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TRANSPORTE MARÍTIMO

INTERNACIONAL

ESTRUTURA DO NEGÓCIO SHIPPING

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Olá!
Nesta aula iremos discorrer sobre o funcionamento de uma empresa de navegação marítima, abordando a

natureza econômica dos seus serviços, e os aspectos comerciais e operacionais. Falaremos ainda do elevado nível

de investimentos, de aspectos relacionados à concorrência e dos riscos financeiros característicos desse

segmento de negócio.

Por outro lado, também serão discutidos os diferentes suprimentos necessários aos navios, sua manutenção e

conservação, bem como os demais custos que incidem sobre a atividade comercial de um navio em operação no

transporte marítimo.

Face às inúmeras peculiaridades da navegação marítima como negócio, não poderíamos deixar de abordar a

tipologia das avarias e os tipos de seguros usualmente contratados.

Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Conhecer a estrutura e funcionamento de uma empresa de navegação marítima, abordando a natureza dos

serviços prestados, aspectos comerciais e operacionais, concorrência e riscos financeiros;

2- Identificar a composição e a tipologia dos custos incidentes sobre a operação comercial de um navio.

1 Procedimentos rotineiros de gestão


Uma empresa de navegação marítima internacional precisa obrigatoriamente observar determinados

procedimentos rotineiros de gestão.

Serão apresentados, a seguir, cada um desses procedimentos, separados de acordo com os principais atores do

transporte marítimo:

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2 Gestão patrimonial
A gestão patrimonial está diretamente relacionada ao retorno sobre o capital investido, e consiste na

observância dos seguintes aspectos:

Depreciação x Reposição da frota

A depreciação contábil de um navio é de 20 anos. Ou seja, a cada ano será lançado no Balanço Anual, a título de

depreciação, um débito correspondente a 5% do valor do navio. A ideia é que cada lançamento desse débito

corresponda ao depósito do mesmo valor em uma conta bancária, como fundo de reserva de depreciação. De

forma que, ao final dos 20 anos de depreciação, este fundo de reserva disponha de recursos suficientes para a

aquisição de um navio novo para substituir o navio depreciado.

Construção de navios x Afretamento

Sempre que alguma empresa Operadora de Navios registra uma demanda de cargas acima da capacidade da sua

frota terá que decidir se trata de uma demanda eventual, exigindo apenas o afretamento temporário de navios,

ou, se é uma tendência de demanda crescente, exigindo a construção de novos navios.

Planejamento da manutenção preventiva e docagens

A manutenção preventiva e as docagens bianuais em dique seco (para revalidação periódica da classe do navio),

ocasiões em que o navio é retirado de tráfego, devem ser planejadas de forma criteriosa, para não entrar em

conflito com as atividades comerciais do navio. Caso haja superposição de datas, é imprescindível que a empresa

disponibilize outro navio para cumprir as atividades rotineiramente programadas do navio que foi

temporariamente retirado de tráfego com fins de manutenção preventiva.

Controle sobre Seguros e Vistorias

Como consequência direta da realização de manutenções, sejam elas preventivas ou corretivas, os navios

precisam se submeter a vistorias para manutenção de sua classe, bem como renovação dos seguros que cobrem

casco e máquinas e as responsabilidades civis.

• Cascoe máquinas

Riscos cobertos por apólices de seguro contratadas a uma Seguradora escolhida livremente pelo

Proprietário do Navio. Face o enorme valor envolvido, a Seguradora escolhida se torna a empresa-líder

de um grupo de outras Seguradoras a quem convidará, a seu critério, para compartilhar o risco, em uma

operação conhecida como Resseguro.

• Responsabilidadescivis

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Riscos relativos à possibilidade de indenizações por danos causados a outros navios e/ou instalações

portuárias, mercadorias de terceiros entregues à sua responsabilidade para fins de transporte, ou, ainda,

sobre morte ou ferimentos causados a tripulantes, passageiros etc. Este tipo de risco é coberto por

grupos fechados de Armadores que, além de segurados, também exercem o papel de seguradores, em

uma associação que não visa lucro. Esse grupo funda um clube de seguro mútuo, conhecidos como

Protectors and Indemnity — P& I. Todos os meses, os membros do clube depositam um valor

previamente determinado em um fundo bancário pertencente ao clube. Caso não ocorra nenhum sinistro

a nenhum dos Armadores ao longo de um ano, todo o grupo teve economia, deixando de pagar às

Seguradoras. Contudo, se ocorrer algum sinistro desta natureza com algum membro do clube, o sinistro

será coberto através do saque do valor correspondente, feito contra o fundo comum do clube.

Programação de suprimentos

Quando o navio tiver necessidade de receber suprimentos de responsabilidade do Proprietário (âncoras,

correntes, cabos e material de amarração, botes salva-vidas, coletes, bóias, fogos de artifício, absorventes para

óleo, equipamento de rádio, máscaras e acessórios para inspeção, detectores de gás, extintores de incêndio,

mangueiras e conexões etc.), essa operação de suprimento não pode causar atrasos nas estadias comerciais do

navio nos portos.

