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MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS cadorias, justifica-se proceder à sua harmonização com
o regime da Convenção, não só por este se revelar mais
adequado às modernas condições de exploração dos
Aviso n.o 206/2003
transportes de mercadorias como para promover a uni-
Por ordem superior se torna público que, em 25 de formização da disciplina jurídica dos contratos de trans-
Julho e em 19 de Setembro de 2003, foram emitidas porte por estrada.
notas, respectivamente pelo Ministério dos Negócios O regime jurídico que ora se consagra visa aplicar-se
Estrangeiros da República Federativa do Brasil e pelo a todos os contratos em que a deslocação de mercadorias
Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, em se efectue por estrada entre locais situados no território
que se comunica terem sido cumpridas as respectivas nacional, exceptuando-se apenas os envios postais, cuja
formalidades constitucionais internas de aprovação do natureza específica aconselha um enquadramento jurí-
Acordo entre a República Portuguesa e a República dico distinto.
Federativa do Brasil sobre Contratação Recíproca de Foi dado acolhimento a novas modalidades de for-
Nacionais, assinado em Lisboa em 11 de Julho de 2003. malização da vontade contratual, tendo em conta que
Por parte de Portugal o Acordo foi aprovado pelo das novas tecnologias informáticas decorrem meios que
Decreto n.o 40/2003, publicado no Diário da República, agilizam a negociação e não prejudicam a certeza e segu-
1.a série-A, n.o 217, de 19 de Setembro de 2003. rança das declarações negociais.
Nos termos do disposto no artigo 16.o do Acordo, No prosseguimento do objectivo de uniformização dos
este entrará em vigor no dia 20 de Outubro de 2003. regimes aplicáveis ao contrato de transporte foram
adoptadas regras de limitação de responsabilidade e
Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comuni- estabelecido um regime de prazos para efeitos de mora
dades Portuguesas, 22 de Setembro de 2003. — O Direc- ou de resolução do contrato, o qual, não reproduzindo
tor-Geral, José Duarte Sequeira e Serpa. exactamente o constante da CMR, atento o espaço geo-
gráfico em que se realizam os transportes a que se aplica
o presente diploma, segue, no entanto, os mesmos prin-
cípios orientadores.
MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, Considerando a especificidade dos contratos de trans-
TRANSPORTES E HABITAÇÃO porte e do exercício da actividade transportadora, foi
conferido ao direito de retenção uma maior amplitude
Decreto-Lei n.o 239/2003 por forma a torná-lo eficaz, possibilitando o seu exercício
relativamente a créditos anteriores emergentes de con-
de 4 de Outubro tratos de transporte entre as mesmas partes.
O Código Comercial de 1888, de Veiga Beirão, fonte Foram ouvidas as associações representativas dos
exclusiva de todo o direito comercial durante um longo transportadores rodoviários de mercadorias e dos tran-
período, inclui no livro II o regime jurídico do contrato sitários.
de transporte de mercadorias, regime este que se encon- Assim:
tra manifestamente desactualizado pelo decurso de mais Nos termos da alínea a) do n.o 1 do artigo 198.o da
de um século de vigência e por se tratar de uma disciplina Constituição, o Governo decreta o seguinte:
construída numa época em que não existiam veículos
automóveis.
A evolução técnica, económica e social verificada nas CAPÍTULO I
últimas décadas alterou profundamente o panorama do Disposições gerais
transporte de mercadorias por estrada, quer ao nível
dos meios utilizados, quer nas formas contratuais, tor- Artigo 1.o
nando necessário que, no plano técnico-jurídico, se
adopte uma nova concepção do contrato de transporte. Objecto
Paralelamente ao regime aplicável aos contratos de O presente diploma estabelece o regime jurídico do
transporte rodoviário de mercadorias, quando estes se contrato de transporte rodoviário nacional de mer-
realizam em território nacional, coexiste no ordena- cadorias.
