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As infecções respiratórias agudas (IRAs) represen tória? Exames complementares são necessários? Existe
tam , universalmente, a principal dem anda nos servi indicação de tratam ento hospitalar? Há risco de morte
ços de saúde e são responsáveis por expressivo núm e para o paciente?
ro de internações hospitalares pediátricas. As IRAs A anam nese cuidadosa é o ponto de partida para
são classificadas em infecções das vias aéreas superio responder a essas questões ao caracterizar dados como
res (IVAS) e infecções do trato respiratório inferior. A a evolução das manifestações respiratórias; o início dos
laringe dem arca esses dois segmentos, sendo a via aé sintomas, se súbito ou insidioso; o padrão da febre; o
rea superior com preendida com o a região anatôm ica acom etim ento do estado geral, se ocorre som ente nos
do aparelho respiratório acima da laringe, incluindo picos febris ou se é contínuo, independentem ente da
esta. O diagnóstico de IVAS é indefinido e, portanto, febre. A abordagem epidemiológica tam bém é valiosa
deve ser evitado sempre que possível. Nessas afecções, - interrogar sobre o estado de saúde das pessoas que
frequentem ente, mais de um a região encontra-se en convivem com a criança, especialmente em relação a
volvida e a denom inação diagnostica deve se referir doenças respiratórias; sobre as condições ambientais
à área ou a regiões anatômicas acometidas. Como - tais como características da m oradia e núm ero de
exemplo, a infecção causada pelo rinovírus, que pode pessoas que nela residem, exposição excessiva a pó
acometer desde a conjuntiva até a laringe, porém, se domiciliar, existência de mofo e outros alérgenos e de
houver m aior agressão à m ucosa nasal e faríngea, a familiares tabagistas; verificar, ainda, a regularidade
síndrom e clínica será referida com o rinofaringite de exposição ao sol, o estado vacinai da criança e se o
aguda. Sabe-se que 90% das infecções respiratórias quadro atual tem relação com algum a hospitalização
agudas são não bacterianas, já tendo sido identifica recente ou foi adquirido na comunidade.
dos mais de 200 sorotipos diferentes de agentes virais. O exame físico detalhado é essencial e deve com
Diante de um a criança com doença respiratória preender todo o trato respiratório - narinas, mucosa
aguda, questões fundamentais precisam ser necessa nasal, cornetos nasais, m ucosa oral, gengivas, palato,
riam ente estabelecidas: a afecção é localizada ou en amígdalas, faringe, ouvidos - e, evidentem ente, rea
volve mais de um a região? Acomete, principalmente, lizar a inspeção, palpação, percussão e ausculta torá
as vias superiores ou as inferiores? Acompanha-se de cicas. Auxiliam no diagnóstico diferencial o exame
manifestações sistêmicas? A etiologia provável é não das conjuntivas, dos linfonodos e o cardiológico. O
infecciosa, virai ou bacteriana? Se bacteriana, qual o exame do abdom e é dirigido, sobretudo, para detec
agente mais provável? Há evidência de alergia respira tar hepatoesplenomegalia.
A interpretação criteriosa de todos esses dados entanto, a persistência da rinorreia m ucopurulenta
responde à m aior parte das questões. Na grande por mais de 10 a 14 dias sugere infecção bacteriana
m aioria das vezes, contribui para o diagnóstico, sem secundária, rinite bacteriana ou rinossinusite aguda
necessidade de se recorrer a exames subsidiários. e, nesses casos, a antibioticoterapia está indicada. A
A seguir serão descritas as diferentes síndromes clí tosse por até duas sem anas não significa, inquestio
nicas referentes às infecções respiratórias agudas, com navelmente, infecção bacteriana secundária. Os acha
exceção das pneum onias agudas e da bronquiolite virai dos ao exame físico são lim itados ao trato respirató
aguda, que serão discutidas em capítulos específicos. rio superior. A faringe apresenta-se difusam ente hi-
perem iada e os tím panos podem estar congestos nos
RINOFARINGITE AGUDA OU RESFRIADO COMUM prim eiros dois a três dias, o que, tam bém , não deve
ser interpretado como processo bacteriano. Atenção
A experiência clínica e os estudos epidem iológi especial deve ser dispensada às crianças portadoras
cos m ostram que as crianças apresentam , em m édia, de asma e lactentes sibilantes transitórios, um a vez
seis a oito resfriados por ano, durante os prim eiros que a virose pode desencadear broncoespasm o.
