FARINGOAMIGDALITE FARINGOAMIGDALITE (definição) Faringite é uma inflamação, geralmente devida a infecção da mucosa da faringe, que pode afectar a nasofaringe, orofaringe e laringo-faringe isoladamente ou em concomitância. Amigdalite é a inflamação, geralmente secundária a infecção, das amígdalas. As amígdalas, são duas proeminências de tecido linfóide com cerca de 3 a 5 cm de diâmetro, localizadas nas faces laterais do segmento médio da faringe ou orofaringe. Etiologia Vírus É mais frequente até aos 2-3 anos. Os vírus incluem: Rhinovírus, influenza A e B vírus, Vírus parainfluenzae; outros menos implicados são Coxackie vírus, Coronavírus, Adenovírus, Enterovírus, Epstein Bar virus e vírus herpes simplex; Bactérias Mais frequentes após os 2-3 anos incluem: Estreptococco Beta hemolítico de grupo A (o mais frequente), Estafilococo, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, Corinebacterium diphtariae (em pacientes não vacinados) Streptococco pneumoniae, Haemofilus influenzae Quadro clinico A criança apresenta-se com sinais/sintomas comuns as duas condições: Sensação de prurido a nível da garganta/orofaringe: frequentemente é o primeiro sintoma; Faringodinia ou dor tipo ardor da garganta, Disfagia ou dor na deglutição de alimentos sólidos ou líquidos. A criança recusa alimentar-se ou aceita somente alimentos líquidos e não quentes; Febre: que é mais elevada em caso a origem for bacteriana, Hiperemia da mucosa da faringe e em particular dos pilares palatinos, Aumento dos gânglios cervicais laterais que doem a palpação. Quadro clinico Sinais característicos de amigdalite: Hiperemia e hipertrofia das amígdalas: no caso de amigdalite viral ou no primeiro estadio de amigdalite bacteriana; Presença de exsudado nas amígdalas, Presença de placas amareladas nas amígdalas: típico da amigdalite por Estreptococo. Quadro clinico Complicações bacterianas Abscesso periamigdaliano É uma acumulação de pús ao lado da amígdala, geralmente é unilateral. Esta condição é caracterizada pelo: Aumento da dor, sobretudo na deglutição, Aumento do volume da amígdala afectada, Febre alta, Dificuldade em abrir a boca, A cabeça fica inclinada para o lado afectado; No exame físico observa-se a amígdala afectada desviada para o centro; O palato mole, edematoso e hiperemiado; A úvula edemaciada e desviada para o lado oposto ao do abcesso; A presença de adenopatias dolorosas retromandibulares Complicações bacterianas Abcesso retrofaríngeo É uma acumulação de pús por trás da parede posterior da faringe. Esta condição é caracterizada pelo: Faringotomia, Disfagia; Febre alta; Estridor; Dor do pescoço posterior e rigidez da nuca; Dispneia, Salivação abundante
Constitui uma urgência médica
Complicações bacterianas Glomerulonefrite aguda É uma afecção que causa danos aos glomérulos. Caracterizada pelo: Hematúria; Proteinúria leve; Oliguria; Hipertensão; Edema dos membros inferiores ou generalizado; Hipernatremia Complicações bacterianas Febre reumática aguda É caracterizada por: Artrite; Coreia (movimentos dos membros superiores, involuntários de origem cerebral); Miocardite; Lesões da pele podendo ser nódulos cutâneos, Eritema marginato Diagnóstico O diagnóstico baseia-se na história clínica e no exame físico da cavidade oral e pescoço, investigando os sinais acima descritos. No caso em que há suspeita de faringo-amigdalite por Estreptococo é possível fazer uma zaragatoa das amígdalas para recolher uma amostra de exsudado para a coloração Gram e a cultura Diagnóstico diferencial Tratamento não medicamentoso Caso a etiologia seja viral: Tratamento de suporte Hidratação Alimentação Paracetamol se houver febre. 