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Aspectos introdutórios
Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB Impresso por: Enzo Hashioka Brambila
Introdução ao Direito do Consumidor -Turma 1 (Parceria Data: quinta, 20 jan 2022, 15:25
Curso:
ILB/ANATEL)
Livro: Aspectos introdutórios
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Descrição
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Índice
Introdução ao curso
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Introdução ao curso
O TELEFONE
Quem vos escreve é um desses desagradáveis sujeitos chamados assinantes; e do tipo mais baixo: dos que atingiram essa
qualidade depois de uma longa espera na fila.
Não venho, senhor, reclamar de nenhum direito. Li o vosso Regulamento e sei que não tenho direito a coisa alguma, a não
ser pagar a conta. Esse Regulamento, impresso na página 1 de vossa interessante Lista (que é meu livro de cabeceira), é
mesmo uma leitura que recomendo a todas as almas cristãs que tenham, entretanto, alguma propensão para o orgulho ou
soberba. Ele nos ensina a sermos humildes; ele nos mostra quanto nós, assinantes, somos desprezíveis e fracos.
Aconteceu por exemplo, senhor, que outro dia um velho amigo deu-me o prazer de me fazer uma visita. Tomamos uma modesta cerveja e falamos de
coisas antigas – mulheres que brilharam outrora, madrugadas dantanho, flores doutras primaveras. Ia a conversa quente e cordial ainda que algo
melancólica, tal soem ser as parolas vadias de cumpinchas velhos – quando o telefone tocou. Atendi. Era alguém que queria falar ao meu amigo. Um
assinante mais leviano teria chamado o amigo para falar. Sou, entretanto, um severo respeitador do Regulamento; em vista do que comuniquei ao meu
amigo que alguém lhe queria falar, o que infelizmente eu não podia permitir; estava, entretanto, disposto a tomar e transmitir qualquer recado. Irritou-
se o amigo, mas fiquei inflexível, mostrando-lhe o artigo 2 do Regulamento, segundo o qual o aparelho instalado em minha casa só pode ser usado
pelo assinante, pessoas de sua família, seus representantes ou empregados.
Devo dizer que perdi o amigo, mas salvei o Respeito ao Regulamento; ‘dura lex sed lex’; eu sou assim. Sei também (artigo 4) que se minha casa pegar
fogo terei de vos pagar o valor do aparelho – mesmo que esse incêndio (artigo 9) for motivado por algum circuito organi-
zado pelo empregado da Companhia com o material da Companhia. Sei finalmente (artigo 11) que se, exausto de telefonar
do botequim da esquina a essa distinta Companhia para dizer que meu aparelho não funciona, eu vos chamar e vos disser,
com lealdade e com as únicas expressões adequadas, o meu pensamento, ficarei eternamente sem telefone, pois o uso de
linguagem obscena configurará motivo suficiente para a Companhia desligar e retirar o aparelho.
Enfim, senhor, eu sei tudo; que não tenho direito a nada, que não valho nada, não sou
nada. Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge.
Isso me trouxe, é certo, um certo sossego ao lar. Porém amo, senhor, a voz humana; sou uma dessas criaturas
tristes e sonhadoras que passa a vida esperando que de repente a Rita Hayworth me telefone para dizer que o Ali
Khan morreu e ela está ansiosa para gastar com o velho Braga o dinheiro de sua herança, pois me acha muito
simpático e insinuante, e confessa que em Paris muitas vezes se escondeu em uma loja defronte do meu hotel só
para me ver entrar ou sair.
Confesso que não acho tal coisa provável: o Ali Khan ainda é moço, e Rita não tem meu número. Mas é sempre doloroso pensar que se tal coisa me
acontecesse eu jamais saberia – porque meu aparelho não funciona. Pensai nisso, senhor: um telefone que dá sempre sinal de ocupado – ‘cuém cuém
cuém’ – quando na verdade está quedo e mudo na modesta sala de jantar. Falar nisso, vou comer; são horas. Vou comer contemplando tristemente o
aparelho silencioso, essa esfinge de matéria plástica; é na verdade algo que supera o rádio e a televisão, pois transmite não sons nem imagens, mas
sonhos errantes no ar.
Mas batem à porta. Levanto o escuro do magro bife e abro. Céus, é um empregado da Companhia! Estremeço de emoção. Mas ele me estende um
papel: é apenas o cobrador. Volto ao bife, curvo a cabeça, mastigo devagar, como se estivesse mastigando meus pensamentos, a longa tristeza de
minha humilde vida, as decepções e remorsos. O telefone continuará mudo; não importa: ao menos é certo, senhor, que não vos esquecestes de mim."
Março de 1951
A crônica acima, de Rubem Braga, destaca a relação entre a proteção do consumidor e as telecomunicações. Nela, verifica-se a angústia de um
consumidor em relação ao serviço prestado por um fornecedor.
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De tempos em tempos o ser humano identifica que possui características que o inserem em um grupo específico capaz de lhe atribuir direitos e deveres
no exercício das atividades a ele inerentes. Assim, as cidades foram criadas e logo seus habitantes foram alçados ao status de cidadãos. Depois, a
esses foi impingido o pagamento de tributos, tornando-se contribuintes.
