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C a p ít u lo 4 4

INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS

MARIA JUSSARA FERNANDES FONTES


CLÁUDIA RIBEIRO DE ANDRADE
BEATRIZ FAGUNDES PEDROSA
ALESSANDRA GAZIRE ALVES AFFONSO
MARY ELIZABETH SANTOS MOURA RODRIGUES

As infecções respiratórias agudas (IRAs) represen­ tória? Exames complementares são necessários? Existe
tam , universalmente, a principal dem anda nos servi­ indicação de tratam ento hospitalar? Há risco de morte
ços de saúde e são responsáveis por expressivo núm e­ para o paciente?
ro de internações hospitalares pediátricas. As IRAs A anam nese cuidadosa é o ponto de partida para
são classificadas em infecções das vias aéreas superio­ responder a essas questões ao caracterizar dados como
res (IVAS) e infecções do trato respiratório inferior. A a evolução das manifestações respiratórias; o início dos
laringe dem arca esses dois segmentos, sendo a via aé­ sintomas, se súbito ou insidioso; o padrão da febre; o
rea superior com preendida com o a região anatôm ica acom etim ento do estado geral, se ocorre som ente nos
do aparelho respiratório acima da laringe, incluindo picos febris ou se é contínuo, independentem ente da
esta. O diagnóstico de IVAS é indefinido e, portanto, febre. A abordagem epidemiológica tam bém é valiosa
deve ser evitado sempre que possível. Nessas afecções, - interrogar sobre o estado de saúde das pessoas que
frequentem ente, mais de um a região encontra-se en ­ convivem com a criança, especialmente em relação a
volvida e a denom inação diagnostica deve se referir doenças respiratórias; sobre as condições ambientais
à área ou a regiões anatômicas acometidas. Como - tais como características da m oradia e núm ero de
exemplo, a infecção causada pelo rinovírus, que pode pessoas que nela residem, exposição excessiva a pó
acometer desde a conjuntiva até a laringe, porém, se domiciliar, existência de mofo e outros alérgenos e de
houver m aior agressão à m ucosa nasal e faríngea, a familiares tabagistas; verificar, ainda, a regularidade
síndrom e clínica será referida com o rinofaringite de exposição ao sol, o estado vacinai da criança e se o
aguda. Sabe-se que 90% das infecções respiratórias quadro atual tem relação com algum a hospitalização
agudas são não bacterianas, já tendo sido identifica­ recente ou foi adquirido na comunidade.
dos mais de 200 sorotipos diferentes de agentes virais. O exame físico detalhado é essencial e deve com ­
Diante de um a criança com doença respiratória preender todo o trato respiratório - narinas, mucosa
aguda, questões fundamentais precisam ser necessa­ nasal, cornetos nasais, m ucosa oral, gengivas, palato,
riam ente estabelecidas: a afecção é localizada ou en­ amígdalas, faringe, ouvidos - e, evidentem ente, rea­
volve mais de um a região? Acomete, principalmente, lizar a inspeção, palpação, percussão e ausculta torá­
as vias superiores ou as inferiores? Acompanha-se de cicas. Auxiliam no diagnóstico diferencial o exame
manifestações sistêmicas? A etiologia provável é não das conjuntivas, dos linfonodos e o cardiológico. O
infecciosa, virai ou bacteriana? Se bacteriana, qual o exame do abdom e é dirigido, sobretudo, para detec­
agente mais provável? Há evidência de alergia respira­ tar hepatoesplenomegalia.
A interpretação criteriosa de todos esses dados entanto, a persistência da rinorreia m ucopurulenta
responde à m aior parte das questões. Na grande por mais de 10 a 14 dias sugere infecção bacteriana
m aioria das vezes, contribui para o diagnóstico, sem secundária, rinite bacteriana ou rinossinusite aguda
necessidade de se recorrer a exames subsidiários. e, nesses casos, a antibioticoterapia está indicada. A
A seguir serão descritas as diferentes síndromes clí­ tosse por até duas sem anas não significa, inquestio­
nicas referentes às infecções respiratórias agudas, com navelmente, infecção bacteriana secundária. Os acha­
exceção das pneum onias agudas e da bronquiolite virai dos ao exame físico são lim itados ao trato respirató­
aguda, que serão discutidas em capítulos específicos. rio superior. A faringe apresenta-se difusam ente hi-
perem iada e os tím panos podem estar congestos nos
RINOFARINGITE AGUDA OU RESFRIADO COMUM prim eiros dois a três dias, o que, tam bém , não deve
ser interpretado como processo bacteriano. Atenção
A experiência clínica e os estudos epidem iológi­ especial deve ser dispensada às crianças portadoras
cos m ostram que as crianças apresentam , em m édia, de asma e lactentes sibilantes transitórios, um a vez
seis a oito resfriados por ano, durante os prim eiros que a virose pode desencadear broncoespasm o.
cinco anos de vida, entretanto, 10 a 15% das crianças
podem chegar a apresentar 12 infecções por ano. A D iagnóstico
incidência da doença dim inui com a idade e na ida­ O diagnóstico é essencialm ente clínico, não sen­
de adulta é com um ocorrer dois a três resfriados por do necessários exames com plem entares. A principal
ano. As crianças que frequentam creches durante o função do pediatra ao atender um a criança ou ado­
prim eiro ano de vida têm 50% mais resfriados do lescente com resfriado é excluir infecção bacteriana
que as que perm anecem em seus domicílios. associada, evitando a prescrição desnecessária de
antibióticos. A ausência de prostração significativa e
Etiologia lim itada aos períodos febris sugere infecção virótica,
Foram identificados pelo m enos 200 vírus cau­ porém , trata-se de um a definição sujeita a erros, re­
sadores do resfriado com um . O principal agente querendo o acom panham ento clínico. O aspecto da
etiológico é o rinovírus e são descritas mais de 100 secreção nasal, m uitas vezes, sugere a etiologia, com o
rinoviroses sorologicam ente distintas. O utros vírus especificado a seguir:
m enos frequentes são coronavírus, vírus sincicial • Rinorreia serosa: alergia, fase inicial das viro­
respiratório, parainfluenza, adenovirus, enterovirus ses, rinites bacterianas prim árias ou secundá­
e m etapneum ovírus. A transm issão acontece através rias e efeito m edicam entoso como, p o r exem ­
de gotículas produzidas pela tosse e espirros ou pelo plo, o iodismo;
contato de m ãos contam inadas com a via aérea e ca­ • Rinorreia serom ucosa ou mucosa: fase inter­
vidade oral. O período de incubação varia de dois a m ediária e final das rinites virais, pode traduzir
cinco dias. O resfriado com um dura, em média, sete ainda um a resposta alérgica; secreção serom u­
dias, mas em alguns casos persiste por duas semanas. cosa, com ferim entos superficiais na pele em
torno das narinas, é indicativo de im petigo n a ­
M an ifestaçõ es c lín ic a s sal estreptocócico;
A sintom atologia é quase sem pre leve e o paciente • R inorreia m ucopurulenta ou purulenta: fase
m ostra-se afebril, sem acom etim ento do estado geral. final das rinites virais, rinites bacterianas p ri­
Concom itantem ente, observam -se rinorreia serosa, m árias e secundárias e rinossinusites;
dor de garganta, obstrução nasal, espirros e tosse. • R inorreia serossanguinolenta: traum atism o da
Entretanto, algumas vezes as manifestações são mais m ucosa, corpo estranho - em geral, associado
acentuadas e constatam -se febre alta, cefaleia, mal- a odor fétido - , sífilis congênita precoce, difte­
-estar e inapetência. A rinorreia serosa e a obstrução ria nasal, rinite bacteriana e, às vezes, saram ­
nasal apresentam -se precocem ente e caracterizam o po; esse tipo de rinorreia, quando se prolonga,
resfriado com um . O aspecto da secreção nasal pode pode tornar-se m ucopiossanguinolenta; na sífi­
se m odificar até tornar-se purulento, sem, necessa­ lis congênita a rinorreia é persistente e inicia-se
riam ente, indicar infecção bacteriana secundária. No nos prim eiros três meses de vida.
Em relação ao diagnóstico diferencial, cabe distin­ tensão e coma. Os pais devem ser bem orientados so­
guir o resfriado com um da gripe, que é causada pelo bre os efeitos colaterais dessa terapêutica e prevenir
vírus Influenza, caracterizada por início súbito dos sin­ a superdosagem. O uso prolongado dos adrenérgicos
tomas como febre alta, fadiga e mialgia. Há três tipos tópicos deve ser evitado, para im pedir o desenvol­
de Influenza: A, B e C. Os tipos A e B levam à doença vim ento da rinite medicamentosa, efeito rebote que
epidêmica, enquanto o tipo C é um agente esporádi­ causa a sensação de obstrução quando o uso da droga
co de acom etim ento da via aérea superior. Em abril é interrom pido. Os vasoconstritores sistêmicos são
de 2009 foi identificado um novo vírus da influenza m enos eficazes do que os tópicos e associados a efeitos
A (H1N1) que se disseminou pelo m undo, causando sistêmicos com o hipertensão, excitação e palpitações.
pandemia. Esse novo subtipo do vírus é transm itido
de pessoa para pessoa, principalm ente por meio de Tosse
tosse ou espirro e secreções respiratórias de pessoas Expectorantes, antitussígenos e m ucolíticos não
infectadas. O quadro clínico é variável, por vezes leve, têm ação com provada, não estando rotineiram ente
outras vezes grave, podendo ocasionar pneum onia fa­ indicados. Em caso de broncoespasm o associado, a
tal. Doenças que apresentam rinorreia como manifes­ prescrição de broncodilatadores (beta-2-agonista de
tação im portante fazem parte do diagnóstico diferen­ curta duração) está autorizada.
cial. Entre essas, o sarampo, que, na fase inicial, pode
ser indistinguível de um resfriado comum. O utras medicações
O uso profilático de antibióticos é contraindi-
Tratam en to cado, pois, além de não prevenir a superposição de
O tratam ento deve ser sintomático, um a vez que o infecções secundárias e complicações, favorece o d e­
resfriado com um tem curta duração e evolução autoli- senvolvim ento de resistência bacteriana.
mitada. Os pais devem ser orientados quanto à evolu­
ção natural da doença. A inapetência própria do qua­ C om plicações
dro precisa ser respeitada e a ingestão hídrica aum en­ O surgim ento de dificuldade respiratória, piora da
tada, visando facilitar a fluidificação das secreções. prostração e persistência da febre por mais de 72 h o ­
ras indica a possibilidade de complicações bacteria­
Tratam en to sin to m ático nas. As complicações mais frequentes são otite m édia
aguda, sinusite e pneum onia. Não é frequente que a
Febre faringoamigdalite bacteriana surja com o complicação
O uso correto de antitérm icos contribui para o de um resfriado com um , m anifestando-se, em geral,
controle da febre, incom um no resfriado sem com ­ sem rinorreia serosa, obstrução nasal, espirros e tosse.
plicações. Aspirina não deve ser prescrita. A síndro­
m e de Reye tornou-se cerca de 10 vezes mais rara P reven ção
após a recom endação de se evitar aspirina em p a ­ A m elhor prevenção consiste na lavagem das
cientes com Influenza (A e B) ou com varicela. mãos, em evitar a m anipulação m anual do nariz,
olhos e boca e lugares fechados com aglomerações
O bstrução nasal de pessoas. Im unização ou quim ioprofilaxia contra
Soro fisiológico 0,9% nas narinas está indicado influenza pode ser útil para prevenir gripe causada
para o alívio da obstrução nasal, principalm ente an ­ por esse agente. Não existem evidências científicas
tes das m am adas e de dormir. Os vasoconstritores que justifiquem a indicação de vitam ina C com o p ro ­
tópicos, agentes adrenérgicos com o xylometazolina, filática de infecções respiratórias. O uso de vitam ina
oxymetazolina e fenilefrina aliviam a obstrução nasal, D não evita o resfriado com um nem a gripe. A super­
porém devem ser utilizados com cautela, em crian­ dosagem de vitam ina D pode levar a complicações.
ças maiores de dois anos de idade e no m áxim o por
cinco dias; em lactentes estão contraindicados devido
ao risco de efeitos colaterais com o bradicardia, hipo­
OTITE MÉDIA AGUDA OM A recorrente (OMAR) expressa três episó­
dios de OM A em seis meses, ou quatro episódios em
Epidem io logia um ano. A OMSC, otite m édia supurativa crônica,
A otite m édia (OM ), depois do resfriado com um , significa otorreia através da m em brana tim pânica
é a afecção m ais frequente na infância, quase todas perfurada, por m ais de duas a seis semanas.
as crianças apresentarão pelo m enos um episódio de
otite m édia aguda (OM A) p o r ano nos três prim ei­ Fatores de risco