3 Gestão náutica
Como já discutido na aula 2, armar um navio significa prepará-lo para viagem. No primeiro momento, isto

implica em nomear o Capitão que, na qualidade de Preposto do Armador, responderá por cumprir a legislação da

bandeira do navio, concomitantemente com a legislação marítima internacional.

Armador

Além da nomeação do Capitão, a gestão náutica por parte do Armador significa recrutar e contratar a tripulação

e, como consequência direta:


• Prover treinamento e aperfeiçoamento profissional adequado a cada um dos tripulantes, de acordo com
as convenções internacionais que dispõem sobre o assunto;
• Custear todas as despesas da tripulação;
• Providenciar as substituições de tripulantes por férias e outros afastamentos;
• Designar o Agente Protetor do Armador
Capitão do Navio

Por sua vez, o Capitão do Navio tem responsabilidade sobre a gestão náutica, no tocante ao seu gerenciamento

técnico, de forma a:
• Observar o cumprimento das regras do Direito Marítimo Internacional;

• Exercer suas prerrogativas do Direito Privado e, quando couber, do Direito Público;

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• Exercer suas prerrogativas do Direito Privado e, quando couber, do Direito Público;
• Preservar as condições operacionais de todos os equipamentos do navio;
• Manter a disciplina a bordo;

• DireitoPúblico

Comandantes de navios (igualmente aos Comandantes de aeronaves) detêm poderes legais para

determinar a prisão de passageiros ou tripulantes que tenham transgredido a legislação da bandeira do

navio, além de poderes para efetuar o registro de nascimentos e óbitos e de outros atos cartonais de

natureza civil.

• TribunalMarítimo Brasileiro

É órgão administrativo, autônomo e auxiliar do Poder Judiciário, vinculado à Marinha do Brasil, que julga

os acidentes, incidentes e os fatos da navegação.

3.1 Programação de suprimentos

Reposição periódica de víveres e água potável, utensílios de cama e mesa, cartas náuticas, materiais de escritório

e informática, materiais de conservação e limpeza, material de primeiros socorros, material elétrico,

ferramentas, baterias, escadas, lanternas etc. Esse tipo de suprimento deve ser planejado de forma a coincidir

com as escalas comerciais do navio em portos capazes de atender a essas necessidades.

Por se tratar de um dos maiores itens do custeio de um navio, o ressuprimento de combustíveis e lubrificantes

deve ser programado em portos nos quais esses itens tenham preços mais baixos e/ou haja incentivos fiscais,

mesmo que isto signifique realizar uma escala técnica apenas para obter esse tipo de suprimento.

4 Gestão comercial
Para exercer a gestão comercial no transporte marítimo internacional, o Operador de Navios necessariamente

deve contratar a construção (como Proprietário) ou afretar navios para o transporte de mercadorias.

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Além disso, o Operador de Navios precisa:
• Escolher as rotas em que irá operar comercialmente, se for o caso, divulgando previamente as datas de
escala nos portos dessa rota;
• Designar os Agentes Marítimos que irão atuar nesses portos como, Agente do Navio;
• Vender espaços do navio, contratando fretes marítimos;
• Emitir os Conhecimentos de Embarque Marítimo (Bill of Lading - B/L), relativos às cargas embarcadas;
• Receber os valores pagos pelos fretes e pagar as respectivas comissões sobre o angariamento;
• Custear as despesas operacionais relativas às operações comerciais realizadas.

5 Gestão Operacional
Como consequência direta da atividade comercial de vender espaço nos navios, os Operadores de Navios

necessitam manter as datas divulgadas para carregamento e saída dos portos de escala. Além disso, devem

cumprir as seguintes atividades de cunho operacional:

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6 Gestão da frota e contêineres
No caso específico das empresas que operam serviços de transporte de carga conteinerizada, é imprescindível

manter controle sobre a localização e situação de sua frota de contêineres, em todos os portos do mundo nos

quais há operações de carga e descarga. Em primeira instância, esse controle deve ser realizado pelos seus

Agentes em cada um desses portos.

Cada Agente Marítimo deverá prover a cada Operador de Navios, que represente neste porto, informações

atualizadas sobre a frota de contéineres sob sua responsabilidade. Essas informações devem cobrir:

1- Controle geral quantitativo dos contêineres no porto, especificando os respectivos terminais onde estão

armazenados e suas respectivas estadias;

2- Controle individualizado quanto ao posicionamento e status de cada contêiner;

3- Controle sobre os fluxos de reposicionamento de contêineres vazios;

4- Estimativas sobre o custo de reparos dos contêineres avariados;

5- Operações de transbordos;

6- Cobranças de Per Diem, Demurrages e extravios;

7- Necessidade de aumentar a disponibilidade local de contêineres próprios ou através de operações de leasing.