Emergindo como potência industrial, os Estados Unidos da América foram o palco inicial das discussões sobre a proteção ao consumidor. Partindo de
pequenas leis esparsas e passando por leis antitrustes, já no início do século XX, foram criadas instituições com o fim de controlar o comércio de certos
produtos, como a Federal Trade Comission (FTC), em 1914, e a Food and Drug Administration (FDA), em 1931.
Porém, foi em 1962 que o presidente dos Estados Unidos da América, John F.
Kennedy, apresentou, em famoso discurso (versão em inglês), os quatro
direitos básicos do consumidor: o direito à segurança, o direito de ser
informado, o direito de escolha e o direito de ser ouvido, formando, assim, o
que ficou conhecido como A Carta de Direitos do Consumidor. Mais tarde, em
1985, a esses foram acrescidos, pela Organização das Nações Unidas (ONU),
os direitos à satisfação de necessidades básicas, à efetiva compensação, à
educação e ao meio ambiente saudável.
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No Brasil, já se reconhecia a proteção ao consumidor na Lei Delegada nº 4, de 1962, objetivando assegurar a livre distribuição de produtos necessários
ao consumo do povo. Na década de 70, algumas instituições de defesa do consumidor foram criadas tanto no âmbito estadual como no nacional, entre
elas o Conselho de Defesa do Consumidor (CONDECOM), no Rio de Janeiro; a Associação de Defesa do Consumidor (ADOC), em Curitiba; a Associação
de Proteção ao Consumidor (APC), em Porto Alegre; e a Associação Nacional de Defesa do Consumidor (ANDEC).
Com a ditadura militar chegando ao fim na década de 80, o anseio por uma norma sólida de amparo ao consumidor tomava força. E, assim,
reconhecendo a defesa do consumidor como um direito fundamental, a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988,
determinou, em seu art. 5º, inciso XXXII, que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. Não fosse o bastante, e com o claro
intuito de não permitir qualquer descuido infraconstitucional, inseriu-se, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o art. 48, com o
mandamento: “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”.
Saiba mais
Você sabia que a defesa do consumidor foi também incluída pela Constituição de 1988
entre os princípios gerais da Ordem Econômica? Está no art. 170,V:
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Síntese
Para refletir
Adam Smith
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Agora, nesta unidade, veremos os principais agentes da relação de consumo e o que a diferencia de uma
relação civil.
A relação de consumo consiste numa relação jurídica regulada pelo direito do consumidor. A relação jurídica é o liame existente entre sujeitos de direito
diante de um objeto discutido. Uma relação é considerada específica quando determinada norma jurídica aplica-se sobre a mesma.
Os agentes da relação de consumo são os sujeitos de direito da relação jurídica de consumo e estão definidos no Código de Defesa do Consumidor.
Primeiramente, apresentaremos os conceitos legais dos principais agentes da relação de consumo.
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O CDC optou por definir os conceitos de consumidor nos artigos 2º, 17 e 29, e fornecedor no artigo 3º. Vejamos:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
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Percebe-se, portanto, que o conceito de consumidor paira pelo destino pelo qual um produto
ou serviço é adquirido, seja por pessoa física ou jurídica, desde que o faça para uso próprio
e não faça parte das ações intermediárias da cadeia de produção.
A aquisição do produto ou utilização do serviço como destinatário final torna-se uma das principais características para identificação da relação jurídica
de consumo, assim como a vulnerabilidade do consumidor que passa a ser outra característica necessária para que a relação de consumo se complete.
Ressalte-se, ainda, que produtos adquiridos, mesmo utilizados para a produção, podem caracterizar a relação jurídica de consumo, desde que
disponíveis no mercado de consumo.
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Diante do conceito de relação jurídica de consumo, que acabamos de estudar, determinaram-se as teorias consolidadas para definição de consumidor.
Finalista, que analisa caso a caso a identificação do consumidor como destinatário final, sem que haja a continuidade da atividade econômica; e
Maximalista, que aplica indistintamente o CDC quando da aquisição de um produto ou serviço, não importando se haverá uso particular ou
profissional do bem.
A teoria finalista sofreu uma mutação ao ser minorada a sua aplicação, denominada por Cláudia Lima Marques como finalismo aprofundado. Esse
finalismo aparenta-se mais propício para determinar a relação de consumo, na medida em que relativiza e analisa a hipótese concreta,
desconsiderando a qualidade das partes e vislumbrando apenas o contrato firmado, desde que presentes a vulnerabilidade técnica, jurídica ou
econômica. Vejamos o que escreve a autora:
“É uma interpretação finalista mais aprofundada e madura, que deve ser saudada. Em casos difíceis envolvendo pequenas empresas que
utilizam insumos para a sua produção, mas não em sua área de expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área dos serviços,
provada a vulnerabilidade, concluiu-se pela destinação final de consumo prevalente”. (2009, p.73).
Essa posição está sendo adotada pelo STJ com muita parcimônia e tem demonstrado onde se pode verificar a relação jurídica de consumo.
