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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciê ncias Humanas


Departamento de Histó ria
Prof. Dr. Rodrigo Goyena Soares
e-mail: rodrigo.goyenasoares@usp.br
1º semestre 2023 – FLH0341

HISTÓRIA DO BRASIL INDEPENDENTE I


HISTORY OF THE BRAZILIAN EMPIRE

Unidade I – A formação do Brasil Independente

5. O regresso conservador e a política nacional da escravidão (1836-1845)


 ESTAFANES, Bruno Fabris; PARRON, Tâmis; e YOUSSEF, Alain El. “Vale
Expandido: contrabando, consenso e regime representativo no Império do
Brasil”. In: MUAZE, Mariana e SALLES, Ricardo. O vale do Paraíba e o Império
do Brasil nos quadros da segunda escravidão. Rio de Janeiro: &Letras, 2015.
 DOLHNIKOFF, Miriam. “Representação e participação das elites provinciais e
locais nas instituições da monarquia brasileira”. CARVALHO, José Murilo;
SILVA, Isabel Corrêa da Silva; e RAMOS, Rui. A monarquia constitucional dos
Braganças. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2018.

 Seminário: “As pressões britânicas para a abolição do tráfico de escravos no


Brasil”

I] A Confederação do Equador (1824)

 Insatisfaçõ es em relaçã o à dissoluçã o da Constituinte e à instituiçã o do Poder Moderador:


o O Poder Moderador da nova invenção maquiavélica é a chave mestra da opressão da
nação brasileira e o garrote mais forte da liberdade dos povos, Frei Caneca.
 Pernambuco é epicentro: imaginá rio de 1817.
 Somaram-se Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
o Em julho de 1824, forma-se a Confederaçã o do Equador.
 Ideais republicanas e federalistas.
o Instituir Constituiçã o nos moldes liberais e federativos daquela de Cú cuta, na
Colô mbia, de 1821.
 Dom Pedro I era brasileiro?
o Manuel de Carvalho solicita a intervençã o do State Department contra a possível
ingerência de embarcaçõ es inglesas e francesas ancoradas a poucos milhas de
Recife.
 Doutrina Monroe!
 Os insurretos eram urbanos, de camadas populares.
o Participaram também comerciantes e proprietá rios rurais.
 Tropas reais debelam movimento.
o Frei Caneca é fuzilado.

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II] O reconhecimento da Independência

o Teoria declarató ria ou constitutiva da independência?


o Reconhecimento da sociedade internacional era fundamental para a
independência.
o Bonifá cio envia, em maio de 1822, portanto antes do Grito de Ipiranga, delegaçã o do Reino
do Brasil a Buenos Aires.
o Governo das Províncias Unidas do Rio da Prata reconhecem independência do
Brasil em 1823.
o No mesmo ano, Benin e Onin reconhecem a independência.
o 1824: Estados Unidos unem-se ao coro, na esteira da Doutrina Monroe.
o Maior dificuldade: conseguir reconhecimento de Portugal e das principais potências
europeias:
o Bonifá cio instrui Felisberto Caldeira Brant, autoridade brasileira em Londres, a
condicionar a abertura dos portos brasileiros ao reconhecimento da
independência.
 Bonifá cio considera caducos os Tratados Desiguais.
 Caldeira Brant obtém de Georges Canning, secretario de estado britâ nico
no Foreign Office, a disposiçã o de reconhecer a independência do Brasil
caso fossem renovados os tratados desiguais e fosse abolido o trá fico
negreiro.
 Bonifá cio nega: economia brasileira nã o suportaria fim do trá fico
negreiro, embora fosse contra um projeto escravista para o novo
país.
 Tampouco era favorá vel à prorrogaçã o dos Tratados Desiguais:
o O Brasil representava para a Inglaterra, à época, em
termos comerciais, metade do exportado para a Á sia, 2/3
do vendido para os Estados Unidos e ¾ do comércio com
a América espanhola.
 Havia poder de barganha favorá vel ao Brasil!
o Incidência da política interna na política externa:
 Demissã o de Bonifá cio, em 1823.
o Dom Pedro I passa a negociar diretamente com Portugal:
 Lisboa reclama indenizaçã o em 2 milhõ es de libras.
 Obrigava-se o Brasil a nã o incluir outras posses coloniais portuguesas em
seu projeto independentista.
 O Reino de Angola apresentou projeto formal de adesã o ao Estado
brasileiro, que passaria a ter duas margens no Atlâ ntico.
o Dom Pedro I aceita e obtém reconhecimento de Portugal em 1825.
o Inglaterra torna-se mediadora do reconhecimento da independência do Brasil por
Portugal.
 Brasileiros cedem à s três requisiçõ es britâ nicas: comércio, trá fico
negreiro e extraterritorialidade.
 Pelo tratado anglo-brasileiro de 1827, renovaram-se os privilégios
alfandegá rios e os direitos extraterritoriais por 15 anos.
 Brasil assina compromisso para findar o trá fico negreiro em três
anos, a contar de 1827.
o No mesmo ano que a Inglaterra reconheceu a independência do Brasil, a Á ustria juntava-se
ao coro, seguida de Rú ssia (1828) e Espanha (1834).