7 Tipos de avarias
No âmbito do transporte marítimo, as avarias podem ser de 2 diferentes naturezas:

Avaria Simples ou Particular

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Despesas causadas involuntariamente à carga ou ao navio. Cada seguro cobre o seu segurado. Por exemplo:

Carga jogada ao mar sem interferência humana;

Carga molhada durante a extinção de um incêndio por ela iniciado, sem afetar as cargas e nem o navio;

Danos causados pela tripulação, sem a intenção de lesar ou de natureza ilegal e fraudulenta.

Avaria Grossa ou Comum

Despesas causadas por ato deliberado, ante perigo iminente, com o objetivo de salvar as vidas, o navio e as

demais cargas. Ficando caracterizada, as despesas são rateadas dentre todos os interessados. Por exemplo:

Alijamento ao mar de cargas explosivas ou que estejam causando riscos de qualquer natureza;

Cargas molhadas com água salgada na extinção de um incêndio no navio, sem que essas cargas tenham dado

causa ao incêndio;

Remoção e transbordo das cargas nas situações em que o navio fique sem condições de navegar;

Reboque do navio quando este estiver impossibilitado de prosseguir viagem por seus próprios meios.

8 Riscos operacionais do negócio shipping


Riscos de ordem financeira

O endividamento de uma empresa do segmento marítimo, atuando como Proprietário, Armador ou Operador de

Navios, pode impedir ou dificultar a aquisição de navios novos ou usados, bem como a realização de novos

negócios. Alguns exemplos de problemas de ordem financeira passíveis de ocorrer:

a) A insolvência de seus clientes;

b) Variações nas taxas de juros e/ou câmbio de moedas utilizadas na contratação de navios;

c) Capacidade para atrair e reter pessoas-chave para o correto gerenciamento do negócio;

d) Prêmios de seguro insuficientes para cobrir perdas próprias ou de terceiros;

e) Aumentos de custos incompatíveis com os fretes contratados.

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Riscos decorrentes da relação oferta x demanda do serviço de transporte marítimo

a) Quantidade de novos navios entregues pelos estaleiros x Quantidade de navios velhos retirados de serviço;

b) Competição de navios novos (custo operacional mais caro) com navios velhos (custo operacional mais

barato);

c) Redução da capacidade de transporte ou obsolescência antecipada de navios devido a mudanças na legislação

internacional, sobretudo no tocante à salvaguarda da vida humana no mar e combate à poluição no ambiente

marinho;

d) Navios requisitados pelos respectivos governos de sua bandeira para se incorporarem ao esforço de guerra.

Riscos econômicos de natureza cíclica, com reflexo no valor dos fretes

a) As condições econômicas globais podem afetar o valor médio dos fretes internacionais. Por exemplo, nos

meses imediatamente posteriores à quebra da economia norte-americana, em setembro de 2008, observou-se

forte retração nas operações internacionais de compra e venda de mercadorias. Como consequência direta, o

valor médio dos fretes marítimos sofreu forte queda.

b) Mudanças nos padrões de transporte marítimo. Por exemplo, a aceleração da conteinerização de cargas

promoveu o obsoletismo precoce de grande parte da frota mundial de navios projetados para o transporte de

carga geral não conteinerizada (break bulk).

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9 Estrutura de custos no shipping
Independentemente da idade do navio, de sua bandeira de registro, da rota em que o mesmo opera e de sua

finalidade comercial, de maneira geral, pode-se dizer que o comportamento médio do custeio de um navio é o

seguinte:

Custos fixos +/- 45%

Custos variáveis +/- 55%

Deve-se ainda atentar para o fato de que no Brasil há o Adicional de Fretes para Renovação da Marinha

Mercante, com uma alíquota de 25% incidente sobre os fretes marítimos das mercadorias importadas, tanto por

navios de bandeira brasileira quanto por navios de bandeira estrangeira. Esse valor é recolhido em uma conta

específica no Banco do Brasil, sendo destinado em sua totalidade ao Fundo de Marinha Mercante, que financia a

construção naval para navios de bandeira brasileira.

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O que vem na próxima aula
• Descrição e características dos principais tipos de navios utilizados no transporte marítimo
internacional;
• Finalidades a que se destinam comercialmente os seguintes tipos de navios: Cargueiro convencional;
Frigorífico; Graneleiro; Petroleiro; Gaseiro; Químico; Roll-On/Roll-Off; Heavy Lift; Porta-Contêiner.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu a estrutura e o funcionamento de empresa de navegação marítima, abordando a natureza dos
serviços prestados, aspectos comerciais e operacionais, concorrência e riscos financeiros;
• Identificou a composição e tipologia dos custos incidentes sobre a operação comercial de um navio.

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