ros anos de vida, sendo que até os sete anos de idade A disfunção da tuba auditiva é o fator prim o r­
90% delas terão um episódio de OMA e 75%, três ou dial na gênese da OM. As funções de proteção, d re­
mais. A m ais alta prevalência da OM A encontra-se nagem e ventilação do ouvido m édio exercidos por
entre os seis meses e três anos, sobretudo no prim ei­ esta estrutura são m enos eficientes na criança q u an ­
ro ano de vida. Nos Estados Unidos há m ais de 30 do com parado com o adulto, o que explica a grande
m ilhões de casos p or ano e perm anece sendo a causa prevalência dessa doença na infância.
m ais com um do uso de antibióticos. Essa m orbida- Os fatores de risco associados ao início precoce e
de foi responsável por 13 m ilhões de prescrições em recorrência dos episódios de OM A são além da dis­
2000 e tem custo anual em torno de US$ 3 bilhões. função da tuba auditiva, a predisposição genética, a
história fam iliar de OM A recorrente, a gem elarida-
C lassificação de, a prem aturidade, a doença do refluxo gastroeso-
A OM é um processo de natureza inflam atória, fágico, o aleitam ento artificial, o tabagism o passivo.
infecciosa ou não, e anatom icam ente ocupa focal O utros fatores predisponentes: tom ar m am adeira
ou generalizadam ente a fenda auditiva. Im portante em decúbito dorsal, usar chupeta, frequentar creche
relem brar que o osso tem poral apresenta espaços ou berçário, baixo nível sócio-econôm ico, aglom e­
pneum atizados contíguos que podem ser envolvidos rados populacionais e assistência de saúde ineficaz.
nesse processo, ou seja, a m astoide, o ápice petroso e Os portadores de im unodeficiências ou hiper-reati-
as células perilabirínticas. vidade de vias aéreas, de doenças adenotonsilares, de
A OM é m ais bem entendida com o espectro de alterações nasossinusais obstrutivas com o IVAS, ri-
um a doença, o conceito do continum da OM , segun­ nites, desvios septais, de disfunções ciliares, de ano r­
do Sadi et a i, é didático e contribui para sua m e­ m alidades crânio-faciais (fenda palatina, síndrom e
lhor com preensão. A otite m édia com efusão (OME) de Down) são particularm ente susceptíveis.
pode evoluir para otite m édia aguda sem perfuração
(OMAsP) ou para otite m édia aguda com p erfu ra­ Etiologia

ção (OM AcP) e ao final do processo para otite m édia Os patógenos envolvidos na OMA podem ser virais
supurativa crônica (OMSC). ou bacterianos, conforme apresentado no Quadro 44.1.
A OM E corresponde à presença de secreção do As viroses respiratórias desem penham um p a ­
tipo seroso ou m ucoso na orelha média, sem p erfu ­ pel relevante na patogênese da OMA, acredita-se
ração da m em brana tim pânica (M T), sem sinais e
sintom as de infecção aguda. Ela é a form a mais co­ Q u a d ro 4 4 .1 . P atógenos e n v o lv id o s na o tite m éd ia aguda.

m um de otite m édia em todas as populações. Episó­ V ira is B a c te ria n o s I


dios leves de OME associados à infecção de vias aé­ V íru s s in c ic ia l re s p ira tó rio Streptococcus pneumoniae
reas superiores (IVAS) podem ser considerados um In flu e n za Haemophilus influenza
fenôm eno norm al na criança pequena. A m aioria
A d e n o viru s Moraxella catarrhalis
dos casos apresenta tendência à cura após sem anas
C o ro n a v íru s Streptococcus pyogenes*
ou um período de até três meses.
OM A usualm ente traduz efusão no ouvido m é­ E n te ro v iru s Staphylococcus aureus*
dio associada a sintom as e sinais inflam atórios, p rin ­ P a ra in flu e n za coli,
B a c ilo s G ra m -n e g a tiv o s (£.

cipalm ente dor e abaulam ento da m em brana tim p â­ Klebisiella sp e R aeruginosa)*


nica com hiperem ia e/ou otorreia, essa últim a nos M e ta p n e u m o v íru s

casos de perfuração tim pânica. * Menos frequentes.


que a m aioria dos episódios de OM A ocorre com o D iagnóstico e tra ta m e n to
complicação de IVAS. Entre os vírus identificados Algumas particularidades dos lactentes e pré-esco-
em estudo com 239 crianças, o vírus sincicial res­ lares podem dificultar o diagnóstico da OMA como
piratório (VSR) foi o mais frequente, seguido pelo um conduto auditivo estreito, a obstrução do condu­
parainfluenza, influenza, enterovirus, adenovirus e to por cerum e e a dificuldade de realizar a otoscopia
rinovírus, podendo coexistir mais de um patógeno pneumática. O utra questão relevante é a diferenciação
em cada episódio. Análises das viroses associadas entre a OME e a OMA. OME é mais com um que OMA.
à otite m ostraram que 86% dos casos ocorrem nos OME pode acom panhar as viroses, pode ser o estágio
meses do outono e inverno. inicial de OMA, ou um a sequela do processo agudo.
Algumas características clínicas apontam a etio­ Q uando a OME é identificada como OMA, agentes
logia bacteriana do processo infeccioso. Na infecção antim icrobianos podem ser prescritos desnecessaria­
pneum ocócica é com um observar otalgia im portante, mente. Os pediatras devem estar atentos para a pos­
febre e perfuração tim pânica espontânea. O uso de an ­ sibilidade de um diagnóstico falso positivo frequente
tibioticoterapia recente indica a presença de pneum o- em algumas situações: crianças com leve desconforto
coco resistente. A persistência de OMA após terapia
e retração da m em brana timpânica decorrentes da dis­
realizada com altas doses de amoxicilina torna a etio­
função da tuba de Eustáquio, ou, quando um proces­
logia pneum ocócica m enos provável. Já a associação
so respiratório virai agudo acomete um a criança com
otite e conjuntivite é muito sugestiva do H. influenzae.
efusão preexistente do ouvido médio. O utro fator a ser
lem brado é que a otoscopia requer instrum ento ade­
Q uadro clín ico
quado, inclusive um a boa fonte de luz, e imobilidade
A criança com OM A apresenta sinais e sintomas
do paciente. A pneum otoscopia perm ite a visualização
de inflam ação da orelha média, ou seja, otalgia, irri­
da m em brana em movimento, em caso de líquido no
tabilidade, febre, com ou sem otorreia. Sintomas de
ouvido m édio há perda dessa característica.
IVAS com o tosse, obstrução nasal ou rinorreia p o ­
O diagnóstico correto é o mais im portante para
dem preceder ou acom panhar a OMA. À otoscopia
nortear a terapêutica. A OM A bilateral tem sido
é possível observar alterações com o abaulam ento da
considerada um fator de agravam ento da doença, os
m em brana tim pânica, achado de alto valor prediti­
sintom as, em geral, são mais intensos, a cultura da
vo e que indica presença de efusão no ouvido médio;
orelha m édia é frequentem ente positiva e pode exi­
opacificação provocada pelo edem a da m em brana e
gir terapêutica mais agressiva.
hiperem ia decorrente do processo inflamatório. Essa
Para indicação do tratam ento deve-se considerar a
é diferente da gerada pelo choro e febre alta que se
m ostra m enos intensa e m elhora com a criança em gravidade dos sinais e sintomas. Friedmam publicou
repouso. M uitas vezes a secreção da orelha m édia escalas baseadas em achados clínicos e otoscópicos
m istura-se com ar e form am bolhas visíveis à otos­ que, quando combinadas, aum entam a confiabilidade
copia. O utras vezes, dependendo da viscosidade do para classificar a gravidade da otite (Q uadro 44.2).
fluido, visualiza-se nível líquido em linha horizontal No tratam ento, a prim eira m edida deve visar ao
m esm o com a m udança de posição da cabeça. A dis­ alívio da dor, principalm ente nas prim eiras 24 horas
função tubária prolongada pode determ inar retração do episódio agudo. Nesse período, o antibiótico não
da m em brana tim pânica. À orofaringoscopia pode- influencia na dor mais que o placebo, fato evidencia­
-se notar palato ogival, protrusão da arcada dentária do após o segundo dia da antibioticoterapia. O passo
superior e hipertrofia das amígdalas. Conchas nasais seguinte é definir quais pacientes necessitarão de a n ­
edemaciadas podem ser visualizadas à rinoscopia. À tibiótico e quais poderão ser tratados de m odo expec­
vídeo-fibronasofaringolaringoscopia (VFNFL) pode tante, daí a im portância da acurácia diagnostica, da
revelar hipertrofia das adenóides, geralm ente obs­ habilidade de diagnosticar corretam ente um a efusão
truindo a luz dos torus tubários situados na paredes do ouvido médio. A incerteza diagnostica influencia
laterais da nasofaringe. O estudo radiológico do ca- na tom ada de decisão, antibiótico ou conduta expec­
vu m é um a alternativa à realização da VFNFL quan­ tante? A frequência da antibioticoterapia apresenta
do não for possível sua realização. acentuada variação. Enquanto na H olanda é prescrita
M T ín te g ra , h ip e re m ia d a em to rn o do ca b o do m a rte lo ou de
OMA O ta lgia p re ce d id a de IVAS e fe b re .
to d a m e m b ra n a . M T a b a u la d a e e sp e ss a d a .

