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11.1 DEFINIÇÃO
A asma é definida como uma doença inflamatória crônica,
caracterizada por hiper-responsividade das vias aéreas inferiores
e limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente
ou com tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios
recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse,
particularmente à noite e pela manhã, ao despertar.
Costuma-se definir o quadro asmático a partir dos 2 anos de
idade. Isso porque é difícil diferenciar, até essa idade, um quadro
de bronquiolite de um quadro asmático. Porém é sabido que filhos
de pais asmáticos ou atópicos, sibilância recorrente, início dos
quadros ainda muito jovem e presença de chiado ou sibilância na
ausência de quadro viral, nos primeiros 2 anos de vida, podem ser
fatores que sugerem a possibilidade de o paciente ser
diagnosticado com asma futuramente. Além disso, muitos
pacientes asmáticos têm resolução dos quadros após 5 anos de
idade.
11.2 EPIDEMIOLOGIA
Na faixa etária pediátrica, o estudo International Study of Asthma
and Allergies in Childhood (1991-2012), realizado em algumas
cidades brasileiras, revela a prevalência da asma entre 4,7 e
20,7% nas idades entre 6 e 7 anos e 4,8 e 21,9% entre 13 e 14
anos, ou seja, os índices permanecem ao redor de 20% para
ambas as faixas etárias.
Segundo dados obtidos no DATASUS, ocorrem, em média, 350
mil internações anuais por asma, constituindo-se a quarta causa
de hospitalização no Sistema Único de Saúde (SUS) e a terceira
causa entre crianças e adolescentes; representa
aproximadamente 7% das internações em UTI. É a doença crônica
mais frequente na infância em todo o mundo.
11.3 FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia é bastante complexa, mas a asma resulta da
interação de fatores genéticos e ambientais que contribuem para
o desenvolvimento de hiper-responsividade brônquica e edema
das vias aéreas.
As alterações genéticas, ainda não totalmente esclarecidas,
contribuem para o desequilíbrio do sistema imunológico e
predomínio de resposta direcionada a linfócitos T do tipo Th2, que
sintetizam e liberam citocinas como IL-4, IL-5 e IL-13, cujas ações
estão relacionadas ao aumento da síntese de imunoglobulina E
sérica, à proliferação e à maturação de eosinófilos. Desse modo, a
pesquisa do lavado broncoalveolar de pacientes com asma pode
revelar infiltrado celular com elevado conteúdo eosinofílico e
linfocitário. Há evidências de alterações genéticas que levam ao
comprometimento da musculatura brônquica e da organização
histológica dos brônquios, especialmente as fibras elásticas.
Existem, ainda, outros componentes envolvidos que fazem que as
alterações fisiopatológicas desencadeadas por fatores genéticos
sejam complexas e variadas na asma. Atualmente, assume-se que
a asma compreenda um conjunto de diferentes doenças com
fenótipos diferentes.
Somados à genética, e não menos importantes, são os fatores
ambientais, que podem facilitar o desencadeamento de uma crise
e agravar o quadro. Entre esses fatores, destacam-se os
relatados de fatores ambientais:
▶ Alérgenos, em especial os aeroalérgenos: com ênfase nos
ácaros da poeira domiciliar, Dermatophagoides pteronyssinus e
Blomia tropicalis, nos epitélios de animais como os gatos e nos
insetos como a barata;
▶ Agentes infecciosos: principalmente os vírus, importantes
desencadeadores de crises nos primeiros anos de vida, com
destaque para o vírus sincicial respiratório e o rinovírus, além do
vírus influenza, adenovírus e parainfluenza;
▶ Irritantes: especialmente os poluentes externos, resultantes da
queima de combustíveis em automóveis e indústrias;
▶ Fumo: um dos agentes mais deletérios ao pulmão, cujas
inúmeras substâncias tóxicas contribuem para lesão pulmonar
direta, piora de hiper-responsividade brônquica e aumento de
secreção;
▶ Exercício físico/estresse;
▶ Doença do refluxo gastroesofágico;
▶ Baixa aderência ao tratamento.
