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Disciplina: História Série: G9

Ficha 3 - Processo de Independência do Brasil: as mudanças com a chegada


da família real portuguesa ao Rio de Janeiro (Período Joanino: 1808 -1821).

Trechos do livro “1822” de Laurentino Gomes:

Nenhum outro período da história brasileira testemunhou mudanças tão


profundas, decisivas e aceleradas quanto os 13 anos de permanência da corte
portuguesa no Rio de Janeiro. No espaço de menos de uma década e meia, o Brasil
deixou de ser uma colônia fechada e atrasada e começou a pavimentar o seu
caminho rumo à independência. Pressionado pelas circunstâncias, durante esse
período, D. João tomou inúmeras decisões que resultaram em um surto de
prosperidade (...). A providência mais importante tinha sido a Abertura dos Portos às
Nações Amigas, anunciada em Salvador no dia 22 de janeiro de 1808, uma semana
após a família real atracar na Bahia.
Combinada com outras duas medidas — o fim da proibição de manufaturas e
a concessão de liberdade de comércio — representava na prática o fim do período
colonial brasileiro. Pela primeira vez, em mais de três séculos, o país estava livre do
regime de monopólio português para se integrar ao sistema internacional de
produção e comércio. Principal beneficiária da Abertura dos Portos, a Inglaterra da
Revolução Industrial inundaria o Brasil com seus produtos. Eram tecidos de
algodão, de linho e de lã, peças de vidro, botas e sapatos, armas de fogo e
munição, barbantes, pregos e cordas, serrotes, martelos, pás e machados,
utensílios de toda natureza que chegavam a preços muito acessíveis e praticamente
sem concorrentes. Em 1822, metade dos 434 navios estrangeiros atracados no Rio
de Janeiro era inglesa. (...)
D. João mandou melhorar a comunicação entre as diversas regiões, estimular
o povoamento e o aproveitamento das riquezas da colônia. A abertura de novas
estradas ajudou a romper o isolamento que até então vigorava entre as províncias.
(...) Convertido em capital do império colonial português, o Rio de Janeiro passou
por transformações drásticas. A população, que, em 1808, era de apenas 60.000
habitantes, saltou para 110.000 em 1821(...). O número de escravos triplicou.
A criação de uma escola de medicina em Salvador inaugurou o ensino
superior no Brasil. (...). Uma nova estrutura do Estado, que até então funcionava em
Portugal, se transferiu para o Brasil com a organização do Supremo Conselho Militar
e de Justiça, da Real Casa de Suplicação (que seria o equivalente hoje ao Supremo
Tribunal Federal), da Intendência Geral de Polícia da Corte (mistura de prefeitura
com secretaria de segurança pública), do Erário Régio, do Banco do Brasil, do

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Conselho de Fazenda e do Corpo da Guarda Real. No Real Teatro de São João
apresentavam-se cantores, compositores, dançarinos e companhias teatrais vindas
da Europa.
Uma mudança de grande impacto foi o surgimento da imprensa, proibida no
Brasil até 1808. Ela mudou o ambiente intelectual e político do país e passou a
disseminar e a debater as ideias políticas que chegavam da Europa e dos Estados
Unidos. Nos seus primeiros 13 anos de funcionamento, a imprensa era submetida a
(...) censura. Com a criação da Imprensa Régia, começou a circular, no dia 10 de
setembro de 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal publicado em
território nacional. Só imprimia notícias de interesse do governo. No mesmo ano foi
lançado em Londres, para fugir à censura, o Correio Braziliense, do jornalista
Hipólito José da Costa. A censura caiu, finalmente, com o decreto de 2 de março de
1821. A partir dali, todo cidadão poderia manifestar suas opiniões sem censura
prévia. Livres da censura, os jornais se transformaram rapidamente no palco em
que se travaram os principais debates durante a Independência e o Primeiro
Reinado. No ano da Independência já havia 53 jornais em circulação em todo o
império. Os nomes eram reveladores das ideias que defendiam: O Repúblico, O
Tribuno do Povo, A Nova Luz Brasileira, Aurora Fluminense, Sentinela da
Liberdade. Alguns defendiam a deportação e proscrição de todos os nascidos em
Portugal. Outros eram francamente republicanos. Foi este “o laboratório onde
tiveram lugar embrionárias e imprevisíveis formas de competição política”, segundo
Isabel Lustosa. Como resultado, o país viveu “um momento extremamente vibrante,
onde se assistiu a um processo de liberalização política sem precedentes na nossa
história”, na avaliação da historiadora. “Cada um escrevia e assinava o que bem
entendia.” Os artigos, às vezes publicados em jornais manuscritos, cuja tiragem não
ia além de algumas dezenas de exemplares distribuídos de mão em mão, incluíam
“insulto, palavrão, ataques pessoais, descrições deturpadas de aspectos morais ou
físicos” e muitas vezes resultavam em agressões corporais. Curiosamente, até o
príncipe regente e futuro imperador, D.Pedro I, participava dos debates impressos
escrevendo artigos assinados com pseudônimos.
Um exemplo desse novo ambiente intelectual pode ser observado em um
anúncio publicado no jornal Volantim, de 5 de outubro de 1822. Oferecia livros de
pensadores franceses até então proibidos: Na loja de Paulo Martim, novamente se
acha a obra Contrato social, ou Princípios do direito público, traduzida do original
francês de Rousseau, em português, a 2$800 a brochura; e encadernado, 3$600;
assim como o original em francês, um volume em encadernação dourada por
4$000. Esta obra, outrora proibida, hoje deve ser uma obra que todos devem ler.
(...)
Nos 13 anos de D. João nos trópicos, o Brasil é redescoberto pelos
estrangeiros, autorizados pela primeira vez a visitar a até então misteriosa e
proibida colônia portuguesa. Missões artísticas, científicas e culturais
esquadrinharam seu território documentando paisagens, riquezas e tipos humanos.
O pintor Debret, principal nome da Missão Artística Francesa de 1816, se tornaria
um grande amigo de D. Pedro I.

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As mudanças teriam seu ponto culminante em 16 de dezembro de 1815.
Nesse dia, (...), D. João promoveu o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e
Algarve, ficando o Rio de Janeiro como sede oficial da coroa.
(GOMES, Laurentino. 1822. Editora Nova Fronteira, 1ª edição, 2010, pp.39-44)

Faça a leitura do texto e responda as questões abaixo em folha específica:

1) Explique a importância das seguintes mudanças para o processo de


Independência do Brasil:
a) Construção de estradas;
b) Criação de uma Escola de Medicina;
c) Surgimento da Imprensa;

2) Quais eram as ideias sobre o futuro político do Brasil que circulavam no


imaginário da elite brasileira durante a Independência? Explique-as.

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