OMA O to rreia p re ce d id a de o ta lg ia e IVAS, co m m e lh o ra da o ta lg ia M T p e rfu ra d a , o to rre ia flu id a a m a re lo -c la ra , MT e sp e ss a d a .


S u p u ra d a a p ó s sa íd a de se cre çã o . A lg u m a s ve ze s há o tite exte rn a a ss o cia d a .

3 ou m a is e p is ó d io s de OMA em 6 m ese s ou 4 ou m a is e p is ó d io s M T ín te g ra , h ip e re m ia d a em to rn o do ca b o do m a rte lo ou de


OMAR
em 1 ano. to d a m e m b ra n a . M T a b a u la d a e e sp e ss a d a .

P recede in fe c ç ã o da o re lh a m é d ia ou re p re se n ta e v o lu ç ã o de M T ín te gra, e sp e ss a d a , co m a u m e n to de v a s c u la riz a ç ã o , às


OME OM A ou OMAR. vezes co m se c re çã o a m a re la d a a trá s da MT, co m b o lh a s de a r
P acie n te a s s in to m á tic o ou se q u e ixa de h ip o a c u s ia e leve o ta lg ia , em o re lh a m é d ia , pode h a ve r re tra ç ã o de MT.
OMA = Otite média aguda; IVAS = Infecção de via aérea superior; MT = Membrana tim pânica; OMAR = Otite média aguda recorrente; OME = Otite média
com efusão.