10-15 mg/kg por dose de 6/6h Tratamento medicamentoso Caso a etiologia seja bacteriana: Amoxicilina e Ácido Clavulânico 50mg/kg/dia a cada 8h por 7-10 dias sobretudo para prevenir a febre reumática Se alérgica a Penicilina como alternativa pode ser usada a Eritromicina oral 50mg/Kg/dia a cada 6h durante 10 dias.. O abcesso periamigdalino trata-se com Penicilina G EV, nas crianças >12 anos: 500.000 U.I. de 6/6 h, aumentando se necessário para 1.000.000 U.I. ou mais de 6/6 h; crianças de 1 mês -12 anos: 50.000- 100.000 U.I./kg/dia 6/6h Tratamento medicamentoso Caso a etiologia seja bacteriana: Em caso de um ataque de febre reumática é necessário iniciar a profilaxia para prevenir sua repetição administrando Penicilina Benzatinica IM, crianças com menos de 30 kg: 600.000 U.I. uma vez por mês. Tratamento cirúrgico Indicações para amigdalectomia: Paciente com 3 ou mais infecções de amígdala e/ou adenoidites por ano. Hipertrofiaamigdaliana causando mal-oclusão dentária ou afectando adversamente o crescimento orofacial, documentado por ortodontista. Hipertrofia causando obstrução das vias aéreas superiores, disfagia severa, desordem do sono ou complicações cardiovasculares. Abcesso peri-amigdalino sem resposta ao tratamento médico e drenagem. Gosto ou hálito desagradável devido a amigdalite crônica, que não responde ao tratamento médico. Critérios de referência Desidratação grave; Incapacidade para se alimentar ou beber; Sinais de septicemia (calafrios, febre alta, respiração rápida, batimento cardíaco rápido, aparência muito doente, confusão ou outras alterações do estado mental); Todos os casos de abcesso periamigdaliano ou retrofaríngeo devem ser transferidas para um centro de nível mais superior. HIPERTROFIA DAS ADENÓIDES Hipertrofia das adenóides É o aumento do tamanho das glândulas adenóides, que são do tecido linfóide, localizadas na parte superior da nasofaringe. É uma condição frequente que acomete as crianças entre os 3 e 5 anos. O tecido linfóide está presente nestas idades pois é uma das primeiras barreiras protectoras. Fisiopatologia Pode resultar de infecções recorrentes ou alergia ou estímulos inespecíficos com obstrução parcial ou total da nasofaringe Mecanismos de reacção do tecido linfóide: Em resposta aos agentes patogénicos e/ou estranhos, as adenóides reagem produzindo linfócitos e células de defesa, aumentando deste modo de tamanho; Após os 5-6 anos de idade este tecido linfóide regride fisiologicamente e é por isso que na adolescência e idade adulta este problema de hipertrofia das adenoides não existe. Quadro Clínico Nos casos leves a criança pode não apresentar nenhum sinal/sintoma. Nos casos moderados a criança pode apresentar voz anasalada como resultado da infecção das vias aéreas superiores. Nos casos graves a criança apresenta voz anasalada sempre, não consegue respirar com as narinas, mas respira através da boca e portanto tem uma fácies característica com a boca sempre semiaberta. Durante a noite pode apresentar episódios de apneia que podem durar vários segundos e com respiração ruidosa (roncos). Quadro Clínico Secreção nasal, com muco permanente no nariz. Tosse nocturna. Otites agudas frequentes. Gânglios no pescoço. Repercussão geral e perda de peso, principalmente nos lactantes (falência de crescimento). Diagnóstico O diagnóstico é feito através da história e do exame físico das vias aéreas superiores. Diagnóstico diferencial Amigdalite. Rinite Alérgica. Infecção respiratória das vias aéreas superiores Conduta Tratamento da hiperplasia das adenóides se há obstrução das vias aéreas (sintomatologia grave) é a excisão cirúrgica e deve ser referido para um nível superior. DIFTERIA Difteria A difteria é uma infecção bacteriana das vias aéreas superiores