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Período regencial
A Constituição previa a formação de uma regência trina, caso o sucessor do trono fosse menor de idade. Com o
Parlamento em recesso, organizou-se uma Regência Trina Provisória. Dois meses depois, ela foi substituída por uma
Regência Trina Permanente, que criou a Guarda Nacional. Composta por tropas recrutadas pelos grandes proprietários
de terras, a Guarda Nacional deveria atuar como força auxiliar do exército, voltada sobretudo para a repressão de
agitações sociais no meio rural. Seus comandantes eram geralmente grandes proprietários e recebiam o título de
“coronel”, embora não tivessem formação militar.
Em 1834, o Ato Adicional à Constituição criou as Assembleias Legislativas nas províncias, extinguiu o Conselho de
Estado e instituiu a Regência Una em substituição à Regência Trina. Em abril de 1835, Diogo Feijó foi eleito para a
Regência Una.
O Brasil passava então por uma grande instabilidade política e social, com várias rebeliões nas províncias. Diante de
tanta pressão, Feijó renunciou em 1837. Para substituí-lo, foi eleito Araújo Lima, que adotou uma política
centralizadora, conhecida como Regresso. Em 1840, a Lei Interpretativa do Ato Adicional diminuiu o poder das
Assembleias Legislativas.
Revoltas regenciais
Revolta dos Malês – rebelião de africanos de religião islâmica, escravizados e libertos, em Salvador, Bahia, em 1835.
Lutava pelo fim da escravidão e do caráter exclusivo da religião católica. Foi sufocada, e seus líderes, executados.
Cabanagem – revolta no Grão-Pará. Em 1835, os cabanos (pessoas que moravam em cabanas nas margens dos rios)
ocuparam Belém e executaram o governador Lobo de Souza. Exigiam que o presidente da província fosse um
representante local e não uma pessoa de fora nomeada pelo governo central. Violentamente reprimidos, os cabanos
resistiram até 1840. Cerca de 30 mil pessoas morreram no conflito.
Farroupilha (Guerra dos Farrapos) – rebelião no Rio Grande do Sul liderada por criadores de gado e produtores de
charque, prejudicados pelos altos impostos e pela concorrência do produto uruguaio e argentino. Partidários dos
liberais exaltados (daí o nome Farroupilha da revolta), em 1835, os rebeldes ocuparam Porto Alegre e em 1836
proclamaram a República Rio-Grandense (ou Piratini). Em 1839, ocuparam Santa Catarina, onde proclamaram a
República Juliana. A revolta terminou em 1845 com um acordo de paz.
Sabinada – revolta de setores das camadas médias urbanas de Salvador em 1837. Liderada pelo médico Francisco
Sabino, opunha-se à centralização do poder regencial. Chegou a fundar uma República Bahiense, mas foi sufocada em
1838.
Balaiada – rebelião de amplos setores da população pobre do Maranhão iniciada em 1838. Seus principais líderes
foram o artesão de cestos Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, o Balaio, e o ex-escravizado Raimundo Gomes Vieira.
Apoiados por cerca de 3 mil escravizados, sob a liderança de Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme, em 1839 os
balaios ocuparam a cidade de Caxias, onde estabeleceram um governo provisório que exigiu o fim da Guarda
Nacional e a expulsão dos portugueses da província. Em 1840, a revolta foi esmagada por tropas comandadas por Luís
Alves de Lima e Silva, futuro duque de Caxias.
O segundo reinado
Marcado por revoltas provinciais, o Período Regencial foi também palco de disputas de poder entre os partidos Liberal
e Conservador. Ambos representavam a aristocracia escravista e monarquista. Contudo, os liberais eram mais
partidários da descentralização política (ou seja, do federalismo) do que os conservadores.
A formação dos dois partidos fora resultado de diversas disputas, agrupamentos e reagrupamentos das principais
forças políticas do país a partir da Independência. Em 1831, essas forças estavam agrupadas em três grandes facções: a
dos Restauradores (ou Caramurus), de tendências absolutistas, que pedia o retorno de dom Pedro I ao trono; a dos
liberais Moderados (Chimangos), que defendia a monarquia constitucional; e a dos liberais Exaltados (Farroupilhas),
que lutava pelo federalismo (autonomia das províncias; alguns deles eram republicanos).
Os conservadores estavam no poder, desde a renúncia de Feijó, em 1837. Argumentando que só o imperador poderia
extinguir as revoltas, os liberais propuseram que a maioridade de dom Pedro fosse antecipada. Em 1840, a Assembleia
Geral (Parlamento) aprovou a proposta e o jovem Pedro foi coroado como dom Pedro II aos 14 anos de idade. O
episódio ficou conhecido como Golpe da Maioridade.