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o Qual o preço pago pelo reconhecimento da independência?

 O trato negreiro
 Trato ou trá fico negreiro?
 Tipos de explicaçã o para compreender as pressõ es inglesas para o fim do trato
negreiro no Brasil:
o Liberal:
 William Wilberforce, abolicionista britâ nica, defende fim da
escravidã o nas colô nias inglesas.
 Ê xito parcial em 1807.
o Mercantil:
 Concorrência escrava, no Brasil, em relaçã o aos lucros auferidos nas
produçõ es antilhanas.
 Alto valor do escravo seria responsá vel por encarecer, na cadeia
industrial, todas as etapas de produçã o.
 Libertar a mã o de obra era libertar fracçã o de capital que tornaria o
antigo traficante de escravos em consumidor potencial.

 Pressõ es internacionais contra o trá fico vieram da Revoluçã o Francesa ou da


Revoluçã o Industrial?
 Principal destino dos escravos africanos era o Brasil, seguido dos Estados Unidos.
o Baixa reprodutibilidade e alta mortalidade torna o comércio de escravos
essencial à estrutura produtiva brasileira.
o Consentir com fim do trato seria pô r em xeque os latifundiá rios brasileiros,
fossem eles ligados à produçã o açucareira ou cafeeira.
 1827-1831: Mais de 500.000 de escravos teriam ingressado no Brasil.
 Muitos, comparados aos 750.000 que ingressaram entre 1800
e 1831.

III] A Guerra Cisplatina e a América do Sul

o A Guerra Cisplatina (1825-1828)

 Bacia do Prata permanece sendo a regiã o cobiçada na época independente.


o Franca expansã o do comércio na Bacia do Prata.
o Bernardino Rivadavia nã o enxerga com bons olhos a presença
brasileira no Prata.
 Fortalecimento comercial do porto de Buenos Aires.
 Investimento em esquadra naval.
 Bernardino Rivadavia incentiva e financia a expansã o militar dos orientais
exilados em Buenos Aires.

 A Guerra Cisplatina eclodiu em abril de 1825.


o Envio dos 33 Orientais, liderados por Juan Antonio Lavalleja, para
tomar a Cisplatina e consolidar o vínculo com as Províncias Unidas do
Rio da Prata.
 A Bando Oriental faria parte da federaçã o argentina.
o Entre os 33 Orientais, Manuel Oribe e Fructuoso Rivera.
 Do lado brasileiro:
 Osó rio, Bento Manuel e Bento Gonçalves.

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 Litoral do Sul do Império sofre com a guerra:
o Açã o dos corsá rios.
 Prejuízos ao comércio imperial.
o Incidente entre o Brasil e os EUA:
 Tentativas feitas por navios mercantes dos EUA de romper o
bloqueio imperial imposto ao porto de Buenos Aires.
 1827: navio Spark é apresado pela esquadra imperial,
acusado de agir como corsá rio ao serviço das
Províncias Unidas.
o EUA rompem relaçõ es diplomá ticas com o
Brasil.
 Situaçã o superada em 1828, com
Tratado de Amizade, Navegaçã o e
Comércio.
 Impasse na Batalha de Passo do Rosá rio (Ituzaingó ), fevereiro de 1827:
o Inicia-se processo de negociaçã o.
o Inglaterra articula, visto que bloqueio comercial no Prata era
sinô nimo de perdas financeiras.
o Rivadavia renuncia, e Dorrego aceita proposta de negociaçã o inglesa.
 Convençã o de paz de 1828:
o Lord Ponsonby, Dorrego e Dom Pedro I.
 Reconhecer independência do Uruguai.