cinco anos de vida, entretanto, 10 a 15% das crianças
podem chegar a apresentar 12 infecções por ano. A D iagnóstico
incidência da doença dim inui com a idade e na ida O diagnóstico é essencialm ente clínico, não sen
de adulta é com um ocorrer dois a três resfriados por do necessários exames com plem entares. A principal
ano. As crianças que frequentam creches durante o função do pediatra ao atender um a criança ou ado
prim eiro ano de vida têm 50% mais resfriados do lescente com resfriado é excluir infecção bacteriana
que as que perm anecem em seus domicílios. associada, evitando a prescrição desnecessária de
antibióticos. A ausência de prostração significativa e
Etiologia lim itada aos períodos febris sugere infecção virótica,
Foram identificados pelo m enos 200 vírus cau porém , trata-se de um a definição sujeita a erros, re
sadores do resfriado com um . O principal agente querendo o acom panham ento clínico. O aspecto da
etiológico é o rinovírus e são descritas mais de 100 secreção nasal, m uitas vezes, sugere a etiologia, com o
rinoviroses sorologicam ente distintas. O utros vírus especificado a seguir:
m enos frequentes são coronavírus, vírus sincicial • Rinorreia serosa: alergia, fase inicial das viro
respiratório, parainfluenza, adenovirus, enterovirus ses, rinites bacterianas prim árias ou secundá
e m etapneum ovírus. A transm issão acontece através rias e efeito m edicam entoso como, p o r exem
de gotículas produzidas pela tosse e espirros ou pelo plo, o iodismo;
contato de m ãos contam inadas com a via aérea e ca • Rinorreia serom ucosa ou mucosa: fase inter
vidade oral. O período de incubação varia de dois a m ediária e final das rinites virais, pode traduzir
cinco dias. O resfriado com um dura, em média, sete ainda um a resposta alérgica; secreção serom u
dias, mas em alguns casos persiste por duas semanas. cosa, com ferim entos superficiais na pele em
torno das narinas, é indicativo de im petigo n a
M an ifestaçõ es c lín ic a s sal estreptocócico;
A sintom atologia é quase sem pre leve e o paciente • R inorreia m ucopurulenta ou purulenta: fase
m ostra-se afebril, sem acom etim ento do estado geral. final das rinites virais, rinites bacterianas p ri
Concom itantem ente, observam -se rinorreia serosa, m árias e secundárias e rinossinusites;
dor de garganta, obstrução nasal, espirros e tosse. • R inorreia serossanguinolenta: traum atism o da
Entretanto, algumas vezes as manifestações são mais m ucosa, corpo estranho - em geral, associado
acentuadas e constatam -se febre alta, cefaleia, mal- a odor fétido - , sífilis congênita precoce, difte
-estar e inapetência. A rinorreia serosa e a obstrução ria nasal, rinite bacteriana e, às vezes, saram
nasal apresentam -se precocem ente e caracterizam o po; esse tipo de rinorreia, quando se prolonga,
resfriado com um . O aspecto da secreção nasal pode pode tornar-se m ucopiossanguinolenta; na sífi
se m odificar até tornar-se purulento, sem, necessa lis congênita a rinorreia é persistente e inicia-se
riam ente, indicar infecção bacteriana secundária. No nos prim eiros três meses de vida.