Revolta Praieira
Em 1848, eclodiu no Recife a última revolta provincial. Promovida por um grupo liberal conhecido como Partido da
Praia (daí o nome de Revolução Praieira), foi resultado de diversos fatores, como a nomeação de um conservador para
presidente da província, a carestia de vida, o desemprego e o controle do comércio pelos portugueses. Os rebeldes
ocuparam o Recife e a revolta se espalhou pela Zona da Mata (região do açúcar). Após um ano e meio de combates, o
governo central sufocou a rebelião.
O Império agroexportador
A conquista da independência política em 1822 não foi acompanhada de mudanças na estrutura social e econômica da
nova nação. Assim, o Império manteve o modelo agroexportador apoiado sobretudo na monocultura do café e no
trabalho escravo (plantations). Com o esgotamento do solo no Vale do Paraíba, a cultura cafeeira se expandiu para o
noroeste paulista e para Minas Gerais.
A partir da segunda metade do século XIX, foram construídas as primeiras ferrovias. A Santos-Jundiaí (1867), da
companhia inglesa São Paulo Railway, foi a pioneira na província de São Paulo e teve importância fundamental para o
escoamento do café do interior até o porto de Santos.
Entretanto, a primeira ferrovia do Brasil data de 1854. Tinha apenas 14 quilômetros e foi construída no Rio de Janeiro
pelo barão de Mauá, empresário industrial, responsável também pela iluminação a gás da capital do Império, pela
criação de um dos primeiros estaleiros do país e por outros empreendimentos.
Guerra do Paraguai
Em 1865, os governos do Brasil, da Argentina e do Uruguai assinaram o Tratado da Tríplice Aliança, contra o
Paraguai. Em 1866, depois de várias batalhas, as forças da Tríplice Aliança invadiram o Paraguai e, em 1869,
ocuparam a capital, Assunção. Um ano depois, Solano López foi morto na fronteira com Mato Grosso.
A guerra teve consequências dramáticas para o Paraguai. Apenas 10% de sua população masculina sobreviveu ao
conflito. A indústria e a agricultura do país foram arrasadas. Para Brasil e Argentina, a guerra significou a conquista
da supremacia de seus interesses a região, mas suas economias ficaram ainda mais dependentes do capital inglês, que
financiou o esforço de guerra dos aliados. No Brasil, a Guerra do Paraguai também influenciou os rumos da luta
abolicionista, pois os militares passaram a apoiar a causa.
A abolição da escravidão
Outro complicador para o governo brasileiro era a posição da Inglaterra, país industrializado, que começou a fazer
pressões sobre países escravistas para que abolissem a escravidão e o tráfico de escravizados.
Calculavam os ingleses que, com a abolição, cresceria o mercado consumidor para seus produtos, pois os ex-
escravizados passariam a receber salários como trabalhadores livres e poderiam adquirir alguns desses produtos.
Em 1845, valendo-se da Bill Aberdeen (lei que proibia o comércio de escravizados entre a África e a América), a
marinha inglesa aprisionou embarcações brasileiras acusadas de tráfico negreiro. Essas pressões levaram dom Pedro II
a aprovar, em 1850, a Lei Eusébio Matoso, que proibia o tráfico.
Depois dessa lei, vieram a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885). A essa altura, a Campanha
Abolicionista mobilizava multidões nas ruas das grandes cidades. Muitos trabalhadores escravizados fugiam das
fazendas para formar quilombos, com o apoio de organizações abolicionistas. A partir de 1887, a escravidão parecia
ter seus dias contados, pois o exército e a Igreja passaram a apoiar a abolição. Assim, as pressões de diversos setores
sociais e a resistência de escravizados e ex-escravizados levaram a princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, a assinar a
Lei Áurea, que acabava com a escravidão no Brasil. Entretanto, essa libertação não foi acompanhada de uma política
de inclusão social, como a realização de uma reforma agrária, por exemplo. Na prática, isso mantinha os ex-
escravizados sem direitos e à margem da sociedade.
Desde 1870, com a publicação do Manifesto Republicano, vinham crescendo as forças políticas que rejeitavam o
regime monárquico. Em 1873, fazendeiros paulistas fundaram o Partido Republicano de São Paulo. A partir de então,
o movimento a favor da República avançou progressivamente, embora sem empolgar as multidões, como ocorreu com
a Campanha Abolicionista.
Questão Religiosa
Em 1872, um episódio envolvendo um bispo católico, que proibiu o ingresso de maçons em irmandades religiosas,
desagradou pessoas do governo, como o visconde do Rio Branco, que era maçom e presidente do Conselho de
Ministros. O bispo foi preso por ordem do imperador e solto algum tempo depois, mas o episódio, conhecido como
Questão Religiosa, abalou as relações entre o Império e a Igreja católica.
Questão Militar
Conhecida como Questão Militar, a crise teve início em 1884, quando o tenente-coronel Sena Madureira, promoveu,
na Escola de Tiro de Campo Grande, no Rio de Janeiro, uma homenagem a Francisco Nascimento, jangadeiro
cearense que participava da luta contra a escravidão em sua província.
