedro I, participava dos debates impressos
escrevendo artigos assinados com pseudônimos.
Um exemplo desse novo ambiente intelectual pode ser observado em um
anúncio publicado no jornal Volantim, de 5 de outubro de 1822. Oferecia livros de
pensadores franceses até então proibidos: Na loja de Paulo Martim, novamente se
acha a obra Contrato social, ou Princípios do direito público, traduzida do original
francês de Rousseau, em português, a 2$800 a brochura; e encadernado, 3$600;
assim como o original em francês, um volume em encadernação dourada por
4$000. Esta obra, outrora proibida, hoje deve ser uma obra que todos devem ler.
(...)
Nos 13 anos de D. João nos trópicos, o Brasil é redescoberto pelos
estrangeiros, autorizados pela primeira vez a visitar a até então misteriosa e
proibida colônia portuguesa. Missões artísticas, científicas e culturais
esquadrinharam seu território documentando paisagens, riquezas e tipos humanos.
O pintor Debret, principal nome da Missão Artística Francesa de 1816, se tornaria
um grande amigo de D. Pedro I.
2
As mudanças teriam seu ponto culminante em 16 de dezembro de 1815.
Nesse dia, (...), D. João promoveu o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e
Algarve, ficando o Rio de Janeiro como sede oficial da coroa.
(GOMES, Laurentino. 1822. Editora Nova Fronteira, 1ª edição, 2010, pp.39-44)