Em relação ao diagnóstico diferencial, cabe distin tensão e coma. Os pais devem ser bem orientados so
guir o resfriado com um da gripe, que é causada pelo bre os efeitos colaterais dessa terapêutica e prevenir
vírus Influenza, caracterizada por início súbito dos sin a superdosagem. O uso prolongado dos adrenérgicos
tomas como febre alta, fadiga e mialgia. Há três tipos tópicos deve ser evitado, para im pedir o desenvol
de Influenza: A, B e C. Os tipos A e B levam à doença vim ento da rinite medicamentosa, efeito rebote que
epidêmica, enquanto o tipo C é um agente esporádi causa a sensação de obstrução quando o uso da droga
co de acom etim ento da via aérea superior. Em abril é interrom pido. Os vasoconstritores sistêmicos são
de 2009 foi identificado um novo vírus da influenza m enos eficazes do que os tópicos e associados a efeitos
A (H1N1) que se disseminou pelo m undo, causando sistêmicos com o hipertensão, excitação e palpitações.
pandemia. Esse novo subtipo do vírus é transm itido
de pessoa para pessoa, principalm ente por meio de Tosse
tosse ou espirro e secreções respiratórias de pessoas Expectorantes, antitussígenos e m ucolíticos não
infectadas. O quadro clínico é variável, por vezes leve, têm ação com provada, não estando rotineiram ente
outras vezes grave, podendo ocasionar pneum onia fa indicados. Em caso de broncoespasm o associado, a
tal. Doenças que apresentam rinorreia como manifes prescrição de broncodilatadores (beta-2-agonista de
tação im portante fazem parte do diagnóstico diferen curta duração) está autorizada.
cial. Entre essas, o sarampo, que, na fase inicial, pode
ser indistinguível de um resfriado comum. O utras medicações
O uso profilático de antibióticos é contraindi-
Tratam en to cado, pois, além de não prevenir a superposição de
O tratam ento deve ser sintomático, um a vez que o infecções secundárias e complicações, favorece o d e
resfriado com um tem curta duração e evolução autoli- senvolvim ento de resistência bacteriana.
mitada. Os pais devem ser orientados quanto à evolu
ção natural da doença. A inapetência própria do qua C om plicações
dro precisa ser respeitada e a ingestão hídrica aum en O surgim ento de dificuldade respiratória, piora da
tada, visando facilitar a fluidificação das secreções. prostração e persistência da febre por mais de 72 h o
ras indica a possibilidade de complicações bacteria
Tratam en to sin to m ático nas. As complicações mais frequentes são otite m édia
aguda, sinusite e pneum onia. Não é frequente que a
Febre faringoamigdalite bacteriana surja com o complicação
O uso correto de antitérm icos contribui para o de um resfriado com um , m anifestando-se, em geral,
controle da febre, incom um no resfriado sem com sem rinorreia serosa, obstrução nasal, espirros e tosse.
plicações. Aspirina não deve ser prescrita. A síndro
m e de Reye tornou-se cerca de 10 vezes mais rara P reven ção
após a recom endação de se evitar aspirina em p a A m elhor prevenção consiste na lavagem das
cientes com Influenza (A e B) ou com varicela. mãos, em evitar a m anipulação m anual do nariz,
olhos e boca e lugares fechados com aglomerações
O bstrução nasal de pessoas. Im unização ou quim ioprofilaxia contra
Soro fisiológico 0,9% nas narinas está indicado influenza pode ser útil para prevenir gripe causada
para o alívio da obstrução nasal, principalm ente an por esse agente. Não existem evidências científicas
tes das m am adas e de dormir. Os vasoconstritores que justifiquem a indicação de vitam ina C com o p ro
tópicos, agentes adrenérgicos com o xylometazolina, filática de infecções respiratórias. O uso de vitam ina
oxymetazolina e fenilefrina aliviam a obstrução nasal, D não evita o resfriado com um nem a gripe. A super
porém devem ser utilizados com cautela, em crian dosagem de vitam ina D pode levar a complicações.
