1. Compreender a etiologia, fisiopatologia, fatores de risco, manifestações clínicas, diagnóstico,
tratamento e complicações da asma
ASMA: A etiologia ainda não é muito bem compreendida, mas
sabe-se que o desenvolvimento da asma resulta de Definição e Epidemiologia: uma resposta inflamatória pela interação de fatores É uma doença inflamatória, crônica, definida por hiper genéticos e ambientais (exposição à alérgenos) responsividade das vias aéreas inferiores (brônquios) e As alterações genéticas ainda não são bem limitação variável do fluxo aéreo compreendidas, mas contribuem para o desequilíbrio A doença é reversível com tratamento ou de forma do sistema imune. espontânea Sendo assim, quando em contato com o alérgeno, o A asma se manifesta por episódios recorrentes de: individuo predisposto apresenta uma resposta sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse (piora à inflamatória predominantemente por células do tipo noite e pela manhã) TH2, as quais liberam citocinas (IL-4, IL-5 e IL-13), cujas ações estão associadas ao aumento da síntese de É mais prevalente em meninos, a incidência ocorre imunoglobulina E sérica, à proliferação e maturação de geralmente em duas idades, entre 6-7 anos e entre 13- eosinófilos. 14 anos. • IL-4: induz à proliferação de linfócitos B É a terceira causa de internação em crianças e estimulando a produção de IgE adolescentes • Ll-13: efeito semelhante a IL-4 além de induzir É a doença crônica mais frequente na infância em todo hiper responsividade das vias respiratórias, o mundo metaplasia de células caliciformes e hipersecreção de muco Fatores de Risco/ Fatores Desencadeantes: • IL-5: tem participação importante na regulação • Alérgenos (aeroalérgenos como ácaros, da formação, maturação, recrutamento e dermathophagoides pteronyssus e blomia sobrevida de eosinófilos. O aumento da tropicalis, nos epitélios de animais e gatos e em produção de IL-5 pode estar relacionado com a insetos como as baratas patogênese da asma brônquica eosinofílica • Agentes infecciosos: VSR e rinovírus, além do grave. influenza, parainfluenza e adenovírus. Fenótipos da Asma: • Irritantes (poluentes externos como queima de carvão e combustíveis) A asma pode ser classificada conforme seu fenótipo • Fumo (características vistas nos indivíduos) e endótipo • Exercício físico (em pessoas sem asma já leva (fisiopatologia do fenótipo), o que possibilita um fisiologicamente à diminuição do diâmetro dos tratamento mais individualizado, proporcionando brônquios que tende a piorar na asma) grandes mudanças no manejo farmacológico. • Estresse emocional Os fenótipos inflamatórios podem ser divididos em • DRGE (doença do refluxo gastroesofágico) eosinofílico ou não eosinofílico, e alérgico ou não • Baixa aderência ao tratamento alérgico. Os endótipos são divididos em resposta • Medicamentos: ácido acetilsalicílico, dipirona, anti- inflamatória T2 alta ou baixa. inflamatórios não esteroides (AINEs) e betabloqueadores A inflamação T2 alta está relacionada com fenótipos eosinofílicos e/ou alérgicos, com elevação de IGE Fisiopatologia: específicos e eosinofilia no escarro ou no sangue, início precoce da doença e boa resposta aos O GINA 2019 prevê a utilização rotineira do peak-flow, corticoides. aparelho que avalia o fluxo respiratório de fácil manejo e portátil Os classificados em T2 baixa não apresentam relação com eosinófilos e IGE, têm início tardio da doença e são pouco responsivos aos corticoides. Diagnóstico Clínico:
A fenotipagem e a endotipagem são especialmente De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria,
importantes em casos graves nos quais há a para a confirmação do diagnóstico clínico é necessário necessidade de imunobiológico. preencher os critérios:
Manifestações Clínicas: a) História clínica de crises de insuficiência
respiratória aguda que melhoram com uso de Episódios paroxísticos de: broncodilatadores b) Aumento dos níveis de IgE e positividade para • Sibilância testes cutâneos a aeroalérgenos • Dispneia: o grau de dispneia é influenciado pela c) Avaliação da função pulmonar com intensidade da crise; pode ocorrer após exercício, espirometria pré e pós-broncodilatador e ou após exposição ao alérgeno, ou ainda sem medida de hiper-reatividade brônquica, causa identificada metacolina, por exemplo • Tosse (piora à noite ou pela manhã) • Opressão torácica Para o diagnóstico, deve-se ter a+b+c OU a+b OU a+c
Os sintomas ocorrem de forma variável ao longo do Exames laboratoriais:
tempo, com diferentes intensidades, sendo mais comuns à noite ou ao acordar.