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E os consumidores equiparados?
No conceito de consumidor, há, ainda, a figura dos consumidores equiparados, que não são configurados como destinatários finais, mas se
materializam nesta condição por uma situação de fato comum. Assim, para efeito de proteção legal, o CDC equipara a consumidor:
b) as pessoas que sofrem com algum tipo de dano, sendo vítimas de acidente de consumo (art. 17 do CDC); e
c) os que sofrem algum tipo de prática abusiva, diante de determinadas estratégias comerciais ou de marketing (art. 29 do CDC).
Atenção
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A relação de consumo não se completa sem a presença do fornecedor, cujo conceito torna-se primordial para identificá-la. Desta forma, o fornecedor
caracteriza-se por desempenhar uma determinada atividade na cadeia de produção ou na prestação do serviço descrito no artigo 3º do CDC. Ora, a
pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, ainda que sem personalidade jurídica, pode ser enquadrada como fornecedor
desde que desempenhe uma das atividades delineadas no referido artigo, com profissionalidade e lucro. Atividade essa que o particular comum não se
enquadra quando exerce a mesma ação do artigo 3º do CDC, haja vista não praticá-la como atividade profissional ou habitual.
Essas características tornam fácil a identificação de casos em que se poderia excluir a qualidade de fornecedor, como nos casos em que na relação
jurídica não há lucro ou nos casos de vendas eventuais entre pessoas físicas ou venda de objetos desvalorizados para o desempenho da sua atividade.
Assim como entidades associativas ou condomínios cujo interesse principal restringe-se à esfera de associados ou condôminos. Lembre-se, ainda, da
aplicação do CDC nas atividades bancárias. O CDC é claro quanto à sua aplicabilidade.
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Síntese
Síntese
Por fim, mas não menos importante, a completude da relação de consumo dá-se com a
entrega de um produto ou a prestação de um serviço, desde que presentes os agentes
que estudamos. O produto caracteriza-se pela atividade desenvolvida pelo fornecedor
com profissionalidade e habitualidade. Nesse sentido, veja-se o que descreve Antonio
Hermann V. Benjamin (2009, p.82):
Os serviços, por sua vez, são identificados quando colocados à disposição do consumidor, mediante remuneração. O CDC exige, portanto, apenas a
remuneração na identificação do serviço.
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Na unidade anterior vimos as definições dos agentes da relação de consumo, o que vai nos ajudar a compreender a aplicabilidade do Código de Defesa
do Consumidor (CDC).
Vamos iniciar com o exemplo de Cláudia Lima Marques (2009, p. 68/69) para delimitar tal relação. Vejamos:
“(...) se dois civis, duas vizinhas amigas, contratam (compra e venda de uma joia antiga), nenhuma delas é consumidora, pois falta o fornecedor
(o profissional, o empresário); são dois sujeitos 'iguais', regulados exclusivamente pelo Código Civil. Sendo assim, à relação jurídica de compra e
venda da joia de família aplica-se o Código Civil, a venda é fora do mercado de consumo. Se dois comerciantes ou empresários contratam
(compra e venda de diamantes brutos para lapidação e revenda), o mesmo acontece: são dois 'iguais', dois profissionais, no mercado de
produção ou de distribuição, são dois sujeitos iguais regulados pelo Código Civil (que regula as obrigações privadas, empresariais e civis) e pelas
leis especiais do direito comercial, direito de privilégio dos profissionais, hoje empresários. Já o ato de consumo é um ato misto entre dois
sujeitos diferentes, um civil e um empresário, cada um regulado por uma lei (Código Civil e Código Comercial), e a relação do meio e os direitos e
deveres daí oriundos é que é regulada pelo CDC. É direito especial subjetivo e relacional.”
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Não se aplica o CDC nos casos de:
Serviço notarial
Condomínios e condôminos;
Locação;
Contratos de crédito educativo;
Benefícios previdenciários.
NOTA DO PROFESSOR:
Súmula 563 – STJ – Entidade de previdência privada Por fim, mas não menos importante, a jurisprudência tem identificado os casos de aplicação do
CDC às entidades de previdência privada (Súmula 563 STJ), contratos de arrendamento mercantil (RESP 664351), condomínio e concessionária de
serviço público (RESP 650791), contratos do sistema financeiro de habitação (RESP 1073311). Não se aplicando o CDC nos casos de serviço notarial
(625144), condomínio e condôminos (RESP 650791), locação (RESP 510689), contratos de crédito educativo (600677) e benefícios previdenciários (RESP
369822).
“O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos previdenciários
celebrados com entidades fechadas. (Súmula 563, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/02/2016, DJe 29/02/2016) ”.
Fonte: www.stj.jus.br
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Síntese
Faça suas anotações, volte ao conteúdo e reveja os conceitos, bem como os exemplos.
Quando estiver seguro do conteúdo realize as atividades propostas e siga em frente!
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Parabéns! Você chegou ao final do primeiro Módulo de estudo do curso Introdução ao Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL).
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado
não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma
de ensino faz a correção imediata das suas respostas!
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