em cerca de 30% dos casos, em outros países, como Tratam en to cirú rg ic o


nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália, atinge A m iringotom ia com aspiração da efusão do o u ­
quase 100% dos pacientes. A m udança na conduta em vido m édio é o procedim ento mais utilizado quando
relação à antibioticoterapia, ou seja, de não iniciá-la o tratam ento clínico não surte efeito satisfatório. A
tão logo seja feito o diagnóstico, baseia-se na alta taxa colocação de tubos de ventilação (TV) visa evitar a
de cura espontânea da OM A e na preocupação com cicatrização da m iringotom ia, m antendo aeração
a em ergência de cepas m ultirresistentes, provocada prolongada do ouvido médio; visa drenar secreções
pelo uso indiscrim inado de antibióticos. A decisão de que venham a ser formadas, além de restabelecer o
se iniciar ou não o antibiótico deve considerar a idade funcionam ento da tuba auditiva. Diante da indicação
da criança, a gravidade da doença e a certeza diagnos­ de instalação de TV num a criança com hipertrofia de
tica. A antibioticoterapia pode ser atrasada por 48 a adenóides e/ou infectadas, é recom endada a adenoi-
72 horas em crianças, especialmente com idade supe­ dectom ia no m esm o ato cirúrgico da tim panostom ia.
rior a dois anos e que apresentam OMA leve. Publica­ O conceito é sem elhante em relação à amigdalecto-
ção recente m ostrou que 80% dos casos têm resolução mia. As adenóides e amígdalas fazem parte do anel
espontânea, sobretudo se ela não é grave, e o núm e­ linfático de Waldeyer e quando hipertrofiadas e in ­
ro de complicações da OM A não aum enta quando o fectadas cronicam ente constituem fator locorregio-
paciente é observado e acom panhado. A opção pela nal na etiopatogênese da OM E e da OMAR.
conduta expectante deve garantir analgesia adequada
e m onitoram ento cuidadoso pelos pais. P reven ção
Uma vez optado pela antibioticoterapia, a droga de Na prevenção das otites m édias recorrentes deve-
escolha é a amoxicilina, 40 m g/kg/dia, em duas doses, -se indicar a vacina contra Influenza, além da pneu-
um a a cada 12 horas. Na suspeita de pneum ococo re­ m ocócica conjugada. Os fatores predisponentes ci­
sistente a dose de amoxicilina deve ser de 90 mg/kg/ tados devem ser com batidos e erradicados. O uso
dia. Outras opções diante da possibilidade de pneu­ do xilitol, derivado da d-xilose (açúcar da m adeira),
m ococo resistente ou de germes produtores da beta com propriedades de im pedir a invasão das mucosas
lactamase são: associação amoxicilina-clavulanato ou pelos patógenos, é controverso. A prática clínica da
axetilcefuroxima, um a cefalosporina de segunda gera­ otorrinolaringologista, coautora deste capítulo, ob­
ção, ou claritromicina, que tam bém está indicada nos serva bons resultados com o uso do xilitol.
alérgicos à penicilina. Nos pacientes com otite média
recorrente sem resposta ao tratam ento ou em casos Conclusões
graves está indicada a ceftriaxona na dose de 50 mg/ A otite m édia na criança é um a infecção de ele­
kg/dia, por 3 dias. A medicação para dor deve ser pres­ vada prevalência e com possibilidades de com plica­
crita independente da antibioticoterapia, não está in­ ções como a m astoidite, perdas auditivas, formação
dicado o uso de rotina de antinflamatórios hormonais. de pré-colesteatom a e colesteatoma. As perdas audi­
tivas na infância são extrem am ente prejudiciais, pela
im portância na aquisição da linguagem, na socializa­ C las s ific a ç ã o
ção e no desenvolvimento intelectual. Cabe ressaltar Atualmente, ficou estabelecido como RSA o p ro ­
o papel fundam ental da parceria do pediatra com o cesso inflamatório sinusal que dura até 12 semanas,
otorrinolaringologista na abordagem da otite média, com resolução completa dos sintomas. A rinossinusi­
evitando-se, assim, os efeitos deletérios dessa afecção. te aguda recorrente é caracterizada por três episódios
em seis meses ou quatro em 12 meses, com intervalo
RINOSSINUSITE AGUDA assintomático, ou seja, com remissão completa de no
m ínim o 10 dias. Cada episódio deve apresentar dura­
O term o rinossinusite é m ais apropriado do que ção inferior a 30 dias. Na rinossinusite crônica, sinto­
sinusite. A rinite pode ser encontrada isoladam ente, mas como tosse, rinorreia e obstrução nasal apresen­
a sinusite geralm ente não. Rinossinusite nom eia d o ­ tam duração superior a três meses. A crônica agudiza­
enças em continuidade e indica um processo infla­ da é a rinossinusite que ocorre nos pacientes que têm
m atório da m ucosa de revestim ento do nariz e seios sintomas respiratórios residuais e que sofrem agudiza-
paranasais. Em 80% dos casos, a rinossinusite ocorre ções, ou seja, há remissão dos sintomas de agudização,
após IVAS de etiologia viral ou em consequência de entretanto, perm anecem sintomas residuais após o
anom alias anatôm icas ou alergia. tratam ento antimicrobiano. Sintetizando, rinossinu-
A rinossinusite aguda (RSA) é um a doença com um tes de diferentes classificações apresentam os mesmos
em pacientes pediátricos, muitas vezes malconduzi- sintomas, diferem pelo tem po de evolução da doença.
da, com exposição desnecessária à radiação para fins
diagnósticos e ao uso excessivo de antibióticos. Defi­ Fatores p red isponentes
nir quais sintomas devem ser valorizados e estabele­ Os fatores predisponentes podem ser divididos
cer o diagnóstico correto é fundamental, tanto para a em locorregionais ou sistêmicos. Os locorregionais
decisão terapêutica com o para a orientação dos pais. são provocados p o r obstrução do com plexo osteo-
m eatal (COM .), região onde drenam os seios etm oi­
A nato m ia dos seios p a ran asa is dais anteriores, maxilares e frontal. A obstrução do
O conhecim ento da anatom ia dos seios p aran a­ COM pode ser causada por edem a de m ucosa se­
sais e a época de sua pneum atização auxiliam na cundário a IVAS, rinite alérgica ou barotraum a. A
abordagem da doença. No recém -nascido, o seio m aioria dos autores concorda que a infecção virai é
m axilar tem, em média, 7 m m de profundidade, 3 o principal desencadeante das rinossinusites. A ltera­
m m de extensão e 7 m m de altura. As células etm oi- ções anatôm icas com o desvio de septo nasal, polipo-
dais são encontradas bilateralm ente, em núm ero de se nasal, corpo estranho, tam pão nasal ou tum ores
duas ou três e até os quatro anos de idade todo o são outros fatores que levam obstrução do COM.
labirinto etm oidal está form ado. O seio esfenoide A qualidade do ar inspirado, frio ou seco, o uso de
está em posição anterior à fossa da pituitária e logo drogas com o a cocaína, de m edicam entos com o os
atrás dos etm oides posteriores, presente no recém- descongestionantes tópicos ou o tabagismo, ativo e
-nascido e, em m édia, cada um apresenta 4 m m de passivo, podem acom eter a função ciliar. A atresia de
extensão e 2 m m de altura. Apesar de não ser um coanas interfere na drenagem nasal, favorecendo a
sítio frequente de infecções, o seio esfenoidal pode infecção. Infecções dentárias tam bém podem provo­
ser um a fonte para dissem inação da infecção para o car rinossinusite maxilar. Entre os fatores sistêmicos,
sistem a nervoso central (SNC). O seio frontal desen­ encontram -se as condições debilitantes com o des­
volve-se gradualm ente a p artir das células etm oidais nutrição, diabetes m ellitus, quim ioterapia, pacientes
anteriores e p o r volta dos cinco anos de idade essas transplantados com im unossupressão e uso p ro ­
células alcançam o nível do teto da órbita, form ando, longado de esteroides. As im unodeficiências com o
então, o seio frontal. Infecções do seio frontal e das deficiência de IgG ou IgA e os portadores de Aids
células etm oidais podem atingir o SNC e a órbita. são particularm ente susceptíveis. D oenças crônicas
com o fibrose cística e doença dos cílios imóveis são
im portantes causas de rinossinusites crônicas.
Etiologia b a c te ria n a purulenta e com viscosidade variável. A rinoscopia
As bactérias mais com um ente isoladas dos seios anterior é possível ser realizada na criança elevando
maxilares em pacientes com RSA são Streptococcus a ponta do nariz, crianças pequenas têm narinas ar­
pneum oniae, H aem ophilus influenzae M oraxella ca- redondadas, o que favorece o exame do corneto in ­
tarrhalis. A presença de bactérias anaeróbias é p e­ ferior, pode-se usar um otoscópio. A drenagem pós-
quena, em torno de 6 a 10%, representadas pelos -nasal ocorre em 60% dos casos, pus no meato m édio
Bacteroides, Fusobacterium e Peptostreptococcu, em em 50% dos casos e edem a da mucosa dos cornetos
geral, acom etendo adolescentes e associadas a infec­ em torno de 27%. Hiperplasia de amígdalas e de toda
ções dentárias. O Staphylococcus aureus é um agente a cadeia linfática da parede faríngea pode ser cons­
pouco com um da RSA, im portante pela sua virulên­ tatada. Os linfonodos cervicais podem apresentar-se
cia e resistência à terapêutica usual, identificado em hipertrofiados e dolorosos.
pacientes im unodeprim idos com o transplantados Im portante lem brar que febre e secreção p u ru ­
em vigência de quim ioterapia e doenças linfoprolife- lenta nas fossas nasais podem acontecer nas RSAs
rativas. Já as infecções por bactérias Gram-negativas virais, não indicando inicialm ente a prescrição de
incidem mais frequentem ente em pacientes hospitali­ antibióticos. Já as apresentações clínicas descritas a
zados, sendo os agentes mais com uns as Pseudomonas seguir rem etem à suspeita de RSA bacteriana:
aeruginosa seguida da Klebisiella p neum oniae, Entero- 1. Sinais e sintom as de resfriado que persistem
bacter species, Proteus mirabillis e Escherichia coli. por m ais de 10 dias com qualquer tipo de ri­
norreia e tosse que piora à noite.
P reva lên c ia 2. Resfriado mais grave que o usual, com febre
De m odo geral, há decréscimo na prevalência da alta, rinorreia purulenta copiosa, edem a pe-
rinossinusite após seis a oito anos de idade. Essa his­ riorbitário e dor.
tória natural da doença se deve, provavelmente, à m a­ 3. Resfriado que após cinco dias piora, com ou
turação do sistema im une da criança. Em climas tem ­ sem febre.
perados observa-se aum ento da incidência durante o
outono e inverno, evidenciando o im portante papel Exam es de im agem
da estação. Crianças que frequentam creches têm sig­ Os exames de imagem não são necessários para
nificativo aum ento na prevalência de rinossinusites. confirm ar o diagnóstico de RSA na infância. A ra­
diografia simples dos seios da face, usualmente, não
Q uadro clínico é recom endada. Ela tem baixa sensibilidade, elevado
É difícil fazer a distinção entre rinossinusites vi­ núm ero de falso-positivos (20%) e alta taxa de falso-
rais e bacterianas baseado apenas nos achados clíni­ -negativos. Q uando solicitada, os achados sugesti­
cos. Se os sintom as se prolongam , aum enta a chance vos de sinusite aguda são o espessamento da mucosa
de se tratar de rinossinusite bacteriana. Os sintomas m aior que 4 m m , nível hidroaéreo e opacificação total