ças maiores de dois anos de idade e no m áxim o por
cinco dias; em lactentes estão contraindicados devido
ao risco de efeitos colaterais com o bradicardia, hipo
OTITE MÉDIA AGUDA OM A recorrente (OMAR) expressa três episó
dios de OM A em seis meses, ou quatro episódios em
Epidem io logia um ano. A OMSC, otite m édia supurativa crônica,
A otite m édia (OM ), depois do resfriado com um , significa otorreia através da m em brana tim pânica
é a afecção m ais frequente na infância, quase todas perfurada, por m ais de duas a seis semanas.
as crianças apresentarão pelo m enos um episódio de
otite m édia aguda (OM A) p o r ano nos três prim ei Fatores de risco
ros anos de vida, sendo que até os sete anos de idade A disfunção da tuba auditiva é o fator prim o r
90% delas terão um episódio de OMA e 75%, três ou dial na gênese da OM. As funções de proteção, d re
mais. A m ais alta prevalência da OM A encontra-se nagem e ventilação do ouvido m édio exercidos por
entre os seis meses e três anos, sobretudo no prim ei esta estrutura são m enos eficientes na criança q u an
ro ano de vida. Nos Estados Unidos há m ais de 30 do com parado com o adulto, o que explica a grande
m ilhões de casos p or ano e perm anece sendo a causa prevalência dessa doença na infância.
m ais com um do uso de antibióticos. Essa m orbida- Os fatores de risco associados ao início precoce e
de foi responsável por 13 m ilhões de prescrições em recorrência dos episódios de OM A são além da dis
2000 e tem custo anual em torno de US$ 3 bilhões. função da tuba auditiva, a predisposição genética, a
história fam iliar de OM A recorrente, a gem elarida-
C lassificação de, a prem aturidade, a doença do refluxo gastroeso-
A OM é um processo de natureza inflam atória, fágico, o aleitam ento artificial, o tabagism o passivo.
infecciosa ou não, e anatom icam ente ocupa focal O utros fatores predisponentes: tom ar m am adeira
ou generalizadam ente a fenda auditiva. Im portante em decúbito dorsal, usar chupeta, frequentar creche
relem brar que o osso tem poral apresenta espaços ou berçário, baixo nível sócio-econôm ico, aglom e
pneum atizados contíguos que podem ser envolvidos rados populacionais e assistência de saúde ineficaz.
nesse processo, ou seja, a m astoide, o ápice petroso e Os portadores de im unodeficiências ou hiper-reati-
as células perilabirínticas. vidade de vias aéreas, de doenças adenotonsilares, de
A OM é m ais bem entendida com o espectro de alterações nasossinusais obstrutivas com o IVAS, ri-
um a doença, o conceito do continum da OM , segun nites, desvios septais, de disfunções ciliares, de ano r
do Sadi et a i, é didático e contribui para sua m e m alidades crânio-faciais (fenda palatina, síndrom e
lhor com preensão. A otite m édia com efusão (OME) de Down) são particularm ente susceptíveis.
pode evoluir para otite m édia aguda sem perfuração
(OMAsP) ou para otite m édia aguda com p erfu ra Etiologia
ção (OM AcP) e ao final do processo para otite m édia Os patógenos envolvidos na OMA podem ser virais
supurativa crônica (OMSC). ou bacterianos, conforme apresentado no Quadro 44.1.
A OM E corresponde à presença de secreção do As viroses respiratórias desem penham um p a
tipo seroso ou m ucoso na orelha média, sem p erfu pel relevante na patogênese da OMA, acredita-se
ração da m em brana tim pânica (M T), sem sinais e
sintom as de infecção aguda. Ela é a form a mais co Q u a d ro 4 4 .1 . P atógenos e n v o lv id o s na o tite m éd ia aguda.
em 4 8 h o ra s
E n tra d a de a r N o rm a l N o rm a l D im in u íd a M u ito d im in u íd a
N e b u liz a çã o co m L -e p in e frin a : 5 m l.
C rupe m o d e ra d o D e xa m e ta s o n a : 0 ,3 a 0 ,6 m g /k g ; c o n s id e ra r B u d e s o n id a in a la tó ria :
2 m g; ap ó s 3 a 4 h d e c id ir pela a lta ou h o s p ita liz a ç ã o .
P N e b u liz a çã o co m L -e p in e frin a : 5m l.
rupe g ra ve D e xa m e ta s o n a : 0 ,5 a 0 ,6 m g /k g e in te rn a r na u n id a d e de te ra p ia in te n s iv a .
Fonte: Adaptação de Kaditis AG e Wald ER. Pediatr Infect Dis. 1998; 17:827-34.