 As relaçõ es com a América do Sul

o Alto Peru (Bolívia):


 Incidente de Chiquitos:
 O governador de Chiquitos ofereceu anexaçã o ao Brasil, para evitar
entrar na Bolívia independente.
 Governo provisó rio do Mato Grosso aceita.
o Nomeia-se Sebastiã o Ramos para o cargo de governador e
Chiquitos.
 Sucre dá ultimato ao Brasil!
 Dom Pedro I cede: nã o poderia sustentar guerras em duas frentes.

o Províncias Unidas do Rio da Prata entabulam plano de invasã o: Bolivar agiria pelo
Norte, via o Amazonas, com apoio de Sucre, no Centro-Oeste; pelo Sul, Lavalleja.
 Foreign Office desaconselha a iniciativa portenha!

 1826: Congresso Anfictiô nico do Panamá


o Criar Confederaçã o de Estados Americanos.
 1815: Carta da Jamaica.
 Promoçã o da paz no continente.
 Aboliçã o da escravidã o.
 Contingente militar comum: equilíbrio na balança de poder.
 O Império é convidado ao Congresso de Panamá :
o Nomeia o plenipotenciá rio Theodoro José Biancardi, que nã o chegou a tempo.
o Convém ao Brasil participar de foros multilaterais?
 Brasil rechaça proposta de Canning, para levar o contencioso platino para
deliberaçã o no Congresso de Panamá.

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o Relaçõ es bilaterais sã o de igual para igual?
 Contrariando as expectativas de Bolivar:
o Dom Pedro I envia o Marquês de Santo Amaro à Europa entre 1828 e 1831.

IV] A crise econômica

o Crise na quase totalidade do Primeiro Reinado.


 Renovados os privilégios alfandegá rios com a Inglaterra.
 Empréstimo de 2 milhõ es de libras esterlinas contraído junto à Inglaterra,
como preço do reconhecimento da independência pago a Portugal.
 Novo empréstimo de 3 milhõ es de libras apó s a independência:
 Guerra Cisplatina (1825-1828).
 Ao término da guerra, os títulos do tesouro em circulaçã o somavam
21,5 mil contos de réis, quando o orçamento imperial era de 12 mil.
 Banco do Brasil recorre à emissã o do meio circulante:
 Inchaço monetá rio.
 Títulos do tesouro passam a ser pagos com altos índices de desá gios:
o O detentor do título, quando buscava ser ressarcido pelo
empréstimo feito aos cofres pú blicos, recebia papel-
moeda em valor inferior aos depó sitos iniciais em moeda
metá lica.
 1829: Extinçã o do Banco do Brasil.
 Daí em diante, somente circularia papel-moeda.
o Constantes desvalorizaçõ es do mil-réis contribuíram para o surto inflacioná rio.

 27, 28 e 29 de julho de 1830 na França: reflexos no Brasil.


o Novembro de 1830: assassinato de Libero Badaró .
 Dom Pedro I demite seu gabinete, e prevê constituiçã o de outro mais
conservadores sob o comando de Francisco Gomes da Silva, o Chalaça.
 Fevereiro de 1831: motins em Vila Rica.
 Noite das Garrafadas (1831).
o Constituiçã o do Ministério dos Marqueses: nobres
portugueses.
o 7 de Abril de 1831.
 Dom Pedro I deixa, no Brasil, o futuro dom Pedro II, com apenas 5 anos de
idade e ó rfã o de mãe desde 1826.

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A Regência(1831-1840)

Centralização versus descentralização: reformas institucionais

 O período que se estende de 7 de abril de 1831, quando da abdicaçã o de Dom Pedro I, a 23


de julho de 1840, quando da investidura de Dom Pedro II, constituiu verdadeiro
laborató rio de experiências políticas (MOREL, 2003):
o Implementou-se aquilo que desde a independência era controverso entre liberais e
conservadores: a descentralizaçã o.
o Foi período de formaçã o de partidos exclusivamente brasileiros.

