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Regulação de Avaria Grossa

Existem dois tipos básicos de avarias:


Avaria simples, conhecida ainda por particular, recai sobre o bem
transportado e tem como exclusivo responsável o transportador.

Avaria grossa, também denominada avaria comum, causada pelo


capitão do navio com o propósito de evitar o mal maior, desde que o
perigo arrostado não tenha sido causado pelo próprio comandante,
tripulação ou equiparados.

“avaria grossa é toda despesa extraordinária ou dano causado ao


navio ou à carga, voluntariamente, em benefício comum de ambos.”
(Fonte: Artigo publicado originalmente na revista Opinião.Seg nº 11 - Outubro de 2015 - Páginas 44 a 49).
CÓDIGO COMERCIAL

Art. 764 - São avarias grossas:


1 - Tudo o que se dá ao inimigo, corsário ou pirata por composição ou a título de resgate do navio e fazendas, conjunta ou separadamente
2 - As coisas alijadas para salvação comum.
3 - Os cabos, mastros, velas e outros quaisquer aparelhos deliberadamente cortados, ou partidos por força de vela para salvação do navio e carga.
4 - As âncoras, amarras e quaisquer outras coisas abandonadas para salvamento ou benefício comum.
5 - Os danos causados pelo alijamento às fazendas restantes a bordo.
6 - Os danos feitos deliberantemente ao navio para facilitar a evacuação d'água e os danos acontecidos por esta ocasião à carga.
7 - O tratamento, curativo, sustento e indenizações da gente da tripulação ferida ou mutilada defendendo o navio.
8 - A indenização ou resgate da gente da tripulação mandada ao mar ou à terra em serviço do navio e da carga, e nessa ocasião aprisionada ou retida.
9 - As soldadas e sustento da tripulação durante arribada forçada.
10 - Os direitos de pilotagem, e outros de entrada e saída num porto de arribada forçada.
11 - Os aluguéis de armazéns em que se depositem, em, porto de arribada forçada, as fazendas que não puderem continuar a bordo durante o conserto do navio.
12 - As despesas da reclamação do navio e carga feitas conjuntamente pelo capitão numa só instância, e o sustento e soldadas da gente da tripulação durante a
mesma reclamação, uma vez que o navio e carga sejam relaxados e restituídos.
13 - Os gastos de descarga, e salários para aliviar o navio e entrar numa barra ou porto, quando o navio é obrigado a fazê-lo por borrasca, ou perseguição de inimigo,
e os danos acontecidos às fazendas pela descarga e recarga do navio em perigo.
14 - Os danos acontecidos ao corpo e quilha do navio, que premeditadamente se faz varar para prevenir perda total, ou presa do inimigo.
15 - As despesas feitas para pôr a nado o navio encalhado, e toda a recompensa por serviços extraordinários feitos para prevenir a sua perda total, ou presa.
16 - As perdas ou danos sobrevindos às fazendas carregadas em barcas ou lanchas, em conseqüência de perigo.
17 - As soldadas e sustento da tripulação, se o navio depois da viagem começada é obrigado a suspendê-la por ordem de potência estrangeira, ou por superveniência
de guerra; e isto por todo o tempo que o navio e carga forem impedidos.
18 - O prêmio do empréstimo a risco, tomado para fazer face a despesas que devam entrar na regra de avaria grossa.
19 - O prêmio do seguro das despesas de avaria grossa, e as perdas sofridas na venda da parte da carga no porto de arribada forçada para fazer face às mesmas
despesas.
20 - As custas judiciais para regular as avarias, e fazer a repartição das avarias grossas.
21 - As despesas de uma quarentena extraordinária.
E, em geral, os danos causados deliberadamente em caso de perigo ou desastre imprevisto, e sofridos como conseqüência imediata destes eventos, bem como as
despesas feitas em iguais circunstâncias, depois de deliberações motivadas (artigo nº. 509), em bem e salvamento comum do navio e mercadorias, desde a sua carga
e partida até o seu retorno e descarga.
Art. 707. Quando inexistir consenso acerca da nomeação de um regulador de avarias, o juiz de direito da comarca do
primeiro porto onde o navio houver chegado, provocado por qualquer parte interessada, nomeará um de notório
conhecimento.
Art. 708. O regulador declarará justificadamente se os danos são passíveis de rateio na forma de avaria grossa e exigirá das
partes envolvidas a apresentação de garantias idôneas para que possam ser liberadas as cargas aos consignatários.
§ 1º A parte que não concordar com o regulador quanto à declaração de abertura da avaria grossa deverá justificar suas
razões ao juiz, que decidirá no prazo de 10 (dez) dias.
§ 2º Se o consignatário não apresentar garantia idônea a critério do regulador, este fixará o valor da contribuição provisória
com base nos fatos narrados e nos documentos que instruírem a petição inicial, que deverá ser caucionado sob a forma de
depósito judicial ou de garantia bancária.
§ 3º Recusando-se o consignatário a prestar caução, o regulador requererá ao juiz a alienação judicial de sua carga na forma
dos arts. 879 a 903 .
§ 4º É permitido o levantamento, por alvará, das quantias necessárias ao pagamento das despesas da alienação a serem
arcadas pelo consignatário, mantendo-se o saldo remanescente em depósito judicial até o encerramento da regulação.
Art. 709. As partes deverão apresentar nos autos os documentos necessários à regulação da avaria grossa em prazo razoável
a ser fixado pelo regulador.
Art. 710. O regulador apresentará o regulamento da avaria grossa no prazo de até 12 (doze) meses, contado da data da
entrega dos documentos nos autos pelas partes, podendo o prazo ser estendido a critério do juiz.
§ 1º Oferecido o regulamento da avaria grossa, dele terão vista as partes pelo prazo comum de 15 (quinze) dias, e, não
havendo impugnação, o regulamento será homologado por sentença.
§ 2º Havendo impugnação ao regulamento, o juiz decidirá no prazo de 10 (dez) dias, após a oitiva do regulador.
Art. 711. Aplicam-se ao regulador de avarias os arts. 156 a 158 , no que couber.
As avarias classificadas como grossas ou comuns são
repartidas proporcionalmente entre o navio, seu frete e a
carga.