mento jurídico português um regime específico aplicável
aos contratos de transporte internacional — Convenção
Relativa ao Contrato de Transporte Internacional de Artigo 2.o
Mercadorias por Estrada (CMR), assinada em Genebra Noção e âmbito
em 19 de Maio de 1956, aprovada, para adesão, pelo
Decreto-Lei n.o 46 235, de 18 de Março de 1965, e modi- 1 — O contrato de transporte rodoviário nacional de
ficada pelo Protocolo de Genebra de 5 de Junho de mercadorias é o celebrado entre transportador e expe-
1978, aprovado, para adesão, pelo Decreto n.o 28/88, didor nos termos do qual o primeiro se obriga a deslocar
de 6 de Setembro. mercadorias, por meio de veículos rodoviários, entre
Esta Convenção consagra um regime jurídico que, locais situados no território nacional e a entregá-las ao
sem ferir o equilíbrio necessário das relações contra- destinatário.
tuais, assegura mecanismos de protecção do transpor- 2 — Para efeitos do número anterior, transportador
tador e, pese embora a evolução verificada nos processos é a empresa regularmente constituída para o transporte
técnicos de prestação de serviços de transporte desde público ou por conta de outrem de mercadorias e expe-
a sua conclusão, mantém um grau satisfatório de cor- didor é o proprietário, possuidor ou mero detentor das
respondência com as realidades deste sector. mercadorias.
Sendo conveniente proceder a uma actualização do 3 — Quando, ao abrigo de um único contrato, as mer-
normativo regulador do contrato de transporte de mer- cadorias sejam transportadas em parte por meio rodo-
N.o 230 — 4 de Outubro de 2003 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 6547
nos termos a definir por portaria do membro do 4 — O transportador tem direito ao reembolso das
Governo responsável pela área dos transportes. despesas causadas pelo pedido de instruções ou pela
sua execução, bem como das ocasionadas pela devo-
lução, pelas medidas de conservação ou venda das mer-
Artigo 10.o cadorias, a não ser que estas despesas sejam consequên-
Transporte subsequente ou subcontratação cia de falta do transportador.
5 — Presume-se que não é possível a devolução da
Sempre que o transportador cumpra o contrato de mercadoria ao expedidor quando o tempo necessário
transporte por meio de terceiros mantém para com o para o efeito puder provocar uma depreciação na mer-
expedidor a sua originária qualidade e assume para com cadoria de, pelo menos, 30 % do respectivo valor, se
o terceiro a qualidade de expedidor. este estiver determinado, ou do valor calculado nos ter-
mos do artigo 23.o
Artigo 11.o
Transporte sucessivo Artigo 14.o
Direito de retenção
1 — Se ao abrigo de um único contrato o transporte
for executado por transportadores rodoviários sucessi- 1 — O transportador goza do direito de retenção
vos, o contrato produz efeitos relativamente ao segundo sobre as mercadorias transportadas como garantia de
e a cada um dos seguintes transportadores a partir do pagamento de créditos vencidos de que seja titular rela-
momento da aceitação da mercadoria e da guia de tivamente a serviços de transporte prestados.
transporte. 2 — Sempre que exercer o direito de retenção, o
2 — O transportador que aceitar a mercadoria do transportador deve notificar o destinatário e o expe-
transportador precedente deve entregar recibo datado didor, se um e outro forem pessoas diversas, dentro
e assinado, indicar o seu nome e morada na guia de dos três dias imediatos à data prevista para a entrega
transporte e, se entender necessário, formular reservas. da mercadoria.
3 — No exercício do direito de retenção, o transpor-
tador deve propor a competente acção judicial dentro
Artigo 12.o dos 20 dias subsequentes à notificação referida no
Aceitação da mercadoria pelo destinatário número anterior.
4 — As despesas com a conservação das mercadorias,
1 — O cumprimento da prestação do transportador efectuadas no exercício do direito de retenção, ficam
ocorre com a entrega da mercadoria ao destinatário. a cargo do devedor.