Os sintomas variam ao longo do tempo e em
intensidade, sendo desencadeados por diversos fatores (exercício, risada, alérgenos). Melhoram espontaneamente ou após medicação específica para asma, e podem ficar ausentes por semanas a meses.
O exame físico tende a ser normal, sendo os sibilos na Diagnóstico Funcional:
ausculta pulmonar o achado mais frequente, Para o diagnóstico de asma é fundamental a presença principalmente, em expiração forçada. de sintomas clínicos + demonstrações variáveis do fluxo Início dos sintomas na infância, associação com rinite de ar alérgica e/ou dermatite atópica, com história familiar Espirometria: deve ser rotina em todo paciente com de asma, aumentam a possibilidade da confirmação do asma brônquica, em adultos e crianças >5 anos com diagnóstico da doença. boa compreensão. O exame é feito com uso de Gravidade da Asma: broncodilatadores. O aumento de VEF1>12% após o uso de broncodilatadores afirma limitação reversível do Para avaliar a gravidade é preciso determinar: fluxo aéreo compatível com asma • Nº de crises/ano e sua intensidade OBS: quando a clínica é compatível mas não há • Nº de visitas ao pronto socorro alteração na espirometria, o paciente deve ser tratado • Medicação necessária (frequencia de uso) como asmático se necessário • Nº de internações e necessidade de terapia intensiva Diagnóstico: Anamnese + exame clínico + provas de função pulmonar São administrados por via inalatória por meio de nebulização, espaçador ou jato direto na cavidade oral, dependendo do nível de compreensão e idade do paciente
Broncodilatadores beta-2-agonistas de curta duração:
São os medicamentos de escolha para alívio das
manifestações agudas e para tratamento da asma induzida por exercício físico; não devem ser usados isoladamente, devem ser associados a corticoide inalatório ou beta-2 agonista de longa duração
Salbutamol, fenoterol e terbulina são exemplos desses
Pico do fluxo expiratório: não é muito usado para o fármacos diagnostico em pediatria devido a suas medidas serem muito variáveis. Pode ser usado como medidos de Seu efeito inicia em <1 minuto e tem duração de -6h resposta ao tratamento farmacológico, mas mesmo assim a espirometria é mais recomendada Efeitos colaterais: tremores de extremidade, arritmias e hipocalemia Classificação de Gravidade da asma: Anticolinérgicos/antimuscarínicos: O tratamento possui 2 objetivos principais: Um exemplo é o brometo de ipratrópio, tem início de 1. Controle das limitações clínicas atuais: deve ser ação lenta diferentemente dos beta-2-agonistas de avaliado em relação as últimas 4 semanas e inclui curta duração sintomas como necessidade de medicação de alívio, limitação das atividades físicas e intensidade É o tratamento de escolha e caos de obstrução causada da limitação do fluxo aéreo. por beta-2-bloqueadores, pode ser usado em 2. Redução dos riscos futuros: inclui reduzir a associação com ele em casos de asma grave instabilidade da doença, suas exacerbações, a Xantinas: perda acelerada da função pulmonar e os efeitos adversos no tratamento. Teofilina e aminofilina tem sido pouco usada devido aos muitos efeitos colaterais Com relação à gravidade, pode-se classificar em: Corticoesteroides sistêmicos: • Intermitente • Persistente Prednisona ou prednisolona são os mais usados • Leve Indicados em casos de exacerbações agudas sem • Moderada resposta satisfatória aos broncodilatadores e devem • Grave ser aplicadas na 1ª hora do atendimento. Tratamento: O uso >10 dias pode causar síndrome de Cushing Os objetivos gerais do tratamento são: Macrolídeos: • Controle dos sintomas No GINA 2019 foi aprovado o uso off label de • Prevenção da limitação crônica ao fluxo aéreo azitromicina pra crises severas a fim de promover • Permissão da realização de atividade do dia a dia imunomodulacao • Manutenção da função pulmonar normal ou melhor possível prevenindo ou atenuando o Tratamento de Manutenção: remodelamento das vias aéreas Corticoide Inalatório: • Diminuição nas ocorrências de crise, idas à emergência e hospitalizações O corticoide inalatório é o principal medicamento de • Redução do uso de broncodilatadores para alívio manutenção, profilático e anti-inflamatório em adultos e crianças com asma, sendo associado ao formoterol e • Prevenção da morte por asma aguda beta-2-agonista de longa duração Tratamento dos Sintomas Agudos: O tratamento de manutenção é feito com Outros fármacos e terapias: corticosteroide inalatório; seu uso reduz a frequencia e Omalizumabe (anti-IgE): trata-se de um