É o regulador nomeado por consenso ou através do que


disciplina o artigo 707, que declara justificadamente se os
danos são passíveis de rateio na forma de avaria grossa,
conforme determina o artigo 708.
a) Pode ser extrajudicial se concordarem quem será o regulador.

b) Do contrário será judicial, nomeando o juiz um regulador.

c) Legitimidade Ativa: Transportador – Proprietário da carga perdida.


Legitimidade Passiva: Litisconsórcio passivo necessário entre todos
os interessados.

d) Petição inicial: Além dos requisitos do art. 319 do CPC,


necessariamente deve ser instruída com documentos existentes para auxiliar
o regulador. (Ônus Probatório).
Se a Inicial for proposta pelo transportador, é indispensável que este
junte o registro de bordo.
Primeiro ato do Juiz é nomear o regulador que:

Formará a massa passiva (valor dos danos).

Formará a massa ativa (quanto foi o valor salvo).

Estabelecerá a Taxa de Contribuição (Cálculo da proporção do proveito), serve para


apresentação de caução para liberação da carga.
A parte que não concordar com o regulador quanto à declaração de abertura de avaria grossa deverá justificar
suas razões ao juiz, que decidirá no prazo de 10 dias.

Não apresentada garantia o transportador poderá reter a carga e pedir ao juízo a alienação judicial.