e sinais clínicos variam de acordo com a idade, sendo do seio. A interpretação desses achados exige cuida­
considerados de valor diagnóstico na RSA bacteriana dos, podem ser encontrados em 87% das infecções
a rinorreia, presente em 7 1 a 80% dos casos, que pode virais não complicadas. A tom ografia com putadori­
ser variável em aspecto, não necessariam ente p u ru ­ zada (TC) perm anece com o m étodo de escolha para
lenta; a tosse, identificada em 50 a 80% dos episódios; o estudo dos seios paranasais, possibilita avaliar osso,
a febre em 50 a 60% dos pacientes e a obstrução nasal, tecido mole e visibilizar o complexo ostiomeatal, mas
p o r vezes, o principal sintom a no pré-escolar. O utros não é necessária para definir o diagnóstico das rinos­
sintomas, isolados ou associados a esses especifica­ sinusites agudas, que deve ser essencialmente clínico.
dos, podem ocorrer, com o a halitose, a cefaleia e a A com paração entre radiografia simples e TC dos
dor facial, estas últim as observadas mais frequente­ seios da face em crianças com secreção nasal persis­
m ente em maiores de cinco a seis anos de idade. tente evidenciou que 75% dos achados da radiografia
À rinoscopia é provável identificar m ucosa hipe- não se correlacionaram com os da TC. A incidência
rem iada com rinorreia amarelada até francamente de alterações na TC em crianças assintom áticas é alta,
25 a 50% da população apresentam algum a alteração gue, os usuários de drogas, todos eles correm o risco
na TC de seios paranasais, m esm o sem qualquer sin­ de desenvolver rinossinusite por m icro-organism os
tom a nasossinusal. resistentes e fungos de difícil tratam ento.
O seio maxilar hipoplásico, por exemplo, pode Os pacientes com fibrose cística são especialmente
induzir a um falso diagnóstico de sinusite. A TC está suscetíveis à rinossinusite. Fibrocísticos com rinossi­
indicada nas rinossinusites agudas de repetição (mais nusite crônica apresentam alterações na TC em 100%
de três episódios em seis meses ou quatro episódios dos casos, m ostrando opacificação dos seios etmoi-
no ano), nas rinossinusites crônicas, casos graves de dais anteriores, maxilares e frontais, se já desenvolvi­
rinossinusite aguda, ou seja, aqueles acompanhados dos, e 57% dos etmoidais posteriores e dos esfenoidais.
de toxemia, imunossupressão, complicações supura- Pode-se observar o deslocamento da parede lateral do
tivas intraorbitárias e intracranianas e quando proce­ nariz em direção ao septo nasal provocado por massa
dim ento cirúrgico está sendo considerado após falha no antro maxilar, constituída por grande quantidade
do tratam ento clínico. Segundo o A m erican Colege o f de secreção e mucosa polipoide. A parede lateral pode
Radiology, nenhum estudo por imagem está indicado tocar o septo, resultando em bloqueio nasal total. A
se os sintomas persistem por m enos de 10 dias, salvo polipose nasal ocorre, geralmente, após os cinco anos
nas situações anteriorm ente citadas. A avaliação do de idade e secreção purulenta é observada no seio m a­
exame de imagem, quando solicitado, deve ser feita xilar em geral a partir dos três meses de idade.
considerando-se os achados clínicos. Caso não haja O utra doença im portante a ser lem brada nos p ro ­
correspondência, o tratam ento não deve ser instituído. cessos rinossinusais de repetição e crônicos é a dis-
cinesia ciliar prim ária, que traduz defeito na organi­
R inossinusite de rep etição zação estrutural dos cílios do epitélio de revestim en­
A questão da rinossinusite de repetição merece to da árvore respiratória. Trata-se de um distúrbio
atenção especial. Na literatura m édica consideram -se autossôm ico recessivo que acomete um a a cada 15
entre as crianças com infecções recorrentes crônicas mil pessoas e pelo m enos m etade dos pacientes tem
que 50% são norm ais, 30% portadoras de processos sintomas ao nascer. A discinesia ciliar prim ária deve
alérgicos, 10% com condições crônicas de desnutri­ ser considerada em qualquer recém -nascido com
ção por várias causas, 10% podem ter algum tipo de problem as respiratórios e otorrinolaringológicos de
im unodeficiência e apenas 1% com deficiência p ri­ origem desconhecida, principalm ente bebês sem
m ária que seria a causa básica para as infecções de re­ fator de risco para infecção congênita que m ostram
petição. O papel da alergia tem m uita im portância no sinais de rinite ao nascim ento. Deve-se suspeitar de
estabelecim ento de doença rinossinusal, sobretudo discinesia ciliar em crianças com asma atípica que
na rinossinusite crônica. Crianças alérgicas têm mais não responde ao tratam ento, tosse com expectoração
IVAS e mais absenteísm o escolar. O papel da alergia crônica, refluxo gastroesofágico grave, broquiecta-
em crianças com RSA deve ser avaliado a partir da sias, rinossinusites, otite m édia com efusão intensa e
história, de exame clínico, teste cutâneo e short fo r crônica, principalm ente nas otorreias de longa d u ra­
radioallergosorbent test (RAST), se necessário. ção que persistem após inserção de tubo de ventila­
Q uanto à im unodeficiência, todas as crianças têm ção. A associação da discinesia ciliar prim ária com
im unodeficiência prim ária fisiológica. As subclasses situs inversos, bronquiectasias e rinossinusites define
2 e 4 de im unoglobulina G podem alcançar o nível do a síndrom e de Kartagener.
adulto som ente p or volta dos 10 anos de idade. A d e­ A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) tem
ficiência de subclasses de IgG pode levar à sinusite de sido observada em crianças com rinossinusite e o ti­
repetição ou crônica e desem penha im portante papel te de difícil resolução. A DRGE pode levar à doença
na defesa contra bactérias encapsuladas. Pacientes crônica das vias aéreas superiores refratária ao trata­
com im unodeficiência prim ária ou adquirida, por m ento. O pediatra deve suspeitar de DRGE na crian­
exemplo, aqueles subm etidos a tratam ento para do­ ça com rinorreia crônica, obstrução nasal associada a
enças malignas, os transplantados, os portadores de tosse, rouquidão e respiração estridulosa.
Aids transm itida pela m ãe ou por transfusão de san­
Tratam en to possibilidade de associação com outra m orbidade
No tratam ento da RSA a higiene nasal é funda­ com o asma ou otite m édia aguda. Nessas condições,
m ental. Ela atua facilitando o transporte das secreções amoxicilina na dose de 45 m g/kg/dia é apropriada. A
em direção à nasofaringe, tornando as secreções m e­ duração do tratam ento deve ser de 10 a 14 dias. Em
nos viscosas, favorecendo sua eliminação. Também m enores de dois anos, ou se estão presentes fatores
elim ina m ediadores inflam atórios com o prostaglan- de risco para resistência, essa dose pode ser dobra­
dinas, leucotrienos e interleucinas (IL), que causam da (90 m g/kg/dia). Se a criança não m elhora em 72
danos à m ucosa nasal. A higiene com solução salina horas, o antibiótico deve ser trocado, tendo em vista
favorece a frequência dos batim entos ciliares e o cle­ a possibilidade de organism os resistentes. Pacientes
arance mucociliar. A solução salina reduz a produção alérgicos à penicilina devem receber azitrom icina ou
de IL8 pelas células epiteliais respiratórias hum anas claritrom icina com o prim eira escolha; sulfametoxa-
ativadas, sendo potencialm ente útil para dim inuição zol/trim etropim , clindam icina constituem outras o p ­
da resposta inflam atória das mucosas das vias aéreas. ções Paciente com RSA bacteriana grave tratado em
Em resumo, deve-se considerar a higiene nasal com o nível am bulatorial pode receber terapêutica por via
um a m edida terapêutica coadjuvante e procedim en­ oral, amoxicilina com clavulanato ou cefalosporina
to im portante no m anejo das queixas e condições que de segunda geração com o acetilcefuroxime. No tra ­
afetam o sistema nasossinusal. Particularm ente na tam ento de crianças toxem iadas com complicações
RSA, ela reduz a congestão da m ucosa, o que m elho­ supurativas com provadas ou não, está indicado o uso
ra a drenagem e patência dos ostiossinusais. Há con­ de antibiótico intravenoso efetivo contra S. p n e u m o ­
trovérsias sobre o tipo de solução salina, isotônica ou niae resistente à penicilina, H. influenzae, M . catar­
hipertônica. Alguns autores concluíram , em estudos rhalis e produtores de beta-lactam ase.
in vitro, que as soluções hipertônicas (a 3 ou a 7%) Os corticoides tópicos são um a terapia adjuvante
causam ciliostase e danos epiteliais. O utros estudos eficaz e existem diversos estudos dem onstrando sua
consideram as soluções salinas isotônicas mais fisio­ eficácia e segurança. Os anti-histam ínicos não apre­
lógicas e não afetam a morfologia celular do epitélio sentam eficácia docum entada, sendo prescritos em
nasal. As soluções salinas hipertônicas parecem atuar quadro alérgico im portante. Nesses casos, os corti­
favoravelmente no clearance mucociliar, mas em al­ costeroides sistêm icos devem ser considerados após
guns casos causam sensação de dor e ardência. Mais avaliada a relação risco-benefício. O uso de descon­
recentem ente, solução salina alcalina e isotônica com gestionantes tópicos ou orais deve ser desencorajado,
oligoelementos foi com parada com solução fisiológi­ pelo risco de m anifestações tóxicas. Estudos com pa­
ca e observou-se influência benéfica na capacidade rando solução salina e descongestionantes tópicos
regenerativa nas culturas das células avaliadas no não m ostraram vantagem do uso destes últim os.
estudo. Enfim, analgésicos e antitérm icos devem ser A Figura 44.1 apresenta o fluxogram a da aborda­
usados de acordo com a necessidade. gem da rinossinusite
O alívio dos sintom as das RSA virais dim inui a
possibilidade de infecção bacteriana. C om o afirm a­ FARINGOTONSILITE AGUDA
do anteriorm ente, se os sintomas pioram em cinco
dias ou se persistem por mais de 10 dias, a suspeita A dor de garganta é a terceira m aior queixa nas
de infecção bacteriana deve ser levantada. Em bora consultas de emergência. O term o am igdalite ou
40% das crianças com RSA bacterianas evoluam para tonsilite sem pre foi am plam ente em pregado. E n ­
cura espontânea, a antibioticoterapia é indicada para tretanto, com o o anel linfático da faringe, o anel de
a resolução mais rápida dos sintomas e na prevenção Waldeyer, é form ado pelas tonsilas e os folículos lin ­
de complicações orbitárias e intracranianas. A etiolo­ fáticos, dificilm ente o paciente terá tonsilite isolada;
gia prevalente deve orientar a escolha do antibiótico e geralm ente é o anel linfático com o um todo que es­
os produtores de beta-lactam ase pelo H influenzae e tará com prom etido e, consequentem ente, faringo-
pela M oraxella catarrhalis não devem ser esquecidos. tonsilite aguda (FTA) ou faringoam igdalite aguda
O tratam ento deve ser individualizado e avaliada a (FAA) são denom inações mais apropriadas.
F ig u ra 4 4 .1 . F luxo g ra m a da a b o rd a g e m da rin o s s in u s ite .