nomeadamente a nasofaringe causada por a bactéria. O agente etiológico é a bactéria Corynebacterium diphtheriae . Transmite-se através de inalação de gotículas áreas contendo o microorganismo Fatores de risco Contacto com um doente, No caso de um surto, as crianças que não foram imunizadas com a vacina contra a difteria terá um risco maior de adquirir a doença; Como as crianças ficam mais velhas (> 15 anos de idade), a imunidade da vacina também diminui a menos que uma dose de reforço é dada. Quadro Clínico Estridor e obstrução destas vias áreas. Uma secreção nasal sanguinolenta. Há aumento dos gânglios da região cervical. Paralisia muscular. Miocardite. A miocardite e a paralisia podem ocorrer de 2 a 7 semanas após o início da doença Diagnóstico O diagnóstico é feito através da história mas sobretudo através do exame físico da cavidade oral epescoço. O clínico deve pesquisar os seguintes sinais: Membrana acinzentada e aderente a nível das amígdalas, que não é facilmente removida por uma espátula. Remoção da membrana é seguida por sangramento. Edema importante da região cervical anterior, denominada aparência de “pescoço de touro” Tratamento não medicamentoso Oxigénio: somente se houver obstrução da via aérea. Encorajar a criança a alimentar-se e a beber líquidos. Se houver dificuldade de deglutição, é necessária a alimentação por sonda nasogástrica Evitar examinar a criança com muita frequência ou perturbá-la sem necessidade. Tratamento medicamentoso Antitoxina diftérica (se disponível): logo que o clínico tiver a confirmação do diagnóstico de difterite deve administrar 40.000 unidades da antitoxina diftérica (IM ou EV). Penicilina Procaína (50.000UI/kg, IM) 1x/dia por 7 dias ou Penincilina Cristalina 100 000UI/kg/dia de 6/6h por 7 dias Se alergia Eritromicina: Crianças 30-50 mg/kg/dia divididos em 4 tomas por 7 dias. Se febre Paracetamol Prevenção Vacinação segundo o calendário vacinal nacional com a vacina contra o tétano e pertussis. Manter a criança em isolamento, sendo cuidada por pessoal totalmente imunizado contra difteria. Administrar um reforço do toxóide diftérico para todos os contactos domésticos imunizados. Administrar para todos os contactos domésticos não-imunizados uma dose IM de Penicilina Benzatina (600.00UI para crianças com ≤5 anos; 1.200.000UI para >5 anos) e imunização com toxóide diftérico; controlar diariamente durante cinco dias quaisquer sinais de difteria nos contactos. LARINGITES Laringite A laringite é a inflamação, geralmente de origem infecciosa, da mucosa da laringe. Classificação Laringite subglótica ou simplesmente laringite: que afecta as cordas vocais e a parte da laringe abaixo das cordas vocais. É a mais frequente. Laringotraqueobronquite ou crupe a inflamação infecciosa da mucosa da laringe, traqueia e brônquios. Laringite supraglotica ou epiglotite: que afecta a parte acima das cordas vocais. É rara. Etiologia A causa mais comum é o vírus Parainfluenza, mas pode ser causada por outros vírus (Influenza vírus tipo A, Vírus respiratório sycitial, Adenovírus). Transmite-se e através da inalação de gotículas respiratórias contendo bactérias que colonizam a laringe e a epiglote levando a infecção. Todas as idades são afectadas com pico entre os 6 meses e 3 anos. Quadro Clínico Fase prodrómica Rinite, tosse e febrícola durante 2 dias seguida por rouquidão, tosse como se fosse o ladrar de um cão, estridor inspiratório e retracções supraclaviculares. Nas formas graves pode haver consciência comprometida com letargia e pouca reactividade da criança, cianose, agravamento do estridor inspiratório e da tiragem. Laringotraqueobronquite ou crupe A causa mais comum, causadas pelo vírus parainfluenza (1 