Por fim, o artigo 711 determina que ao regulador serão aplicadas as regras atinentes ao Perito Judicial, o que
confirma que a função do regulador da avaria é de auxiliar do Juízo.
AVARIAS GROSSAS. COMO TAIS NÃO SE CONSIDERAM AS DESPESAS HAVENDO FALTA OU NEGLIGENCIA DO CAPITAO OU
DA TRIPULAÇÃO. ART. 765 DO CÓDIGO COMERCIAL. O PRONUNCIAMENTO DO TRIBUNAL MARITIMO VALE, PERANTE O
PODER JUDICIARIO, NÃO COMO DECISÃO MAS COMO LAUDO, AO QUAL SERÁ DADO O VALOR QUE MERECER. APLICAÇÃO
DA LEI, EM FACE DA PROVA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO SEM CABIMENTO.
(STF - RE: 25193, Relator: LUIS GALLOTTI, Data de Julgamento: 31/12/1969, PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: ADJ
DATA 05-11-1956 PP-01993 DJ 05-05-1955 PP-05017 EMENT VOL-00209-01 PP-00258 EMENT VOL-00209 PP-00258)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. TRANSPORTE MARÍTIMO. AVARIAS GROSSAS. PRESTAÇÃO DE GARANTIA.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO DA RÉ. CERCEAMENTO DE DEFESA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE.
INOCORRÊNCIA. PROVA DOCUMENTAL DESNECESSÁRIA. VALOR PRELIMINAR DA GARANTIA QUE DISPENSA A JUNTADA DO
LAUDO DO REGULADOR DE AVARIAS. CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ACOLHIMENTO.
REJEIÇÃO DAS PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E INTERESSE DE AGIR PELO JUÍZO A QUO. ARGUMENTOS
GENÉRICOS QUE SE PRESTARIAM A JUSTIFICAR QUALQUER OUTRA DECISÃO. NÃO OBSERVÂNCIA DO ART. 489, § 1º, DO CPC.
NULIDADE EVIDENCIADA. NÃO OBSTANTE, CAUSA MADURA PARA JULGAMENTO POR ESTE ÓRGÃO AD QUEM.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. MERO AGENTE DE CARGA. IRRELEVÂNCIA. RÉ QUE CONSTOU COMO CONSIGNATÁRIA DAS
MERCADORIAS NO CONHECIMENTO DE EMBARQUE MARÍTIMO. DEVER DE PRESTAR GARANTIA PARA AS AVARIAS GROSSAS
PERANTE A ARMADORA. PERTINÊNCIA SUBJETIVA DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. TESE DE QUE A
RETENÇÃO DAS MERCADORIAS PODE SER FEITA ADMINISTRATIVAMENTE. INSIGNIFICÂNCIA. DEMANDA QUE OBJETIVA A
PRESTAÇÃO DE GARANTIA. RETENÇÃO DA CARGA QUE CONFIGURA MERO MEIO COERCITIVO. NECESSIDADE E UTILIDADE
DO PRONUNCIAMENTO JUDICIAL CONFIGURADAS. NÃO OBSERVÂNCIA ÀS REGRAS DE YORK E ANTUÉRPIA E DO CÓDIGO
COMERCIAL. INSUBSISTÊNCIA. PEDIDO EXORDIAL QUE NÃO CONSISTE NO PAGAMENTO DA CONTRIBUIÇÃO DE AVARIAS
GROSSAS, MAS SIM NA PRESTAÇÃO DE GARANTIAS COMO CONDIÇÃO DE LIBERAÇÃO DAS CARGAS. DESNECESSIDADE DE
OBSERVÂNCIA DAS FORMALIDADES PRESCRITAS NAS NORMAS REGULAMENTADORAS. VALOR DEFINITIVO DO RATEIO QUE
SERÁ APURADO PELO REGULADOR EXTRAJUDICIAL E PODERÁ SER IMPUGNADO OPORTUNAMENTE. HONORÁRIOS
RECURSAIS. NÃO CABIMENTO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJ-SC - APL: 03100504520158240033 Tribunal de Justiça de Santa Catarina 0310050-45.2015.8.24.0033, Relator: Janice
Goulart Garcia Ubialli, Data de Julgamento: 17/11/2020, Quarta Câmara de Direito Comercial)

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