anticorpo gravidade das exacerbações, melhora a qualidade de monoclonal recombinante humanizado específico que vida, a função pulmonar e a hiper responsividade além inibe a ligação de IgE com seu receptor de alta de diminuir os episódios de asma durante atividade afinidade física. Tratamento da Crise agude de Asma: O controle dos sintomas ocorre após 1-2 semanas de tratamento; a reversão da hiper-responsiidade Leve/moderada: demanda meses ou ano de uso de CI a) Inalação com beta-2-agonista (1 gota/3 kg; máximo Nota: com a atualização do GINA 2019, para maiores de 10 gotas) + brometo de ipratrópio (250 a 500 μg ou 20 6 anos, a indicação é o tratamento com corticoide a 40 gotas) na crise moderada e somente na terceira inalatório associado ao beta-2-agonista inalatório de inalação; a inalação com beta-2- agonista por ser longa duração, desde o início do tratamento. Os substituída por puff (inalação oral); menores de 6 anos mantêm o uso de corticoide b) Reavaliação em 20 minutos e repetição das inalações inalatório, nos casos leves a moderados. Associação de até 3 vezes na primeira hora, se necessário; broncodilatador de longa duração apenas se houver sinais de mau controle. c) O efeito do beta-2-agonista de curta duração administrado por aerossol dosimetrado acoplado ao Beta-2-agonista de ação prolongada: espaçador é semelhante ao obtido por nebulizador de São eles: formoterol e salmeterol, usados em associada jato, sendo eficaz mesmo em casos de crises graves. com CI em pacientes >4 anos, quando necessário o Salbutamol spray oral com espaçador 100 μg/jato, 50 controle da asma. μg/kg, ou 1 jato/2 kg, no máximo 10 jatos a cada 20 minutos; Leucotrienos: d) Se a resposta ao broncodilatador não for adequada, Montelucaste e zafirlucaste são exemplos; são de efeito haverá indicação de corticosteroide sistêmico ainda na lento e modesto, usados a partir de 6 meses, aa longo primeira hora de atendimento –intravenoso ou prazo reduzem a hiper-reatividade bronquica. Também preferencialmente por via oral – prednisona na dose de são indicados para asma induzida por exercício; não há 1 a 2 mg/kg/d e máximo de 60 mg/d, por 7 a 10 dias efeitos adverso graves (no adulto), ou prednisolona na dose de 1 a 2 mg/kg/d, Etapas do tratamento de manutenção: por 5 dias (em crianças). O efeito do corticosteroide por via oral ou intravenosa é equivalente quanto ao início Etapa 1 - Medicação de resgate para alívio dos de ação e à meia-vida plasmática. Não há evidências sintomas: promover educação do asmático e, utilizar suficientes que indiquem a utilização dos CIs na crise medicação de alívio de curta duração em casos de em substituição aos corticosteroides sistêmicos. sintomas leves Crise de Asma Grave: Etapa 2 – medicação de alívio + 1 medicamento de controle: associação de corticoide inalatório com beta- a) Monitorização, oxigenoterapia, 2-agonista de longa ação b) Administração de corticosteroide – 2 mg/kg de Etapa 3 – medicação de alívio + 1 ou 2 fármacos de metilprednisolona (máximo de 125 mg) ou controle: associação de corticosteroide inalatório em hidrocortisona 4 mg/kg intravenosa em dose de doses baixas + LABA (beta-2-agonista de longa ataque; duração). Outras opções são aumentar a dose do CI ou c) Hidratação intravenosa (fase rápida); usar leucotrienos + CI d) Inalação com beta-2-agonista + brometo de Etapa 4 – medicação de alívio + 2 fármacos e controle: ipratrópio a cada 20 minutos durante 1 hora; CI em dose média/alta + LABA + leucotrieno OU teofilina e) Encaminhamento para a Urgência; Etapa 5 – medição de alívio + medicação de controle adicional f) Se persistência do quadro grave, está indicado sulfato a) 3 ou mais visitas à Emergência ou 2 ou mais de magnésio e/ou terbutalina IV (broncodilatador hospitalizações por asma no último ano; venoso). b) Uso frequente de corticosteroide sistêmico; Prevenção e Controle dos Riscos futuros: c) Crise grave prévia com necessidade de intubação e Atualmente 4 parâmetros são utilizados: ventilação mecânica em UTI; a) Prevenir instabilidade clínico-funcional: manter a d) Problemas psicossociais (depressão, baixo nível asma controlada por longos períodos; socioeconômico); b) Prevenir exacerbações da asma; e) Comorbidades associadas c) Evitar a perda acelerada da função pulmonar ao Complicações da asma: longo dos anos; • Exacerbações (crises graves) d) Minimizar os efeitos colaterais dos tratamentos • Insuficiência respiratória utilizados. • Hospitalização Fatores de Gravidade na Crise de Asma: • Medicamentos de resgate excessivo