I] Caracterização do período

 Expulsos os portugueses, o Brasil atravessou até 1840 período de agitaçã o política e social,
à semelhança do que ocorrera na América hispânica de 1810 a 1825.
 Se a centralizaçã o do Primeiro Reinado garantiu a unidade territorial tã o cara a José
Bonifá cio, a Regência dava lugar ao caos que caracteriza os anos de formaçã o do Estado
nacional, ou pelo menos assim afirmava a historiografia do Instituto Histó rico e Geográ fico
Brasileiro (IHGB) no pó s-1840.
 Pouco mais de um século se passou para que uma releitura marxista da Regência
vislumbrasse nas sediçõ es provinciais um movimento de classes agindo contra a opressã o
do centro dirigente, o Rio de Janeiro.
o Para essa historiografia dos anos de 1970, a Regência nã o foi caó tica, mas
republicana.

II] A nova ordem política

 Com o Parlamento em recesso, formou-se a Regência Trina Provisó ria em 7 de abril de


1831.
o Duraria até 7 de junho do mesmo ano, quando se convocariam eleiçõ es na
Assembleia Geral do Império, para formar uma Regência Trina Permanente.
 Rito previsto nos artigos 121 e 130 da Constituiçã o de 1824.
o Pela formaçã o de 7 de abril, quando se convocaram à s pressas deputados e
senadores, o senador Vergueiro, o senador Carneiro de Campos e o brigadeiro
Francisco de Lima e Silva eram os novos regentes provisó rios.
 Anistiaram os presos políticos, e suspendeu-se temporariamente
o Poder Moderador, o que significava que a Câ mara de Deputados
nã o poderia ser dissolvida.
o Em 7 de junho, era eleita a Regência Trina Permanente: confirmava-se o brigadeiro
Francisco de Lima e Silva na regência, mas os outros dois foram substituídos por
Joã o Brá ulio Muniz e por José da Costa Carvalho.

 O avanço liberal (1831-1837)

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o Entusiasmo com a abdicaçã o.
o À s províncias interessavam mais as localidades do que o Rio de Janeiro.
o Nos primeiros meses de Regência, irrompem rebeliõ es denominadas “tropa e
povo”:
 Eram soldados pobres de baixa patente e pequenos funcioná rios
comprometidos com a expulsã o dos portugueses.
 Rebeliõ es ocorrem no RJ, CE e PE: localidades de maior presença
portuguesa.
 Primeiras reformas:

o 1831: criaçã o da Guarda Nacional (inspiraçã o em sua homó loga francesa).


 Reequilibrar as forças no seio do Exército.
 A cú pula de comando do Exército era composta por portugueses.
 Limite de 10 mil homens para o Exército (antes eram 30 mil).
 Guarda Nacional: formada por eleitores com renda de 200 mil réis (Rio de
Janeiro, Bahia, Maranhã o, Pernambuco) e de 100 mil réis (demais
localidades): eram proprietá rios brasileiros em defesa de suas posses, de
suas localidades.
 Manutençã o da ordem.

o Nomeaçã o do padre Antô nio Feijó para o ministério da Justiça:


 Avanço liberal em marcha acelerada:
 1832: criaçã o do Có digo do Processo Criminal:
o Habeas corpus e juiz de paz.
 Juiz de paz: eleito em base municipal, subordinando a Guarda
Nacional, também de formaçã o local.
 1834: Ato Institucional (ú nica reforma constitucional no
período):
o Votado pela Câ mara de Deputados.
o Assembleias Provinciais tornam-se Assembleias
Legislativas Provinciais: capacidade legislativa.
o Município neutro do Rio de Janeiro.
o Suspensã o do Poder Moderador e do Conselho de Estado.
o Criaçã o da Regência Una: deveria ter concordâ ncia das
Assembleias Legislativas Provinciais, 4 anos de mandato.
o Feijó torna-se Regente Uno.
 Mas!
 Presidentes de Província nomeados pelo Regente Uno.
 Senado permaneceria vitalício.

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