2 — Em caso de vício aparente da mercadoria ou
defeito da embalagem, o destinatário deve, no momento
da aceitação, formular reservas que indiquem a natureza Artigo 15.o
da perda ou avaria. Privilégio creditório do transportador
3 — Em caso de vício não aparente, o destinatário
dispõe de oito dias a contar da data da aceitação da 1 — O transportador goza de privilégio pelos créditos
mercadoria para formular reservas escritas devidamente resultantes do contrato de transporte sobre as merca-
fundamentadas e para as comunicar ao transportador. dorias transportadas.
4 — Se o destinatário receber a mercadoria sem veri- 2 — Este privilégio cessa com a entrega das merca-
ficar o seu estado contraditoriamente com o transpor- dorias ao destinatário.
tador, ou sem formular as reservas a que se referem 3 — Sendo muitos os transportadores, o último exer-
os números anteriores, presume-se, salvo prova em con- cerá o direito por todos os outros.
trário, que as mercadorias se encontravam em boas
condições.
5 — Para efeitos de verificação da mercadoria, o CAPÍTULO III
transportador e o destinatário devem conceder recipro- Da responsabilidade
camente as facilidades consideradas razoáveis.
Artigo 16.o
Artigo 13.o Responsabilidade do expedidor
precauções especiais nos termos de legislação especial entrega, caso em que pode ainda ser exigida indem-
aplicável, o expedidor deve assinalar com exactidão a nização por lucros cessantes de que seja apresentada
sua natureza, sendo responsável por todas as despesas prova.
e prejuízos, em caso de omissão.
Artigo 21.o
Artigo 17.o
Responsabilidade do transportador em caso de dolo
Responsabilidade do transportador
Sempre que a perda, avaria ou demora resultem de
1 — O transportador é responsável pela perda total actuação dolosa do transportador, este não pode pre-
ou parcial das mercadorias ou pela avaria que se pro- valecer-se das disposições que excluem ou limitam a
duzir entre o momento do carregamento e o da entrega, sua responsabilidade.
assim como pela demora na entrega.
2 — O transportador responde, como se fossem come-
tidos por ele próprio, pelos actos e omissões dos seus Artigo 22.o
empregados, agentes, representantes ou outras pessoas Responsabilidade solidária dos transportadores sucessivos
a quem recorra para a execução do contrato.
1 — No transporte sucessivo, verificando-se a ocor-
rência de danos e não podendo determinar-se o trans-
Artigo 18.o portador responsável por aqueles, todos os transpor-
Causas de exclusão da responsabilidade do transportador tadores são solidariamente responsáveis pelas indem-
nizações que sejam devidas.
1 — A responsabilidade do transportador fica 2 — Na situação prevista no número anterior e em
excluída se a perda, avaria ou demora se dever à natureza caso de insolvência de um ou mais transportadores, a
ou vício próprio da mercadoria, a culpa do expedidor parte da indemnização que lhes for imputável será
ou do destinatário, a caso fortuito ou de força maior. suportada pelos demais, na proporção das suas remu-
2 — A responsabilidade do transportador fica ainda nerações.
excluída quando a perda ou avaria resultar dos riscos
inerentes a qualquer dos seguintes factos:
Artigo 23.o
a) Falta ou defeito da embalagem relativamente
Determinação do valor da mercadoria
às mercadorias que, pela sua natureza, estão
sujeitas a perdas ou avarias quando não estão Em caso de perda total ou parcial, ou depreciação,
devidamente embaladas; quando não esteja determinado o valor da mercadoria,
b) Manutenção, carga, arrumação ou descarga da este é calculado segundo o preço corrente no mercado
mercadoria pelo expedidor ou pelo destinatário relevante para mercadorias da mesma natureza e
ou por pessoas que actuem por conta destes; qualidade.
c) Insuficiência ou imperfeição das marcas ou dos
símbolos dos volumes.
CAPÍTULO IV
3 — O transportador não pode invocar defeitos do
veículo que utiliza no transporte para excluir a sua Disposições finais
responsabilidade.
Artigo 24.o
Artigo 19.o Prescrição