em 4 8 h o ra s

▼ * Febre > 38°C


H o s p ita liz a ç ã o D or in te n sa

C lassificação m á-higiene corporal e tem o aspecto bem típico de


As FTA podem ser classificadas em eritematosa, lesão acinzentada no polo superior da am ígdala aco­
eritem atopultácia, pseudom em branosa, m em brano- metida. Por último, a gangrenosa é frequente em p o r­
sa, ulcerosa, gangrenosa, de acordo com o aspecto tadores de leucoses e agranulocitose e caracteriza-se
das tonsilas. Na eritematosa, a superfície das am íg­ por lesões necróticas do tecido amigdaliano.
dalas está hiperem iada, apresentam ou não exsudato,
podendo corresponder a quadro virai ou ao estágio Etiologia
inicial de um a infecção bacteriana. Na eritem ato­ O grande desafio no atendim ento ao paciente
pultácia sobre um fundo hiperem iado há exsudato com FTA é diferenciar a etiologia viral da bacteria­
purulento e é geralm ente causada pelos S. pyogenes, na, possibilitando, assim, terapêutica adequada.
H. influenzae, S. aureus e M . catarrhalis. Na pseudo-
m em branosa a superfície das amígdalas está recober­ FARINGOAMIGDALITE AGUDA VIRAL
ta por m aterial branco amarelado, de fácil remoção,
que deixa descoberta um a superfície hiperem iada. Já A FAA virai é a m ais frequente (superior a 50%
na m em branosa, típica da faringoam igdalite diftéri- dos casos) e predom ina em crianças m enores de
ca, o exsudato é mais difícil de ser removido, form an­ três anos. Os vírus m ais identificados são: entero­
do verdadeiras m em branas. Estas sangram quando virus (coxsackie, pólio e echovírus), ortom ixovírus
descoladas. Na faringoam igdalite ulcerosa pode-se (influenza A e B), param ixovírus (parainfluenza
encontrar a form a superficial com úlceras rasas su­ 3, vírus sincicial respiratório e vírus do saram po),
gestivas de etiologia viral. Na profunda, a lesão cos­ adenovirus, vírus do herpes simples, rinovírus, ci-
tum a ser unilateral, provocada por associação fuso- tom egalovírus, reovírus e o vírus Epstein-Barr. A l­
espiralar conhecida com o angina de Paul-Vincent, guns sintom as sugerem etiologia viral, com o febre
que é mais com um em pacientes debilitados, com acom panhada de rinorreia serosa, tosse, rouquidão,
hiperem ia difusa da orofaringe com ou sem exsuda­ não representam risco de sequelas não supurativas,
to, conjuntivite, vôm itos e diarreia. O curso, em ge­ com o a febre reum ática aguda. O estreptococo do
ral, é mais rápido, lim itado a três a quatro dias e não grupo C e G são agentes etiológicos relativam ente
requer antibioticoterapia. com uns da FAA entre os estudantes universitários e
O adenovirus provoca faringoamigdalite mais pro­ adultos que procuram serviço de urgência.
longada, com exsudato am igdaliano conhecido como Estudos realizados no Brasil com crianças e ad o ­
febre faringoconjuntival e com sintomas mais inten­ lescentes dem onstraram a positividade de cultura
sos em relação aos encontrados habitualm ente na para o S. pyogenes em 24% das FAAs. O utras pes­
etiologia viral. A conjuntivite pode durar 10 a 14 dias quisas encontraram crescim ento da referida bactéria
e o quadro clínico apresenta resolução espontânea. em 46,3% das culturas. A infecção ocorre com mais
O vírus Epstein-Barr, agente etiológico da m o­ frequência em climas frios, tem perados, com pico de
nonucleose infecciosa, acomete principalm ente pré- incidência durante o inverno e a prim avera. A com e­
-adolescentes e adolescentes, provocando desde in ­ te crianças acim a de três anos de idade, mais com um
fecções leves até doença multissistêmica. O paciente entre cinco e 15 anos. A transm issão se dá pela dis­
pode apresentar prostração, dor de garganta intensa, sem inação de gotículas de saliva, facilitada pelo co n ­
estomatite, enantem a, adenom egalia cervical im por­ tato m uito próxim o com o nas escolas e aglom erados
tante e hepatoesplenom egalia. Am ígdalas de grande populacionais. O tam anho do inóculo e a virulência
volum e são capazes de determ inar dificuldade respi­ da cepa aum entam o risco de contágio.
ratória im portante. O utras bactérias aeróbias envolvidas são: Strepto­
Os vírus coxsackie tipos 2, 3, 4, 5, 6, 8 e 10 são os coccus pneum oniae, H aem ophilus influenzae, H aem o­
agentes etiológicos da herpangina, que se caracteri­ philus parainfluenzae, Corynebacterium diphteriae,
za p or febre, vôm itos, form ação de vesículas e úlce­ Corynebacterium hem olyticum , Bordetella pertussis,
ras no palato mole, úvula e pilares anteriores. A dor Salmonella typhi, Francisella tularensis, Yersinia p seu ­
pode ser im portante, levando à disfagia com dificul­ dotuberculosis, Treponema pallidum , Neisseria gonor­
dades, inclusive, na hidratação. rhoeae, M oraxella catarrhalis, Staphylococcus aureus e
A gengivoestom atite herpética pode variar em M ycobacterium spp. Entre as anaeróbias, estão: Pep-
gravidade. A criança apresenta vesículas e úlceras no tococcus spp, Petostreptococcus spp, Actinom yces spp,
palato, gengivas e lábios, ocasionando odinofagia in ­ Bacteroides melaninogenicus, Bacteroides oralis, Bacte-
tensa que dificulta a alim entação. roides fragilis. Com m enos frequência outros grupos
de patógenos estão envolvidos, são eles: M ycoplasma
FARINGOAMIGDALITES AGUDAS BACTERIANAS pneum oniae, M ycoplasm a hominis, C hlam ydia tracho­
matis, fungos ( Candida spp), parasitas ( Toxoplasma
As faringoam igdalites agudas bacterianas corres­ gondii) e Rickettsias ( Coxiella burnettii).
p ondem a 20 a 40% dos casos, sendo o estreptococo
(3-hemolítico do grupo A o agente etiológico m ais Q uadro clín ico
com um em crianças e adolescentes, cuja im p o rtân ­ O quadro clínico de um a FAA bacteriana não
cia em saúde pública decorre de sua alta frequência e perm ite distinguir as estreptocócicas das de outra
da possibilidade de com plicações com o a febre re u ­ etiologia bacteriana e por vezes se superpõe ao das
m ática, a glom erulonefrite difusa aguda, a coreia, a viróticas. Os sinais e sintomas sugestivos de etiologia
faciíte necrosante. O estreptococo (3-hemolítico do bacteriana são o início agudo de dor de garganta, od i­
grupo A ou Group A fi-h em o lytic Streptococcus (GA- nofagia, febre elevada, cefaleia, náuseas e vômitos, dor
BHS) tam bém é denom inado Streptococcus pyogenes abdom inal, mal-estar, eritem a e exsudato am igdalia­
do grupo A ou Group A Streptococcus (GAS). Pela no. Nas FAAs estreptocócicas o exsudato am igdaliano
classificação de Lancefield existem 18 grupos de es­ está presente em 50 a 90% dos casos, há a adenopatia
treptococos, inclusive com possibilidade de faringi- cervical anterior dolorosa em 30 a 60%, podendo o
tes pelos grupos C, G e B, entretanto, FAAs provo­ paciente apresentar, ainda, petéquias no palato, ede­
cadas p o r esses grupos, diferentem ente do GABHS, ma, hiperem ia de úvula, febre acima de 38,5°C, au-
sência de tosse ou de sinais gripais. O exantema escar- não para diagnóstico de início de doença. A estrepto-
latiniforme, quando presente na forma clássica, é bas­ lisina O é um a toxina produzida pelo GABHS e tam ­
tante indicativo de infecção bacteriana. N enhum sinal bém pelos estreptococos C e G, antigênica, e os títulos
e sintom a são específicos para o S. pyogenes do G ru­ de antiestreptolisina (ASLO) aum entam um a sem ana
po A e, m esm o em am ostras semelhantes, os sinais e após a infecção, atingindo o pico entre três e seis se­
sintomas variam de estudo para estudo. Dificuldade manas. Seu declínio ocorre em seis a oito semanas ou
diagnostica m aior trazem os casos mais leves, que p o ­ meses após o episódio agudo e, por isso, elevação per­
dem sim ular um a doença virai, sendo im portante a sistente no título do ASLO não implica presença de
realização de testes diagnósticos. O período de incu­ doença clínica aguda. A positividade do teste ASLO
bação varia de um a quatro dias. O período contagio­ pode ser constatada pelo aum ento de duas vezes nos
so abrange desde a fase aguda até um a semana após a títulos entre o soro agudo e o convalescente. Alguns
remissão dos sintomas. A antibioticoterapia suprim e antibióticos podem interferir na resposta da ASLO.
os sintomas e reduz o período de transm issão para 24
horas, além de dim inuir as complicações. Tratam en to
O tratam ento de escolha para faringoamigdalite
D iagnóstico pelo GABHS é a penicilina. Não é necessário iniciar
O diagnóstico de FAA por GABHS na prática clíni­ o antibiótico precocemente, se o estado clínico do p a­
ca não é tarefa fácil. Muitas vezes a doença é superdiag- ciente permitir. Essa conduta não acarreta aum ento
nosticada, induzindo ao uso indiscriminado de antibi­ no risco das complicações. Aguardar até nove dias
óticos e predispondo à resistência bacteriana. Por outro sem antibiótico na abordagem da faringotonsilite
lado, o tratam ento incorreto pode induzir as compli­ pelo GABHS não aum enta o risco de febre reumática.
cações, entre elas a febre reumática. N enhum estudo Em contrapartida, entre as vantagens do antibiótico,
avaliando o valor preditivo das combinações de sinais e quando corretam ente indicado, está a curta duração
sintomas para diferenciar a faringite estreptocócica da dos sintomas. A duração do tratam ento com penicili­
não estreptocócica obteve resultado objetivo que p u ­ na V deve com pletar 10 dias m esm o que o paciente se
desse auxiliar o médico na sua opção terapêutica. m ostre assintomático já nos prim eiros dias. A infec­
Para o diagnóstico etiológico definitivo de faringo- ção tende a se resolver até sem tratam ento, entretanto,
amigdalite estreptocócica, a cultura das tonsilas, crip­ se o tratam ento for interrom pido a infecção pode re­
tas tonsilares ou faringe, é o teste padrão-ouro, com aparecer em poucos dias e o risco de febre reumática
95% de especificidade na identificação do GABHS. permanece. Existe formulação de amoxicilina de libe­
O teste de detecção rápida pode ser realizado em ração lenta para ser usada um a vez ao dia em maiores
clínicas, laboratórios e hospitais e consiste de im uno- de 12 anos de idade, ainda não disponível em nosso
ensaios e aglutinação enzimática com látex para de­ meio. Tratam ento de curta duração durante seis dias
tectar um grupo específico de hidratos de carbono. com amoxicilina na dose de 50 m g/kg/dia dividida
Segundo a maioria dos pesquisadores, a especificida­ em duas ou três tom adas e em adolescentes 500 mg
de pode ser superior a 90%, a sensibilidade entre 60 duas a três vezes ao dia parece ser tão efetivo quanto
e 90% e a taxa de falso-positivos pode chegar a 15%. 10 dias de penicilina V adm inistrada três vezes ao dia.
Deve ser observado que os testes rápidos foram de­ A penicilina G benzatina deve ser considerada em
senvolvidos apenas para a FAA pelo GABHS. A m aio­ pacientes com possibilidades de não adesão ao cur­
ria dos autores preconiza a realização de cultura do so de 10 dias de terapia oral, por exemplo, situações
material obtido do swab faríngeo nos casos em que o de baixo nível socioeconômico, ou em pacientes com
teste rápido é negativo, sugerindo a prescrição apenas história pessoal ou familiar de febre reum ática ou car­
de sintomáticos até que o resultado da cultura defina o dite reumática. Essa formulação é m uito dolorosa e
uso de antibióticos. Estudos dem onstram que aguar­ deve ser feita em dose única. A dose recom endada é
dar até o nono dia de doença sem antim icrobianos de 600.000 UI intram uscular para m enores de 27 kg e
não aum enta o risco de complicações não supurativas. 1.200.000 UI para pacientes acima de 27 kg.
Os exames sorológicos são im portantes para deter­ As cefalosporinas são recom endadas para a m aio­
m inar a ocorrência de infecções estreptocócicas, mas ria dos pacientes alérgicos à penicilina. Cabe ressaltar
que cerca de 10% dos pacientes alérgicos à penicilina Abscesso p e ria m ig d a lia n o
são tam bém alérgicos à cefalosporina, assim, esses O abscesso periam igdaliano (APA) é considera­
agentes não devem ser usados em pacientes com h i­ do um a com plicação supurativa da am igdalite aguda
persensibilidade imediata, tipo anafilática, à penicili­ que acom ete crianças maiores, adolescentes e adu l­
na. Alguns estudos indicam que o curso de 10 dias de tos jovens. Estudo realizado no Brasil encontrou, na
cefalosporina oral é superior a 10 dias de penicilina m aioria dos abscessos, crescim ento polim icrobiano
oral para erradicar o GABHS da faringe. O utros su­ com predom ínio de anaeróbios. O APA pode oco r­
gerem que o tratam ento de cinco dias com cefalos­ rer na ausência de faringoam igdalite aguda, sugerin­
porinas de amplo espectro é comparável ao curso de do na sua patogênese o envolvim ento das glându­
10 dias de penicilina oral na erradicação do GABHS las de Weber, que são glândulas m ucosas tubulares
da faringe. No entanto, alguns desses regimes não são linguais. O APA causa grande debilidade no estado
aprovados pelos órgãos governamentais. As cefalos­ geral, com o dor intensa unilateral, sialorreia, trism o,
porinas de espectro reduzido, com o cefadroxil e cefa- febre alta e tendência à recidiva. Na abordagem tera­
lexina, são preferidas às cefalosporinas de amplo es­ pêutica estão indicados a drenagem , o uso de antibi­
pectro com o cefaclor, cefuroxine, cefixime e cefpodo- óticos e a tonsilectom ia nas recidivas.
xine. A m aioria das cefalosporinas de amplo espectro
tem custo elevado e pode selecionar flora resistente. FARINGOAMIGDAUTES RECORRENTES
A clindamicina é um a opção razoável para tratar os
pacientes alérgicos à penicilina. Nos Estados Unidos A incidência de faringite recorrente em crianças
a resistência do GABHS a essa droga é de apenas 1%. com quatro a 15 anos de idade gira em torno de 1%.
Os m acrolídeos eritrom icina, claritrom icina ou Im portante que o diagnóstico de FAA não seja base­
azalídeos (azitrom icina) podem ser indicados para ado exclusivamente em informações fornecidas pelos
pacientes alérgicos à penicilina. A terapia deve durar pais, que podem confundir facilmente FAA bacteriana
10 dias para os dois prim eiros e cinco dias quando a com resfriado comum. Segundo Tania Sih, o diagnós­
azitrom icina for prescrita. Os m acrolídeos, em m e­ tico da FAA estreptocócica em pacientes suspeitos clí­
n or extensão os azalídeos, podem provocar o alon­ nica e epidemiologicamente deverá ser feito a partir de
gam ento do intervalo QT, alteração relatada com o exames microbiológicos, um a vez que sinais e sinto­
dose-dependente. C om o são m etabolizados exclusi­ mas que caracterizam as FAAs não servem como diag­
vam ente pelo citocrom o P-450, podem interferir na nóstico diferencial entre casos virais e bacterianos.
m etabolização de agentes antifúngicos, inibidores da
protease do H IV e alguns antidepressivos recaptado- Etiologia
res seletivos de serotonina. A eritrom icina frequen­ Estudo com parativo da bacteriologia da am ig­
tem ente é associada a efeitos colaterais no trato gas­ dalite recorrente em crianças e adultos baseado em