ou 2). Os sintomas e sinais característicos são: Estridor inspiratório, A voz pode ser normal ou com rouquidão, Uma tosse que se parece com o ladrar de um cão, muito fácil de identificar logo que o paciente entra no consultório; A criança apresenta-se irritada, agitada; taquicardica, taquipneica; Há estridor inspiratório com retracção dos músculos intercostais marcada. Epiglotite Trata-se de uma infecção da supraglote que pode conduzir a asfixia e morte sendo assim uma emergência médica. O agente causal mais frequente é o Haemophilus influenzae tipo B, sobretudo se as crianças não foram vacinadas, mas pode ser causada por Estreptococo, Pneumococo e Estafilococo. É mais frequente entre 2 e 7 anos. Epiglotite Inicio a progressão da sintomatologia é rápida e grave e os sintomas e sinais característicos são: Febre elevada; Salivação abundante; Disfagia; Voz afónica: a criança nem consegue falar por estar ocupada a respirar; Dificuldade respiratória grave caracterizada por: • Estridor; • Dispneia com retracções dos músculos intercostais, área supraclavicular, arejamento nasal, • A criança está sentada com a boca aberta para tentar respirar Agitação, cianose e letargia; aquicardia; taquipneia. Diagnóstico Laringite e do crupe É feito na base da história clínica mas sobretudo ouvindo o paciente tossir e reconhecendo a característica tosse “de cão”. No exame físico é necessário avaliar as vias respiratórias superiores (ver acima) e as inferiores. A auscultação dos pulmões geralmente é normal Diagnóstico Epiglotite É baseada na história clínica caracterizada pelo aparecimento súbito dos sintomas graves de dificuldade respiratória, juntamente com o exame físico. É absolutamente contra-indicado inspeccionar a cavidade oral e colocar a espátula para inspeccionar a orofaringe, isto pode piorar o espasmo da laringe aumentando a dificuldade de respiração Na auscultação pulmonar há redução da entrada do ar, roncos bilaterais podem estar presentes Diagnóstico Epiglotite Hemograma pode ser usado para ajudar a diagnosticar uma infecção bacteriana; uma leucocitose pode ser visto com um neutrofilia Uma Radiografia lateral do pescoço (A epiglote inchado parece um polegar inchado) Diagnóstico Diferencial de Laringite Abcesso peri-amigdalino Abcesso retrofaríngeo. Corpo estranho. Tratamento O tratamento não medicamentoso da laringite e do crupe é o mesmo: Aconselhar os pais se houver água quente em casa quando a criança tiver outro ataque deve ficar na casa de banho com as torneiras ou chuveiro aberto de maneira que o vapor humidifique as vias aéreas Tratamento Tratamento medicamentoso da laringite e do crupe é o mesmo: Aerossol com 3ml soro fisiológico e Adrenalina 5-10mg, que pode ser repetido a cada 2h; Dexametasona IM 0,6mg/Kg para os casos moderados e graves. Prednisolona 1mg/Kg/dia uma vez por dia por 3-5 dias. Tratamento Tratamento da Epiglotite É necessário reconhecer imediatamente o quadro de epiglotite pois pode levar à morte ou asfixia do paciente em poucas horas. O clínico deve portanto iniciar logo a terapia antibiótica e referir o paciente para o nível superior visto que 90% dos casos será necessária a intubação ou traqueostomia. Tratamento Tratamento da Epiglotite Terapia antibiótica com Cloranfenicol E.V: 100 mg /kg/dia divididos em 4 doses por 7 dias. Inicia se a terapêutica antibiótica e transfere-se para unidade sanitária com melhores condições e médicos especializados. Bibliografia Manual de Formação Para Técnicos de Medicina Geral, Neurologia, 2013, pag 12 – 22. Moore D. Anatomia orientada para a clínica. 5ª edição. Brasil: Guanabara Koogan; 2007. Guyton AC. Tratado de Fisiologia Médica. 8ª edição. Brasil: Guanabara Koogan; 1992.