O ministro da Guerra proibiu os militares de externar posições políticas pela imprensa. Rompendo a disciplina do
exército, a oficialidade rio-grandense protestou publicamente contra a proibição do ministro. Mais grave ainda: o
presidente da província e comandante do exército no Rio Grande do Sul, marechal Deodoro da Fonseca, se recusou a
punir os oficiais, como exigia o ministro da Guerra. Em represália, o governo o destituiu dos dois cargos. Em 1887,
Deodoro seria eleito o primeiro presidente do recém-criado Clube Militar, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, ele
proclamaria a República.
No Brasil, desde o século XVIII, movimentos e grupos sociais reivindicavam e lutavam pela autonomia. As atividades
econômicas no território brasileiro tinham uma dinâmica um funcionamento próprio que dispensavam a ligação com
Portugal. O tráfico de africanos escravizados, negócio dos mais lucrativos e que sustentava a reposição de mão de
obra, era, a essa altura, um ramo dominado por brasileiros ou por residentes no Brasil, com suas representações do
outro lado do oceano, na África.
Guerra do Paraguai
Em termos de política externa, o Brasil se envolveu, desde 1851, nas chamadas “questões platinas”, que eram
divergências com as repúblicas platinas (Argentina, Paraguai e Uruguai) sobre limites de fronteira e sobre direitos de
navegação nos rios Paraguai, Paraná e Uruguai. A intervenção brasileira na área desaguou na Guerra do Paraguai
(1865–1870). Essa guerra uniu o Brasil, a Argentina e o Uruguai contra o Paraguai. Foi um conflito sangrento, o mais
mortífero das Américas.
Fim da escravidão
Internamente, a campanha pelo fim da escravidão aumentou muito nas décadas de 1870 e 1880. Alguns políticos e
figuras socialmente influentes aderiram à campanha abolicionista.
Os setores escravistas reagiram. Havia grupos que exigiam indenização caso o governo terminasse com a escravidão.
A legislação que foi sendo aprovada pelo governo criou ainda mais fontes de conflitos. A lei de 1871, conhecida como
a lei do “Ventre Livre”, não apenas tornou livres os filhos de escravas nascidos a partir de então, como determinou
que os senhores seriam obrigados a conceder a alforria a seus escravos, caso estes tivessem recursos para comprá-la. A
lei de 1885, conhecida como a lei “dos Sexagenários”, pois libertou os cativos com mais de 65 anos, também atribuiu
penas mais severas para quem açoitasse os escravos fugidos.
Finalmente, em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, regente do Brasil, assinou uma lei que dizia: “É declarada
extinta a escravidão no Brasil. Revogam-se as disposições em contrário.” Essa medida do governo monárquico retirou
o apoio que ele ainda poderia ter dos setores escravistas.
Fim da monarquia
A oposição ao regime monárquico não era algo novo. Podemos lembrar, por exemplo, que na Insurreição
Pernambucana (1817), a ideia de um regime republicano para o Brasil estava entre os projetos defendidos. Para uma
parte dos republicanos, o federalismo, no qual as províncias tinham maior autonomia, aparecia como a melhor forma
de permitir a participação política dos cidadãos. Muitos cafeicultores paulistas aderiram à defesa de uma república
federalista, considerando que possuíam pouca influência nas decisões do Império.
A partir de 1870, as ideias republicanas foram divulgadas com mais frequência, através de jornais, clubes e da criação
de partidos políticos. Ainda assim, não era muito popular e os grupos republicanos em geral eram formados por
políticos liberais, alguns proprietários de terra e de setores médios urbanos. Mas, além dos republicanos, havia gente
influente muito descontente com os rumos do Império: bispos da Igreja Católica, fazendeiros, militares.
Alguns bispos se desagradavam do fato de, pelas leis brasileiras, a Igreja Católica ter que se submeter à autoridade do
imperador – havia o regime de padroado, e as ordens das altas autoridades católicas tinham que ter a aprovação de
Dom Pedro II.
Os fazendeiros, sobretudo os do vale do Paraíba, estavam descontentes com a abolição da escravidão sem receberem
indenização do governo. Os militares não se sentiam suficientemente recompensados depois da Guerra do Paraguai e
reivindicavam maior participação política. No caso dos militares, ainda havia um dado a mais: a influência do
positivismo, que era um conjunto de ideias que contribuía para valorizar a figura do militar como sendo um símbolo
da defesa da ordem, da ética e da nação. Muitos jovens oficiais concordavam com a ideia de que os políticos da época
não tinham um compromisso com o Brasil como eles – os militares – tinham.
O desgaste do regime monárquico era grande. Dom Pedro II ainda tentou fazer reformas para evitar os conflitos, mas
as forças republicanas foram mais rápidas. Na manhã de 15 de novembro de 1889, um grupo de militares, com apoio e
estímulo de alguns civis, proclamou a República no Campo de Santana – centro do Rio de Janeiro. Daí por diante este
lugar teria o nome oficial de praça da República.