trintestinal. Nos Estados Unidos a taxa de resistência culturas do centro da tonsila (core am igdaliano)
do GABHS aos m acrolídeos está em torno de 5 a 8% verificou que H aem ophilus influenzae foi a bactéria
e resulta em falhas no tratam ento. mais prevalente na criança, seguida do S. aureus e
Alguns antim icrobianos não são recom endados do GABHS. A naeróbios tam bém foram encontrados
para infecções pelo GABHS. Sulfonam idas e sulfa- em núm ero significativo.
m etoxazol-trim etoprin não erradicam o GABHS em
pacientes com faringite e não devem ser usadas para Patogênese
tratar pacientes com infecções agudas. Tetraciclinas A baixa penetração do antibiótico na tonsila
não devem ser usadas, bem com o as antigas quino- é um a das explicações para a não erradicação do
lonas (ciprofloxacina), pois têm atividade lim itada GABHS. Bactérias colonizadoras e produtoras de
sobre o GABHS. As novas fluoroquinolonas (levo- (3-lactamase nas am ígdalas inativariam a penicili­
floxacina, imoxifloxacina) não constituem prim eira na antes de sua ação bactericida sobre o GABHS,
escolha no tratam ento da FAA pelo GABHS, pois, portanto, pacientes com episódios recorrentes p o ­
apesar de ativas in vitro contra o GABHS, têm custo dem necessitar de um antibiótico estável à ação das
elevado e am plo espectro de ação. (3-lactamases e bactericida para o GABHS.
Um a nova explicação para a falha no tratam en ­ Pacientes com cultura e teste rápido positivos
to com penicilina indica um a interação do GABHS para o GABHS que não apresentam sintom as ou
com a M oraxella catarrhalis. A colonização por esta sinais de infecção aguda e sem resposta im une d e­
últim a pode facilitar a aderência do GABHS à m uco­ tectável (dosagem de ASLO) são considerados p o r­
sa faríngea a p artir das suas adesinas. tadores assintom áticos. A literatura cita taxas de 10 a
A alteração na flora bacteriana norm al, especial­ 40% de portadores em populações específicas com o
m ente do estreptococo a-hem olítico, pode facilitar orfanatos, escolas, asilos. Sabe-se que o contágio por
a ação do GABHS. O estreptococo a-hem olítico, ao interm édio de portadores ocorre durante as prim ei­
produzir bacteriocinas, um a defesa natural contra ras duas a quatro sem anas após a aquisição do GA­
a colonização pelo GABHS, provê resistência à in ­ BHS, após esse período o contágio é m ínim o.
fecção p or esse agente. O tratam ento com penicilina Mais recentem ente verificou-se que as mesmas
pode alterar o ecossistem a faríngeo, reduzindo a flo­ espécies de GABHS prevalentes entre portadores e
ra norm al durante semanas. pacientes com faringite sintomática foram responsá­
O utro fator a ser considerado é o início rápido veis por doenças invasivas como síndrom e do choque
do tratam ento com penicilina, que pode suprim ir o tóxico e faciíte necrotizante. Estudos indicam que, em
aum ento de ASLO e da antiDNase B, anticorpos que média, 12% das crianças com FAA pelo GABHS tra­
aum entam na infecção aguda. Essa supressão dos tadas com penicilina tornam -se portadoras. Macrolí-
anticorpos tem sido associada à falha do tratam ento dios, cefalosporinas e clindamicina, m enos frequen­
e à recorrência das amigdalites. Postergar por um a temente, provocam essa condição. Não se sabe se os
três dias o início do antibiótico pode ser um a estra­ portadores têm alto risco de faringite recorrente.
tégia para os pacientes que têm episódios recorren­ O tratam ento é desejável para o p o rtad o r assinto-
tes leves a m oderados, m as não deve ser usado com o m ático, nas situações seguintes:
rotina na m aioria dos casos. • Famílias com histórico de febre reum ática;
A colonização de aparelhos ortodônticos e das es­ • C om unidades com surto de febre reumática;
covas de dente não foi im plicada nas recorrências de • Portadores recentes, dentro de um mês de in í­
GABHS. Em raras condições cães e gatos podem ser cio;
portadores do GABHS, em bora essa bactéria não seja • História de glom erulonefrite aguda;
um colonizador habitual desses anim ais e trata-se de • Famílias em que ocorre a dissem inação “p in ­
um achado não confirm ado em outras investigações. gue-pongue” da doença;
Explicações para a falha terapêutica com penici­ • Escolas com epidem ia de GABHS;
lina seriam a m á-adesão ao tratam ento e à exposição • Portadores que m anipulam alimentos;
repetida. Com o na rotina não é viável a determ inação . Portadores que trabalham em hospital, casa de
dos sorotipos, fica difícil para o médico definir se a repouso, creches, asilos.
etiologia da recorrência é um a falha na erradicação do A penicilina é geralm ente ineficaz na erradica­
GABHS ou reinfecção. O estado de portador é apon­ ção do po rtad o r de GABHS. O m elhor regim e para
tado como possível causa das amigdalites recorrentes. a erradicação é a clindam icina ou a com binação de
penicilina e rifampicina.
Estado de p o rtad o r
O estado de p o rtad o r inclui os pacientes que In d ic a ç õ e s de to n s ile c to m ia
abrigam o organism o em suas cavidades nasais ou Os pacientes com as m anifestações a seguir espe­
faringe sem apresentar sintom as nem aum ento de cificadas devem ser encam inhados ao o torrinolarin­
anticorpos. Na prática, em bora não seja um a rotina, gologista para que a possibilidade de tonsilectom ia
pode-se distinguir entre um paciente com FAA pelo seja avaliada:
GABHS e outro com FFA virótica e portador do GA­ • Faringotonsilites recorrentes, cinco a sete ve­
BHS com parando os títulos de ASLO no soro agudo zes/durante um ano ou quatro vezes/ano em
e convalescente. A dosagem de ASLO com títulos dois anos consecutivos ou três vezes/ano em
baixos em duas am ostras consecutivas pode definir três anos consecutivos, necessário certificar se
o estado de portador. o diagnóstico e o tratam ento foram adequados;
• H ipertrofia am igdaliana que leva à obstrução D ependendo do local do acom etim ento inflam a­
respiratória ou digestiva; dependendo do grau tório das vias aéreas há diferentes denom inações,
da obstrução é possivel observar deform idades laringites, laringotraqueítes ou laringotraqueobron-
crânio-faciais, baixo peso, voz abafada ou ro u ­ quites, epiglotites. A m aior parte dos casos de crupe
ca, ronco, apneia do sono e cor pulm onale. é devido à laringotraqueobronquite virai ou à larin-
gite espasmódica.
Conclusão Em bora a m aioria dos pacientes que apresentem
A FAA é um a afecção de alta prevalência e a crupe tenha quadros leves e de curta duração, sabe-
m aioria dos episódios não é causada pelo GABHS, o -se que causam preocupação nos familiares devido à
que to rn a a antibioticoterapia em pírica desnecessá­ instalação abrupta dos sintom as, geralm ente d u ra n ­
ria em diversos casos. Essa terapêutica pode alterar a te a m adrugada e acom etem criança pequena.
flora bacteriana natural durante sem anas, facilitan­
do a colonização pelo GABHS. A realização de exa­ LARINGITE VIRAL, LARINGOTRAQUEÍTES E
mes m icrobiológicos específicos com o teste rápido LARINGOTRAQUEOBRONQUITE VIRAL
para o GABHS e cultura de secreção de orofaringe
perm ite estabelecer o diagnóstico das FAAs com As laringites, as laringotraqueítes e as laringo-
m ais certeza e apresenta boa relação custo-benefício. traqueobronquites virais afetam crianças entre seis
meses e sete anos, com pico de incidência entre seis
CRUPE meses e três anos de idade. No segundo ano de vida,
em torno de 5% das crianças desenvolvem essas in ­
O term o crupe ou “síndrom e do crupe” é usado fecções. Apresentam discreta predom inância no sexo
para doenças respiratórias, na sua m aioria infecciosas, m asculino e podem manifestar-se durante todo o ano,
que causam obstrução das vias respiratórias superio­ em bora boa parte dos casos ocorra no outono e no
res, caracterizada clinicamente por graus variáveis de inverno. A m inoria dos pacientes necessita de hospi­
estridor inspiratório, tosse estridulosa (ou ladrante), talização e, desses, apenas 3 a 5% requerem intubação.
rouquidão e graus variados de esforço respiratório. A m aioria das infecções é causada p o r agentes
Lactentes e pré-escolares têm mais predisposição virais, sendo o Parainfluenza 1 e 3 os mais frequen­
de evoluir para insuficiência respiratória devido às tem ente envolvidos. O utros vírus responsáveis são
características anatômicas e funcionais das suas vias Influ en za A e B, A d en o viru s , Vírus respiratório sinci-
aéreas. A laringe é um órgão situado na linha m edia­ cial e M etapneum ovírus. O M ycoplasm a p n eu m o n ia e
na do pescoço e conecta a faringe com a traqueia. É é um agente que deve ser considerado em crianças
constituída de cartilagens, músculos e ligamentos. m aiores de cinco anos.
Proteger as vias aéreas inferiores da penetração de Na laringotraqueíte aguda ocorrem eritem a e ede­
secreções e alimentos, produzir o som e participar m a das paredes laterais da traqueia, logo abaixo das
da condução do ar para dentro dos pulm ões são suas cordas vocais. Histologicam ente observa-se infiltra­
principais funções. É dividida em três regiões anatô­ do celular na lâm ina própria, subm ucosa e adventí­
micas: supraglótica, glótica e subglótica. A supragló- cia, com posto por histiócitos, linfócitos e neutrófilos.
tica inclui a epiglote, pregas vestibulares, ventrículos, O início dos sintom as é geralm ente abrupto, d u ­
pregas ariepiglóticas e aritenoides. As pregas vocais, a rante a m adrugada. O quadro clínico é caracterizado
com issura anterior e a região interaritenóidea fazem por tosse estridulosa, rouquidão, estridor e esforço
parte da região glótica. A região subglótica começa respiratório de intensidade variável, conform e o
um centím etro abaixo das pregas vocais e se estende grau de obstrução. O utros sintom as que podem es­
até a borda inferior da cartilagem cricoide. Essa re­ tar associados são rinorreia, obstrução nasal e febre
gião na criança é a porção mais estreita da via aérea baixa. Habitualm ente, sintom as inespecíficos de res­
superior. Apenas um m ilím etro de edem a na região friado com um ocorrem 12 a 48 horas antes dessas
subglótica de um a criança é capaz de causar 50% de manifestações. Usualm ente a evolução é autolim ita-
redução diâmetro. da, de sete a 10 dias.
O diagnóstico é baseado na história e na sinto­ diluição de 1:1.000 (que contém 5 mg de epinefrina
m atologia. Ao exame físico a faringe encontra-se levógera), é eficaz e segura. Os efeitos adversos, caso
norm al ou com leve hiperem ia. A realização da ra ­ haja, são taquicardia e palidez. Com o a ação da droga
diografia cervical é dispensável para m uitos pacien­ dura duas horas, a criança deve perm anecer em ob­
tes, porque o achado clássico de sinal da “ponta do servação por aproxim adam ente três a quatro horas,
lápis” ou “torre de igreja” devido ao estreitam ento da devido à possibilidade de retorno dos sintomas.
região subglótica tem especificidade e sensibilida­ Caso não haja m elhora após a epinefrina, um a
de baixas. Além disso, pode retardar o tratam ento e segunda dose deve ser repetida; se ainda assim o p a ­
deixar a criança m ais ansiosa, o que piora o esforço ciente não apresentar resposta satisfatória, deve-se
respiratório. O diagnóstico diferencial da laringite idealm ente providenciar adm issão em unidade de
e da laringotraqueobronquite virais inclui laringite terapia intensiva. C onsiderar que se o paciente apre­
espasm ódica e outras causas infrequentes de crupe, sentar sinais de insuficiência respiratória grave, a
com o aspiração de corpo estranho, abscesso retro- intubação deverá ser realizada por profissionais ex­
faríngeo e periam igdaliano, epiglotite, edem a angio­ perientes, em local adequado, idealm ente com anes­
neurótico, traqueíte bacteriana e laringite diftérica. tesista, otorrinolaringologista ou cirurgião-pediatra,
O tratam ento inclui antitérm icos em caso de fe­ pela dificuldade de m anipulação da via aérea doente.
bre, hidratação, descanso da voz, além de m edidas O calibre da cânula traqueal deverá ser 0,5 m m infe­
para deixar a criança o m ais confortável possível. rior ao diâm etro interno adequado para a idade do
Deve-se orientar os responsáveis sobre o curso da paciente. A decisão de internar a criança por vezes
doença e sobre os sinais e sintom as que requerem não é fácil e um dos parâm etros a serem observados
reavaliação médica. é o desem penho dos pais: são confiáveis?
A utilização dos corticoides está preconizada para Por sua vez, a inalação de ar umidificado, em bora
todos os pacientes, independentem ente da sua gra­ m uito utilizada, não tem m ostrado benefícios consis­
vidade. Eles reduzem o processo inflam atório e es­ tentes de acordo com a literatura. Em revisão sistem á­
tão bem docum entados seus benefícios na laringite e tica da Colaboração Cochrane, os autores concluíram
na laringotraqueobronquite virais. Crianças tratadas que não há evidências de m elhora clínica significativa
com corticoide apresentam redução dos sintomas, nas crianças tratadas com inalação de ar um idifica­
perm anecem m enos tem po no pronto atendim ento, do. Além disso, deve-se considerar que a utilização de
têm baixas taxas de hospitalização e m enos risco de tendas úm idas para crianças internadas pode causar
serem intubadas. Os corticoides podem ser adm i­ ansiedade, agravando os sintomas. Para realizar a ne-
nistrados por via oral, intram uscular e inalatória. bulização é recomendável que a criança esteja em am ­
Os regimes terapêuticos mais estudados incluem a biente calmo, de preferência no colo dos responsáveis.
dexam etasona, adm inistrada oral ou intram uscular Por fim, a utilização de chaleiras no domicílio deve
em dose única que varia de 0,15 a 0,6 m g/kg de peso, ser desencorajada devido ao risco de queim aduras.
dependendo da intensidade do crupe. Budesonida O escore clínico perm ite avaliar a gravidade da
nebulizada na dose de 2 m g tam bém é um a opção, obstrução das vias aéreas na criança com estridor,
m as deve-se ressaltar que seu custo é mais elevado e apresentado no Q uadro 44.3.
que a dexam etasona é acessível nos serviços de saúde. O Quadro 44.4, seguindo a proposta de Kaditis e
A epinefrina nebulizada está preconizada para os Wald, sintetiza a abordagem terapêutica do crupe virai.
casos graves e para os m oderados que não respon­
deram após quatro horas de adm inistração do cor­ LARINGITE ESPASMÓDICA
ticoide, em bora alguns autores a recom endem para
os quadros m oderados, à adm issão do paciente. Sua A laringite espasm ódica é caracterizada por ede­
ação vasoconstritora causa redução do edem a e, con­ m a não inflam atório na região subglótica. A etiolo­
sequentem ente, do grau de obstrução, proporcionan­ gia não está totalm ente esclarecida, em bora tenha
do alívio dos sintomas. A dose de 5 mL da epinefri­ sido docum entada a participação de fatores alérgicos
na convencional, através de inaladores com uns, na e alguns agentes infecciosos. Afeta principalm ente