11.5 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de asma deve-se basear na anamnese, no exame
físico e, sempre que possível, nas provas de função pulmonar e na
avaliação da alergia.
Os exames subsidiários ajudam na definição da doença,
principalmente quando existe dúvida entre mais de uma causa
envolvida nos sintomas definidos pelo paciente.
11.5.1 Diagnóstico clínico
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, para o
diagnóstico de asma em crianças, é necessário:
▶ História clínica de crises de insuficiência respiratória aguda que
melhoram com o uso de broncodilatadores;
▶ Aumento dos níveis de IgE e positividade para testes cutâneos
a aeroalérgenos;
▶ Avaliação da função pulmonar com espirometria pré e pós-
broncodilatador e medida de hiper-reatividade brônquica,
metacolina, por exemplo;
▶ O diagnóstico é feito com a + b + c, a + b ou a + c.
No Global Strategy for Asthma Management and Prevention
(GINA) 2021, o diagnóstico de asma é definido a partir da
presença de sintomas característicos associados à evidência de
limitação variável do fluxo de ar expiratório, que deve ser
documentado por meio de testes.
11.5.2 Exames laboratoriais
Os exames complementares podem auxiliar na avaliação do
paciente, mas não são obrigatórios. Entre eles estão:
▶ Hemograma;
▶ Dosagem de imunoglobulina E sérica (IgE) em maiores de 1 ano;
▶ Protoparasitológico seriado — três amostras;
▶ Provas de função pulmonar;
▶ Radiografia de tórax anteroposterior e/ou perfil — obrigatório
em toda primeira crise de sibilância;
▶ Radioallergosorbent test (RAST) para leite de vaca e pesquisa
de refluxo gastroesofágico nas crianças com sintomas sugestivos
de mais de um fator para sibilar;
▶ Teste cutâneo ou IgE específico para aeroalérgenos;
▶ Na impossibilidade de realizar tais exames, é muito válido o
teste terapêutico.
11.5.3 Diagnóstico funcional
O diagnóstico de asma é fundamentado pela presença de
sintomas característicos, confirmado pela demonstração de
limitação variável ao fluxo de ar. As medidas da função pulmonar
fornecem avaliação da gravidade da limitação ao fluxo aéreo, sua
reversibilidade e variabilidade.
11.5.3.1 Espirometria
Método de escolha na determinação da limitação ao fluxo de ar e
no estabelecimento do diagnóstico de asma, a espirometria deve
ser rotina em todo paciente com suspeita de asma brônquica. É
um exame mais detalhado da função pulmonar, definido mais
precisamente se o distúrbio ventilatório é obstrutivo, restritivo ou
misto.
Só é possível realizar a espirometria em adultos com
compreensão adequada e em crianças com mais de 5 anos e boa
compreensão. Em lactentes, essa prova só é realizada em alguns
centros de pesquisa, que dispõem dos espirômetros específicos e
cujos exames são realizados visando a estudos e aprimoramentos
científicos. De qualquer forma, a espirometria em crianças é
menos útil do que nos adultos, visto que muitas crianças podem
apresentar função pulmonar normal fora das exarcebações. Em
todas as idades, qualquer nível de gravidade da asma pode cursar
com VEF1 normal quando o quadro se encontra estável.
A espirometria é feita com o auxílio de broncodilatadores para
avaliar a reversibilidade da limitação do fluxo pulmonar. O
aumento do VEF1 acima de 12% depois da administração de
broncodilatadores indica limitação reversível do fluxo aéreo
compatível com asma. Vale ressaltar que, quando a história clínica
é característica, mas a espirometria é normal, o paciente deve ser
considerado asmático e, quando necessário, deve ser tratado.
11.5.3.2 Pico do fluxo expiratório