CAP 4 4 • INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS 639


Sinal 0 1 2 3
E s trid o r A use n te Com a g ita çã o Leve em re p o u so G rave em re p o u so

R e tra çã o A use n te Leve M o d e ra d a G rave

E n tra d a de a r N o rm a l N o rm a l D im in u íd a M u ito d im in u íd a

C or N o rm a l N o rm a l C ia n ó tic a co m a g ita çã o C ia n ó tic a em repouso

N ível de c o n s c iê n c ia N o rm a l A g ita çã o so b e s tím u lo A g ita çã o L e tá rg ico


Escore total: < 6 = Leve; 7 -8 = Moderada; > 8 = Grave.
Adaptação de Tausig LM, Castro 0. Biandry PA. Am J Dis Child. 1975;129:790-95.

Q u a d ro 44.4. T ra ta m e n to do cru p e v ira i.

Gravidade dos sintomas Procedimento


D e xa m eta son a : 0 ,1 5 a 0 ,3 m g /k g ; c o n s id e ra r B u d e s o n id a in a la tó ria :

N e b u liz a çã o co m L -e p in e frin a : 5 m l.
C rupe m o d e ra d o D e xa m e ta s o n a : 0 ,3 a 0 ,6 m g /k g ; c o n s id e ra r B u d e s o n id a in a la tó ria :
2 m g; ap ó s 3 a 4 h d e c id ir pela a lta ou h o s p ita liz a ç ã o .

P N e b u liz a çã o co m L -e p in e frin a : 5m l.
rupe g ra ve D e xa m e ta s o n a : 0 ,5 a 0 ,6 m g /k g e in te rn a r na u n id a d e de te ra p ia in te n s iv a .

Fonte: Adaptação de Kaditis AG e Wald ER. Pediatr Infect Dis. 1998; 17:827-34.

crianças entre três meses e três anos de idade, p o ­ EPIGL0TITE 0U SUPRAGL0TITE


dendo haver história fam iliar e quadros recorrentes.
O quadro clínico clássico é súbito e frequentem ente A epiglotite é inflam ação aguda e grave da epi-
assusta os pais. A criança deita assintomática e acorda glote e estruturas supraglóticas, podendo levar à
na m adrugada com tosse metálica, rouquidão, estri­ instalação rápida de insuficiência respiratória em
dor inspiratório, dificuldade para respirar e ausência crianças entre dois e sete anos de idade, com pico de
de febre. O estado geral é preservado e alguns pacien­ incidência entre três e quatro anos e discreta pred o ­
tes podem apresentar rinorreia como pródromo. m inância no sexo m asculino.
Significativa proporção de pacientes m elhora A doença atualm ente é rara devido à im unização
espontaneam ente em poucas horas ou com uso de contra o H aem ophilus influenzae tipo B, o principal
vaporização. Aqueles que são levados aos serviços agente etiológico.
de urgência m anifestam alívio dos sintom as já no Apesar da acentuada redução da epiglotite p ro ­
trajeto, provavelm ente devido à exposição ao ar frio. porcionada pela vacina, alguns casos eventuais cau­
M edidas para acalm ar a criança tam bém são úteis. sados pelo H aem ophilus influenzae têm sido do cu ­
Apesar de apresentar etiologia diferente da la­ m entados. O utros agentes etiológicos identificados
ringite virai, para o clínico essa diferença tem pouca após a im unização são Streptococcus pneum oniae,
aplicação prática, porque caso não haja m elhora es­ Staphylococcus aureus, Klebsiella pneum oniae, H ae­
pontânea dos sintom as, o tratam ento é sem elhante m ophilus pa ra influenzae e Streptococcus beta-hem o-
ao das laringites virais e da laringotraqueobronqui- litico do grupo A, B, C e F. Traum a, queim aduras,
tes. A nti-histam ínicos, anti-inflam atórios e descon­ ingestão de substâncias cáusticas e aspiração de cor­
gestionantes nasais não estão indicados. po estranho são causas de epiglotite não infecciosa.
Q uando as recorrências forem frequentes, está N a m aioria das vezes a instalação do quadro é
indicada a p H m etria esofagiana para investigação abrupta e caracterizada por toxem ia, febre alta, p a ­
de refluxo gastroesofágico, especialm ente se, à larin- lidez, disfagia, dor de garganta, ansiedade, agitação,
goscopia, forem observados hiperem ia e edem a da sialorreia, voz abafada e desconforto respiratório
região interaritenóidea. progressivo, que se m anifestam em m enos de 24

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